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sábado, 25 de janeiro de 2014

Os Contos de Naral - Capitulo 05 - Estrada Rumo à Floresta Velha


Capitulo 05 – A Estrada Ruma à Floresta Velha


Assim que Valhalla colocou a espada na sua mão la caiu e quase levou ela junto.

— Como esse negócio pesa! – espantou-se ele recolhendo a arma.

A espada era grande, na verdade Davi não imaginava que uma espada era daquele tamanho, um metro do cabo a ponta fina, dois gumes de um metal tão brilhante quanto prata, mas muito dura, com o cabo envolto em couro que deveria ser cômodo para se lutar com ela, o que não seria o caso de Davi se dependesse dele. Ele nunca conseguiria matar alguém.

— É a nossa arma mais leva majestade.

— Acha mesmo que vou aprender isso? – perguntou Davi levantando a arma com os braços tremendo.

— Eu duvido – disse Crhist sentado em um bando do jardim ali perto. Ele parecia ter recuperado toda a sua petulância.

— Fica quieto! – resmungou Davi para ele.

— Crhist não atrapalhe o rei com as suas observações desnecessárias – disse Valhalla contrariada – Tenho certeza que o rei conseguirá aprender a nobre arte da esgrima.

Eles estavam em um pátio em meio ao jardim escondidos aos olhos de todos, menos de Dator que observava tudo com uma atitude relaxada perto de um muro.

Aquilo era uma nova forma de tortura! Assim que Valhalla começou a lhe ensinar como se posicionar, como suas costas deveriam ficar suas pernas e quadris, seu corpo começou a se rebelar.

Ele jogava futebol, basquete e até tênis, mas nada o havia preparado para toda força que seria necessário apenas para suportar os golpes de Valhalla. A moça podia ser só um pouco maior que ele e não ter tantos músculos visíveis, mas sabia manejar uma espada muito maior que a dele com uma graça muito parecida com Crhist. Quanto a ele, mais parecia que seu ombro ia cair e seus braços serem arrancados.

— Você não luta com os braços apenas – disse a moça olhando para ela com o olhar avaliador – Use ombros e quadris majestade.

— Antes ou depois de eu desmaiar de exaustão? – resmungou ele apoiando a espada no chão.

— Seu corpo esta destreinado, ainda não tem músculos nos lugares certos e a agilidade esperada de um espadachim, mas com muito treino garanto que será bom com a espada.

— Como estamos? – Ausna apareceu em meio aos arbustos floridos ali perto.

— Tendo uma revelação – Davi fincou a espada no chão – Não dou para a coisa.

— Vossa majestade é um gozador – havia um brilho travesso nos olhos de Ausna – Garanto que logo vai ser um espadachim maravilhoso.

— Eu?! Lamento matar suas ilusões.

— Mas parece que suas lições vão ter que ser interrompidas por um tempo – a antiga regente entregou um rolo de pergaminho para Valhalla – Seu tio convidou o rei para conhecer o condado Féten.

— A Floresta Velha? Meu tio perdeu o juízo?

— Vou viajar? – o rosto de Davi iluminou.

— Ismail já viu isso? – moça olhou séria para Ausna – AS estradas para o condado podem ser bem patrulhadas, mas ainda são bem perigosas. Relatos de assaltos e sequestros chegam a nós o tempo todo! É uma viajem de dois dias!

— Tanto eu quanto Ismail ponderamos sobre isso Valhalla, mas estamos diante de um começo de reinado frágil, fazer laços com os Féten seria um bom caminho para criar laços poderosos. Sabe que fora as famílias Kustas e Delano, os Féten são a família mais poderosa de Eyri. Temos que ter o apoio deles.

Valhalla ia retrucar, mas viu o desespero de Ausna. Qualquer ação impensada podia levar o país para mais uma guerra e essa seria devastadora.

— Ainda acho que meu tio deveria termais bom censo. O rei ainda nem foi apresentado aos lords...

— Por favor, eu quero ir – pediu, não, implorou Davi.

— É hora de praticar política Valhalla – disse Ausna colocando a mão no ombro da moça e a olhando com carinho – Gostaria que você acompanhasse o rei – olhou Crhist – e você como noivo dele vai ter que ir.

O rapaz ficou vermelho, mas ele sabia que retrucar para a mãe não era um bom negócio.

— Dator ira com a cavalaria. Creio que com esse poder de fogo podemos ficar sossegados.

