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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Os Contos de Naral - Capitulo 3 - Um noivo e uma traição

CRHIST

Capitulo 3 – Um noivo e uma traição


Dator pegou dois guardanapos jogando um para Crhist que estava pálido de raiva e o outro colocou na mão de Davi que estava pálido de susto.

— Parece um acordo muito vantajoso – disse Ymai Vramen – O rei Delano com um Kustas é a junção perfeita das duas casas.

— Concordo – disse Narion com um sorriso e os olhos brilhando.

— Mas o que diabos está todo mundo falando? – Davi se sentia perdido no meio de toda aquela confusão, mas a cara de horror de Crhist era hilária.

— Seu desgraçado! – ele apertou o guardanapo manchando ele com mais sangue – Como pode me ofender dessa maneira?

— Será que podem nos dar licença? – Ausna segurou o braço de Crhist e o de Davi e os arrastou para fora do salão.

— Você não pode concordar com isso mãe! – o rapaz de cabelos prateados gritava.

— Não se trata de concordar ou não Crhist – retrucou Ismail áspero – Viu o que aqueles nobres deslumbrados estavam dizendo?

— Eu não me importo!

— A culpa é sua!  - Valhalla apontou o dedo para Crhist – Podia tê-lo machucado sério.

— Eu não admito que uma Feten fale assim comigo! – Crhist estava vermelho de raiva.

— Então vai admitir que a sua mãe fale assim com você! – ante a dureza na voz sempre calma de Ausna todos se encolherem – Se não tivesse colocado tanta força no copo não estaríamos nessa situação!

— Será que alguém, por favor, pode me dizer o que está acontecendo? – Davi gritou contrariado.

— Não adiante continuarmos discutindo no corredor – Dator abriu a porta do escritório de Ismail – Vamos para o escritório.

Amuado, Crhist foi para um canto apertando o guardanapo manchado.

— Davi – Dator o olhou com aqueles olhos calmos – aqui em Naral quando duas pessoas juntam o sangue quer dizer que estão juntando as suas vidas é um tipo de pedido de casamento.

— Mas como? – Davi caiu sentado na poltrona – Que idiotice é essa? Ninguém pode estar levando isso a sério! Somos dois garotos.

— Não sei como é no seu mundo – Valhalla sentou em uma poltrona – Mas aqui em Naral amar e casar com pessoas do mesmo sexo é algo comum, entre nós é considerado o tipo de amor mais belo que existe.

— Você deve estar de brincadeira – Davi corou furiosamente – As pessoas no salão acham que eu pedi “ele” em casamento?!

— Eu jamais pediria um estrangeiro em casamento! – o rapaz o olhava com aversão – Isso seria uma ofensa!

— Ofensa ou não os dois vão ter que se suportar – disse Ismail com a expressão dura – A situação política de Eyri é muito instável para mudar isso agora.

— Das coisas estranhas que eu vi hoje essa foi à pior – Davi não se conformava – Como eles podem achar que eu pedi ele em casamento depois dele ter quebrado um copo em mim!

— Na verdade vocês podiam ser mais discretos – Sípria entrou com alguns apetrechos – Todo mundo viu mais cedo à troca de olhares de vocês. Os empregados estavam fofocando na cozinha. Deixa-meeu ver a sua mão majestade.

— Troca de olhares? Ta de gozação? Ele me olhava como se quisesse me mandar para outro planeta!

Dator começou a rir e Crhist reagiu indignado.

— Isso não é engraçado Landro!

— Vocês estão transformando uma poça em um oceano – disse Dator – Deixem os nobres pensarem que estão noivos e depois cancelem o noivado, caso não o queiram.

— Você é muito engraçado – resmungou Davi que pulou quando Sípria limpou seu machucado – Ui! Isso dói!

— Só mais um momento – disse ela sorrindo para ele – Foi só um corte superficial – ela passou os dedos pelo corte e de repente não havia mais nada ali – Uau! Como você faz isso?

