Capitulo
27 - Encontros
Eu estava
amuado na sala dentro do barco enquanto este cortava o mar a cem quilômetros por
hora.
Sabia
que xingar Tiol não era certo, afinal eu havia gostado do beijo e seria um
hipócrita se dissesse que não queria mais. Todavia o que me deixava puto era
que algo dentro de mim queria perdoá-lo, queria ajustar as coisas de algum
modo.
—
Foi um beijo quente – disse Ana entrando na cabine.
Fiz uma
careta para ela e escondi o meu rosto nas velhas almofadas do sofá encalombado.
— Acha
que ficar brigado com ele vai tornar as coisas mais fáceis? – Ana sentou perto
de mim passando a mão nos meus cabelos – É isso que quer?
— Eu
já nem mais sei o que quero – disse para ela tirando o rosto da almofada – Ao
mesmo tempo em que eu quero beijá-lo eu quero dar um soco nele.
— Um
relacionamento nem sempre é fácil Andrew. Todos somos seres passíveis de falhas.
Ninguém é completamente bom ou mau, mesmo o imperador já foi uma boa pessoa. O lado
que sobressai em nossa personalidade é escolha nossa. Tiol cometeu erros e acho
que ele, mesmo tentando, não sabe como resolver. Ele tenta com você, mas há
raiva demais de sua parte para perceber. Ele me contou o que fez contigo nesses
meses e não tiro a sua razão de ter raiva dele, mas não é só raiva que há em você,
não é? De algum modo você se apaixonou por ele e o amor e a raiva estão brigando
dentro de sua mente. O que você vai escolher Andrew? A raiva ou o amor? Saiba que
isso é uma decisão que apenas você pode tomar.
—
Ele contou para você o que fez comigo? – Tiol demonstrando fraqueza diante de
uma simples humana? Se bem que Ana não era simples, ela era uma mulher complexa
e incrível que conseguia nos fazer ver as coisas pelos dois lados – Eu não sei
Ana, não sei o que fazer.
—
Andrew protelar essa decisão só vai trazer mais dor a vocês dois e ao seu
filho. Bebês aurifenses sentem como nem outro as emoções de ambos os pais.
Deixei
meus ombros caírem. Parecia tão errado perdoar Tiol. Ele era um criminoso e
devia ser punido, mas então me lembrei da nossa situação.
Perdidos
em meio de uma revolução, caçados pelo pai dele e um dos seus irmãos estavam
mortos e de outro nada sabíamos. Sua família estava desmantelada e nem mesmo
tinha onde morar. Talvez Tiol já fosse castigado o suficiente e talvez fosse
hora de eu aprender a perdoar.
—
Estamos perto da ilha – disse Karl colocando a cabeça na porta da cabine.
—
Vamos? – Ana levantou e me deu a mão.
Saímos
para o convés e pudemos ver ao longe uma massa de terra ainda disforme e de cor
verde esmeralda.
— A
ilha não tem vigilância? – Tiesis perguntou para Tiol que dirigia o barco.
— Eu
já mandei pelo radio meu código de segurança – o rosto do príncipe estava
marcado por linhas de tensão – Espero que todos possamos nos reunir afinal e
que o imperador não nos ache.
—
Você disse que ele não sabia da ilha – observei chegando perto dele.
—
Ele não sabe, mas nada o impede de estar rastreando cada canto de Aurifen,
temos que ter muito cuidado – ele deu um pequeno suspiro – Tenho saudades de
meu mais e meus irmãos. Antes de tudo isso eu não havia me dado conta de como
eles eram importantes, de como a falta deles me deixava sozinho.
—
Você não está só – respondi com convicção – Tem seu filho, o Itieu e... e eu.
Ele me
olhou de forma intensa. Seus olhos brilhando como uma estrela vermelha. Havia dor
e raiva ali, mas pela primeira vez havia amor e um pouco de alegria, de genuína
alegria que Tiol, príncipe de Aurifen, nunca sentira.
— Eu
adorei o mar! – Itieu veio saltitando até mim – O Pin ficou meio enjoado.
Olhei
para o guan que estava mole nas mãos do menino e dei uma risada. Coitado do
bichinho!
Itieu
colocou Pin no ombro onde ele se esparramou meio verde e abraçou a perna de
Tiol.
—
Adorei navegar pai! Podemos fazer mais vezes?
Pai!!
Tiol
pegou o menino no colo e sorriu para ele.
—
Talvez quando tudo isso acabar possamos sair de férias, que acha? Navegaremos pelos
mares.
—
Eba!!!!!!!!!!! – ele deu um pequeno grito beijando o rosto de Tiol que o
colocou no chão me puxou pela mão para que me abaixasse e me deu um beijo no
rosto – Vou brincar com Mark.
—
Cuidado em não cair no mar – disse para ela ao vê-lo pular como uma pipoca pelo
convés.
