Minha lista de blogs

domingo, 28 de julho de 2013

Os Contos de Naral - Capitulo 2 Um Cinvite Inesperado










Capitulo 2 – Um Pedido Inesperado



Davi continuou olhando para o belo garoto diante dele que não fazia movimento nem um de ajoelhar-se como todo mundo fizera. Ele o encarava com arrogância e um sentimento que brilhava naqueles olhos e que Davi podia apostar que era desprezo.

“Não se pode negar” pensou Davi constrangido “Estou diante do rapaz mais bonito que já vi na vida!”

— Ele é um Delano? – perguntou curioso.

— Sou um Kustas-Delano – respondeu o rapaz cheio de sarcasmo – Filho das duas casas.

Davi levantou uma sobrancelha contrariado, bem que ele podia mostrar alguma consideração!

— Tenha mais respeito Crhist – disse Valhalla contrariada – Ele é o rei!

— Esse estrangeiro não é meu rei! – com isso ele continuou seu caminho de forma tempestuosa.

— Peço desculpas por meu filho, alteza – disse Ausna vermelha olhando para o filho que sumia no corredor.

— Tudo bem – ele sorriu para ela – Deve ser muito estranho ter alguém de outro mundo perto de vocês assim.

— Para nós isso não muda nada – disse Dator com a sua voz calma – A Tradição diz que existem muitas dimensões com muitos mundos no universo e nós conhecemos uns poucos, mas o nosso conhecimento maior vem do nosso mundo irmão, a Terra.

— Vocês conhecem a Terra? O que é mundo irmão? – a cabeça de Davi já estava cheia de perguntas, mas depois dessa ele ficou com a cabeça ainda mais cheia delas.

— Uma sombra – disse Valhalla – A Tradição nos ensina que para cada mundo no universo existe um mundo irmão deste em outro universo. É mais como um sonho, assim como o seu é para nós.

— Sonho? – Davi não entendera o que ele quis dizer com isso.

— O que Valhalla quis dizer – Ismail parou perto de uma janela que de longe se via uma cidade – é que às vezes os mundos estão tão pertos que podemos ver suas cidades e até suas guerras. Com vocês acontece do mesmo modo, mas parece que vocês não sabem sobre os mundos irmãos e por isso Naral acaba por se tornar um mundo de fantasias e de sonhos.

— Como mundos irmão somos parecidos de vários modos – disse Ausna – Plantas, animais, um pouco do povo e mesmo alguma cultura.

— Mas... – ele olhou para Dator – Se os mundos se aproximam tanto não é possível ir de um mundo ao outro quando eles estão assim?

— É possível – disse Ismail – Mas nunca sabemos nem quando ou onde isso vai acontecer. A última vez foi há muito tempo.

Davi murchou na hora. Será que ele realmente ia ficar preso ali para sempre?

Aquelas pessoas pareciam achar que ele podia ser algum tipo de rei, mas como ele podia ser tal coisa se nem mesmo o ensino médio ele terminara? Ele ainda nem sabia direito matemática e esse tipo de coisa só acontecia nos filmes americanos.

— Não se preocupe – Dator colocou a mão em seu ombro – Vamos perguntar à sacerdotisa Drima se ele pode encontrar a localização do livro.

Ao ouvir isso Davi sentiu-se imensamente aliviado.

Eles entraram em um grande salão. Ali as janelas não tinham vitrais deixando que o sol da manhã entrasse por elas iluminando tudo. O chão era de uma pedra clara e polida, havia poltronas por todo o lado e grandes lareiras nos quatro cantos da sala. Tapeçarias adornavam o chão e vários pontos das paredes. Tudo estava muito limpo o que surpreendia Davi que ficava lembrando-se das histórias da idade média na Terra. No alto de um estrado havia uma grande cadeira com acento e encosto de veludo vermelho. Ele estava diante de um trono, do seu trono!

— Eu não vou sentar ai! – ele retrocedeu como se tivesse diante de uma grande cobra – Me desculpem.

— Tudo bem – disse Ausna naquela sua voz calma que lembrava Dator – Vamos para o escritório de Ismail.

O escritório não ficava muito longe do Salão de Bailes, que era o nome do grande salão com o trono. Era um cômodo pequeno em comparação com aquele que tinham saído, mas parecia mais aconchegante. Havia uma grande escrivaninha coberta de papéis e mapas, um armário de madeira vermelha, uma estante com muitos livros de capas de couro e poltronas também de couro. Nas paredes havia muitos quadros de cavalos correndo por morros e vales. Em cima de uma pequena mesa de canto havia um vaso com flores vermelhas que lembravam brincos-de-princesa cujas pétalas ainda estavam úmidas de orvalho como se alguém tivesse acabado de colhê-las.