— É o meu poder de cura – respondeu ela dando de ombros – Não é muito forte, mas ajuda com pequenos cortes e escoriações.  Agora me deixe ver a sua mão Crhist.

Ele fez uma careta para ela.

— Eu tenho meu próprio poder de cura!

Mas Sípria não lhe deu ouvidos, arrancou o guardanapo ensangüentado das mãos dele percebendo que realmente não havia mais corte nem um só um monte de manchas de sangue e suco.

— Vamos fazer como Dator disse – falou Ausna – Com o passar do tempo e a estabilidade política se firmar no seu reinado, o noivado de vocês pode ser cancelado sem muito escândalo.

Crhist levantou-se de modo intempestivo e saiu da sala.

— Meu genioso filho – na voz de Ausna havia carinho e preocupação – Pensei que a cavalaria iria colocar algum juízo na cabeça dele – virou-se para Davi – Majestade peço desculpas por tudo isso.

— Tudo bem – Davi sorriu para ela para tranqüiliza-la – Minha mãe costuma dizer que o que não tem remédio remediado está.

— Sua mãe é sabia – disse Dator – A festa já deve ter acabado, vou acompanhá-lo até o seu quarto.

— Duvido que eles percebam a falta do rei - disse Sípria indo para a porta – Estavam tão eriçados com o romance do século que nem notaram que vocês saíram.

~~***~~

Davi revirava na cama fofa e quente.

— Que sonho estranho. Acho que... hã... fiquei noivo, né?

— Bom dia! – alguém abriu as janelas deixando o sol entrar fazendo Davi esconder a cabeça nos cobertores – Como foi à noite majestade?

— Majestade?! – Davi seu um pulo descobrindo a cabeça e acordando de vez – Não foi um sonho.

Na noite anterior Dator o levara para um quarto em outra parte do castelo, mas Davi estava tão cansado que nem notara para onde estava indo ou como era o quarto. Havia se trocado e dormido imediatamente ao colocar a cabeça no travesseiro.

Sípria terminou de abrir as cortinas e Davi pode ver melhor o quarto.

Era um quarto grande, com móveis pesados feitos de uma madeira de cor marfim. O chão de pedra branca e polida era coberto de tapetes e as paredes cobertas de quadros de homens de aparência imponente, mas um desses quadros chamou a sua atenção. Era de um homem com uma magnífica coroa cabelos loiros com belos olhos verdes. Seu sorriso iluminava a pintura a ponto dela ganhar vida. Ele parecia muito com seu pai e com ele mesmo.

— Quem é ele Sípria?

— O último Grande Rei, aquele que foi para o exílio com o filho – olhou para o quadro e depois para Davi – Vocês se parecem muito.

— Ele é a cara do mau pai – levantou e andou descalço até o quadro – Então sou descendente de você... – virou para a governanta que o olhava de modo calmo – Sípria eu tenho irmãos, porque eles não estão aqui?

— Porque para ser rei não adianta ser só descendente da linha real Delano, precisa ter dentro de si um grande poder, um poder capaz de mover o mundo.

— Você está falando da mágica de vocês?

— O poder dos eyrianos vem da terra, da própria alma do mundo. O poder do rei é o maior poder de todos e dependendo de como ele é usado poder ser terrível ou pode ser maravilhoso.

— “Com grandes poderes vem grandes responsabilidades” – Davi lembrou da célebre frase da revista em quadrinhos de Marvel, O Homem Aranha.

— É uma fala sábia meu rei.

— Acha mesmo que tenho um poder assim?

— Claro meu lord rei.

— Essa é nova – ele olhou para a moça – O que isso quer dizer/

— Agora que está de volta é o lord Ca casa Delano.

— Lord! Mas e o senhor Delano?

— Ele continuara a ser o conde, mas todas as decisões da casa Delano devem passar por você.

Outra responsabilidade? Já não bastava o reino todo?

— O quarto ao lado é um banheiro – ela apontou para uma porta que ele não tinha visto – A banheira já tem água quente para o seu banho – ela foi pegando as roupas que ele tinha usado no dia anterior – Tem toalhas e roupas limpas também – ela inclinou-se – Com licença.

