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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Majic - Capitulo I

MAJIC

Por tras da bruma existe mais do que os olhos podem ver.
 
 
 
Capitulo I



Sara olhou pela janela do oitavo andar desfrutando dos últimos momentos de paz antes das aulas começarem no outro dia, as crianças e adolescentes iam começar a chegar naquele dia e o silencio ia ser preenchido com gritos e correrias pelos pátios e jardins.
— Sonhando Sara? – perguntou Rafael sentando do lado dela com uma xícara de café.
— Pensando que logo, logo isso aqui vai estar naquele tumulto básico.
— Verdade – disse ele também olhando pela janela – Estava ficando cansado dessa calmaria.
— E eu preocupada com o tumulto pelos próximo seis meses...
Uma batida na porta chamou a atenção dos dois e um homem entrou esbaforido.
— Diretor um barco brasileiro foi encontrado destroçado na Bahia das Eras!
— Um barco?! – Rafael quase engasgou com o café – Como isso é possível?
— A única possibilidade é que haja um escolhido a bordo – disse Sara – A ilha deve ter percebido isso e franqueou a entrada.
— Há sobreviventes? – perguntou o diretor Rafael.
— Não sabemos disse o homem - há energia demais circulando em toda a volta. Precisamos de um demago.
— Eu irei – disse Rafael – Sara chame Marc e diga para nos encontrar na bahia.
Rafael saiu correndo e subiu em uma caminhoneta usada em terrenos difíceis e acelerou para a estrada de chão que ia rumo a parte leste da ilha.
A estrada de terra batida corria por entre matas de pinheiros e carvalhos, pomares, fazendas e matas que brilhavam coloridas naquela manhã de segunda. Entrou em uma parte asfaltada da estrada que passava pela vila com suas casa coloridas e cafés com mesas nas caçadas.
Depois de alguns quilômetros a estrada voltou a ser de chão e começava a descer rumo ao mar. A estrada passava por serras e paredões de pedra até que se avistava o mar de um azul profundo e ao longe uma estranha névoa que envolvia a ilha como um grande anel. Ele parou o veículo perto de um amontoado de pedras do tamanho de casas que pareciam brotar da areia branca. Entre elas havia uma trilha que serpenteava por rochas e paredões. Rafael entrou por ela correndo e saiu em uma praia em forma de meia lua que ficava entre pedras. A entrada da praia era estreita e entre as pedras e a areia havia um iate semi destruído. Um grande rombo ia da popa a proa do navio como se alguém tivesse aberto com uma faca gigantesca o casco. Ele estava praticamente partido ao meio e em volta dele havia destroços trazido pelas ondas, havia também uma estranha névoa vermelha cobrindo o barco como um manto.
— Parece impossível que alguém tenha sobrevivido – disse um homem que estava observando o barco.
Era um homem alto, de pele curtida pelo sol, com longos cabelos loiros presos num rabo de cavalo. Deveria ter uns trinta anos e os músculos apareciam na camiseta regata que usava.
— Bom dia Michael – disse Rafael sem tirar os olhos do barco – Isso é escudo de sereia, acha que elas protegeram o barco?
— Só pode ser. Elas normalmente teriam prazer em destroçar o barco, mas não fazem isso se houver crianças a bordo.
— Vamos ver – disse ele erguendo a mão apontando a palma para os destroços.
Os olhos do diretor brilharam numa estranha luz e ele murmurou uma palavra em voz baixa. A névoa vermelha rodopiou e correu para a palma da mão de Rafael que brilhava intensamente até que nada mais restasse da névoa.
— Acha que vamos conseguir subir a bordo Michael?
— A estrutura está instável – resmungou ele olhando o barco de lado – O risco só vai valer a pena se tiver alguém vivo a bordo.
— A única maneira de saber é darmos uma olhada a bordo.
 Ambos conseguiram subir para o destroçado convés onde o corpo de um homem estava preso entre tabuas e cordas. A cabeça quase decepada pendia balançando ao sabor das ondas que batiam no casco.