— A senhora não vira? – Valhalla olhou decepcionada para a ex regente.

— Vou ficar com Ismail organizando a festa de fidelidade.

— Essa é a festa que vou ser apresentado aos lords do reino, não é?

— Sim meu senhor. Nela os lords dos condados juraram fidelidade ao senhor e ao seu reinado e nesse momento o nosso país estará finalmente unido.

— Sinceramente eles não precisam jurar que vão morrer por mim – resmungou Davi lembrando que um juramento de fidelidade é um juramento de morrer pelo rei – Isso me deixa incomodado.

— Você é um inútil mesmo – disse Crhist segurando seu braço e arrumando a sua postura – Morrer pelo seu rei e pelo seu reino é uma grande honra.

— Não quero que ninguém morra, é simples!

Crhist o olhou contrariado e voltou a erguer o baço que Davi tinha voltado a colocar na posição errada.

— Eu não consigo deixar essa espada erguida – disse Davi baixando a arma – Esse treco pesa quase o mesmo que eu!

— Tô vendo que não vai ser tão fácil – disse Crhist que saiu resmungando para os lados do castelo.

— Seu chato...

— Vou arrumar tudo para a sua viajem majestade – disse Ausna inclinando diante dele – Partiram amanhã ao amanhecer.

Davi olhou desanimado para Valhalla.

— Vou ter que continuar com isso durante a viajem?

— Mas é claro majestade – responde a moça alegre erguendo a espada – Treinaremos até a sua perfeição!

Perfeição? Só se for para ficar perfeitamente aleijado!

Crhist só voltou depois que Davi teve a espada arrancada de sua mão três vezes.

— Eu não agüento mais – gemeu Davi apertando o pulso direito dolorido desse jeito vou é acabar ficando sem as minhas mãos.

— Acho que até para um inútil como você isso vai ajudar – disse Crhist lhe estendendo uma espada.

Todavia não era qualquer espada, era uma espada dourada como se fosse feita de ouro, era mais fina que qualquer espada que ele já tinha visto e parecia bem afiada. Seu punho era envolto em couro suave e tinha uma pedra vermelha no botão da espada, como uma lágrima de sangue. Na lâmina haviam palavras gravadas em uma língua que ele desconhecia. Era muito leve e de fácil manejo, era tão equilibrada em sua mão que parecia uma extensão do seu braço.    

— Essa não era a espada do seu pai? – Valhalla olhou espantada para o rapaz que mirou ela de modo frio.

— É a única que ele vai conseguir manejar – resmungou Crhist sem olhá-la e voltando para o seu canto.

A moça olhava de um modo estranho para o garoto, mas Davi agradeceu o surpreendente gesto do outro.

— Obrigado Crhist. Com essa parece que vai ser mais fácil.

— Só tomo cuidado para não se matar com ela. Eyri não precisa ficar sem seu rei só porque ele é inútil!

Davi revirou os olhos e Valhalla, balançando a cabeça como se estivesse espantando um pensamento, voltou-se para ela.

— Continuemos majestade.

Logo Davi percebeu que era muito mais fácil com aquela espada. Ele podia manter a postura e chegou mesmo a contratacar a moça. Valhalla parecia encantada com os seus progressos.

— Parece que essa espada é ideal para você – comentou ela um pouco ofegante – Por hoje terminamos majestade – ela inclinou-se diante dele – Creio que Ismail o espera no escritório.

— Tortura dois ai vou eu! – gemeu Davi curvando os ombros.

Ele foi até Crhist para devolver a espada.

— Obrigado.

— Você pode ficar com ela até conseguir uma espada para si – ele estendeu uma bainha para ele, vermelha e toda cravejada com pedras preciosas.

Seu rosto ficou vermelho e ele saiu intempestivamente, sumindo nas curvas dos jardins do castelo.

~~**~~

— A espada do pai? – Ausna levantou os olhos do livro caixa que conferia – Crhist emprestou a espada de Cinrei para Davi?

Elas estavam em uma saleta que era parte do quarto de Ausna. O quarto era decorado com móveis de um tom mais claro, quase bege. A cama de quatro pilares tinha a cabeceira toda entalhada com flores e uma colcha branca a cobria. O guarda roupa tinha um grande espelho de corpo inteiro e havia outra porta que dava para o banheiro.

