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sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Capitulo 22 - Surpresas


Ele sentia o corpo pesado e dolorido, não com a dor que o fizera desfalecer ao ser penetrado tão brutalmente por Frey e Gwidion, mas um pouco dela estava ali. Sentia que estava em um colchão macio e seu corpo fora banhado e suas feridas tratadas. Valdi não queria abrir os olhos e ver no que se tornara. Havia feito por sua família, mas isso não mudava o fato de sentir um grande buraco em seu peito por estar preso aos piratas.

— “Cê” acha que ele ta morto? – perguntou uma voz infantil perto dele e sentiu uma pequena e quente mão segurar a sua.

— Não seja bobo! – disse outro parecendo mais velho – Ele está respirando.

— Quem machuco ele Owen?

— Eu não sei Brit, mas eu gosto do cabelo dele.

Valdi não queria acordar e enfrentar o mundo, mas a curiosidade foi maior e ele abriu lentamente as orbes vermelhas vendo diante de si dois garotos humanos pequenos. O menor deles devia ter uns seis anos e era negro com vivos olhos castanhos. O príncipe sabia que existiam humanos com essa cor de pele, mas eles eram muito raros e ele nunca havia visto nem um. O outro garoto era mais velho, com uns dez anos, pele branca e cheia de sardas com cabelos ruivos e olhos de um belo azul celeste. Ambos o olhavam com curiosidade.

— Ola! – disse o mais velho sorrindo – Meu nome é Owen e esse é o Brit. Papa disse que você agora também é nosso pai.

— Temos três pais agora! – Brit era todo sorrisos – Antes a gente não tinha nem um.

Valdi ilhou em choque para os garotos e mais pasmo ainda ficou ao ouvir que para eles ele era um pai agora. Sabia que Gwidion e Frey tinham três filhos adotivos e devia estar olhando para dois deles.

— Num gostou da gente? – perguntou Brit fazendo cara de choro que assustou Valdi que não tinha muita experiência com crianças.

— Não! – respondeu mais do que depressa com a voz rouca – Eu só me assustei acordando com vocês perto de mim.

— A gente não devia vir aqui, mas estávamos curiosos. Se Volgan não fosse um bebê ele também ia estar curioso – disse Owen balançando a cabeça para mostrar a sua lógica.

— Gostei de conhecer vocês – disse Valdi tentando sentar, mas a dor em sua bunda o obrigou a voltar a deitar – Meu nome é Valdi.

— Pai Valdi – disse Brit sorrindo mostrando um dente da frente faltando – Agora também é nosso papai.

Ele não sabia o que dizer nem o que pensar naquela situação, mas foi salvo pela entrada de Gwidion com uma bandeja olhando feio para os filhos.

— Meninos eu não falei que ele estava doente?

— Mas pai! – Brit fez um bico de meio quilometro olhando para o pirata com cara de cachorrinho perdido.

Gwidion pigarreou e ficou vermelho.

— Vão estudar e deixem o Valdi dormir. Quando ele estiver melhor vocês vem aqui.

Os meninos sorriram para ele e se despediram de Valdi beijando o seu rosto.

— Eles são ótimos meninos, mas as vezes eu não consigo controlá-los – disse Gwidion colocando a bandeja em um criado do lado da cama.

Valdi desviou o rosto não querendo olhar o humano que junto com Frey havia infringido tanta dor a ele.

— Olha eu sei que deve estar nos odiando e acredite eu também me odeio pelo que fiz. Ouvi tanto de Frey o tipo de monstros que os aurifenses são que me deixei levar pela raiva do meu companheiro e... sei que não tem desculpa, mas me desculpe pelo que fiz.

— Você me chama de monstro e pode ser que alguns do meu povo sejam. Saiba que eu vi a vida de Frey, compartilhou comigo suas lembranças e foram tão horríveis... Sinto muita dor ainda para aceitar as desculpas de vocês, mas eu entendo o porque dele ser assim.

— Raiva não é uma boa coisa, ela nos faz fazer merda como o que aprontamos com você. Saiba que a nave está indo rumo ao seu mundo.

Olhei surpreso para ele.

— Você vai ajudar meu povo em sua revolução?

— Claro. Você agora é parte da família e não podemos deixar o seu mundo com problemas, alem disso eu conversei com a minha tripulação e acho que chegou a hora de mudar os rumos de nossas vidas. Sei que o mundo de vocês não tem uma frota grande e estou esperando que nos aceita proteger seu sistema planetário e assim poder ficar em seu mundo – ele sentou nos pés na cama dele – Por muito tempo eu fiquei preocupado com meus filhos e acho que se conseguirmos fazer parte de Aurifen talvez eles não tenham que seguir essa vida.

— E acha que com isso vocês se redimem do que fizeram comigo? – Valdi nunca fora uma pessoa amarga, mas naquele momento as suas falas destilavam fel.

— Eu sei que não tem desculpa Valdi, mas se você compartilhou tudo conosco sabe quem e como Frey é – ele se levantou – Pense em uma coisa, estamos juntos para sempre agora e se ficarmos brigados como vai ser a nossa vida?

Ele estava saindo quando ouviu Valdi falar com a voz sumida.

— Adorei os seus filhos.

— Nossos Valdi, agora eles são seus também.

~~***~~
Yaci arrastou Ian para longe da vista da cidade em chamas, mas não foram muito longe. Saindo do nada um punhado de homens os cercaram e o príncipe puxou Yaci para perto dele, mas não sacou a arma vendo a desvantagem numérica em que estava.

— Yaci?! – uma pessoa saiu do meio do grupo de homens armados.

Uliam Soltec estava com um grande curativo na testa e o rosto abatido, mas fora isso parecia bem.

— Graças a Deus você está vivo – disse ele dando um pequeno sorriso – Sabe sobre o restante?

— Não. Eu me separei dos outros fora da base e o meu transportador acabou sendo atingido e com alguma sorte consegui uma nave do governo que montou acampamento a cerca de cem quilômetros do ponto de ataque. Vim para o único lugar que eu me sentia seguro – seu olhar se voltou para a vila em chamas – A minha casa.

— O que houve?

— Seu pai deu ordem para que qualquer lugar que tivesse a remota chance de ter algum revoltoso fosse queimada. A noticia chegou a nós quase tarde demais. Conseguimos salvar boa parte das pessoas, mas o restante... – sua voz morreu e seu rosto marcado se contorceu de raiva – O que sabe sobre o restante?

— Nada. Estamos perdidos desde ontem...

Yaci ouviu um gemido de Ian e olhou para o rapaz que desmaiou em seus braços, tão pálido que o coração do príncipe falhou uma batida.

— Ian!! – ele pegou-o nos braços.

— Estamos em uma rede de cavernas não muito longe daqui – disse Uliam mais do que depressa – Ele precisa de atendimento médico urgente.

Com Ian nos braços Yaci acompanhou eles entrando novamente na densa floresta.


~~***~~
Através da capa velha que vestia Tiol olhou para a cidade coberta de poeira e soldados. As pessoas pareciam assustadas e procuravam andar nas ruas apressadamente. Naves voavam acima deles e haviam postos de controle depois de mercado, no caminho para a região mais rica da cidade.

— Por que não há postos de controle aqui? – perguntou para Karl – Não que eu esteja reclamando.

