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sábado, 6 de abril de 2013

O Escravo II - Capitulo 8 Owen

Capitulo 8 - Owen




Sindria segurou Kalem que ia pular nele quando a tela de comunicação ascendeu mostrando um rosto que fez Andrew sorrir.


Na tela grande Andrew via o rosto sério de Owen, seu sobrinho e filho mais velho de Valdi, Frey e Gwidion.

— Olá tio – disse ele olhando feio para o outro – O que o senhor está fazendo aqui?

— Um tio não pode sentir saudades de seu sobrinho?

Owen revirou os olhos. Agora era um homem alto, com cabelos ruivos estavam amarrados em um rabo de cavalo alto, os olhos azuis brilhavam frios, mas as sardas que pontilhavam seu rosto pálido pareciam torná-lo mais vulnerável que sua postura queria dizer.

— O senhor não dá um ponto sem nó tio – disse ele.

— Tá certo Owen – Andrew olhou sério para o rapaz – Eu sempre gostei do seu modo direto e sem rodeios. Quero chegar até Taurinis e essa banheira velha parece que vai despedaçar, preciso de uma carona.

— Banheira velha? – Kalem ficou vermelha e trincou os dentes – Você ainda me paga idiota.

— Tio o senhor fugiu?

— Não – Andrew olhou as unhas – Deixei um bilhete para Tiol dizendo que ia buscar o meu filho.

Owen deu um suspiro dramático.

— O senhor fugiu e tenho certeza que tio Tiol vai por metade da galáxia atrás de você!

— Por isso mesmo eu preciso de sua ajuda – Andrew deu seu melhor sorriso – Uma hora dessas eles devem saber que aluguei a nave saltadora, mas não vão saber se você me der carona.

— Como sabia que eu fico aqui?

— Como conseguiu a nave?

— O senhor tem um espião aqui dentro, não é?

— Acha mesmo que eu ia deixar o meu sobrinho sozinho galáxia a fora? Lamento Owen, mas eu amo vocês, mesmo que tenha pais como Frey e Gwidion, apesar deles terem melhorados de uns tempos para cá.

— Ta bom tio, vamos conversar aqui dentro. Vou puxar a nave para atracar dentro da Esperanto.

— Obrigado.

Owen desligou balançando a cabeça.

— Foi por isso que você quis parar aqui! – Kalem estava a ponto de matar Andrew e Sindria não ia fazer nada para impedir.

— Desculpem – Andrew estava sério olhando as duas por cima dos dedos cruzados à sua frente – Mas eu preciso chegar até Taurinis e não podia me dar o luxo da Patrulha nos parar em algum lugar e isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde. Com a nave de Owen isso vai ficar um pouco mais difícil.

— Mas eles são piratas! – Sindria disse olhando interrogativa para eles.

— Não, não são. A nave é um velho despojo que comprei bem barato. Na região de Procyon o símbolo dos piratas não diz muito. Owen é um comerciante de minérios daquela região.

— Já ouvi falar de Procyon – disse Sindria pensativa – É uma área da galáxia, perto do centro onde os humanos colonizaram a quinhentos anos, tão velho que é emancipado, mas eles não são considerados humanos interiores por serem mestiços.

— Isso mesmo. A região de Procyon tem cerca de trinta sistemas planetários habitados por um povo de cabelos vermelhos e pele marrom. Eles são a miscigenação com uma raça que vivia em um dos sistemas. São comerciantes natos, mas não tem aptidão para a guerra. Não pertencem a nem uma federação por isso são alvos fáceis para qualquer raça. Com isso contratam serviços de outros para proteger os seus sistemas e Owen tem uma nave que, alem de transportar minérios é boa na arte da guerra e ele também é bom nisso.

— Obrigada pela aula de história – disse Kalem ácida – Mas já que a sua carona veio pode dando o fora da minha nave e me pagando!

