Capitulo 19 – E Com o Fogo Eu Ti
Purificarei
Yaci manobrou a nave em busca de uma
saída. Naves militares viam de todos os lados e ele havia preferido voar baixo
e não partir para a atmosfera como vira Tiol fazer, mas o irmão era um grande
piloto e ele pilotava melhor na atmosfera. Ele não vira por onde Abrahan fora e
seu coração doía em pensar que podia perder mais uma pessoa da sua família,
aliais, que podia acabar perder todos eles por causa da sandice do imperador. Não
conseguia ainda pensar em Erant como morto.
— Mestre – Ian murmurou no banco de trás
e ele percebeu o medo na voz dele.
— Vai ficar tudo bem Ian. Vamos sair
dessa.
Ian estava assustado, mas também cheio
de raiva com o que acontecera a Erant, ao risonho irmão de Yaci. Como um pai
podia pensar em fazer aquilo com seu filho? Ele tocou em sua barriga lisa
pensando no que ele carregava e mesmo sendo um choque no inicio a possibilidade
de ter um filho do seu mestre era tão maravilhosa que ele nem ligava ter sido
parte de uma experiência por um doido.
A nave deu uma brusca guinada para a
direita e aquela velocidade estavam saindo do continente indo para o mar com
muitas naves atrás deles. Deveriam estar em cerca de cinco vezes a velocidade
do som cortando o céu deixando um rastro de condensação atrás de si como uma
calda branca.
As naves dispararam, mas Yaci
manobrava de modo que a nave estava sempre em movimento para cima ou baixo, direito
ou esquerdo e Ian não sabia como ele não perdia o controle com aquelas
manobras.
Outro continente apareceu abaixo
deles com o sol se pondo e tudo envolto em uma estranha luz cor de rosa
deixando as matas à que subiam e desciam suaves morros em um tom verde
esmeralda.
— Não tem outro jeito – suspirou Yaci
que manobrou a nave para atacar os perseguidores.
O príncipe não queria mais morte,
sabia que muitos daqueles militares o encaravam e sua família como traidores do
império, traidores de sua crença e estavam arriscando as suas vidas por isso. Pensou
em Erant que também havia arriscado a sua vida por um ideal, por sua família.
“Irmão!”
Uma lágrima rolou por seu rosto
enquanto com sua habilidade ele abatia uma a uma das naves vendo aliviado, os
pilotos ejetarem as cabines salva-vidas. Ele podia atirar neles, estavam
desprotegidos; ele podia se vingar pelo irmão.
— Mestre – Ian colocou a mão no
ombro dele do banco de trás como se lembrando ao príncipe que ele não era o
imperador e não podia se tornar um ou tudo pelo que estava lutando era em vão.
— Tudo bem pequeno. Eu ainda estou
com os pés no chão.
Deixando os destroços para trás Yaci
olhou para o radar que mostrava que estavam sendo rastreados e em segundos
haveria um enxame de naves em cima deles.
— Temos que ficar aqui ou não vamos
escapar Ian, segure-se!
Ele ejetou a cabine deixando a nave
voar no piloto automático rumo ao oeste enquanto eles desciam para uma região
coberta de matas.
A cabine pousou suavemente em meio a
um amontoado de arvores que lembravam pinheiros.
— Ian atrás do seu banco tem uma
mochila de sobrevivência. Pegue ele e vamos descer e tentar colocar distancia
da cabine.
Yaci levantou a cúpula de nave
deixando o ar da tarde perfumado entrar na cabina da nave. Ele e Ian pegaram
cada um suas mochilas e desceram da nave que agora não passava de um casulo sem
serventia.
— Ian – Yaci olhou sério para ele –
Precisamos tirar o chip de você ou seremos localizados.
— Eu tinha me esquecido dele – Ian ergueu
a manga da blusa olhando para o ponto onde ele fora colocado há anos atrás.
— Me desculpe – Yaci estava com uma
faca – Não tem como fazer isso de outro modo.
— Isso é apenas uma pequena – ele segurou
o rosto atormentado de Yaci que beijou a sua mão.
Com os dedos apalpou o local onde
ele imaginava ficar o chip do tamanho de um grão de arroz e logo sentiu um
ponto duro. Usando a ponta da faca ele começou a cortar a epiderme e depois
afundou mais em sua pele chegando à derme onde ficava o chip e usando a ponta
da faca empurrou o dispositivo para fora não o quebrando. Colocou um lenço em
cima do pequeno corte e olhou Ian que sorria para ele.
— Vamos Ian – segurou a mão do outro
e se embrenharam na mata que estava escurecendo.