— A policia não entra na região pobre, um acordo com os traficantes de drogas que até mesmo o governo respeita.

— Acordo entre a lei e traficantes?

Tiol não podia acreditar naquilo! Aquele era o seu belo mundo? Vivera tanto assim na ilusão?

Nas ruas perto do mercado haviam pessoas encostadas nas paredes bêbadas ou com o olhar perdido por causa do consumo de hermariáh, uma droga feira de um gás extraído de uma lua nos confins da federação de planetas. Altamente viciante, a droga era cara e seu trafico era combatido pelo planeta Terra, junto com a Federação há cerca de cem anos. A hermariáh provocava alucinações e fuga da realidade por horas e impedia o corpo de sentir fome, dor e cansaço. Ele nunca havia visto pessoas drogadas por aquilo, já que o seu povo desprezava as drogas, mas ao que parecia isso era outra das ilusões que ele vivia.

Sentia raiva de si mesmo por acreditar que o seu mundo era a terra da felicidade, de não ver o que acontecia.

Durante todo o tempo que ficara na base dos revolucionários ele ficara pensando na sua vida e em tudo que acontecera. Ele era tão orgulhoso que se recusava a ver o que estava diante se si e isso incluía quem ele era.

Percebera que não passava de uma pessoa fria e vazia, que estava preocupada em aliviar a sua dor dando dor aos outros, dor e desprezo. Ele via o mundo apenas algo que estava ali para servi-lo e nada mais. Quando percebeu essa verdade foi aos poucos querendo mudar por si e pelas pessoas a sua volta, mas não era tão fácil assim. Seu orgulho não deixava.

Um dos maiores choques da sua vida foi saber que ia ser pai. No momento ele queria matar seu pai e gritar de raiva. Um filho não era coisa que ele podia deixar de lado como ele fazia com tudo na vida. O que mais o surpreendeu foi perceber aos poucos que queria aquele filho, que queria conhecê-lo e ia acabar perdendo isso se não tentasse mudar.

Depois de uma esquina chegaram ao mercado ao ar livre com suas bancas cobertas de legumes, frutas e verduras coloridos, tonéis de grãos e farinha, pilhas de ovos azuis e vermelhos, tecidos brilhantes. Haviam montes de pessoas indo de barraca em barraca, na sua maioria mestiços.

— Se quer saber algo o melhor lugar para saber noticias é na taverna – disse Karl apontando para um lugar com aparência de sujo que deu náuseas no rapaz – Mas tome cuidado porque não é um lugar que um aurifense puro possa entrar e ficar falando. Entre, peça uma bebida e fique ouvindo. Daqui uma hora eu ti encontro aqui na porta e tenha cuidado! Se algo acontecer eu não conheço você!

Tiol bufou, mas foi para a taverna atravessando a porta de madeira para o interior de um bar iluminado por altas janelas, com um balcão que corria por toda uma parede, cheia de mesinhas de cadeiras de madeira e chão de pranchas de madeira largas. Ao contrario do exterior o interior era limpo, com tudo cheirando a madeira recém cortada e com móveis brilhando de verniz. A maioria das mesas estavam ocupadas por pessoas de todos os tipos desde mestiços e aurifenses puros.

Ele foi para o balcão e um garçom humano o atendeu dando sua bebida e ele ficou sentado ali com o capuz cobrindo sua cabeça a ouvindo as pessoas á sua volta.

— Não sei o que vamos fazer – disse um rapaz perto dele em voz baixa – O governo vem destruindo cidades por ai e proibindo todos os tipos de direitos nossos só porque querem prendem aqueles benditos príncipes.

— Não culpe eles – resmungou o outro – Eles estão tentando ajudar a gente.

— E isso é ajuda?

— Você queria continuar como estávamos?

— Pelo menos a gente tinha paz!

— E já estávamos ficando sem o que comer! Pense Jori! A gente tem que tomar um lado e lutar pelo que queremos. Acostumamos muito em aceitar tudo que acontece!

Jori bufou, mas não respondeu.

O barmen ligou uma televisão que ficava em um canto e Tiol não tinha percebido. As pessoas protestaram, mas o rapaz resmungou:

— Eu quero ver o futebol!

Ainda não começara o jogo e um jornal do governo dava noticias de um mundo que não existia onde tudo ia bem e não havia uma guerra explodindo por todos os lados.

Agora o repórter falava da prisão de muitos revolucionários que estavam destruindo a paz de um “belo” mundo e que as pessoas podiam ficar tranqüilas de agora em diante.

— Babaca – resmungou o amigo de Jori que chutou-o olhando em volta preocupado, mas houve muitos protestos das pessoas que estavam cheias do governo.

Tiol percebeu que seu pai estava perdendo o controle da situação já que as pessoas começavam a expor seu desagrado em publico.

Percebendo que o tempo havia passado, pagou a bebida a saiu do bar para a rua onde o sol ia alto e estava ficando quente. Perto da taverna uma barraca vendia pães que cheiravam bem e ele percebeu que estava com fome.

Foi até lá comprando um pão preto e comeu sem nada. Quando o príncipe Tiol de Aurifen ia pensar que ia ter tanta fome que ia gostar de comer pão puro?

Olhou para uma rua lateral onde um pequeno menino sujo que o olhava com os grandes olhos vermelhos. Ele estava encolhido perto de alguns latões de lixo que transbordavam e deixava o local fedendo.

— Como fome? – perguntou Tiol percebendo que não ia comer mais depois de ver o olhar pidão do menino que parecia ser um aurifense puro.

O menino pegou o pão e sorriu para ele dividindo em dois e entregando a ele um pedaço.

— Pode ficar – disse ele constrangido.

— Para nós dois – disse ele com a sua voz infantil.

— Tudo bem – pegou o pão – Como você se chama?

— Itieu – disse ele voltando a sorrir com o rosto coberto de farelo de pão.

— Onde estão seus pais?

— Mortos – ele respondeu com o olhar triste – Já faz um ano.

— Você vive sozinho.

— Vivo aqui agora, só eu e Pin – ele retirou do meio de um monte de papéis um guan, um animal parecido com esquilos da terra e de cor azul, muito usado como animais de estimação das classes baixas de Aurifen.

O guan ronronava na mão de Itieu e olhou para Tiol com os pequenos olhos azuis.

— Eu estava procurando você! – Karl apareceu com um saco nas costas e olhou para o pequeno com o olhar suavizando – Oi Itieu.

— Oi Karl. O moço me deu pão.

— Ele vive só aqui? – perguntou o príncipe para o rapaz.

— Assim como muitas crianças. Vamos!

— Eu... – olhou o menino que lhe lançava um olhar triste – Ele pode vir conosco?

— Tá doido? – resmungou para o outro – Lá não é orfanato!

— Eu pago. Não vou deixar ele aqui.

Karl o olhou de forma estranha, mas bufou.

— Faça o que queira!

— Quer vir comigo? – Tiol perguntou para a criança.

Itieu pulou em seu colo a abraçou ele pelo pescoço. Ele não podia acreditar no que fizera! Estava pegando uma criança de rua para tomar conta! Estava ficando louco? Mas a verdade é que não conseguia pensar em Itieu sozinho ali, na rua.

