Capítulo 15
Laércio enxugava os cabelos com a
toalha que Fabian trouxera, mas sua cabeça estava a mil, preocupado com o
filho.
— Ele deve estar na casa de alguém –
disse Márcio tentando aclamar o patrão.
— Eu já fui à casa de todo mundo e ele
não está.
Alguém bateu na porta e Fabian abriu
dando com seu Quim, de capa de chuva e chapéu de palha na mão.
— Boa noite menino. Preciso falar com
seu Laércio me falaram que ele veio pra cá.
— Quim? – Laércio apareceu na porta
olhando esperançoso para o senhor.
— Está faltando Serebi e conversei com
os rapazes e eles me disseram que Jon saiu com ele.
— Eu não acredito que aquele menino
desmiolado saiu a cavalo debaixo de um temporal!
— À hora não é para gritar – disse
Fabian olhando sério para ele e depois olhou seu Quim – Será que viram para que
lado ele foi?
— Pros lados da mata e tem mais.
Parece que Luis Ricardo, quando viu que ele não voltava foi atrás dele. Ele
estava preocupado por causa da chuva que estava para cair.
— Já falou para o Alberto e o Lucas? –
perguntou Laércio preocupado.
— Eu estava indo lá.
— Vamos nós dois – olhou Fabian – Será
que pode cuidar das crianças enquanto tento achar esses dois?
— Claro. Vou chamá-los para ficarem
aqui enquanto isso.
— Obrigado – os olhos verdes brilhavam
preocupados ao olharem Fabian.
— Esses meninos – resmungava Márcio –
Eu vou lá na casa buscar eles.
— Certo. Espero que nada tenha
acontecido ao Jon.
— Sabe o que eu espero Fabian? –
Márcio pegou uma capa de chuva atrás da porta – Que tanto Jon quanto Luis
estejam bem, mas bem longe um do outro ou isso não vai acabar bem.
~~***~~
Jon acordou com a casa aquecida e ele
se sentindo languidamente bem nos braços fortes de Luis Ricardo.
— Como você está? – Luis esfregou o
nariz em seus cabelos sentindo o cheiro do garoto.
— Bem? Ótimo? – Jon virou-se para ele
– Se eu soubesse que era tão bom eu tinha experimentado antes.
— Nem se atreva! – os olhos negros de
Luis brilhavam – Você é meu e de mais ninguém.
— Você ciumento fica tão fofo – riu
Jon – Mas não precisa. Quando eu penso em fazer algo tão intimo a única coisa
que vem na minha cabeça é você e mais ninguém.
— É bom mesmo – resmungou Luis
beijando Jon com ardor e fazendo o outro suspirar.
— A gente ta com grandes problemas,
não é? – Jon escondeu a cabeça no peito de Luis.
— Estamos – ele o abraçou – Ma acho
que juntos vamos conseguir passar por isso.
~~***~~
— Meu filho está desaparecido e eu não
vou ficar aqui de braços cruzados! – Lucas gritava para o marido com o rosto
vermelho de raiva.
— Lucas! – Alberto segurou o braço do
companheiro e o arrastou para a cozinha longe de Laércio e Seu Quim que estavam
na sala – Luis é um garoto esperto que conhece bem a fazenda. Tenho certeza que
ele achou um local para ele e para o Jon ficar, mas o que eu preciso é que você
cuide das crianças enquanto eu vou buscar o nosso filho. Faça isso por mim
Lucas.
Lucas tremeu e passou as mãos pelos
braços. Ele não sabia onde iria parar a sua sanidade se alguma coisa
acontecesse com um de seus filhos.
— Ache ele Alberto – Lucas jogou-se
nos braços dele – Por favor, ache o meu filhinho.
— Claro que vou achar meu amor – disse
o outro beijando os cabelos de Lucas e depois um leve selinho em seus lábios e
foi para junto de Laércio e Quim que o esperavam já na varanda de capas e
lanterna.
— Acho que eu sei onde esses moleques
podem ter ido – Quim resmungou – Tem um rancho de pescadores perto do rio, é o
único lugar que eu imagino que eles possam ter se imbiocado.
— Minha vontade é dar uma surra no
Jon, mas a verdade é que o que quero é abraçar ele e esquecer isso.
