Capitulo
25 - Vamos a Guerra
A
rede de cavernas do antigo metrô era imensa, mas havia outras cavernas mais
antigas, fruto de extrações de pedras preciosas que pareciam um labirinto.
A
nossa sorte era que Tiesis e Karl conheciam bem aqueles caminhos e pudemos nos
embrenhar neles.
Olhei
para as paredes à luz das lanternas vendo restos brilhantes de jóias esquecidas
ali. Eram as mais baratas, aquelas que não compensava tirar da rocha.
Quartzos
multicoloridos apareciam a todo o momento dando uma sensação de estarmos em um arco-íres
de dezenas de cores. O chão era plano e o ar cheirava a terra, mas não era um
ar pesado e estagnado mostrando que correntes de ar circulavam por ali. O chão
era liso, plano por dezenas de pés da época em que Aurifen ainda nem sabia que havia
outros mundos no universo.
Cada
um carregava uma mochila com o essencial para a sobrevivência, eu não carregava
nada, já tinha a minha dolorida carcaça para arrastar pelos buracos aurifenses.
Tiesis
havia me dado o remédio, mas este demoraria 24 horas para que algum efeito
fosse sentido, então eu ia ter que suportar as minhas dores.
—
Tudo bem? – Karl chegou perto de mim me olhando preocupado.
—
Cansado, mas acho que essa é uma condição permanente minha – disse dando de
ombros.
—
Minha mãe me contou que está esperando um filho – ele olhou curioso para a
minha barriga – Como meu pai biológico.
—
Não sabe o quanto isso é estranho. Acho que uma mulher está preparada para isso
e que o choque é menor, mas eu nunca na minha vida me imaginei grávido.
— Eu
acho interessante. Nunca vi meu pai biológico, mas a mãe e o pai falam que era
uma pessoa incrível que os amava muito e que adorou saber que ia ter um filho.
— No
começo eu fiquei doido, eu nem mesmo sabia o que pensar ou dizer, mas quando o
tempo passou eu percebi que não consigo mais pensar na minha existência sem meu
filho.
—
Todos nós temos medo daquilo que desconhecemos – ele disse sorrindo com os
olhos verdes brilhando.
Realmente
Karl era um homem lindo. A pele era muito branca como os aurifenses, mas os
cabelos castanhos e olhos verdes mostravam sua descendência humana.
—
Acho que o meu maior medo é na verdade não ser um bom pai. Nunca tive bons
exemplos e nem sei como vou cuidar de uma criança.
—
Acredito que as coisas sempre acabam se resolvendo.
—
Você é otimista para alguém que já viveu com tantos problemas – disse sorrindo
com as palavras dele.
—
Acho que aprendi a ver o lado bom das coisas, mas nem sempre sou assim. Tem
horas que estou cheio de me esconder e só queria viver uma vida normal.
—
Por muito tempo eu não tive muitas metas na minha vida e hoje eu fico me
perguntando se meus pais me venderam porque eu não passava de uma casca que só
lhes trazia problemas.
—
Mesmo que isso fosse verdade Andrew, ninguém tem o direito de dispor da vida de
outro ser dessa forma. Você venderia seu filho?
—
Não! – eu nem havia pensado na resposta.
Nunca
ia fazer meu filho passar pelo que passei.
—
Acho, então, que você vai dar um bom pai.
Rimos
juntos.
Tiol
estava ali perto com cara de poucos amigos e eu estava me lixando. Eu acho que
ele tinha prazer em me ver triste e encolhido por ai e sempre que tinha um
motivo para rir lá estava ele me olhando com raiva. Sabe fodasse!
Mark
e Itieu estavam olhando as pedras com alegria própria das crianças e isso me
aliviava, bastavam os adultos estarem com os nervos à flor da pele.
Andamos
por mais três horas em meio a um silêncio reconfortante mostrando que ainda não
estávamos sendo seguidos.
Finalmente
vimos uma luz no fundo das cavernas e saímos para um mata fechada e já escura.
O sol se punha lá fora deixando tudo na obscuridade.
— Eu
to cansado – gemi sentando em uma pedra perto da entrada do túnel – Juro que
não tem como eu dar mais nem um passo.
—
Sei que está cansado, mas temos que nos embrenhar na mata – disse Ana olhando
preocupada para mim.
Andar?!
