Capitulo 6 – As
Consequências dos Nossos Atos
Já era noite quando Itieu acordou
percebendo que era levado. Seu corpo todo doía em uma angustia indescritível. Até
respirar era uma agonia que ele não queria fazer e depois de todas àquelas
horas ficou pensando se realmente não ia morrer nas mãos daqueles escravos.
Foi torturado de todas as formas possíveis
e depois de algumas horas ele parou de gritar, já estava sem voz.
— Pelos deuses! – ouviu a exclamação
de Raqsa – Kamar o coloque na cama e vá logo chamar o médico. Rápido!
Se estava tão mal porque não morria de
vez? Porque se agarrar à vida depois do que passara?
— Itieu? – Raqsa passou um pano
molhado em seu rosto inchado – Itieu está me escutando?
Ele não respondeu, sua garganta estava
em carne viva e mesmo que quisesse ele não ia conseguir.
Gael tremia ao olhar para o corpo
maltratado do aurifense. Ele estava coberto de sangue e sêmen com cortes por
todo o lado e seu rosto era uma massa de roxos e estava tão inchado que ele
duvidava que o rapaz pudesse abrir os olhos.
— Porque isso? – Raqsa gemia tentando limpar
um pouco dos machucados dele – Ele nunca tratou nem um de nós assim! Como pode
fazer isso com o rapaz?
— Ele não é nosso dono? – havia amargor
na voz de Gael – Pode fazer o que quiser.
O ghal o olhou de um modo estranho e
voltou a tentar limpar Itieu.
O doutor Meride chegou e ficou pálido
ao olhar para o escravo ferido, mas não disse nada, apenas começou a limpar e
fazer curativos. Ele passou uma loção que teve o efeito imediato de desinchar
os locais mais atingidos. Virou o garoto e foi examinar seu ânus rasgado e
Itieu começou a chorar de dor e vergonha. No fim Itieu estava cheio de gaze e o
médico lhe aplicou um remédio para a dor.
— De isso a ele de cinco em cinco
horas – disse o médico dando algumas cartelas de comprimidos para Raqsa – Virei
amanhã mudar os curativos – voltou a olhar para Itieu e seu rosto se contorceu
de raiva – Que os deuses tenham piedade do nosso mundo Raqsa. Se ele trata os
escravos assim, imagina como vai tratar do povo.
— Doutor ele...
— Olhe garoto eu já vivi muito nessa
vida e sei uma coisa conhecemos as pessoas pelo modo como ela trata os
inferiores – inclinou para Raqsa e saiu.
Gael foi sentar perto da janela aberta
olhando para um pedaço do céu que via por entre as árvores e deixou que uma
única lagrima caísse do seu olho.
~~***~~
Kafen contratara o doutor Merida por
sua descrição e por ser uma pessoa confiável. Gostava do velho médico que
servira nas guerras no deserto e sempre fora seu amigo.
— Doutor, por favor, sente – ele apontou
para a cadeira em frente a sua escrivaninha.
Estavam em seu escritório, um cômodo pequeno
com alguns quadros, sofás e em uma parede uma grande tela plana de TV mostrando
que havia um radio sub espacial ali.
— Obrigado meu príncipe, mas o que
quero falar é breve – ele levantou o queixo e Kafen franziu as sobrancelhas no
modo que o médico parecia enfrentá-lo – Estou aqui para apresentar a minha
demissão.
— O que? – Kafen ofegou de raiva – O que
deu em você? Quer aumento? Devia ter falado logo!
— Não eu estou me demitindo porque não
posso aceitar o que fez com o estrangeiro.
— Quanta sensibilidade ao próximo
Merida? – o outro riu com sarcasmo – Ele é minha propriedade e alem disso foi
apenas sexo.
— O garoto está quase morto Kafen! – o
príncipe rosnou quando ele omitiu o seu titulo – Conheci você quando subiu ao
poder e achei que era uma esperança para nosso mundo, mas você é igual a todos
os outros que chegaram ao trono. Brincam com a vida cheios de prazer e não
ligam para mais nada. Eu não compactuo com isso!
