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domingo, 14 de outubro de 2012

O Escravo - Capitulo 27 - Encontros

Capitulo 27 - Encontros


Eu estava amuado na sala dentro do barco enquanto este cortava o mar a cem quilômetros por hora.

Sabia que xingar Tiol não era certo, afinal eu havia gostado do beijo e seria um hipócrita se dissesse que não queria mais. Todavia o que me deixava puto era que algo dentro de mim queria perdoá-lo, queria ajustar as coisas de algum modo.

— Foi um beijo quente – disse Ana entrando na cabine.

Fiz uma careta para ela e escondi o meu rosto nas velhas almofadas do sofá encalombado.

— Acha que ficar brigado com ele vai tornar as coisas mais fáceis? – Ana sentou perto de mim passando a mão nos meus cabelos – É isso que quer?

— Eu já nem mais sei o que quero – disse para ela tirando o rosto da almofada – Ao mesmo tempo em que eu quero beijá-lo eu quero dar um soco nele.

— Um relacionamento nem sempre é fácil Andrew. Todos somos seres passíveis de falhas. Ninguém é completamente bom ou mau, mesmo o imperador já foi uma boa pessoa. O lado que sobressai em nossa personalidade é escolha nossa. Tiol cometeu erros e acho que ele, mesmo tentando, não sabe como resolver. Ele tenta com você, mas há raiva demais de sua parte para perceber. Ele me contou o que fez contigo nesses meses e não tiro a sua razão de ter raiva dele, mas não é só raiva que há em você, não é? De algum modo você se apaixonou por ele e o amor e a raiva estão brigando dentro de sua mente. O que você vai escolher Andrew? A raiva ou o amor? Saiba que isso é uma decisão que apenas você pode tomar.

— Ele contou para você o que fez comigo? – Tiol demonstrando fraqueza diante de uma simples humana? Se bem que Ana não era simples, ela era uma mulher complexa e incrível que conseguia nos fazer ver as coisas pelos dois lados – Eu não sei Ana, não sei o que fazer.

— Andrew protelar essa decisão só vai trazer mais dor a vocês dois e ao seu filho. Bebês aurifenses sentem como nem outro as emoções de ambos os pais.

Deixei meus ombros caírem. Parecia tão errado perdoar Tiol. Ele era um criminoso e devia ser punido, mas então me lembrei da nossa situação.

Perdidos em meio de uma revolução, caçados pelo pai dele e um dos seus irmãos estavam mortos e de outro nada sabíamos. Sua família estava desmantelada e nem mesmo tinha onde morar. Talvez Tiol já fosse castigado o suficiente e talvez fosse hora de eu aprender a perdoar.

— Estamos perto da ilha – disse Karl colocando a cabeça na porta da cabine.

— Vamos? – Ana levantou e me deu a mão.

Saímos para o convés e pudemos ver ao longe uma massa de terra ainda disforme e de cor verde esmeralda.

— A ilha não tem vigilância? – Tiesis perguntou para Tiol que dirigia o barco.

— Eu já mandei pelo radio meu código de segurança – o rosto do príncipe estava marcado por linhas de tensão – Espero que todos possamos nos reunir afinal e que o imperador não nos ache.

— Você disse que ele não sabia da ilha – observei chegando perto dele.

— Ele não sabe, mas nada o impede de estar rastreando cada canto de Aurifen, temos que ter muito cuidado – ele deu um pequeno suspiro – Tenho saudades de meu mais e meus irmãos. Antes de tudo isso eu não havia me dado conta de como eles eram importantes, de como a falta deles me deixava sozinho.

— Você não está só – respondi com convicção – Tem seu filho, o Itieu e... e eu.

Ele me olhou de forma intensa. Seus olhos brilhando como uma estrela vermelha. Havia dor e raiva ali, mas pela primeira vez havia amor e um pouco de alegria, de genuína alegria que Tiol, príncipe de Aurifen, nunca sentira.

— Eu adorei o mar! – Itieu veio saltitando até mim – O Pin ficou meio enjoado.

Olhei para o guan que estava mole nas mãos do menino e dei uma risada. Coitado do bichinho!

Itieu colocou Pin no ombro onde ele se esparramou meio verde e abraçou a perna de Tiol.

— Adorei navegar pai! Podemos fazer mais vezes?

Pai!!

Tiol pegou o menino no colo e sorriu para ele.

— Talvez quando tudo isso acabar possamos sair de férias, que acha? Navegaremos pelos mares.

— Eba!!!!!!!!!!! – ele deu um pequeno grito beijando o rosto de Tiol que o colocou no chão me puxou pela mão para que me abaixasse e me deu um beijo no rosto – Vou brincar com Mark.

— Cuidado em não cair no mar – disse para ela ao vê-lo pular como uma pipoca pelo convés.