Começaram a andar pelas ruas voltando para o local onde estava a entrada do antigo metrô e passaram por uma rua onde algumas lojas populares se aglomeravam e em uma delas vendiam grandes Tvs de tela plana que estavam sintonizadas no canal do governo que ainda mostrava o noticiário. Ao ver o que estava passando Tiol parou de supetão e seu coração falhou uma batida.

Preso com pesadas correntes em um muro nos jardins do castelo, coberto de sinais de chibatadas e sangue e totalmente nu Abrahan era exposto ao publico como o grande traidor, o grande inimigo do império que fora preso pelo imperador e o locutor falava que Abrahan ia ser executado em praça publica em poucos minutos.


quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O Escravo - A Caçada Parte II

Capitulo 21 – A Caçada
Parte II

Enquanto corríamos pude ouvir alguns estrondos como de canhões de energia, mas não podia ser, ninguém em sã consciência dispararia uma arma que podia destruir um prédio piscando; se bem que o imperador passou longe do bom senso.

Tropecei xingando e Tiol me segurou pelo braço.

— Você não consegue colocar um pé na frente do outro?

— Juro que a minha vontade é te socar, mas não dá tempo – resmunguei para ele me desvencilhando e voltando a correr por entre os casebres.

Entramos em várias ruas e as casas começaram a ficar maiores e mais velhas, feitas de pedra verde e com a rua com o calçamento também de pedra onde nasciam ervas daninhas entre os paralelepípedos. Haviam poucas pessoas na rua que comentavam e apontavam para trás de nós onde nuvens de pó levantavam-se e gritos ao longe se fazia ouvir.

— Como diabos eles nos acharam tão fácil! – disse Tiol com o rosto vermelho.

Eu estava tão cansado que nem me preocupava com isso, o que eu queria era fugir.

— Merda! – Tiol gritou parando e me segurando quase me derrubando no chão.

— Que merda Tiol!

— É o seu chip! Eles estão no achando pelo chip que você tem!

Olhei para o meu braço revirando os olhos.

— Culpa sua! Quem mandou me colocar essa porcaria.

Tiol puxou uma faca que carregava e eu tentei tirar o meu braço de um agarre.

— Pare quieto Andrew! Se eu não tirar ele vão nos encontrar!

Bufei para ele e parei quieto para que ele tocasse em meu braço à procura da pequena elevação onde estava o minúsculo aparelho. Com a ponta da faca ele começou a rasgar minha pele e tentei não gemer de dor. Com rapidez ele tirou o chip do tamanho de um grão de arroz e o jogou no chão pisando e esmagando ele. Tiol puxou um lenço branco e colocou no ferimento que sangrava.

— Vamos!

Voltamos a correr, mas agora parecia que os barulhos de luta nos cercavam e fumaça levantava-se por todos os lados.

— Temos que nos esconder – disse Tiol parando perto de uma grande tampa de ferra fundido da rede de esgotos.

— Nem pensar! – gritei – Eu não vou me enfiar nos esgotos. Prefiro levar um tiro de canhão de energia na cara.

— Pare de ser idiota! É a rede de águas pluviais antiga. As casas tem seu próprio sistema de tratamento de esgotos.

Ainda assim eu não queria ir, mas Tiol retirou a tampa com facilidade mostrando um buraco escuro onde descia uma escada.

— Entre!

Preferi não discutir. Minha mão começava a latejar assim como a minha cabeça. Tirei a lanterna do bolso e tentando segurá-la e descer para o subterrâneo, felizmente a escada não era alta e logo pisei em água escura. Estava em um túnel de pedra com cerca de dez centímetros de água e com um cheiro horrível de mofo. Ao longe o túnel ramificava em outros e eu ouvia o som da água pingando e de pequenas coisas arrastando.

— Nós podemos nos perder aqui – disse para Tiol que havia fechado o bueiro com a tampa e descera para o meu lado.

— Vamos seguir a água, ela desemboca no rio fora da cidade.

Começamos a nossa jornada através daquele buraco que mais parecia um imenso labirinto de túneis que iam se lugar nem para qualquer lugar, mesmo que estivéssemos seguindo a água não parecia que estivéssemos chegando ao fim.

Acima de nós um grande estrondo estremeceu tudo fazendo poeira e teias de aranha cair em nós. A luta acima parecia estar forte.

— Porque eles estão lutando? – perguntei – São tropas do governo e você me disse que o país é muito ligado ao seu pai.

— Eu também não estou entendendo, é quase como se tivesse havendo uma guerra acima de nós.

Continuamos a andar e eu comecei a me sentir estranho. Com um calor abrasador em um momento e um frio que me fazia trincar os dentes em outros. Estava meio tonto por causa da dor de cabeça e a boca seca. Minha mão estava inchando e eu nem conseguia abrir os dedos.

Passamos por uma grade que pendia frouxa das dobradiças e dava para um ambiente cavernoso que iluminei curioso.

— As antigas linhas de metro subterrâneo – disse Tiol – Antigamente as usávamos, mas quando a nossa população diminuiu criamos trens de superfície.

— Lá está seco – gemi – Será que não podemos parar um pouco?

— Precisamos sair da cidade Andrew e dar um jeito de sairmos de Almeora.

Bem, eu não tinha energia nem para brigar com ele e Tiol deve ter notado algo de estranho, pois tomou a lanterna de mim e iluminou meu rosto.

— Ei! – protestei ante a luz forte em meus olhos.

— Você está pálido, mas há partes muito vermelhas em seu corpo – olhou minha mão que eu mantinha junto ao peito – Deixa eu dar uma olhada nisso!

Eu nem tinha energia para protestar e brigar com ele, deixei que observasse a queimadura que havia adquirido um feio tom vermelho em volta com um prurido amarelo e de odor forte.

— Sua mão está toda inflamada! – disse Tiol olhando raivoso para mim como seu tivesse culpa.

Tentei dar-lhe uma resposta sarcástica o que terminaria com nós dois brigando, mas o que eu queria mesmo era me deitar e dormir, esquecer a dor e o frio.

O príncipe deu um suspiro raivoso e foi até a grade e a deslocou de suas dobradiças velhas com facilidade dando espaço para que entrássemos no local seco, coberto de poeira e teias de aranha. A antiga estação de metrô era tão grande que o facho de luz da lanterna não conseguia iluminar todo.

— Precisamos fazer um curativo melhor nisso ou vai acabar desmaiando por ai.

De repente luzes nos cegaram e uma voz disse autoritária:

— Parados se não querem levar um tiro!

Não dava para ver nem quem nem quantos eram, mas a verdade era que eu estava tão mau que estava pouco lixando para isso. Tiol me segurou antes que eu caísse de cara no chão.

— Baixem essas porcarias! – disse uma voz de mulher – Não estão vendo que são apenas garotos perdidos!

As luzes abaixaram e pude ver que eram quatro pessoas: uma bela mulher humana de cabelos castanhos e longos com brilhantes olhos verdes, um rapaz mestiço alto e com os cabelos castanhos e olhos verdes, um menino, não mais que uma criança, de cabelos prateados curtos e olhos vermelhos e um aurifense puro com os olhos de rubi nos olhando com desconfiança, todos empunhavam armas.