— Lamento Kalem, mas você tem que vir comigo. Não posso me dar o luxo de vocês sendo pegas por Tiol antes de conversar com ele. Meu marido não pensa direito quando está de cabeça quente.

— Mas nem fodendo! – gritou a outra vermelha – Isso é seqüestro e vou dar parte de você na federação da Terra!

— Ainda vão ter o pagamento, mas em Taurinis.

— Sindria não podemos deixar isso! – Kalem virou-se para a esposa que olhava fixamente para Andrew.

— Calma Kalem – ela segurou a mão da outra com carinho – Ele está certo. Se ficarmos voando pela galáxia vão nos descobrir e ai passaremos bastante tempo em uma sala de interrogatório por ai, afinal estamos diante de um príncipe aurifense.

— Isso!

— Ei! – gritou o outro – Eu não sou “isso”!

— Andrew Tha Gaol, marido de Tiol, irmão do imperador de Aurifen e uma lenda na galáxia. De escravo a príncipe.

— Assim você me deixa sem graça.

— Já ouvi isso – Kalem fez cara feia – Uns anos atrás quando ainda vivia na Terra, os jornais fizeram o maios alarido e os humanos interiores ti odeiam – havia uma nota de satisfação na voz dela – Você acabou com seu comercio de escravos e colocou a Terra contra eles.

— Isso sim me deixa feliz – disse Andrew sorrindo ao lembrar-se de como conseguira com poder e influencia fazer os humanos interiores pagarem pelo que faziam aos seus os vendendo com escravos – Nunca pensei duas vezes em fazê-lo pelo bem da população pobre dos humanos interiores.

— Eu admiro você pelo que fez – disse Sindria – Meu avô foi um escravo resgatado pela força espacial da Terra há muito tempo. Ainda lembro do que ele falava conosco sobre a crueldade dos seus donos.

— Ele é uma gracinha – disse Kalem cheia de ciúmes de novo – Mas voltemos ao tempo presente e com o problema que essa merda colocou em cima de nós. Eu não seqüestrei ninguém! Eu estou sendo paga para ir de um ponto ao outro na galáxia e é bom que isso fique claro para todos, seu principezinho de merda, porque não quero ir presa ou ter a minha licença caçada!

— Baixa a crista Kalem – disse Andrew ficando irritado com a outra – Eu vou conversar pessoalmente com todos quando chegarmos à Taurinis e tenho certeza que nada vai acontecer.

Kalem bufou para ele, mas Sindria acenou com a cabeça concordando. Confiaria no príncipe aurifense para isso.

A nave teve um solavanco e logo estava sendo puxada para dentro do grande hangar da nave redonda.

~~***~~

Tiol estava olhando fixamente para a parede a sua frente. Seus pensamentos erráticos iam e vinham e ele tentava se concentrar em qualquer coisa menos no que acontecia com ele.

Perguntou-se como o seu papa havia sobrevivido ao cativeiro, mas ele conhecia Andrew o suficiente para saber que ele deveria ter se alimentado da raiva e de sua determinação, duas coisas que faltavam a ele, se bem que a raiva estava ali dentro dele, borbulhando a ponto de explodir de um modo como ele nunca julgava capaz.

Queria matar Kafen do modo mais cruel possível, fazê-lo pagar por toda dor e humilhação que ele estava passando.

— Está pensando demais – disse Gael na cama perto dele sentado encolhido de encontro ao encosto da cama.

— É o que faço de melhor ao que parece.

— Vai começar a sentir pena de si mesmo?

— Lamento que isso fira a sua grande sensibilidade humano, mas saiba que cada raça reage de um modo as coisas.

— Não acho que a sua raça se encolha em uma canto e fique remoendo as dores passadas.

— Não, ela não faz, mas se você tem as respostas Gael me diga o que faço agora? – olhou para o rapaz humano – Devo deixar tudo isso para trás?

— Acha que brigar comigo quando deveria estar brigando com Kafen vai mudar algo? Parece que você está com medo de se mostrar. O que você tem sob a pela aurifense?