Ismail o conduziu até a poltrona do outro lado da mesa e Davi sentou olhando para o tampo da escrivaninha com os seus apetrechos: penas, tinteiros, papel grosso e escuro como papel reciclado, um livro encadernado com couro onde havia colunas de números, castiçais com velas e o que parecia a ele um lampião.

Ao levantar os olhos percebeu que todos olhavam para ele e Davi acabou ficando vermelho e embaraçado.

— Eu... hã... – coçou atrás do pescoço – Não sei o que esperam de mim.

— Majestade – Ausna tomou a palavra – Sou a regente há muito tempo e sei que governar não é fácil. Não quero ti assustar, mas muitas vezes você terá que tomar decisões que irem contra você mesmo em prol do povo, todavia não existe nada mais maravilhoso que é saber que, de algum modo, você pode contribuir para a sua nação, para o seu povo, que é saber que eles estão bem e em segurança. Saber que você pode mudar as injustiças e fazer prosperar a grande nação de Eyri, simplesmente não há nada mais incrível. Eu apenas posso imaginar o quanto deve ser difícil para você ser arrancado do seu mundo e de sua família para ser jogado em meio a tudo isso, mas saiba que cada um de nós está aqui pelo senhor, que cada um de nós esperou com toda a sua devoção pelo nosso rei. Dê uma chance para conhecer o nosso mundo e juro que procuraremos um modo do senhor contatar o seu mundo.

Os olhos dourados dela brilhavam sinceros e Davi que podia confiar na palavra de Ausna o que trazia alguma paz em sua mente conturbada.

— Certo – ele acenou com a cabeça e sorriu para todos os presentes.

~~***~~

— Política é uma coisa complicada – disse Davi para Dator depois de horas de conversa com Ausna e Ismail.

Eles estavam no alto de uma das torres olhando para a cidade de Inay. Dali ele podia ver que era uma imensa cidade murada cujo centro era o Castelo Branco.

As ruas eram ladrilhadas pela mesma pedra branca do castelo e havia praças por todo lado com jardins e pequenos bosques. As casas eram coloridas e na sua maioria de dois a três andares com quintais adjacentes onde se viam roupas balançando na brisa. Dali ele podia ver que dois córregos cortavam a cidade e suas margens eram bem afastadas das casas com muitas árvores os acompanhando em todo o seu caminho. Em algumas ruas havia um aglomerado de barracas coloridas brilhando no sol do meio dia. Quanto ele mais olhava parecia que estava vendo uma vila européia, mas muito organizada.

— O mercado – Dator apontou para as barracas coloridas – A prefeitura – um prédio alto de três andares pintado de branco.

Ao longe ele podia ver montanhas, mas montanhas de verdade com seus altos picos nevados como ele nunca vira na vida.

Um vento mais forte soprou e ele sentiu como tudo tinha um cheiro diferente, era como se ele pudesse sentir o cheiro de flores e mel por toda parte e como se o ar fosse mais leve e seus pulmões estivessem ávidos por ele.

E as cores? Era como se o sol ali fosse mais brilhante e de algum modo tudo era mais colorido.

Olhar tudo a sua volta e respirar era um estranho prazer. Seu país era lindo! Seu país?! De onde ele havia tirado aquilo?

— Dator – olhou para o rapaz que o mirou com aqueles olhos tão bondosos.

— Sim Vossa Alteza!

— Será que pode me fazer um favor? Pode me chamar de Davi? Esse negócio da Alteza, Majestade, parece que estão falando com outra pessoa, mas... – deu um sorriso perverso – Queria que os meus irmãos mais velhos me vissem agora. Quem sabe eles me deixassem um pouco em paz – outra rajada de vento e ele inalou com mais avidez o cheiro – O ar daqui cheira tão bem.

— Cheira?! – Dator colocou o rosto contra o vento – Nunca percebi o seu cheiro.

— Acho que é porque seu mundo é limpo, se um dia for para o meu vai entender por que. Lá tudo cheira a fumaça e poeira e o céu é sempre cinzento – olhou para o céu de um profundo tom azul – Aqui o céu é tão azul que até parece mentira e olhe essas matas – ele apontou para o horizonte onde se viam florestas sem fim – A gente já destruiu quase tudo lá em casa.

— Naral é parte de nós... Davi. Se começarmos a destruir o nosso mundo seria o mesmo que estarmos praticando um crime contra nós e contra tudo que é vivo no mundo.

— Entendo... E vocês querem que eu cuide desse mundo com o mesmo zelo que vocês? Olhe do mundo aonde vim!

— O que você sente quando olha para o nosso mundo Davi?

— O que sinto? Acho que o que penso é que gostaria que ele não ficasse como o meu, em ruínas.

— Então acho que escolhemos um ótimo rei.