As paredes eram revestidas com quadros que mostravam sua família em várias épocas. Ali estava Kidai Kustas, seu primeiro marido com seus cabelos castanhos e rosto sério, fora um casamento inteiramente político e Kidai morrera em cinco anos numa emboscada no norte. Tinha também o belo rosto sorridente de Fervet Landro seu segundo marido e aquele que ela casa por amor.

Fervet era apenas chefe da guarda do castelo, não era o homem ideal socialmente para ela, mas fora contra tudo e contra toda a sociedade para ter o amor do belo e doce homem.

Fora a época mais feliz de sua vida e achava que ela estava completa quando Dator nascera.

Fervet cuidava de Ismail do mesmo modo que Dator e eles eram uma família feliz até que o pior aconteceu. Um grande conflito com Otop levou Fervet, então general das forças de Eyri ao campo de batalha e ele não voltou vivo.

Ausna estava em luto ainda quando as coisas dentro de Eyri começaram a desmoronar e os Delano tinham parte nisso. Eles queriam o poder e Ausna ainda ostentava o sobrenome Kustas, assim eram os Kustas que davam as ordens no reino.

O único modo de impedir isso era um novo casamento.

Ao ouvir isso de seus conselheiros, Ausna os havia mandado ao inferno e nem queria saber.

Fora ai que ela conhecera Cinrei.

Cinrei era um estron, filho de um povo ao norte que há muito não se tinha noticia. Ninguém sabia do porque Cinrei fora deixado na porta na casa do Lord Delano quando bebê, mas o lord o criara como filho.

Cinrei era um homem jovem e encantador. Seus cabelos prateados e olhos claros chamava a atenção por onde ele passava. Ele era alegre e estava sempre pronto para ver o lado bom das coisas. Todos diziam que ficar perto dele era u modo de se contagiar com sua alegria.

Cinrei era seu prometido da família Delano, mas ele não fora até o Castelo Branco impor sua vontade, mas para se desculpar por sua família gananciosa.

Algo naquele homem cativou Ausna e logo eram amigos, mas ambos sabiam que não podiam continuar assim, tinham que tomar uma decisão e se casaram pelo bem do reino.

— Ei! – Valhalla estalou os dedos diante do rosto dela – Em que mundo estava?

— Longe – ele sorriu cansada – Ainda não acredito que Crhist fez isso. Ele não deixa nem eu tocar aquela espada.

— Também não acreditei, mas ele deu a espada e a bainha para o rei usar enquanto ele não tem a sua espada – Valhalla sentou na poltrona e cruzou as pernas mostrando os pés descalços.

— Valhalla!

— O que? – a moça fez um bico – Você sabe o quanto eu odeio sapatos!

— O reino inteiro sabe – Ausna suspirou contrariada sentando nos braços da sua poltrona e levantando o queixo da moça – Se você não fosse desse modo não seria a minha Valhalla!

Ausna beijou os lábios da outra. Era para ser um beijo casto, mas Valhalla a seguro e fez com que ela caísse em seu colo.

— Valhalla! Tenho que terminar com esses benditos livros caixa!

— Mais tarde – disse a outra a puxando para mais um beijo profundo.

Ausna gemeu quando a outros apertou seus seios sensíveis. Antes que notasse estava deitada no chão com Valhalla em cima dela erguendo seu vestido até expor sua roupa debaixo e a puxando para chegar aos seus seios. Ausna jogou a cabeça para trás gemendo quando a outra sugava seus mamilos com fervor.

— Adoro seu sabor – disse Valhalla beijando seu pescoço e descendo a mão até suas partes intimas.

Ausna conteve um grito quando sentiu a mão de Valhalla nela, mas uma conversa no corredor interrompeu as duas que ficaram rígidas e ofegantes.

— Agora não – Ausna beijou o rosto da outra e levantou arrumando as roupas.

Valhalla deitou no tapete batendo a cabeça no chão.

— Vamos Valhalla, temos trabalho a fazer antes da sua viagem.

— Assim você me mata – resmungou a outra levantando e indo até perto da mesa da ex-regente e sentando em uma poltrona.

— Espero que você e Dator não fiquem brigando a viagem toda – disse Ausna olhando contrariada para Valhalla que olhava para as unhas, pensativa.

— Até eu tenho juízo – disse ela finalmente – Não vou ficar brigando com seu filho chato, estou mais preocupada com Crhist, ele não parece no melhor do humor. Nem flores ele anda dando ao Ismail e isso é coisa que não o vejo fazer a muito tempo.

— Ismail mandou selar as saídas secretas que Crhist usava.

