Capitulo 11 – O Oasis
Tanto a Esperanto quando a nave
imperial Trienil pousaram no espaço porto de Nébula depois ter recebido autorização
da base em terra para isso.
Andrew olhou para a tela vendo um
intempestivo Tiol marchando da outra nave para a sua. Seu rosto estava contorcido
de raiva e seu porte era rígido.
— O senhor só está adiando o
inevitável – disse Owen perto dele.
O rapaz sorria e o olhava de braços
cruzados.
— Está certo caro sobrinho – disse ele
levantando – Vamos!
— Como assim vamos? – o outro ficou
pálido.
— Você vai vir comigo cumprimentar seu
tio e não haverá discussões.
O capitão da Esperanto engoliu em seco
e seguiu o tio, conhecia o suficiente de Andrew para saber como ele era se
contrariado.
Eles desceram para a porta do hangar
cuja escada desceu para o piso de cimento do espaço porto.
Lá fora o ar era úmido e pesado e
grandes nuvens de tempestade podiam serem vistas ao longe e Andrew também pode
vir Tiol que estava cada vez mais próximo.
Owen observou que o tio não mudara
nada. Ainda era o mesmo homem alto, com os olhos vermelhos brilhantes e os
longos cabelos brancos presos em um rabo de cavalo alto. Ao lado dele havia
guardas da família real que sempre acompanhavam os príncipes quando saiam de
Aurifen.
— Oi amor! – havia um sorriso inocente
no rosto de Andrew que fez Owen morder as bochechas por dentro para não rir.
— Amor?! – Tiol bufou – Em nome de
tudo o que é mais sagrado no universo o que você fez Andrew!
— Eu fiz algo que você – apontou para o
marido que tinha um brilho perigoso no olhar – na sua lentidão infinita não ia
fazer nunca. Eu vim atrás do meu filho!
— E você nem pensou que eu as crianças
não estávamos preocupados? Você sempre faz tudo o que quer e nunca pensa nas
consequências!
— Você está me chamando de
irresponsável? É isso mesmo que escutei?
— Eu não uso meias palavras como você
Andrew! Irresponsável!
Tanto os guardas quanto Owen se
afastaram temendo o que podia acontecer de agora em diante.
— Desde quando salvar meu filho é ser
irresponsável? – perguntou Andrew entre dentes.
— Pare de usar essa desculpa o tempo
todo! Eu também estou preocupado com Itieu, também sou o pai dele! Acha que eu
queria que ele viesse para cá? Mesmo sabendo que era sonho dele? Acontece que
eu respeito à opinião dele como o homem que é, e você o trata como um bebê
ainda!
— Vamos discutir o modo como eu crio
os meus filhos aqui? A milhares de anos luz de casa? Você já pensou nisso Tiol?
Porque será? Não será porque você nunca está em casa? Sempre tem alguma coisa
mais importante que nós, a sua família. Eu tomei a atitude que tomei porque era
necessário, PORQUE VOCE NÃO ME OUVE!
— Vocês estão dando um show – disse
uma voz atrás deles.
Owen quase engasgou ao se ver diante o
seu pai Valdi.
Valdi estava olhando para o irmão e
Andrew e ainda não tinha visto o filho, mas quando o rapaz tentou voltar para
adentro da nave o aurifense o viu.
— Owen?!
— Pai!
— Está virando uma bela reunião de
família – disse Andrew com sarcasmo fazendo Tiol bufar.
~~***~~
Eles caminharam por toda a noite em
meio à areia e pedras até que o sol começou a se levantar no horizonte, todavia
ao longe eles puderam ver uma imagem difusa, quase que como uma miragem.
— O oasis de Tiiren – disse Kamar –
Vamos conseguir transporte lá – ele se voltou para Itieu e Gael – Agora algo
que devem saber. Itieu, Gael é sua responsabilidade, se alguém mexer com ele ou
o tocar você deve responder a altura. Creio que com a sua força logo vão ti
respeitar.
Gael bufou e quase mandou Kamar se
ferrar, mas Itieu olhou para ele sorrindo e Gael quase lhe deu um soco.
— Vamos la.
Desceram em direção a uma depressão do
terreno para uma região mais rochosa e quase sem areia.
Logo estavam diante de um grande
amontoado de barracas e casas feitas de pedra, mas com caminhos de pedra entre
elas como se fossem ruas.
Algumas barracas eram mercados com
frutas e legumes, outras tinham tecidos e armas, parecendo tudo uma grande
feira medieval.
— Parece que estou de volta ao passado
da Terra – comentou Gael olhando tudo com curiosidade.
— Também me lembra a história de Aurifen.
— O povo do deserto nunca estava
ligado à tecnologia, acreditavam que interferia com os espíritos do deserto e
com o equilíbrio que mantinham – disse Kamar olhando em volta como se
procurasse algo – Eu esperava encontrar algum conhecido, mas não estou tendo
sorte.
