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terça-feira, 15 de outubro de 2013

O Colecionador de Olhos - Capitulo 4









Capitulo 4



O delegado Luis Moura não parecia muito feliz, aliais seus subordinados preferiam sair de perto dele nos dias em que o chefe ia falar com a imprensa, o homem ficava uma fera enjaulada.

Ele sabia que devia falar para os repórteres e acalmar um pouco os ânimos, mas ele não gostava disso e fim de papo.

Havia uma sala grande nos fundos da delegacia onde a imprensa aboletou-se, tão ansiosos e mortais quanto um bando de abelhas. Qualquer palavra má medida de sua boca ia causar muitos estragos com eles, sua sorte era que ele tinha experiência com eles.

Ele entrou na sala a sentou na mesa junto com os investigadores Braz e Almeida. Braz parecia um popstar em dia de entrevista de um novo filme, mas Almeida estava ficando cada vez mais verde. Ele sabia o quanto o rapaz odiava ser o centro das atenções.

Assim que se acomodaram houve um imenso clamor de perguntas, todas misturadas, cada um tentando falar ao mesmo tempo.

Moura revirou os olhos com aquilo. Sempre era a mesma coisa!

— Será que podem falar um de cada vez? – ele gritou e todo mundo sossegou sabendo bem o quanto o delegado era pavio curto – Vou contar o que sabemos e o que podemos dizer que não comprometa o caso.

O delegado contou sobre o corpo encontrado, mas as investigações iam correr em segredo.

— Delegado Moura é verdade que pode ser o mesmo assassino de Bertioga? – perguntou um rapaz de um telejornal local.

— Por hora não temos base para dizermos isso. Seria prematuro e irresponsável fazermos tal afirmativa.

— Um duble? – perguntou uma moça.

— A resposta é a mesma senhorita.

— Se for um duble ou o mesmo o assassino original saberemos essa noite – disse uma voz nos fundos da sala.

Todo mundo se virou para Inocense e Rafael.

— Quem é você? – perguntou Moura contrariado.

— Inocense da revista Ribeirão Hoje. Em Bertioga ele matava por três noites seguidas e sempre em lua nova.

Todo mundo murmurou entre si entendendo a lógica que a moça expunha.

— Acreditem que estaremos fazendo o possível para que algo assim não volte a acontecer – disse Moura para os repórteres.  

Mas a semente já havia sido lançada e uma chuva de perguntas atingiu o delegado cheio de raiva da repórter loura.

~~***~~

— Lucas porque está demorando!

O rapaz revirou os olhos procurando pelo telefone de um fornecedor na bagunça que era a agenda da antiga secretária de Israel, mas ele não encontrava de modo algum, mesmo que o outro tenha dito que devia estar ali.

— Lucas!

— Eu devo ter feito muita coisa errada na minha outra encarnação – resmungou ele indo até o escritório do outro.

Havia papéis por todos os lados. O notebook estava aberto de um lado e o tablet de outro, assim como havia três celulares em cima da mesa.

— Quando eu preciso de algo eu espero ser prontamente atendido! – resmungou o outro para Lucas.

— Eu não encontrei nada na agende senhor, por isso não tive como atendê-lo.

— Eu não quero desculpas!

— Acontece que eu não estou dando uma desculpa, já que o meu trabalho não precisa de desculpas! Estou apenas comunicando um fato.

— Eu estou de péssimo humor para suas gracinhas Lucas!

— E eu não estou de humor melhor para ouvir as suas ordens idiotas!

— Por acaso está me chamando de idiota?

Israel levantou-se da sua mesa indo em direção a Lucas. Israel era bem mais alto que Lucas e mais corpulento, parecia uma montanha se elevando acima dele.

De repente Lucas se sentiu como se seu pai estive ali na sua frente, bêbado e pronto para a surra. Seu corpo agiu de forma inteiramente instintiva com ele andando para trás e se encolhendo e escondendo o rosto nos braços. Ele esperou que o golpe viesse, mas nada aconteceu.

Ele olhou receoso por entre os braços e percebeu que Israel estava parado perto da mesa dele o observando.

— Me... me desculpe – disse tremulo indo em direção á porta, mas Israel segurou seu ombro.

— Venha se sentar menino antes que você caia.

Lucas não havia percebido o quanto estava tremendo, suas pernas estavam a ponto de dobrar. Ele caiu na poltrona cheio de um imenso constrangimento.