— Para que aquele menino queria sair às escondidas do castelo?

— Eu não sei – Ausna balançou a cabeça – Quando eu pergunto ele não responde e eu nunca consegui seguir ele.

— Talvez isso seja um pouco de fogo naquele coração gelado – disse Valhalla rindo – Crhist nunca amou nada na vida, quem sabe ele se interesse por algo.

— Como diz Dator: “Nas coisas do coração o mundo é bruma”.

— Dator e sua filosofia de praça – resmungou Valhalla revirando os olhos e aludindo aos pregadores que iam de cidade em cidade e ficavam nas praças discursando.

— Bem que tal voltarmos às finanças?

Valhalla gemeu.

~~***~~

Amanheceu um dia sem nuvens, o céu tinha um profundo azul e cheirava a mel e flores. O ar estava fresco, quase frio e isso deleitava Davi que vinha de uma região quente do planeta Terra. Ele sempre gostara do frio e não se dava bem com o calor.

Todos estavam parados no pátio do castelo diante dos grandes portões. Eram cerca de vinte cavaleiros com armaduras reluzentes e cavalos brancos, o único cavalo escuro era de Crhist, um belo garanhão negro.

— Tenha uma boa viagem meu rei – disse Sípria inclinando-se diante dele.

— Tenham uma boa viagem – despediu-se Ausna.

— Tenham cuidado – disse Ismail para Dator – As estradas rumo ao condado Féten estão calmas e aparentemente seguras, mas eu não gostaria de arriscar.

— Vamos estar de olhos. Até mais.

Crhist subiu no cavalo com uma agilidade felina de dar inveja em Davi e o olhou com o cenho franzido.

— Parece que não tem jeito, você vai ter que vir comigo já que nem mesmo montar sabe.

— Ora eu nunca nem mesmo tinha visto um cavalo antes daqui, quanto mais cavalgar.

— Venha – ele estendeu a mão para Davi – Como seu noivo não tenho opção a não ser arrastá-lo até a Floresta Velha.

— Não fale como seu eu fosse uma bagagem – resmungou ele colocando o pé com dificuldade no estribo.

Finalmente Dator deu o sinal e o rei e sua comitiva partiram.

Ao passar pela cidade as pessoas se aglomeravam nas caladas curiosas e apontavam para Davi.

— Acene para eles – disse Crhist para Davi – Eles apenas estão curiosos com o seu novo rei.

Vermelho de constrangimento, Davi começou a acenas para as pessoas que também acenavam para ele e pode ouvir alguns comentários.

— O rei!

— O rei Delano está entre nós!

— Temos um rei!

— Ele já esta noivo!

— Não formam um casal lindo.

— Não é possível que eles já saibam – gemeu Davi escondendo o rosto nas costa de Crhist que revirou os olhos.     

— Tanto a nobreza quanto a plebe tem um esporte favorito, a fofoca. Acostume-se com isso, o reino todo já deve saber.


Eles logo deixaram Inay para trás e rumaram pela estrada que cortava fazendas e bosques. Passaram por grandes plantações onde as pessoas acenavam para eles e por pastos onde os rebanhos pastavam calmamente.



Depois de algumas horas até as fazendas desapareceram para dar lugar a uma floresta que não parecia ter fim.

Ao meio dia pararam para almoçar e Davi desceu do cavalo gemendo.

— Dois dias nisso? – ele massageou o traseiro – Porque ninguém me disse que eu ia ser torturado? – suas pernas também estavam duras.

— Pare de reclamar – disse Crhist amarrando o cavalo em uma arvora baixa perto de uma grama alta – Inútil – disse passando por ele.

— Ninguém merece – Davi andou mancando até um gramado baixo debaixo de uma arvora e jogou nele olhando em volta.

Haviam saído da estrada para pararem perto de um córrego que corria em um leito de pedras e era bem raso, mas ele ainda podia ver peixinhos azuis descendo a correnteza. Toda a extensão era cercada de moitas de uma planta de folhas largas com cachos de flores vermelhas e perfumadas. A grama era pontilhada por tufos de flores coloridas e as árvores tinham folhas pequenas e ofereciam boa sombra. Era um lugar muito bonito.   

Crhist sentou ao seu lado observando o vento bater nas árvores.

— Como é o seu mundo?

— A Terra? Muito diferente daqui. A terra é muito povoada, então lugares como esse quase não existem mais. Nosso ar está sujo por causa de nossas indústrias deixando tudo com cheiro de fumaça e o céu cinza.

