CRHIST
Capitulo 3 – Um noivo e
uma traição
Dator pegou dois guardanapos jogando
um para Crhist que estava pálido de raiva e o outro colocou na mão de Davi que
estava pálido de susto.
— Parece um acordo muito vantajoso –
disse Ymai Vramen – O rei Delano com um Kustas é a junção perfeita das duas casas.
— Concordo – disse Narion com um
sorriso e os olhos brilhando.
— Mas o que diabos está todo mundo
falando? – Davi se sentia perdido no meio de toda aquela confusão, mas a cara
de horror de Crhist era hilária.
— Seu desgraçado! – ele apertou o guardanapo
manchando ele com mais sangue – Como pode me ofender dessa maneira?
— Será que podem nos dar licença? –
Ausna segurou o braço de Crhist e o de Davi e os arrastou para fora do salão.
— Você não pode concordar com isso
mãe! – o rapaz de cabelos prateados gritava.
— Não se trata de concordar ou não
Crhist – retrucou Ismail áspero – Viu o que aqueles nobres deslumbrados estavam
dizendo?
— Eu não me importo!
— A culpa é sua! - Valhalla apontou o dedo para Crhist – Podia
tê-lo machucado sério.
— Eu não admito que uma Feten fale
assim comigo! – Crhist estava vermelho de raiva.
— Então vai admitir que a sua mãe fale
assim com você! – ante a dureza na voz sempre calma de Ausna todos se
encolherem – Se não tivesse colocado tanta força no copo não estaríamos nessa
situação!
— Será que alguém, por favor, pode me
dizer o que está acontecendo? – Davi gritou contrariado.
— Não adiante continuarmos discutindo
no corredor – Dator abriu a porta do escritório de Ismail – Vamos para o
escritório.
Amuado, Crhist foi para um canto apertando
o guardanapo manchado.
— Davi – Dator o olhou com aqueles
olhos calmos – aqui em Naral quando duas pessoas juntam o sangue quer dizer que
estão juntando as suas vidas é um tipo de pedido de casamento.
— Mas como? – Davi caiu sentado na
poltrona – Que idiotice é essa? Ninguém pode estar levando isso a sério! Somos
dois garotos.
— Não sei como é no seu mundo –
Valhalla sentou em uma poltrona – Mas aqui em Naral amar e casar com pessoas do
mesmo sexo é algo comum, entre nós é considerado o tipo de amor mais belo que
existe.
— Você deve estar de brincadeira –
Davi corou furiosamente – As pessoas no salão acham que eu pedi “ele” em
casamento?!
— Eu jamais pediria um estrangeiro em
casamento! – o rapaz o olhava com aversão – Isso seria uma ofensa!
— Ofensa ou não os dois vão ter que se
suportar – disse Ismail com a expressão dura – A situação política de Eyri é
muito instável para mudar isso agora.
— Das coisas estranhas que eu vi hoje
essa foi à pior – Davi não se conformava – Como eles podem achar que eu pedi
ele em casamento depois dele ter quebrado um copo em mim!
— Na verdade vocês podiam ser mais
discretos – Sípria entrou com alguns apetrechos – Todo mundo viu mais cedo à
troca de olhares de vocês. Os empregados estavam fofocando na cozinha. Deixa-meeu
ver a sua mão majestade.
— Troca de olhares? Ta de gozação? Ele
me olhava como se quisesse me mandar para outro planeta!
Dator começou a rir e Crhist reagiu
indignado.
— Isso não é engraçado Landro!
— Vocês estão transformando uma poça
em um oceano – disse Dator – Deixem os nobres pensarem que estão noivos e
depois cancelem o noivado, caso não o queiram.
— Você é muito engraçado – resmungou
Davi que pulou quando Sípria limpou seu machucado – Ui! Isso dói!
— Só mais um momento – disse ela
sorrindo para ele – Foi só um corte superficial – ela passou os dedos pelo
corte e de repente não havia mais nada ali – Uau! Como você faz isso?
— É o meu poder de cura – respondeu
ela dando de ombros – Não é muito forte, mas ajuda com pequenos cortes e
escoriações. Agora me deixe ver a sua
mão Crhist.
