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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

O Colecionador de Olhos - Capitulo 05


Capitulo 05



Assim que saíram da delegacia Rafael olhou para Inocense e começou a rir.

— Você conseguiu a raiva do delegado Luis em tempo recorde!

— O que eu fiz? Era uma observação que qualquer tapado podia fazer. Todo mundo ia notar mais cedo ou mais tarde.

— Você gosta de tumultuar, não é? – disse uma voz cheia de raiva atrás deles e quando se voltaram deram de cara com Almeida, o rosto contorcido de raiva.

— Eu?! – Inocense olhou toda empertigada para o outro que era bem mais alto que ela – Eu apenas fiz uma observação que qualquer um ia fazer investigador, as pessoas não são burras.

— Estamos tentando impedir que mais pessoas sejam machucadas aqui, mas ao que parece, para gente da sua laia, isso não é importante!

— Calma lá Roberto! – resmungou Rafael ofendido – Saiba que seu irmão é gente da nossa laia também! Estamos aqui interessados na verdade e não em tumultos como você disse.

— Não é escondendo as coisas da população que vocês vão conseguir algo! – disse Inocense – Se qualquer um da rua acessar uma coisa chamada Google vai saber tudo sobre o caso de Bertioga e logo vai ligar os pontos. O que vocês tinham que fazer é alertar as pessoas para tomarem cuidado, mas eu duvido que alguém vai entrar em pânico na época em que estamos. Todo mundo sabe que saímos vivos de casa e não sabemos se voltamos.

— Você se acha muito espertinha não é?

— Cara você é um chato de marca maior! – Inocense ergueu a cabeça, mostrou a língua para Almeida e deu a volta indo para o carro da revista.

O investigador ficou ali, boca aberta olhando para a moça. Rafael achou que era à hora dele sair também e logo seguiu a repórter que desfilava uma série de palavrões dento do carro elogiando Roberto.

— Você subiu no meu conceito – disse Rafael afivelando o cinto e ligando o carro – Almeida não costuma ser assim com ninguém.

— Isso é perseguição! Da para ver que ele odeia repórteres!

— Ele pode não gostar muito da gente, mas ele não odeia afinal seu irmão caçula em um de nós.

— Quem é o irmão caçula desse grosso?

— O nosso chefe – Rafael deu seu melhor sorriso para a cara horrorizada de Inocense – Israel, dono da Ribeirão Hoje, é o irmão caçula do investigador Almeida.

A moça gemeu tapando o rosto com as mãos.

~~***~~

Quando foi mesmo que Lucas achou que Israel de Almeida e Castilho um homem lindo e educado? Sorte é que Lucas nunca pensara assim ao ouvir gritar com uma repórter. Ela era da equipe de moda ou algo assim e ouvir os “elogios” do seu chefe para a moça o estava deprimindo.

O homem chamou o texto dela de fútil para baixo até que ele ouviu um baque e a moça abriu a porta saindo chorando.

— Imbecil! Desgraçado! – ele xingava.

Lucas ouvia Israel bufar na sala e procurou ficar o mais quieto possível para não sobrar para ele, mas como sempre seu desejo não foi realizado.

— Lucas!! – seu nome devia ter sido ouvido em todo o prédio.

— Pois não? – Lucas ficou na porta tentando ter uma rota de fuga rápida caso seu chefe se transformasse em algum monstro.

— Entre logo menino, eu não vou ti comer!

“Nem um pouquinho?” O rapaz quase gemeu. De onde viera aquele pensamento idiota.

— Me ajudo a organizar esses arquivos – apontou para um armário tão cheio que a porta não fechava.

— Nunca ouviu falar em cópia digital? – resmungou ele esquecendo com quem estava lidando.

— Arrume isso antes que eu despeje toda essa papelada na sua mesa!

Lucas apertou as mãos em punhos para não bater em Israel e abril a porta do armário de aço deixando uma chuva de jornais velhos caírem no chão.

“Eu devo ter salgado a santa ceia!” gemeu ele parafraseando o personagem de uma novela que ele gostava.