— Eu não sei humano, nunca deixei sair. Você conhece as borboletas do seu mundo não?

— Claro – Gael não estava entendendo onde ele queria chegar.

— Bem é assim que eu me sinto. Acho que quando eu trocar de pele deixe de ser eu mesmo para me tornar algo como as pessoas que provocaram a guerra no meu mundo, que no fundo sou tão irracional como alguns aurifenses.

— Bem, não vai saber se não tentar, não é? E se não gostar do que se tornou mude, recomece. Afinal você não é nem uma borboleta que não possa tirar algo que ti desagrade.

— Porque começamos com essa filosofia toda?

— Porque estamos perdidos nesse bendito mundo nas mãos de um louco e tentando achar um modo de fugir.

— Já pensou em todas as variáveis?

— Já, e sabe o que mais? Não achei saída.

— Bem eu acredito em algo – gemendo de dor ele sentou olhando Gael – Meu papa e meu pai não vão acreditar seja no que for que contarem a eles em Nébula. Aurifenses tem uma ligação forte com suas crias, sabem quando elas morrem.

— Eu não acredito nessas coisas. Um pai pode ter uma ligação de afeto com seu filho, mas saber se ele está vivo ou morto por milhares de anos luz? Isso é loucura!

— Você é ateu Gael?

— O que isso vem ao caso?

— Poucas raças no universo têm membros sem religião e a raça humana é uma delas. O problema com elas é que estão preocupadas demais em entender o mundo através das ciências empíricas que esquecem que há outro lado, inexplicável.

— Inexplicável?! – Gael riu debochado – Basta colocar uma equação no lugar certo que tudo se resolve. Deuses, Deus, Deusa é apenas uma forma de enganação, uma maneira de controlar as mentes fracas.

— É a sua opinião e eu respeito ela, só acho que as pessoas crentes não tem a mente fraca, como você diz. É preciso ser muito forte para ter fé, para acreditar naquilo que não pode ser provado.

— Você é algum tipo de pastor ou algo assim? – perguntou Gael com nojo na voz.

— Pastor? – Itieu não entendia o que o humano queria dizer – Como um trabalhador de fazenda?

— Não! Como um maldito pregador que fica falando que você morrer no fogo do inferno pelos seus pecados.

— Acredito que você está falando de um sacerdote da religião ou o equivalente no seu mundo. Parece que eles são bem violentos nas suas pregações – ele riu – Eu me lembro de quando Andrew me levou para ver o templo da Deusa de Aurifen. Eu nunca tinha participado de nem uma religião e estava muito alegre por ir com meu papa. Ele mesmo ficou ali olhando para o nosso templo perguntando onde estavam as cruzes e estatuetas. Precisou muito para o cabeça dura entender que em Aurifen os templos são apenas um caminho facilitador para entrarmos em contato com o nosso lado místico. Não temos estatuas de deuses, mas alguns símbolos que tatuamos na pele – ele levantou a blusa folgada que usava mostrando a pele contundida, mas havia uma tatuagem ali, dois círculos circunscritos – Esse é o símbolo da família em Aurifen e naquele dia eu pedi para que fosse tatuado em mim. Claro que o Andrew conseguiu tatuar nele o mais extravagante que achou. Íamos sempre aos templos com a nossa família e eram dias maravilhosos que estávamos todos juntos.

— Que imagem pitoresca – resmungou Gael – Pra mim isso são bobagens! Meu pai está morrendo na Terra por uma doença sem cura e o que Deus fez para ele? Nada! Esse seu Deus deve é estar achando hilário o meu desespero.

Itieu olhou para o humano vendo toda a dor dentro daqueles olhos negros, mas antes que falasse algo à porta abril e Raqsa entrou com algumas roupas nos braços.

— Ola! – ele sorriu para os dois – Vejo que estão melhores.

— Melhor? – Itieu virou-se cheio de raiva para o outro – Eu nunca mais vou melhorar Raqsa, não depois de todas as perversões que fizeram comigo!