Fora muito estranho escutar o menino chamar Tiol de pai. Eu o via apenas como um idiota irresponsável, mas a verdade era que essa visão estava defasada. Ele havia mudado, eu havia mudado. Éramos mais maduros e mais marcados pela vida.

— Andrew – Tiol colocou diante de mim um cartão TRI-D.

Era uma folha de plástico branca, mas na verdade era um documento muito usado na galáxia. Bastava apertar o meio do cartão e este projetava uma imagem em terceira dimensão a partir de um chip instalado nele.

Sem entender segurei o cartão e um texto apareceu diante de mim. Era a minha carta de alforria datada de pouco mais de um mês atrás.

— Eu a confeccionei quando me contou do bebê – disse ele olhando o horizonte – Pode ficar com raiva pelo fato de não ter ti entregado quando devia, mas eu acreditei que quando tivesse a carta você iria embora e eu não ia ter o direito nem um de pedir para você ficar.

— Porque está me entregando agora?

— Porque eu preciso fazer algo certo nessa vida Andrew. Você é livre agora, mas na verdade você sempre foi livre – ele deu uma risada amarga – Tudo o que eu queria no inicio era ti domar, mas com o passar do tempo foi mais que isso e eu não sabia como te dizer. Acho que no fim foi você quem conseguiu me domar.

— É bom que você se lembre disso – respondi com as mãos nos quadris – Porque quando você me atormentar eu vou lembrar quem manda na relação!

Ele me olhou sem entender e logo eu me pendurei em seu pescoço capturando seis lábios em um longo beijo. Tiol me apertou contra o corpo e logo eu pude sentir sua ereção contra o meu abdômen e gemi contra a boca dele sentindo que meu próprio pênis endurecia.

— Estão dando um show! – Tiesis ria perto de nós.

Larguei o príncipe vermelho e tentando esconder a minha ereção. Tiol não deixava de me olhar.

— Assim você vai bater o barco – resmunguei para ele.

O descarado deu um risinho e eu rosnei para ele.

— Você fica uma gracinha rosnando!

Mandei ele se danar e fui para perto de Ana que ria de nós.

Fiquei ali olhando para a ilha que ficava cada vez mais perto, mas agora eu me sentia bem, me senta liberto.

A ilha era grande. Contornamo-la em busca do porto e demos com muitas matas e montanhas.

O porto estava na parte sul da ilha e era uma baia natural protegida por um lado por uma grande montanha o que impedia que os ventos jogassem as embarcações contra as muretas de proteção do píer.

No alto de um pequeno morro havia uma casa meio escondida pela mata e uma estrada levava da praia até lá.

— Não há barcos aqui – Karl olhou em volta – Acha que alguém veio?

Tivemos as resposta quando o radio deu sinal de vida. Vários números apareceram na tela.

— O que é isso? – Tiesis perguntou para Tiol que sorria.

— Um velho jogo – disse ele digitando alguns números no computador – É a equação de Maalb sobre a teoria da incerteza.

— A equação sem solução?

— Sim, mas meu pai sabia a resposta. Abrahan é um físico muito bom e resolveu a equação comigo um dia. Era o nosso segredo, apenas eu e ele sabíamos disso.

Assim que mandou a resposta a tela ascendeu e o rosto cansado, mas aliviado de Abrahan apareceu.

— Pai!

— Tiol meu menino! Graças aos deuses – ele respirou fundo.

— Ola Abrahan – disse chagando perto da tela – Senti saudades.

— Andrew você está bem?

— Estou.

— Que bom que nos reunimos – Yaci apareceu atrás de Abrahan sorrindo para o irmão – Irmão você não sabe a surpresa que temos! Atraque essa lata velha e venha logo.

— Não fale mal do meu barco! – Tiol reclamou mais sorriu para ele.

Conseguimos parar sem fazer um grande estrago no píer e subimos a velha estrada para a casa. Ela era térrea, com uma grande varando em volta e janelas azuis. A casa era branca, mas a pintura estava descascada em algumas partes.

Assim que chegamos mais perto, a porta abriu e Abrahan desceu correndo e abraçou Tiol apertado.

— Meu filho eu fiquei tão preocupado com você!

— Pai você está bem? Eu vi o senhor na TV – Tiol o afastou olhando para o rosto machucado dele.

Haviam hematomas entre amarelos e roxos por todo o seu rosto, mas ele sorria.

— Eu estou com vocês, eu estou bem.

Ele me puxou para um abraço apertado e eu tremi ao sentir seu cheiro tão familiar, o cheiro de um pai.

— Calma – ele sussurrava no meu ouvido – Calma.

Sem que eu me desse conta estava chorando feito uma criança. Era como se eu pudesse me dar ao luxo de ser fraco ali, de chorar por Erant finalmente.

