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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O Escravo - A Caçada Parte II

Capitulo 21 – A Caçada
Parte II

Enquanto corríamos pude ouvir alguns estrondos como de canhões de energia, mas não podia ser, ninguém em sã consciência dispararia uma arma que podia destruir um prédio piscando; se bem que o imperador passou longe do bom senso.

Tropecei xingando e Tiol me segurou pelo braço.

— Você não consegue colocar um pé na frente do outro?

— Juro que a minha vontade é te socar, mas não dá tempo – resmunguei para ele me desvencilhando e voltando a correr por entre os casebres.

Entramos em várias ruas e as casas começaram a ficar maiores e mais velhas, feitas de pedra verde e com a rua com o calçamento também de pedra onde nasciam ervas daninhas entre os paralelepípedos. Haviam poucas pessoas na rua que comentavam e apontavam para trás de nós onde nuvens de pó levantavam-se e gritos ao longe se fazia ouvir.

— Como diabos eles nos acharam tão fácil! – disse Tiol com o rosto vermelho.

Eu estava tão cansado que nem me preocupava com isso, o que eu queria era fugir.

— Merda! – Tiol gritou parando e me segurando quase me derrubando no chão.

— Que merda Tiol!

— É o seu chip! Eles estão no achando pelo chip que você tem!

Olhei para o meu braço revirando os olhos.

— Culpa sua! Quem mandou me colocar essa porcaria.

Tiol puxou uma faca que carregava e eu tentei tirar o meu braço de um agarre.

— Pare quieto Andrew! Se eu não tirar ele vão nos encontrar!

Bufei para ele e parei quieto para que ele tocasse em meu braço à procura da pequena elevação onde estava o minúsculo aparelho. Com a ponta da faca ele começou a rasgar minha pele e tentei não gemer de dor. Com rapidez ele tirou o chip do tamanho de um grão de arroz e o jogou no chão pisando e esmagando ele. Tiol puxou um lenço branco e colocou no ferimento que sangrava.

— Vamos!

Voltamos a correr, mas agora parecia que os barulhos de luta nos cercavam e fumaça levantava-se por todos os lados.

— Temos que nos esconder – disse Tiol parando perto de uma grande tampa de ferra fundido da rede de esgotos.

— Nem pensar! – gritei – Eu não vou me enfiar nos esgotos. Prefiro levar um tiro de canhão de energia na cara.

— Pare de ser idiota! É a rede de águas pluviais antiga. As casas tem seu próprio sistema de tratamento de esgotos.

Ainda assim eu não queria ir, mas Tiol retirou a tampa com facilidade mostrando um buraco escuro onde descia uma escada.

— Entre!

Preferi não discutir. Minha mão começava a latejar assim como a minha cabeça. Tirei a lanterna do bolso e tentando segurá-la e descer para o subterrâneo, felizmente a escada não era alta e logo pisei em água escura. Estava em um túnel de pedra com cerca de dez centímetros de água e com um cheiro horrível de mofo. Ao longe o túnel ramificava em outros e eu ouvia o som da água pingando e de pequenas coisas arrastando.

— Nós podemos nos perder aqui – disse para Tiol que havia fechado o bueiro com a tampa e descera para o meu lado.

— Vamos seguir a água, ela desemboca no rio fora da cidade.

Começamos a nossa jornada através daquele buraco que mais parecia um imenso labirinto de túneis que iam se lugar nem para qualquer lugar, mesmo que estivéssemos seguindo a água não parecia que estivéssemos chegando ao fim.

Acima de nós um grande estrondo estremeceu tudo fazendo poeira e teias de aranha cair em nós. A luta acima parecia estar forte.

— Porque eles estão lutando? – perguntei – São tropas do governo e você me disse que o país é muito ligado ao seu pai.

— Eu também não estou entendendo, é quase como se tivesse havendo uma guerra acima de nós.