— Mas deve ter algo de bom?

— Claro que tem. Tem futebol, tem a internet, as pessoas, a televisão e a minha família – ele ficou triste – Fico pensando no que eles estão fazendo, o que estão pensando do meu desaparecimento.

— Como é a sua família?

— Bem – Davi deitou de lado observando os soldados prepararem o almoço – Meus irmão são uma praga, vivem no meu pé me dando apelidos idiotas, minha mãe tem sempre um conselho para tudo e está sempre de prontidão, nada escapa dela. Meu pai é a pessoa mais calma que eu conheço e está sempre lá quando precisamos dele.

— Parece uma boa família.

— É só uma família comum, com os mesmos problemas de todos, se bem que duvido que alguma delas teve alguém que já viajou para outro planeta.

— Almoço – Dator estendeu uma tigela para ele e uma para Crhist.

— Obrigado Dator – ele estava morrendo de fome.

Crhist pegou a sua sem nem mesmo olhar para o irmão.

— Você deveria ser mais educado – repreendeu Davi.

— Isso é problema meu!

Aquilo devia ser um assunto de família, mas Davi não via o porquê de Crhist tratar tão mal alguém to legal quanto Dator.

Valhalla, que havia se adiantado com um grupo, estava voltando.

— E então Valhalla?

— Não avistamos ninguém suspeito, só moradores da região. Estamos cada vez mais próximos da Floresta Velha, bandidos aqui são raros.

— Tem alguma razão? – perguntou Davi revirando a estranha pasta de cereais que era o almoço.

— Medo – Valhalla pulou do cavalo que montava sem cela – Quem não conhece tem medo da Floresta Velha.

— A Floresta é um lugar muito antigo majestade – disse Dator – Acreditamos que ela está ai desde a aurora dos tempos, corre a lenda de que a Floresta Velha foram às primeiras árvores criadas pela Alma do Mundo.

— As pessoas acham que a floresta é viva – disse Crhist – Que as árvores podem conversar.

— Isso é lenda – resmungou Valhalla – Nasci naquela floresta e nunca vi nada disso.

— Depois do que me aconteceu eu acredito que tudo é possível – disse Davi olhando ao longe imaginando como seria essa floresta lendária.   

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

O Colecionador de Olhos - Capitulo 05


Capitulo 05



Assim que saíram da delegacia Rafael olhou para Inocense e começou a rir.

— Você conseguiu a raiva do delegado Luis em tempo recorde!

— O que eu fiz? Era uma observação que qualquer tapado podia fazer. Todo mundo ia notar mais cedo ou mais tarde.

— Você gosta de tumultuar, não é? – disse uma voz cheia de raiva atrás deles e quando se voltaram deram de cara com Almeida, o rosto contorcido de raiva.

— Eu?! – Inocense olhou toda empertigada para o outro que era bem mais alto que ela – Eu apenas fiz uma observação que qualquer um ia fazer investigador, as pessoas não são burras.

— Estamos tentando impedir que mais pessoas sejam machucadas aqui, mas ao que parece, para gente da sua laia, isso não é importante!

— Calma lá Roberto! – resmungou Rafael ofendido – Saiba que seu irmão é gente da nossa laia também! Estamos aqui interessados na verdade e não em tumultos como você disse.

— Não é escondendo as coisas da população que vocês vão conseguir algo! – disse Inocense – Se qualquer um da rua acessar uma coisa chamada Google vai saber tudo sobre o caso de Bertioga e logo vai ligar os pontos. O que vocês tinham que fazer é alertar as pessoas para tomarem cuidado, mas eu duvido que alguém vai entrar em pânico na época em que estamos. Todo mundo sabe que saímos vivos de casa e não sabemos se voltamos.

— Você se acha muito espertinha não é?

— Cara você é um chato de marca maior! – Inocense ergueu a cabeça, mostrou a língua para Almeida e deu a volta indo para o carro da revista.

O investigador ficou ali, boca aberta olhando para a moça. Rafael achou que era à hora dele sair também e logo seguiu a repórter que desfilava uma série de palavrões dento do carro elogiando Roberto.

— Você subiu no meu conceito – disse Rafael afivelando o cinto e ligando o carro – Almeida não costuma ser assim com ninguém.

— Isso é perseguição! Da para ver que ele odeia repórteres!

— Ele pode não gostar muito da gente, mas ele não odeia afinal seu irmão caçula em um de nós.