— Amem – disse Alberto.
~~***~~
A chuva havia virado um chuvisco, mas
o frio estava aumentando cada vez mais fazendo Jon apertar o corpo quente de
Luis, mas uma luz brilhando pelas frestas da janela fez ele sentar ereto.
— Luis – chamou ele baixinho – Tem
alguém ai!
O rapaz abriu os olhos e mandou Jon
ficar onde estava e ele levantou pegando a roupa ainda úmida e vestindo e foi
até a porta tentado escutar algo quando ouviu seu nome e era seu pai chamando.
— Pai! – Luis abriu a porta para o
vento gelado e olhou para fora para ver três pessoas subindo na velha varanda
cobertos com capas de chuva amarelas.
— Luis! – Alberto abraçou o filho nem
se dando conta que estava molhando o rapaz – Meu filho não me dá mais sustos
assim.
— Desculpa pai – disse Luis beijando o
rosto molhado dele.
— Luis onde esta Jon?
— Seu Laércio! Ele est...
— Pai? – Jon havia se vestido, para o
alívio de Luis Ricardo, e fora até a porta olhando duro para o pai.
— Jonathan você tem ideia de como eu
estava preocupado? – Laércio estava cheio de raiva e alivio por encontrar o
filho.
— E o senhor tem ideia de como eu
estava me sentindo pai? – Jon olhava para Laércio com um misto de raiva e
ressentimento.
A primeira coisa que seu pai fazia era
gritar com ele? Sabia que tinha feito a coisa errada praticamente fugindo, mas
esperava que seu pai pelo menos demonstrasse que estava preocupado com ele. Não
era isso que os pais faziam? Bastava olhar Luis e Alberto.
— Laércio – Alberto colocou a mão no
ombro de Laércio.
— Desculpa Jon, eu não queria brigar
com você – o fazendeiro jogou o capuz da capa para trás – Não imagina o quando
eu estava preocupado meu filho.
— Sabe que o senhor tem um jeito muito
estranho de demonstrar isso pai!
— Parem os dois! – seu Quim empurrou
todo mundo para dentro da cabana muito contrariado – Eu estou morrendo de frio
e vamos conversar ai dentro – olhou sério para Jon – Vi você nascer menino e se
tenho uma coisa para dizer de você é que esse não é o seu jeito. Cê é um bom
garoto, educado e amoroso que cuidou de seu pai e seus irmãos nos piores
momentos da vida de vocês. Eu sei o quando pode ser difícil crescer, acredite
ou não, mas eu já fui um adolescente e já tive vontade de gritar com meu pai e
com o mundo, mas ai eu via as dificuldades que ele enfrentava para me criar
junto com os meus irmãos e eu entendia que eu não era o único a ter problemas.
Acho que cê não precisa desaparecer para saber que seu pai ti amo, basta olhar
para ele.
Vermelho com a reprimenda de velho
senhor ele olhou para o pai vendo seus olhos vermelhos, as olheiras e a barba
por fazer e isso o encheu de remorso. Quando ele havia ilhado para o seu pai,
mas olhado de verdade?
— Vem cá – Laércio puxou o filho para
um abraço apertado sentindo quando o menino começou a chorar em seu ombro –
Graças a Deus você está bem meu filho, você e seus irmãos são a coisa mais
preciosa que tenho e não sei o que eu ia fazer se perdesse qualquer um de vocês
– separou do filho enxugando seus lágrimas – Nunca dúvida que eu amo você
filho. A gente pode se estranhar um pouco nessa vida, mas eu nunca vou deixar
de amar você.
Jon encostou a cabeça no ombro do pai
com a cabeça cheia, mas seu pai estava ali com ele e o resto podia esperar.
~~***~~
— Sabe o que eu vou fazer quando eu
ver o Jon? – Regina estalava os dedos – Dar um soco nele.
— Quem ti escuta acha que você faz
isso – Samara levantou uma sobrancelha olhando a irmã – Ele é seu irmão gêmeo.
— E daí! – Gina levantou do sofá
fazendo bico – Ele tem que aprender a não fazer idiotices.
— Acho que fazer idiotices é parte de
ser um adolescente – disse Márcio que lia uma revista sobre agricultura.
— Fala isso por experiência própria
tio? – alfinetou Gina.