O ar frio cheirava a mato e pinho e
o barulho de pássaros grasnando no alto das arvores estavam presentes. Suas botas
esmagavam folhas e galhos mortos com plantas rasteiras nascendo em meio a toda
a vegetação e aos grandes troncos caídos. O terreno subia lentamente e eles
toparam com um pequeno rio que gorgolejava por entre pedras cheias de limo.
Yaci pegou um galho seco e colocou o
chip e Ian nele deixando que ele seguisse o curso do rio ladeira abaixo.
Ian deu uma risada ao ver que eles
iam ficar procurando por eles por muito tempo se seguissem o seu chip.
Yaci olhou para ele também sorrindo,
mas logo ficou sério fazendo um carinho apressado na cabeça dele e voltaram a
caminhar.
— Estamos no continente de Delanios,
ao norte. É uma região selvagem com um povo que não é muito amigo do meu pai. As
pessoas daqui são grandes guerreiros e honradas, foram os primeiros a se
levantarem contra Adamas.
— Acha que eles nos ajudaram? –
perguntou Ian.
— Eu espero que sim, mas devemos ter
cuidado com quem pedimos ajuda, pois há traidores em todos os lados.
A noite caiu e eles seguiram viagem
na luz da lanterna. Estavam cercados por uma aura verde que pertencia ao
aparelho de anti localização que ia impedir que eles fossem encontrados pelas
naves que sobrevoavam toda a área.
Eram cerca de três da manhã quando
Ian tropeçou caindo e deixando a sua lanterna cair. Estava tão cansado que as
suas pernas dobravam sozinhas. Seu corpo doía e ele sentia uma dorzinha
incomoda no abdômen.
— Ian?! – Yaci segurou seu baço
ajudando ele a se levantar, mas suas pernas pareciam serem feitas de gelatina.
— Desculpe mestre – gemeu o rapaz – Eu não
consigo mais – ele ofegava.
— Temos que parar, mas não dá para
ser ao ar livre. Vamos tentar achar uma caverna, apóie-se em mim.
Eles iniciaram a busca por um local
para ficar, mas parecia que não iam achar nada e Ian já estava a ponto de
desmaiar quando acharam uma rocha chata e abaixo dela um canto seco coberto de
areia com três lados cercados por pedras e uma pequena entrada que Yaci tapou
com um punhado de galhos.
Ian sentou não tendo forças nem
mesmo para tirar a mochila das costas.
O príncipe fez isso para ele e
preparou uma cama com um colchão fino como um tecido, mas que enchia de ar
ficando com dez centímetros de altura e confortável.
— Vamos pequeno – disse ele ajudando
o rapaz a deitar no colchão de ar.
Ian dormiu imediatamente, mas Yaci
ainda tinha que impedir que eles fossem localizados e colocou na rocha acima da
cabeça deles um aparelho do tamanho de uma noz que ia bloquear os
localizadores. Outro foi colocado na entrada cheia de galhos e ia avisar se
algo entrasse. Finalmente pode retirar a jaqueta e deitar no colchão do lado de
Ian e cobri-los com um cobertor térmico.
Enquanto abraçava o rapaz humano que
se aconchegou a ele sua mente foi para Valdi, Tiol, Andrew, Abrahan e... Erant
e pela primeira vez em sua vida chorou sem medo ou vergonha, chorou por sua
família e por todas as famílias de Aurifen e jurou a si mesmo que faria o
possível para que essa guerra acabasse logo e ele pudesse ajudar seu povo a se
erguer.
Cansado e cheio de uma tristeza que
parecia que ia sufocá-lo fechou os olhos tentando achar consolo no filho que
crescia na barriga do Ian.
~~***~~~
O dia amanheceu cinzento e frio. O dia
ameaçava chuva e Yaci rastejou para fora da pequena caverna olhando em volta
ainda ouvindo o barulho das naves acima dele e ao longe o som de acanhoes atirando
em algo. A guerra parecia estar se desenrolando ao longe e isso o preocupava. Se
os conflitos estivessem muito acirrados seria difícil chegar perto de uma
cidade.
Ao leste ficava a vila de Ralas onde
ficava um dos comandos dos revolucionários e era lá que ele queria chegar. Precisava
saber o que estava acontecendo e até que ponto a perda da base central havia
interferido em seus planos.
Não sabia se vinha ajuda de Valdi,
mas esperava que o irmão estivesse bem. Havia decidido ao acordar que a única
forma de acabar com tudo aquilo seria chagar até seu pai e matá-lo, mas não
podia fazer isso de forma velada, tinha que ser em frente ao povo em frente às câmeras
para provar a todos os seus planos.
Matar seu pai não era o que ele
queria desde o inicio. Queria que Adamas tivesse um julgamento e fosse punido
por seus crimes, mas se insistisse nessa ideia o que ia acarretar eram mais
mortes. Ele precisava fazer algo e era essa a sua chance. Teria que entrar no
castelo, um dos lugares mais bem guardados de Aurifen, mas ele conhecia a
construção como a palma da sua mão.