— Só queremos um lugar para ele descansar – disse Tiol apontando com a cabeça para mim que estava apoiado em seu peito.

— Ele está doente? – perguntou a mulher baixando a sua arma.

— Tem um ferimento que está infectado.

— Porque estão aqui? – perguntou o homem com cara de poucos amigos.

— Porque vocês estão aqui? – perguntou Tiol rígido.

— Ah! Parem com isso! – disse a mulher – Tiesis, Karl, Mark baixem essas armas, se eles fossem nossos inimigos já estaríamos com o exercito aqui. Traga o menino!

Os homens abaixaram as armas, mas continuavam a nos observar.

Com a ajuda de Tiol caminhei para os fundos da estação onde parecia que era habitada com camas e mesas em um canto, escondidos por panos velhos e pretos tornando o lugar invisível, havia mesmo luz elétrica que de uma lâmpada acima das camas. Um fogão a lenha queimava lentamente em um canto com uma panela em cima soltando vapor e cheiro de carne cozida enchia o ambiente.

— Meu nome é Ana e sou uma ex escrava. Casei com Tiesis que era o meu dono pelas leis do planeta, mas aqui os humanos são muito mau vistos e o pai de Tiesis o deserdou. Conseguimos nos manter por alguns anos até que bem quando as leis sobre humanos e mestiços nos empurrou para as ruas e por fim para cá.

Eu a ouvia em meio a todo atordoamento em que estava imerso. Tudo parecia vir de muito longe e dei um suspiro de alivio quando alguém segurou a minha mão e as vozes pareciam vir de muito longe até que apaguei de vez.

Acordei minutos ou horas depois, não sei precisar, e dei com Tiol segurando um pano em minha testa me olhando de forma estranha.

— Como você está? – ele me perguntou retirando o pano e senti o ar frio bater em meu rosto me fazendo estremecer.

— Com frio – gemi e percebi que nada me cobria.

— Se eu colocar o cobertor térmico em você sua febre não vai melhorar.

Os outras estavam em um canto e Ana se aproximou com duas tigelas de onda saía vapor.

— Como você está? – perguntou ela ajoelhando-se perto deles.

— Cansado, com frio – gemi para ela que me olhou sorrindo de um modo cálido e entregou uma tigela para Tiol acariciando os meus cabelos com um carinho de mãe que eu nunca havia tido.

— Limpamos a sua ferida e lhe demos um remédio contra a infecção. Espero que você melhore à partir de agora. Quer comer algo?

Balancei a cabeça me sentindo miserável. Só de pensar em comer eu sentia náuseas.

— Você está se comer há muito tempo, é por isso que não consegue comer. Tente só um pouquinho.

Ela fez para mim cara de cachorrinho perdido e eu percebia que não podia negar nada a ela.

Com a gentileza que me fez olhar contrariado para ele, Tiol me ajudou a sentar e Ana segurou uma colher de cozido diante da minha boca e engoli um pouco da sopa de carne e raízes, que mesma rala estava muito boa.

Depois que meu estomago se acostumou com a comida quente eu não consegui mais de parar de comer. Ela riu de mim quando viu a tigela vazia.

— Melhor? – ela riu para mim dando um beijo no meu rosto e fazendo um carinho que ficou vermelho até a raiz dos cabelos.

Ana era alguém tão alegre e sincera que era impossível brigar com ela, era como se a alegria ficasse em volta dela.

— Porque não descansam? As coisas sempre parecem melhores depois de um bom sono. Minha mãe dizia que eu era uma idiota com complexo de Polyanna, mas eu prefiro isso a ser uma resmungona chata.

Sua risada cristalina flutuou no ar frio da antiga plataforma de metrô aquecendo o meu coração.

— Eu nunca vi uma humana como ela – disse Tiol.

— Você não conhece muitos humanos não é? Alguns de nós são assim mesmo, mas você tem razão, ela é incrível.

Voltei a deitar e Tiol ficou do meu lado olhando para a escuridão.

— Aqui podemos estarmos seguros, mas temos que partir e chegar aos revolucionários, alem de tudo eles nem mesmo tem o que comer. Sua comida esta acabando.

— O que você acha que aconteceu aos outros Tiol?

— Eu quero acreditar que todos estejam bem Andrew, mas a possibilidade é pequena.