Davi foi curioso para o quarto ao lado e abriu a porta.

O banheiro era maior que a sala da sua casa na Terra. Era todo de mármore, ou pelo menos ele achava que Ra mármore aquela pedra branco leitosa com veios rosa. Havia uma bancada onde estava a pia e o espelho. Em cima dela ele viu vários produtos como perfumes, óleos, sais de banho e sabonetes. Não havia chuveiro, mas uma banheira que mais parecia uma pequena piscina com duas torneiras à volta dela. A água quente saia vapor e um cheiro de cedro subia da espuma que estava em toda ela. Do outro lado do banheiro havia um armário com toalhas e roupões com um estranho símbolo bordado, uma videira e um dragão entrelaçados. Mais tarde ele descobriria que era o símbolo dos Delano.

O vaso sanitário era muito parecido com os da Terra, mas a caixa de descarga era de metal o que o fez rir.

Havia peças de roupas na ponta do balcão e ele ficou feliz por serem peças simples como a calça preta de tecido confortável, uma blusa branca de mangas longas e bordada com pequenos ramos floridos nas barras, um colete também preto e meias brancas.

Com um suspiro ele retirou o pijama e entrou na água quente e perfumada tentando relaxar e colocar seus pensamentos no lugar.

Depois de tomar banho vestiu as roupas e colocou as botas pretas e lustrosas. Ele se sentia bem melhor e ao entrar no quarto percebeu que alguém havia posto à mesa para o café e seu estomago roncou de fome.

Nesse momento a porta abriu intempestivamente e Crhist entrou sem nem mesmo olha-lo e sentou na pesa feita para duas pessoas.

— Ei! – Davi ficou vermelho de raiva – O que você pensa que está fazendo?

— O que deve ser feito – ele desdobrou o guardanapo e colocou no colo olhando Davi – Como seu noivo sou obrigado a dividir as refeições com você.

— Não tem ninguém aqui para você fazer o papel de noivo devoto – resmungou o rei.

— Esqueceu dos servos? Poucos sabem da nossa situação real, por isso tome o seu café de uma vez!

Davi estremeceu de raiva, mas não teve opção a não ser sentar com aquele desagradável.

Quando Dator entrou encontrou os dois assim, um procurando não olhar para o outro enquanto comiam.

— Bom dia majestade, bom dia Crhist.

— Bom dia Dator! – respondeu Davi sorrindo ao ver uma cara feliz.

Crhist não respondeu.

— Seja mais educado com seu irmão!

— O jeito que o trato é problema meu! – respondeu o outro com os olhos claros brilhando.

— Você se acha tão superior e nem é capaz de tratar bem as pessoas.

— Você não é nada para me criticar!

— Acho que sou o rei aqui! – Davi sorriu docemente.

— Você não passa de um inútil!

— Não me chame de inútil droga!

— Acho que se acabaram é melhor irmos para o escritório majestade.

A vontade de Davi era jogar o chá na cabeça daquele impertinente, mas já havia confusão demais na sua vida.

Eles saíram para os corredores iluminados pelo sol que entrava nas grandes janelas. Crhist ia atrás deles com a cara amarrada e braços cruzados.

— Ele tem que ficar atrás de mim? – reclamou Davi para Dator.

— Nossa mãe ordenou para que ele mantivesse as aparências por ora.

— Aparências, heim? – ele sorriu maldoso e falou sem se voltar – Pelo menos faça uma cara mais feliz Crhist!

— Cala a boca!

Davi riu e percebeu que gostava de atazanar o outro.

Eles chegaram ao escritório de Ismail onde uma discussão estava em progresso.

— O que você acha que vai acontecer se formos atacados Valhalla! – gritava Ismail.

— Estamos em época de paz! Será que não podemos deixar os soldados irem para casa?

— Se fizermos isso e Otop nos atacar seremos arrasados.

— O que está acontecendo? – perguntou Dator olhando um para o outro.

