Gilberto
Capitulo 11
Assim que entrou na caminhoneta de
Wagner Mauro deitou a cabeça no banco de trás fechando os olhos. Mesmo tendo
dormido algumas horas seu corpo pesava e isso era reflexo dos analgésicos que
estava tomando. Antes mesmo que saísse de casa ele estava dormindo.
— Estou preocupada Wagner – Sacha
olhou para o marido – Acha que ele vai ficar bem? Olha como está pálido e como
emagreceu! Como eu não notei isso?
— Ele estava querendo se afastar um
pouco Sacha – Wagner apertou levemente a cocha da esposa – Demos a ele um
tempo, mas acho que isso fez mais mal que bem.
— Às vezes eu acho que devia ter
enfrentado o pai dele e o tirado de la.
— Acha que ia conseguir?
Sacha olhou contrariada para o marido.
— Sabe que não ia Sacha e não me olhe
assim!
— Droga eu me sinto perdida Wagner!
Ele sofre e eu não sei o que fazer!
— O que já está fazendo meu amor,
sendo a mãe dele.
Eles percorreram o resto do caminho em
silêncio. Chegaram à fazenda por volta das dez da manhã com a fazenda em plena
atividade, mas Dalton foi receber eles na porta da casa onde Wagner parou.
— Como ele está? – perguntou o rapaz
preocupada olhando para o outro que dormia.
— O médico disse que ele está bem –
disse Sacha sorrindo para o filho – Mas precisa de repouso. Os analgésicos
estão fazendo dormir bastante – ela abriu a porta e balançou levemente o ombro
do filho – Vamos dorminhoco, hora de acordar.
Mauro piscou meio desorientado, mas
sorriu para a mãe e para Dalton que tinha os olhos preocupados nele.
— Que bom estar em casa – disse ele.
— Você tem que parar de me assustar –
disse Dalton ajudando ele a sair e o abraçando e dando um beijo em seu rosto –
Que bom que está bem.
— Vamos entrar garotos – disse Wagner
– Mauro precisa de descanso.
Eles foram para dentro de casa e Duda
os esperava.
Ele também o abraçou dizendo que ele
precisava era de boa comida. Não teve coragem de dizer a ela que a mera menção
de comida deixava seu estômago revirado. Mas Sacha percebeu algo e pediu para
ela trazer um chá de camomila e erva-cidreira para acalmar o estômago dele e
levasse para o quarto.
Sacha o levou até o quarto que tinha
ficado quando machucara o ombro.
— Tem roupas suas no armário – disse
sua mãe – Que tal um banho?
— Eu adoraria – disse o rapaz sorrindo
cansado para ele.
— Então tome seu banho e eu trago o
chá. Não quer mesmo comer nada?
— Desculpe mãe, mas acho que vomitaria
tudo.
— Isso vai passar – disse ela com
carinho acariciando seus cabelos.
Quando ela saiu, Mauro pegou seu
pijama e entrou no banheiro. Enquanto a água corria por seu corpo ele pensava
no que acontecera a noite, no fato de Valentim tê-lo ajudado e no que teria
acontecido se ele não estivesse lá.
Ele deu um suspiro ao ver que teria
que agradecer ao outro, mas estava cansado demais para continuar pensando
nisso.
Terminou o banho e vestiu o pijama se
jogando na cama, feliz por estar em casa e não no hospital.
Olhou em cima do criado mudo seu livro
e seu notebook novo, mas que tinha medo até mesmo de tocar depois do que vira. Não
tivera ainda tempo para pensar se ia contar para eles sobre o que vira nos
e-mails, mas achou que era algo seu. O que sua mãe podia fazer? Ela ia acabar
indo ver seu pai e ai a porcaria estava feita, não, era melhor ele ficar de
boca calada.
Sacha apareceu com o chá morno e ele o
tomou com cuidado para não vomitar e logo estava caindo de sono. Sua mãe o
cobriu dando um beijo em seu rosto e fechou as cortinas para que o sol não o
incomodasse.
Ela deixou a porta do quarto
entreaberta e desceu para a sala e foi para a cozinha ajudar Duda com o almoço
com o coração mais leve por ter o filho em casa.
~~***~~
Valentim deu rédeas para que o garanhão
que estava montando galopasse com vontade pelo campo. Era um belo espécie
malhado de castanho e branco e bastante fogoso. Era necessário um pulso firme
para controlá-lo e Valentim conseguia fazer isso sem ser cruel, ele amava os
animais.
Olhou para as maquinas que estavam
plantando na parte sul da fazenda. Eram grandes campos de feijão e canola que
iam cobrir toda aquela região que haviam adquirido há cerca de dois meses.
Fora um bom investimento, mesmo que
caro. Terra naquela parte do país sempre era muito cara.