— Quem é o irmão caçula desse grosso?

— O nosso chefe – Rafael deu seu melhor sorriso para a cara horrorizada de Inocense – Israel, dono da Ribeirão Hoje, é o irmão caçula do investigador Almeida.

A moça gemeu tapando o rosto com as mãos.

~~***~~

Quando foi mesmo que Lucas achou que Israel de Almeida e Castilho um homem lindo e educado? Sorte é que Lucas nunca pensara assim ao ouvir gritar com uma repórter. Ela era da equipe de moda ou algo assim e ouvir os “elogios” do seu chefe para a moça o estava deprimindo.

O homem chamou o texto dela de fútil para baixo até que ele ouviu um baque e a moça abriu a porta saindo chorando.

— Imbecil! Desgraçado! – ele xingava.

Lucas ouvia Israel bufar na sala e procurou ficar o mais quieto possível para não sobrar para ele, mas como sempre seu desejo não foi realizado.

— Lucas!! – seu nome devia ter sido ouvido em todo o prédio.

— Pois não? – Lucas ficou na porta tentando ter uma rota de fuga rápida caso seu chefe se transformasse em algum monstro.

— Entre logo menino, eu não vou ti comer!

“Nem um pouquinho?” O rapaz quase gemeu. De onde viera aquele pensamento idiota.

— Me ajudo a organizar esses arquivos – apontou para um armário tão cheio que a porta não fechava.

— Nunca ouviu falar em cópia digital? – resmungou ele esquecendo com quem estava lidando.

— Arrume isso antes que eu despeje toda essa papelada na sua mesa!

Lucas apertou as mãos em punhos para não bater em Israel e abril a porta do armário de aço deixando uma chuva de jornais velhos caírem no chão.

“Eu devo ter salgado a santa ceia!” gemeu ele parafraseando o personagem de uma novela que ele gostava.

Enquanto Israel gritava no telefone, resmungava em frente ao computador, Lucas foi tirando toda a bagunça que havia ali: jornais e revistas com uns duzentos anos de vida, pilhas de textos, alguns dos anos noventa e ainda datilografados, disquetes para os quais os computadores nem mais drive tinham, DVDs de reportagens e pilhas de outros papéis dos quais ele nem tinha ideia.

Sem se importar com o olhar feio de Israel sentou no chão e começou a separar um por um olhando para eles.

— Era mesmo necessário colocar o menino para fazer faxina Israel? – Joana estava parada na porta com a sua bolsa olhando feio para o patrão.

— Onde você pensa que vai essa hora? – resmungou Israel sem parar de digitar.

— Caso não tenha notado são seis e meia e eu não vou fazer hora extra mais, coisa aliais que o seu funcionário já esta fazendo – apontou para Lucas.

— O armário precisava ser arrumado.

— Deus! – Joana revirou os olhos – Logo vai escurecer e a irmã do menino está esperando ele no saguão Israel. Os dois moram longe e depende de ônibus para chegar lá.

— Avise Inocense que eu mesmo levo o irmão dela assim que terminarmos aqui e eu estou ciente das horas extras Joana.

— Quer saber faça como quiser – de repente ela o olhou sério – Mas não deixe pegar ônibus tarde, a história daquele assassino ainda corre por ai.

— Eu já não disse que vou levar ele?

Joana bufou e foi embora acenando para eles.

Lucas queria matar Israel! Desde quando ele aceitara fazer hora extra para esse idiota?

Sabendo que não tinha jeito ele voltou para os papéis.

No saguão Joana aproximou-se de Inocense.

— Inocense, não é?

— Sim – a repórter olhou curiosa para e senhora baixinha.

— Você é a cara do seu irmão – Joana riu – Meu nome é Joana e trabalho com Israel – disse ela estendendo a mão que a moça apertou.

— Prazer.

— O prazer é meu. Israel e Lucas estão tendo que fazer hora extra e ele disse que levaria o seu irmão depois.

— Mesmo? – Inocense parecia preocupada.

— Não se preocupe menina – Joana sorriu – Israel pode ser um imbecil temperamental às vezes, mas é uma boa pessoa e vai deixar seu irmão em casa direitinho. Venha eu vou com você até o ponto de ônibus.

Enquanto iam até os pontos de ônibus da Praça XV de Novembro, Joana a Inocense iam conversando.

— Vir de São Paulo para cá é uma grande mudança – observou Joana enquanto sentavam no banco.

