Capitulo 12
Laércio empurrou o cachorro que já
havia coberto ele de baba e agora latia sem cessar para Miriam que fazia força
para não rir, mas estava falhando lamentavelmente.
— Jonantan nós vamos ter uma longa
conversa sobre esse cachorro – resmungou o fazendeiro olhando para a cara
amarrada do filho e depois para Fabian que estava abraçado ao bebê conforto.
— Ele quase pulou em cima de mim e do
Gabriel – disse Kauan de cara feia para Jon – Ele podia ter machucado ele!
— Isso é verdade? – ele perguntou para
o filho mais velho que balançou a cabeça – Jon percebeu o quanto isso é
perigoso?
— Ele não sabe disso, ele gosta de
brincar.
— Eu lamento, mas Anúbis está ficando fora
de casa enquanto não souber obedecer.
— E você vai deixar a gata da Gina? – ele
gritou para o pai que franziu as sobrancelhas.
— Olhe o tom de voz comigo mocinho!
— Você nunca é justo comigo pai! – ele
gritou correndo para dentro e subindo as escadas correndo.
Laércio esfregou a testa e olhou para
a convidada com um pedido mudo de desculpas.
— Esta tudo bem – ela disse sorrindo –
Oi meninos.
— Oi tia Miriam – disse Samara que
preferira ficar longe da discussão do pai – Estava com saudades de você.
— Eu também.
Eles entraram e Gina e Kauan foram
abraçar a moça contando coisas ao mesmo tempo sobre sua vidas fazendo rir.
— Desculpe não ter avisado que ia
trazer uma convidada – disse Laércio para Fabian que parecia constrangido com a
presença da moça.
— Sem problemas, eu fiz bastante. Vou arrumar
a mesa, mas acho que levo o Gabriel comigo para a cozinha.
— Aquele cachorro psicótico não fez
nada com ele, não é?
— Não esta tudo bem – olhou para
Regina – Regina, por favor, cate as coisas espalhadas pela sala.
— Fabian gostaria de apresentar Miriam
Siqueira, ela é engenheira florestal e esta me ajudando a reflorestar algumas áreas
da fazenda. Miriam esse é Fabian é o babá que eu falei.
— Muito prazer – disse ela sorrindo e
estendendo a mão – Não sabe o quanto fiquei curiosa ao saber que Laércio
contratou um homem para cuidar das crianças.
— É melhor eu terminar o almoço –
disse olhando para Regina.
A menina nem mesmo resmungou e com a
ajuda dos mais novos foi pegando tudo que fora derrubado e ele foi para a
cozinha com o bebê que agora dormia.
Enquanto arrumava a salada e a carne
em uma travessa Fabian pensava na visitante.
Então ele era o babá apenas. Bem não
era isso mesmo? Ele era um empregado e estava na hora de se por no seu lugar.
Deixou Gabriel em cima do balcão e
arrumou a mesa de jantar com uma toalha colocando os talheres e travessas de
carne assada, salada de batata, salada verde, arroz, feijão e uma jarra de suco
de limão.
— O cheiro ta tão bom – disse Kauan
olhando para a mesa e esfregando o estomago.
— Bem já esta tudo pronto – disse ele
de forma carinhosa para o menino e avisou Laércio de que o almoço estava na
mesa e voltou para a cozinha pegando o bebê conforto.
Ia para casa dar um banho no menino e
tirar sua hora de folga já que Laércio ficaria em casa por duas horas e ele
podia dar de mamar para o menino que já estava resmungando.
— Não almoça conosco? – Regina colocou
a cabeça pela porta da cozinha.
— Obrigado Gina, mas o mocinho aqui
precisa de um banho e mamadeira.
— Tá – ela voltou para a sala onde
havia uma conversa animada.
Ele deixou a musse de uva em cima da
mesa da cozinha e saiu pela porta dos fundos. O dia agora estava nevoento com o
céu cor de chumbo e fazia calor atípico para aquela época de inverno. As rajadas
de vento continuavam a varrer as terras e agora uma nuvem de poeira encobria
tudo.
— Fabian! – Jon correu até ele.
Seus olhos estavam vermelhos e ele
fungava.
— Desculpa pelo que o Anúbis fez. Ele não
é um mau cachorro.
— Eu sei que não Jon – ele sorriu para
o menino – Mas acho que ele pode aprender a obedecer e assim não destruir mais
nada ou machucar alguém.
— Eu só não sei o que fazer com ele; às
vezes ele me obedece, mas na maioria das vezes ele é incontrolável com um trem
sem freios.
