Capitulo 10
Mauro usou toda a sua força para puxar
a cerca e esticar arrumando a parte que fora cortada. Era a quinta vez esse mês
que alguém fazia isso e ele estava ficando cheio de consertar, já que parecia
que seu chefe tinha prazer em mandá-lo correr de um lado para o outro como um
bom cachorrinho.
Respirando fundo ele esticou as costas
e passou a mão enluvada na testa tentando enxugar o suor que escorria.
Um mês tinha se passado desde que
Heitor morrera. A verdade que a dor nunca ia embora, mas estava se transformando
em saudade, uma dolorosa saudade. Um mês que ele voltara para seu quarto em
cima da estrebaria e trabalhava o tempo todo a fim de esquecer um pouco da dor
que sentia.
Sua mãe tentara falar com ele, mas
estava com raiva demais para ouvir qualquer coisa.
Pouco depois do sonho com Heitor ele
foi tomado de muita revolta, cheio de dor queria descontar sua raiva em alguém
e acabou sendo sua mãe que para ele se fazia de cega por não ver quem Valentim
realmente era. Isso tudo gerou com que ele brigasse com Wagner e fizesse a sua
mãe lhe dar um belo puxão de orelha.
O resultado? O resto da família não
conversava com ele por considerá-lo um guri mimado e Valentim tinha o prazer
sádico de lhe dar os trabalhos que todo mundo odiava.
Ele não se importou, o que ele queria
era ficar longe de todo mundo. Nunca tivera ninguém tomando conta dele, porque
agora isso era importante? Ia viver sozinho, doía menos do que ter
relacionamentos. Amar era uma dor que ele se recusava a ter novamente.
Olhou em volta. Estava no alto de um
pequeno morro cercado de pastos que davam para uma fazenda vizinha. Ali ele
podia ver outras casas à distância, plantações e matas. Algumas araucárias
levantavam-se majestosas na paisagem. O ar limpo tinha cheiro adocicado de
alguma flor e o vento fraco era úmido e fresco tocando seu rosto como a carícia
de um amante.
Balançando a cabeça para não ficar
pensando em mais nada terminou a cerca e foi em direção à fazenda. Tinha à
tarde de folga para resolver alguns problemas e assim que chagou tomou um banho
e saiu a pé rumo à cidade.
Sabia que era longe, mas caminhar era
algo que aprendera a gostar. Havia muito para se olhar na estrada e o silêncio
que sempre parecia acalmar seus nervos.
Arranjou uma carona com um senhor que
morava em uma fazenda ali perto e logo estava em Mendes com a Avenida Principal
apinhada de pessoas indo e vindo.
Ele se dirigiu para o escritório de
Dante e Dayno onde tinha um encontro com Dayno para resolver os problemas com
seus documentos.
A nova secretaria sorriu para ele e o
levou para a sala do advogado que estava desmontando o computador, ou parecia
estar.
— Não sabia que você era técnico
Dayno? – Mauro sorriu para ele.
— É essa merda – resmungou ele saindo
detrás da CPU – Amo a tecnologia, mas ela me odeia.
— Posso dar uma olhada? – Mauro não
era um técnico ou coisa assim, mas costumava cuidar dos computadores de sua
casa sozinho.
Olhou para a tela vendo o que Dayno
tinha feito.
— Você entrou em uma tela de comando
do seu software – apertou algumas teclas e a tela se abriu – Pronto.
— Graças a Deus. Meus arquivos estão
todos ai.
— Você não faz copias?
— Dá muito trabalho.
Mauro riu a saiu da mesa do advogado.
— Compre um HD externo ou você pode
ter muita dor de cabeça. Deixe sempre uma cópia de suas coisas em algum lugar.
Um vírus pode entrar no seu computador e você perder tudo.
— Não me assuste – resmungou o rapaz,
mas olhou para o monitor – Mas acho que você está certo e eu estou sendo
relaxado – abriu uma gaveta – Seus documentos.
— O que?! – pasmo ele segurou o pacote
– Conseguiu cópias?
— As originais.
— Dayno! – ele olhou para o outro que
havia se tornado seu amigo naqueles dias.
— Ta certo! Eu fui até a sua casa e
pedi para seu pai.
