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sábado, 7 de setembro de 2013

Rumo ao Paraiso - Capitulo 15


Capítulo 15


Laércio enxugava os cabelos com a toalha que Fabian trouxera, mas sua cabeça estava a mil, preocupado com o filho.

— Ele deve estar na casa de alguém – disse Márcio tentando aclamar o patrão.

— Eu já fui à casa de todo mundo e ele não está.

Alguém bateu na porta e Fabian abriu dando com seu Quim, de capa de chuva e chapéu de palha na mão.

— Boa noite menino. Preciso falar com seu Laércio me falaram que ele veio pra cá.

— Quim? – Laércio apareceu na porta olhando esperançoso para o senhor.

— Está faltando Serebi e conversei com os rapazes e eles me disseram que Jon saiu com ele.

— Eu não acredito que aquele menino desmiolado saiu a cavalo debaixo de um temporal!

— À hora não é para gritar – disse Fabian olhando sério para ele e depois olhou seu Quim – Será que viram para que lado ele foi?

— Pros lados da mata e tem mais. Parece que Luis Ricardo, quando viu que ele não voltava foi atrás dele. Ele estava preocupado por causa da chuva que estava para cair.

— Já falou para o Alberto e o Lucas? – perguntou Laércio preocupado.

— Eu estava indo lá.

— Vamos nós dois – olhou Fabian – Será que pode cuidar das crianças enquanto tento achar esses dois?

— Claro. Vou chamá-los para ficarem aqui enquanto isso.

— Obrigado – os olhos verdes brilhavam preocupados ao olharem Fabian.

— Esses meninos – resmungava Márcio – Eu vou lá na casa buscar eles.

— Certo. Espero que nada tenha acontecido ao Jon.

— Sabe o que eu espero Fabian? – Márcio pegou uma capa de chuva atrás da porta – Que tanto Jon quanto Luis estejam bem, mas bem longe um do outro ou isso não vai acabar bem.

~~***~~

Jon acordou com a casa aquecida e ele se sentindo languidamente bem nos braços fortes de Luis Ricardo.

— Como você está? – Luis esfregou o nariz em seus cabelos sentindo o cheiro do garoto.

— Bem? Ótimo? – Jon virou-se para ele – Se eu soubesse que era tão bom eu tinha experimentado antes.

— Nem se atreva! – os olhos negros de Luis brilhavam – Você é meu e de mais ninguém.

— Você ciumento fica tão fofo – riu Jon – Mas não precisa. Quando eu penso em fazer algo tão intimo a única coisa que vem na minha cabeça é você e mais ninguém.

— É bom mesmo – resmungou Luis beijando Jon com ardor e fazendo o outro suspirar.

— A gente ta com grandes problemas, não é? – Jon escondeu a cabeça no peito de Luis.

— Estamos – ele o abraçou – Ma acho que juntos vamos conseguir passar por isso.

~~***~~

— Meu filho está desaparecido e eu não vou ficar aqui de braços cruzados! – Lucas gritava para o marido com o rosto vermelho de raiva.

— Lucas! – Alberto segurou o braço do companheiro e o arrastou para a cozinha longe de Laércio e Seu Quim que estavam na sala – Luis é um garoto esperto que conhece bem a fazenda. Tenho certeza que ele achou um local para ele e para o Jon ficar, mas o que eu preciso é que você cuide das crianças enquanto eu vou buscar o nosso filho. Faça isso por mim Lucas.

Lucas tremeu e passou as mãos pelos braços. Ele não sabia onde iria parar a sua sanidade se alguma coisa acontecesse com um de seus filhos.

— Ache ele Alberto – Lucas jogou-se nos braços dele – Por favor, ache o meu filhinho.

— Claro que vou achar meu amor – disse o outro beijando os cabelos de Lucas e depois um leve selinho em seus lábios e foi para junto de Laércio e Quim que o esperavam já na varanda de capas e lanterna.

— Acho que eu sei onde esses moleques podem ter ido – Quim resmungou – Tem um rancho de pescadores perto do rio, é o único lugar que eu imagino que eles possam ter se imbiocado.

— Minha vontade é dar uma surra no Jon, mas a verdade é que o que quero é abraçar ele e esquecer isso.