— Eu sinto tanto – o rapaz sentou na cama de Itieu e fez um carinho em seus cabelos – Ele nunca fez isso. Acredite ou não Itieu ele era a esperança do nosso povo, era a esperança de mudança e de liberdade. Dói pensar que ele não é um herói, ele é como todos nós. Também erra também se corrompe.

— O que são essas roupas? – Gael contorcia o rosto olhando para o tecido diáfano e transparente.

— O príncipe vai apresentar vocês à sociedade essa noite. Ele mesmo mandou as vestimentas e as jóias. Se querem um conselho não façam mais nada que o aborreça, castigos físicos nessas festas são um tipo de atração.

— Pois ele vai ter que vir aqui e me arrastar! – gritou Gael levantando e mancando até a janela – Ou ele me mata de uma vez por todas!

— Ele não vai te matar Gael, mas você vai querer que estivesse morto. Nossas torturas são para ferir, não para o prazer. Ele pode dá-lo de presente ao convidado mais pervertido da sala para o seu uso por uma noite e pode fazer muito pior.

— Você vai aceitar isso? – Gael gritava para Itieu.

— Acha que eu quero algo assim depois de ter sido estuprado por horas e horas Gael? Não, mas Kafen é um doido. Torturar pode ser algo de menos com ele. Está pronto para morrer aos poucos nas mãos de um sádico? Eu quero viver e me vingar de Kafen.

Gael olhou para Itieu e balançou a cabeça. Ele também queria viver.

~~***~~

A sala de banquetes do castelo estava toda decorada com bandeiras das famílias mais ricas de Ghalib. Era comum isso acontecer em festas oficiais e assim homenagear aqueles que se destacavam na sociedade.

As’ah estava sentado perto do Príncipe Guerreiro esfregando-se nesse enquanto Kafen bebia copo após copo de bebida alcoólica. O escravo estava apenas vestindo suas melhores jóias que adornavam seu peito, pulsos e pênis que tilintavam quando ele se mexia.

— Vejo que continua com os mais lindos escravos Kafen – o conde Meknes disse olhando ávido para As’ah.

O escravo odiava o conde. O homem tinha os piores gostos que ele já ouvira falar, alem disso era um homem feio e barbado e ele odiava barbas, ainda bem que seu dono não compartilhava...

— Gostaria de ficar um pouco com ele Meknes? – disse Kafen com a voz fria.

— Mas é claro – olhou As’ah que tinha os olhos azuis cheios de desprezo.

— Mas mestre...

— Não ouviu o que eu disse As’ah – gritou Kafen – Vá!

Vermelho de raiva ele foi até o conde que o arrastou para um grupo de poltronas onde alguns convidados já tinham relações com seus escravos. Homens e mulheres gemendo e gozando.

Meknes sentou e mandou o outro ajoelhar entre as suas pernas.

— Chupe escravo e se usar os dentes arranco sangue de você.

Com nojo As’ah abril o zíper da calça do outro e puxou um grande pênis ainda mole e começou a trabalhar chupando e sugando sabendo o quanto o maldito homem era frio, mas não teve sucesso e o membro do outro continuava mole.

— Incompetente! – o conde deu-lhe um tapa fazendo cair sentado.

Empurrou As’ah de quatro e tateou seu ânus e começou a empurrar os dedos dentro dele sem nem mesmo lubrificante e o escravo gemia de dor tentando se afastar do agarre forte do outro.

— Bom – Meknes lambeu os lábios ao ver a dor do outro e empurrou com mais força a mão dentro do escravo fazendo gritar de dor.

— Isso me deixa excitado – gemia um duque ali perto que penetrava com força dentro de sua escrava mesmo que ela já tivesse um grande aparato de borracha dura dentro dela.

A moça chorava de dor.

— Bem podemos trocar. Sua escrava parece que tem um bom limiar à dor.