— Acha mesmo que vai achar emprego
depois dessa afronta? – os dedos de Kafen apertavam a beirada da mesa a ponto
deles ficarem brancos.
— Duvido muito Príncipe Guerreiro –
disse o médico empertigado e o olhando de cima – O senhor vai garantir que isso
nunca mais aconteça e por quê? Eu disse a verdade para você? O que vai fazer se
mais e mais pessoas fazerem isso? Vai voltar aos velhos costumes de fuzilar as
pessoas em praça pública? O povo esperava tanto de você e é isso que ganhamos!
Adeus!
Kafen estava mudo ao ver o medico ir
embora. Como aquele idiota se atrevia a falar assim com ele?
Ia mandar os guardas prendê-lo e jogar
a chave fora!
Todavia seu dado parou no ar antes que
ele apertasse o botão para chamar os guardas.
O que ele estava fazendo? Estava se
tornando igual aos antigos governantes que ele lutou tanto para tirar do poder!
Mandava e as pessoas tinham que obedecer ou seriam castigadas, ele estava
virando um déspota.
— Deuses! – ele gemeu esfregando a
testa – Eu não sou isso, eu lutei para ser quem sou porque não pude salvar a
minha mãe das torturas e agora o que eu faço? Sou igual às pessoas que faziam
isso.
Seu estomago se revoltou com essa ideia,
mas ele engoliu as náuseas. Era hora de ele ver o que tinha acontecido. Deixara
Itieu nas mãos dos escravos do harém e não podia imaginar que eles tivessem
feito algum mau ao aurifense.
Andou apressado pelos corredores do
castelo até dar na ala do harém. O sol já tinha se posto e as luzes dos jardins
estavam acesas e os escravos em seus quartos se preparando para ele.
Andou até o quarto que designara para
Itieu e Gael. Kamar estava à porta com sua expressão livre de qualquer
sentimentos e se inclinou para ele abrindo a porta.
Seu primeiro vislumbre foi de Raqsa de
joelhos perto de uma cama onde estava um corpo cheio de curativos e roxos. Cortes
de pequena monta cobriam quase todo o corpo e ele reconheceu Itieu em meio a
todo aquele caos.
— Meu senhor! – Raqsa inclinou-se para
ele, sua testa tocando o chão.
Gael estava perto da janela e o olhava
com ódio o nojo.
Ignorando os outros foi até a beirada
da cama. Nem mesmo os soldados que ele resgatara nas guerras do deserto eram
torturados daquele modo. Como pudera deixar algo assim acontecer?
— Raqsa ninguém mais alem de você,
Kamar e eu entrara nesse quarto. Eu fui claro?
— Sim meu senhor.
— Cuide dele.
— Ou você vai perder o seu brinquedo
de foda, não é? – disse Gael cheio de sarcasmo.
— Olha como fala comigo humano!
— Acha que eu devo algum respeito para
um seqüestrador idiota?
Kafen já estava com a cabeça fervendo
pelo que acontecera, mas ter esse humano gritando foi à gota d’água! Com a
rapidez típica do seu povo, Kafen segurou o pescoço de Gael e o jogou na outra
de bruços cama ficando por cima dele. Estava tomado de um ódio cego e precisava
descontar em alguém.
Gael se debatia em vão enquanto com a
outra mão Kafen puxava suas calças rasgando o tecido. Retirou o grande pênis
que estava ereto e pronto enfiando com tudo no buraco de Gael que gritou de dor
ao ser preenchido com um membro tão grande e sem preparo.
— Onde está sua coragem agora humano? –
rosnava ele em meio às estocadas cada vez mais fortes e por fim ele gozou dentro
de Gael.
Levantou-se ofegante colocando o
membro ainda ereto dentro das calças.
— Raqsa mande quatro escravos para o
meu quarto essa noite!
O ex-escravo tremia com o que tinha
acontecido. Nunca vira Kafen perder o controle assim e se perguntou como o
Príncipe Guerreiro pudera mudar tanto.