— Amem – disse Alberto.  

~~***~~
A chuva havia virado um chuvisco, mas o frio estava aumentando cada vez mais fazendo Jon apertar o corpo quente de Luis, mas uma luz brilhando pelas frestas da janela fez ele sentar ereto.

— Luis – chamou ele baixinho – Tem alguém ai!

O rapaz abriu os olhos e mandou Jon ficar onde estava e ele levantou pegando a roupa ainda úmida e vestindo e foi até a porta tentado escutar algo quando ouviu seu nome e era seu pai chamando.

— Pai! – Luis abriu a porta para o vento gelado e olhou para fora para ver três pessoas subindo na velha varanda cobertos com capas de chuva amarelas.

— Luis! – Alberto abraçou o filho nem se dando conta que estava molhando o rapaz – Meu filho não me dá mais sustos assim.

— Desculpa pai – disse Luis beijando o rosto molhado dele.

— Luis onde esta Jon?

— Seu Laércio! Ele est...

— Pai? – Jon havia se vestido, para o alívio de Luis Ricardo, e fora até a porta olhando duro para o pai.

— Jonathan você tem ideia de como eu estava preocupado? – Laércio estava cheio de raiva e alivio por encontrar o filho.

— E o senhor tem ideia de como eu estava me sentindo pai? – Jon olhava para Laércio com um misto de raiva e ressentimento.

A primeira coisa que seu pai fazia era gritar com ele? Sabia que tinha feito a coisa errada praticamente fugindo, mas esperava que seu pai pelo menos demonstrasse que estava preocupado com ele. Não era isso que os pais faziam? Bastava olhar Luis e Alberto.

— Laércio – Alberto colocou a mão no ombro de Laércio.

— Desculpa Jon, eu não queria brigar com você – o fazendeiro jogou o capuz da capa para trás – Não imagina o quando eu estava preocupado meu filho.

— Sabe que o senhor tem um jeito muito estranho de demonstrar isso pai!

— Parem os dois! – seu Quim empurrou todo mundo para dentro da cabana muito contrariado – Eu estou morrendo de frio e vamos conversar ai dentro – olhou sério para Jon – Vi você nascer menino e se tenho uma coisa para dizer de você é que esse não é o seu jeito. Cê é um bom garoto, educado e amoroso que cuidou de seu pai e seus irmãos nos piores momentos da vida de vocês. Eu sei o quando pode ser difícil crescer, acredite ou não, mas eu já fui um adolescente e já tive vontade de gritar com meu pai e com o mundo, mas ai eu via as dificuldades que ele enfrentava para me criar junto com os meus irmãos e eu entendia que eu não era o único a ter problemas. Acho que cê não precisa desaparecer para saber que seu pai ti amo, basta olhar para ele.

Vermelho com a reprimenda de velho senhor ele olhou para o pai vendo seus olhos vermelhos, as olheiras e a barba por fazer e isso o encheu de remorso. Quando ele havia ilhado para o seu pai, mas olhado de verdade?

— Vem cá – Laércio puxou o filho para um abraço apertado sentindo quando o menino começou a chorar em seu ombro – Graças a Deus você está bem meu filho, você e seus irmãos são a coisa mais preciosa que tenho e não sei o que eu ia fazer se perdesse qualquer um de vocês – separou do filho enxugando seus lágrimas – Nunca dúvida que eu amo você filho. A gente pode se estranhar um pouco nessa vida, mas eu nunca vou deixar de amar você.

Jon encostou a cabeça no ombro do pai com a cabeça cheia, mas seu pai estava ali com ele e o resto podia esperar.

~~***~~

— Sabe o que eu vou fazer quando eu ver o Jon? – Regina estalava os dedos – Dar um soco nele.

— Quem ti escuta acha que você faz isso – Samara levantou uma sobrancelha olhando a irmã – Ele é seu irmão gêmeo.

— E daí! – Gina levantou do sofá fazendo bico – Ele tem que aprender a não fazer idiotices.

— Acho que fazer idiotices é parte de ser um adolescente – disse Márcio que lia uma revista sobre agricultura.

— Fala isso por experiência própria tio? – alfinetou Gina.

