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segunda-feira, 4 de março de 2013

Rumo ao Paraiso - Capitulo 11

Capitulo 11


Fabian acordou cedo para fazer o café de Márcio. Ele procurava não pensar na noite anterior, mas era inevitável. Fora tão bom ter a casa cheia de vida e Laércio estava tão lindo vestido daquele modo, parecia àqueles cowboys que ele já vira na TV.

Cada olhar ou pequeno toque o havia feito ofegar.

— Idiota! – contrariado deu um soco na própria cabeça – Vê se ti enxerga! Acha mesmo que um cara rico e lindo como Laércio vai querer algo com você? No máximo uma noite de sexo.

Esse pensamento o fez logo esfriar. Não era um pensamento feliz, mas ele tinha que encarar a verdade, ele era um ex-favelado que já havia feito muita bobagem na vida. Tinha que encarar a realidade e não se perder em um mundo de fantasia.

Desligou a cafeteira e abriu o armário retirando pães ali de dentro e foi até a geladeira pegar manteiga e geléia. Usou a torradeira para fazer torradas e ouviu os passos do irmão descendo as escadas com os cabelos molhados.

— Bom dia – disse ele sorrindo para o irmão – Não devia ter acordado tão cedo pelo meu café, eu dava um jeito, além disso, você começa hoje lá com as crianças.

— Não foi nada Márcio – disse ele sentando-se à mesa e pegando uma torrada – A Aninha volta hoje, não?

— Volta. Olha Fabian, eu adoro esses meninos, mas verdade seja dita, eles são terríveis quando querem, por isso seja enérgico e qualquer coisa ligue para o Laércio.

— Assim você me assusta – disse o irmão rindo, mas interiormente pensando no quanto cada uma das palavras de Márcio eram verdadeiras.

Fabian colocou um Gabriel alimentado e trocado no bebê conforto e saiu para a manhã fria de inverno. O sol surgia em meio a muitas cores, mas o vermelho predominava. Rajadas de ventos levantavam nuvens de poeira deixando tudo em um tom de ouro.

Laércio havia dito que deixaria a porta da cozinha aberta e ele entrou por ela se defrontando com um verdadeiro caos e Laércio no meio dele.

Haviam panelas sujas por todo o lado, pacotes abertos em cima da mesa e balcões. Na pia alguém tentara fazer algo com farinha e cobrira a mobília com uma fina camada branca e Laércio tinha farinha nos cabelos, rosto e camisa xadrez.

— Não ria! – resmungou ele contrariado ao ver Fabian morder os lábios, mas ele não conseguiu se controlar e caiu na risada – Muito engraçado!

— Desculpe – Fabian tomou fôlego – Mas eu não consegui resistir a sua cara branca.

O fazendeiro respirou raivoso e espanou a farinha das roupas e tentou tirar dos cabelos.

— Eu tentei fazer panquecas, mas essa não é a minha praia. Acabaram com o pão e eu nem notei, na verdade eu nem sei o que tem nesses armários, é a Aninha que cuida de tudo.

— Eu vou dar uma olhada e fazer uma lista de compras – ele tentou não voltar a rir – Que tal se lavar enquanto dou um jeito aqui?

Laércio bufou a saiu. Rindo Fabian deixou o bebê conforto em cima da mesa e começou a limpar os balcões e juntar as panelas na pia. Abriu os armários vendo que havia diversos preparos de massas e escolheu uma para fazer waffles já que ele vira uma maquina em cima de uma bancada.

Adicionou leite e ovos à mistura batendo manualmente enquanto a chapa esquentava. Foi fazendo os waffles, colocou a cafeteira para ligar, leite para esquentar e preparar um chocolate quente e lavar as panelas, enquanto guardava tudo fora de ordem. Varreu o chão enquanto os últimos waffles ficavam prontos.

Abriu a geladeira tirando manteiga e mel e colocou na mesa coberta por uma toalha limpa e o bule com o chocolate. O café ficava aquecido na cafeteira.

Balançou a cabeça satisfeito ao olhar tudo e se voltou para ver um Laércio boquiaberto com tudo limpo e arrumado assim como o café prontinho e ainda saindo fumaça.

— Como você conseguiu fazer isso em pouco tempo? Eu estou desde a madrugada lutando com essa bagunça!

— Eu gosto de cozinhar – Fabian riu – Já trabalhei em uma cozinha de restaurante a ali as coisas aconteciam rápido.

— Fabian! – Kauan foi correndo até o outro – Que bom que veio!

— Levantou cedo heim?

— Acho que todos nós sentimos o cheiro – disse Regina na porta ainda de pijama – Se cheira bem quer dizer que não é o pai quem fez.

— Ei! – Laércio virou-se indignado para a filha – Minha comida não fede!

— Ela cheira ao gás que sai do biodigestor – disse Samara passando por eles e sentando-se à mesa – O que estão esperando? Eu to com fome!

Os meninos correram para a mesa deixando um fazendeiro resmungando na porta sobre sua comida não feder.

Fabian riu dele e Laércio revirou os olhos, mas depois piscou para ele indo sentar-se à mesa com a família ruidosa.

— Tome café Fabian – disse Laércio para o rapaz – Obrigado, mas tomei em casa.

— Então senta ai e bebe algo.

Ele balançou a cabeça e pegou uma xícara de chocolate quente sentando em uma das cadeiras da mesa olhando para Gabriel que agora estava em seu colo.

