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terça-feira, 15 de outubro de 2013

O Colecionador de Olhos - Capitulo 4









Capitulo 4



O delegado Luis Moura não parecia muito feliz, aliais seus subordinados preferiam sair de perto dele nos dias em que o chefe ia falar com a imprensa, o homem ficava uma fera enjaulada.

Ele sabia que devia falar para os repórteres e acalmar um pouco os ânimos, mas ele não gostava disso e fim de papo.

Havia uma sala grande nos fundos da delegacia onde a imprensa aboletou-se, tão ansiosos e mortais quanto um bando de abelhas. Qualquer palavra má medida de sua boca ia causar muitos estragos com eles, sua sorte era que ele tinha experiência com eles.

Ele entrou na sala a sentou na mesa junto com os investigadores Braz e Almeida. Braz parecia um popstar em dia de entrevista de um novo filme, mas Almeida estava ficando cada vez mais verde. Ele sabia o quanto o rapaz odiava ser o centro das atenções.

Assim que se acomodaram houve um imenso clamor de perguntas, todas misturadas, cada um tentando falar ao mesmo tempo.

Moura revirou os olhos com aquilo. Sempre era a mesma coisa!

— Será que podem falar um de cada vez? – ele gritou e todo mundo sossegou sabendo bem o quanto o delegado era pavio curto – Vou contar o que sabemos e o que podemos dizer que não comprometa o caso.

O delegado contou sobre o corpo encontrado, mas as investigações iam correr em segredo.

— Delegado Moura é verdade que pode ser o mesmo assassino de Bertioga? – perguntou um rapaz de um telejornal local.

— Por hora não temos base para dizermos isso. Seria prematuro e irresponsável fazermos tal afirmativa.

— Um duble? – perguntou uma moça.

— A resposta é a mesma senhorita.

— Se for um duble ou o mesmo o assassino original saberemos essa noite – disse uma voz nos fundos da sala.

Todo mundo se virou para Inocense e Rafael.

— Quem é você? – perguntou Moura contrariado.

— Inocense da revista Ribeirão Hoje. Em Bertioga ele matava por três noites seguidas e sempre em lua nova.

Todo mundo murmurou entre si entendendo a lógica que a moça expunha.

— Acreditem que estaremos fazendo o possível para que algo assim não volte a acontecer – disse Moura para os repórteres.  

Mas a semente já havia sido lançada e uma chuva de perguntas atingiu o delegado cheio de raiva da repórter loura.

~~***~~

— Lucas porque está demorando!

O rapaz revirou os olhos procurando pelo telefone de um fornecedor na bagunça que era a agenda da antiga secretária de Israel, mas ele não encontrava de modo algum, mesmo que o outro tenha dito que devia estar ali.

— Lucas!

— Eu devo ter feito muita coisa errada na minha outra encarnação – resmungou ele indo até o escritório do outro.

Havia papéis por todos os lados. O notebook estava aberto de um lado e o tablet de outro, assim como havia três celulares em cima da mesa.

— Quando eu preciso de algo eu espero ser prontamente atendido! – resmungou o outro para Lucas.

— Eu não encontrei nada na agende senhor, por isso não tive como atendê-lo.

— Eu não quero desculpas!

— Acontece que eu não estou dando uma desculpa, já que o meu trabalho não precisa de desculpas! Estou apenas comunicando um fato.

— Eu estou de péssimo humor para suas gracinhas Lucas!

— E eu não estou de humor melhor para ouvir as suas ordens idiotas!

— Por acaso está me chamando de idiota?

Israel levantou-se da sua mesa indo em direção a Lucas. Israel era bem mais alto que Lucas e mais corpulento, parecia uma montanha se elevando acima dele.

De repente Lucas se sentiu como se seu pai estive ali na sua frente, bêbado e pronto para a surra. Seu corpo agiu de forma inteiramente instintiva com ele andando para trás e se encolhendo e escondendo o rosto nos braços. Ele esperou que o golpe viesse, mas nada aconteceu.

Ele olhou receoso por entre os braços e percebeu que Israel estava parado perto da mesa dele o observando.

— Me... me desculpe – disse tremulo indo em direção á porta, mas Israel segurou seu ombro.

— Venha se sentar menino antes que você caia.

Lucas não havia percebido o quanto estava tremendo, suas pernas estavam a ponto de dobrar. Ele caiu na poltrona cheio de um imenso constrangimento.