Continuamos a andar e eu comecei a me sentir estranho. Com um calor abrasador em um momento e um frio que me fazia trincar os dentes em outros. Estava meio tonto por causa da dor de cabeça e a boca seca. Minha mão estava inchando e eu nem conseguia abrir os dedos.

Passamos por uma grade que pendia frouxa das dobradiças e dava para um ambiente cavernoso que iluminei curioso.

— As antigas linhas de metro subterrâneo – disse Tiol – Antigamente as usávamos, mas quando a nossa população diminuiu criamos trens de superfície.

— Lá está seco – gemi – Será que não podemos parar um pouco?

— Precisamos sair da cidade Andrew e dar um jeito de sairmos de Almeora.

Bem, eu não tinha energia nem para brigar com ele e Tiol deve ter notado algo de estranho, pois tomou a lanterna de mim e iluminou meu rosto.

— Ei! – protestei ante a luz forte em meus olhos.

— Você está pálido, mas há partes muito vermelhas em seu corpo – olhou minha mão que eu mantinha junto ao peito – Deixa eu dar uma olhada nisso!

Eu nem tinha energia para protestar e brigar com ele, deixei que observasse a queimadura que havia adquirido um feio tom vermelho em volta com um prurido amarelo e de odor forte.

— Sua mão está toda inflamada! – disse Tiol olhando raivoso para mim como seu tivesse culpa.

Tentei dar-lhe uma resposta sarcástica o que terminaria com nós dois brigando, mas o que eu queria mesmo era me deitar e dormir, esquecer a dor e o frio.

O príncipe deu um suspiro raivoso e foi até a grade e a deslocou de suas dobradiças velhas com facilidade dando espaço para que entrássemos no local seco, coberto de poeira e teias de aranha. A antiga estação de metrô era tão grande que o facho de luz da lanterna não conseguia iluminar todo.

— Precisamos fazer um curativo melhor nisso ou vai acabar desmaiando por ai.

De repente luzes nos cegaram e uma voz disse autoritária:

— Parados se não querem levar um tiro!

Não dava para ver nem quem nem quantos eram, mas a verdade era que eu estava tão mau que estava pouco lixando para isso. Tiol me segurou antes que eu caísse de cara no chão.

— Baixem essas porcarias! – disse uma voz de mulher – Não estão vendo que são apenas garotos perdidos!

As luzes abaixaram e pude ver que eram quatro pessoas: uma bela mulher humana de cabelos castanhos e longos com brilhantes olhos verdes, um rapaz mestiço alto e com os cabelos castanhos e olhos verdes, um menino, não mais que uma criança, de cabelos prateados curtos e olhos vermelhos e um aurifense puro com os olhos de rubi nos olhando com desconfiança, todos empunhavam armas.

— Só queremos um lugar para ele descansar – disse Tiol apontando com a cabeça para mim que estava apoiado em seu peito.

— Ele está doente? – perguntou a mulher baixando a sua arma.

— Tem um ferimento que está infectado.

— Porque estão aqui? – perguntou o homem com cara de poucos amigos.

— Porque vocês estão aqui? – perguntou Tiol rígido.

— Ah! Parem com isso! – disse a mulher – Tiesis, Karl, Mark baixem essas armas, se eles fossem nossos inimigos já estaríamos com o exercito aqui. Traga o menino!

Os homens abaixaram as armas, mas continuavam a nos observar.

Com a ajuda de Tiol caminhei para os fundos da estação onde parecia que era habitada com camas e mesas em um canto, escondidos por panos velhos e pretos tornando o lugar invisível, havia mesmo luz elétrica que de uma lâmpada acima das camas. Um fogão a lenha queimava lentamente em um canto com uma panela em cima soltando vapor e cheiro de carne cozida enchia o ambiente.

— Meu nome é Ana e sou uma ex escrava. Casei com Tiesis que era o meu dono pelas leis do planeta, mas aqui os humanos são muito mau vistos e o pai de Tiesis o deserdou. Conseguimos nos manter por alguns anos até que bem quando as leis sobre humanos e mestiços nos empurrou para as ruas e por fim para cá.