Ficamos ali os dois perdidos em nossos pensamentos até que o sono chegasse.


~~~***~~~


Acordei ao som de conversas. Abrindo os olhos percebi que tudo estava escuro como antes e uma fogueira iluminava Ana e sua família junto com Tiol.

O rosto dele parecia estranhamente calmo para aquela situação e eu podia dizer que ele parecia em paz pela primeira vez em muito tempo.

Minha mão dia menos, mas minha dor de cabeça não tinha passado e meu estômago não estava nada bem. Tentei sentar, mas o mundo girou e cai de encontro ao colchão de ar gemendo.

— Fique quieto – resmungou Tiol perto de mim colocando a mão no meu ombro para que eu não sentasse.

— Droga Tiol! Preciso ir ao banheiro – olhei contrariado para ele, mas o bendito teve o desplante de rir de mim.

Devo confessar que estava achando muito estranho aquele novo Tiol, parecia mais que alguém tinha colocado uma pessoa muito parecida no lugar do verdadeiro, porque um clone ia ser o mesmo chato de sempre.

Ele me ajudou a ir a um banheiro nos fundos. Era um banheiro pequeno, talvez dos funcionários do metrô, mas estava limpo e luz elétrica. Fiquei imaginando se o chuveiro funcionava, eu adoraria um banho.

Tranquei-me em um cubículo e vomitei tudo que tinha no estômago. Como é que as mulheres suportam aquela fase? Eu vivia enjoado e sentindo que o meu humor oscilava em uma montanha russa maluca, logo estaria gordo. Ai meu Deus! Eu ia ficar ridículo! Uma mulher podia até ficar bonitinha, mas eu?

— Morreu ai dentro Andrew? – Tiol socou a porta e eu soltei alguns elogios para ele, mas o idiota voltou a rir.

— Quem é você e o que fez com aquele príncipe imbecil? – abri a porta olhando para os olhos vermelhos dele – Não que eu esteja reclamando, mas fico pensando no pai, que não sei porque cargas d’água gosta dele.

— Vejo que continua com o mesmo humor.

Rosnei para ele mostrando o meu real humor.

— Venha – ele segurou o meu braço – Só andei conversando com Sara e ela consegue transformar o humor de qualquer um.

— Prefiro continuar com a teoria de que você não é o Tiol.

Voltamos para o local onde as pessoas estavam reunidas e sentei encostado na parede de cimento com Tiol do meu lado com o braço nos meus ombros fazendo eu olhar estranho para ele.

Com certeza ele deve ter tido algum tipo de surto psicótico.

— Desculpe a nossa recepção – disse o aurifense adulto com um sorriso para mim – Mas todo cuidado é pouco, pois isto aqui pertence ao governo e se nos encontrassem aqui seriamos condenado à prisão por anos.

— Não se preocupe com isso – disse sorrindo para ele.

Os dois garotos me olhavam e pareciam bem ariscos. Eles estavam com medo e na época em que vivíamos é o que todos nós mais sentíamos.

— Como você está? – Ana me perguntou com um sorriso caloroso.

— Melhor, obrigado.

— Precisamos ir procurar comida – disse Karl, o filho mais velho – Hoje é dia de feira e posso achar alguma coisa com os feirantes.

— Irei com você filho – disse Tiesis, mas o filho o interrompeu.

— Pai o senhor é procurado e ver um aurifense puro catando sobras nas feiras é algo que vai chamar muito a atenção.

— Preciso de noticias – disse Tiol – Tenho que subir lá em cima para ver o que está acontecendo.

— Você vai chamar ainda mais atenção que meu pai!

— Eu posso esconder meu cabelo em alguma capa ou coisa assim o que não posso é ficar aqui esperando sem saber nada.

— Não espere ter muitas informações – disse Tiesis – O imperador controla toda a imprensa.

— Eu tenho os meus caminhos e juro que não vou chamar a atenção sobre a sua família. Jamais faria algo que pudesse comprometer as suas vidas depois de ter ajudado e mim e ao Andrew.

— Eu vou achar alguma capa para você – disse Karl, mas ele parecia ainda não ter concordado plenamente com a situação.

— Você tem certeza disso? – perguntei para Tiol.

— Vou ser cuidadoso – disse ele fazendo um carinho em minha barriga e eu quase pulei com aquilo.

Sabia que o feto gostava de ter ambos os pais e quando isso acontecia, eu mesmo tinha uma grande sensação de bem estar que vinha de dentro de mim.

Não sabia o que dizer para aquele novo Tiol, mas eu não ia ficar tecendo ilusões, pessoas não mudam do dia para a noite, mas se ele queria mesmo mudar ia continuar tentando, mesmo cometendo erros e eu estava disposto a dar uma chance para ele, mesmo pequena.



  

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O Escravo - Capitulo 20 A Caçada Parte I

Capitulo 20 – A Caçada
Parte I

Era noite no planeta quando caímos. Não podia ver nada que não fosse o brilho do fogo que nos cercava. Era bom que a cabine fosse à prova de fogo, mas eu não via como a gente não virar uma mancha no terreno abaixo de nós que se aproximava rápido.

— Almeora – resmungava Tiol – Tantos lugares e tinha que ser em um país subdesenvolvido.

— Eu não acredito que você está dando uma de preconceituoso com a gente prestes a morrer! – gritei com ele.

— Cale a boca Andrew! Eu não estou reclamando por preconceito merda! Almeora é um país com poucos recursos e que é muito ligado ao meu pai, vai ser difícil conseguir ajuda.

Certo, eu havia errado, mas eu não ia pedir desculpas para esse grosso, nisso estejam certos!

O painel da nave apitou mostrando que estávamos a cem metros do chão e segundos depois senti um solavanco que quase me arrancou do banco. Meu corpo foi jogado de um lado para o outro e minha cabeça bateu em algo que eu não identifiquei e fiquei fora do ar por alguns minutos. Ao acordar vi que estava de cabeça para baixo sustentado pelo cinto de segurança.

Gemi de dor de cabeça e tossi com a fumaça que entrava pela cabine.

— Tiol! – gritei, mas não houve resposta.

De repente a nave rolou ficando na posição certa e eu pensei que ia vomitar com as náuseas que subiram à minha garganta pela dor de cabeça.

Tentei sacudir o ombro do príncipe e vi que ele estava desacordado e eu esperava que fosse apenas desacordado.

Havia um painel na minha frente e eu felizmente sabia qual botão apertar para erguer a cobertura. Com um barulho hidráulico a capota de vidro blindado subiu e eu percebi que estávamos em um oceano de fumaça com fogo que parecia vir debaixo da cabine salva vidas.

Levantei superando a tontura e olhei Tiol que estava com o rosto coberto de sangue que vinha de um profundo corte que descia de sua testa indo até a têmpora. Mesmo comigo chamando e balançando o seu ombro ele não acordou e eu não tive outra opção. Retirei o cinto dele e pulei para o seu banco.

Até hoje eu não sei como eu coloquei o grande aurifense sobre um ombro e pulei para o chão, acredito que a adrenalina tenha ajudado muito.

Assim que meus pés tocaram o chão meus joelhos dobraram e eu tentei não machucar Tiol ainda mais. Arrastei ele para longe da fumaça e voltei para a cabine.

Sei o que vocês devem estar pensando: “O que esse louco vai fazer lá?” A verdade é que eu sabia algo sobre as naves, havia sido um dos poucos assuntos que prendeu o meu interesse na vida. Dentro das cabines de socorro normalmente havia uma mochila com suprimentos e materiais de sobrevivência. Eu precisava achá-la se queria ajudar Tiol e sobreviver ali.

Escalei com alguma dificuldade os destroços que estavam ficando quentes e com labaredas subindo por sua parte traseira. Quase sufocado pela fumaça eu procurei achando a mochila do lado do meu banco. Deveria ter outra, mas eu não tinha tempo.