Enquanto Israel gritava no telefone, resmungava em frente ao computador, Lucas foi tirando toda a bagunça que havia ali: jornais e revistas com uns duzentos anos de vida, pilhas de textos, alguns dos anos noventa e ainda datilografados, disquetes para os quais os computadores nem mais drive tinham, DVDs de reportagens e pilhas de outros papéis dos quais ele nem tinha ideia.

Sem se importar com o olhar feio de Israel sentou no chão e começou a separar um por um olhando para eles.

— Era mesmo necessário colocar o menino para fazer faxina Israel? – Joana estava parada na porta com a sua bolsa olhando feio para o patrão.

— Onde você pensa que vai essa hora? – resmungou Israel sem parar de digitar.

— Caso não tenha notado são seis e meia e eu não vou fazer hora extra mais, coisa aliais que o seu funcionário já esta fazendo – apontou para Lucas.

— O armário precisava ser arrumado.

— Deus! – Joana revirou os olhos – Logo vai escurecer e a irmã do menino está esperando ele no saguão Israel. Os dois moram longe e depende de ônibus para chegar lá.

— Avise Inocense que eu mesmo levo o irmão dela assim que terminarmos aqui e eu estou ciente das horas extras Joana.

— Quer saber faça como quiser – de repente ela o olhou sério – Mas não deixe pegar ônibus tarde, a história daquele assassino ainda corre por ai.

— Eu já não disse que vou levar ele?

Joana bufou e foi embora acenando para eles.

Lucas queria matar Israel! Desde quando ele aceitara fazer hora extra para esse idiota?

Sabendo que não tinha jeito ele voltou para os papéis.

No saguão Joana aproximou-se de Inocense.

— Inocense, não é?

— Sim – a repórter olhou curiosa para e senhora baixinha.

— Você é a cara do seu irmão – Joana riu – Meu nome é Joana e trabalho com Israel – disse ela estendendo a mão que a moça apertou.

— Prazer.

— O prazer é meu. Israel e Lucas estão tendo que fazer hora extra e ele disse que levaria o seu irmão depois.

— Mesmo? – Inocense parecia preocupada.

— Não se preocupe menina – Joana sorriu – Israel pode ser um imbecil temperamental às vezes, mas é uma boa pessoa e vai deixar seu irmão em casa direitinho. Venha eu vou com você até o ponto de ônibus.

Enquanto iam até os pontos de ônibus da Praça XV de Novembro, Joana a Inocense iam conversando.

— Vir de São Paulo para cá é uma grande mudança – observou Joana enquanto sentavam no banco.

— Já era hora de procurarmos outros rumos – Inocense disse tentando contornar a verdade – O emprego aqui em Ribeirão era bom e achamos que ia ser bom sair da loucura de São Paulo.

— Bem Ribeirão não é exatamente um modelo de cidade do interior calma e pacata, mas acredito que tenha um modo de vida mais calmo.

Logo o ônibus de Joana chegou e ele se foi e a moça içou ali lembrando como fora o último dia em São Paulo...

Inocense subiu correndo a escada do prédio que não tinha elevador. Havia lixo nos cantos e o cheiro de urina sempre a enojara. Ela sempre procurava deixar o seu andar limpo mesmo que não recebesse nada por isso, não era porque ela era pobre que não teria um pouco de higiene.

O apartamento onde vivia com os pais e irmãos ficava no quarto andar e ela abriu a porta sorrindo sabendo que Lucas estava lá esperando por noticias dela.

Lucas era seu irmão gêmeo e eles eram muito ligados. Inocense recebera uma boa oferta de emprego no interior do estado de São Paulo, mas ela não ia embora sem Lucas, temia o que poderia acontecer com ele.

Havia se desdobrado para conseguir algo para o irmão e quando levara seu curriculum ao RH da revista ela o chamara para uma entrevista e finalmente haviam entrado em contato com ela avisando que ele fora aceito como secretário do editor chefe em Ribeirão.