— Claro – Márcio folheava a revista
com calma.
— Meninos já está tarde – Fabian
apareceu na porta da sala carregando Gabriel que havia acordado – Não querem
deitar?
— Eu queria o Jon – Kauan estava
encolhido em um canto do sofá – Será que ele ta bem?
— É claro que sim – disse Fabian
sentando perto dele – Acredito que seu pai vai achar ele logo Kauan.
— O Jon pode ser um tonto, mas o Luis
não – disse Regina – Ele deve ter achado um lugar para ficar.
Nesse momento o celular de Márcio
vibrou em cima da mesinha de centro e ele pegou ele rápido percebendo que era
Laércio.
— Alo – ele ouviu por alguns segundos
– Graças a Deus. Certo eu aviso. Até – ele olhou para os rostos ansiosos – Eles
os acharam na cabana que seu Quim disse e estão todos bem.
Os meninos pularam de alegria.
— Eles vão esperar amanhecer? –
perguntou Fabian colocando o filho no ombro a acariciando as suas costas.
— A chuva já está parando – disse Márcio
olhando pela janela – Mas a estrada está muito ruim, eles vão esperar
amanhecer.
— Então é hora de todo mundo dormir –
disse Fabian olhando severo para todo mundo ao ouvir um “a!” geral.
Demorou cerca de uma hora para
conseguir ter todo mundo na cama, inclusive Gabriel, mas Fabian não conseguia
dormir. Ele foi para a cozinha e sentou bebericando um café que tinha feito.
Estava inquieto, sem concentração.
Sabia que estava estressado quando
isso acontecia. Em São Paulo ele ficava assim quando o seu pai estava bêbado e
pronto para dar-lhe uma surra. Os dois trabalhos que tinha não o deixavam tão
ansioso como seu pai.
Olhou para o fundo do copo de café e
pensou no que aconteceria se Laércio descobrisse o seu segundo trabalho... se o
rico fazendeiro descobrisse que ele fora um garoto de programa.
Suas mãos tremiam quando ele colocou a
xícara em cima da mesa. Ele queria tanto arrancar essa parte de sua vida de
dentro dele, mas sabia que não tinha como.
Só o seu salário trabalhando em um
restaurante na favela não dava muito dinheiro e Gabriel necessitava de muita
coisa, fora que ele tivera que encontrar alguém para ficar com o bebê enquanto
ele trabalhava.
Seu rosto ainda queimava de vergonha
ao lembrar de como fora o seu primeiro cliente, do estranho homem que gostava
de algemas e chicotes. Ele nunca na vida sequer pensara em cenas
sadomazoquistas, mas durante aqueles meses conhecera muitos clientes que gostavam
disso, de todo tipo de perversões.
A maioria era fixa, homens ricos que
não podiam ter isso com as esposas procuravam alguém desesperado o suficiente
para aceitar.
Sua única exigência era a camisinha,
disso ele nunca abriu mão.
— Você anda muito sem sono – disse Márcio
aparecendo na cozinha de cabelos desgrenhados e olhos inchados de sono – São três
da manhã Fabian.
— Desculpe, eu ti acordei?
— Não – ele sentou na mesa – Eu vim
beber água e acho você parecendo uma coruja aqui. O que está acontecendo irmão?
A respiração ficou presa na garganta. Ele
não podia contar aquela parte vergonhosa da sua vida para Márcio, seu irmão ia
morrer de vergonha dele e ia acabar expulsando ele da casa e com toda a razão.
— Às vezes fico pensando em São Paulo e
em tudo que aconteceu.
— Não fica assim. Sei que a sua vida
foi uma merda, mas você está bem agora, esta em casa.
— Você tem razão – ele forçou um
sorriso e se levantou – É melhor eu ir dormir. Boa noite.
Márcio ficou na cozinha olhando para a
porta onde Fabian tinha saído.
— O que você esta escondendo
irmãozinho?
Mais um capítulo! Será que posso deduzir que você está bem? Mas mesmo assim fica a curiosidade: como vai nossa escritora especial? como andam trabalho, faculdade, saúde, enfim a vida? Torço para que tudo esteja se encaixando gradativamente e definitivamente, embora na vida, nada seja definitivo. Torço por você. Fica na Paz e tudo de bom.
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