Como em nome de Deus ele ia explicar para Israel seu comportamento bizarro? Não queria falar sobre sua vida particular, sua fodida vida particular, com seu chefe.

— Tome – Israel estava lhe estendendo um copo com um liquido âmbar – Vamos não é veneno.

Lucas não pode deixar de sorrir e beber um pequeno gole do whisky que desceu queimando pela sua garganta quase o fazendo engasgar. Ele gostava de cerveja, mas nunca fora de tomar nada mais forte que isso. Ele bêbado era um porre, a sua irmã costumava dizer.

— Obrigado – disse Lucas colocando o copo em cima da mesa sem olhar para Israel.

— Vamos almoçar – o chefe estava pegando os três celulares e colocando no bolso.

— Almoçar?

— É, almoçar, comer! Vamos que tenho que voltar logo para resolver algumas coisas.

Lucas estava tão perdido por causa do comportamento de Israel que levantou e andou junto com ele passando pela mesa de Joana que comia uma montanha de bolachas.

— Vai engordar – disse Israel com sarcasmo.

— Então serei uma gorda feliz – respondeu ela enfiando mais bolachas na boca e olhando com desdém para Israel – E cuide do menino ou eu deleto o disco rígido o seu computador.

— Morcega velha!

— Eu ouvi isso senhor Israel de Almeida e Castilho.

Israel revirou os olhos ao ouvir seu nome completo. Estava há tanto tempo com Joana que sabia que ele não gostava de ter um nome tão pomposo e ela usava isso para o atormentar.  

Desceram para a recepção do prédio saindo para a rua. O dia esquentara e Israel ficou feliz em ter deixado o terno no escritório.

Olhou para Lucas dando um suspiro. Sabia que tinha exagerado. Sabia que perdia a paciência com facilidade e eu isso estava ficando pior com a morte da esposa.

Quando pensava nela ainda podia sentir a familiar dor, mas agora era mais uma mistura de saudade e nostalgia que às vezes despontava nele em momentos de descanso.

Talvez fosso por isso que ele trabalhasse tanto, se entregando de corpo e alma a sua revista.

Mas algo estava errado com Lucas, o modo como ele se encolhera quando ele levantou da mesa com brusquidão era como se ele estivesse em posição para se defender de algo, como um cão assustado e acuado. Todavia isso devia ser algo particular dele e era melhor deixar de lado.  

Havia um restaurante que ele gostava de frequentar perto do teatro Pedro II, um lugar de comida selv-service, mas tinha ar condicionado, variedade e a comida era muito bem preparada.

— Acho que começamos errado Lucas e eu gostaria de me desculpar por isso.

— Acho que nós dois temos culpa, por isso também me desculpe.

Israel olhou para o pequeno rapaz admirando sua pele clara e o cabelo cheio de cachos que emolduravam seu rosto. Tinha que admitir que ele era bonito.

— Então vamos fingir que começamos agora?

— Mesmo? – Lucas sorriu para ele a Israel pode ver que ele tinha duas covinhas quando fazia isso.