Mauro ficou sem fala. Havia alertado o
outro de como seu pai era violento e mais, de que ele devia manter segredo de
onde ele estava!
— Antes que comece a gritar eu levei
Dante comigo e não falei onde você estava em momento algum. Usei o antigo
endereço de nosso escritório em São Paulo.
— Assim você vai me fazer ter um
infarto Dayno! Meu pai podia ter machucado vocês dois.
— Bem Mauro, seu que ele é seu pai,
mas ele não tem bolas suficientes para brigar comigo e Dante, logo se
acovardou. Conseguimos seus documentos e ele perguntou onde devia mandar o
restante de suas coisas – ele deu uma risada – Dei um endereço do estado do
Maranhão.
— Vocês dois – resmungou ele abrindo o
pacote vendo o RG, seu CPF, cartão de crédito e carteira de motorista.
— Não consegui mais, lamento.
— Isto é o suficiente para mim – disse
ele sorrindo – É tão estranho não ter nem uma identidade, agora posso acessar
minha conta no banco, mesmo que não seja muito.
— Mauro você sabe que eventualmente
seu pais podem descobrir onde você está não é? Um bom detetive pode conseguiu
seus passos.
— Eu sei disso – resmungou ele
retirando a carteira nova do bolso – Acho que tenho que me preparar para essa
eventualidade, mas agora estou cheio demais para meu pai – olhou Dayno – Quanto
eu te devo Dayno?
— Você não me deve nada.
— Mas é...
— Mauro não! Eu não vou receber e não
adianta correr para meu irmão que ele também não vai aceitar.
— Vocês dois – ele guardou os
documentos na carteira vermelho – Não sei como agradecer.
— Que tal ajeitar as coisas com sua
família?
Mauro havia contado para Dayno o que
acontecia, nesses dias ele havia sido seu único confidente.
— Não são minha família – resmungou
ele amargo – É a família da minha mãe.
— Mas eles gostam de você Mauro...
— Eles me suportam por causa dela, só
isso – ele levantou – Olha preciso ir. Muito obrigado.
Dayno levantou sorrindo e apertou a
mão estendida de Mauro.
— Sabe que estou aqui para o que
precisar Mauro. Tem um quarto nos fundos caso aconteça algo.
— Obrigado.
Ele saiu do escritório se sentindo mais
leve por ter conseguido seus documentos e por saber que tinha amigos como Dayno
e Dante.
Andou pela cidade vagabundeando como
não fazia há muito tempo.
Nunca fora alguém da gastar dinheiro. Gostava
de ficar em casa e navegar na internet.
Com os olhos brilhando avistou uma
loja de eletrônicos e sabia o que ia comprar. Entrou nela olhando para os
notebooks em exposição tentando achar um que desse no seu orçamento. Com a
ajuda da vendedora comprou um e um modem que o ia ligar a internet móvel de uma
operadora além de um pequeno celular. Pagou a vista com o cartão e recebeu
feliz suas compras.
Passou em uma livraria comprando um
livro e em uma loja de roupas para comprar calças, camisas, boxers e um tênis.
Carregado começou sua jornada de
volta. Sentia-se mais leve e com a cabeça desanuviada enquanto via o sol rumar
para o poente deixando um rastro de vermelho e roxo para trás.
Ouviu o barulho de pneus atrás de si a
saiu da estrada para o carro passar e deu de cara com Wagner que estacionou sua
caminhoneta perto dele.
— Entre Mauro – disse com a voz fria.
Não querendo arranjar mais brigas do
que já tinha ele entrou no veículo apertando as sacolas no colo e olhando para
o vidro.
Achou que o outro ia conversar ou algo
assim, mas Wagner manteve silêncio o tempo todo até estacionarem na fazenda.
Ele murmurou um obrigado e foi para
seu quarto feliz de não ter que lidar com o resto da família. Instalou o
notebook e iniciou a internet depois de muito tempo sem entrar nela.
Acessou primeiro o seu e-mail cheio de
publicidade e com mais de mil mensagens de um endereço desconhecido. Ao clicar
na primeira mensagem seu estômago revirou e ele pensou que ia vomitar.
Era um e-mail do seu pai. Havia uma
foto de um dos cachorros da fazenda que Mauro costumava cuidar. O cão estava
aos pedaços na foto e o texto de seus pai deixava claro que era o que ia
acontecer com ele.