— De boas intenções o inferno está cheio, sabe?

— Como? – Dator inclinou a cabeça – Sempre pensei que o inferno fosse o purgatório das almas más, não é assim no seu mundo?

— É um ditado! O que quis dizer é que ter boa intenção para fazer as coisas não basta.

— Mas é um começo. Aqui dizemos que uma longa estrada começamos com o primeiro passo.

— Acha que estou dando esse passo? – ele sorriu para Dator.

— Eu tenho certeza.

No pátio abaixo havia uma grande movimentação.

— Tudo isso por causa daquele jantar que Sipria falou?

— Alguns lords que estavam na cidade foram convidados para conhecê-lo assim como grandes nomes da economia e política local. Futuramente os lords de outras regiões de Eyri viram para sua festa da devoção onde eles juraram devoção ao reino e ao novo rei.

— Isso de novo – resmungou Davi – Dator você é um lord? Afinal é filho da senhora Ausna e chamam seu irmão Ismail de lord.

— Ismail é o chefe da família Kustas, o lord Kustas, e como mais velho chefe da nossa família mesmo que a nossa mãe seja a regente. Somos filhos de pais diferentes, o meu pai era um militar assim como eu sou – seu olhar se perdeu no horizonte.

— Então aquele menino Crhist...?

— Crhist é filho de Cinrei, filho adotivo do Lord Delano. Cinrei era do povo estron e foi adotado pelo Lord quando a mãe o deixou na porta do castelo Delano e sumiu não sendo vista nunca mais. Cinrei era uma pessoa cheia de vida que encantava a todos. Minha mãe já estava viúva do meu pai há muito tempo quando se conheceram – ele riu – Acho que foi algo que podemos chamar de amor à primeira vista – logo seu rosto entristeceu – Mas dois anos após o nascimento de Crhist houve a Guerra dos Cento e Seis Dias contra Otop e ele faleceu no campo de batalha... depois disso minha mãe nunca mais se casou.

Guerras... Naquele mundo elas não estavam distantes dele como na Terra onde guerra era algo para se estudar nos livros de história e se ver nos noticiários dos países distantes.

— Você acha que pode haver uma guerra entre as famílias como aconteceu há novecentos anos?

— Não majestade. Nós tivemos muito tempo para por a cabeça no lugar e duvido muito que alguém se oponha a um protegido do Livro das Trevas.

— Quer dizer que muitos vão me obedecer por medo... – isso deixava Davi mau.

— Muitos, tanto em Eyri quanto em toda a Naral.

— Mas eu não quero isso! – olhou os olhos azuis de Dator – Se vão me obedecer que seja pelo menos por respeito e não por medo!

— Então esse é o primeiro trabalho do rei. Mostre que você é um grande rei, grande o suficiente para mudar o mundo Davi.

~~***~~


Aquele mundo era mesmo estranho. Os banhos eram coletivos em grandes piscinas de águas termais que vinham das montanhas e ficavam nos subsolo do castelo. Todavia foi reservado uma sala de banhos apenas para ele.

Davi nunca havia tomado banho em águas termais ou visto uma piscina daquele tamanho feita de uma pedra polida toda rosa. As paredes eram da mesma pedra com lampiões por toda a parte brilhando em meio à névoa do vapor. A água tinha um cheiro estranho, mas era uma delícia ficar ali flutuando sozinho, afinal Dator parecia sua sombra, agora mesmo ele estava do outro lado da porta montando guarda.

Ao sair do banho olhou curioso para as roupas que haviam deixado para ele.

Havia uma camisa branca com as mangas bufantes, um colete preto de um tecido mais grosso, uma calça de algo que lembrava a veludo, meias, uma bota de couro que ia até os seus joelhos e uma capa verde que ele não soube como prender. Ele devia estar realmente engraçado vestido daquele modo. Era uma sorte que nem um dos seus irmãos pudesse vê-lo agora. Lavando a capa nos braços saiu para o corredor onde Dator esperava recostado na parede de olhos fechados, mas devia estar bem alerta, pois assim que Davi saiu da sala de banho ele abriu os olhos sorrindo.

— O senhor ficou bel Alteza.

— Eu não tenho a mínima ideia de como colocar isso – Davi mostrou a capa.

— Deixe-me ajudá-lo – Dator passou a capa por seus ombros e prendeu com uma presilha vermelha no formato de um dragão por cima de seu ombro direito – Pronto.

— Pareço um rei? – ele abriu os braços e deu uma volta para que o outro o visse.

— Com certeza Davi.

Eles andaram pelos corredores iluminados por candeeiros onde uma chama branco amarelada brilhava sem fumaça.

— O que tem nas lamparinas? – perguntou curioso.

