Capitulo 13
Cada vez mais o bar ficava cada vez
mais cheio e a pista de dança começou a ser disputada até mesmo por alguns
casais do mesmo sexo o que deixou Mauro pasmo.
Dante foi convidado por uma moça e
agora estava lá dançando ao som de Roupa Nova.
— Gostei desse lugar – disse Mauro
para Dayno que olhava as pessoas dançando balançando a perna – É animado e
parece que não tem problema das pessoas do mesmo sexo dançando juntas.
— Mas sempre tem um idiota por ai –
resmungou Dalton – Às vezes as brigas são inevitáveis.
— Imagino que haja idiotas em todos os
lugares – Dayno tomou mais um gole da sua cerveja – Vamos La Mauro – Dayno se
levantou estendendo a mão para o outro.
— Vamos? Dançar?
— Plantar café – resmungou o outro
enquanto praticamente arrastava Mauro para a pista de dança, deixando para trás
um Valentim com os olhos brilhantes e Dalton com a boca retorcida de
raiva.
— Dayno eu não sei dançar – disse
Mauro vermelho quando o outro o puxou de encontro ao corpo.
— Só se mecha comigo – ele sorriu para
Mauro, um sorriso travesso – Acho que logo você vai mudar de parceiro.
— O que você está fazendo? – Mauro não
estava entendo o que Dayno aprontava.
— Só uma tática de guerra.
O outro revirou os olhos sem entender
nada, mas tropeçou e olhou feio para Dayno que começou a rir e Mauro não pode
deixar de rir também. Durante toda a musica os dois ficaram rindo um do outro
já que Dayno não era tão melhor que ele com a dança.
Quando a musica parou a banda disse
que ia dar uma pausa e um aparelho de som começou a tocar uma música lenta e a
maioria foi sentar, mas os dois continuaram até que alguém bateu no ombro de
Dayno.
— Acho que essa dança é minha –
Valentim tinha os olhos com um brilho frio.
— Claro – Dayno afastou-se todo
sorridente deixando um pasmo Mauro sendo puxado para o corpo forte e musculoso
de Valentim.
— Eu não sou bom nisso Valentim – a
voz de Mauro tremia ao olhar para cima.
— Eu ti guio – murmurou ele perto o
ouvido de Mauro.
A música era dos anos oitenta ou noventa,
Mauro não se lembrava, mas ele a conhecia era Hazard de Richard Marx.
Valentim segurou a sua cintura
mantendo seus corpos quase grudados e começou a balançar os quadris incitando
Mauro a fazer o mesmo. Ele não conseguia deixar de olhar para o rosto do outro
consciente da sua mão em seu quadril e da outra em suas costas, alem de como
seus corpos estavam perto um do outro.
Ele pegou o ritmo de Valentim que
sabia dançar bem.
Naqueles cinco minutos que a musica
tocou não havia mais nada à volta dele. Foi como se o bar e a própria realidade
fosse apenas o ali e agora nos braços fortes do cowboy cujos olhos não deixavam
seu rosto também.
I think about my life gone
by*
How it's done me wrong
There's no escape for me
this time
All of my rescues are gone
Long gone
Os cientistas costumam dizer que o tempo é relativo
e para os dois isso parecia verdade. Aqueles cinco minutos foram tão longos
quanto à própria eternidade.
Só se deram conta que a musica tinha acabado quando
ouviram as palmas e assovios.
Mauro ficou ainda mais vermelho e correu para a
mesa se escondendo atrás de uma garrafa de cerveja.
Valentim ficou ali estático por alguns segundos e
depois saiu para a varanda.
— Sabia que vocês foram incríveis – disse Dalton
rindo e retirando a garrafa da frente de Mauro.
— Eu nunca mais vou poder olhar o seu irmão –
murmurava Mauro que estava em um estado alem do constrangimento.
— Larga de ser bobo – disse Dante sorrindo – Foi
uma coisa linda de se ver. Ver Valentim rebolando daquele jeito... ual!
— Ei! – Dalton olhou feio para o outro – Ele é meu
irmão!
— Desculpe Dalton – respondeu Dante rindo – Mas ele
é lindo.
Dalton não pode deixar de rir do outro.
— Esse lugar esta cada vez pior – disse alguém
perto deles – Cada vez mais cheio de bichas.
Dayno rangeu os dentes de raiva, mas seu irmão
gêmeo colocou a mão em sua perna.
— Dayno, por favor – implorou ele.
Era um grupo de seis homens que foram em direção ao
balcão exigindo cervejas deixando o garçom constrangido.
— Não passam de uns arruaceiros – disse Dalton – O
maior é Lucas Albuquerque, filho do dono das indústrias Paper Withe.
— Meu tio falou dele – disse Dante – É quem está
tentando comprar terras para plantar eucalipto e pinho.
— Não é só isso – Dalton tomou mais um gole de sua
cerveja – Ele destrói o que resta de mata atlântica levando cada vez mais as
araucárias em risco de extinção. Muitos pequenos sitiantes venderam suas terras
para ele e agora a única coisa que tem plantado são eucalipto. Não há mais gado
ou café. Dizem que o pessoal dele é bem persuasivo quando quer alguma terra.
— Eu diria que isso é o progresso – disse Dayno
cheio de sarcasmo – Mas se isso – apontou Lucas – É a evolução prefiro retroceder.
Vou buscar mais cerveja.
— Pode deixar – Mauro levantou – É a minha vez.
Sabia o quanto Dayno era pavio curto e que no final
ele ia acabar arranjando briga com os homens que faziam piadas imbecis no
balcão.