Tiol me segurou e me abraçou e eu percebi que Yaci também estava ali, nos abraçando.

Ana e os outros foram apresentados e pude me recompor um pouco ao lembrar de Itieu que estava perto de nós segurando a camisa de Tiol com o Guam seguro na outra mão.

— Tá tudo bem – passei a mão pelos cabelos dele e Tiol o pegou no colo.

— Pai, Yaci – este é Itieu e ele se tornou filho meu e de Andrew.

— Eu sou tio! – Yaci foi para perto de nós – Ola eu sou Yaci irmão da coisa do seu pai.

— Ei! – Tiol olhou contrariado para o irmão.

Itieu deu uma pequena risada.

— Ola pequeno – Abrahan também chagou perto – Eu sou seu avô.

— Oba! Um vovô! – ele estendeu os braços para que Abrahan o pegasse.

— Um tio não conta!

Todos rimos das palavras de Yaci e entramos na casa dando de cara com Erim Gnare que estava sentado em um sofá perto da janela.

Ele foi nos cumprimentar.

— Onde está Ian? – perguntei preocupado para Yaci.

— Descansando. A gravidez não esta sendo fácil.

Foi então que percebemos que haviam outras pessoas na sala e eu apenas registrei a presença daquele que eu achava que nunca mais ia ver.

— Valdi! – eu corri para ele e o abracei em um ímpeto.

— Como vai Andrew? – sua voz estava cansada e o olhei preocupado.

— Você está bem?

— Estou sim.

— Você voltou! – Tiol abraçou o irmão que ficou um pouco surpreso com isso.

— Ei irmãozinho, tinha dúvidas?

— Eu fiquei com medo seu idiota!

— Devia ser um pouco mais gentil com seu irmão – resmungou um homem atrás de Valdi.

Só agora eu os notei. Um deles era alto de cabelos castanhos caídos sobre um ombro e o outro mais baixo, loiro com os cabelos trançado e os olhos castanhos brilhando frios. Usavam uma roupa em estilo militar, mas com a cruz celta bordada neles. De repente algo deu um estalo dentro de mim.

— Piratas – disse de modo frio – Piratas da Terra, não é?

— Como é que você sabe filhote? – me perguntou o mais alto.

— Só os piratas exteriores são burros o suficiente para sair por ai mostrando o símbolo de sua ralé.

— Olha a língua! – resmungou o mais baixo – Humano interior!

— Nossa! Estou super ofendido, Frey.

— Você me conhece?

— Vocês piratas tem uma memória que vou ti falar! – cheguei perto dele e de Gwidion – Sabe que foi a sua nave nojenta que levou a mim e a cem escravos para a feira de escravos. Fomos deixados dentro de um contêiner por dois dias sem água ou comida, então me perdoe se eu gostaria de arrancar a cabeça de vocês e jogar no lixo.

Os dois piratas empalideceram e Valdi os olhou pasmo.

— Vocês fizeram isso?!

— Era um frete – disse Gwidion me olhando – Havíamos firmado o contrato. Sabíamos apenas que era um contêiner que íamos carregar, nunca pudemos imaginar que o governo interior traficasse escravos humanos de forma legal. Era o nosso primeiro trabalho para um governo.

— Não pudemos voltar atrás menino – disse Frey – O contrato era com o governador do seu mundo e envolvia muito dinheiro e nós precisávamos dele. Lamento.

— To me lixando para as desculpas de vocês. O que quero saber é o que diabos essas duas coisas estão fazendo aqui.

— Andrew esses são meus maridos.

QUE???????????????

Não é possível! Eu devia ter entrado em alguma realidade paralela ou coisa parecida. Valdi não podia ter se casado em tão pouco tempo e com dois piratas!


6 comentários:

  1. Como diz Ana nimguem e bom ou mal, Frey era um escravo trasportando escravos. mas fico feliz que todos se reunieran.
    Dallas gracias por mas um cap.

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  2. Essa narrativa está chegando a um ponto que não consigo começar o dia sem conferir se foi postado um novo capitulo... não consigo ler sem chorar... não consigo tirar do pensamento o dia todo...
    Parabens Dalla32... ficarei redundante: é uma linda história. Tornarei-me repetitivo: voce escreve muito bem... até quem eu não gostava, como Tiol... já mora em meu coração. Os Piratas, meu Deus, como torso para que fiquem bem e sejam perdoados e aceitos pela familia real... Voce conseguiu me deixar um velho gaga (rsrsrs) Abraços e sucessos em seus empreendimentos.

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  3. Oi, aguardo com muita curiosidade as postagens(todo dia confiro,rsrsrs), descobri aqui por acaso mas gostei muito.
    Aguardando...

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  4. Amei essa serie super bem escrita e estou seguindo com um empenho como se visse uma novela .

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