— Mesmo. Vamos almoçar que o nosso dia é longo.

~~~***~~

Cansada Marcela movimentou os ombros enquanto terminava de preparar as sobremesas para o restaurante que estava abrindo.

Levantou a travessa com mousse de maracujá e com a outra mão uma com torta de chocolate com amêndoas, sua especialidade. Foi até o bufê de sobremesas colocando as últimas e admirando o resultado.

O restaurante Almeida Castilho era conhecido por seus pratos bem elaborados no selv-service, ambiente acolhedor e sobremesas famosas.

Ficava em um bairro mais afastado do centro, mas estava sempre cheio tanto para almoço quanto para jantar. Era composto de um grande salão com meses de madeira envelhecida e cadeiras almofadas. Duas paredes eram de vidros temperados e davam para um jardim de inverno onde uma fonte gorgolejava em meio a samambaias e narcisos. As paredes tinham quadros de paisagens bucólicas que eram a paixão da moça. Sabia que os quadros foram pintados pela mãe do dono, pois o chefe do restaurante lhe contara. Ela gostaria de conhecer uma mulher tão talentosa.

Ia voltando para a cozinha quando percebeu que havia um rapaz em uma mesa que engasgava com a comida e era ajudado pelo garçom.

As pessoas viviam com tanta pressa que nem mesmo paravam para degustar um bom prato.

Vendo que o cliente estava melhor ela voltou para a cozinha já que a outra cozinheira e o chefe tinham saído por alguns minutos.

~~***~~

Luciano de Almeida e Castilho deu apenas uma garfada em seu prato. No instante que começou a mastigar o seu arroz de auçá engasgou com a quantidade de pimenta. O alimento desceu queimando a sua garganta e seus olhos se encheram de lagrimas e ele pegou um copo de água por reflexo só então lembrando que a água não ia adiantar nada. Rapidamente pegou um pedaço de pão e mastigou.

— O senhor está bem? – perguntou o garçom olhando preocupado para ele.

Luciano engoliu o pão sentindo que o ardor melhorava e sorriu para o rapaz.

— Tudo bem, só engasguei com a comida.

— Qualquer coisa me chame seu Luciano – disse o rapaz indo atender as meses.

“Deus! Se esse preto tivesse parado com algum cliente...” ele nem queria pensar.

Luciano era dono do restaurante e de uma boate, mas passara seis meses fora viajando pela Europa e deixara tudo nas mãos de seu advogado e amigo que conduzira as coisas muito bem, mas agora ele estava de volta e queria ver como estavam às coisas pessoalmente e resolvera almoçar ali mesmo.

Vermelho de raiva e da pimenta, Luciano entrou como um furacão a cozinha.

Lá havia apenas uma moça delicada com cabelos cobertos pela touca e belos olhos castanhos.

— Pois não? – perguntou ela com a voz educada, mas pasma de alguém ter invadido a cozinha de forma tão intempestiva, ainda mais que o home deveria estar usando uma touca como ela.

— Eu quase morro afogado com a pimenta no meu prato! Aquela coisa estava intragável!

— Eu tenho certeza que foi um acidente...   

— Se fosse outro ele poderia processar o restaurante!

— Senhor, por favor. Se me disser o que comeu eu vou retirar do bufê e faremos outro prato para o senhor.

— Acha que eu vou me arriscar a comer a sua comida novamente? Deve estar louca!

— O senhor está me ofendendo! Não fui...

— Quero que as cozinheiras nesse restaurante pelo menos saibam cozinhar e não tentar envenenar os clientes!

— Por favor, senhor, se retire a vá falar com o nosso gerente!

— Pois não duvide disso! Como é que com uma comida dessas esse restaurante continua aberto?

— Sempre recebemos elogios da nossa comida senhor. Só por causa de um erro vai desmerecer tudo que fizemos?

— Moça um erro desses pode acabar com um restaurante e eu não quero que o meu seja processado por um erro infantil.

— Seu restaurante? – Marcela sentiu um frio na barriga.

— Ora bolas! Você não me conhece?

— Claro que não!

— Meu nome é Luciano de Almeida e Castilho, dono do restaurante.

Marcela gemeu ao ouvir isso. Ela estava brigando como seu chefe!

— Por isso eu exijo que trabalhe melhor!

— Mas não fui...

— Quem foi que ti contratou? Será que você disse que sabia cozinhar?

— Da para parar de me ofender? Será que você é o senhor perfeição que nunca acometeu um erro?

— Todo mundo comete erros, mas quase matar uma pessoa com pimenta é ridículo!

— Pare de ser dramático e não fui eu quem fez o que você comeu a menos que tenha sido uma sobremesa!