Ele fez uma careta para ela.
— Eu tenho meu próprio poder de cura!
Mas Sípria não lhe deu ouvidos,
arrancou o guardanapo ensangüentado das mãos dele percebendo que realmente não
havia mais corte nem um só um monte de manchas de sangue e suco.
— Vamos fazer como Dator disse – falou
Ausna – Com o passar do tempo e a estabilidade política se firmar no seu
reinado, o noivado de vocês pode ser cancelado sem muito escândalo.
Crhist levantou-se de modo intempestivo
e saiu da sala.
— Meu genioso filho – na voz de Ausna
havia carinho e preocupação – Pensei que a cavalaria iria colocar algum juízo
na cabeça dele – virou-se para Davi – Majestade peço desculpas por tudo isso.
— Tudo bem – Davi sorriu para ela para
tranqüiliza-la – Minha mãe costuma dizer que o que não tem remédio remediado
está.
— Sua mãe é sabia – disse Dator – A festa
já deve ter acabado, vou acompanhá-lo até o seu quarto.
— Duvido que eles percebam a falta do
rei - disse Sípria indo para a porta – Estavam tão eriçados com o romance do
século que nem notaram que vocês saíram.
~~***~~
Davi revirava na cama fofa e quente.
— Que sonho estranho. Acho que...
hã... fiquei noivo, né?
— Bom dia! – alguém abriu as janelas
deixando o sol entrar fazendo Davi esconder a cabeça nos cobertores – Como foi à
noite majestade?
— Majestade?! – Davi seu um pulo
descobrindo a cabeça e acordando de vez – Não foi um sonho.
Na noite anterior Dator o levara para
um quarto em outra parte do castelo, mas Davi estava tão cansado que nem notara
para onde estava indo ou como era o quarto. Havia se trocado e dormido
imediatamente ao colocar a cabeça no travesseiro.
Sípria terminou de abrir as cortinas e
Davi pode ver melhor o quarto.
Era um quarto grande, com móveis
pesados feitos de uma madeira de cor marfim. O chão de pedra branca e polida
era coberto de tapetes e as paredes cobertas de quadros de homens de aparência
imponente, mas um desses quadros chamou a sua atenção. Era de um homem com uma
magnífica coroa cabelos loiros com belos olhos verdes. Seu sorriso iluminava a
pintura a ponto dela ganhar vida. Ele parecia muito com seu pai e com ele
mesmo.
— Quem é ele Sípria?
— O último Grande Rei, aquele que foi
para o exílio com o filho – olhou para o quadro e depois para Davi – Vocês se
parecem muito.
— Ele é a cara do mau pai – levantou e
andou descalço até o quadro – Então sou descendente de você... – virou para a
governanta que o olhava de modo calmo – Sípria eu tenho irmãos, porque eles não
estão aqui?
— Porque para ser rei não adianta ser
só descendente da linha real Delano, precisa ter dentro de si um grande poder,
um poder capaz de mover o mundo.
— Você está falando da mágica de vocês?
— O poder dos eyrianos vem da terra,
da própria alma do mundo. O poder do rei é o maior poder de todos e dependendo
de como ele é usado poder ser terrível ou pode ser maravilhoso.
— “Com grandes poderes vem grandes
responsabilidades” – Davi lembrou da célebre frase da revista em quadrinhos de
Marvel, O Homem Aranha.
— É uma fala sábia meu rei.
— Acha mesmo que tenho um poder assim?
— Claro meu lord rei.
— Essa é nova – ele olhou para a moça
– O que isso quer dizer/
— Agora que está de volta é o lord Ca
casa Delano.
— Lord! Mas e o senhor Delano?
— Ele continuara a ser o conde, mas
todas as decisões da casa Delano devem passar por você.
Outra responsabilidade? Já não bastava
o reino todo?
— O quarto ao lado é um banheiro – ela
apontou para uma porta que ele não tinha visto – A banheira já tem água quente
para o seu banho – ela foi pegando as roupas que ele tinha usado no dia
anterior – Tem toalhas e roupas limpas também – ela inclinou-se – Com licença.