Eles chegaram ao outro extremo do
oasis onde ficavam os estábulos com cavalos que Gael julgou no mínimo
estranhos.
Para começar eram tinham seis pernas,
eram altos, com pelo longo e marrom que arrastava no chão. Sua cabeça lembrava
um cavalo, mas eles tinha grandes orelhas como um coelho e seu rabo era curto.
Parecia o cruzamento de uma lhama com um cavalo.
— A procura de montarias jovens
senhores? – perguntou um senhor chegando perto deles.
Era um homem baixo, com o rosto
marcado por velhas cicatrizes e vestia túnicas rotas e sujas.
— Ora um visitante de terras distantes
– disse ele olhando para Itieu com os olhos claros brilhando.
— E isso lhe diz respeito mercador? –
Kamar levantou em toda a sua altura olhando frio para o homem – Não queremos
nada com você.
— Preço melhor não vão achar.
— Eu quero qualidade e não comprar um
animal que vai morrer em poucas horas.
— Já está dando uma de espertinho Dib?
– um rapaz saiu de detrás de uma casa de pedra e olhou para Kamar sorrindo –
Mas acho que não será fácil enganar o velho Kamar.
— Quem é velho aqui! – Kamar riu para
o outro – Ola Aziz.
— Velho amigo – ele inclinou-se para
Kamar olhando curioso para o restante – Que tal conversarmos em minha casa
junto a um copo de chá gelado?
Deixaram Dib para trás que os olhava
com visível raiva.
— Sejam bem vindos a minha casa –
disse Aziz abrindo a porta.
— Que a sua casa seja sempre
hospitaleira – responde Kamar entrando junto com os outros.
O piso as casa era de pedra polida e
as paredes pintadas de branco. Entraram no que deveria ser a sala, com
poltronas de couro e tecido em volta de uma mesa baixa da madeira escura. Havia
mais quatro portas e uma estava aberta mostrando uma cozinha pequena. Tudo era
muito simples, mas estava limpo e cheirava a flores que estavam dentro de um
vaso de barro em cima de um aparador perto de uma janela aberta que dava para
um quintal cercado por muros de pedras. Era um local onde brotava uma fonte que
formava um pequeno lago. Nas beiradas do muro cresciam flores brancas de longos
caules que caiam em cachos, mas o restante do terreno era uma grande horta com
legumes, verduras e ervas.
— Fiquem a vontade – disse Aziz
apontando para as poltronas e indo para a cozinha onde voltou com uma bandeja
com copos e uma jarra com um liquido âmbar e gelado.
— Como vocês conseguem esfriar algo
aqui? – Itieu não conteve a curiosidade.
— Eu não sou tão puritano com a
tecnologia riu Aziz – Eu tenho um gerador e uma geladeira.
— Como eles podem funcionar com a
Barreira de Eoin? – perguntou Raqsa que até aquele momento ficara quieto.
— Sendo tão velho quanto é – disse o
outro sorrindo – A barreira não deixa nada com um chip funcionar, mas velhas
maquinas ainda podem ser acionadas.
— Acha que podem reativar velhas
maquinas? – Itieu olhou para Kamar.
— A Liga de Costumes Antigos? – havia
sarcasmo na voz de Kamar – Eles não sabem fazer nada sem computadores, nem uma
de suas tecnologias vão funcionar.
— Kamar está voltando para casa? –
Aziz inclinou-se para frente olhando o outro nos olhos e depois para Itieu e
para Gael – Isso pode ser um pouco complicado com estrangeiros.
— São meus amigos Aziz, pessoas que
foram sequestradas de seu mundo e não merecem passar por tudo o que lhes
aconteceu.
— Eu sei como você é amigo – o outro sorriu
– Tenho alguns cavalos melhores que os de Dib.
— Como bom comerciante tenho dinheiro.
— Então fazemos negocio! – riu Aziz.
Ele voltou a olhar Gael que também o
encarou cheio de raiva.
— E você coisinha linda?
— É melhor ter mais respeito – disse
Itieu antes que Gael falasse algo – O humano é meu companheiro.
— Desculpa! – Aziz colocou as mãos
para o alto – Eu não sabia disso, afinal seus cabelos não estão cobertos.
— Ele é humano Aziz, na Terra as
coisas são diferentes.
— Mas estamos em Ghalib e as coisas
AQUI são diferentes.
— Cobrir meus cabelos? – Gael não pode
deixar de resmungar – O que diabos meus cabelos tem a ver com isso?
— Gosto de homens que um pouco de
atitude – Aziz ronronou, mas de repente ele engasgou.
Itieu havia se levantado em uma
velocidade sobre humana e agora levantava o outro pala gola da blusa.