— Me de ele. Quero foder essa bunda gostosa.

Meknes retirou a mão com força de dentro de As’ah que quase desmaiou de alivio, mas logo foi arrastado pelos cabelos e jogado para o duque que o empurrou sentado o penetrando sem aviso.

O conde jogara a mulher no chão e enfiava a mão em sua vagina enquanto empurrava com força à longa aste de borracha dentro do ânus dela.

O duque por sua vez fazia As’ah cavalgar nele de forma intensa e com força enquanto puxava as jóias de seu pênis e bolas quase a ponto de cortá-los. O escravo estava quase sem voz de gritar e sem forças de sair dali.

O duque gozou dentro dele com um resmungo, mas não foi o fim de seu tormento. Foi empurrado para outros que estavam nos sofás aproveitando o escravo do príncipe disponível.

Meknes havia gozado sem nem mesmo penetrar a escrava, só de ver a dor dela e de As’ah fora o suficiente para ele deixar o esperma sujar o chão.

Kafen nem mesmo percebia tudo isso. Ele estava mais preocupado com os avisos que seu serviço secreto dera a ele sobre uma revolução.

Ele não podia acreditar que isso era verdade. Ele fizera de tudo para aquele povo para agora ter esse pagamento? Tentara dar direitos aos submissos e dar alguma chance de liberdade aos escravos mais velhos, alem de tudo fizera os gostos de muita gente passando por cima das leis e agora queriam depô-lo? Isso só podia ser um engano.

Uma comoção na porta chamou a sua atenção e todas as suas preocupações foram varridas pela visão de suas dois novos escravos entrando no salão.

~~***~~

Owen estava no hangar quando Andrew saiu da nave correndo e dando um grande abraço no sobrinho.

— Garoto estava com saudades.

— Tio meus pais sabem disso?

— Disso o que? De que você vive perdido em um canto remoto da galáxia? Que fornece serviços de mercenários por ai? Que nas suas horas vagas é um comerciante? Não!

— Não vai me dizer que é o espião dentro da nave, não é?

— Não mesmo sobrinho – os olhos de Andrew brilhavam – Achava mesmo que conseguiria sair de Aurifen e mesmo da Federação tão fácil e sem ser localizado?

— O senhor armou tudo.

— Foi – Andrew não estava nem um pouco envergonhado – Mas não vem ao caso agora. Vamos o mais rápido possível para Taurinis.

— E quem disse que eu ia ti ajudar tio? – Owen cruzou os braços de forma teimosa.

— Você vai me ajudar – os olhos do outro tinham uma frieza e uma determinação que Owen só lembrava de ter visto em tempos de guerra – E assim quem tudo isso tiver terminado vai entrar em contato com seus pais. Acho que já teve tempo demais para pensar em por seus ideias no lugar – ele começou a andar, mas se voltou para ele que engoliu em seco – Vamos Owen, eu não tenho tempo a perder!




sexta-feira, 5 de abril de 2013

A Busca da Falicidade - Caputulo 12

Capitulo 12



Mauro conseguiu colocar algo no estômago sem vomitar. Tinha a cabeça levemente pesada e seu corpo doía todo, mas ele precisava se mexer e foi para o cômodo onde Dalton tinha seus apetrechos de esculturas e foi até o cavalete onde a tela que iniciara estava parada. Retirou o pano olhando para a cena onde cavaleiros estavam dentro de um cercado, chapéus para cima tocando gado em meio a uma nuvem de poeira.

Pela primeira vez resolveu olhar para seus desenhos, mas olhar de verdade, sem se ater ao que escutara dos outros, tendo apenas a sua opinião.

Percebeu que era sim um belo desenho, com traços que faziam parecer vivos os seus personagens e, mesmo em preto e branco, ele tinha a impressão de ver a nuvem de poeira vermelha levantar para o céu azul.

Sentou na banqueta que tinha ali perto e pegou as tintas lembrando do modo como Dalton mostrara que ele devia misturar elas, como ele devia fazer as pinceladas.