— A gente vai dar um jeito certo? –
ele fez um carinho no ombro do outro que era quase da sua altura – Podemos conversar
com um veterinário, que tal? Seu pai deve ter um e talvez ele tenha uma ideia
de como podemos fazer Anúbis nos obedecer, nem que seja um pouco.
— Posso ir com você? Não estou com
vontade de conversar com meu pai.
— Não vai almoçar?
— Como qualquer coisa depois –
respondeu ele dando de ombros.
— Venha – Fabian fez um gesto com a
cabeça para sua casa – Eu tenho uma torta de palmito pra gente, mas Jon se
esconder do seu pai não é a melhor coisa. Devia conversar com ele, falar do veterinário
e da ideia que tivemos. Às vezes nossa cabeça está tão cheia de coisas que
precisamos da ajuda dos outros. Quando deixamos de lado e não conversamos
qualquer assunto que podia ter se solucionado rápido vai crescer até ficar tão
grande que não teremos mais como resolver.
— Bem... – ele coçou a testa de um
modo muito parecido com o pai – Você está me dizendo que não falar e deixar de
lado é pior do que conversar e tentar resolver?
— Isso mesmo.
— Sabe vocês adultos falam de um modo
muito complicado, mas eu gosto das suas complicações Fabian.
O mais velho ria enquanto subiam para
a varanda e entravam na casa.
~~***~~
Márcio preferia estar no Iraque, em um
vulcão, em Marte, qualquer lugar era melhor do que aquele que seu patrão havia
mandado ir. Dessa vez não adiantou os resmungos dele, Laércio mandou ele ir até
a fazenda vizinha e conversar com a nova dona sobre as cercas que não paravam
de serem cortadas e do canavial que ficava do lado da fazenda dela que do dia para
a noite apareceu deitado como se um rolo compressor tivesse passado por ele.
— Eu preferia estar com os doidos que
caçam ETs – resmungava ele enquanto descia da caminhonete – Deve ter sido um
OVNI mesmo e eu caço o ET, mas eu tinha que vir aqui.
— O que você está fazendo aqui?
Márcio olhou para o céu pedindo paciência
para Deus, Buda, Alah e todas as divindades que por ventura existam no universo
e depois olhou para a moça.
Ele não podia deixar de notar o quanto
ela era bonita com seus longos cabelos loiros e os olhos verdes cheios de raiva
olhando para ele.
Vestia um jeans velho e desbotado com
uma camisa xadrez que não escondia o belo par de seios que ela tinha.
— Pode apostar moça que estou aqui
obrigado.
— Então acho que você pode voltar pela
estrada de onde veio!
— Olha aqui meu patrão me mandou aqui
para conversarmos sobre as cercas que vivem cortadas do seu lado e das suas
vacas que invadem os nossos canaviais.
— Que? Eu não tenho culpa se algum
maluco corta a sua cerca! E alem disso as minhas vacas não estão naquele pasto!
É bom você procurar outro motivo idiota para estar aqui!
— A pode apostar, são os ETs que estão
cortando as cercas porque querem deixar uma mensagem na cana de açúcar porque é
mais caro fazer isso na Inglaterra nos campos de trigo.
— Sabe que eu posso te dar o telefone
de um excelente psiquiatra – disse ela de forma pausada e tentando fazer uma
expressão preocupada.
— Sabe onde você pode mandar esse
psiquiatra?
— Olha a sua boca!
— A minha boca é problema meu!
— Não quando ela e você todo está na
minha propriedade falando asneiras!
— Asneiras? Eu venho aqui falar um assunto
serio e você me ataca? Nem mesmo quer ouvir o que eu tenho para dizer!
— Bem até agora eu só ouvi uma
conversa maluca sobre ETs e OVNIs o que me levou a crer que você é algum tipo
de louco que acredita que vê extraterrestres ou acredita que os outros vejam
eles.
Márcio crispou as mãos possesso. Como aquele
mulher podia tirar ele do serio daquela maneira era um mistério para ele.
— Lara filha esse não é jeito de
tratar visita – disse uma senhora gordinha, com cabelos negros e olhos azuis
que brilhavam por trás de óculo e que o olhavam com ar de riso.
— Ele não é visita Maria e já esta
indo embora!
— Meu nome é Márcio senhora – disse
ele dando o seu melhor sorriso galã novela das nove e estendeu a mão para a
senhora.
— Maria do Rosário garoto e se não fosse
casa e mais nova podia pensar que está jogando charme pra mim.
Márcio ficou vermelho como uma
beterraba e Lara dobrou-se de tanto rir.