Fora
muito estranho escutar o menino chamar Tiol de pai. Eu o via apenas como um
idiota irresponsável, mas a verdade era que essa visão estava defasada. Ele havia
mudado, eu havia mudado. Éramos mais maduros e mais marcados pela vida.
—
Andrew – Tiol colocou diante de mim um cartão TRI-D.
Era uma
folha de plástico branca, mas na verdade era um documento muito usado na galáxia.
Bastava apertar o meio do cartão e este projetava uma imagem em terceira
dimensão a partir de um chip instalado nele.
Sem entender
segurei o cartão e um texto apareceu diante de mim. Era a minha carta de
alforria datada de pouco mais de um mês atrás.
— Eu
a confeccionei quando me contou do bebê – disse ele olhando o horizonte – Pode ficar
com raiva pelo fato de não ter ti entregado quando devia, mas eu acreditei que
quando tivesse a carta você iria embora e eu não ia ter o direito nem um de
pedir para você ficar.
—
Porque está me entregando agora?
—
Porque eu preciso fazer algo certo nessa vida Andrew. Você é livre agora, mas
na verdade você sempre foi livre – ele deu uma risada amarga – Tudo o que eu
queria no inicio era ti domar, mas com o passar do tempo foi mais que isso e eu
não sabia como te dizer. Acho que no fim foi você quem conseguiu me domar.
— É
bom que você se lembre disso – respondi com as mãos nos quadris – Porque quando
você me atormentar eu vou lembrar quem manda na relação!
Ele me
olhou sem entender e logo eu me pendurei em seu pescoço capturando seis lábios
em um longo beijo. Tiol me apertou contra o corpo e logo eu pude sentir sua
ereção contra o meu abdômen e gemi contra a boca dele sentindo que meu próprio
pênis endurecia.
—
Estão dando um show! – Tiesis ria perto de nós.
Larguei
o príncipe vermelho e tentando esconder a minha ereção. Tiol não deixava de me
olhar.
—
Assim você vai bater o barco – resmunguei para ele.
O descarado
deu um risinho e eu rosnei para ele.
—
Você fica uma gracinha rosnando!
Mandei
ele se danar e fui para perto de Ana que ria de nós.
Fiquei
ali olhando para a ilha que ficava cada vez mais perto, mas agora eu me sentia
bem, me senta liberto.
A ilha
era grande. Contornamo-la em busca do porto e demos com muitas matas e
montanhas.
O porto
estava na parte sul da ilha e era uma baia natural protegida por um lado por
uma grande montanha o que impedia que os ventos jogassem as embarcações contra
as muretas de proteção do píer.
No alto
de um pequeno morro havia uma casa meio escondida pela mata e uma estrada
levava da praia até lá.
—
Não há barcos aqui – Karl olhou em volta – Acha que alguém veio?
Tivemos
as resposta quando o radio deu sinal de vida. Vários números apareceram na
tela.
— O
que é isso? – Tiesis perguntou para Tiol que sorria.
— Um
velho jogo – disse ele digitando alguns números no computador – É a equação de
Maalb sobre a teoria da incerteza.
— A
equação sem solução?
—
Sim, mas meu pai sabia a resposta. Abrahan é um físico muito bom e resolveu a
equação comigo um dia. Era o nosso segredo, apenas eu e ele sabíamos disso.
Assim
que mandou a resposta a tela ascendeu e o rosto cansado, mas aliviado de
Abrahan apareceu.
—
Pai!
—
Tiol meu menino! Graças aos deuses – ele respirou fundo.
—
Ola Abrahan – disse chagando perto da tela – Senti saudades.
—
Andrew você está bem?
—
Estou.
—
Que bom que nos reunimos – Yaci apareceu atrás de Abrahan sorrindo para o irmão
– Irmão você não sabe a surpresa que temos! Atraque essa lata velha e venha
logo.
—
Não fale mal do meu barco! – Tiol reclamou mais sorriu para ele.
Conseguimos
parar sem fazer um grande estrago no píer e subimos a velha estrada para a
casa. Ela era térrea, com uma grande varando em volta e janelas azuis. A casa
era branca, mas a pintura estava descascada em algumas partes.
Assim
que chegamos mais perto, a porta abriu e Abrahan desceu correndo e abraçou Tiol
apertado.
—
Meu filho eu fiquei tão preocupado com você!
—
Pai você está bem? Eu vi o senhor na TV – Tiol o afastou olhando para o rosto
machucado dele.
Haviam
hematomas entre amarelos e roxos por todo o seu rosto, mas ele sorria.
— Eu
estou com vocês, eu estou bem.
Ele me
puxou para um abraço apertado e eu tremi ao sentir seu cheiro tão familiar, o
cheiro de um pai.
—
Calma – ele sussurrava no meu ouvido – Calma.
Sem que
eu me desse conta estava chorando feito uma criança. Era como se eu pudesse me
dar ao luxo de ser fraco ali, de chorar por Erant finalmente.
Tiol
me segurou e me abraçou e eu percebi que Yaci também estava ali, nos abraçando.