Ele descansou o braço em cima da sela
wester que usava e pensou no que acontecera na noite com Mauro. Ele não era uma
pessoa de ficar remoendo coisas, ele não tinha tempo e nem paciência par isso,
as coisas aconteciam e fim, para que gastar energia com o que já foi? Mas ele
não conseguia esquecer o quanto ficara preocupado com Mauro e o quando aquilo
era culpa dele.
Sabia que dera um tempo ruim ao rapaz
com as suas chantagens, ele tinha que se desculpar com ele, fora um idiota,
sabia disso.
Vendo que as maquinas estavam com a
força toda ele voltou para a sede com o cavalo. Desceu dele e puxou as rédeas
para estrebaria e viu que Kaila estava conversando com um rapaz alto, corpo
magro, mas com músculos definidos. Os cabelos negros eram curtos e ele o olhou
com grandes olhos castanhos.
— Ei Valentim! Esse é o Gilberto, o
novo empregado que lhe falei.
Valentim estivera tão absorto nos
problemas pessoais e da fazenda que esquecera que Kaila ia contratar alguém em
definitivo para ficar cuidando dos cavalos.
— Ola Gilberto – disse ele formal para
o outro que não devia ser muito mais velho que ele.
— Ola senhor Valentim – disse ele
educado, mas havia algo nos olhos dele que deixou o rapaz um pouco incomodado.
— Finalmente você vai parar de me atormentar
com o fato de cuidar dos meus cavalos!
— Eu não reclamo de cuidar dos cavalos
Kaila, mas isso é serviço seu!
— Bem, agora é do Gil também!
Valentim bufou e se virou para o
outro.
— Quando quer começar?
— Agora?
— Ótimo – ele estendeu as rédeas do
cavalo – Mostre tudo direito para ele Kaila.
— Era o que eu estava fazendo
intrometido – disse ela colocando as mãos na cintura.
Valentim balançou a cabeça indo ruma a
casa para partir rumo às contas da fazenda. O fim do mês estava chegando e ele
gostava de ter tudo certo para os pagamentos.
Entrou na casa que estava vazia, mas
logo ele ouviu as vozes de sua mãe e Duda na cozinha. Subiu as escadas para
buscar sua agenda no seu quarto onde as esquecera e quando estava voltando para
o corredor escutou alguns murmúrios e intrigado viu que vinha do quarto de
Mauro.
Preocupado ele afastou a porta
entreaberta para perceber que ele estava gemendo e apertando as cobertas em
meio a um pesadelo.
Ele ficou ali sem saber o que fazer,
mas acabou entrando e tocou no ombro do outro tentando tirá-lo do pesadelo.
Mauro acordou assustado e sentou rápido
na cama olhando para os olhos preocupados de Valentim.
— Tudo bem? – perguntou o outro vendo
Mauro passar a mão pela testa suada.
— Foi só um sonho ruim – disse ele sem
encarar o outro.
— Mauro eu queria me desculpar por
tudo que fiz com você. Sei que desculpas não acertam as coisas, mas...
— Não acertam, mas ajudam. Eu só acho
que não é o momento de conversarmos sobre isso. Estou cheio de raiva e perdido
e vou acabar descontando em você.
— Fale Mauro, eu vou ti ouvir.
— Valentim, por favor – ele balançou a
cabeça.
— Se você guardar com você o veneno
que tem dentro de si vai ser pior.
— Pior? – havia amargura na voz do
outro – O que pode ser pior que se sentir sozinho e sem rumo? Saber que seu pai
ti odeia? Sei que ele nunca foi uma pessoa amorosa, mas era meu pai e os filhos
não querem que os seus pais sejam os vilões das histórias. Eles deviam ser
sempre os heróis.
— É sempre, mas não acontece isso e
temos que aprender a conviver com a ideia de que nossos pais são humanos e como
cada ser humano está sempre naquele limite entre o bem e o mal.
— Eu não sei o que pensar. Acho que
aquilo que me aconteceu há semanas está me pegando agora.
— Mas você não está sozinho Mauro.
Sacha ama você.
— Eu sei, mas eu não conheço ela e nem
um de vocês e acabei por manter distância com medo de que me mandassem embora
também. Acho que o que meu pai me fez acabou por me deixar uma marca – ele colocou
a mão em cima do coração com lagrimas nos olhos que ele tentava impedir a todo
custo de cair, mas estava com o corpo frágil demais e com a mente presa em um
grande turbilhão para resistir e as lagrimas começaram a escorrer por seu
rosto.
A próxima coisa que percebeu era que
estava apertado em um peito amplo, coberto por uma camisa xadrez com cheiro de
mato, couro, um perfuma daquela terra que o inebriava.
— Calma – sussurrava Valentim para ele
enquanto acariciava suas costas com um carinho que Mauro não julgava possível
no taciturno rapaz.