— A velha discussão – Sípria entrou com uma bandeja contendo um chá perfumado – Valhalla quer a dispensas de parte das tropas e Ismail pensa na segurança do reino.

— Acho que de agora em diante isso é assunto de que o rei deve opinar – disse Ismail sentando.

— Eu?!

— Antes de qualquer coisa ele deve entender a situação do reino – disse Sipria com as mãos na cintura – Vocês sinceramente acham que o menino, que veio de um mundo diferente, com costumes diferentes, vai ter alguma solução mágica para conflitos e problemas que tem centenas de anos? Ausna foi treinada durante anos pelo antigo regente e mesmo assim teve dificuldades para governar porque esperavam muito dela. Se tiverem um pouco de juízo vão ensiná-lo antes de jogá-lo no mundo da política – ela se inclinou para Davi e depois para Ismail – Com licença Majestade, meu lord.

— Sípria é sabia – disse Dator – Davi é o rei e a ele cabe as decisões, mas é nosso dever ajudá-lo com essas decisões.

— Esta bem – Valhalla levantou-se da poltrona onde tinha sentado – Quando ele estiver apto para me ouvir eu voltarei ao assunto – ela lançou um olhar contrariado para Ismail que franziu a testa e depois revirou os olhos.

— Valhalla onde esta a minha mãe? – perguntou Dator.

— No templo falando com Drima. Como você ordenou Kal está com ela agora.

— Kal é o melhor no que faz – disse Ismail mexendo em sua papelada – Foi você mesmo quem o treinou.

— Sei disso Ismail, confio em Kal para cuidar de nossa mãe.

— Kal? – perguntou Davi curioso.

— É o novo guarda costas de Ausna – respondeu Valhalla olhando para o céu azul pela janela – Dator é o segurança dos regentes, agora do rei e por isso foi designado outro para ela.

— Pra mim é uma grande honra servi-lo majestade – disse Dator inclinando-se para Davi e sorrindo para ele.

— Se temos que começar com as lições façamos imediatamente – Ismail apontou para um grande mapa que havia em uma das paredes – Primeiro as divisões políticas de Eyri.

Davi quase gemeu de desgosto, até naquele mundo ele era obrigado a estudar!

~~***~~~

Ausna senti-se leve naquela manhã ao cavalgar pelos campos de Eyri. Depois de tanto tempo sendo a Regente do reino, retirar esse fardo de suas costas era um grande alivio. Ela só se preocupava com a criança que agora era rei.

Ela tinha confiança nos seus filhos para instruir o novo rei, mas Crhist a preocupava. O filho caçula ao longo daqueles anos havia ficado tão diferente do pai e dela mesma, era um rapaz amargo, frio e por vezes calculista. Usava de todas as armas quando queria algo e não parecia preocupado com isso.

Seu marido Cinrei era a alegria do Castelo Branco e o querido de todo o reino a ponto dele ser aclamado pelo povo como o novo rei, mas o estron dizia que o verdadeiro rei viria logo.

— Você não viveu para vê-lo meu querido – murmurou para o vento – Sua existência foi tão efêmera, você nem pode ver Crhist crescer.

Ao longe ela avistou o Templo da Luz. Era um castelo de construção relativamente nova cercado de jardins e pomares que brilhavam a luz do sol.
TEMPLO DA LUZ
Ali era a capital da religião de Eyri, local onde as guardiãs eram formadas e iam para todo o país.

Uma moça a esperava sentada em uma em uma grande pedra à beira da estrada.

— Drima! – Ausna acenou para a Guardiã.

— Feliz chegada Ausna – respondeu a moça.

Drima era uma mulher baixa de longos cabelos castanhos e olhos pretos. Parecia uma pessoa comum e nada nela dizia que era a portadora de um poder fenomenal. Drima era a guardiã do poder da terra em Inay.

— Vamos andar pelos jardins – disse Drima pulando da rocha – Deixe seu cavalo com a sua sombra.

— Sombra?! – Kal saiu do meio das árvores olhando torto para Drima.