— Claro – Márcio folheava a revista com calma.

— Meninos já está tarde – Fabian apareceu na porta da sala carregando Gabriel que havia acordado – Não querem deitar?

— Eu queria o Jon – Kauan estava encolhido em um canto do sofá – Será que ele ta bem?

— É claro que sim – disse Fabian sentando perto dele – Acredito que seu pai vai achar ele logo Kauan.

— O Jon pode ser um tonto, mas o Luis não – disse Regina – Ele deve ter achado um lugar para ficar.

Nesse momento o celular de Márcio vibrou em cima da mesinha de centro e ele pegou ele rápido percebendo que era Laércio.

— Alo – ele ouviu por alguns segundos – Graças a Deus. Certo eu aviso. Até – ele olhou para os rostos ansiosos – Eles os acharam na cabana que seu Quim disse e estão todos bem.

Os meninos pularam de alegria.

— Eles vão esperar amanhecer? – perguntou Fabian colocando o filho no ombro a acariciando as suas costas.

— A chuva já está parando – disse Márcio olhando pela janela – Mas a estrada está muito ruim, eles vão esperar amanhecer.

— Então é hora de todo mundo dormir – disse Fabian olhando severo para todo mundo ao ouvir um “a!” geral.

Demorou cerca de uma hora para conseguir ter todo mundo na cama, inclusive Gabriel, mas Fabian não conseguia dormir. Ele foi para a cozinha e sentou bebericando um café que tinha feito.

Estava inquieto, sem concentração.

Sabia que estava estressado quando isso acontecia. Em São Paulo ele ficava assim quando o seu pai estava bêbado e pronto para dar-lhe uma surra. Os dois trabalhos que tinha não o deixavam tão ansioso como seu pai.

Olhou para o fundo do copo de café e pensou no que aconteceria se Laércio descobrisse o seu segundo trabalho... se o rico fazendeiro descobrisse que ele fora um garoto de programa.

Suas mãos tremiam quando ele colocou a xícara em cima da mesa. Ele queria tanto arrancar essa parte de sua vida de dentro dele, mas sabia que não tinha como.

Só o seu salário trabalhando em um restaurante na favela não dava muito dinheiro e Gabriel necessitava de muita coisa, fora que ele tivera que encontrar alguém para ficar com o bebê enquanto ele trabalhava.

Seu rosto ainda queimava de vergonha ao lembrar de como fora o seu primeiro cliente, do estranho homem que gostava de algemas e chicotes. Ele nunca na vida sequer pensara em cenas sadomazoquistas, mas durante aqueles meses conhecera muitos clientes que gostavam disso, de todo tipo de perversões.

A maioria era fixa, homens ricos que não podiam ter isso com as esposas procuravam alguém desesperado o suficiente para aceitar.

Sua única exigência era a camisinha, disso ele nunca abriu mão.

— Você anda muito sem sono – disse Márcio aparecendo na cozinha de cabelos desgrenhados e olhos inchados de sono – São três da manhã Fabian.

— Desculpe, eu ti acordei?

— Não – ele sentou na mesa – Eu vim beber água e acho você parecendo uma coruja aqui. O que está acontecendo irmão?

A respiração ficou presa na garganta. Ele não podia contar aquela parte vergonhosa da sua vida para Márcio, seu irmão ia morrer de vergonha dele e ia acabar expulsando ele da casa e com toda a razão.

— Às vezes fico pensando em São Paulo e em tudo que aconteceu.

— Não fica assim. Sei que a sua vida foi uma merda, mas você está bem agora, esta em casa.

— Você tem razão – ele forçou um sorriso e se levantou – É melhor eu ir dormir. Boa noite.

Márcio ficou na cozinha olhando para a porta onde Fabian tinha saído.

— O que você esta escondendo irmãozinho?


Um comentário:

  1. Mais um capítulo! Será que posso deduzir que você está bem? Mas mesmo assim fica a curiosidade: como vai nossa escritora especial? como andam trabalho, faculdade, saúde, enfim a vida? Torço para que tudo esteja se encaixando gradativamente e definitivamente, embora na vida, nada seja definitivo. Torço por você. Fica na Paz e tudo de bom.

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