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sexta-feira, 5 de abril de 2013

A Busca da Falicidade - Caputulo 12

Capitulo 12



Mauro conseguiu colocar algo no estômago sem vomitar. Tinha a cabeça levemente pesada e seu corpo doía todo, mas ele precisava se mexer e foi para o cômodo onde Dalton tinha seus apetrechos de esculturas e foi até o cavalete onde a tela que iniciara estava parada. Retirou o pano olhando para a cena onde cavaleiros estavam dentro de um cercado, chapéus para cima tocando gado em meio a uma nuvem de poeira.

Pela primeira vez resolveu olhar para seus desenhos, mas olhar de verdade, sem se ater ao que escutara dos outros, tendo apenas a sua opinião.

Percebeu que era sim um belo desenho, com traços que faziam parecer vivos os seus personagens e, mesmo em preto e branco, ele tinha a impressão de ver a nuvem de poeira vermelha levantar para o céu azul.

Sentou na banqueta que tinha ali perto e pegou as tintas lembrando do modo como Dalton mostrara que ele devia misturar elas, como ele devia fazer as pinceladas.

Esvaziou a sua mente e começou a colorir entrando com tudo na pintura. Sentiu como sua mente pareceu ficar mais clara e ele ficar mais calmo e sem perceber estava sorrindo e se sentindo vivo pela primeira vez em muito tempo.

Quando terminou olhou para o quadro sentindo que fizera algo bom.

— Lindo – disse alguém atrás dele e Mauro virou-se rápido dando de cara com Dalton sorrindo para ele – Poucos pintores conseguem o efeito que você queria dar – ele chegou perto dele olhando mais detidamente para a pintura – Parecem estar vivos.

— Então passei no crivo do artista residente?

— Artista? – Dalton sentou do lado dele – Não sei se isso é o certo.

— Você está bem Dalton? – não era comum ver o ar de tristeza no rosto bonito do outro.
— Acho que sou um saco quando não tenho inspiração – ele passou a mão pelo rosto em um gesto de desespero – Parece que sou uma merda inútil quando isso acontece. Quando penso nisso parece o certo. O que ganho não dá para sustentar uma família vou viver dos meus pais até quando?

— Sabe suas esculturas são tão lindas Dalton que parar de fazê-las seria um pecado. Não sou a melhor pessoa do mundo para dar conselhos, mas acredito que haja um modo de se conseguir tudo na vida sem ser infeliz. Acabamos aprendendo que ser feliz é um sonho distante, mas será mesmo? Porque você não pode continuar esculpindo e sobreviver da sua arte? Já pensou em expô-las em alguma galeria? Talvez em uma cidade maior, mas não pare de fazer algo tão lindo.

Antes que desse conta Dalton o estava puxando para um abraço e fungando em seu pescoço.

— Obrigado – disse ele chorando.

Por algum tempo eles ficaram ali, entregues ao abraço e pensando em suas vidas.

— Bem – Dalton afastou-se limpando os olhos – Se vou fazer isso você também!

— O que?

— É isso mesmo! – ele apontou para o quadro – Vamos expor na cidade as minhas esculturas e as suas pinturas – ele ergueu a mão quando viu que Mauro ia protestar – E antes que fale algo se você não for eu também não vou.

Mauro olhou para o rosto sério do outro e revirou os olhos.

— Bem a responsabilidade é sua! – mas ele sorria.

— Certo! – Dalton olhou a pintura – Então esse vai ser o nosso tema – apontou o quadro onde a tinta secava – Vamos mostrar o homem do campo. O que acha?

— Acho que vai dar certo.

— Então mãos à obra!

Durante o mês seguinte Mauro e Dalton ficavam trancados no galpão o tempo todo não deixando ninguém chegar perto, nem mesmo Sacha que tinha um bico de três metros por causa disso, fazendo Wagner rir dela o tempo todo.

Era uma época amena para todos.

Kaila estava preparando os seus cavalos para uma exposição em Londrina, Bruno ficava mais tempo com a sua namorada que dentro de casa, Dona Lúcia com o seu humor ácido resmungava com Mauro, mas vivia dando a ele bolos e biscoitos já caída de amores pelo novo neto. Godofredo... bem, Godo vivia do seu jeito sem se importar com nada, vivendo a vida a cada segundo. Sacha e Wagner estavam felizes com os filhos seguindo a sua vida, mas preocupados com Valentim.