Ana e
os outros foram apresentados e pude me recompor um pouco ao lembrar de Itieu
que estava perto de nós segurando a camisa de Tiol com o Guam seguro na outra
mão.
— Tá
tudo bem – passei a mão pelos cabelos dele e Tiol o pegou no colo.
—
Pai, Yaci – este é Itieu e ele se tornou filho meu e de Andrew.
— Eu
sou tio! – Yaci foi para perto de nós – Ola eu sou Yaci irmão da coisa do seu
pai.
—
Ei! – Tiol olhou contrariado para o irmão.
Itieu
deu uma pequena risada.
—
Ola pequeno – Abrahan também chagou perto – Eu sou seu avô.
—
Oba! Um vovô! – ele estendeu os braços para que Abrahan o pegasse.
— Um
tio não conta!
Todos
rimos das palavras de Yaci e entramos na casa dando de cara com Erim Gnare que
estava sentado em um sofá perto da janela.
Ele foi
nos cumprimentar.
—
Onde está Ian? – perguntei preocupado para Yaci.
—
Descansando. A gravidez não esta sendo fácil.
Foi então
que percebemos que haviam outras pessoas na sala e eu apenas registrei a
presença daquele que eu achava que nunca mais ia ver.
—
Valdi! – eu corri para ele e o abracei em um ímpeto.
—
Como vai Andrew? – sua voz estava cansada e o olhei preocupado.
—
Você está bem?
—
Estou sim.
—
Você voltou! – Tiol abraçou o irmão que ficou um pouco surpreso com isso.
— Ei
irmãozinho, tinha dúvidas?
— Eu
fiquei com medo seu idiota!
—
Devia ser um pouco mais gentil com seu irmão – resmungou um homem atrás de
Valdi.
Só agora
eu os notei. Um deles era alto de cabelos castanhos caídos sobre um ombro e o
outro mais baixo, loiro com os cabelos trançado e os olhos castanhos brilhando
frios. Usavam uma roupa em estilo militar, mas com a cruz celta bordada neles. De
repente algo deu um estalo dentro de mim.
—
Piratas – disse de modo frio – Piratas da Terra, não é?
—
Como é que você sabe filhote? – me perguntou o mais alto.
— Só
os piratas exteriores são burros o suficiente para sair por ai mostrando o símbolo
de sua ralé.
—
Olha a língua! – resmungou o mais baixo – Humano interior!
—
Nossa! Estou super ofendido, Frey.
—
Você me conhece?
—
Vocês piratas tem uma memória que vou ti falar! – cheguei perto dele e de
Gwidion – Sabe que foi a sua nave nojenta que levou a mim e a cem escravos para
a feira de escravos. Fomos deixados dentro de um contêiner por dois dias sem água
ou comida, então me perdoe se eu gostaria de arrancar a cabeça de vocês e jogar
no lixo.
Os dois
piratas empalideceram e Valdi os olhou pasmo.
—
Vocês fizeram isso?!
—
Era um frete – disse Gwidion me olhando – Havíamos firmado o contrato. Sabíamos
apenas que era um contêiner que íamos carregar, nunca pudemos imaginar que o governo
interior traficasse escravos humanos de forma legal. Era o nosso primeiro
trabalho para um governo.
—
Não pudemos voltar atrás menino – disse Frey – O contrato era com o governador
do seu mundo e envolvia muito dinheiro e nós precisávamos dele. Lamento.
— To
me lixando para as desculpas de vocês. O que quero saber é o que diabos essas
duas coisas estão fazendo aqui.
—
Andrew esses são meus maridos.
QUE???????????????
Não é
possível! Eu devia ter entrado em alguma realidade paralela ou coisa parecida. Valdi
não podia ter se casado em tão pouco tempo e com dois piratas!
Como diz Ana nimguem e bom ou mal, Frey era um escravo trasportando escravos. mas fico feliz que todos se reunieran.
ResponderExcluirDallas gracias por mas um cap.
Essa narrativa está chegando a um ponto que não consigo começar o dia sem conferir se foi postado um novo capitulo... não consigo ler sem chorar... não consigo tirar do pensamento o dia todo...
ResponderExcluirParabens Dalla32... ficarei redundante: é uma linda história. Tornarei-me repetitivo: voce escreve muito bem... até quem eu não gostava, como Tiol... já mora em meu coração. Os Piratas, meu Deus, como torso para que fiquem bem e sejam perdoados e aceitos pela familia real... Voce conseguiu me deixar um velho gaga (rsrsrs) Abraços e sucessos em seus empreendimentos.
Oi, aguardo com muita curiosidade as postagens(todo dia confiro,rsrsrs), descobri aqui por acaso mas gostei muito.
ResponderExcluirAguardando...
Status:
ResponderExcluirAguardando....
(plisssss)
Posta também do "Rumo ao paraíso"
ExcluirAmei essa serie super bem escrita e estou seguindo com um empenho como se visse uma novela .
ResponderExcluir