Kal Mynai era um militar discreto que fora treinado por Dator para substituir ele na guarda de sua mãe caso fosse necessário. Ele era um homem alto, de pele morena onde se destacavam os olhos azuis. Os cabelos pretos longos eram amarrados em um rabo de cavalo.

— Obrigada por cuidar de mim Kal – disse Ausna entregando as rédeas para ele – Mas gostaria de ficar a sós com Drima.

— O comandante vai arrancar a minha cabeça se algo lhe acontecer, senhora Ausna.

— Não é a toa que o Templo da Luz não tem muros soldado – Drima segurou a mão de Ausna – Vamos.

Kal ficou para trás com cara de poucos amigos.

As duas entraram pelos jardins e pomares até um canto onde uma fonte de pedra gorgolejava. Era uma bacia feita de pedra branca que caia em uma piscina mais abaixo. Em volta delas haviam arbustos de flores amarelas e perfumadas e bancos de madeira estavam distribuídos por todo lado.

Elas sentaram em um dos bancos e Drima respondeu a uma pergunta que Ausna ainda não tinha feito.

— Eu sei onde esta o livro.

— Que bom – Ausna parecia aliviada – Queria muito ter uma resposta positiva para o rei.

— Mas isso não quer dizer nada Ausna. O Livro das Trevas está livre de suas amarras, agora ele age por conta própria. Ela não esta mais ligado à linhagem Delano.

— O que isso quer dizer Drima?

— O Livro foi criado para um propósito e agora que não o tem ele pode fazer o que quiser.

— Isso não é perigoso?

— O Livro é feito de magia Ausna, ele não pode ser classificado nos termos de bom ou mau. Ele desaparecera quando a magia que o rege desaparecer.

— Pobre criança – disse Ausna olhando para o céu azul que se descortinava por entre os ramos das árvores – Eu me perguntava se o Livro o levaria de volta se as coisas não dessem certo.

— É isso que você quer? Voltar a ser regente?

— Não, nunca mais. Só estou com pena dele Drima – olhou os profundos olhos negros de Drima – Ele nem tem ideia no que está se metendo, no quanto a situação política de Eyri é complicada e frágil. Não passa de uma criança de um mundo diferente. Que tipo de monstros somos ao fazer isso?

— Pare de se martirizar. Sabe que ele esta junto aos melhores. Ismail pode ser um imbecil mau humorado, mas é um político sagaz e um estrategista frio. Valhalla é resmungona e um pé no saco, mas conhece o povo como ninguém. Dator é o melhor conselheiro que o menino poderia ter e Crhist... bem Crhist vai manter ele na linha.

— Que? Meu filho caçula odeia ele.

— Mas eles estão ligados Ausna. Eu vi as projeções para o futuro... nada boas... são sombrias minha amiga. Família contra família, guerras entre os reinos...

— Drima...

— Mas o futuro do reino de Davi Delano é projetado como um rastro de luz em toada essa escuridão. Ausna, se ele quiser pode ser o maior dos reis!

— Ele é uma criança Drima! Acha que ele não sente falta da família dele?

— Eu entendo você Ausna, mas Davi deixou de ser uma criança quando chegou a Naral – a guardiã deu um longo suspiro – Sabe você é incorrigível! Eu vou tentar falar com o Livro de algum modo, mas não prometo nada. Talvez a gente consiga que isso funcione de algum modo – ela se levantou – Vamos para o templo que eu quero ti mostrar algo.

O castelo era também uma área de peregrinação por isso estava sempre cheio de pessoas vindas de todas as partes de Eyri. Havia uma construção larga e comprida atrás do castelo, eram alojamentos para os peregrinos, feito por Ausna em sua época de regência. Os pátios internos eram os locais onde o povo se reunia com as guardiãs na procura de entrarem em contato com a Alma do Mundo. Sempre havia pessoas sentadas nos bancos, deitadas nos gramados tentando entrar em sintonia com a fonte do poder de Eyri, a alma de Naral. Ali vigiavam as linhas de força de força de Eyri através do lago espelho que ficava no subsolo do castelo, mas apenas as guardiãs tinham acesso a ele.