Valentim era alguém que vivia sempre na sua, mas começava a pouco a pouco ir se retraindo. Cuidava da fazenda, dos pais e dos irmãos, mas não fazia mais nada, seu mundo se resumia a isso.

— Mesmo querendo sempre os meus filhos perto de mim Valentim está me preocupando – disse Sacha nos braços do marido.

Os dois estavam sentados nas cadeiras de vime que tinha na varanda vendo ao longe Kaila trotando junto com Gilberto. No horizonte o sol se ponha em meio a muito vermelho e laranja e um vento frio começava a soprar.

— Eu também estou preocupado, mas ele não deixa a gente chegar perto dele. Tentei conversar, falar para ele dar uma espairecida, mas ele nem mesmo quis me ouvir. Esse isolamento não é bom para ninguém.

— Obrigar ele a fazer as coisas não parece o certo – disse se aconchegando mais ao marido – Vamos tentar conversando com ele aos poucos.    

Wagner apertou mais a esposa nos braços sentindo o doce perfume que vinha dela. Beijos seus cabelos esfregando o rosto neles ainda lembrando da sua maciez quando os beijos pela primeira vez.

— O que você está pensando velho?

— Velho? – Wagner olhou feio para ela – Onde você está vendo o velho, heim mulher?

— Não é você que estava se queixando de estar velho e cansado outro dia?

— Vou mostrar para você quem está velho e cansado – disse ele levando e pegando a esposa nos braços – Mas é melhor fazermos isso no quarto.

Rindo subiram as escadas.

— Punhado de pervertidos – disse Lúcia e Godo que estava saindo gritou para ela.

— A inveja mata mãe.

— Vai ai diabo filho do capeta!

— Eu sou seu filho afinal!

Duda revirou os olhos na cozinha ao ouvir algo quebrando e antes que Lucia entrasse ela já estava na sala de vassoura e pá de lixo.

— Um dia você acerta – resmungou ela para a senhora de oitenta anos cujo olhar se iluminou.

— Deus seja louvado!

Lá fora Dalton e Mauro davam os últimos retoques para a exposição que fariam na praça da cidade. Já haviam conseguido autorização da prefeitura e distribuídos parte dos convites.

— Nem acredito que fizemos tudo isso – disse Mauro cansado, mas sorridente olhando para as pinturas e esculturas espalhadas por todo barracão.

— Ficaram lindas – disse Dalton tirando pedaços de madeira das roupas – Acho que merecemos uma noitada.

— O que sugere?

— Vamos para um banho e para um bar perto da cidade. Na noite de sexta fica cheio e tem musica ao vivo.

— Depois de tanto trabalho eu aceito – disse Mauro espreguiçando-se e sorrindo – Vamos nos arrumar.

— Mauro sei que você e meu irmão não se dão muito bem, mas eu estava pesando e arrastar o Valentim com a gente.

— A gente se entendeu e eu não ligo Dalton, mas porque arrastar?

— Ele anda mais parecido com um eremita que qualquer coisa. Não quer sair nem nada e vive na fazenda só com a gente. Droga isso não pode ser bom para a saúde!

— Bem hoje ele vai sair.

Ambos saíram e foram para a casa. Mauro foi para o quarto e Dalton com a difícil tarefa de convencer o irmão que estava no escritório olhando as contas.

— Ei Valentim – Dalton colocou a cabeça na porta do escritório – Posso entrar?

— O que você quer Dalton? Estou em meio às contas da fazenda.

— Bem senhor mal humorado – disse o irmão colocando as mãos na cintura – Estou aqui comunicando que vamos sair hoje.

— E você precisa me comunicar para onde você vai?

— Preciso desde que você vai comigo.

— Dalton me deixe em paz.

— Vamos irmão – Dalton perdeu um pouco de sua posa sentando perto do outro – Você sabe que ficar desse jeito não vai resolver nada. Precisa sair e se distrair, eu e o Mauro vamos ao Bar do Val na estrada Velha. Vamos passar a noite bêbados e rindo de bobagens e amanhã a gente pensa nas coisas sérias.

— Dalton você sabe que esse não é o meu estilo.