Abriu mais dois e-mails e desligou
correndo para o banheiro e pondo tudo para fora. Seu pai havia destruído seu
quarto e lhe mandando mensagens tão cheias de ódio que Mauro jogou-se na cama
chorando e abraçando o travesseiro.
Ele não entendia como seu pai podia
ser assim. Durante sua vida ele aceitara as surras, mas as agressões verbais
para com ele nunca foram muitas. Luiz Gustavo estava mais interessado em
extravasar sua raiva nele, as humilhações psicológicas deixava para os gays da
cidade. Mas os e-mails eram tão cheios de ódio e com palavras tão fortes que
ele se perguntou o que tinha feito de errado.
Será que se ele fosse de outro modo seu
pai o amaria? Eles seriam amigos e ele teria uma vida se pudesse lhe mostrar
uma namorada? Aquilo tudo era sua culpa? Não fora homem suficiente?
Por toda a vida não havia questionado
sua opção e nem se arrependido dela, mas estava cansado de lutar contra malucos
homofóbicos e uma sociedade preconceituosa que via nas diferenças um grande
pecado.
Não foi jantar naquela noite. Apenas
retirou as roupas e se arrastou para debaixo das cobertas com os olhos inchados
e sentindo uma dor de cabeça chegando.
Acordou de madrugada doente de
verdade. Sua cabeça latejava a ponto de até mesmo respirar ser uma agonia e seu
estômago revirado. Correu para o banheiro de novo, mas não tinha mais nada para
por para fora a não ser bile.
Sentou no chão gelado do banheiro
segurando a cabeça chorando de dor. Ele não tinha nem um analgésico, todos os
que comprara para o ombro ele consumira e nunca em sua vida imaginou que ia
enfrentar um mal estar tão grande.
Escondeu a cabeça entre os joelhos
choramingando e percebeu que não podia ficar ali sozinho, tinha que pedir
ajuda.
Colocou uma calça e uma blusa e com os
passos vacilantes e descalço começou a descer as escadas ofegante de dor e
tremulo. Apesar do frio o suor escorria por seu rosto molhando seus cabelos e
escorrendo para a camiseta.
Apoiando na parede chegou à estrebaria
e gemou fechando os olhos com a suave luz que havia ali, mas que para ele
parecia uma explosão nuclear.
— O que diabos você tem! – antes que
caísse no chão ele estava nos braços de Valentim que vestia uma jaqueta de
couro.
Tudo a sua volta girava e ele percebeu
que ai acabar desmaiando.
— Mauro fique acordado! – disse o
outro sentando ele em um monte de feno – O que esta acontecendo com você!
— Enxaqueca – gemeu ele quando uma
fisgada em sua cabeça parecia que ia parti-la ao meio – Deus como dói.
— Você tem um remédio para isso ou
algo assim?
— Sim, os médicos me deram um próprio,
mas não me lembro o nome – ele oscilou e encostou-se à parede – Me de qualquer
coisa.
— Qualquer coisa não vai ajudar em uma
enxaqueca severa. Fique aqui.
Ele queria pedir para ele não ir
embora, mas não teve forças. As pontadas atrás dos olhos foram mais fortes e
pontos brilhantes começaram a brilhar em sua retina.
Valentim voltou logo com um cobertor e
envolveu ele o pegando nos braços. Atordoado do modo como estava ele nem mesmo
registrou o que acontecia ao seu redor, a única coisa que sua mente parecia ter
foco era a dor, só a dor.
Percebeu que estava sendo colocado em
uma veiculo e, combatendo sua náusea, abriu os olhos e viu que estava em um
carro junto com Valentim. Não se importando com mais nada ele fechou os olhos
com força por causa dos faróis e a próxima coisa que percebeu era que estava
sendo retirado do carro e colocado em uma maca.
— Parece que você gosta desse hospital
– disse alguém perto dele e percebeu que estava diante do jovem médico que
cuidara dele quando sofreu o acidente – Sei que a luz dói, mas preciso examinar
você Mauro.
Uma luz forte caiu sobre seu olho
direito e ele quase gritou quando ondas de dor tomaram conta dele.
O médico tocou em sua testa.