Esvaziou a sua mente e começou a colorir entrando com tudo na pintura. Sentiu como sua mente pareceu ficar mais clara e ele ficar mais calmo e sem perceber estava sorrindo e se sentindo vivo pela primeira vez em muito tempo.

Quando terminou olhou para o quadro sentindo que fizera algo bom.

— Lindo – disse alguém atrás dele e Mauro virou-se rápido dando de cara com Dalton sorrindo para ele – Poucos pintores conseguem o efeito que você queria dar – ele chegou perto dele olhando mais detidamente para a pintura – Parecem estar vivos.

— Então passei no crivo do artista residente?

— Artista? – Dalton sentou do lado dele – Não sei se isso é o certo.

— Você está bem Dalton? – não era comum ver o ar de tristeza no rosto bonito do outro.
— Acho que sou um saco quando não tenho inspiração – ele passou a mão pelo rosto em um gesto de desespero – Parece que sou uma merda inútil quando isso acontece. Quando penso nisso parece o certo. O que ganho não dá para sustentar uma família vou viver dos meus pais até quando?

— Sabe suas esculturas são tão lindas Dalton que parar de fazê-las seria um pecado. Não sou a melhor pessoa do mundo para dar conselhos, mas acredito que haja um modo de se conseguir tudo na vida sem ser infeliz. Acabamos aprendendo que ser feliz é um sonho distante, mas será mesmo? Porque você não pode continuar esculpindo e sobreviver da sua arte? Já pensou em expô-las em alguma galeria? Talvez em uma cidade maior, mas não pare de fazer algo tão lindo.

Antes que desse conta Dalton o estava puxando para um abraço e fungando em seu pescoço.

— Obrigado – disse ele chorando.

Por algum tempo eles ficaram ali, entregues ao abraço e pensando em suas vidas.

— Bem – Dalton afastou-se limpando os olhos – Se vou fazer isso você também!

— O que?

— É isso mesmo! – ele apontou para o quadro – Vamos expor na cidade as minhas esculturas e as suas pinturas – ele ergueu a mão quando viu que Mauro ia protestar – E antes que fale algo se você não for eu também não vou.

Mauro olhou para o rosto sério do outro e revirou os olhos.

— Bem a responsabilidade é sua! – mas ele sorria.

— Certo! – Dalton olhou a pintura – Então esse vai ser o nosso tema – apontou o quadro onde a tinta secava – Vamos mostrar o homem do campo. O que acha?

— Acho que vai dar certo.

— Então mãos à obra!

Durante o mês seguinte Mauro e Dalton ficavam trancados no galpão o tempo todo não deixando ninguém chegar perto, nem mesmo Sacha que tinha um bico de três metros por causa disso, fazendo Wagner rir dela o tempo todo.

Era uma época amena para todos.

Kaila estava preparando os seus cavalos para uma exposição em Londrina, Bruno ficava mais tempo com a sua namorada que dentro de casa, Dona Lúcia com o seu humor ácido resmungava com Mauro, mas vivia dando a ele bolos e biscoitos já caída de amores pelo novo neto. Godofredo... bem, Godo vivia do seu jeito sem se importar com nada, vivendo a vida a cada segundo. Sacha e Wagner estavam felizes com os filhos seguindo a sua vida, mas preocupados com Valentim.

Valentim era alguém que vivia sempre na sua, mas começava a pouco a pouco ir se retraindo. Cuidava da fazenda, dos pais e dos irmãos, mas não fazia mais nada, seu mundo se resumia a isso.

— Mesmo querendo sempre os meus filhos perto de mim Valentim está me preocupando – disse Sacha nos braços do marido.

Os dois estavam sentados nas cadeiras de vime que tinha na varanda vendo ao longe Kaila trotando junto com Gilberto. No horizonte o sol se ponha em meio a muito vermelho e laranja e um vento frio começava a soprar.