Quando ia sair à nave adernou e eu caio para trás voltando à cabine e vi a cúpula se fechando e eu não sabia se eu ia conseguir abri-la. Tentei ficar em pé, mas meu pé escorregou e eu fui com tudo para trás e a nave continuou virando e a cúpula de vidro se fechando para me prender em um forno.

Empurrei meu corpo para frente, segurei no metal quente as borda queimando a minha mão, mas eu nem notei. Com um impulso desesperado eu pulei da nave no exato momento que ela rolou para uma ribanceira que eu não notara por ser noite fechada. Escutei o estrondo de quando ela parou lá no fundo e o brilho das chamas ajudaram a ver que estávamos em uma floresta fechada e por muito pouco não caímos no fundo de um cânion.

Suspirei de alivio e senti a queimadura na minha mão, mas não havia tempo para sentir pena de mim mesmo. Erant estava morto e eu não ia deixar Tiol morrer também, mesmo que a minha vontade fosse eu dar uns tapas por essa ideia idiota.

Mancando voltei para junto dele e tateei na mochila até achar uma lanterna e dar uma melhor olhada no príncipe.

— Droga odeio sangue.

Respirei fundo e comecei a colocar uns curativos no corte depois de tê-lo limpado. Os curativos feitos de gel colaram a pele e selaram o sangue fazendo o ferimento se fechar rapidamente e deixar pouca cicatriz. Tentei fazer um curativo em minha mão, mas eu não tinha ideia do que passar nela e apenas usei um gel para aliviar o ardor e a enfaixei. Coloquei a mochila no ombro e respirei fundo empurrando Tiol novamente para o meu ombro e a passos de bebê eu fui me embrenhando na floresta tentando me afastar o máximo possível do lugar do pouso.

Não sei quanto eu andei e para que lado eu fui. A lanterna iluminava apenas um pequeno circulo e eu ficava sempre a escuta de naves, mas o único som eram os meus arquejos e o barulho dos animais. Até aquele momento eu tentara não me preocupar com eles.

Algum tempo depois eu não conseguia dar mais nem um passo e parei perto de uma rocha chata que se projetava da vegetação. Olhando por baixo dela percebi que era uma caverna e que não era habitada por mais nada. Arrastei-me para lá puxando Tiol e me vi em uma laje de pedra com paredes de três lados e uma entrada apertada. O teto era alto o suficiente para que eu ficasse em pé e acreditei que estávamos seguros ali por enquanto; era hora de montar acampamento apesar de ser um leigo total em sobrevivência eu tentei usar o que sabia do que assisti em filmes de aventura.

Abri a mochila tirando o colchão de campanha que se enchia de ar e ficava confortável e o estendi na laje colocando o peso morto do Tiol lá. Revirei o restante da mochila. Não havia muita coisa: um cobertor térmico, a caixa de primeiros socorros e um saquinho com três barras de energia, nada mais, nem radio ou uma arma.

Desanimado eu deitei perto de Tiol puxando o cobertos para nós e usando a mochila de travesseiro me forcei a dormir. Eu não queria pensar em estar grávido, na frieza de Tiol, na guerra, em Erant morrendo nos meus braços, em estar perdidos e no porque eu me importei tanto com aquele maldito príncipe que devia ter um cubo de gele em vez de coração. O que eu precisava era manter minhas forças para sobreviver. Fechando os olhos eu mergulhei no mundo dos sonhos que tampouco foi gentil comigo.

Acordei sobressaltado com Tiol gemendo e sentando. Havia alguma luz do dia entrando pelas frestas das plantas que escondiam a entrada. Vi o quando ele estava pálido e como segurava a cabeça.

— Merda! Minha cabeça!

— Infelizmente você ainda esta com ela – ele me olhou como se visse um fantasma – O que? Achou que eu estava morto? Se fosse assim quem ia salvar essa sua bunda branquela?

— Do que você está falando?

— Da sua estratégia idiota! – gritei para ele – Nós caímos como um meteoro. A cabine se incendiou e você bateu a cabeça sei lá onde e eu tive que ti jogar em meu ombro e pular para o chão. O que restou da nave caiu em um precipício em chamas.

— Ótimo, assim vão pensar que caímos lá e talvez escapemos de sermos procurados.

— Que?! EU salvei a sua vida patética e você diz ótimo? Eu deveria tê-lo deixado queimar lá!

— Por que não o fez?

Até hoje ao lembrar-se disso eu tenho vontade de bater tanto no Tiol que ia deixá-lo na cama por uma semana.

— Quer saber? – eu me levantei para sair – É porque eu não sou como você, eu não sou como seu pai. Acredito que se fosse comigo teria me deixado morrer ali.

Lancei um olhar de desprezo para ele e sai para a floresta e olhando pasmo à minha volta. As árvores eram tão altas que eu inclinei bem a minha cabeça para olhar bem para elas. Haviam mais rochas por ali e em meio delas nasciam arbustos cobertos de flores azuis que floresciam em cachos e tinham um perfume doce de mel. As plantas rasteiras eram roxas e cobriam o chão em meio às folhas que caiam das arvores gigantes. Ali perto havia uma nascente que gorgolejava mansamente descendo por pedras e sumindo de vista.

— Andrew! – Tiol saiu lançando um olhar surpreso para onde estávamos – Uma floresta de pinas! São árvores de reflorestamento muito antigas. Devemos estar perto de alguma cidade.

Eu procurei ignorar que ele existia.

— Andrew me desculpe...

— Desculpas?? – virei para ele colocando o dedo em seu rosto – Eu to cheio de você! Você não merece ter um pai como Abrahan que aceitava as torturas do imperador só para ti proteger! Você não merece ter um filho e eu sinceramente não quero que ele ti conheça!

— E você é o que? Perfeito?

— Não, mas eu mudei, eu aceitei mudar e você não. Saiba que esta matando o que eu pude ter sentido algum dia.

— Mesmo? – ele tocou na testa e me olhou de um modo como nunca fizera – Acha que eu finalmente consegui isso? Por que era o que eu queria desde o inicio. Você não pode me amar, ninguém pode e é melhor assim.

— Que doidera você ta falando?

— Você mesmo disse Andrew, eu não sou boa pessoa.

— Por quê?

— Eu sou um monstro e isso é o que eu preciso para pagar os meus pecados.

— Tiol!...

— Eu... – ele deu uma risada sem alegria – Eu vi ele o matar e não fiz nada, nada. Mereço o ódio, mereço a raiva.

— Você quer me dizer o que está falando?

— Não. Precisamos achar um modo se nos comunicarmos com os revolucionários.

— De jeito nem! Eu não vou ficar aqui me remoendo sabendo que você tem as respostas para tudo isso. Me fale!

— Você quer saber a verdade? – enfurecido Tiol segurou os meus ombros os apertando que iam deixar marcas roxas – Eu tinha um namorado há anos atrás, um garoto mestiço que era ajudante de limpeza. Passei a minha adolescência junto dele, fugindo para os bosques, nos amando até que meu pai percebeu e o pegou. Eu sabia do porão e corri para lá e quando vi meu pai o matando, cortando seu corpo em tirar eu fiquei com medo e fugi como o covarde que sou o monstro que há de verdade dentro de mim, afinal não sou filho do meu pai? O sangue dele não corre em minhas veias?

— Você teria salvado ele?

— O que?

— Me responda! Teria salvado ele?

— Não. Haviam guardas demais ali, ajudando meu pai com sua perversões. Eu em nada poderia fazer.

— Então você tem a sua resposta.

Ele me soltou como se a minha pele queimasse a sua mão e me olhou com os olhos vermelhos transtornados.

— Precisamos ir.

Ele parecia aturdido e eu procurei não pressionar ainda mais. Juntamos as nossas poucas coisas e iniciamos a caminhada segundo o córrego em que a nascente se transformava ao longo do caminho.

Bem, aurifenses devem ter uma grande resistência, mas eu sou apenas humano e depois de algumas horas eu estava sentindo cada parte dolorida do meu corpo e minha mão latejava alem de estar com muita fome.