— E quem fez? – a voz dele estava carregada de sarcasmo – O papai Noel?

— Boa tarde seu Luciano – Carminha estava entrando na cozinha. Ela era cozinheira no restaurante desde o dia de sua abertura – Gostou do arroz de auçá? Coloquei bastante pimenta como o senhor gosta.

— Foi você que fez o meu prato Carmen? – ele estava vermelho de vergonha.

— Claro menino – ela foi em direção às panelas – Eu sempre faço a sua comida quando você vem aqui.

Relutante ele olhou para Marcela que parecia que ia mordê-lo a qualquer momento, mas deu-lhe as costas com uma frase mordaz:

— Acabou de achar o papai Noel, se procurar um pouco talvez encontre o coelhinho da páscoa!




segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O Escravo II - Capitulo 9 O Golpe









Capitulo 9 – O Golpe


Uma comoção na porta chamou a sua atenção e todas as suas preocupações foram varridas pela visão de seus dois novos escravos entrando no salão.

Ambos eram uma visão exótica, que arrancou suspiros de inveja de muitos aristocratas. Itieu, mesmo cheio de contusões, estava lindo vestindo uma túnica larga e comprida até os pés, mas a túnica era transparente e ele podia ver o todo o corpo nu do escravo coberto com as jóias que mandara. Os cabelos dela eram prateados e caiam até o ombro e seus olhos vermelhos brilhavam de ódio.

Gael era mais baixo que Itieu, mas seu corpo era bem moldado. Ele vestia uma calça transparente e Kafen podia ver as jóias pesadas dependuradas em seu pênis e bolas.

— Parabéns Kafen – disse o barão Al’halib – Fio uma ótima escolha.

Os escravos foram empurrados para perto de Kafen e obrigados a se ajoelharem perto da cadeira onde ele estava.

— Vocês me deixam orgulhoso com a sua beleza – disse Kafen sorrindo para eles.

— Vai se ferrar! – rosnou Gael e Kafen ficou vermelho de raiva.

— Se me fizer passar vergonha em frente ao meu povo escrevo, eu arranco seu couro com você ainda vivo.

Itieu segurou a mão de Gael. Pelo que ele sabia Kafen bem podia fazer isso.

Olhou o salão vendo que aquilo parecia um gigantesco salão de jogos, como os salões de jogos de prazer de Aurifen, mas lá tanto mestre como escravo tinham prazer, mas pelo que via ali o que dava prazer aos amos era a dor de seus escravos. Havia muito gemido e gritos de gozo por todo o lado.

Viu uma mulher com o olhar perdido sendo violada por dois homens, um a penetrava pela vagina e outro pelo ânus em um grande frenesi.

Haviam escravos caídos pelo chão como que desacordados e As’ah era um deles. Outros eram passados de mão em mão para serem penetrados com violência.

O cheiro de sexo e sangue enchia tudo dando ânsias de vomito em Itieu.

— Senhores – Kafen levantou sorrindo – Chegou a hora de eu como anfitrião lhes dar um pouco de diversão.

Ele fez um aceno para dois guardas que seguraram Gael e Itieu levantando eles do chão e arrastando para uma parede onde havia restrições para pés e braços. Entre suas pernas foi colocado um afastador empurrando elas quase ao seu limite. Vendas foram colocadas em seus olhos.

Gael tremia de raiva e medo, ele odiava não saber o que estava acontecendo à sua volta; se ia ser estuprado novamente ele pelo menos queria ver o rosto do desgraçado para poder matar quando pudesse, e ele jurou para si que faria isso.

Itieu havia retesado seu corpo e estava pronto para o que ia acontecer, ele tinha certeza que ia ser violado por todos naquela sala.

De repente ele ouviu gritos e gemidos muito diferentes dos que escutara até aqui. Havia também barulho de coisas se quebrando e ao longe ela achou ter ouvido um tiro. Ele tentou retirar a venda, mas eles estava bem amarrada, mas de repente ele sentiu alguém do seu lago.

— Calma – era Raqsa do seu lado retirando a sua venda e abrindo as algemas, mas tudo estava em um tom vermelho das luzes de emergência.

— O que está acontecendo? – perguntou Itieu olhando para as pessoas correndo, pela janela ele podia ver clarões por todo o lado.

— É a revolução – o escravo finalmente o deixou livre e foi para Gael – A capital está sendo tomada pelas forças revolucionarias. O serviço secreto arrastou Kafen para longe, mas eu ouvi mandando alguém voltar para pegar vocês. Temos que ser rápidos!

Itieu segurou no braço de Gael que o olhou com medo e esperança e correram com Raqsa para uma saída lateral que dava nas cozinhas onde reinava o verdadeiro caos de pessoas correndo de um lado para outro.