Sabia que seu irmão tinha boas qualificações, mas nem um diploma de faculdade. Lucas era inteligente e educado, tinha um conhecimento avançado de informática e administração, alem de se falar bem espanhol, mas tudo isso ele aprendera lendo.

Fora uma grata surpresa ele conseguir um cargo cujo salário era tão bom. Com o salário dele e dela eles podiam pensar em alugar uma casa logo, mas inicialmente à revista havia lhe indicado uma pousada por um bom preço.

Pelo que disseram era um local familiar com as refeições e a lavanderia já inclusa.

Estava animada ao entrar em casa e ver Lucas passando roupa na mesa da cozinha e suando em bicas no apartamento quente mesmo que fosse inverno. Sua mãe estava sentada no sofá lendo a bíblia. Ela fazia tanto isso que Inocense podia jurar que ela decorara o livro sagrado.

Era uma senhora baixa com cabelos castanhos puxados em um terno coque, rosto severo com rugas em torno dos olhos e boca. Ela sempre usava blusas de manga longa e saias até a canela.

Tinha sempre uma palavra de desaprovação para Inocense e acreditava que Lucas, por ser gay, era a encarnação do diabo.

A moça nunca entendera no porque de sua mãe tratar ela e o irmão com tanto ódio e, se não fosse à avó paterna, ela teria dado um jeito de fugir quando era adolescente.

Sua avó Clara era uma pessoa incrível! Praticamente criara ela e o irmão, dando o amor que sua mãe não era capaz de expressar.

— E ai irmãozinho? – Inocense afastou os cabelos molhados de suor do rosto dele e lhe deu um beijo.

— Tudo bem?

— Tudo agora – ela segurou a sua mão – Conseguimos! Esta tudo certo!

— Mesmo? – a mão dele tremeu e ele quase deixou o ferro de passar roupa cair.

— Mesmo. Podemos ir amanhã.

— Obrigado! – havia tanto alivio no rosto do seu irmão que Inocense o abraçou – Obrigado irmã.

Ela ajudou o irmão a terminar tudo e foram para o quarto que dividiam sob o olhar severo da mão que ainda não sabia de nada.

Ambos começaram a arrumar suas coisas felizes por verem um futuro melhor pela frente.

— O que está acontecendo? – ambos se assustaram ao verem a mãe na porta do quarto, coisa que ele não fazia nem mesmo quando eles estavam doentes.

— Eu fui transferida para uma revista do interior mãe – respondeu Inocense escondendo que fora ela a pedir a transferência.

— Ele vai junto? – ela nem olhou Lucas que tinha s olhos claros cheios de raiva.

— Eu consegui um emprego para o Lucas.

— E quando ia contar isso?

— Íamos falar hoje mãe.

— Sabe eu sabia que você ia acabar indo embora. Agora com seu irmão doente e seu pai desempregado como é que a gente vai viver?

— É só para isso que eu presto, não é? Dinheiro! – Cense se revoltou – Porque o pai não arranja um emprego por causa dessa maldita bebida e seu filho querido não passa de um drogado!

Sua mãe a olhou com desprezo.

— Seu irmão é doente e seu pai bebe para esquecer os filhos que tem.

— Me esquecer, é? – disse a moça cheia de sarcasmo enfrentando a mãe pela primeira vez em anos – Difícil esquecer a pessoa que paga o aluguel, que põem comida na mesa, que pagas às contas para ele não ser preso. Bem difícil!

— Esquecer que e filha é uma vagabunda e o filho... o filho é isso!

— Isso o que mãe? Fala! – dessa vez foi Lucas quem não suportava mais aquilo – Gay! Gay mãe! Eu sou homossexual e não portador de uma doença contagiosa!

— Eu preferia que fosse um criminoso a ser essa aberração!

— Não me chame assim! – os olhos de Lucas estavam marejados e ele teria avançado na mãe se Inocense não o segurasse.

— Não irmão. Ela pode ser o eu for, mas é a nossa mãe.

— Eu não sou mãe de abominações!

— Mãe saia do meu quarto! Eu já não aguento mais a senhora, o pai e o Samuel! Eu estou cheia dos três!