Davi foi curioso para o quarto ao lado
e abriu a porta.
O banheiro era maior que a sala da sua
casa na Terra. Era todo de mármore, ou pelo menos ele achava que Ra mármore
aquela pedra branco leitosa com veios rosa. Havia uma bancada onde estava a pia
e o espelho. Em cima dela ele viu vários produtos como perfumes, óleos, sais de
banho e sabonetes. Não havia chuveiro, mas uma banheira que mais parecia uma
pequena piscina com duas torneiras à volta dela. A água quente saia vapor e um
cheiro de cedro subia da espuma que estava em toda ela. Do outro lado do
banheiro havia um armário com toalhas e roupões com um estranho símbolo
bordado, uma videira e um dragão entrelaçados. Mais tarde ele descobriria que
era o símbolo dos Delano.
O vaso sanitário era muito parecido
com os da Terra, mas a caixa de descarga era de metal o que o fez rir.
Havia peças de roupas na ponta do
balcão e ele ficou feliz por serem peças simples como a calça preta de tecido
confortável, uma blusa branca de mangas longas e bordada com pequenos ramos
floridos nas barras, um colete também preto e meias brancas.
Com um suspiro ele retirou o pijama e
entrou na água quente e perfumada tentando relaxar e colocar seus pensamentos
no lugar.
Depois de tomar banho vestiu as roupas
e colocou as botas pretas e lustrosas. Ele se sentia bem melhor e ao entrar no
quarto percebeu que alguém havia posto à mesa para o café e seu estomago roncou
de fome.
Nesse momento a porta abriu
intempestivamente e Crhist entrou sem nem mesmo olha-lo e sentou na pesa feita
para duas pessoas.
— Ei! – Davi ficou vermelho de raiva –
O que você pensa que está fazendo?
— O que deve ser feito – ele desdobrou
o guardanapo e colocou no colo olhando Davi – Como seu noivo sou obrigado a
dividir as refeições com você.
— Não tem ninguém aqui para você fazer
o papel de noivo devoto – resmungou o rei.
— Esqueceu dos servos? Poucos sabem da
nossa situação real, por isso tome o seu café de uma vez!
Davi estremeceu de raiva, mas não teve
opção a não ser sentar com aquele desagradável.
Quando Dator entrou encontrou os dois
assim, um procurando não olhar para o outro enquanto comiam.
— Bom dia majestade, bom dia Crhist.
— Bom dia Dator! – respondeu Davi
sorrindo ao ver uma cara feliz.
Crhist não respondeu.
— Seja mais educado com seu irmão!
— O jeito que o trato é problema meu!
– respondeu o outro com os olhos claros brilhando.
— Você se acha tão superior e nem é
capaz de tratar bem as pessoas.
— Você não é nada para me criticar!
— Acho que sou o rei aqui! – Davi
sorriu docemente.
— Você não passa de um inútil!
— Não me chame de inútil droga!
— Acho que se acabaram é melhor irmos
para o escritório majestade.
A vontade de Davi era jogar o chá na
cabeça daquele impertinente, mas já havia confusão demais na sua vida.
Eles saíram para os corredores
iluminados pelo sol que entrava nas grandes janelas. Crhist ia atrás deles com
a cara amarrada e braços cruzados.
— Ele tem que ficar atrás de mim? –
reclamou Davi para Dator.
— Nossa mãe ordenou para que ele
mantivesse as aparências por ora.
— Aparências, heim? – ele sorriu
maldoso e falou sem se voltar – Pelo menos faça uma cara mais feliz Crhist!
— Cala a boca!
Davi riu e percebeu que gostava de
atazanar o outro.
Eles chegaram ao escritório de Ismail
onde uma discussão estava em progresso.
— O que você acha que vai acontecer se
formos atacados Valhalla! – gritava Ismail.
— Estamos em época de paz! Será que
não podemos deixar os soldados irem para casa?
— Se fizermos isso e Otop nos atacar
seremos arrasados.
— O que está acontecendo? – perguntou
Dator olhando um para o outro.
— A velha discussão – Sípria entrou com
uma bandeja contendo um chá perfumado – Valhalla quer a dispensas de parte das
tropas e Ismail pensa na segurança do reino.