Eu parei cruzando os braços.

— Tiol! – gritei para ele e o príncipe virou-se sobressaltado – Eu sei lá de onde você tira sua energia, mas eu preciso comer e descansar.

— Não temos tempo para isso Andrew!

— Então vai sozinho – respondi perdendo a minha pouca paciência – Eu vou me sentar aqui e esperar o mundo acabar.

Sentei no chão e o aurifense veio até mim trotando.

— Por que você tem que ser tão teimoso?

— E porque você tem que ser tão insensível? – rebati.

O príncipe bufou e sentou ao meu lado revirando na mochila e tirando uma das barras de energia e dando para mim. Ele comeu a outra com ar ausente e eu quase cuspi aquele treco que tinha gosto de manteiga e trigo.

— Precisa ser tão ruim?

— Pare de reclamar!

— Depois de ter salvado a sua vida ontem acho que adquiri esse direito.

— Vai ficar jogando isso na minha cara?

— Com prazer.

Ele voltou a bufar e eu não consegui deixar de rir. Ele me olhou ainda mais contrariado, mas eu vi uma leve torção em seus lábios como se ele estivesse tentando não sorrir de mim.

Bem, era um começo.

Dez minutos depois voltamos a andar e eu xinguei ele de tirano e ele me mandou... bem isso é melhor pular.

A tarde já estava chegando quando avistamos uma auto-estrada, mas onde transitavam alguns carros tão velhos que nem os museus da Terra iam querer e na sua maioria haviam carroças com cavalos, eles pareciam cavalos, mas eram de tantas cores que eu fiquei na duvida se havia salão de beleza eqüino para tingir pelos.

Assumindo o risco Tiol aceitou a carona de um velho senhor mestiço que nos olhou curioso, mas nada disse.

Entramos em uma cidade e eu percebi que estávamos imersos na pobreza. As casas eram de tijolos de barro, as ruas não tinham calçamento e o transito levantava nuvens de poeira que espiralava por entre casas velhas e lojas decrépitas. Descemos em uma praça e vimos que o único telefone publico não funcionava.

— Maravilha! – resmunguei – O que a ente faz agora?

Não sei o que Tiol ia responder, mas fosse o que fosse se perdeu no estrondo dos helicópteros chegando, dezenas deles escurecendo o céu a chamando a atenção de todos. Eles desapareceram ao oeste por entre as casas, mas o que eles deveriam estar procurando era um lugar para pousar e deveria ser fora da cidade.

Tiol me arrastou para um amontoado de casas em meio a becos e lixo tentando nos esconder da caçada que ia ter inicio.     

domingo, 5 de agosto de 2012

O Escravo - Capitulo 19 E Com o Fogo Eu Ti Purificarei

Capitulo 19 – E Com o Fogo Eu Ti Purificarei


Yaci manobrou a nave em busca de uma saída. Naves militares viam de todos os lados e ele havia preferido voar baixo e não partir para a atmosfera como vira Tiol fazer, mas o irmão era um grande piloto e ele pilotava melhor na atmosfera. Ele não vira por onde Abrahan fora e seu coração doía em pensar que podia perder mais uma pessoa da sua família, aliais, que podia acabar perder todos eles por causa da sandice do imperador. Não conseguia ainda pensar em Erant como morto.

— Mestre – Ian murmurou no banco de trás e ele percebeu o medo na voz dele.

— Vai ficar tudo bem Ian. Vamos sair dessa.

Ian estava assustado, mas também cheio de raiva com o que acontecera a Erant, ao risonho irmão de Yaci. Como um pai podia pensar em fazer aquilo com seu filho? Ele tocou em sua barriga lisa pensando no que ele carregava e mesmo sendo um choque no inicio a possibilidade de ter um filho do seu mestre era tão maravilhosa que ele nem ligava ter sido parte de uma experiência por um doido.

A nave deu uma brusca guinada para a direita e aquela velocidade estavam saindo do continente indo para o mar com muitas naves atrás deles. Deveriam estar em cerca de cinco vezes a velocidade do som cortando o céu deixando um rastro de condensação atrás de si como uma calda branca.

As naves dispararam, mas Yaci manobrava de modo que a nave estava sempre em movimento para cima ou baixo, direito ou esquerdo e Ian não sabia como ele não perdia o controle com aquelas manobras.

Outro continente apareceu abaixo deles com o sol se pondo e tudo envolto em uma estranha luz cor de rosa deixando as matas à que subiam e desciam suaves morros em um tom verde esmeralda.

— Não tem outro jeito – suspirou Yaci que manobrou a nave para atacar os perseguidores.

O príncipe não queria mais morte, sabia que muitos daqueles militares o encaravam e sua família como traidores do império, traidores de sua crença e estavam arriscando as suas vidas por isso. Pensou em Erant que também havia arriscado a sua vida por um ideal, por sua família.

“Irmão!”

Uma lágrima rolou por seu rosto enquanto com sua habilidade ele abatia uma a uma das naves vendo aliviado, os pilotos ejetarem as cabines salva-vidas. Ele podia atirar neles, estavam desprotegidos; ele podia se vingar pelo irmão.

— Mestre – Ian colocou a mão no ombro dele do banco de trás como se lembrando ao príncipe que ele não era o imperador e não podia se tornar um ou tudo pelo que estava lutando era em vão.

— Tudo bem pequeno. Eu ainda estou com os pés no chão.

Deixando os destroços para trás Yaci olhou para o radar que mostrava que estavam sendo rastreados e em segundos haveria um enxame de naves em cima deles.

— Temos que ficar aqui ou não vamos escapar Ian, segure-se!

Ele ejetou a cabine deixando a nave voar no piloto automático rumo ao oeste enquanto eles desciam para uma região coberta de matas.

A cabine pousou suavemente em meio a um amontoado de arvores que lembravam pinheiros.

— Ian atrás do seu banco tem uma mochila de sobrevivência. Pegue ele e vamos descer e tentar colocar distancia da cabine.

Yaci levantou a cúpula de nave deixando o ar da tarde perfumado entrar na cabina da nave. Ele e Ian pegaram cada um suas mochilas e desceram da nave que agora não passava de um casulo sem serventia.

— Ian – Yaci olhou sério para ele – Precisamos tirar o chip de você ou seremos localizados.

— Eu tinha me esquecido dele – Ian ergueu a manga da blusa olhando para o ponto onde ele fora colocado há anos atrás.

— Me desculpe – Yaci estava com uma faca – Não tem como fazer isso de outro modo.

— Isso é apenas uma pequena – ele segurou o rosto atormentado de Yaci que beijou a sua mão.

Com os dedos apalpou o local onde ele imaginava ficar o chip do tamanho de um grão de arroz e logo sentiu um ponto duro. Usando a ponta da faca ele começou a cortar a epiderme e depois afundou mais em sua pele chegando à derme onde ficava o chip e usando a ponta da faca empurrou o dispositivo para fora não o quebrando. Colocou um lenço em cima do pequeno corte e olhou Ian que sorria para ele.

— Vamos Ian – segurou a mão do outro e se embrenharam na mata que estava escurecendo.

O ar frio cheirava a mato e pinho e o barulho de pássaros grasnando no alto das arvores estavam presentes. Suas botas esmagavam folhas e galhos mortos com plantas rasteiras nascendo em meio a toda a vegetação e aos grandes troncos caídos. O terreno subia lentamente e eles toparam com um pequeno rio que gorgolejava por entre pedras cheias de limo.

Yaci pegou um galho seco e colocou o chip e Ian nele deixando que ele seguisse o curso do rio ladeira abaixo.

Ian deu uma risada ao ver que eles iam ficar procurando por eles por muito tempo se seguissem o seu chip.

Yaci olhou para ele também sorrindo, mas logo ficou sério fazendo um carinho apressado na cabeça dele e voltaram a caminhar.