— Calma, já vai passar. Olha meu nome
é Felipe e pelo que vejo o que está tendo é uma enxaqueca forte, mas eu tenho
que fazer perguntas importantes antes que o medique certo.
— Sim – gemeu ele só querendo que tudo
acabasse.
Depois de algumas perguntas o Dr.
Felipe chamou uma enfermeira e pediu que ele fosse internado e uma medicação
fosse aplicada em sua veia.
Quando foi para o quarto e um soro
aplicado em sua veia logo uma sonolência tomou conta de si e o calmante fez
efeito.
Felipe foi falar com Valentim que ele
conhecia dos tempos de escola.
Antes fora um rapaz magrelo, de pele
morena com cabelos pretos sempre cortados rentes e dentes tortos. Agora era um
médico de um metro e setenta e dois, os cabelos cacheados emolduravam o rosto
anguloso, onde olhos azuis brilhavam e graças aos aparelhos seus dentes brancos
eram certos no sorriso fácil.
— E ai? – perguntou Valentim
levantando da cadeira de plástico da pequena recepção – Como ele está?
— É uma enxaqueca bastante grave e ele
está medicado e sedado. Vai dormir umas doze horas e depois melhorar.
— Nunca pensei que dores de cabeça
pudessem fazer isso com as pessoas. O que desencadeia isso?
— Bem sem um exame eu não posso dizer.
Ele poder ter fibromialgia, alguma Disfunção Temporomandibular, mas o mais
comum com pessoas com enxaqueca é que a tensão e o estresse façam o trabalho
todo. Vou pedir exames e receitar um analgésico por hora, mas ele vai passar a noite
aqui – Felipe colocou a mão no ombro dele – Se quer um conselho vá para casa e
descanse, ele só vai acordar amanhã perto da hora do almoço.
Valentim estava relutante em ir
embora, mas não queria dar a noticia para a mãe por telefone e resolveu pegar a
estrada para a fazenda.
Enquanto dirigia na noite sem lua ele
ia pensando no que estava acontecendo.
Seus pais estavam preocupados com
Mauro. Desde a morte de Heitor ele vinha se comportando de modo estranho, cheio
de raiva, explodindo por qualquer coisa e por fim se isolando quando seu pai
brigou com ele depois dele discutir com Sacha de modo violento. Ele não falava
com ninguém e todo mundo acabou achando que era o melhor, mas ele não estava
tão certo disso.
Chegou de madrugada na fazenda
percebendo que ninguém tinha notado que ele tinha saído com o carro. Achou que
ia acabar assustando todos ao acordá-los preferiu deixar para cedo, conhecendo
a mãe ela ia correr para os hospital às duas da manhã.
Foi para o seu quarto e trocou para se
deitar, mas não conseguiu dormir pensando em Mauro e no sonho que tivera com
Heitor que pedia para cuidar do outro. Revirou na cama por muito tempo até que,
às cinco da manhã, levantou e tomou um banho encontrando todo mundo na cozinha
menos Dalton que acordava mais tarde e sua avó que estava de visita a uma prima
na cidade de Londrina.
— Bom dia Valentim – disse sua mãe
sorrindo para ele e depois franzindo as sobrancelhas aos ver as olheiras – Você
não dormiu bom essa noite filho?
— Bem eu... fui ver os cavalos à
noite, pois estavam inquietos durante o dia e encontrei Mauro passando mal com
uma forte enxaqueca e o levei para o hospital.
— O que? – sua mãe levantou
intempestivamente – Porque não nos acordou Valentim? Como ele está? Fio só
enxaqueca mesmo?
— Calma Sacha – Wagner segurou a mão
da esposa e olhou Valentim.
— O Dr. Felipe disse que era uma
enxaqueca grave, mas ele foi medicado e sedado para melhorar a dor. Ele ficou
no hospital em observação...
— Eu vou lá! – Sacha voltou a levantar
dessa vez não deixando o marido a deter.
— Sacha sei que está preocupada, mas
ainda é muito cedo para entrar no hospital.
— O médico disse que ele ia dormir até
a hora do almoço – completou Valentim, mas sua mãe não quis ouvir mais nada.
Sacha foi até onde as chaves dos
carros ficavam penduradas e saiu.
Bruno e Kaila estavam pasmos, mas
Wagner levantou e correu atrás da esposa.
