Capitulo 21 – A Caçada
Parte II
Enquanto corríamos pude ouvir alguns
estrondos como de canhões de energia, mas não podia ser, ninguém em sã
consciência dispararia uma arma que podia destruir um prédio piscando; se bem
que o imperador passou longe do bom senso.
Tropecei xingando e Tiol me segurou
pelo braço.
— Você não consegue colocar um pé na
frente do outro?
— Juro que a minha vontade é te socar,
mas não dá tempo – resmunguei para ele me desvencilhando e voltando a correr
por entre os casebres.
Entramos em várias ruas e as casas
começaram a ficar maiores e mais velhas, feitas de pedra verde e com a rua com
o calçamento também de pedra onde nasciam ervas daninhas entre os
paralelepípedos. Haviam poucas pessoas na rua que comentavam e apontavam para trás
de nós onde nuvens de pó levantavam-se e gritos ao longe se fazia ouvir.
— Como diabos eles nos acharam tão
fácil! – disse Tiol com o rosto vermelho.
Eu estava tão cansado que nem me
preocupava com isso, o que eu queria era fugir.
— Merda! – Tiol gritou parando e me
segurando quase me derrubando no chão.
— Que merda Tiol!
— É o seu chip! Eles estão no achando
pelo chip que você tem!
Olhei para o meu braço revirando os
olhos.
— Culpa sua! Quem mandou me colocar
essa porcaria.
Tiol puxou uma faca que carregava e eu
tentei tirar o meu braço de um agarre.
— Pare quieto Andrew! Se eu não tirar
ele vão nos encontrar!
Bufei para ele e parei quieto para que
ele tocasse em meu braço à procura da pequena elevação onde estava o minúsculo
aparelho. Com a ponta da faca ele começou a rasgar minha pele e tentei não
gemer de dor. Com rapidez ele tirou o chip do tamanho de um grão de arroz e o
jogou no chão pisando e esmagando ele. Tiol puxou um lenço branco e colocou no
ferimento que sangrava.
— Vamos!
Voltamos a correr, mas agora parecia
que os barulhos de luta nos cercavam e fumaça levantava-se por todos os lados.
— Temos que nos esconder – disse Tiol
parando perto de uma grande tampa de ferra fundido da rede de esgotos.
— Nem pensar! – gritei – Eu não vou me
enfiar nos esgotos. Prefiro levar um tiro de canhão de energia na cara.
— Pare de ser idiota! É a rede de
águas pluviais antiga. As casas tem seu próprio sistema de tratamento de
esgotos.
Ainda assim eu não queria ir, mas Tiol
retirou a tampa com facilidade mostrando um buraco escuro onde descia uma
escada.
— Entre!
Preferi não discutir. Minha mão
começava a latejar assim como a minha cabeça. Tirei a lanterna do bolso e
tentando segurá-la e descer para o subterrâneo, felizmente a escada não era
alta e logo pisei em água escura. Estava em um túnel de pedra com cerca de dez
centímetros de água e com um cheiro horrível de mofo. Ao longe o túnel
ramificava em outros e eu ouvia o som da água pingando e de pequenas coisas
arrastando.
— Nós podemos nos perder aqui – disse
para Tiol que havia fechado o bueiro com a tampa e descera para o meu lado.
— Vamos seguir a água, ela desemboca
no rio fora da cidade.
Começamos a nossa jornada através
daquele buraco que mais parecia um imenso labirinto de túneis que iam se lugar
nem para qualquer lugar, mesmo que estivéssemos seguindo a água não parecia que
estivéssemos chegando ao fim.
Acima de nós um grande estrondo
estremeceu tudo fazendo poeira e teias de aranha cair em nós. A luta acima
parecia estar forte.
— Porque eles estão lutando? –
perguntei – São tropas do governo e você me disse que o país é muito ligado ao
seu pai.
— Eu também não estou entendendo, é
quase como se tivesse havendo uma guerra acima de nós.