Rafael, que era católico devoto, fez o sinal da cruz enquanto olhava envolta. Acharam a escada e desceram para os camarotes, banheiros e cozinha. Enquanto andavam o barco gemia dolorosamente como um animal ferido no estertor da morte. Acharam dois corpos de mulheres mortas num camarote.
— Olhe – Michael ergueu o braço de uma delas mostrando dois furos.
— Vampiros! Eles não podem estar perto da ilha ou os alarmes soariam.
— Pra que tanto espetáculo? Por mais idiotas que eles sejam costumam ser discretos ou sabem que seu próprio conselho os transformaria em merda. Tem algo de podre nesta história.
— Bem vamos deixar Marc investigar já que pelo visto não há sobreviventes.
— Tem algo mais Rafael aqui, as sereias não iam gastar seu poder a toa.
— Onde? Já olhamos tudo!
— A casa das máquinas.
Rafael estava em dúvida que algo pudesse sobreviver em meio a toda aquela destruição mesmo assim rumaram para a casa das máquinas descendo a escada de ferro que estava torcida. A porta pendia das dobradiças e ao olharem para dentro perceberam que seria impossível alguém sobreviver ali. Dava para ver o lado de fora pelo rombo no casco e as máquinas pareciam ter se deslocado para a direita sendo arrancadas do chão por alguma força descomunal. Estranhamente ali havia também a névoa vermelha que vinha de debaixo de uma turbina.
— Mais escudos de proteção – disse Michael.
— Talvez tenha alguém vivo embaixo dessa coisa – resmungou Rafael se abaixando para olhar por baixo da turbina – O problema é como vamos tira-los sem o barco sem ele se desmanchar.
— Posso erguer a turbina por alguns minutos e você tenta tira-los, mas se algo acontecer você sai debaixo imediatamente.
— Certo, vamos tentar.
Michael apontou a palma da mão para a turbina murmurando uma única palavra e a mão dele começou a brilhar intensamente assim como a estrutura inteira. De repente o pedaço de aço retorcido que já fora uma grande turbina rangeu e começou a se mexer e subir lentamente. Suor começou a se formar na testa do rapaz loiro que ofegou com o peso.
Rafael deitou e rastejou por baixo olhando em volta e arregalando os olhos ao ver duas pessoas ali.
— Achei! – gritou ele.
— Rápido!
Sabendo que não tinha mais tempo ele segurou os braços e começou a arrastar. Com um safanão puxou eles para fora antes que Michael não suportasse mais e deixasse a estrutura cair.
— Deus – gemeu o loiro caindo de joelhos.
— Você está bem?
— Só estou um pouco tonto.
Rafael desviou os olhos para as pessoas que resgatara. Um era um homem de cabelos castanhos dourados e curtos, a pele era branca com sardas por todo o rosto, deveria ter mais de trinta e cinco, mas seu rosto era jovem e bonito. O outro era um garoto, de cabelos loiro escuro, o rosto parecido com o do outro mostrando o parentesco próximo, mas de pele mais morena e longos cílios cor mel. O menino deveria ter em torno de treze anos de corpo magro.
Os dois ostentavam cortes e ferimentos por todo o corpo e Rafael ficou preocupado com ferimentos internos.
O barco rangeu e começou a adernar.
— Precisamos sair daqui – disse Michael se levantando – Eu levo o homem e você o garoto.
Casa um pegou sua carga e rapidamente começaram a sair da sala de máquinas. No corredor o barco rangeu e virou jogando eles contra a parede. Arrastaram-se com dificuldade até o convés e praticamente pularam pela amurada antes que o barco tombasse a afundasse parcialmente na água que felizmente não era muito funda.
— Ufa! – Rafael respirou fundo aliviado.
— Precisamos leva-los ao hospital – disse Michael olhando detidamente o homem – Eles parecem bem feridos.
— Estou com a caminhoneta aqui perto, vamos!

O ar frio parecia congelar a cada respiração e Ian bateu os pés no chão tentando esquentar enquanto olhava para o mar a procura do barco.