— Acho que de agora em diante isso é
assunto de que o rei deve opinar – disse Ismail sentando.
— Eu?!
— Antes de qualquer coisa ele deve
entender a situação do reino – disse Sipria com as mãos na cintura – Vocês
sinceramente acham que o menino, que veio de um mundo diferente, com costumes
diferentes, vai ter alguma solução mágica para conflitos e problemas que tem
centenas de anos? Ausna foi treinada durante anos pelo antigo regente e mesmo
assim teve dificuldades para governar porque esperavam muito dela. Se tiverem
um pouco de juízo vão ensiná-lo antes de jogá-lo no mundo da política – ela se
inclinou para Davi e depois para Ismail – Com licença Majestade, meu lord.
— Sípria é sabia – disse Dator – Davi
é o rei e a ele cabe as decisões, mas é nosso dever ajudá-lo com essas
decisões.
— Esta bem – Valhalla levantou-se da
poltrona onde tinha sentado – Quando ele estiver apto para me ouvir eu voltarei
ao assunto – ela lançou um olhar contrariado para Ismail que franziu a testa e
depois revirou os olhos.
— Valhalla onde esta a minha mãe? –
perguntou Dator.
— No templo falando com Drima. Como
você ordenou Kal está com ela agora.
— Kal é o melhor no que faz – disse
Ismail mexendo em sua papelada – Foi você mesmo quem o treinou.
— Sei disso Ismail, confio em Kal para
cuidar de nossa mãe.
— Kal? – perguntou Davi curioso.
— É o novo guarda costas de Ausna –
respondeu Valhalla olhando para o céu azul pela janela – Dator é o segurança
dos regentes, agora do rei e por isso foi designado outro para ela.
— Pra mim é uma grande honra servi-lo
majestade – disse Dator inclinando-se para Davi e sorrindo para ele.
— Se temos que começar com as lições
façamos imediatamente – Ismail apontou para um grande mapa que havia em uma das
paredes – Primeiro as divisões políticas de Eyri.
Davi quase gemeu de desgosto, até
naquele mundo ele era obrigado a estudar!
~~***~~~
Ausna senti-se leve naquela manhã ao
cavalgar pelos campos de Eyri. Depois de tanto tempo sendo a Regente do reino,
retirar esse fardo de suas costas era um grande alivio. Ela só se preocupava
com a criança que agora era rei.
Ela tinha confiança nos seus filhos
para instruir o novo rei, mas Crhist a preocupava. O filho caçula ao longo
daqueles anos havia ficado tão diferente do pai e dela mesma, era um rapaz
amargo, frio e por vezes calculista. Usava de todas as armas quando queria algo
e não parecia preocupado com isso.
Seu marido Cinrei era a alegria do
Castelo Branco e o querido de todo o reino a ponto dele ser aclamado pelo povo
como o novo rei, mas o estron dizia que o verdadeiro rei viria logo.
— Você não viveu para vê-lo meu
querido – murmurou para o vento – Sua existência foi tão efêmera, você nem pode
ver Crhist crescer.
Ao longe ela avistou o Templo da Luz.
Era um castelo de construção relativamente nova cercado de jardins e pomares
que brilhavam a luz do sol.
TEMPLO DA LUZ
Ali era a capital da religião de Eyri,
local onde as guardiãs eram formadas e iam para todo o país.
Uma moça a esperava sentada em uma em
uma grande pedra à beira da estrada.
— Drima! – Ausna acenou para a
Guardiã.
— Feliz chegada Ausna – respondeu a
moça.
Drima era uma mulher baixa de longos
cabelos castanhos e olhos pretos. Parecia uma pessoa comum e nada nela dizia
que era a portadora de um poder fenomenal. Drima era a guardiã do poder da
terra em Inay.
— Vamos andar pelos jardins – disse
Drima pulando da rocha – Deixe seu cavalo com a sua sombra.
— Sombra?! – Kal saiu do meio das
árvores olhando torto para Drima.
Kal Mynai era um militar discreto que
fora treinado por Dator para substituir ele na guarda de sua mãe caso fosse
necessário. Ele era um homem alto, de pele morena onde se destacavam os olhos
azuis. Os cabelos pretos longos eram amarrados em um rabo de cavalo.