— Nem o meu, mas eu não vou ficar aqui enquanto a vida passa. Quando notarmos somos um bando de velhos reclamando da vida e cheios de artrite.

Valentim revirou os olhos, mas balançou a cabeça.

— Parece que não tem jeito, alguém tem que cuidar dos dois cabeças de vento.

— Isso!

Dalton pulou e abraçou o irmão que ficou vermelho.

— Saímos em uma hora.

~~***~~

O Bar do Val era uma antiga casa de fazenda que agora era um bar e restaurante que ficava afastado da cidade, mas a Estrada Velha passava na sua frente. Era a estrada que os turistas pegavam para visitar fazendas histórias ou ir até as cachoeiras abundantes naquela região.

Havia um grande estacionamento perto da bar que já estava quase cheio. A velha casa em estilo colonial e pintada de branco tinha uma grande varanda cercando ela de três lados onde estavam mesas de madeira com quatro cadeiras também de madeira e estofadas.

As grandes janelas estavam abertas e se podia ouvir risos e o som de uma guitarra vibrando ao som de George Benson. Mauro ficou pasmo por encontrar alguém ali que ouvia o velho guitarrista negro de Pittsburgh. Ouvira na internet o suas musicas e se apaixonara.

— Eles costumam tocar de tudo – disse Dalton para o outro – Basta pedir.

Valentim dirigia e parecia um pouco carrancudo, mas estava mais relaxado do que Mauro tinha visto em dias. A impressão que ele tinha era que algo acontecera que o mais velho não queria contar nem mesmo para a sua família, mas fosse o que fosse, o estava corroendo por dentro.

Saíram do carro e foram para o bar. Havia mais meses ali dentro, mas um grande espaço mostrava a pista de dança. A banda estava em um tablado a um metro de altura e em outra parede ficava um bar todo feito em madeira escura com uma parede coberta de varias garrafas de bebidas. Dois homens e duas mulheres atendiam no balcão onde haviam banquetas para as pessoas sentarem e garçons vestidos de preto iam de uma mesa a outra pegando pedidos.

— Ei! – alguém os chamou e viram sentados em um canto Dante e Dayno.

— Oi!

Mauro ficou feliz em rever os amigos que não via a tento tempo e sem dar pela cara de desgosto de Dalton foi até a mesa deles.

— Onde você tem andado? – perguntou Dante ignorando Dalton.

— Eu e Dalton estamos preparando uma exposição, vai ser domingo na praça da cidade. Espero que você vão.

— Pode apostar que vamos – disse Dayno olhando feio par ao irmão gêmeo que estremecia – Para de frescura Dante! – olhou os outros – Ola Dalton, Valentim.

— Como vão? – Valentim já precisara dos serviços deles o conhecia os advogados, o que ele não entendia era o modo que Dalton e Dante agiam. Parecia que um estava bravamente tentando ignorar o outro.

— Por favor, sentem conosco – disse Dayno ignorando Dante.

Mauro e Valentim aceitaram, mas Dalton ainda não esquecera a cena no supermercado e sua vontade era chutar Dante quando este deu um sorriso falso apontando a cadeira perto dele.

— O que vão beber?

— Cerveja – disse Dalton e Mauro, mas Valentim balançou a cabeça.

— Alguém tem que tomar conta deles, alem disso eu dirijo.

— Vai ser apenas uma cerveja – disse Dayno sorrindo e chamando um garçom e pedindo cerveja para todos – Me fale da exposição Dalton.

O rapaz ficou agradecido em ter algo para falar e não ficar pensando o quanto era desconfortável ficar ali com Dante olhando para ele com aqueles olhos.

Quando a cerveja chegou brindaram e Dalton bebeu a sua em um só fôlego.

Sua perna direita encostava o tempo todo em Dante e ele podia sentir o calor do outro através da calça jeans que usava. Dante vestia-se de modo casual com jeans preto, camisa pólo vermelha e botas marrons. A camisa estiva mostrando seus músculos e seu sorriso debochado iluminava o rosto bonito. Ele apertou a garrafa sentindo seu jeans ficar pequeno. Deus! Ele estava tendo uma ereção por tocar o idiota que o fez catar latas de ervilha a tarde toda? O imbecil que o beijara a ponto dele perder o fôlego?

Aquela ia ser uma noite daquelas!

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