— Ta frio – resmungou sua irmã esfregando os braços – Ian to com frio.
— Vem cá – ele abraçou a irmã caçula tentando dar a ela algum calor a menina de dez anos.
Karol era pequena, de longos cabelos castanhos e olhos negros. Era uma menina quieta, que gostava de ficar desenhando e era muito ligada ao irmão mais velho. Ian tinha quinze anos, era alto de cabelos negros e olhos castanhos cor de mel, era alto e sempre muito sério. Era um dos melhores alunos da escola e era alguém avesso a erros.
— Viemos muito cedo, mano?
— Não, o barco estará aqui em alguns minutos.
— Queria que a mamãe e o papai estivessem aqui.
Ian não respondeu. Para ele seus pais não faziam falta. Não passavam de dois estranhos que nunca tiveram um só gesto de carinho com ele ou com a irmã. Ter filhos para eles era apenas uma forma de mostrar a sociedade a visão de família feliz, um quadro falso em todos os detalhes.
De repente um barco se aproximou do atracadouro quase como se tivesse se materializado no ar. Era uma lancha de dois andares, branca com o nome “Bruma” escrito no casco em letras negras.
— Que lugar gelado – disse um rapaz de uns dezesseis anos, pele negra e cabelos curtos – Ola Ian!
Ian revirou os olhos com o tom animado do outro. Pegou a mão da irmã e foi em direção ao rapaz que esfregava os braços e olhava a neve acumulada no chão com curiosidade.
— Isso sempre me encanta – disse ele olhando Ian com os olhos negros brilhantes e sorriso de dentes muito brancos – Ola – ele olhou para Karol.
A menina se escondeu atrás das pernas do irmão.
— É minha irmã caçula Esteban, assim você assusta ela. Karol esse é um colega de escola, Esteban Ruiz do México.
— Oi – disse ela baixinho.
— Andem logo! – gritou o capitão mau humorado do segundo andar – Desse jeito não terminamos hoje.
— O educado é o capitão Benito Callisto, ele é italiano.
— Vou deixar vocês pra trás! – o capitão voltou a gritar.
Esteban pegou a mala de Karol enquanto Ian pegava a sua e entraram no barco que zarpou em seguida. Ian segurou a mão da irmã e desceu para o salão onde cerca de quinze crianças e adolescentes conversavam ruidosamente.
— Ola! – eles saldaram o rapaz que apresentou a irmã.
Ian gostava daquela turma, era um grupo de vários paises e na sua maioria alunos pobres bolsistas. Tinham que ter boas notas se quisessem manter a bolsa, por isso estavam ali por que queriam estudar e não por que os pais haviam obrigado.
O iate parou e Karol olhou curiosa para a claridade do sol que entrava pela vigia redonda.
— Onde a gente ta mano?
— Brasil.
— Posso ir ver?
— Vamo lá em cima – disse Esteban todo alegre.
Tímida, Karol segurou na mão dele e subiram a escada até o deque onde o sol iluminava uma praia de areias brancas com coqueiros e matas verdejantes. Num píer de madeira tosca havia um rapaz e uma moça acompanhados de um casal. Eram pessoas de pele dourada, cabelos castanhos bagunçados pelo vento e grandes sorrisos.
— Oi Paulo, oi Sandra – gritava Esteban.
Eles pararam de falar em português e responderam em inglês.
— Como vai Esteban? – disse Paulo acenando.
— Ola crianças – disse o adulto sorrindo – Tenham um bom ano.
Eles se despediram dos filhos com fortes abraços e recomendações sem fim que só acabaram quando o capitão Callisto voltou a gritar.
“Que diferença da minha família” – pensou ele ao ver a forma que a família se despedia.
— Finalmente podemos ir para a ilha – resmungou o capitão voltando para a cabine de comando.
— Ola Ian – disse Paulo para o rapaz e descendo para o salão.
— Oi yanque – disse a irmã em tom debochado.
— Pensei que tinha se perdido na mata com seus parentes – retrucou ele.