— Sacha tenha calma!
— Eu não vou ter calma quando um filho
meu está em um hospital Wagner! – respondeu ela andando com o marido atrás dela
– Mesmo que seja cedo eu vou ficar na sala de espera até ele acordar.
— Sacha – Wagner finalmente a alcançou
e segurou seu pulso fazendo-a olhá-lo contrariada – Eu sei que está preocupada,
mas essa correria não ajuda em nada. Você está transtornada e não é prudente
dirigir assim.
— Muito bem! – os olhos azuis dela
ficaram frios e determinados – Me leve! – ela jogou a chave para ele.
— Eu por acaso sou seu chofer Sacha?
— Se você não vai fazer nada Wagner,
então me deixe em paz para ir até o meu filho!
— Seus filhos estão aqui!
Certo, aquilo foi à coisa errada a se
dizer, Wagner viu na hora. Sua esposa era uma mulher doce, mas virava uma leoa
quando se tratava dos filhos. Tinha a desagradável impressão que ia passar os
próximos dias no quarto de hóspedes e bem que ele merecia. Mauro era filho dela
mesmo que não o visse há muito tempo.
— Sacha desculpa...
— Sabe Wagner, você fala suas merdas e
depois vem para cima de mim com desculpas! Será que pode pensar um pouco antes
de falar?
— Sinto muito mesmo Sacha.
— Wagner se a presença de Mauro é um
problema para você gostaria que me falasse agora para que eu posse arranjar um
lugar para ele ficar.
— Eu nunca disse isso! – Wagner ficou
contrariado e vermelho – Sabe que não tenho problemas com Mauro, ao contrario,
eu o considero parte dos meus filhos.
— Mas não está parecendo pelo modo
como o trata.
— Sacha seu filho extrapolou naquele
dia ao gritar com você. Assim como eu não passo a mão na cabeça dos meus filhos
eu achei que ele precisava de uma lição.
— Discutir não vai ajudar em nada –
disse Valentim chegando perto deles – Desculpem, sei que isso é algo privado
entre vocês, mas eu não quero vê-los assim porque as palavras erradas foram
ditas na hora errada – ele segurou a mão da mãe – Nem um de nós quer que Mauro
vá embora mãe. Eu posso ter sido um idiota no inicio, mas não quero ele longe
daqui e sei que o pai também não quer isso. Quando estamos com raiva ou
preocupados falamos as piores bobagens.
— Desculpe mesmo Sacha – Wagner tocou
no rosto da esposa com carinho e sorriu – Mauro é parte da família.
— Pode apostar – disse Bruno perto
deles junto com Kaila – Não posso imaginar a fazenda sem o mal humorado
resmungando por ela.
— Abraço e fim das brigas! – gritou Kaila
pulando em Valentim e Bruno que abraçaram os pais rindo.
— Ei! – Godo vinha com o balde de
leite largou de qualquer jeito e correu para eles também abraçando todo mundo –
Não sei por que do abraço, mas também quero.
Todo mundo riu desanuviando o ambiente
e decidiram que Sacha e Wagner iam ver Mauro após o café da manhã enquanto os
outros cuidavam da fazenda.
No hospital Mauro acordou mais cedo do
que estava previsto. A enfermeira ainda do turno da noite viu o paciente
acordando e chamou Felipe que entrou sorrindo no quarto com o rosto demonstrando
cansaço.
— Bom dia – disse o doutor – Você acordou
cedo, heim?
Mauro estava confuso e ainda com uma
leve dor de cabeça. Sentia todo o corpo doer e seu estômago estava se rebelando
com ele, mas em comparação à noite anterior ele se sentia muito melhor.
— Como está se sentindo?
— Parece que andei mastigando algo bem
amargo.
— E a cabeça? – perguntou o médico
colocando o estetoscópio em seu peito.
— Sinto ela pesada e ainda com uma
leve dor.
— Isso é normal. Ataques de enxaqueca
duram normalmente algumas horas, mas existem pessoas que as apresentam por
dias.
— Não fala isso – gemeu Mauro – Dias com
aquela dor vai me matar!
— Calma! – Felipe riu dando um aperto
no nariz dele – Vamos controlar essa sua enxaqueca com alguns remédios, mas você
vai fazer alguns exames para mim e assim saberemos o tratamento exato.