Eu nem podia me levantar e ela achava que eu ia conseguir andar?
—
Uma ajuda? – Karl me surpreendeu ao me levantar no colo.
—
Ei! Assim vou acabar com a sua coluna assim! – dei um grito me agarrando em seu
pescoço.
—
Esquece que sou meio aurifense e que esse povo é mais forte que os seres
humanos normais? – ele riu para mim e não pude deixar de acompanhá-lo.
— E
VOCÊ se esquece que ele tem dono? – Tiol estava rosnando perto de nós e eu
olhei feio para ele.
— Eu
não sou nada seu! Deixei de ser seu escravo quando fomos para a revolução, além
do mais por você eu ia me arrastar por ai e você nem ia ligar.
—
Mas eu estou aqui agora e não vou aceitar isso. Eu carrego você!
—
Merda! – sai do colo de Karl olhando feio para Tiol – Eu prefiro ir plantando
bananeiras! – gritei indo para junto de Ana e Tiesis que iam à frente.
Mark
e Itieu corriam pelas árvores rindo e eu perdi o olhar de raiva que os dois
atrás de mim lançaram um para o outro.
—
Venha – Ana segurou a minha mão e fomos andando – O meu menino está apenas
curioso com você, por ser como o outro pai dele.
—
Karl sabe que você é companheiro de Tiol – disse Tiesis.
— Eu
não sou nada dele!
—
Então ele não sabe disso – disse Ana rindo – Nunca vi ninguém tão enciumado,
afinal não é muito comum entre os aurifenses.
—
Como não?! – Tiesis colocou a mão no braço dela e a olhou com amor – Eu morro
de ciúmes da minha esposa. Você é minha e fim de papo.
—
Adoro quando me domina amor – os dois riram da brincadeira, mas eu estava
olhando para trás onde Karl e Tiol andavam bem afastados um do outro.
Ciúmes?
Não mesmo!
~~***~~
Duas
horas depois achamos uma caverna que não era habitada por animais. Era uma
gruta que avançava oito metros onde no fundo havia um pequeno córrego e uma
grande área coberta de areia clara. O ar cheirava a umidade, mas eu nem me
incomodava. Era um local de relativa segurança, com a entrada bem camuflada.
Juntaram
alguma lenha, enquanto eu deitava em um canto com um gemido e Ana arrumava as
coisas e colocava umas pedras para fazer fogo.
Depois
que os meninos trouxeram a lenha (para o meu espanto Tiol também ajudou) ela
ascendeu logo o fogo deixando a caverna com alguma fumaça e cheiro de madeira
de pinho queimada.
Ele
colocou a uma panela no fogo fazendo uma sopa com alguns legumes que havia
trazido e carne desidratada.
—
Está frio – Itieu tremeu perto de mim apertando o guan que ronronava.
—
Vem – disse me afastando para ele me afastando para que ele pudesse deitar do
meu lado.
O
menino sorriu para mim deitando debaixo do cobertor.
—
Itieu você lembra-se dos seus pais?
O
menino ficou uns segundos acariciando o seu bichinho e finalmente me respondeu.
—
Não muito, eu era muito pequeno quando eles morreram – como se ele não fosse
pequeno agora – Lembro da minha mãe e ela tinha lindos cabelos brancos. Um dia
homens estranhos entraram na nossa casa e mataram eles. Minha mãe me colocou em
um armário. Quando eles foram embora eu sai e corri pelas ruas com medo. Ai eu
vivi sozinho até Tiol me trazer para vocês – ele me olhou com seus grandes
olhos – Você não gostou de mim, não é?
— Por
quê? Claro que gosto de você, é que eu estava meio brigado com Tiol e ai a
gente discute.
—
Ele tem medo – sussurrou para mim o menino apertando o guan de encontro ao
peito – Ele tem medo de gostar.
Franzi
as sobrancelhas para o que ele havia dito e olhei para o príncipe que estava
perto do fogo sozinho.
Os outros
estavam reunidos perto da panela conversando com Ana que era o centro da vida
deles. Mesmo com tudo que estava acontecendo eu via o amor ali, via o modo como
cada um se tratava.
Imaginei
em como fora para Tiol crescer no ambiente que crescera, em ter um pai que não
se importava com os sentimentos dos outros, acho até que o imperador nem sabia
que as pessoas tinham algum sentimento.