— Estamos no continente de Delanios, ao norte. É uma região selvagem com um povo que não é muito amigo do meu pai. As pessoas daqui são grandes guerreiros e honradas, foram os primeiros a se levantarem contra Adamas.

— Acha que eles nos ajudaram? – perguntou Ian.

— Eu espero que sim, mas devemos ter cuidado com quem pedimos ajuda, pois há traidores em todos os lados.

A noite caiu e eles seguiram viagem na luz da lanterna. Estavam cercados por uma aura verde que pertencia ao aparelho de anti localização que ia impedir que eles fossem encontrados pelas naves que sobrevoavam toda a área.

Eram cerca de três da manhã quando Ian tropeçou caindo e deixando a sua lanterna cair. Estava tão cansado que as suas pernas dobravam sozinhas. Seu corpo doía e ele sentia uma dorzinha incomoda no abdômen.

— Ian?! – Yaci segurou seu baço ajudando ele a se levantar, mas suas pernas pareciam serem feitas de gelatina.

 — Desculpe mestre – gemeu o rapaz – Eu não consigo mais – ele ofegava.

— Temos que parar, mas não dá para ser ao ar livre. Vamos tentar achar uma caverna, apóie-se em mim.

Eles iniciaram a busca por um local para ficar, mas parecia que não iam achar nada e Ian já estava a ponto de desmaiar quando acharam uma rocha chata e abaixo dela um canto seco coberto de areia com três lados cercados por pedras e uma pequena entrada que Yaci tapou com um punhado de galhos.

Ian sentou não tendo forças nem mesmo para tirar a mochila das costas.

O príncipe fez isso para ele e preparou uma cama com um colchão fino como um tecido, mas que enchia de ar ficando com dez centímetros de altura e confortável.

— Vamos pequeno – disse ele ajudando o rapaz a deitar no colchão de ar.

Ian dormiu imediatamente, mas Yaci ainda tinha que impedir que eles fossem localizados e colocou na rocha acima da cabeça deles um aparelho do tamanho de uma noz que ia bloquear os localizadores. Outro foi colocado na entrada cheia de galhos e ia avisar se algo entrasse. Finalmente pode retirar a jaqueta e deitar no colchão do lado de Ian e cobri-los com um cobertor térmico.

Enquanto abraçava o rapaz humano que se aconchegou a ele sua mente foi para Valdi, Tiol, Andrew, Abrahan e... Erant e pela primeira vez em sua vida chorou sem medo ou vergonha, chorou por sua família e por todas as famílias de Aurifen e jurou a si mesmo que faria o possível para que essa guerra acabasse logo e ele pudesse ajudar seu povo a se erguer.

Cansado e cheio de uma tristeza que parecia que ia sufocá-lo fechou os olhos tentando achar consolo no filho que crescia na barriga do Ian.


~~***~~~


O dia amanheceu cinzento e frio. O dia ameaçava chuva e Yaci rastejou para fora da pequena caverna olhando em volta ainda ouvindo o barulho das naves acima dele e ao longe o som de acanhoes atirando em algo. A guerra parecia estar se desenrolando ao longe e isso o preocupava. Se os conflitos estivessem muito acirrados seria difícil chegar perto de uma cidade.

Ao leste ficava a vila de Ralas onde ficava um dos comandos dos revolucionários e era lá que ele queria chegar. Precisava saber o que estava acontecendo e até que ponto a perda da base central havia interferido em seus planos.

Não sabia se vinha ajuda de Valdi, mas esperava que o irmão estivesse bem. Havia decidido ao acordar que a única forma de acabar com tudo aquilo seria chagar até seu pai e matá-lo, mas não podia fazer isso de forma velada, tinha que ser em frente ao povo em frente às câmeras para provar a todos os seus planos.

Matar seu pai não era o que ele queria desde o inicio. Queria que Adamas tivesse um julgamento e fosse punido por seus crimes, mas se insistisse nessa ideia o que ia acarretar eram mais mortes. Ele precisava fazer algo e era essa a sua chance. Teria que entrar no castelo, um dos lugares mais bem guardados de Aurifen, mas ele conhecia a construção como a palma da sua mão.

Voltou a entrar na caverna escura retirando de dentro da mochila uma barrinha de ração. Não tinha o melhor sabor, mas era rica em açúcar e carboidratos e eles precisavam de energia. Foi até Ian que ainda dormia e colocou a mão em seu ombro tentando acordá-lo de forma calma, mas o rapaz deu um pulo ao ser tocado.

— Calma pequeno, sou eu.

— Desculpe mestre. Eu ainda acho que estou na casa do conde sendo acordado por ele e... – Ian passou a mão na testa parecendo pálido e mais cansado que na noite anterior.

— Ian? – Yaci tocou em sua testa percebendo que ele estava com febre – Você está sentindo alguma coisa?

—Eu estou bem mestre.

— Ian! Precisamos ser sinceros uns com os outros aqui para que possamos sobreviver. Agora vou perguntar novamente e quero uma resposta sincera. Está sentindo alguma coisa?

— Perdoe-me mestre – ele inclinou a cabeça – Eu tenho dores no corpo e o pé da minha barriga dói. Acho que estou gripado.

— Sua barriga? – Yaci tocou no abdômen dele e deu um leve aperto no local fazendo o menino gemer.

— Precisamos chegar a uma vila ou algo assim com um médico, mas você não tem condições de andar.

— Não podemos ficar aqui. Estamos sendo procurados.

— Esperemos que você melhore Ian.

— Yaci – pela primeira vez ele disse espontaneamente o nome do príncipe – Eu consigo ti acompanhar. Não dá para ficarmos para trás enquanto meio mundo nos busca. Quando mais cedo chegarmos a um lugar seguro mais cedo vamos achar um médico.

— Você sabe que essa dor na barriga não é coisa boa Ian!

— Eu sei disso e é por isso que temos que partir. Ficar aqui vai acabar nos lavando para as mãos do seu pai. Imagina o que ele fará com o nosso filho Yaci?

— Eu sei – Yaci segurou o rosto dele com delicadeza – Rezo para que tudo isso termine e você tenha um filho saudável em um mundo de paz.

— Amén!

— Que palavra é essa?

— Pertence a uma língua da Terra que não é falada há milhares de anos e quer dizer que assim seja.

Eles se beijaram, mas foi um beijo doce e delicado como se cada um estivesse com medo de machucar o outro com isso.

Sabendo que não tinham mais tempo, desmontaram acampamento e voltaram a caminhar por entre as arvores da floresta que parecia não ter fim.

Durante todo o dia ouviram estrondos que ficavam mais próximos a cada minuto.

Com o correr do dia Ian estava ficando cada vez mais cansado e pálido. Pararam a cada hora por cinco minutos, mas quando a noite chegou Yaci praticamente carregava o menino que agora gemia com uma dor agonizante em sua barriga.

— Só mais um pouco – Yaci tentava animá-lo – Do outro lado do morro fica a vila e você vai poder descansar.

Ian tentou dar um sorriso, mas se transformou em um esgar de dor. Estavam chegando ao alto do morro e no horizonte havia uma grande luz como se estivessem chagando perto de alguma capital e não de uma vila de interior. Quando emergiram do outro lado puderam ver com horror o porquê da luz.

A vila queimava lá embaixo, toda ela em uma grande fogueira vermelha. Flutuando no ar os gritos chegaram até eles e o cheiro de queimado fez Ian vomitar o pouco que tinha nos estomago.

Yaci olhava estático aquilo. Aquela carnificina sem sentido e percebeu que se não chegasse logo ao seu pai esse era o destino de toda Aurifen.  




PS: PESSOAL ESTOU VOLTANDO PARA A FACULDADE NESTA SEMANA E AGORA POSTAR MAIS CAPITULOS SÓ NOS FINS DE SEMANA, MAS QUANDO EU TIVER UM TEMPINHO EU JURO QUE POSTO PARA VOCÊS. SAIBA QUE ESCRAVO PARA CADA UM DOS MEUS LEITORES COM O MAIOR GOSTO E QUE ADORO CADA UM DE VOCÊS. OBRIGADA POR LEREM E COMENTAREAM, VOCÊS SÃO INCRÍVEIS!
BEIJOS!