— Por favor, quatro cervejas – pediu ele para o
rapaz.
— Você é uma das bichas, não?
Mauro ignorou Lucas.
— Ei eu estou falando com você! – ele segurou no
braço de Mauro que se desvencilhou.
— Qual é o problema com você? – Mauro não conseguiu
se segurar – Testosterona demais no cérebro?
— Meu problema é coisas como você! – ele quase
encostou o rosto no de Mauro gritando – Merdas que contaminam gente normal.
— Porque você não vai procurar o que fazer? – para
Mauro o cara não passava de um idiota mimado que não conhecia o mundo real.
— Olha aqui! – Lucas levantou o punha para socar
Mauro que se encolheu, mas o braço do outro foi parado em pleno ar e quando
Mauro percebeu, Lucas havia sido jogado no chão, quase na pista de dança.
— Porque não bate em alguém do seu tamanho Lucas! –
Valentim estava empertigado em seu metro e noventa olhando com desgosto para o
outro.
— Seu namoradinho Valentim? – Lucas levantou
trôpego.
As pessoas em volta retrocediam formando um circulo
em volta deles.
Dalton, Dante e Dayno tentavam chagar aos dois e
Mauro foi até Valentim segurando seu braço.
— Ele não vale à pena Valentim.
— Qual é Valentim! – Lucas havia levantado e agora
tirava sarro do outro – Esta com medo de quebrar uma unha...
Antes que ele pudesse dizer o resto da frase,
Valentim deu-lhe um soco no queixo que o fez estatelar no chão tonto e com o
lábio cortado.
— Chega! – o dono empurrou algumas pessoas – Estou
cheio de você aprontando no meu bar Lucas. Não me importa se você é filho do
presidente, na próxima vez que vier aqui eu ti ponho para fora!
— Ponha-se no seu lugar velho caipira – o outro
ainda não baixou a cabeça – Você devia era por para fora essas merdas que sujam
o mundo.
— O único sujo aqui é você. Vai embora ou eu vou
mandar o segurança ti colocar para fora.
Lucas cuspiu sangue e levantou lançando um olhar
cheio de ódio para Valentim mostrando que aquilo ainda não tinha acabado e saiu
do bar sozinho, já que seus colegas fugiram quando Valentim socou seu lidar.
— O show acabou pessoal! – disse o dono do bar
enxotando todo mundo de volta às mesas.
Os rapazes voltaram a sentar e Valentim segurava a
mão ferida.
— Me deixeeu dar uma olhada – pediu Mauro segurando
a mão do outro mesmo com a cara feia dele.
— Foi só um esfolado – disse ele olhando para Mauro
que estava pálido com tudo o que acontecera.
— Em todo o lugar – Dayno resmungava – Essa gente
está em todo luar para nos atormentar.
— Dayno aqui não é São Paulo – disse Dante olhando
os olhos do irmão.
— Mas nos olhos daquele homem eu vi a mesma loucura
das pessoas que nos atacaram Dante, era como voltar para aquele inferno!
Mauro segurou a mão de Dayno e sorriu para ele
tentando acalmar o amigo que parecia estar revivendo seus medos ali. O outro
deu um leve aperto em sua mão, mas seu olhar ainda era distante.
— Acho que a nossa noite acabou – disse Dalton
olhando para Dayno.
— Nos vemos amanhã na exposição – disse Dante
levantando.
Os cinco saíram para a noite fria e enluarada todos
chateados com o que acontecera.
Mauro lembrou algo que lera há muito tempo enquanto
entrava no carro para ir embora, uma frase de Albert Einstein: “Triste época! É
mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”.
~~***~~
Dante acordou com um salto. Ele nem precisava
pensar muito para saber de onde tinha vindo aquele grito. Já faziam meses que
Dayno não tinha pesadelos, mas parecia que aquele ia ser uma noite insone para
ambos.
Levantou trôpego e correu para o quarto do irmão
que ficava defronte ao seu.
— Dayno!
Seu irmão estava sentado na cama com o rosto
escondido nas mãos.
— Tudo bem irmão, eu estou aqui – ele sentou na
cama abraçando o outro que ficou duro ao seu toque – Pare com isso Dayno! Eu
sinto a sua dor como se fosse a minha, sempre fomos parte um do outro.
— Eu sou fraco Dante?
— Que bobagem é essa?
— Olhe o que uma simples briga fez comigo? – ele se
afastou do o irmão – Gritando a noite como um imbecil por causa de um pesadelo
idiota.
— Pare com isso – Dante sorriu para ele passando a
mão por seus cabelos – Cada um de nós já enfrentamos muitos demônios Dayno e
continuaremos por algum tempo. O que nos aconteceu deixou cicatrizes não só em
nossos corpos, mas também em nossa alma. Eu também tenho meus pesadelos.
Dayno olhou para o irmão e deu um leve sorriso e o
beijou no rosto agradecido. Sabia que acontecesse o que acontecesse, ele tinha
seu irmão do seu lado e isso era algo que aquecia seu coração.
— Acho que consegue dormir?
— Fique aqui – Dayno bateu no colchão – Lembra quando
éramos crianças?
— Nossa mãe quase ficou louca tentando separar a
gente de cama – Dante riu entrando debaixo dos cobertores – E depois íamos um
para a cama do outro às escondidas e por fim ela se cansou de tentar no
impedir.
Eles se ajeitaram na cama e abraçado finalmente
conseguiram dormir.
*Penso no meu passado
Como ele me prejudicou
Não há escapatória para mim desta
vez
Tudo que fiz para me redimir está
perdido
Há muito perdido
Richard
Marx
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