Voltou a entrar na caverna escura
retirando de dentro da mochila uma barrinha de ração. Não tinha o melhor sabor,
mas era rica em açúcar e carboidratos e eles precisavam de energia. Foi até Ian
que ainda dormia e colocou a mão em seu ombro tentando acordá-lo de forma
calma, mas o rapaz deu um pulo ao ser tocado.
— Calma pequeno, sou eu.
— Desculpe mestre. Eu ainda acho que
estou na casa do conde sendo acordado por ele e... – Ian passou a mão na testa
parecendo pálido e mais cansado que na noite anterior.
— Ian? – Yaci tocou em sua testa
percebendo que ele estava com febre – Você está sentindo alguma coisa?
—Eu estou bem mestre.
— Ian! Precisamos ser sinceros uns
com os outros aqui para que possamos sobreviver. Agora vou perguntar novamente
e quero uma resposta sincera. Está sentindo alguma coisa?
— Perdoe-me mestre – ele inclinou a
cabeça – Eu tenho dores no corpo e o pé da minha barriga dói. Acho que estou
gripado.
— Sua barriga? – Yaci tocou no abdômen
dele e deu um leve aperto no local fazendo o menino gemer.
— Precisamos chegar a uma vila ou
algo assim com um médico, mas você não tem condições de andar.
— Não podemos ficar aqui. Estamos sendo
procurados.
— Esperemos que você melhore Ian.
— Yaci – pela primeira vez ele disse
espontaneamente o nome do príncipe – Eu consigo ti acompanhar. Não dá para
ficarmos para trás enquanto meio mundo nos busca. Quando mais cedo chegarmos a
um lugar seguro mais cedo vamos achar um médico.
— Você sabe que essa dor na barriga
não é coisa boa Ian!
— Eu sei disso e é por isso que
temos que partir. Ficar aqui vai acabar nos lavando para as mãos do seu pai. Imagina
o que ele fará com o nosso filho Yaci?
— Eu sei – Yaci segurou o rosto dele
com delicadeza – Rezo para que tudo isso termine e você tenha um filho saudável
em um mundo de paz.
— Amén!
— Que palavra é essa?
— Pertence a uma língua da Terra que
não é falada há milhares de anos e quer dizer que assim seja.
Eles se beijaram, mas foi um beijo
doce e delicado como se cada um estivesse com medo de machucar o outro com
isso.
Sabendo que não tinham mais tempo,
desmontaram acampamento e voltaram a caminhar por entre as arvores da floresta
que parecia não ter fim.
Durante todo o dia ouviram estrondos
que ficavam mais próximos a cada minuto.
Com o correr do dia Ian estava
ficando cada vez mais cansado e pálido. Pararam a cada hora por cinco minutos,
mas quando a noite chegou Yaci praticamente carregava o menino que agora gemia
com uma dor agonizante em sua barriga.
— Só mais um pouco – Yaci tentava
animá-lo – Do outro lado do morro fica a vila e você vai poder descansar.
Ian tentou dar um sorriso, mas se
transformou em um esgar de dor. Estavam chegando ao alto do morro e no
horizonte havia uma grande luz como se estivessem chagando perto de alguma
capital e não de uma vila de interior. Quando emergiram do outro lado puderam
ver com horror o porquê da luz.
A vila queimava lá embaixo, toda ela
em uma grande fogueira vermelha. Flutuando no ar os gritos chegaram até eles e
o cheiro de queimado fez Ian vomitar o pouco que tinha nos estomago.
Yaci olhava estático aquilo. Aquela carnificina
sem sentido e percebeu que se não chegasse logo ao seu pai esse era o destino
de toda Aurifen.
PS: PESSOAL ESTOU VOLTANDO PARA A FACULDADE NESTA SEMANA E AGORA POSTAR MAIS CAPITULOS SÓ NOS FINS DE SEMANA, MAS QUANDO EU TIVER UM TEMPINHO EU JURO QUE POSTO PARA VOCÊS. SAIBA QUE ESCRAVO PARA CADA UM DOS MEUS LEITORES COM O MAIOR GOSTO E QUE ADORO CADA UM DE VOCÊS. OBRIGADA POR LEREM E COMENTAREAM, VOCÊS SÃO INCRÍVEIS!
BEIJOS!
Cara Dalla32!
ResponderExcluirBom retorno às atividades academicas. Continuaremos seguindo com ansiedade e carinho cada uma das suas narrativas. Abraços. Klavius.
DALLAS32 que tenha un maravilhoso regresso a faculdade que estude muito.
ResponderExcluirEsperaremos ansioso por la continuação da historia, que esta emocionante.
beijos e abraços.