— Não meu caro, eu sou boa conhecedora da natureza, já você eu imaginei que tivesse virado sorvete lá em Nova Yorque, mas vejo que Deus não é tão generoso.
— Seria generoso se algumas daquelas cobras tivessem ti comido, o problema seria se a coitada da cobra morresse envenenada.
— Vocês dois dão dando um show na frente da menina – disse Jean subindo no deque.
Jean era francês de cabelos negros encaracolados, olhos azuis, pele branca que não queimava fácil com o sol. Jean sempre parecia um pimentão quando saia no sol.
Ian olhou para Karol que na verdade estava se divertindo com a discussão dos dois os olhando com um sorriso.
— Oi – disse ela sorrindo para Sandra – Sou Karol, irmã de Ian.
— Essa bonequinha é sua irmã?! – Sandra levantou uma sobrancelha – Coitada da menina.

Seu corpo doía, até respirar doía na verdade. Fez um grande esforço para abrir os olhos e pelo menos conseguiu abrir um olhando para um teto muito branco iluminado por um sol cor de rosa.
— Que bom que acordou – disse uma voz do seu lado e um rosto entrou no seu campo de visão.
Era um rapaz se cabelos castanhos rebeldes e olhos azuis brilhantes. Ele sorriu e tocou na sua testa.
— Como está?
O homem falava inglês e ele agradecia em falar muito bem essa língua.
— Meu... pai... – foi o que conseguiu gemer.
— Do seu lado.
Ele virou a cabeça ofegando com a pontada de dor que sentiu e ficou aliviado ao ver seu pai ali do lado com o rosto parcialmente escondido por um curativo.
— Ele está bem – disse o outro – O curativo é por causa de um corte na testa.
Ele voltou a olhar curioso para o homem se perguntando onde estava e o que tinha acontecido.
— Meu nome é Rafael Larson. Consegue me dizer o seu?
— Nil... Nilton Mendes. Meu pai Henrique.
— Nilton sei que está confuso, mas é melhor conversarmos quando você estiver melhor.
Ele queria perguntar onde estava e o que havia acontecido com o barco, mas seus olhos se fecharam contra a sua vontade.
Rafael olhou para o garoto preocupado. Ele havia tido cortes e varias costelas quebradas, já o pai tivera um braço faturado e um corte profundo na testa. Segurou a mão esquerda de Nilton com a sua direita e tocou a palma onde houve uma centelha como um pequeno raio elétrico explodindo na sua palma.
— Azul – disse um rapaz na porta do quarto.
Era alto e magro, com cabelos loiros platinados e olhos castanhos sérios.
— Ola Marc.
— Uma centelha azul é muito rara, não é?
— Certo Marc – Rafael respirou fundo – Vamos conversar lá fora com um café.
Os dois saíram do quarto de hospital para uma sala ali perto onde havia uma máquina de café e poltronas confortáveis. A janela dava para jardins coloridos por tulipas e violetas em meio aos raios alaranjados do por do sol. Um ar perfumado vinha com a brisa que entrava pela janela aberta.
— Capuccino ou expresso? – perguntou Rafael indo para perto da máquina de café.
— Simples e com bastante açúcar.
Rafael pegou um café e um capuccino e foi sentar perto de Marc.
— O menino tem dois poderes – começou Rafael diante do olhar insistente do outro – Talvez por isso não tenha sido descoberto.  O pai também tem uma centelha... vermelha.
— Mendes... – Marc olhou pela janela – Não é uma família antiga ou conhecida, esse tipo de centelha é tão antiga que ninguém mais lembra que existe.
— Conto com você para investigar isso, eu tenho o espinhoso dever de avisar o conselho em Londres.
Marc torceu o rosto com desgosto ao pensar nisso. Ele preferia não ter que lidar com as velharias baseadas na capital inglesa.
— Vou investigar enquanto você lida com a “burrocracia” – disse ele se levantando – Ah! Pelo pouco que consegui olhar no barco ele foi atacado por uma serpente marinha, achei algumas escamas no rombo, mas as pessoas foram mortas por vampiros.