— É a resina de uma árvore chamada iluminaria que nasce em abundancia nas Serras do Mar, o condado de Orietna exporta para praticamente toda Naral.

— Bem deixa ver se me recordo... – Davi coçou a cabeça – Eyri foi dividida em sete condados governados cada um por um lord de uma família poderosa.

— Muito bem, o senhor lembrou o que Valhalla disse. Os sete condados são governados pelas primeiras famílias que ali se fixaram há muito tempo. Os Orietna ficaram nas serras perto do litoral, os Feten na Floresta Velha, os Asem em boa parte do litoral, os Vramen ficaram no centro do país em uma região de vales e rios e os Delano e Kustas os Vales onde estamos.

— Então dias famílias ficaram no mesmo lugar? Foi isso que gerou a briga entre elas?

— Foi. A região dos Vales é muito rica e grande, alem de ser um ponto estratégico. Quem controlasse esse ponto podia controlar toda Eyri. Não eram só os Kustas e Delanos que queriam o poder, mas eles nunca conseguiam unificar todas os condados. As famílias sempre ficavam divididas em sua lealdade. A unificação veio apenas depois da grande guerra.

Ao longe já se podia ouvir o som de música e das vozes de dezenas de pessoas que vinha do salão de bailes.

— Ficar no meio de tanta gente estranha me dá medo – Davi estremeceu.

— Tudo bem – Dator bateu em seu ombro – As pessoas que estão no salão ti esperando são seus vassalos, rei Davi. São pessoas que há muito esperam seu rei.

— Eles vão ficar decepcionadas isso sim.

— Não fali assim – Dator ajoelhou-se diante dele – Nesse mundo cada coisa é especial, cada minúscula criatura até a maior delas. Cada ser é um universo em si que deve ser respeitado. Você pode ter vindo de um mundo diferente, mas a energia que está em seu coração – ele tocou em seu peito com os dedos – é parte de Naral e parte de cada um de nós.

— Obrigado – o nó em seu estômago havia afrouxado um pouco e ele respirou fundo – Bem, vamos.

Eles chegaram até as portas duplas do Salão de Bailes onde dois guardas vestidos de verde montavam guarda e assim que viram o rei bateram a mão direito do lado esquerdo do peito em continência a abriram as portas do salão que ficou em silêncio.

Ausna foi até ele e com a mão em seu ombro o conduziu para o estrado e anunciou.

— Saldem o Grande Rei de Eyri, rei Davi!

— Ao rei! – gritaram as pessoas ali reunidas.

Davi olhou pasmo para o salão que fora enfeitado com tecidos brancos e dourados e flores vermelhas. As roupas das pessoas coloridas deixavam tudo parecendo um grande caleidoscópio.

Ausna estava vestida com um vestido longo branco e dourado deixando ela ainda mais bonita. Ismail também vestia branco e dourado, todavia parecia mais uma farda militar. Valhalla vestia um vestido verde e preto e parecia incomodada ao andar, sempre erguendo a barra do vestido.

Ausna, Valhalla, Ismail e Dator ficaram atrás de Davi quando este desceu para o salão. Todos se inclinaram em respeito.

A música voltou a tocar e Ausna passou a apresentar Davi para as pessoas ali presentes.

Ele conheceu dois lords: Lord Nárion Feten e Lord Ymai Vramen.

— É uma honra em conhecê-lo meu rei – disse Ymai inclinando-se.

Era um homem alto e careca, vestido de azul, vermelho e amarelo. Suas roupas e modos rebuscados, seu pescoço, braços e dedos cheios de jóias trouxe má impressão a Davi. Mas não era só a ostentação gratuita, havia algo nos olhos castanhos do lord Vramen que causou mal estar nele.

Já Nárion Feten era um homem jovem de cabelos pretos encaracolados e pele muito branca. Seus olhos eram de um azul calmo, quase melancólicos e ele se vestia de forma sóbria de preto e verde e não se via nem uma jóia.

— Fico feliz em estar vivo nesse dia para conhecê-lo meu rei – disse Nárion em uma voz calma e doce.

— Para mim também é um prazer conhecê-los – disse Davi sorrindo para Nárion.

— Alteza – disse Ausna chegando com um imponente homem de cabelos grisalhos – Este é Sames Delano, atual lord da casa Delano.

— Meu senhor – o homem ajoelhou-se diante de Davi deixando ele constrangido.

— Por favor, não precisam se ajoelhar.

Delano levantou sorrindo. Seu rosto não era exatamente velho, havia algo de atemporal nele. Os olhos de um profundo azul eram misteriosos, mas o sorriso era caloroso e inspirava calma. Ele vestia um uniforme militar branco e vermelho.

— Minha casa tem esperado novecentos anos que o herdeiro retorna-se. Para nós este é um dia de grande felicidade ao ter a honra de conhecê-lo.