Eu a ouvia em meio a todo atordoamento em que estava imerso. Tudo parecia vir de muito longe e dei um suspiro de alivio quando alguém segurou a minha mão e as vozes pareciam vir de muito longe até que apaguei de vez.

Acordei minutos ou horas depois, não sei precisar, e dei com Tiol segurando um pano em minha testa me olhando de forma estranha.

— Como você está? – ele me perguntou retirando o pano e senti o ar frio bater em meu rosto me fazendo estremecer.

— Com frio – gemi e percebi que nada me cobria.

— Se eu colocar o cobertor térmico em você sua febre não vai melhorar.

Os outras estavam em um canto e Ana se aproximou com duas tigelas de onda saía vapor.

— Como você está? – perguntou ela ajoelhando-se perto deles.

— Cansado, com frio – gemi para ela que me olhou sorrindo de um modo cálido e entregou uma tigela para Tiol acariciando os meus cabelos com um carinho de mãe que eu nunca havia tido.

— Limpamos a sua ferida e lhe demos um remédio contra a infecção. Espero que você melhore à partir de agora. Quer comer algo?

Balancei a cabeça me sentindo miserável. Só de pensar em comer eu sentia náuseas.

— Você está se comer há muito tempo, é por isso que não consegue comer. Tente só um pouquinho.

Ela fez para mim cara de cachorrinho perdido e eu percebia que não podia negar nada a ela.

Com a gentileza que me fez olhar contrariado para ele, Tiol me ajudou a sentar e Ana segurou uma colher de cozido diante da minha boca e engoli um pouco da sopa de carne e raízes, que mesma rala estava muito boa.

Depois que meu estomago se acostumou com a comida quente eu não consegui mais de parar de comer. Ela riu de mim quando viu a tigela vazia.

— Melhor? – ela riu para mim dando um beijo no meu rosto e fazendo um carinho que ficou vermelho até a raiz dos cabelos.

Ana era alguém tão alegre e sincera que era impossível brigar com ela, era como se a alegria ficasse em volta dela.

— Porque não descansam? As coisas sempre parecem melhores depois de um bom sono. Minha mãe dizia que eu era uma idiota com complexo de Polyanna, mas eu prefiro isso a ser uma resmungona chata.

Sua risada cristalina flutuou no ar frio da antiga plataforma de metrô aquecendo o meu coração.

— Eu nunca vi uma humana como ela – disse Tiol.

— Você não conhece muitos humanos não é? Alguns de nós são assim mesmo, mas você tem razão, ela é incrível.

Voltei a deitar e Tiol ficou do meu lado olhando para a escuridão.

— Aqui podemos estarmos seguros, mas temos que partir e chegar aos revolucionários, alem de tudo eles nem mesmo tem o que comer. Sua comida esta acabando.

— O que você acha que aconteceu aos outros Tiol?

— Eu quero acreditar que todos estejam bem Andrew, mas a possibilidade é pequena.