— Obrigada por cuidar de mim Kal –
disse Ausna entregando as rédeas para ele – Mas gostaria de ficar a sós com
Drima.
— O comandante vai arrancar a minha
cabeça se algo lhe acontecer, senhora Ausna.
— Não é a toa que o Templo da Luz não
tem muros soldado – Drima segurou a mão de Ausna – Vamos.
Kal ficou para trás com cara de poucos
amigos.
As duas entraram pelos jardins e
pomares até um canto onde uma fonte de pedra gorgolejava. Era uma bacia feita
de pedra branca que caia em uma piscina mais abaixo. Em volta delas haviam
arbustos de flores amarelas e perfumadas e bancos de madeira estavam
distribuídos por todo lado.
Elas sentaram em um dos bancos e Drima
respondeu a uma pergunta que Ausna ainda não tinha feito.
— Eu sei onde esta o livro.
— Que bom – Ausna parecia aliviada –
Queria muito ter uma resposta positiva para o rei.
— Mas isso não quer dizer nada Ausna. O
Livro das Trevas está livre de suas amarras, agora ele age por conta própria.
Ela não esta mais ligado à linhagem Delano.
— O que isso quer dizer Drima?
— O Livro foi criado para um propósito
e agora que não o tem ele pode fazer o que quiser.
— Isso não é perigoso?
— O Livro é feito de magia Ausna, ele
não pode ser classificado nos termos de bom ou mau. Ele desaparecera quando a
magia que o rege desaparecer.
— Pobre criança – disse Ausna olhando
para o céu azul que se descortinava por entre os ramos das árvores – Eu me
perguntava se o Livro o levaria de volta se as coisas não dessem certo.
— É isso que você quer? Voltar a ser
regente?
— Não, nunca mais. Só estou com pena
dele Drima – olhou os profundos olhos negros de Drima – Ele nem tem ideia no
que está se metendo, no quanto a situação política de Eyri é complicada e frágil.
Não passa de uma criança de um mundo diferente. Que tipo de monstros somos ao
fazer isso?
— Pare de se martirizar. Sabe que ele
esta junto aos melhores. Ismail pode ser um imbecil mau humorado, mas é um
político sagaz e um estrategista frio. Valhalla é resmungona e um pé no saco,
mas conhece o povo como ninguém. Dator é o melhor conselheiro que o menino
poderia ter e Crhist... bem Crhist vai manter ele na linha.
— Que? Meu filho caçula odeia ele.
— Mas eles estão ligados Ausna. Eu vi
as projeções para o futuro... nada boas... são sombrias minha amiga. Família
contra família, guerras entre os reinos...
— Drima...
— Mas o futuro do reino de Davi Delano
é projetado como um rastro de luz em toada essa escuridão. Ausna, se ele quiser
pode ser o maior dos reis!
— Ele é uma criança Drima! Acha que
ele não sente falta da família dele?
— Eu entendo você Ausna, mas Davi
deixou de ser uma criança quando chegou a Naral – a guardiã deu um longo
suspiro – Sabe você é incorrigível! Eu vou tentar falar com o Livro de algum
modo, mas não prometo nada. Talvez a gente consiga que isso funcione de algum
modo – ela se levantou – Vamos para o templo que eu quero ti mostrar algo.
O castelo era também uma área de
peregrinação por isso estava sempre cheio de pessoas vindas de todas as partes
de Eyri. Havia uma construção larga e comprida atrás do castelo, eram
alojamentos para os peregrinos, feito por Ausna em sua época de regência. Os
pátios internos eram os locais onde o povo se reunia com as guardiãs na procura
de entrarem em contato com a Alma do Mundo. Sempre havia pessoas sentadas nos
bancos, deitadas nos gramados tentando entrar em sintonia com a fonte do poder
de Eyri, a alma de Naral. Ali vigiavam as linhas de força de força de Eyri
através do lago espelho que ficava no subsolo do castelo, mas apenas as
guardiãs tinham acesso a ele.