— Já era hora de procurarmos outros rumos – Inocense disse tentando contornar a verdade – O emprego aqui em Ribeirão era bom e achamos que ia ser bom sair da loucura de São Paulo.

— Bem Ribeirão não é exatamente um modelo de cidade do interior calma e pacata, mas acredito que tenha um modo de vida mais calmo.

Logo o ônibus de Joana chegou e ele se foi e a moça içou ali lembrando como fora o último dia em São Paulo...

Inocense subiu correndo a escada do prédio que não tinha elevador. Havia lixo nos cantos e o cheiro de urina sempre a enojara. Ela sempre procurava deixar o seu andar limpo mesmo que não recebesse nada por isso, não era porque ela era pobre que não teria um pouco de higiene.

O apartamento onde vivia com os pais e irmãos ficava no quarto andar e ela abriu a porta sorrindo sabendo que Lucas estava lá esperando por noticias dela.

Lucas era seu irmão gêmeo e eles eram muito ligados. Inocense recebera uma boa oferta de emprego no interior do estado de São Paulo, mas ela não ia embora sem Lucas, temia o que poderia acontecer com ele.

Havia se desdobrado para conseguir algo para o irmão e quando levara seu curriculum ao RH da revista ela o chamara para uma entrevista e finalmente haviam entrado em contato com ela avisando que ele fora aceito como secretário do editor chefe em Ribeirão.

Sabia que seu irmão tinha boas qualificações, mas nem um diploma de faculdade. Lucas era inteligente e educado, tinha um conhecimento avançado de informática e administração, alem de se falar bem espanhol, mas tudo isso ele aprendera lendo.

Fora uma grata surpresa ele conseguir um cargo cujo salário era tão bom. Com o salário dele e dela eles podiam pensar em alugar uma casa logo, mas inicialmente à revista havia lhe indicado uma pousada por um bom preço.

Pelo que disseram era um local familiar com as refeições e a lavanderia já inclusa.

Estava animada ao entrar em casa e ver Lucas passando roupa na mesa da cozinha e suando em bicas no apartamento quente mesmo que fosse inverno. Sua mãe estava sentada no sofá lendo a bíblia. Ela fazia tanto isso que Inocense podia jurar que ela decorara o livro sagrado.

Era uma senhora baixa com cabelos castanhos puxados em um terno coque, rosto severo com rugas em torno dos olhos e boca. Ela sempre usava blusas de manga longa e saias até a canela.

Tinha sempre uma palavra de desaprovação para Inocense e acreditava que Lucas, por ser gay, era a encarnação do diabo.

A moça nunca entendera no porque de sua mãe tratar ela e o irmão com tanto ódio e, se não fosse à avó paterna, ela teria dado um jeito de fugir quando era adolescente.

Sua avó Clara era uma pessoa incrível! Praticamente criara ela e o irmão, dando o amor que sua mãe não era capaz de expressar.

— E ai irmãozinho? – Inocense afastou os cabelos molhados de suor do rosto dele e lhe deu um beijo.

— Tudo bem?

— Tudo agora – ela segurou a sua mão – Conseguimos! Esta tudo certo!

— Mesmo? – a mão dele tremeu e ele quase deixou o ferro de passar roupa cair.

— Mesmo. Podemos ir amanhã.

— Obrigado! – havia tanto alivio no rosto do seu irmão que Inocense o abraçou – Obrigado irmã.

Ela ajudou o irmão a terminar tudo e foram para o quarto que dividiam sob o olhar severo da mão que ainda não sabia de nada.

Ambos começaram a arrumar suas coisas felizes por verem um futuro melhor pela frente.

— O que está acontecendo? – ambos se assustaram ao verem a mãe na porta do quarto, coisa que ele não fazia nem mesmo quando eles estavam doentes.

— Eu fui transferida para uma revista do interior mãe – respondeu Inocense escondendo que fora ela a pedir a transferência.

— Ele vai junto? – ela nem olhou Lucas que tinha s olhos claros cheios de raiva.

— Eu consegui um emprego para o Lucas.

— E quando ia contar isso?

— Íamos falar hoje mãe.

— Sabe eu sabia que você ia acabar indo embora. Agora com seu irmão doente e seu pai desempregado como é que a gente vai viver?

— É só para isso que eu presto, não é? Dinheiro! – Cense se revoltou – Porque o pai não arranja um emprego por causa dessa maldita bebida e seu filho querido não passa de um drogado!