Elas entraram no templo vendo as estatuas dos antigos reis de Eyri que adornavam nichos nas paredes e estatuas de flores e arvores por todo o lado simbolizando a Alma do Mundo.

Atravessaram corredores até darem em uma porta antiga, de madeira vermelha toda entalhada com símbolos antigos cheios de poder.

Drima tocou em um desses símbolos e a porta abriu lentamente dando para uma escadaria que desaparecia no escuro.

— Drima você está me levando...

— Ao lago espelho. Esta na hora de você dar uma olhada nele.

Ausna nunca imaginara que isso fosse acontecer. Nem mesmo os reis os reis podiam olhar naquele lago conectado até a alma do mundo.

Conforme iam descendo as tochas presas na paredes iam ascendendo. Elas desciam cada vez mais pelo corredor úmido com os degraus da escada desgastados pelo tempo.

O primeiro Templo da Luz era subterrâneo, feito em uma época onde até a religião era algo perigoso. Sua construção datava de cinco mil anos atrás.

O poder da terra era tão forte ali que Ausna sentia a ponta dos dedos formigarem e o coração disparar.

— Drima... – Ausna parecia assustada.

— Tudo bem – ela virou-se para a antiga regente e segurou a sua mão – Seu poder não vai se descontrolar, apenas respire profundamente e acalme os seus nervos.

Ausna assentiu e voltaram a descer as escadas que pareciam infindáveis.

Finalmente chegaram a uma caverna onde magníficas estalactites pendiam do teto e formavam estalagmites no chão até se juntarem em colunas. O pinga-pinga da água era ouvido por todo lado. No centro da caverna havia um pequeno lago com a água totalmente parada, uma estranha água escura sem a mínima ondulação. Parecia mais um liquido viscoso que água.

Ausna aproximou-se lentamente e percebeu que nem mesmo o brilho das tochas eram refletidas por pelas águas.

— Solte seu poder agora Ausna. Esse lago está ligado à alma do mundo.

Ausna puxou uma corrente de prata de onde pendia um pingente, uma pedra marrom em forma de gota, a pedra de acalanto.

Os eyrianos eram um povo que há muito havia esquecido de onde vieram, o que sabiam era que as pedras de acalanto os acompanhavam desde o momento que tinham algum registro de sua história e mesmo o registro falado de lendas contavam daquelas pedras. Eles ajudavam o povo de Eyri a coordenar os seus poderes que de outro modo ficariam descontrolados. O poder manifestava-se em um eyriano por volta dos oito anos, quando ele ganhava sua pedra. Elas eram retiradas de vários locais e cada uma tinha um significado e uma história. Elas acumulavam memórias dos seus donos, sonhos e esperanças dando força nos piores momentos.

A pedra de acalanto de Ausna brilhou no momento que ela segurava e logo ela estava brilhando inteira.

De repente o lago espelho crispou como se alguém tivesse jogado uma pedra nele. As ondas aumentaram a ponto de o lago parecer estar em ebulição.

Ausna sentia seu poder fluir dela para o lago e do lago para algo mais profundo e mais vasto, tão vasto que ela se contraiu de medo.

— Tudo bem – Drima pôs a mão em seu ombro – A alma do mundo ti chama.

A água do lago voltou a se aquietar e agora Ausna podia ver algo, imagens que se formavam em superfície. Na imagem um arqueiro segurava uma flecha ensanguentada e a deixava cair em um rio que ficava vermelho sangue e ele olhou ao longe onde uma grande guerra explodia e...

— Não! – Ausna caiu de joelhos à beira do lago cobrindo o rosto com as mãos – Meus filhos não!

— Ausna tudo bem?

— Você viu Drima?

— Não a visão é só sua. Mas preste atenção, o que você viu tem várias interpretações.

— Eu vi um arqueiro segurando uma flecha cheia de sangue, um rio vermelho e a guerra e... meus filhos mortos – Ausna tremia.

— Era o que eu temia.

— Drima – Ausna se levantou – Você sabe o significado da visão?

— Traição!         




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