Deve
ter sido difícil e mais, aprender a amar e confiar não é tarefa fácil, ainda
mais quando a família era como a dele.
Eu não
queria sentir pena ou desculpar Tiol, mas no fim eu me vi me perguntando se não
podia fazer isso. O que eu ia ganhar com ficar com raiva? Em sempre apontar que
ele era uma má pessoa e que havia me comprado? Como seria o meu futuro e o da
criança que carregava assim?
Pensei
em chamá-lo para conversar quando ouvimos estrondos ao longe fazendo com que
meu coração viesse até a boca.
—
Vou dar uma olhada – disse Tiol levantando e voltando poucos minutos depois
pálido e com o maxilar rígido o que sempre acontecia quando ele estava com
muita raiva – A cidade está sendo bombardeada.
~~***~~
Valdi
estava bem melhor, mas ficou na cama sem querer falar com ninguém. Só de pensar
que toda a nave havia visto ser violado da forma que fora sentia náuseas.
Quando
a porta abriu ele virou para o outro lado não querendo ver ou falar com
Gwidion.
—
Precisamos conversar – era a voz de Frey e Valdi estremeceu não acreditando no
quanto era covarde ao fazer isso.
— Eu
não quero falar com você – ele resmungou.
—
Valdi eu sei que me desculpar...
— E
porque você se desculparia! – Valdi sentou brusco e procurou não ligar para a
dor que sentia – Eu vi as suas lembranças Frey e sei que você só fez o que
fizeram para você.
—
Isso é verdade – ele olhou Valdi com os olhos atormentados – Mas também é
verdade que o seu povo não é todo assim, que eu generalizei através de uma experiência,
que fiz uma coisa horrenda com você que não pode ser reparada. Me desculpe.
— Eu
não sou rancoroso Frey e sei que vamos viver juntos de agora em diante, mas,
por favor, não acredite que vou esquecer o que fez, não pela dor, mas pela
humilhação que passei. Posso até tentar conviver com vocês, mas certas coisas
ficam gravadas em nossa alma a fogo.
— Eu
sei disso e foi esse fato que me levou ao que aconteceu Valdi. Vamos tentar
seguir em frente, mesmo que agora parece impossível.
Valdi
não queria chorar, lágrimas não vinham fácil para ele. Eram como um símbolo de
fraqueza que ele não podia deixar transparecer par que assim pudesse mostrar
sua força para a sua família, mas agora ele tinha outra família e ia dar-se o
luxo de ser fraco.
Baixando
a cabeça deixou que os olhos vermelhos começassem a se encher da lágrimas.
De repente
alguém se agarrou a ele e percebeu que Frey o abraçava também chorando, tomado
de uma dor que o aurifense também sentia.
— Eu
estava preocupado com vocês dois – disse Gwidion entrando com um bebê nos
braços que se mexia inquieto – Esta tudo bem?
—
Melhor – disse Valdi tentando se acertar com sua família.
—
Bem Valdi eu gostaria que conhecesse o nosso caçula Volgan.
Gwidion
foi até a cama e colocou o bebê no colo de Valdi deixando ele duro de medo.
— Eu
vou deixar ele cair!
—
Não vai não – Frey mostrou como segurar o pequeno que começou a rir olhando
para Valdi que não pode deixar de sorrir dele.
— A
gente quer entrar também! – Owen estava na porta com o pequeno Brit atrás dele.
— Eu
não pedi para vocês ficarem no quarto? – Gwidion olhou contrariado para os
filhos.
—
Venham aqui – Valdi bateu na cama e os dois sentaram ali, com Brit subindo no
colo de Frey que o apertou nos braços.
—
Bem meninos já que estão aqui quero que conheçam o pai Valdi de vocês – disse Gwidion
– Ele é de um mundo chamado Aurifen.
— Eu
queria morar em um mundo – disse Brit olhando pidão para Frey – Não podemos
papa?
—
Podemos Brit – Frey fez um carinho nos cabelos encaracolados do menino – Vamos com
pai Valdi para o mundo dele e se pudermos vamos morar ali.
—
Com uma casa e árvores? – Owen olhou para Valdi com os olhos brilhando – Eu adoro
árvores pai Valdi!
Era incrível
em como aquelas crianças haviam aceitado ele e devia confessar que o sentimento
de ter aquele pequeno ser em seus braços e de se ver cercado deles aquecia o
seu coração fazendo com que segurar as lágrimas fosse impossível.