— É... obrigado... – Davi estava cada vez mais perdido no meio daquele gente de fala tão formal, ele tinha medo de cometer alguma gafe.

— Avô – Crhist havia se aproximado e inclinado para Sames Delano.

— Majestade já conheceu o meu neto? – o senhor apontou para o belo rapaz que encarava Davi com desagrado.

Crhist vestia uma túnica branco e dourada, calças e botas pretas e tinha uma faixa de ceda vermelha em volta da cintura. Seu cinto bordado carregava uma espada. Se fosse possível, Davi diria que ele estava ainda mais belo e cheio de arrogância.

— Já nos encontramos – Davi levantou uma sobrancelha como se desafiasse a ser mal educado na frente da mãe e do avô.

Crhist ficou vermelho e lançou um olhar assassino para ele.

— Com licença – ele se afastou com as costas rígidas deixando Davi com vontade de dar uma gargalhada.

— Mas o que tem esse menino? – resmungou Sames muito contrariado.

Ausna deu um leve sorriso como se achasse engraçado o arrogante filho ser desafiado.

O que eles não perceberam é que a maioria dos nobres havia visto a troca de olhares de Davi e Crhist e as fofocas já corriam soltas.

~~***~~

Três horas depois um exausto Davi sentou em uma cadeira perto das mesas do bufê onde estava relativamente escondido, só Dator o acompanhava com seus olhos de águia.

Nunca havia conversado com tanta gente, mas se ele quisesse ser sincero estava gostando de ser o centro das atenções, de ser respeitado. Em casa ele era o alvo preferido das gracinhas dos irmãos mais velhos, de sua mãe chamando a sua atenção. Ele sorriu ao pensar no pai que era uma pessoa calma e não criticava os filhos.

Olhou as comidas e percebeu como estava com fome e pegou um prato se servindo de carnes gratinadas, pequenas tortinhas, legumes e frutas, nada exótico como ele termia.

— Não sei o que esperava – disse ele olhando para o pão no prato.

Ele bebia um suco verde com gosto de uva, mas a maioria bebia um vinho dourado em copos de cristal. Ele já era um desastre por natureza e se começasse a beber seria parecido com um elefante em uma loja de cristais.

— Acho que cansamos você – disse Valhalla sentando perto dele e retirando os sapatos sem o mínimo pudor – Odeio essas reuniões onde sou obrigada a usar esses sapatos apertados.

— Eu me cansei um pouco, mas essas pessoas são tão interessantes que nem vi o tempo passar – olhou a moça – Valhalla o lord Feten é seu parente?

— Ele é meu tio. Sou filha do seu irmão caçula.

— Tio?! – Davi estava cada vez mais confuso – Sei que é falta de educação perguntar a idade das pessoas...

— Você está confuso com a nossa aparência, não é?

— É.

— Isso é compreensível – ela fitou a multidão – Nós eyrianos vivemos mais que os outros seres humanos de Naral por causa dos nossos poderes. Fora os estrons do norte somos os seres que em a maior expectativa de vida – ela riu para ele – Eu tenho cento e vinte anos.

Davi engasgou com o seu suco. Cento e vinte? Não! Sim?!

— Nossa vida se prolonga pelas eras, rei Davi. Desde que queiramos viver o tempo não é nada – ela olhou em volta novamente – Ausna tem trezentos e vinte e seis anos, Ismail cento e cinqüenta, Dator cento e quarenta, Crhist é o mais jovem de todos com apenas trinta anos.

— Então e o lord Delano?

— Ele tem mais de novecentos anos. Ele era primo dos seus ancestrais e tomou conta da casa Delano todo esse tempo.

— Isso soa tão estranho... Vocês vivem tanto!

— É a nossa natureza. Nascemos poucos, demoramos para crescer e a morte não chega fácil.

Era o sonho da raça humana na terra, viver para sempre. Ali as pessoas nunca pareciam velhas.

— É a hora dos votos de devoção – disse Valhalla recolocando os sapatos – Vamos majestade. Os nobres farão um ultimo brinde ao senhor.

— Será que depois eu posso dormir? – ele escondeu um bocejo.

— Com certeza.

Os dois foram até Ausna que estava indo para o estrado onde ficava o trono junto com os filhos e o lord Delano. Ela fez Davi sentar no trono e se dirigiu aos nobres.

— Há duzentos anos vocês juraram devoção a mim! Agora eu os convoco a jurarem perante o Grande Rei             que retornou do exílio par Eyri.

Todos se ajoelharam perante Davi que percebeu pelo canto dos olhos que Crhist se recusava a fazer isso.

— Majestade – disse Ausna – Nós, que representamos o povo de Eyri, juramos pela nossa alma imortal que daremos a nossa devoção e você e ao seu reinado.