Ficamos ali os dois perdidos em nossos pensamentos até que o sono chegasse.


~~~***~~~


Acordei ao som de conversas. Abrindo os olhos percebi que tudo estava escuro como antes e uma fogueira iluminava Ana e sua família junto com Tiol.

O rosto dele parecia estranhamente calmo para aquela situação e eu podia dizer que ele parecia em paz pela primeira vez em muito tempo.

Minha mão dia menos, mas minha dor de cabeça não tinha passado e meu estômago não estava nada bem. Tentei sentar, mas o mundo girou e cai de encontro ao colchão de ar gemendo.

— Fique quieto – resmungou Tiol perto de mim colocando a mão no meu ombro para que eu não sentasse.

— Droga Tiol! Preciso ir ao banheiro – olhei contrariado para ele, mas o bendito teve o desplante de rir de mim.

Devo confessar que estava achando muito estranho aquele novo Tiol, parecia mais que alguém tinha colocado uma pessoa muito parecida no lugar do verdadeiro, porque um clone ia ser o mesmo chato de sempre.

Ele me ajudou a ir a um banheiro nos fundos. Era um banheiro pequeno, talvez dos funcionários do metrô, mas estava limpo e luz elétrica. Fiquei imaginando se o chuveiro funcionava, eu adoraria um banho.

Tranquei-me em um cubículo e vomitei tudo que tinha no estômago. Como é que as mulheres suportam aquela fase? Eu vivia enjoado e sentindo que o meu humor oscilava em uma montanha russa maluca, logo estaria gordo. Ai meu Deus! Eu ia ficar ridículo! Uma mulher podia até ficar bonitinha, mas eu?

— Morreu ai dentro Andrew? – Tiol socou a porta e eu soltei alguns elogios para ele, mas o idiota voltou a rir.

— Quem é você e o que fez com aquele príncipe imbecil? – abri a porta olhando para os olhos vermelhos dele – Não que eu esteja reclamando, mas fico pensando no pai, que não sei porque cargas d’água gosta dele.

— Vejo que continua com o mesmo humor.

Rosnei para ele mostrando o meu real humor.

— Venha – ele segurou o meu braço – Só andei conversando com Sara e ela consegue transformar o humor de qualquer um.

— Prefiro continuar com a teoria de que você não é o Tiol.

Voltamos para o local onde as pessoas estavam reunidas e sentei encostado na parede de cimento com Tiol do meu lado com o braço nos meus ombros fazendo eu olhar estranho para ele.

Com certeza ele deve ter tido algum tipo de surto psicótico.

— Desculpe a nossa recepção – disse o aurifense adulto com um sorriso para mim – Mas todo cuidado é pouco, pois isto aqui pertence ao governo e se nos encontrassem aqui seriamos condenado à prisão por anos.

— Não se preocupe com isso – disse sorrindo para ele.

Os dois garotos me olhavam e pareciam bem ariscos. Eles estavam com medo e na época em que vivíamos é o que todos nós mais sentíamos.

— Como você está? – Ana me perguntou com um sorriso caloroso.

— Melhor, obrigado.

— Precisamos ir procurar comida – disse Karl, o filho mais velho – Hoje é dia de feira e posso achar alguma coisa com os feirantes.

— Irei com você filho – disse Tiesis, mas o filho o interrompeu.

— Pai o senhor é procurado e ver um aurifense puro catando sobras nas feiras é algo que vai chamar muito a atenção.

— Preciso de noticias – disse Tiol – Tenho que subir lá em cima para ver o que está acontecendo.

— Você vai chamar ainda mais atenção que meu pai!

— Eu posso esconder meu cabelo em alguma capa ou coisa assim o que não posso é ficar aqui esperando sem saber nada.

— Não espere ter muitas informações – disse Tiesis – O imperador controla toda a imprensa.

— Eu tenho os meus caminhos e juro que não vou chamar a atenção sobre a sua família. Jamais faria algo que pudesse comprometer as suas vidas depois de ter ajudado e mim e ao Andrew.

— Eu vou achar alguma capa para você – disse Karl, mas ele parecia ainda não ter concordado plenamente com a situação.

— Você tem certeza disso? – perguntei para Tiol.

— Vou ser cuidadoso – disse ele fazendo um carinho em minha barriga e eu quase pulei com aquilo.

Sabia que o feto gostava de ter ambos os pais e quando isso acontecia, eu mesmo tinha uma grande sensação de bem estar que vinha de dentro de mim.

Não sabia o que dizer para aquele novo Tiol, mas eu não ia ficar tecendo ilusões, pessoas não mudam do dia para a noite, mas se ele queria mesmo mudar ia continuar tentando, mesmo cometendo erros e eu estava disposto a dar uma chance para ele, mesmo pequena.



  

Um comentário:

  1. Ai que lindo... un Tiol terno e carinhoso.
    Oque sera que passou quando Andrew estava doente.
    dallas32 te mando beijos e abraços.

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