Gael estava encolhido na cama
chorando, o sêmen de Kafen escorrendo do seu ânus sujando o que restava da
roupa.
Ele tentou aproximar-se do humano, mas
este deu um grito e o mandou ir embora. Tremulo ele recolheu a mão olhando
pesaroso para os dois.
— Raqsa? – Kamar entrou no quarto
olhando temeroso para ele.
O ghal foi até o esposo e o abraçou
tentando não chorar.
— Eu não posso acreditar que ele fez
isso Kamar! Como pode? Ele é nosso Príncipe Guerreiro, nossa inspiração, nossa
esperança de que os costumes antigos não voltem.
— Pelo visto não é mais – disse Kamar
com o olhar outrora frio e sem sentimentos, agora cheio de raiva – Temos que
partir – ele sussurrou.
— Está louco? Não podemos deixar o
castelo e se o fizermos seremos mortos!
— Eu não vou deixar você aqui para ser
a próxima vitima dele Raqsa! Jurei perante os deuses que ia ti proteger e é
isso que vou fazer!
— Não vê Kamar que se formos embora
ele vai atrás de nós e vai nos destruir?
— Mas ele não vai ter tempo para isso.
— O que? – Raqsa olhou para o rosto impassível
dele.
— Logo Raqsa vai haver um golpe de
estado e quando isso acontecer tiro você daqui e vamos para o deserto junto às
tribos. Meus pais vão aceitar você como filho deles.
Lagrimas começaram a descer pelos
olhos de Raqsa. Ele sempre quisera conhecer os pais de Kamar, mas a sua
servidão, junto ao harém não deixava. Agora ele percebia que a liberdade que Kafen
lhe dera era uma ilusão, ele nunca pudera sair da cidade ou ter a vida que
queria.
— Haverá guerra – murmurou o outro
Raqsa.
— É inevitável e se antes eu não
queria agora eu acho que chegou a hora do nosso povo decidir de que lado está. Ou
voltamos aos velhos costumes ou entramos em uma nova era.
— Eles podem vir conosco? – Raqsa fez
cara de pidão para Kamar fazendo um biquinho que sabia que o outro não podia
resistir.
— Raqsa!
— Por favor?
— Deuses! – Kamar revirou os olhos –
Pode!
— Eu ti amo meu guarda grande e mau! –
disse o outro pulando em Kamar e o beijando.
~~***~~
Andrew olhou para a nave com o olhar
critico de quem não sabia nada de espaçonaves. Era uma nave chata, tipo um
disco de vinte metros de altura por cinqüenta e cinco de diâmetro. Na fuselagem
lia o nome “Odissei” em letras pretas. Haviam marcas de tiros por toda parte e
o motor parecia que ia se soltar da fuselagem, mas estava em uma área de pouso
limitado, onde as naves pousavam apenas para abastecer por algumas horas e isso
queria dizer que nave podia voar e se podia voar ele ia alugar ela.
Uma mulher estava com um tablet em uma
das mãos e com o olhar critico para os buracos negros de tiro na fuselagem.
— Boa tarde – disse Andrew para a moça
que se virou para ele.
Ela era da sua altura, cabelos longos
e castanhos, rosto redondo com lábios vermelhos e olhos grandes e negros. Seu corpo
era cheio de curvas e devia estar um pouco acima do peso, mas ainda era uma
bela mulher humana.
— Pois não? – ela perguntou educada.
— É sua nave? – Andrew perguntou
apontando para a Odissei.
— É. E você é algum fiscal?
— Bem, se é sua nave estou alugando
ela para ir para o sistema Taurinis – disse Andrew entrando na nave por um
passadiço que ia para o hangar da nave.
A moça ficou ali boquiaberta olhando
para aquele desconhecido entra em sua nave como se fosse dono dela.
— Sindria! – uma moça desceu correndo
da escotilha – Tem um doida lá dentro querendo que eu marque o curso para os
Taurinis! Que diabos é isso?