Como em nome de Deus ele ia explicar para Israel seu comportamento bizarro? Não queria falar sobre sua vida particular, sua fodida vida particular, com seu chefe.

— Tome – Israel estava lhe estendendo um copo com um liquido âmbar – Vamos não é veneno.

Lucas não pode deixar de sorrir e beber um pequeno gole do whisky que desceu queimando pela sua garganta quase o fazendo engasgar. Ele gostava de cerveja, mas nunca fora de tomar nada mais forte que isso. Ele bêbado era um porre, a sua irmã costumava dizer.

— Obrigado – disse Lucas colocando o copo em cima da mesa sem olhar para Israel.

— Vamos almoçar – o chefe estava pegando os três celulares e colocando no bolso.

— Almoçar?

— É, almoçar, comer! Vamos que tenho que voltar logo para resolver algumas coisas.

Lucas estava tão perdido por causa do comportamento de Israel que levantou e andou junto com ele passando pela mesa de Joana que comia uma montanha de bolachas.

— Vai engordar – disse Israel com sarcasmo.

— Então serei uma gorda feliz – respondeu ela enfiando mais bolachas na boca e olhando com desdém para Israel – E cuide do menino ou eu deleto o disco rígido o seu computador.

— Morcega velha!

— Eu ouvi isso senhor Israel de Almeida e Castilho.

Israel revirou os olhos ao ouvir seu nome completo. Estava há tanto tempo com Joana que sabia que ele não gostava de ter um nome tão pomposo e ela usava isso para o atormentar.  

Desceram para a recepção do prédio saindo para a rua. O dia esquentara e Israel ficou feliz em ter deixado o terno no escritório.

Olhou para Lucas dando um suspiro. Sabia que tinha exagerado. Sabia que perdia a paciência com facilidade e eu isso estava ficando pior com a morte da esposa.

Quando pensava nela ainda podia sentir a familiar dor, mas agora era mais uma mistura de saudade e nostalgia que às vezes despontava nele em momentos de descanso.

Talvez fosso por isso que ele trabalhasse tanto, se entregando de corpo e alma a sua revista.

Mas algo estava errado com Lucas, o modo como ele se encolhera quando ele levantou da mesa com brusquidão era como se ele estivesse em posição para se defender de algo, como um cão assustado e acuado. Todavia isso devia ser algo particular dele e era melhor deixar de lado.  

Havia um restaurante que ele gostava de frequentar perto do teatro Pedro II, um lugar de comida selv-service, mas tinha ar condicionado, variedade e a comida era muito bem preparada.

— Acho que começamos errado Lucas e eu gostaria de me desculpar por isso.

— Acho que nós dois temos culpa, por isso também me desculpe.

Israel olhou para o pequeno rapaz admirando sua pele clara e o cabelo cheio de cachos que emolduravam seu rosto. Tinha que admitir que ele era bonito.

— Então vamos fingir que começamos agora?

— Mesmo? – Lucas sorriu para ele a Israel pode ver que ele tinha duas covinhas quando fazia isso.