— Não ligue para mim ou para Lara menino
– ela riu – Venha tomar um café e quem sabe o humor de vocês dois melhora.
Lara olhou feio para ele intimando-o
com os olhos a recusar, mas ela não precisava fazer isso, ele estava mais do
que pronto para ir embora.
— Agradeço dona Maria, mas tenho que
voltar ao trabalho – acenou para ela e ignorou Lara que tinha um bico de um
quilometro e seus olhos verdes brilharam cheios de desaforos para ele que não
podia externar com a amiga ali.
— É um belo homem – disse Maria
olhando para ela depois que Márcio sumiu na estrada.
— Nem vem! Eu prefiro namorar um porco
a chegar perto dessa coisa grossa!
Ela saiu pisando duro e Maria a olhou
por cima dos óculos como se soubesse algo que ela ignorasse.
~~***~~
Laércio notou a ausência do filho mais
velho no almoço, mas não disse nada ficando observando os filhos conversarem
com Miriam, principalmente Samara e Regina que contavam para ela sobre as cores
da moda e perfumes.
Sabia que as filhas sentiam falta de
uma presença feminina. A Aninha já era uma senhora e mais parecia uma avó, não
era como alguém mais jovem como Miriam que podia falar com elas sobre o ator
mais bonito ou o cantor do momento.
Talvez fosse hora de ele arranjar uma
namorada, alguém que gostasse dos seus filhos e pudesse cuidar deles, alguém que
respeitasse ele ser bissexual e suportasse viver na fazenda.
Olhou novamente Miriam rir de algo que
Samara dissera e percebeu que tinha uma candidata perfeita. Mesmo que ele não
pretendesse ter uma companheira mulher achou que não era hora de pensar nele,
mas em seus filhos, mesmo que ele gostava de Miriam e achou que era hora de
pensar com a cabeça de cima.
Com o final do almoça e de se
empanturrarem com a sobremesa, Miriam chamou Mara e Gina para a cozinha para
lavar os pratos e deixar tudo limpo para Fabian, Laércio ficou na sala com seu
notebook olhando os jornais e as bolsas de valores.
Dali ele podia ouvir as risadas de
suas filhas e pensou o quanto estava com saudades disso.
Kauan desenhava ali perto e vivia,
como sempre, no seu mundinho.
Logo as três estavam de volta,
molhadas e descabelas rindo de se acabar.
— Juro que a cozinha está limpa –
disse Miriam rindo e sentando perto dele enquanto as meninas subiam as escadas
dando risada – Mas estou preocupada com Jon, ele não quis almoçar.
— Isso é birra por causa do cachorro –
disse ele colocando o computador de lado – Adolescência não é uma fase fácil,
tudo é muito grande e muito complicado.
— A gente já passou por isso Laércio,
lembra? Se não fizéssemos as coisas naquele momento tinha a impressão de que
nunca mais íamos fazer e os nossos pais sempre chamando a nossa atenção e a
gente cheio de raiva deles porque eles não entendiam que tínhamos que ir
naquela festa ou ter aquela coisa.
— Parece que foi há um milhão de anos atrás
– disse o fazendeiro rindo – Acho que só percebemos o quanto somos idiotas quando
somos adolescentes quando temos filhos adolescentes.
— Bem – ela colocou a mão em sua coxa
e se levantou – Tenho que pegar a estrada. Nosso compromisso para sábado esta
de pé?
— Com certeza vou estar lá e vamos nos
divertir para valer.
— Vou cobrar.
Ele acompanhou ela até a pampa e deu
um leve beijo em seus lábios. Miriam o olhou sorrindo e retribuiu o beijo com
mais intensidade.
— Espero você no sábado.
— Vou estar lá.
Ele entrou e sentou na poltrona com um
suspiro pensando se o que estava fazendo era certo, mas ao lembrar dos risos
das suas filhas percebeu que sim, valia a pena.
ola Dalla!
ResponderExcluirFiquei tenso e meio em dúvida... rsrsr e agora? para quem eu faço uma corrente de fé? Mirian ou Fabian? rsrsrsrs
Cada dia mais excelente a sua narrativa. Felicidades em seus projetos de vida. Abraços.
P.S. Você tem noticias daquele pessoal que morava lá pras bandas de um deserto, perto de uma vila, junto de um grande reinado? O Paul, Matt, Sara... aquele pessoal? Se os encontrar... diga-lhes que morro de saudades deles. Me são muito queridos. Foram eles que me apresentara a Você.
Abraços.
Se descobrir por onde andam, venha correndo me contar!!
ResponderExcluirBjinhos