— Tá
dodói? – Brit saiu do colo de Frey ficando de joelhos no colchão perto dele e
beijando seu rosto – Papa diz que beijar ajuda a sarar.
— Eu
também!
Logo
Valdi estava sendo beijada no rosto pelos dois meninos fazendo com que ele caísse
na risada o que fez Volgan rir também balançando pernas e braços.
Olhou
para os dois piratas preso entre tristeza e alegria, e um fato que agora era imutável,
ele tinha uma família.
~~***~~
Eu não
queria nem mesmo olhar para o que acontecia lá fora, só de pensar nas pessoas
na cidade eu tinha náuseas.
—
Acha que havia alguma célula da revolução lá? – Tiesis perguntou para Tiol.
— Eu
não sei e me pergunto o que meu pai estará fazendo no resto do mundo se ele
ataca assim um país fiel a ele – Droga! – Tio socou o chão onde ele estava
sentado – Temos que achar um modo de dar um golpe de estado. Preciso achar Yaci
para que tentemos matar meu pai.
Ana olhou
com pena para o príncipe.
—
Sei que seu pai é um monstro Tiol, mas matar ele?
— É
o único modo de ter um golpe de estado legitimo e que possa levar Yaci ao
governo – Tiol olhou rígido para o fogo – Adamas não é meu pai Ana, meu pai é
Abrahan. Adamas é o que você disse um monstro e como tal deve ser parado.
Ana abraçou
Tiol que se deixou ficar nos braços dela. Era surpreendente em como ela
conseguia mostrar um pouco do príncipe que ele não deixava ninguém ver.
—
Vai demorar um pouco para chegarmos ao porto – disse Karl – Mas não podemos ir
pelas estradas. Teremos que pegar caminhos alternativos e ficar longe.
—
Espero que a revolução esteja fazendo algo – disse preocupado com o nosso
futuro.
E Yaci
estava fazendo algo. Enquanto Ian descansava ele, junto a Uliam estavam
organizando as redes de informação das células revolucionarias em todo o
planeta e o príncipe herdeiro descobrira o que acontecera a Abrahan deixando
ele muito transtornado.
Depois
de horas ele conseguira entrar em contato com Erim Gnare que estava com seu
papa e com alivio descobrira que estavam ambos bem e indo rumo ao ponto de
encontro.
Yaci
estava aliviado com a possibilidade de juntar a sua família novamente.
Caças
de vários pontos do planeta começaram um ataque contras as forças do imperador
e uma rede de informações tentava encontrar desertores nas tropas que
estivessem dispostos a entregar planos de batalha de Adamas par eles.
Técnicos
começaram a preparar o plano de Yaci de chegar até seu pai e conseguir um duelo
com ele.
Tudo
estava sendo testado nos mínimos detalhes e o príncipe coçou os olhos cansados
nas primeiras horas do amanhecer.
— Vá
descansar garoto – disse Uliam para ele – Deixe que tomamos conta de agora em
diante. Seu companheiro já foi para o quarto, esta medicado e bem.
Yaci
sorriu para Uliam e se arrastou para uma parte do complexo onde haviam quartos,
eram pequenos e com apenas uma cama e um armário, mas isso não importava para
ele, só o que lhe interessava era em Ian deitado ali, todo encolhido e com o
rosto com sinais de cansaço. Queria tanto que pudesse dar uma vida diferente
para ele, mas ele era o príncipe herdeiro e ia procurar fazer o melhor por seu
povo, mas quando tudo isso terminasse ele ia se casar com Ian e mandar a
sociedade se danar.
Retirou
a roupa e deitou do lado do garoto abraçando seu corpo magro e acariciando a
barriga que ia aparecendo.
—
Mestre? – Ian disse com a voz sonolenta se esfregando nele.
—
Tudo bem amor, volte a dormir.
Ian encaixou-se
melhor no corpo musculoso do príncipe e dormiu com um sorriso, mas Yaci demorou
muito a deixar o sono tomar conta; o peso de um mundo o oprimia.
uh... esta ficando cada vez mas emocionante entre un Tiol ciumento, Ian se recuperando e valdi se acertando com sua nova familia.
ResponderExcluirmas fico triste com a guerra.
dallas te mando bs e abraços gracias por mas un cap.