— Eu também estou preocupado, mas ele não deixa a gente chegar perto dele. Tentei conversar, falar para ele dar uma espairecida, mas ele nem mesmo quis me ouvir. Esse isolamento não é bom para ninguém.

— Obrigar ele a fazer as coisas não parece o certo – disse se aconchegando mais ao marido – Vamos tentar conversando com ele aos poucos.    

Wagner apertou mais a esposa nos braços sentindo o doce perfume que vinha dela. Beijos seus cabelos esfregando o rosto neles ainda lembrando da sua maciez quando os beijos pela primeira vez.

— O que você está pensando velho?

— Velho? – Wagner olhou feio para ela – Onde você está vendo o velho, heim mulher?

— Não é você que estava se queixando de estar velho e cansado outro dia?

— Vou mostrar para você quem está velho e cansado – disse ele levando e pegando a esposa nos braços – Mas é melhor fazermos isso no quarto.

Rindo subiram as escadas.

— Punhado de pervertidos – disse Lúcia e Godo que estava saindo gritou para ela.

— A inveja mata mãe.

— Vai ai diabo filho do capeta!

— Eu sou seu filho afinal!

Duda revirou os olhos na cozinha ao ouvir algo quebrando e antes que Lucia entrasse ela já estava na sala de vassoura e pá de lixo.

— Um dia você acerta – resmungou ela para a senhora de oitenta anos cujo olhar se iluminou.

— Deus seja louvado!

Lá fora Dalton e Mauro davam os últimos retoques para a exposição que fariam na praça da cidade. Já haviam conseguido autorização da prefeitura e distribuídos parte dos convites.

— Nem acredito que fizemos tudo isso – disse Mauro cansado, mas sorridente olhando para as pinturas e esculturas espalhadas por todo barracão.

— Ficaram lindas – disse Dalton tirando pedaços de madeira das roupas – Acho que merecemos uma noitada.

— O que sugere?

— Vamos para um banho e para um bar perto da cidade. Na noite de sexta fica cheio e tem musica ao vivo.

— Depois de tanto trabalho eu aceito – disse Mauro espreguiçando-se e sorrindo – Vamos nos arrumar.

— Mauro sei que você e meu irmão não se dão muito bem, mas eu estava pesando e arrastar o Valentim com a gente.

— A gente se entendeu e eu não ligo Dalton, mas porque arrastar?

— Ele anda mais parecido com um eremita que qualquer coisa. Não quer sair nem nada e vive na fazenda só com a gente. Droga isso não pode ser bom para a saúde!

— Bem hoje ele vai sair.

Ambos saíram e foram para a casa. Mauro foi para o quarto e Dalton com a difícil tarefa de convencer o irmão que estava no escritório olhando as contas.

— Ei Valentim – Dalton colocou a cabeça na porta do escritório – Posso entrar?

— O que você quer Dalton? Estou em meio às contas da fazenda.

— Bem senhor mal humorado – disse o irmão colocando as mãos na cintura – Estou aqui comunicando que vamos sair hoje.

— E você precisa me comunicar para onde você vai?

— Preciso desde que você vai comigo.

— Dalton me deixe em paz.

— Vamos irmão – Dalton perdeu um pouco de sua posa sentando perto do outro – Você sabe que ficar desse jeito não vai resolver nada. Precisa sair e se distrair, eu e o Mauro vamos ao Bar do Val na estrada Velha. Vamos passar a noite bêbados e rindo de bobagens e amanhã a gente pensa nas coisas sérias.

— Dalton você sabe que esse não é o meu estilo.

— Nem o meu, mas eu não vou ficar aqui enquanto a vida passa. Quando notarmos somos um bando de velhos reclamando da vida e cheios de artrite.

Valentim revirou os olhos, mas balançou a cabeça.

— Parece que não tem jeito, alguém tem que cuidar dos dois cabeças de vento.

— Isso!

Dalton pulou e abraçou o irmão que ficou vermelho.