— Será que posso ir para casa? – o rapaz
o olhou com os olhos pidões.
— Quando sua família chegar.
— Eu não tenho família – respondeu ele
com amargor virando de costas para o médico.
— Ei! – ele o desvirou – Estou ti
examinando! Se continuar a ser um paciente rebelde vai ficar aqui a semana
toda, heim? Olha não quero ser indiscreto, mas acho que você tem uma família
sim. Conheço Valentim e ele costuma ser um pouco frio com as pessoas e vi ele
preocupado daquela forma poucas vezes na vida.
— Ele é seu amigo?
— Sim, Valentim é meu amigo desde os
tempos de escola – ele deu um sorriso quando parou de olhar os olhos de Mauro –
Éramos três: eu, Valentim e Tiago. Vivíamos ralados e de castigos, éramos o
terror da cidade.
— Tiago?
— Ele é um professor de história
agora, mas foi embora assim que completou dezoito anos. Soube algo da vida dele
pelo pai que morreu recentemente – ele parecia triste com isso, mas deu-lhe um
sorriso tranqüilizador quando a enfermeira entrou no quarto avisando que Sacha
e Wagner haviam chegado – Bem sua família está ai – olhou a enfermeira – Peça para
que eles entrem Miriam.
Mauro remexeu-se temeroso na cama. As conversas
com Wagner não eram exatamente civilizadas naqueles dias e ele não estava em
condições de ter uma discussão.
Viu sua mãe primeiro. Ela entrou com a
de preocupação e foi até ele sorrindo.
— Filho como está?
— Bem mãe, eu não queria preocupar a
senhora. Eu tinha enxaquecas de vez em quando, mas essa foi um pouco excessiva.
— Precisa parar de me dar esses sustos
– disse ela de modo tremulo o abraçando.
— Ele está bom para ir para casa
doutor? – perguntou Wagner para Felipe que riu dele.
— É tão estranho o senhor me chamar de
doutor tio.
— É estranho ver você um doutor e não
um guri sujo de terra e mangas por todo o rosto – ele sorriu para Felipe, mas
depois se voltou para Mauro que, vermelho, desviou os olhos.
— Sim ele pode ir para casa – disse Felipe
– Vou assinar a alta e trazer as receitas com medicamentos e exames que ele
deve fazer. Também peço que fique descansando os próximos três dias Mauro. Nada
de escalar montanhas ou monta em touros bravos.
Mauro não pode deixar de sorrir das
brincadeiras do médico. Quando Felipe saiu, Wagner foi par aperto dele.
— Como está se sentindo Mauro?
— Estou bem – ele respondeu olhando
para as mãos em cima do lençol branco.
Wagner sentou do outro lado da cama
junto com sua mãe e segurou seu queixo com delicadeza levantando sua cabeça.
— Sei que não é hora Mauro, mas acho
que temos que conversar.
— Wagner me desculpe às bobagens que
andei fazendo – ele disse depressa antes que brigassem e ele estava enjoado das
brigas – Sei que fui como um adolescente mimado...
— Acho que você foi como um homem
ferido Mauro. Todos nós agimos de um modo à dor e você estava com raiva, só não
é certo descontar na sua mãe ou nos outros da família, porque somos a sua
família Mauro, quer queira quer não – ele deu um sorriso – Minha mãe diz que
família é uma praga para sempre.
— Só a Lucia – resmungou a sua mãe
contrariada.
— Então companheiro? – Wagner colocou
a mão em seu ombro – Vamos para casa?
Com os olhos cheios de lagrimas em
meio a um grande sorriso ele assentiu.
Firbromialgia: O termo fibromialgia
refere-se a uma condição dolorosa generalizada e crônica. Atualmente sabe-se
que a fibromialgia é uma forma de reumatismo associada à da sensibilidade do
indivíduo frente a um estímulo doloroso.
Disfunção Temporomandibular: É uma disfunção que ocorre na articulação
da mandíbula. Seus sintomas são dores musculares, articulares, zunidos no
ouvido, otite, limitação na abertura da boca, bruxismo, enxaquecas, inchaços na
face ao lado da boca, dor de ouvido, surdez momentânea e ruídos articulares.
Fonte: http://www.brasilescola.com/
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