— Pela nossa devoção! – gritou a multidão em uma só voz.

Depois todos se levantaram e começaram a brindarem entre si.

— Um ultimo brinde Alteza – disse Dator oferecendo um copo do suco verde para ele.

Os dois brindaram e os outros se aproximaram para fazer o mesmo e ele ouviu a bronca de Sames Delano em Crhist.

— Você não acha que já fez grosseria demais? Vá lá brindar com sua majestade ou vou ficar muito decepcionado com meu neto!

Davi sabia que estava brincando com fogo, mas não resistiu e virou para o garoto que segurava o copo de modo rígido.

— Vamos brindar Crhist? – Davi perguntou com a voz inocente.

O outro respirou fundo e foi até.

Tudo aconteceu muito rápido. Quando os dois copos se tocaram espatifaram em mil pedaços espirrando vinho e suco por todo o lado.

— Merda! – esbravejou Crhist com a mão sangrando.  

— Você se feriu? – perguntou Davi segurando a mão ferida do outro sem ver que ele mesmo tinha se cortado.

— Não! – gritou Valhalla, mas era tarde demais, Davi já segurava a mão de Crhist.

— Eles juntaram os sangues! – uma moça disse com a voz esganiçada – Não é a coisa mais romântica que vocês já viram? O rei o pediu em casamento!

— O QUE???!!!!!!!    


quarta-feira, 17 de julho de 2013

Capitulo 14 - Rumo ao Paraíso










Capitulo 14


Fabian estava olhando para a chuva que caia de modo torrencial e encolhia com os raios que cortavam o céu.

— Você ainda tem medo de temporais? – perguntou Márcio chegando perto dele e colocando o braço em seu ombro.

— Tenho – o outro não teve vergonha de admitir – Algumas coisas são marcadas a fogo em nós, não é?

Márcio tencionou a mandíbula e apertou mais o ombro de Fabian lembrando do porque o irmão carregar medo de temporais.

Fabian devia ter apenas uns cinco anos e ele já encaminhava para a adolescência e chovia muito. Regatos escorriam das ruas inclinadas da favela e algumas pessoas olhavam para o morro com medo de desmoronamentos; um medo que cada um compartilhava ali.

Os irmãos estavam sentados no chão do barraco, sua mãe trabalhava até tarde e por isso Márcio cuidava de Fabian, mas ele não ligava. Gostava de ficar com o irmãozinho, da sua inocência.

Brincavam de montar um quebra-cabeça que Márcio achara no lixo e se divertiam procurando as peças.

Um raio cortou o céu e Márcio deu um pulo.

— Cê ta com medo? – Fabian perguntou segurando a mão dele com a sua pequena – Tem não. Não vai acontecer nada.

Márcio sorriu para o menino passando a mão pelos cabelos dele.

— Tem razão Fabian.

Nesse momento a porta abriu com um estrondo fazendo os meninos pularem. Era o pai deles caindo de bêbado, com os olhos injetados e todo molhado.

— Maldita chuva! – ele gritava e ao entrar chutou todo o trabalho que os meninos haviam tido em montar o brinquedo.

— Pai? – Fabian fez um bico contrariado e Márcio segurou o braço do menino puxando ele para longe do pé do pai.

— Ele é só uma criança pai! – ele havia gritado tentando colocar um choroso Fabian atrás dele, mas seu pai estava não só sob os efeitos de álcool, mas também de drogas.

Deu um soco no filho mais velho que caiu no chão desacordado e puxou o mais novo olhando para ele cheio de ódio.

— Sua maldita cria do diabo.

Fabian apanhou como nunca naquele dia e foi quando aprendeu a ter medo do pai e de temporais, sempre parecia que a porta ia ser aberta e seu pai ia entrar por ela cambaleando e cheio de raiva.

— Eu devia ter levado você comigo quando fui embora – Márcio pensou em voz alta olhando para a chuva.

— Não devia – Fabian saiu do abraço do irmão e sorriu para ele – Márcio pare de se culpar disso. Sabe o destino é engraçado e misterioso. Se você tivesse me levando embora eu não tinha o meu filho e ele vale cada ano que vivi com o pai. Obrigado por ter me deixado e assim me dado o meu filho.

Uma lágrima escorreu pelo canto do olho do outro e ele abraçou o irmão apertado. Mesmo com as palavras de Fabian o peso que ele carregava não havia se aliviado. Havia muita dor no passado de cada um deles, dor que mudara cada um de um modo muito profundo.

Márcio só desfez o abraço ao ouvir alguém bater na porta. Olhou com o cenho franzido para Fabian e foi abrir dando com um Laércio molhado e ofegante.

— Márcio o Jon está aqui?