Ele saiu deixando Rafael com seus pensamentos. Ele terminou o café e saiu para o corredor da clinica da escola. Era uma clinica que ficava no oitavo andar no prédio da administração da escola.
Desceu para o sétimo andar onde ficava a sua sala e pegou o telefone via satélite respirando fundo ligou para o conselho.

Sara estava no píer esperando os barcos que chegavam de toda a parte do mundo cheio de crianças e adolescente barulhentos.
— Ainda aqui?
Sara revirou os olhos ao ouvir a voz.
— Você de novo aqui? – resmungou ela vermelha sem se virar.
Kane Neal olhou altivo para ela. Ele era do Pais de Gales, alto e sério. Os cabelos negros com reflexos azulados, olhos de um azul gelo assim como a mirada que ele lançava para quase todos. Era um homem muito bonito fazendo grande sucesso entre alunas do sexo feminino e alguns do sexo masculino, mas todos os alunos eram unânimes em dizer que Kane era um carrasco e não tinha escrúpulos em dar provas surpresa ou zerar a nota de um aluno.
— Neal eu realmente não tenho tempo ou paciência para aturar você – ela deixou o rapaz vermelho no píer e foi de encontro ao iate “Bruma” que chegava do Brasil.
— Ei professora! – entusiasmado Esteban gritava acenando para ela.
Sara adorava Esteban e sua turma. Eram bons alunos o único problema é que estavam sempre a procura de problemas ou como diziam eles, eram os problemas que os procuravam.
— Como vai Esteban?
— Estou feliz por retornar para a escola – disse ele saltando para o píer com sua velha mochila nas costas.
— Ola professora Sara – gritaram os outros alunos que saíram correndo do barco para dizer oi para ela.
Ian ajudou Karol a descer que olhava em volta com olhos arregalados.
— Como vai professora Garcia?
Ian era educado, mas Sara se arrepiava toda quando era chamada pelo sobrenome. Para ela que era brasileira parecia um costume não só estranho, mas uma forma de distanciamento.
— Vou bem, mas vou melhorar se você parar de me chamar pelo sobrenome.
— Desculpe Professora Sara – ele deu um leve sorriso – Gostaria de apresentar minha irmã caçula, Karol.
— Ola Karol – disse para a menininha que estava agarrada ao braço do irmão como um salva vidas.
— Ola – olhou para a moça – Do que você da aula?
— História.
Karol torceu o nariz e Sara caiu na risada enquanto Ian disse contrariado.
— Que feio Karol!
— Mas ela ta certa. Historia pode ser chata mesmo, mas eu garanto que a minha aula é bem movimentada.
— Nisso ela esta certa – disse Sandra rindo – Estamos sempre acabados no final, mas a senhora não é tão dura com os menores, não é? – ela parecia subitamente preocupada olhando Ian que engolia em seco.
— Não há nem comparação gente. Não daria as mesmas aulas pesadas que dou para vocês para os pequenos.
Ambos respiraram aliviados.
Havia um ônibus parado ao lado de uma estrada asfaltada que rumava para a escola que ficava a três quilômetros do mar. Era um grande complexo de três prédios com várias construções baixas que incluía uma quadra coberta, um campo de futebol, laboratórios e estufas. Tudo era cercado por grandes jardins que terminavam nas matas que cercavam o complexo. Ao norte podia-se ver as torres de um velho castelo onde tremulava a bandeira da Inglaterra o que era motivo de resmungos dos alunos de outras nacionalidades.
O ônibus parou em um pátio em forma de meia lua que era compartilhado pelos três prédios.
— Vamos pegando seus guias pessoal – dizia Sara na porta do prédio que servia de dormitório – As regras não mudaram e acrescentamos algumas, como prisão perpétua para quem for até as matas célticas. Tenham um bom ano.
— Mano onde eu fico? – Karol estava assustada em ficar sozinha.
— Pode deixar que eu ti mostro Karol – disse Sandra para a menina – O dormitório feminino fica nos últimos andares – olhou Ian – Pode me dar a mala dela.