— Será que não falei a sua língua com
suficiente clareza ghal?
Os olhos do aurifense brilhavam
vermelhos e Aziz estremeceu ao ver a força com que o outro o levantava como se
não pesasse nada.
— Vamos ficar calmos aqui – Kamar não
interferiu, na verdade ele quase parecia divertido com a cena – Acho que Aziz
aprendeu sua lição.
Dando um rosnado para o outro, Itieu o
largou de volta ao sofá.
— Deuses – comentou ele meio engasgado
– Ela em uma arena ia ser um show.
— Mas ele não vai para um arena –
disse Kamar agora contrariado – Vamos ver essas cavalos – voltou-se para Raqsa
– Leve Gael e compre para ele um véu, por mais chato que Aziz seja ele está
certo e não esqueça de comprar um para você também.
Tanto Raqsa quanto Gael fizeram cara
feia para Kamar que olhou sério para o companheiro.
— Vamos Gael e deixar os grandes
machos salvando o mundo.
Gael gostou do sarcasmo de Raqsa e o
seguiu para fora da casa com um sorriso nos lábios.
— Sinceramente eu amo Kamar, mas esse
negócio de grande macho às vezes me irrita.
— Eu não estou acostumado com esse
tipo de tratamento, parecem os homens tratando as mulheres nos séculos antigos
na Terra.
O ghal olhou para ele curioso.
— Como é seu mundo? Ele é tão distante
que não temos muito sobre ele em jornais ou revistas.
— A Terra é um bom lugar para se
viver. Houveram épocas em que estivemos perto da extinção, mas demos a volta
por cima e conseguimos ir em frente e olha o que nos tornamos.
— Como era a sua vida?
— Boa eu acho – Gael olhou para as
pessoas que passavam por eles – Meu pai foi militar e acho que foi um caminho
claro para mim ao ir para a academia espacial – ele deu um sorriso – Acho que
queria conhecer outros povos, outros lugares. Quando me formei meu pai ficou
tão orgulhoso e acho que fiz uma escolha certa ao ver sua felicidade e foi por
ele que aceitei escoltar alguns cientistas até aqui; ele esta doente e o
tratamento era tão caro que se não fizesse isso ele acabaria morrendo. Mas agora
estou aqui enquanto ele está na Terra, do outro lado da galáxia, lutando pela vida.
— Se ele for como você eu tenho
certeza de que conseguira – disse o outro – Você é um homem forte e provou isso
ao sobreviver a Kafen.
Gael ficou vermelho com o elogio e
perguntou algo que ia por sua cabeça.
— O que vai acontecer agora? Acha
mesmo que haverá uma guerra civil?
— Isso é mais do que certo. Kafen foi
colocado no poder pelas tribos com a promessa de mudar as coisas no nosso mundo
e no final ele foi uma grande decepção. As tribos e a Ligas de Costumes Antigos
vão guerrear pelo poder isso é certo como o sol levantando a cada dia.
Eles chegaram ao mercado cheio de
pessoas e Raqsa segurou a mão de Gael pedindo para ele tomar cuidado, pois
aquele era um local cheio de idiotas e aproveitadores.
Rumaram para uma loja de roupas onde
uma mulher mostrava alguns tecidos a homens e mulheres, todos com os cabelos
cobertos por véus e algumas com o rosto.
— O que desejam senhores? – ela sorriu
para eles – Tenho ótimos tecidos do norte, suaves como o toque de um amante.
Em volta deles houve algumas
risadinhas e Gael olhou para eles curioso.
— Você não é daqui, não é? – perguntou
uma moça com os cabelos escuros em uma trança que sobressaia um pouco do véu –
Você tem a pele tão linda!
— Tem que tomar cuidado com uma pele
assim – disse um senhor – O deserto vai estragar ela.
— Seu companheiro deve adorar ela –
disse um rapaz com os olhos brilhando.
Parecia que eles estava no chá das
cinco em meio a um monte de comadres que gostavam de fofocar.
— Tem um vendedor com um creme para o
sol ótimo descendo a rua – disse a moça.
— Ele vende coisa falsificada –
resmungou o senhor – A barraca de Lada é melhor e seus produtos têm procedência,
para a pele não se compra qualquer porcaria. Meu companheiro sempre diz que eu
tenho uma boa pele mesmo aos cento e dez anos.
Gael quase caiu de costas. Cento e dez
anos? De jeito nem um? Mesmo na Terra uma pessoa com essa idade ia apresentar
mais sinais, mesmo que ele só podia ver os olhos do senhor por trás do véu ele
não podia ter mais de cinquenta.
— Agradecemos a dica – disse Raqsa
rindo – O que precisamos agora é de véus.
— Eu tenho ótimos – disse a senhora da
barraca toda sorrisos e começou a mostrar para eles tecidos diáfanos e suaves
ao toque.