Continuamos a andar e eu comecei a me
sentir estranho. Com um calor abrasador em um momento e um frio que me fazia
trincar os dentes em outros. Estava meio tonto por causa da dor de cabeça e a
boca seca. Minha mão estava inchando e eu nem conseguia abrir os dedos.
Passamos por uma grade que pendia
frouxa das dobradiças e dava para um ambiente cavernoso que iluminei curioso.
— As antigas linhas de metro
subterrâneo – disse Tiol – Antigamente as usávamos, mas quando a nossa
população diminuiu criamos trens de superfície.
— Lá está seco – gemi – Será que não
podemos parar um pouco?
— Precisamos sair da cidade Andrew e
dar um jeito de sairmos de Almeora.
Bem, eu não tinha energia nem para
brigar com ele e Tiol deve ter notado algo de estranho, pois tomou a lanterna
de mim e iluminou meu rosto.
— Ei! – protestei ante a luz forte em
meus olhos.
— Você está pálido, mas há partes
muito vermelhas em seu corpo – olhou minha mão que eu mantinha junto ao peito –
Deixa eu dar uma olhada nisso!
Eu nem tinha energia para protestar e
brigar com ele, deixei que observasse a queimadura que havia adquirido um feio
tom vermelho em volta com um prurido amarelo e de odor forte.
— Sua mão está toda inflamada! – disse
Tiol olhando raivoso para mim como seu tivesse culpa.
Tentei dar-lhe uma resposta sarcástica
o que terminaria com nós dois brigando, mas o que eu queria mesmo era me deitar
e dormir, esquecer a dor e o frio.
O príncipe deu um suspiro raivoso e
foi até a grade e a deslocou de suas dobradiças velhas com facilidade dando
espaço para que entrássemos no local seco, coberto de poeira e teias de aranha.
A antiga estação de metrô era tão grande que o facho de luz da lanterna não
conseguia iluminar todo.
— Precisamos fazer um curativo melhor
nisso ou vai acabar desmaiando por ai.
De repente luzes nos cegaram e uma voz
disse autoritária:
— Parados se não querem levar um tiro!
Não dava para ver nem quem nem quantos
eram, mas a verdade era que eu estava tão mau que estava pouco lixando para
isso. Tiol me segurou antes que eu caísse de cara no chão.
— Baixem essas porcarias! – disse uma
voz de mulher – Não estão vendo que são apenas garotos perdidos!
As luzes abaixaram e pude ver que eram
quatro pessoas: uma bela mulher humana de cabelos castanhos e longos com
brilhantes olhos verdes, um rapaz mestiço alto e com os cabelos castanhos e
olhos verdes, um menino, não mais que uma criança, de cabelos prateados curtos
e olhos vermelhos e um aurifense puro com os olhos de rubi nos olhando com
desconfiança, todos empunhavam armas.
— Só queremos um lugar para ele
descansar – disse Tiol apontando com a cabeça para mim que estava apoiado em
seu peito.
— Ele está doente? – perguntou a mulher
baixando a sua arma.
— Tem um ferimento que está infectado.
— Porque estão aqui? – perguntou o
homem com cara de poucos amigos.
— Porque vocês estão aqui? – perguntou
Tiol rígido.
— Ah! Parem com isso! – disse a mulher
– Tiesis, Karl, Mark baixem essas armas, se eles fossem nossos inimigos já
estaríamos com o exercito aqui. Traga o menino!
Os homens abaixaram as armas, mas
continuavam a nos observar.
Com a ajuda de Tiol caminhei para os
fundos da estação onde parecia que era habitada com camas e mesas em um canto,
escondidos por panos velhos e pretos tornando o lugar invisível, havia mesmo
luz elétrica que de uma lâmpada acima das camas. Um fogão a lenha queimava
lentamente em um canto com uma panela em cima soltando vapor e cheiro de carne
cozida enchia o ambiente.
— Meu nome é Ana e sou uma ex escrava.
Casei com Tiesis que era o meu dono pelas leis do planeta, mas aqui os humanos
são muito mau vistos e o pai de Tiesis o deserdou. Conseguimos nos manter por
alguns anos até que bem quando as leis sobre humanos e mestiços nos empurrou
para as ruas e por fim para cá.