— Quem pediu para você fazer isso?
— Me da a mala e vai pastar! – ela tomou a mala de Ian e segurou a mão de Karol que ria da cara do irmão.
— Vocês dois não podem ficar sem brigar – resmungou Paulo passando por ele com Jean que ria.
— Ei Ian – Esteban gritava – Ficamos no mesmo quarto!
— Que Deus me ajude – resmungou ele arrastando a mala.
— O Jean e o Paulo também!
— Cala a boca Esteban! – disse Jean contrariado – A escola inteira precisa ouvir?
— Han? – Esteban berrou colocando a mão na orelha como se não tivesse escutado – O que? Não ti ouvi!
As pessoas em volta caíram na risada e Ian segurou a gola do rapaz negro arrastando ele.
Os quatro subiram pelo elevador para o quinto andar onde ficava o quarto deles. Eram quartos amplos muito parecidos com um apartamento. Tinha dois quartos com uma sala e um banheiro. Paulo pegou Jean e arrastou ele para um quarto deixando Ian com um falador Esteban no outro.
— Cara é bom ta de volta. La em casa minha mãe não me da paz e eu não tenho o menor jeito com a terra. Deus eu tive que ajudar a arrancar batatas quase minhas férias todas. E as chuvas? Deus nunca vi tanta água como nesse ano. Ficamos presos na fazenda, as estradas ficaram intransitáveis... – uma almofada que saiu voando no seu rosto fez ele parar.
— Dá um tempo Esteban!
— Tempo pra que? A vida é tão curta para perdermos tem... – dessa vez foi um tênis que quase o acertou.
— Se não ficar quieto a próxima coisa vai ser um raio.
Esteban preferiu dar um tempo, sabia o quanto Ian era bom com choques elétricos.

O ultimo barco que chegou vinha da Inglaterra com trinta alunos daquele país. Eram na sua maioria adolescentes entre quatorze e dezesseis anos, mas haviam três crianças de dez anos que estavam quietas no seu canto.
— De volta a prisão – resmungou William para Brooke que estava ao seu lado mascando chicletes.
Willian Sant James era filho de duques ingleses e tinha o hábito de se achar melhor que o resto dos alunos por ser nobre, rico e pertencer a uma família antiga. Era de estatura mediana, olhos azuis e cabelos loiros. Seus músculos se mostravam da camiseta que usava e era muito bom em artes marciais. Todos na escola procuravam ficar afastados dele e de sua gangue.
Brooke Provost era namorada de William e também gostava de atormentar os outros. Era alta, de cabelos longos e castanhos muito lisos. Os olhos de um azul profundo parecidos com as águas profundas do mar. Seu corpo esguio era bem formado para seus quinze anos e estava sempre pronta para criar problemas na escola.
Eles desceram do barco acompanhados por mais oito garotos. Os outros foram saindo mais lentamente querendo ficar o mais longe possível daquela turma, o ultimo a sair foi um garoto alto, cabelos castanhos amarrados em um rabo de cavalo, olhos negros e frios. Era totalmente anti social com todos e estava sempre pronto para entrar em uma briga onde sempre saia vencedor depois de dar uma bela surra no oponente. Já havia sido ameaçado de ser expulso várias vezes, mas o pai dele, um grande empresário inglês, era doador de muitos fundos da escola alem de pertencer a família que chefiava o conselho á anos.
Gael Zeke Kendra, filho caçula de uma família de cinco irmãos, odiava a família e tinha prazer atazana-los. Os pais dele não entendiam de onde vinha aquele ódio. Haviam procurado dar o melhor para o filho, o mesmo amor que haviam dado para os mais velhos, mas Gael os rechaçava sempre desde de que descobrira que era o primeiro demago da família em mais de cinco gerações e era motivo de desagrado por todos os Kendra que o via como um mau agouro. Mesmo estando em pleno século vinte e um as pessoas ainda acreditavam que um demago não passava de prenuncio de má sorte e toda essa crendice caiu em cima de Gael aos dez anos quando chegara a escola.