Elas entraram no templo vendo as
estatuas dos antigos reis de Eyri que adornavam nichos nas paredes e estatuas
de flores e arvores por todo o lado simbolizando a Alma do Mundo.
Atravessaram corredores até darem em
uma porta antiga, de madeira vermelha toda entalhada com símbolos antigos
cheios de poder.
Drima tocou em um desses símbolos e a
porta abriu lentamente dando para uma escadaria que desaparecia no escuro.
— Drima você está me levando...
— Ao lago espelho. Esta na hora de
você dar uma olhada nele.
Ausna nunca imaginara que isso fosse
acontecer. Nem mesmo os reis os reis podiam olhar naquele lago conectado até a
alma do mundo.
Conforme iam descendo as tochas presas
na paredes iam ascendendo. Elas desciam cada vez mais pelo corredor úmido com
os degraus da escada desgastados pelo tempo.
O primeiro Templo da Luz era subterrâneo,
feito em uma época onde até a religião era algo perigoso. Sua construção datava
de cinco mil anos atrás.
O poder da terra era tão forte ali que
Ausna sentia a ponta dos dedos formigarem e o coração disparar.
— Drima... – Ausna parecia assustada.
— Tudo bem – ela virou-se para a
antiga regente e segurou a sua mão – Seu poder não vai se descontrolar, apenas
respire profundamente e acalme os seus nervos.
Ausna assentiu e voltaram a descer as
escadas que pareciam infindáveis.
Finalmente chegaram a uma caverna onde
magníficas estalactites pendiam do teto e formavam estalagmites no chão até se
juntarem em colunas. O pinga-pinga da água era ouvido por todo lado. No centro
da caverna havia um pequeno lago com a água totalmente parada, uma estranha
água escura sem a mínima ondulação. Parecia mais um liquido viscoso que água.
Ausna aproximou-se lentamente e
percebeu que nem mesmo o brilho das tochas eram refletidas por pelas águas.
— Solte seu poder agora Ausna. Esse lago
está ligado à alma do mundo.
Ausna puxou uma corrente de prata de
onde pendia um pingente, uma pedra marrom em forma de gota, a pedra de acalanto.
Os eyrianos eram um povo que há muito
havia esquecido de onde vieram, o que sabiam era que as pedras de acalanto os
acompanhavam desde o momento que tinham algum registro de sua história e mesmo
o registro falado de lendas contavam daquelas pedras. Eles ajudavam o povo de
Eyri a coordenar os seus poderes que de outro modo ficariam descontrolados. O poder
manifestava-se em um eyriano por volta dos oito anos, quando ele ganhava sua
pedra. Elas eram retiradas de vários locais e cada uma tinha um significado e uma
história. Elas acumulavam memórias dos seus donos, sonhos e esperanças dando
força nos piores momentos.
A pedra de acalanto de Ausna brilhou
no momento que ela segurava e logo ela estava brilhando inteira.
De repente o lago espelho crispou como
se alguém tivesse jogado uma pedra nele. As ondas aumentaram a ponto de o lago
parecer estar em ebulição.
Ausna sentia seu poder fluir dela para
o lago e do lago para algo mais profundo e mais vasto, tão vasto que ela se
contraiu de medo.
— Tudo bem – Drima pôs a mão em seu
ombro – A alma do mundo ti chama.
A água do lago voltou a se aquietar e
agora Ausna podia ver algo, imagens que se formavam em superfície. Na imagem um
arqueiro segurava uma flecha ensanguentada e a deixava cair em um rio que
ficava vermelho sangue e ele olhou ao longe onde uma grande guerra explodia
e...
— Não! – Ausna caiu de joelhos à beira
do lago cobrindo o rosto com as mãos – Meus filhos não!
— Ausna tudo bem?
— Você viu Drima?
— Não a visão é só sua. Mas preste
atenção, o que você viu tem várias interpretações.
— Eu vi um arqueiro segurando uma
flecha cheia de sangue, um rio vermelho e a guerra e... meus filhos mortos –
Ausna tremia.
— Era o que eu temia.
— Drima – Ausna se levantou – Você sabe
o significado da visão?
— Traição!
ta muito da horaaa
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