Eu a ouvia em meio a todo atordoamento
em que estava imerso. Tudo parecia vir de muito longe e dei um suspiro de
alivio quando alguém segurou a minha mão e as vozes pareciam vir de muito longe
até que apaguei de vez.
Acordei minutos ou horas depois, não
sei precisar, e dei com Tiol segurando um pano em minha testa me olhando de
forma estranha.
— Como você está? – ele me perguntou
retirando o pano e senti o ar frio bater em meu rosto me fazendo estremecer.
— Com frio – gemi e percebi que nada
me cobria.
— Se eu colocar o cobertor térmico em
você sua febre não vai melhorar.
Os outras estavam em um canto e Ana se
aproximou com duas tigelas de onda saía vapor.
— Como você está? – perguntou ela
ajoelhando-se perto deles.
— Cansado, com frio – gemi para ela
que me olhou sorrindo de um modo cálido e entregou uma tigela para Tiol
acariciando os meus cabelos com um carinho de mãe que eu nunca havia tido.
— Limpamos a sua ferida e lhe demos um
remédio contra a infecção. Espero que você melhore à partir de agora. Quer
comer algo?
Balancei a cabeça me sentindo
miserável. Só de pensar em comer eu sentia náuseas.
— Você está se comer há muito tempo, é
por isso que não consegue comer. Tente só um pouquinho.
Ela fez para mim cara de cachorrinho
perdido e eu percebia que não podia negar nada a ela.
Com a gentileza que me fez olhar contrariado
para ele, Tiol me ajudou a sentar e Ana segurou uma colher de cozido diante da
minha boca e engoli um pouco da sopa de carne e raízes, que mesma rala estava
muito boa.
Depois que meu estomago se acostumou
com a comida quente eu não consegui mais de parar de comer. Ela riu de mim
quando viu a tigela vazia.
— Melhor? – ela riu para mim dando um
beijo no meu rosto e fazendo um carinho que ficou vermelho até a raiz dos
cabelos.
Ana era alguém tão alegre e sincera
que era impossível brigar com ela, era como se a alegria ficasse em volta dela.
— Porque não descansam? As coisas
sempre parecem melhores depois de um bom sono. Minha mãe dizia que eu era uma
idiota com complexo de Polyanna, mas eu prefiro isso a ser uma resmungona
chata.
Sua risada cristalina flutuou no ar
frio da antiga plataforma de metrô aquecendo o meu coração.
— Eu nunca vi uma humana como ela –
disse Tiol.
— Você não conhece muitos humanos não
é? Alguns de nós são assim mesmo, mas você tem razão, ela é incrível.
Voltei a deitar e Tiol ficou do meu
lado olhando para a escuridão.
— Aqui podemos estarmos seguros, mas
temos que partir e chegar aos revolucionários, alem de tudo eles nem mesmo tem
o que comer. Sua comida esta acabando.
— O que você acha que aconteceu aos
outros Tiol?
— Eu quero acreditar que todos estejam
bem Andrew, mas a possibilidade é pequena.
Ficamos ali os dois perdidos em nossos
pensamentos até que o sono chegasse.
~~~***~~~
Acordei ao som de conversas. Abrindo
os olhos percebi que tudo estava escuro como antes e uma fogueira iluminava Ana
e sua família junto com Tiol.
O rosto dele parecia estranhamente
calmo para aquela situação e eu podia dizer que ele parecia em paz pela
primeira vez em muito tempo.
Minha mão dia menos, mas minha dor de
cabeça não tinha passado e meu estômago não estava nada bem. Tentei sentar, mas
o mundo girou e cai de encontro ao colchão de ar gemendo.
— Fique quieto – resmungou Tiol perto
de mim colocando a mão no meu ombro para que eu não sentasse.
— Droga Tiol! Preciso ir ao banheiro –
olhei contrariado para ele, mas o bendito teve o desplante de rir de mim.
Devo confessar que estava achando
muito estranho aquele novo Tiol, parecia mais que alguém tinha colocado uma
pessoa muito parecida no lugar do verdadeiro, porque um clone ia ser o mesmo
chato de sempre.