— Ele foi embora já faz tempo – disse Fabian chegando perto da porta – Ele ia para a sua casa.

— Ele não apareceu lá – Laércio tirou o cabelo molhada da testa com desespero – Meus Deus onde esse menino foi parar!

~~***~~

Lá fora ficou totalmente escuro e o ar esfriou mais. Jon estava agradecido pelo fogão estar acesso e por aquecer o cômodo.

Luis Ricardo havia encontrado algumas latas com ervilhas e molho de tomate e estava preparando algo para comer.

— Bem não é um restaurante cinco estrelas – brincou Luis ao levar para ele um prato com o cozido fumegando – Mas dá para enganar o estômago.

— Com a fome que eu estou eu até comeria a gata da Regina e olha que deve ser dura de dar medo.

Luis riu mostrando os dentes muito brancos.

— Parece que o seu sendo de humor voltou.

— A merda já ta feita – Jon assoprou a comida na colher – Vou ficar de castigo pelas minhas próximas... ham... três encarnações? Então não adianta ficar achando que mundo vai acabar, ele já acabou.

Luis voltou a rir e sentou perto dele com o seu prato.

— Seu pai vai ficar uma fera, assim como o meu, mas isso passa, essa é a coisa boa dos pais. Eles brigam com a gente, mas nunca deixam de nos amar. A gente tem sorte pelas brigas dos nossos pais.

— Acho que você tem razão – olhou Luis com um sorriso torto nos lábios – Porque a gente só descobre as coisas depois de fazer besteira?

— Esse é um dos grandes mistérios do mundo.

Os dois caíram na risada.

Luis pigarreou tomando mais da sopa.

— Já pensou no que vai fazer? Qual faculdade vai cursar?

— Eu quero um coisa e depois quero outro – Jon balançou a cabeça frustrado – Acho que é muito cedo para pensar nisso – olhou em volta – Olhe a situação que eu meti a gente! Acha mesmo que tenho bom senso para escolher algo?

— Eu acho, mas você não precisa fazer nada apressado.

— É... eu queria ficar aqui – olhou Luis – Onde parece que o mundo não vai atingir a gente, onde ser você mesmo não é pecado.

— Mas seria...

— ...fugir do mundo – completou Jon – É verdade. Você não gostaria da mesma coisa?

— Claro. Aqui não temos medo ou preconceitos, mas a fazenda é apenas uma etapa das nossas vidas. O mundo pode parecer enorme e cheio de incertezas, mas é isso que torna as coisas maravilhosas! Os jovens lá fora vêem o mundo como um lugar vazio, sem surpresas, e o que você e eu vemos? O desconhecido! Seremos exploradores do mundo enquanto os outros são apenas sombras que sobrevivem.

— Não conhecia esse seu lado filosófico – riu Jon, mas maravilhado com o modo que o outro via o mundo.

— Baby você não sabe nem metade sobre mim.

— Isso foi uma cantada barata!

Os dois caíram na risada.

Jon tinha a impressão de que estava conhecendo Luis naquele momento. Conversaram sobre filmes, música, jardins, futebol, onde discutiram por serem de times rivais. Cada um contou sua infância, suas tristezas e alegrias, seus sonhos e suas esperanças.

— Cara a gente gosta de pouca coisa em comum – Luis sorriu.

— É, gosto não se discute.

— Mas Jon isso parece não ter importância pra gente, é como se nos completássemos.

— Luis – Jon ficou vermelho.

— É verdade Jon. Antes de sermos opostos somos parte de um todo.

— Não me venha com almas gêmeas.

— Eu acredito.

— E eu tenho bom senso – disse Jon colocando o prato em cima da mesa.

— Eu gosto de você Jon.

— Luis não! Por favor!

— O que? Eu não estou entendo você!

— Você não gosta de mim.

— Porque está dizendo isso?

— Eu não quero mais falar.

— Nem eu – Luis Ricardo tinha um expressão decidida quando segurou o braço de Jon e o colocou de pé.

— Lu...

Jon não pode completar a frase, Luis segurou seu pescoço por trás e empurrou sua cabeça em direção à dele e começou um beijo feroz. No inicio tinha gosto de raiva a punição, mas ao sentir os lábios quentes de Jon, Luis abrandou o beijo. Sua língua deslizou pelos lábios de Jon indo para o seu queixo e os lábios do outro foram em direção ao seu pescoço descoberto e ele começou a beijar e lamber ali deixando Jon de pernas moles. Sem nem mesmo perceber ele deixou o cobertor cair e abraçou Luis pelos ombros para não cair.

Luis desceu mais indo para os seus mamilos enquanto com as mãos apertava suas nádegas. Jon arranhava as costas dele preso dentro de uma necessidade voraz ao sentir a língua quente de Luis nele.