Raqsa logo escolheu dois e mostrou
para Gael como ele devia usar o que rendeu muitas caretas dele e risadas do
outro que não ligava para isso.
— Vai ver como ajuda na poeira do
deserto.
Eles estavam indo embora quando uma
comoção chamou a atenção deles e pararam ao ver que as pessoas olhavam para um
homem que arrastava um rapaz nu pela rua.
— Mas o que...? – Gael ia avançar no
outro quando Raqsa o segurou.
— Não!
— Mas olhe o que ele está fazendo!
— Tenha calma, é um ato de submissão. O
rapaz que está nu aceitou seu castigo antes de isso acontecer. Eu não vejo isso
há muito tempo, mas o outro deve ter traído o marido e esse será seu castigo
para que haja perdão, nas cidades a traição é punida com a morte na fogueira.
Aquilo era uma barbaridade! O outro
mais velho jogou o rapaz no chão e disse em altos brados que ele era um traidor,
e contou toda a sua traição, como fora e que ele ia ser punido ali a agora. Sua
punição seria a humilhação de pertencer a outro ali mesmo na rua para todos
verem suas impurezas. O rapaz gritou em desespero e segurou nas pernas de outro
implorando perdão.
— Não podemos deixar isso Raqsa!
— Se pararmos o rapaz será morto de
depois algum de nós. Ficarmos quietos é um modo de salvar a sua vida.
Gael apertou suas mãos em punhos, as
unhas entrando na carne quando um homem apareceu. Ele era enorme, como uma
grande braba e roupas sujas de areia. Ele disse que seria o primeiro a aplicar
a punição.
O rapaz foi segurou pelo seu
companheiro, mas ele devia ter percebido que não adiantava mais nada, ele
parara de lutar.
O homem barbado se desfez das roupas
sem pudor mostrando a grande ereção. O rapaz foi virado de bruços no chão de
pedra da rua e o homem se ajoelhou abrindo as nádegas dele e penetrando com uma
só estocada. O grito de dor do rapaz devia ter sido ouvido do outro lado do
oasis.
— Vamos embora – gemia Gael não
podendo testemunhar aquilo.
— Sair agora vai chamar a atenção para
nós – disse Raqsa olhando em volta vendo como alguns guardas olhavam as pessoas
com desconfiança.
Gael olhou par ao chão, mas ele não
podia deixar de ouvir os gritos do rapaz e os gemidos do homem que logo gozou
urrando. Depois dele vieram outros, até que o rapaz não mais se mexia e por fim
a punição foi encerrada e o outro arrastado dali em meio a sangue e sêmen e
finalmente eles puderam sair da praça.
— Eu não consigo entender como pode
aceitar isso! – a voz de Gael tremia ao conversar com Raqsa.
— Eu não aceito isso Gael! – respondeu
o outro de modo sério – Foi por coisas como esta que as tribos colocaram um de
nós no poder! O estupro, os castigos mesmo consentidos, tem que parar, mas
agora estamos em meio a um mundo sem governo. O que vimos é apenas uma pequena
amostra do que vai acontecer daqui em diante.
— Para onde estamos indo é diferente?
— Socialmente as tribos são mais
avançadas. Eles não aceitam estupros ou humilham os submissos a esse ponto, mas
não pense que será um mar de rosas. Tem que ter cuidado, qualquer deslize seu
resultara em punição para Itieu e não para você.
— Porque isso?
— Porque ele é seu responsável, ele
responde por você. Eu não conheço o povo de Kamar, mas ele sempre disse que
eram boas pessoas, que não tratam os submissos como objetos e eu rezo aos
deuses que assim seja.
Eles estavam chegando até a casa de
Aziz quando Kamar e Itieu sairam na porta e os olhou sério.
— Devemos partir, parece que há uma
tribo vindo invadir o oasis.
— Como sabem disso? – perguntou Raqsa
assustado.
— Um amigo do sul – disse Aziz saindo
com um rapaz.
— Bashir Al Araden – apresentou-se
inclinando o corpo levemente – Venho da capital e vi quando uma grande divisão
da tribo do sul atravessou o Grande Val indo em direção para cá.
— Com certeza eles vem pilhar e
saquear.
— Temos que avisar a todos! – disse Gael.
— Devem escolher – disse Bashir com
frieza – Se ficarem para dizer o que esta por vir a única coisa que conseguiram
e serem presos e ficaram aqui, mas podem vir comigo e com Aziz e se salvarem. Eu
não posso decidir por vocês.
Gael olhou para Itieu que parecia tão
incomodado quanto ele, mas sabia que não podiam salvar aquelas pessoas.
— Vamos com você – disse Itieu.
Pessoal desculpem o atraso nas postagens, mas juro que estou sempre procurando fazer o meu melhor para vocês e vou tentar ser mais pontual. Beijos!