— Mesmo. Vamos almoçar que o nosso dia é longo.

~~~***~~

Cansada Marcela movimentou os ombros enquanto terminava de preparar as sobremesas para o restaurante que estava abrindo.

Levantou a travessa com mousse de maracujá e com a outra mão uma com torta de chocolate com amêndoas, sua especialidade. Foi até o bufê de sobremesas colocando as últimas e admirando o resultado.

O restaurante Almeida Castilho era conhecido por seus pratos bem elaborados no selv-service, ambiente acolhedor e sobremesas famosas.

Ficava em um bairro mais afastado do centro, mas estava sempre cheio tanto para almoço quanto para jantar. Era composto de um grande salão com meses de madeira envelhecida e cadeiras almofadas. Duas paredes eram de vidros temperados e davam para um jardim de inverno onde uma fonte gorgolejava em meio a samambaias e narcisos. As paredes tinham quadros de paisagens bucólicas que eram a paixão da moça. Sabia que os quadros foram pintados pela mãe do dono, pois o chefe do restaurante lhe contara. Ela gostaria de conhecer uma mulher tão talentosa.

Ia voltando para a cozinha quando percebeu que havia um rapaz em uma mesa que engasgava com a comida e era ajudado pelo garçom.

As pessoas viviam com tanta pressa que nem mesmo paravam para degustar um bom prato.

Vendo que o cliente estava melhor ela voltou para a cozinha já que a outra cozinheira e o chefe tinham saído por alguns minutos.

~~***~~

Luciano de Almeida e Castilho deu apenas uma garfada em seu prato. No instante que começou a mastigar o seu arroz de auçá engasgou com a quantidade de pimenta. O alimento desceu queimando a sua garganta e seus olhos se encheram de lagrimas e ele pegou um copo de água por reflexo só então lembrando que a água não ia adiantar nada. Rapidamente pegou um pedaço de pão e mastigou.

— O senhor está bem? – perguntou o garçom olhando preocupado para ele.

Luciano engoliu o pão sentindo que o ardor melhorava e sorriu para o rapaz.

— Tudo bem, só engasguei com a comida.

— Qualquer coisa me chame seu Luciano – disse o rapaz indo atender as meses.

“Deus! Se esse preto tivesse parado com algum cliente...” ele nem queria pensar.

Luciano era dono do restaurante e de uma boate, mas passara seis meses fora viajando pela Europa e deixara tudo nas mãos de seu advogado e amigo que conduzira as coisas muito bem, mas agora ele estava de volta e queria ver como estavam às coisas pessoalmente e resolvera almoçar ali mesmo.

Vermelho de raiva e da pimenta, Luciano entrou como um furacão a cozinha.

Lá havia apenas uma moça delicada com cabelos cobertos pela touca e belos olhos castanhos.

— Pois não? – perguntou ela com a voz educada, mas pasma de alguém ter invadido a cozinha de forma tão intempestiva, ainda mais que o home deveria estar usando uma touca como ela.

— Eu quase morro afogado com a pimenta no meu prato! Aquela coisa estava intragável!

— Eu tenho certeza que foi um acidente...   

— Se fosse outro ele poderia processar o restaurante!

— Senhor, por favor. Se me disser o que comeu eu vou retirar do bufê e faremos outro prato para o senhor.

— Acha que eu vou me arriscar a comer a sua comida novamente? Deve estar louca!

— O senhor está me ofendendo! Não fui...

— Quero que as cozinheiras nesse restaurante pelo menos saibam cozinhar e não tentar envenenar os clientes!

— Por favor, senhor, se retire a vá falar com o nosso gerente!

— Pois não duvide disso! Como é que com uma comida dessas esse restaurante continua aberto?

— Sempre recebemos elogios da nossa comida senhor. Só por causa de um erro vai desmerecer tudo que fizemos?

— Moça um erro desses pode acabar com um restaurante e eu não quero que o meu seja processado por um erro infantil.

— Seu restaurante? – Marcela sentiu um frio na barriga.

— Ora bolas! Você não me conhece?

— Claro que não!

— Meu nome é Luciano de Almeida e Castilho, dono do restaurante.

Marcela gemeu ao ouvir isso. Ela estava brigando como seu chefe!

— Por isso eu exijo que trabalhe melhor!

— Mas não fui...

— Quem foi que ti contratou? Será que você disse que sabia cozinhar?

— Da para parar de me ofender? Será que você é o senhor perfeição que nunca acometeu um erro?

— Todo mundo comete erros, mas quase matar uma pessoa com pimenta é ridículo!

— Pare de ser dramático e não fui eu quem fez o que você comeu a menos que tenha sido uma sobremesa!

— E quem fez? – a voz dele estava carregada de sarcasmo – O papai Noel?

— Boa tarde seu Luciano – Carminha estava entrando na cozinha. Ela era cozinheira no restaurante desde o dia de sua abertura – Gostou do arroz de auçá? Coloquei bastante pimenta como o senhor gosta.

— Foi você que fez o meu prato Carmen? – ele estava vermelho de vergonha.

— Claro menino – ela foi em direção às panelas – Eu sempre faço a sua comida quando você vem aqui.

Relutante ele olhou para Marcela que parecia que ia mordê-lo a qualquer momento, mas deu-lhe as costas com uma frase mordaz:

— Acabou de achar o papai Noel, se procurar um pouco talvez encontre o coelhinho da páscoa!




Um comentário:

  1. dalla que serie e essa eu nunca tinha visto ela aqui no blog ?
    bjs vc e uma ótima escritora

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