A outra moça era mais alta. Corpo esguio
e rosto mais fino com uma massa grande de cabelos loiros encaracolados caindo
pelos ombros e com olhos azuis frios.
Sindria saiu do seu estupor e entrou
na nave vermelha de raiva e foi para a sala de comando que ficava a apenas uma
andar acima dos depósitos da nave. Ele subiu de escada já que o elevador estava
quebrado.
Andrew estava sentado confortavelmente
em sua poltrona olhando para a sala de comando que já devia ter visto tempos
melhores. Duas das cinco telas de visão global estavam queimadas, um grande
painel à direita tinha uma serie de aparelhos com a afiação saindo e uma grade
estava aberta perto de manche mostrando cabos soltos por todo o lado.
— Cara você é doido? – Sindria gritou para
ele – Saia da minha nave agora!
— Eu vou sair moça, mas quando
chegarmos ao destino que quero.
— Será que vai ser preciso que eu
chame a guarda portuária? – ela gritou e Andrew ergueu um cartão dourado e com
algumas inscrições em prateado.
— Quanto?
— O que?!
— Quanto para me levar até Taurinis?
— Um milhão de créditos – disse a
outra moça entrando.
— Kalem! – disse Sindria virando-se
para a outra – Tá compactuando com essa loucura?
— Eu dou quinhentos mil agora e assim
que chagarmos ao nosso destino o restante.
— Não! – Sindria gritou, mas Kalem a
puxou de lado.
— Sindria a gente precisa do dinheiro
e se esse doido pode nos dar o que tem irmos para lá?
— Olhe a nave Kalem! Acha que chegamos
a Taurinis assim?
— A Odissei é uma boa nave e nunca nos
deixou na mão. Com esse milhão podemos reformar ela e fazermos mais entregas –
a moça tocou no rosto da outra com carinho – Vamos meu amor?
— Droga! – resmungou a outra – Você sempre
consegue o que quer.
— E você adora – disse Kalem dando um rápido
beijo na outra.
Resmungando Sindria foi até Andrew e
pegou o cartão dele.
— É bom que tenha dinheiro aqui –
resmungou ela colocando o cartão em uma fenda.
— Meu nome é Andrew – disse ela
sorrindo para as moças.
— Eu sou Kalem e essa é a minha
companheira Sindria – disse a outra moça que o olhava curiosa – O que tem em
Taurinis que você quer tanto?
— Estou indo buscar meu filho – disse
Andrew olhando para as telas queimadas – Ele foi para o planeta Nébula em
Taurinis-2 e não tenho contato com ele há dias. Dizem que há uma supernova
causando interferência nas comunicações, mas eu não acredito nisso. Eu sei que
algo aconteceu ao meu filho.
Sindria ao ouvir isso endureceu
olhando para a tela onde os quinhentos mil créditos eram transferidos sem
problemas para sua conta pessoal.
— Sindria – Kalem olhou para a moça
que entregou o cartão para Andrew.
— Está tudo certo – disse ela com a
voz cava – Kalem faça os cálculos para Taurinis eu preciso olhar o motor – ela
saiu intempestivamente deixando Andrew confuso.
— Desculpe – disse Kalem que também
empalidecera – Ela perdeu o nosso filho há menos de um ano – ela sentou em
frente ao computador – Eu não posso engravidar, sou estéril e ela tentou por
anos até que conseguiu, mas no sexto mês ela abortou. Ela ainda não se
recuperou – olhou Andrew – Admiro você por ir lá, enfrentando tudo e a todos
para ir perto do seu filho.
Andrew olhou para a porta onde Sindria
tinha saído pensando na dor de perder um filho e isso renovou a sua decisão. Não
importava onde seu filho estava ele ia atrás dele e achá-lo!
~~***~~
Há muitos milhares de quilômetros deli
um Tiol vermelho de raiva lia a mensagem de Andrew.
— ANDREW EU JURO PELA DEUSA QUE MATO
VOCÊ!
Nenhum comentário:
Postar um comentário