— Saímos em uma hora.

~~***~~

O Bar do Val era uma antiga casa de fazenda que agora era um bar e restaurante que ficava afastado da cidade, mas a Estrada Velha passava na sua frente. Era a estrada que os turistas pegavam para visitar fazendas histórias ou ir até as cachoeiras abundantes naquela região.

Havia um grande estacionamento perto da bar que já estava quase cheio. A velha casa em estilo colonial e pintada de branco tinha uma grande varanda cercando ela de três lados onde estavam mesas de madeira com quatro cadeiras também de madeira e estofadas.

As grandes janelas estavam abertas e se podia ouvir risos e o som de uma guitarra vibrando ao som de George Benson. Mauro ficou pasmo por encontrar alguém ali que ouvia o velho guitarrista negro de Pittsburgh. Ouvira na internet o suas musicas e se apaixonara.

— Eles costumam tocar de tudo – disse Dalton para o outro – Basta pedir.

Valentim dirigia e parecia um pouco carrancudo, mas estava mais relaxado do que Mauro tinha visto em dias. A impressão que ele tinha era que algo acontecera que o mais velho não queria contar nem mesmo para a sua família, mas fosse o que fosse, o estava corroendo por dentro.

Saíram do carro e foram para o bar. Havia mais meses ali dentro, mas um grande espaço mostrava a pista de dança. A banda estava em um tablado a um metro de altura e em outra parede ficava um bar todo feito em madeira escura com uma parede coberta de varias garrafas de bebidas. Dois homens e duas mulheres atendiam no balcão onde haviam banquetas para as pessoas sentarem e garçons vestidos de preto iam de uma mesa a outra pegando pedidos.

— Ei! – alguém os chamou e viram sentados em um canto Dante e Dayno.

— Oi!

Mauro ficou feliz em rever os amigos que não via a tento tempo e sem dar pela cara de desgosto de Dalton foi até a mesa deles.

— Onde você tem andado? – perguntou Dante ignorando Dalton.

— Eu e Dalton estamos preparando uma exposição, vai ser domingo na praça da cidade. Espero que você vão.

— Pode apostar que vamos – disse Dayno olhando feio par ao irmão gêmeo que estremecia – Para de frescura Dante! – olhou os outros – Ola Dalton, Valentim.

— Como vão? – Valentim já precisara dos serviços deles o conhecia os advogados, o que ele não entendia era o modo que Dalton e Dante agiam. Parecia que um estava bravamente tentando ignorar o outro.

— Por favor, sentem conosco – disse Dayno ignorando Dante.

Mauro e Valentim aceitaram, mas Dalton ainda não esquecera a cena no supermercado e sua vontade era chutar Dante quando este deu um sorriso falso apontando a cadeira perto dele.

— O que vão beber?

— Cerveja – disse Dalton e Mauro, mas Valentim balançou a cabeça.

— Alguém tem que tomar conta deles, alem disso eu dirijo.

— Vai ser apenas uma cerveja – disse Dayno sorrindo e chamando um garçom e pedindo cerveja para todos – Me fale da exposição Dalton.

O rapaz ficou agradecido em ter algo para falar e não ficar pensando o quanto era desconfortável ficar ali com Dante olhando para ele com aqueles olhos.

Quando a cerveja chegou brindaram e Dalton bebeu a sua em um só fôlego.

Sua perna direita encostava o tempo todo em Dante e ele podia sentir o calor do outro através da calça jeans que usava. Dante vestia-se de modo casual com jeans preto, camisa pólo vermelha e botas marrons. A camisa estiva mostrando seus músculos e seu sorriso debochado iluminava o rosto bonito. Ele apertou a garrafa sentindo seu jeans ficar pequeno. Deus! Ele estava tendo uma ereção por tocar o idiota que o fez catar latas de ervilha a tarde toda? O imbecil que o beijara a ponto dele perder o fôlego?

Aquela ia ser uma noite daquelas!