— Por aqui! – Raqsa abriu a porta dos fundos e deram com Kamar parado ao lado de um carro velho – Entrem! Rápido!

Havia urgência na voz de Raqsa e Itieu entendeu o porquê, já que ele podia ouvir sons de bombas por todo o lado.

— Fiquem abaixados até sairmos do centro! – gritou Kamar para eles e Raqsa jogou um cobertor em cima deles para que ficassem escondidos.

— Acha que isso vai dar certo? – Gael tinha medo de ter esperanças.

— Vamos rezar para que sim.

E pela primeira vez, Gael teve vontade de rezar a um deus.

Enquanto isso podiam ouvir a conversa de Kamar e Raqsa.

— Foi tudo muito rápido – disse Raqsa para o marido olhando as pessoas nas rua correndo como baratas tontas – Ninguém esta preparado.

— Ninguém nunca estava Raqsa – respondeu Kamar fazendo uma curva fechada em alta velocidade ao ver carros de patrulha indo na direção deles – Mas o golpe de estado esta muito bem organizado. Pelo que ouvi no radio todas as grande cidades estão sendo tomadas.

— Quem são eles Kamar?

— Tradicionalistas, por isso devemos chegar ao deserto e ao meu povo logo. Lá vamos estar seguros, mesmo que logo o nosso mundo esteja mergulhado em um caos maior ainda que a guerra.

— O que pode ser pior que a guerra? – Raqsa ficou pálido.    

— Logo vamos ver, no céu e você vai entender.

Eles continuaram a correr pelas ruas da capital indo para a periferia que estava mais calma, mas era uma calma enganadora. Passaram por grandes mansões até chegarem à parte pobre da cidade e pegarem uma estrada rural que cortava algumas fazendas.

No norte o céu ficava cada vez mais vermelho como se uma floresta estivesse em chamas.

— Será que colocaram fogo em uma cidade? – Raqsa apertava a mão no peito.

— Esta começando – Kamal retirou a cobertor de Gael e Itieu que levantaram para ele piscando os olhos – Vocês tem roupas ai atrás e uma mochila cada um. Troquem, eu e Raqsa esperamos lá fora.

Ambos saíram para olhar as luzes da capital ao sul e o estranho brilho vermelho que levantava ao norte como se um sol vermelho fosse nascer a qualquer momento.

Gael e Itieu juntaram-se a eles. Ambos vestiam roupas pesadas e escuras sendo uma calça e uma camisa de lã e uma longa e larga túnica. Havia também um turbante que nem um dos dois soube colocar.

— Uma tela?! – Itieu olhava o norte com assombro.

— A barreira de Eoin – resmungou Kamar – Durante muito tempo acharam que era idiotice construir algo assim, mas pelo visto vai ser útil.

— O que é isso afinal? – perguntou Raqsa curioso.

— Tudo que for eletrônico não vai funcionar – foi Itieu que respondeu – O pulso eletromagnético vai torras tudo quanto é chip que existe no planeta e mesmo que tentem construir outros, não será possível enquanto a barreira estiver funcionando.

— Essa barreira deveria aparecer apenas se o Príncipe Guerreiro estiver morto ou desaparecido.

— Espero que eles tenha sido morto com requintes de crueldade – disse Gael com a voz cheia de raiva e rancor.

— Kafen pode ter se mostrado um idiota com seus escravos humano, mas ele era um bom líder. O nosso mundo nas mãos da Liga de Costumes Antigos vai mergulhar esse planeta em completo caos. Vocês nem tem ideia de como era a nossa vida quando essa gente nos comandava.

Raqsa estremeceu e se aproximou de Kamar.

O brilho vermelho passou por cima deles e puderam ver um padrão de grades que cobria todo o céu. Quando a barreira passou por eles as luzes do carro piscaram e apagaram e a cidade ao longe ficou as escuras, mesmo as bombas cessaram. Tudo foi seguido de um silencio tenebroso.

— O nosso mundo vai mudar para sempre – Raqsa chorava.

— Temos que ir para o deserto. Os povos de lá não usam tecnologia e se tem alguém que vai sobreviver a esse caos são eles – Kamar olhou Gael e Itieu – Vocês podem vir conosco ou ficar, a decisão é de vocês.

Itieu olhou Gael.

— Por hora nem mesmo uma comunicação vai sair daqui, eu prefiro ir com eles.

— Acredito que também seja o melhor.

— Então vamos – ele pegou a mochila dele e de Raqsa – O caminho é longo e quanto mais longe ficarmos das cidades melhor.

~~***~~

O shai’d Baraden olhava para o céu assim como toda a sua tribo, vendo pasmos a grade vermelho sangue no céu. Algumas pessoas murmuravam que era uma maldição, mas o shai’d achou melhor intervir para evitar pânico.