— Então está se mostrando! – havia satisfação na voz dela.

— Não mãe eu só estou desabafando. Por favor, nos deixe só.

Ela lançou um ultimo olhar de nojo para eles e saiu.

A moça correu para o irmão que começou a chorar em seu ombro.

— Eu odeio quando ela me chama assim. Odeio!

— Calma! Calma. Estamos indo embora Lucas, recomeçar a nossa vida.

— Porque ela é assim? – Lucas estava no seu limite, ele chorava e tremia no ombro de Inocense – Porque ela nos odeia tanto? Sempre fomos bons filhos Cense?

— Eu não sei irmãozinho, eu não sei – ela o afastou – mas saiba que eu o amo muito e que juntos faremos um futuro melhor.

— Essa frase sua parece coisa de comercial de margarina – riu Lucas enxugando os olhos.

— Irmão idiota! – resmungou dando um tapa atrás da cabeça dele.

— Sua irmã desnaturada! – Lucas massageou atrás da cabeça – Assim você me mata.

— Deus não é tão bondoso assim.

Lucas olhou feio para ela e continuou a arrumar suas coisas com cara feia, mas depois deu um sorriso pensando que talvez finalmente ele e a irmã fossem ter paz.

Eles estavam jantando quando Samuel chegou, a voz grogue e chutando os móveis.

Ele ia se jogar na cama e dormir até o outro dia, Cense e Lucas esperavam estarem longe quando ele acordasse, mas parecia que a sorte estava contra eles.

Ouviram a mãe contar a novidade e logo depois ele aparecia na cozinha.

Sua aparência era de meter medo: os olhos injetados, as bolsas negras sob os olhos castanhos, a roupa suja e ele todo cheirava a suor e bebida.

— Então os maninhos vão mudar? – sua voz era cheia de sarcasmo – Mas antes eu preciso de uns trocados mana, para o remédio.

Inocense olhou cheia de raiva para ele.

— Porque você não vai trabalhar e ganha seu próprio dinheiro?

— A sua vagabunda! – mais rápido do que Inocense julgasse ele capaz, Samuel a arrancou da cadeira batendo ela na parede segurando o seu pescoço como se fosse estrangular a moça.

— O que você pensa que está fazendo? – Lucas pulou no irmão e deu um soco na cabeça do outro com toda a força o que fez soltar a irmã e voltar para o outro dando um belo soco que o jogou no chão.

Mas quando foi avançar no rapaz caído uma faca apareceu diante dele.

— Se chegar perto do meu irmão faço você se arrepender de ter nascido Samuel.

— É melhor você e essa cria do diabo sair dessa casa – disse a mãe entrando na cozinha – Saiam já da minha casa!

— Com todo o prazer! – disse Inocense levantando o irmão e olhando par ao machucado dele – Você está bem Lucas?

— Vou ficar bem quando formos embora daqui – ele estava pálido, mas a olhava com determinação.

— Vamos!

Assim os dois saíram para as ruas frias de São Paulo, mas seus corações pareciam aliviados, como se um grande peso tivesse sido tirado de cima deles.

Inocense voltou à realidade ao ver que estavam chegando ao seu destino. Ela desceu do ônibus olhando para o céu escuro onde ela não podia ver as estrelas, mas ela sabia que elas estavam ali assim como sua felicidade, ela não podia vê-la, mas sabia que ela estava ali.





    

2 comentários:

  1. oi dalla você poderia colocar links para as series assim seria mais fácil para os leitores se acharem , e quando o primeiro cap do colecionador de olhos foi postado ?
    ass. gustavo

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  2. oiiiiii linda amei quanto aos erros é errando que se aprende kkkk e para mim oque conta é ler e me apaixonar e as vezes esquer os problemas reais rsrs ......
    vc é maravilhosa e admiro muito sua força de vontade...
    cada vez que visito seu blog e vejo que postou um novo capitulo de qualquer que seja o conto vc faz o meu dia melhor rsrsr
    bjus 1000 para vc fica com DEUS aguardando a busca da felicidade kkkkk

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