Depois de alguns minutos ele conseguiu
se contar e afastou-se do outro vermelho de vergonha por sua fraqueza.
— Desculpe – murmurou ele com a voz
rouca.
— Não se desculpe por chorar – disse Valentim
– Isso é algo de todos nós. Se sente melhor?
— Um pouco – ele sorriu olhando para
Valentim – Ainda quero lhe dar uns tapas, mas tudo bem.
Valentim riu também tentando dissipar
o momento constrangedor deles.
— Bem eu preciso voltar para as minhas
contas. Precisa de algo?
— Obrigado, mas vou tomar um banho e
descer. Finalmente estou com fome.
— A gente se vê depois então.
Mauro caiu nos travesseiros ainda com
a imagem de seu pai atirando nele.
Pudera sentir a bala penetrando na sua
carne e a dor que vinha disso. Gemeu colocando o travesseiro na cara, mas logo
a imagem de seu pai foi empurrada para o lado e a imagem de um Valentim
atencioso e educado chegou até.
Será que ele era assim ou estava
aprontando algo? Ele ainda podia querer avisar o seu pai?
Cheio de raiva ele gritou para o travesseiro
e resolveu ir para o banho.
~~***~~
Dalton foi até a cidade para comprar
mantimentos e buscar algumas ferramentas novas em uma loja.
Ao chegar ao supermercado que ficava
em uma rua movimentada ele pegou um carrinho e pôs-se a percorrer as
prateleiras. Não era um serviço que ele gostasse, mas normalmente era o único com
tempo para fazer.
Estava tendo uma crise de criatividade
e quando isso acontecia ele simplesmente achava que ia explodir. Como uma forma
de se ocupar saia pelas estradas sem pensar em nada, normalmente ele voltava
bem, mas estava um tanto estressado naquele dia e quando olhava para um pedaço
de madeira, era só o que via um pedaço de madeira.
Frustrado como nunca ele não prestou
atenção e acabou batendo em outro carrinho. Pediu desculpas automaticamente,
mas ao ver quem era ficou cheio de raiva.
— Cidade pequena é uma merda mesmo –
resmungou Dayno com desdém – A gente vive se esbarrando com os piores tipos.
— Infelizmente você tem razão, afinal
é um exemplo disso.
— Olha aqui...
— Porque não vai catar coquinhos por
ai Dayno? – Dalton manobrou o carrinho para continuar andando – Eu não tenho
tanto tempo a perder como você.
— O que diabos você quer dizer com
isso, roceiro?
— E você é quem? O grande astro da
cidade grande?
— Eu não tenho paciência para lidar
com gente como você!
— Muito bem, eu também não! Me faz mal
falar com um idiota sem educação e preconceituoso.
— Desde quando você sabe algo da minha
vida? – ele se aproximou com o rosto quase encostado no de Dayno.
— Eu não sei e não quero saber nada!
Como foi que aquilo aconteceu depois? Por
muito tempo Dalton se perguntava como eles haviam começado o beijo, mas não
havia lembrança. O que ele notou era que gostava dos lábios de Dayno, quentes,
duros, exigentes. Com a outra mão ele puxou Dalton pela cintura para que ele
sentisse a ereção dura de Dayno e isso o assustou. Seu um empurrão em Dayno que
se desequilibrou e caiu por cima de uma grande pilha de latas de ervilha
fazendo essas desmoronar com um estrondo.
— Senhores! – o gerente do mercado
chegou correndo ao ver pasmo tudo no chão – Está tudo bem?
— Eu vou ti matar! – gritou para
Dalton do chão, o rapaz tentara não rir, mas agora não resistia e se contorcia
perto do carrinho.
— Bem – o gerente colocou as mãos na
cintura – Se estão bem, então podem arrumar a bagunça que fizeram.
— O que? – Dalton balançou a cabeça –
Foi ele quem derrubou!
— Você me empurrou em primeiro lugar!
— Os dois! – o gerente disse a palavra
final e deu as costas para eles.
— Por essa você me paga! – disse Dayno
em um rosnado para ele.
— Estou tremendo de medo, Dr. Dayno.
O advogado teve que se segurar e não
torcer o pescoço daquele idiota. Como, em nome de Deus, ele havia achado que
Dalton era um rapaz bonito e doce. Devia ter batido a cabeça para beijá-lo
daquele modo.
Olhou para as lates que haviam voado
para todo lado percebendo que ia gastar parte do dia naquilo.
— Eu devo ter atirado pedra na cruz
mesmo – resmungou ele.
— Ande logo – disse Dalton perto dele
pegando as latas – Quanto mais você resmungar, mais tempo vai demorar.
Com uma veia pulsando na testa de raiva
ele começou a pegar as latas e imaginar modos de matar Dalton.
legal, acho que o valentim e o mauro vão ficar juntos rsrsrsrs,ta da hora
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