Ele me ajudou a ir a um banheiro nos
fundos. Era um banheiro pequeno, talvez dos funcionários do metrô, mas estava
limpo e luz elétrica. Fiquei imaginando se o chuveiro funcionava, eu adoraria
um banho.
Tranquei-me em um cubículo e vomitei
tudo que tinha no estômago. Como é que as mulheres suportam aquela fase? Eu
vivia enjoado e sentindo que o meu humor oscilava em uma montanha russa maluca,
logo estaria gordo. Ai meu Deus! Eu ia ficar ridículo! Uma mulher podia até ficar
bonitinha, mas eu?
— Morreu ai dentro Andrew? – Tiol
socou a porta e eu soltei alguns elogios para ele, mas o idiota voltou a rir.
— Quem é você e o que fez com aquele
príncipe imbecil? – abri a porta olhando para os olhos vermelhos dele – Não que
eu esteja reclamando, mas fico pensando no pai, que não sei porque cargas
d’água gosta dele.
— Vejo que continua com o mesmo humor.
Rosnei para ele mostrando o meu real
humor.
— Venha – ele segurou o meu braço – Só
andei conversando com Sara e ela consegue transformar o humor de qualquer um.
— Prefiro continuar com a teoria de
que você não é o Tiol.
Voltamos para o local onde as pessoas
estavam reunidas e sentei encostado na parede de cimento com Tiol do meu lado
com o braço nos meus ombros fazendo eu olhar estranho para ele.
Com certeza ele deve ter tido algum
tipo de surto psicótico.
— Desculpe a nossa recepção – disse o
aurifense adulto com um sorriso para mim – Mas todo cuidado é pouco, pois isto
aqui pertence ao governo e se nos encontrassem aqui seriamos condenado à prisão
por anos.
— Não se preocupe com isso – disse
sorrindo para ele.
Os dois garotos me olhavam e pareciam
bem ariscos. Eles estavam com medo e na época em que vivíamos é o que todos nós
mais sentíamos.
— Como você está? – Ana me perguntou
com um sorriso caloroso.
— Melhor, obrigado.
— Precisamos ir procurar comida –
disse Karl, o filho mais velho – Hoje é dia de feira e posso achar alguma coisa
com os feirantes.
— Irei com você filho – disse Tiesis,
mas o filho o interrompeu.
— Pai o senhor é procurado e ver um
aurifense puro catando sobras nas feiras é algo que vai chamar muito a atenção.
— Preciso de noticias – disse Tiol –
Tenho que subir lá em cima para ver o que está acontecendo.
— Você vai chamar ainda mais atenção
que meu pai!
— Eu posso esconder meu cabelo em
alguma capa ou coisa assim o que não posso é ficar aqui esperando sem saber
nada.
— Não espere ter muitas informações –
disse Tiesis – O imperador controla toda a imprensa.
— Eu tenho os meus caminhos e juro que
não vou chamar a atenção sobre a sua família. Jamais faria algo que pudesse
comprometer as suas vidas depois de ter ajudado e mim e ao Andrew.
— Eu vou achar alguma capa para você –
disse Karl, mas ele parecia ainda não ter concordado plenamente com a situação.
— Você tem certeza disso? – perguntei
para Tiol.
— Vou ser cuidadoso – disse ele
fazendo um carinho em minha barriga e eu quase pulei com aquilo.
Sabia que o feto gostava de ter ambos
os pais e quando isso acontecia, eu mesmo tinha uma grande sensação de bem
estar que vinha de dentro de mim.
Não sabia o que dizer para aquele novo
Tiol, mas eu não ia ficar tecendo ilusões, pessoas não mudam do dia para a
noite, mas se ele queria mesmo mudar ia continuar tentando, mesmo cometendo
erros e eu estava disposto a dar uma chance para ele, mesmo pequena.
Ai que lindo... un Tiol terno e carinhoso.
ResponderExcluirOque sera que passou quando Andrew estava doente.
dallas32 te mando beijos e abraços.