Alem de Rafael era o único demago da escola e isso só acirrou ainda mais sua raiva levando ele ao isolamento. A maioria dos alunos tinha medo de demagos e os outros medo dele, já que era forte, rápido e especialista em varias artes marciais, até mesmo William tinha receio dele apesar de enfrenta-lo com medo de perder o posto de chefe da sua gangue.
Gael recusou ir no ônibus e colocando a mochila nas costas foi andando pela estrada observando as matas com calma. Era relaxante não ter ninguém por perto olhando estranho para ele ou ter sua família o olhando com pena. Ali ele se sentia livre e em paz. Quando finalmente chegasse a idade adulta ele pretendia ir para um lugar assim, longe de tudo e todos.

Já era noite quando Nilton finalmente acordou. Olhou o quarto de hospital onde estava com o pai. Era um quarto simples com as duas camas, uma mesa com duas cadeiras, duas poltronas, uma de cada lado das camas, um armário e uma grande TV de plasma na parede. Uma luz suave vinha do abajur em uma mesinha entre as camas.
— Nil? – foi um alivio ouvir a voz rouca do seu pai. Ele se virou bruscamente para o lado experimentando uma pontada na cabeça.
— Pai!
Seu pai estava com o braço engessado, o rosto com o curativo estava pálido.
— Filho você esta bem?
— Estou, mas o senhor quebrou o braço.
— Isso não é nada – ele sorriu fraco – Estamos vivos.
— O que aconteceu pai? Eu só me lembro do senhor me arrastando para a casa de máquinas.
— Nem eu mesmo sei filho – ele olhou para o teto – Havia algo na noite atacando as pessoas e eu só pensei em ti tirar dali.
— O senhor acha que os outros estão mortos?
— Não sei filho – ele olhou penalizado para o olhar de medo do menino – Gostaria da saber onde estamos.
— Num lugar que fala inglês. Quando acordei mais cedo um homem estava aqui e conversei com ele nessa língua. Acha que estamos nos EUA?
— Impossível, estávamos a mil quilômetros da costa brasileira indo rumo á África.
— Depois daquela tempestade eu não sei...
Nesse momento a porta abriu deixando uma moça entrar. Era uma mulher exuberante de cabelos ruivos encaracolados, rosto coberto de sardas, olhos azuis que brilhavam vibrantes. Ela vestia um jaleco branco com o nome Caroline Anderson.
— Meus pacientes acordaram, que bom! – ela também falava inglês com o característico sotaque da parte central dos EUA – Como estão?
— Doutora meu nome é Henrique e gostaria de saber como está meu filho – o homem parecia aflito.
— Bem levando em consideração o estado que chegaram aqui. Seu filho esta com duas costelas quebradas e um grande galo na parte posterior da cabeça o senhor teve o braço fraturado e um corte profundo na testa. O quadro geral de vocês dois é bom.
— Onde estamos? – Nil estava morrendo de curiosidade para saber.
— Esta parte o diretor Smith poderá explica-los. Vou examina-los e chamar ele para que tenham a sua conversa.
Eles fez um rápido exame reafirmando que eles estavam bem e saiu para chamar o tal diretor Smith. Logo o mesmo rapaz que havia conversado com Nilton entrou sorrindo.
— Boa noite. Como estão?
— Senhor Smith? – perguntou Henrique surpreso por ver um rapaz de não mais de trinta nos com brilhantes olhos azuis.
— Rafael, por favor – ele deu uma risada – Senhor Smith me faz sentir muito velho.
Ele sentou perto da cama de Henrique olhando sorrindo para os dois.
— Senhor... hã... Rafael – Henrique se atrapalhou – Onde estamos?
— Numa ilha particular.
— Ilha?! Ao sul?
— Agora? Não sei a localização exata.
O homem olhou o diretor como se ele tivesse ficado louco. Como ele não sabia onde a ilha estava “naquele momento”?
— Como chama a ilha? – perguntou Nil curioso.
— Avalon.



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