— Povo de Akreb o que vocês estão vendo é chamado de barreira de Eoin. É feito pela tecnologia da capital. Com essa barreira acima de nós nem uma maquina eletrônica vai funcionar. Essa barreira só aparece por dois motivos e ambos são muito sérios: ou o Príncipe Guerreiro está morto por um golpe de estado ou esta desaparecido. Tive informações de que a Liga de Costumes Antigos estava se programando para um golpe no futuro, mas pelo que vejo o futuro é hoje.

— O que isso muda para nós shai’d? – perguntou um senhor idoso.

— Tudo – ele olhou o seu povo – A Liga nos odeia, odeia a maioria dos povos do deserto por sermos mais liberais. Quando estiverem no poder viram para cima de nós para nos destruir sem dó ou piedade.

— Teremos guerra – resmungou uma senhora balançando a cabeça coberta de cabelos brancos – A guerra nunca é boa, mas o povo de Ghalib deve encontrar o seu rumo – olhou Baraden – Um verdadeiro príncipe deve tomar o poder.

— Sabias palavras Anciã – respondeu ele – Acredito que um dia os povos livres ghal vão eleger seu próprio Príncipe Guerreiro. Por hora necessito que todos fiquem em alerta. Comida devem começar a serem estocadas nas cavernas ao norte para o caso de um ataque ao oasis. As cavernas devem estar preparadas para receber o nosso povo e resistir por muito tempo a um ataque.  

— Estaremos preparados shai’d – disse um rapaz cheio de entusiasmo.

“Você nunca viu a guerra menino” pensou Baraden “É a visão mais próxima do inferno que existe”.

Depois do comunicado, Baraden chamou seus conselheiros e entrou em sua tenda onde Mariqui esperava sentado em uma cadeira perto de uma mesa onde havia um mapa do planeta. A tenda era iluminada por candeeiros a óleo.

— Começou? – perguntou ele levantando os olhos cegos para Baraden.

— Sim meu amor – ele sentou dando um leve beijo nos lábios dele – A barreira está no céu.

— Não posso dizer que estou surpreso – disse Akeban A’lrid, segundo conselheiro de Baraden – Kafen tornou-se um aristocrata pomposo que não via um palmo diante do nariz.

Akeban era alto e musculoso. O cabelo negro era curto e os olhos verdes brilhavam cheios de energia.

— Mas achei que as noticias previam o golpe para daqui meses – disse Sars Teh, a terceira conselheira.  

Sars era uma mulher do oeste, onde as tribos tinham viviam em um estado matriarcal. Deixara sua terra em busca de aventuras e quando parara em Akreb para descansar nunca mais fora embora.

— Por algum motivo eles adiantaram o golpe e tenho medo que Kafen esteja morto.

— Nesse caso o fiel do príncipe deve subir ao poder – observou Mariqui.

— Tem noticias dele Kafen – Akeban olhou seu shai’d.

— No momento não. Tenho alguns homens de minha confiança com ele e se algo der errado eles tem ordens para sequestrá-lo e o trazer para Akreb.

— Está se envolvendo muito Baraden – Sars inclinou na mesa olhando o shai’d – Sabe que a Liga vai vir com a força toda quando souber disso.

— Sem a tecnologia a Liga é apenas um punhado de velhos perdidos, o que me incomoda são as tribos do leste. Elas nunca aceitaram o governo de Kafen e não aceitam o modo de vida do resto das tribos. Eles são bons guerreiros e se aluem na liga tiver um pouco de miolos vai usá-los para nos atacar.

— É melhor conversarmos com os outros shai’ds das tribos – disse Akeban – Quanto mais nos unirmos melhor.

— Deixo essa parte com você e Sars. São meus conselheiros, diplomatas e amigos, tenho certeza que vão se dar bem na missão.

— Deixe conosco shai’d – disse Sars – Iremos de tribo em tribo para contarmos sobre o que temos e tomaremos cuidado.

— Vocês sabem a quem devem avisar algumas das tribos não são confiáveis.

Ambos acenaram, levantaram de suas cadeiras e se inclinando para o shai’d saíram.

— Você esta quieto – murmurou Baraden colocando o esposo no colo e esfregando os rosto nos cabelos cobertos pelo véu.

— Eu odeio a guerra Baraden. Meus irmãos estão no tumulo agora por causa dessa maldição.

— Eu sei meu amor – havia dor nos olhos de Baraden – Eu também não quero isso, mas não fazer nada é um preço muito maior do que entramos no conflito. Faremos isso pelo nosso povo e por todo o povo ghal que vive oprimido por leis velhas e injustas.

— Eu espero que no final o preço não seja alto demais.

Mariqui foi acometido de um tremor e Baraden o apertou nos braços não querendo pensar no que o amanhã iria trazer.