Sua mãe a olhou com desprezo.

— Seu irmão é doente e seu pai bebe para esquecer os filhos que tem.

— Me esquecer, é? – disse a moça cheia de sarcasmo enfrentando a mãe pela primeira vez em anos – Difícil esquecer a pessoa que paga o aluguel, que põem comida na mesa, que pagas às contas para ele não ser preso. Bem difícil!

— Esquecer que e filha é uma vagabunda e o filho... o filho é isso!

— Isso o que mãe? Fala! – dessa vez foi Lucas quem não suportava mais aquilo – Gay! Gay mãe! Eu sou homossexual e não portador de uma doença contagiosa!

— Eu preferia que fosse um criminoso a ser essa aberração!

— Não me chame assim! – os olhos de Lucas estavam marejados e ele teria avançado na mãe se Inocense não o segurasse.

— Não irmão. Ela pode ser o eu for, mas é a nossa mãe.

— Eu não sou mãe de abominações!

— Mãe saia do meu quarto! Eu já não aguento mais a senhora, o pai e o Samuel! Eu estou cheia dos três!

— Então está se mostrando! – havia satisfação na voz dela.

— Não mãe eu só estou desabafando. Por favor, nos deixe só.

Ela lançou um ultimo olhar de nojo para eles e saiu.

A moça correu para o irmão que começou a chorar em seu ombro.

— Eu odeio quando ela me chama assim. Odeio!

— Calma! Calma. Estamos indo embora Lucas, recomeçar a nossa vida.

— Porque ela é assim? – Lucas estava no seu limite, ele chorava e tremia no ombro de Inocense – Porque ela nos odeia tanto? Sempre fomos bons filhos Cense?

— Eu não sei irmãozinho, eu não sei – ela o afastou – mas saiba que eu o amo muito e que juntos faremos um futuro melhor.

— Essa frase sua parece coisa de comercial de margarina – riu Lucas enxugando os olhos.

— Irmão idiota! – resmungou dando um tapa atrás da cabeça dele.

— Sua irmã desnaturada! – Lucas massageou atrás da cabeça – Assim você me mata.

— Deus não é tão bondoso assim.

Lucas olhou feio para ela e continuou a arrumar suas coisas com cara feia, mas depois deu um sorriso pensando que talvez finalmente ele e a irmã fossem ter paz.

Eles estavam jantando quando Samuel chegou, a voz grogue e chutando os móveis.

Ele ia se jogar na cama e dormir até o outro dia, Cense e Lucas esperavam estarem longe quando ele acordasse, mas parecia que a sorte estava contra eles.

Ouviram a mãe contar a novidade e logo depois ele aparecia na cozinha.

Sua aparência era de meter medo: os olhos injetados, as bolsas negras sob os olhos castanhos, a roupa suja e ele todo cheirava a suor e bebida.

— Então os maninhos vão mudar? – sua voz era cheia de sarcasmo – Mas antes eu preciso de uns trocados mana, para o remédio.

Inocense olhou cheia de raiva para ele.

— Porque você não vai trabalhar e ganha seu próprio dinheiro?

— A sua vagabunda! – mais rápido do que Inocense julgasse ele capaz, Samuel a arrancou da cadeira batendo ela na parede segurando o seu pescoço como se fosse estrangular a moça.

— O que você pensa que está fazendo? – Lucas pulou no irmão e deu um soco na cabeça do outro com toda a força o que fez soltar a irmã e voltar para o outro dando um belo soco que o jogou no chão.

Mas quando foi avançar no rapaz caído uma faca apareceu diante dele.

— Se chegar perto do meu irmão faço você se arrepender de ter nascido Samuel.

— É melhor você e essa cria do diabo sair dessa casa – disse a mãe entrando na cozinha – Saiam já da minha casa!

— Com todo o prazer! – disse Inocense levantando o irmão e olhando par ao machucado dele – Você está bem Lucas?

— Vou ficar bem quando formos embora daqui – ele estava pálido, mas a olhava com determinação.

— Vamos!

Assim os dois saíram para as ruas frias de São Paulo, mas seus corações pareciam aliviados, como se um grande peso tivesse sido tirado de cima deles.

Inocense voltou à realidade ao ver que estavam chegando ao seu destino. Ela desceu do ônibus olhando para o céu escuro onde ela não podia ver as estrelas, mas ela sabia que elas estavam ali assim como sua felicidade, ela não podia vê-la, mas sabia que ela estava ali.