O que ele mais queria era que aquela tortura continuasse para sempre, mas Luis voltou a beijar seus lábios como um homem sedento enquanto suas mãos iam dos seus quadris para o seu membro ereto e pulsante.

Nesse segundo Luis afastou o rosto olhando para Jon que tinha o rosto afogueado e os cabelos despenteados.

— Luis – gemeu ele – Por favor.

— Jon você tem certeza?

— Como pouca coisa ma minha vida.

Luis resolveu jogar tudo para o alto nesse momento. Levou Jon para a cama e empurrou ele fazendo-o cair esparramado, de braços e pernas abertas, como que o convidando.

Luis Ricardo se desfez da calça úmida e Jon lambeu os lábios ao ver aquele membro ereto, grande e escuro pronto para ele.

O outro deitou lentamente em cima de Jon deixando que seu corpo esfregasse nele.

Jon deitou a cabeça para trás meio sufocada com as sensações. Ele nunca havia sentido nada assim na sua vida e nuca havia imaginado que era tão... incrível.

Os lábios de Luis voltaram ao seu pescoço agora mordiscando e Jon segurava os seus cabelos.

— Você tem gosto de morangos com chantili. Eu sempre quis provar você.

— Você é exatamente como eu imaginava. O sabor do mais rico chocolate com licor, doce e forte.

Eles voltaram a se beijar sentindo os membros se tocarem em uma explosão de prazer. Cada um explorava o corpo do outro conhecendo cada pedaço como se quisessem gravar na memória a imagem da cada um e desejando que aquele momento durasse para sempre.

— Não temos nem um lubrificante – gemeu Luis colocando a testa na de Jon.

— O óleo – Jon fez uma cara sacana – Afinal você não vai me comer?

— Sabia que você é um pervertido?

— Eu estou tendo um ótimo professor.

Luis pulou da cama indo para o armário e voltou com a pequena lata se azeite encontrando Jon de joelhos na cama se masturbando e olhando para ele.

— Assim você vai me fazer gozar aqui – disse Luis empurrando ele para acama e segurando o seu pênis.

— Você só vai fazer isso dentro de mim.

Jon virou de costas deixando que Luis o preparasse. O outro colocou um poço de azeite no dedo e massageou a entrada de Jon com cuidado, introduzindo lentamente um dedo e depois o outro.

— Porra Jon você é tão apertado e tão quente.

Jon gemeu sentindo um leve desconforto, mas o prazer de sentir os dedos de Luis dentro dele superava qualquer dor.

Luis o esticou bem e quando ele terminou retirando os dedos, Jon deu um grito tencionando todo o corpo e gozou espirrando sêmen no colchão.

— Deus – gemeu ele ofegante.

— O melhor vem agora baby – Jon segurou o longo membro e foi empurrando aos poucos na entrada de Jon que ofegou.

— Calma – Luis beijou sua coluna – Relaxe e logo o prazer vem.

Era difícil fazer isso já que Luis era grande de todas as formas, mas ele procurou relaxar os músculos e foi recebendo o outro lentamente dentro de si. Logo o membro estava inteiro dentro dele e Luis deu tempo para que ele se acostumasse, mas se controlar estava ficando cada vez mais complicado até que ele perdeu toda a sanidade e começou a estocar Jon com força.

Jon trincou os dentes, mas logo a dor foi diminuindo e quando o pênis do outros atingiu algo dentre dele o fez gritar de prazer.

Logo a velha cabana estava cheia de sons de prazer e ofegos.

Luis aumentou o ritmo e logo gozou dentro de Jon que ao sentir os quentes jatos de esperma dentro dele voltou a gozar caindo no colchão meio desmaiado.

Enquanto respirava fundo e se recuperava Luis percebeu o que havia feito.  

— Você está pensando demais – disse Jon virando o corpo para ele e sorrindo – Já está ficando arrependido.

— Não é isso Jon – ele segurou um punhado de cabelos loiros do rapaz – A gente foi inconsequente fazendo amor sem camisinha.

— Eu nunca transei Luis...

— Mas eu sim!

— Então? – Jon inclinou a cabeça olhando para ele – Você tem alguma doença?

— Não! Eu nunca transo sem camisinha e meus exames estão em dia, o que eu estou falando é sobre a minha responsabilidade sobre você Jon.

— Eu não sou uma criança mais Luis, sei o que quero e não lamento isso e acho que você também não deveria.

Luis suspirou continuando o seu carinho nos cabelos do outro.

— Eu não estou arrependido, mesmo. Como posso ficar se foi a melhor experiência da minha vida.

— Então vamos tirar essa cara de preocupado – ele acariciou o rosto do outro – e vamos dormir que o amanhã não vai ser nada fácil.

— Nisso você está certo.