— Agora eu quero saber o que cada um vai fazer – disse Laércio olhando serio para os filhos.

— Eu tenho que cuidar do meu jardim – disse Jon mordendo um waffle cheio de manteiga e mel.

— Eu vou cavalgar – franziu as sobrancelhas para a cara amarrada do pai – A qual é pai! Só fico na fazenda! Vou eu e a Isabela.

— Eu espero que as duas tenham juízo!

— Será que podemos andar por ai? – perguntou Samara toda sorrisos para o pai.

— Você esta confinada em casa até segunda ordem, entendeu Samara?

A menina fez um grande bico cruzando os braços, mas Laércio foi irredutível. A filha tinha que aprender que seus atos tem conseqüências.      

— Eu quero ficar com o Fabian – disse Kauan segurando a mão do rapaz olhando quase temeroso para Laércio.

— Podemos ir ver Quico depois, o que acha? – Fabian perguntou com carinho para o menino que teve o rostinho triste iluminado por um sorriso.

— Bem eu tenho que ir ver a fazenda, mas todo mundo tem que obedecer o Fabian e estou falando sério! Chega de estripulias por ai ou cada um vai acabar parando em algum acampamento de férias.

Fabian notou a cara de horror das crianças e percebeu que esse acampamento devia ser terrível.

Ele beijou cada um dos filhos antes de sair e acenou para Fabian. Rumou para a caminhoneta quatro por quatro preta e dirigiu-se para uma parte da propriedade onde as maquinas cortavam eucaliptos para uma fabrica de papel.

Parou para conversar com o encarregado e viu que estava tudo certo e que ia receber o relatório por e-mail. Satisfeito foi para uma parte da propriedade em que cerca de vinte pessoas trabalhavam no reflorestamento de uma área onde havia cerca de cinco nascentes.

— Bom dia seu Laércio! – disse Marquinhos.

Era um homem baixo e um pouco gordo com uma careca que já se fazia presente. Morava na fazenda e era o encarregado dos trabalhadores que reflorestavam a área para que as nascentes não secassem.

— Olha quem veio fazer uma visita! – ele apontou para uma moça que conversava com alguns trabalhadores e tinha uma muda de embaúba na mão.

Era Miriam Siqueira, engenheira florestal que prestava serviços para Laércio no reflorestamento da propriedade.

Miriam era de estatura mediana, cabelos longos, castanhos e encaracolados que ela mantinha sempre presos em um rabo de cavalo. Seu corpo era curvilíneo, talvez um pouco acima do peso o que não tirava a sua beleza, principalmente dos rosto em forma de coração com olhos de um verde claro que chamava a atenção por onde fosse.

— Oi Miriam! – ele acenou para ela ao descer da caminhoneta – Não esperava ver você aqui.

— Estive prestando serviços para a fazenda Sagarana e resolvi dar uma passada por aqui – ela olhou em volta – Laércio está ficando lindo.

— É.

Olharam para as árvores que já tinham um metro e meio perto das nascentes que ficavam em um rebaixamento do terreno. À direita e esquerda haviam grandes campos selvagens que já pareciam estar virando um cerrado.

— É incrível como as matas se alternam em Altinópolis – disse a moça – Se vermos de um lado temos uma mata de transição muito parecida com a Mata Atlântica, mas do outro um terreno arenoso e uma vegetação típica de cerrado.

— Meu avô costumava chamar a minha atenção para isso e eu adorava ver quantas nuances há nessa fazenda e nas terras da região.

— Vi que os seus eucaliptos estão sendo cortados.

— Já estão no ponto e está um bom período para a venda da madeira, se bem que boa parte desta vai para a minha fabrica de papel.

Enquanto olhavam o trabalho dos empregados os dois começaram uma conversa sobre a bolsa de valores e mercados internacionais.

Laércio gostava de conversar com Miriam. Ela tinha uma boa conversa, era culta e educada.

Subiram uma elevação do terreno onde Laércio mostrou para ela onde pretendia estender a sua plantação de eucaliptos e ela disse que voltaria no outro dia para tirar amostras do solo e ver a viabilidade da plantação.

— Você já esta voltando para Ribeirão? – perguntou ele ao acompanhá-la até a pampa que dirigia.

— Bem acho que vou até Batatais para almoçar e depois de lá volto para casa.

— Ora não seja boba – Laércio deu seu melhor sorriso para ela – Vamos lá em casa almoçar.

— Laércio sem avisar...

— Olha os meus filhos tem um novo babá que é bom cozinheiro.

— UM babá? – ele riu.

— Acabei as minhas possibilidades com as mulheres e duvido que alguma queira vir para cá depois do que meus filhos fizeram.

— Eu gosto de suas crianças e acho que estão exagerando.

— Eu sou pai deles Miriam e os amo, mas sei do que são capazes quando querem. E ai? Almoço?

— Tudo bem, mas se aceitar um convite.

Laércio encostou o quadril na pampa e lançou seu melhor olhar sedutor para ela.

— Você já está me convidando para encontros sórdidos? Que coisa feia Miriam!

— Você e sua mente suja! – disse ela franzindo as sobrancelhas para ele – Eu estou precisando de um par para o casamento de minha irmã e é cheio daquelas frescuras der se ir de longo e terno e os amigos que tenho não são muito dessa praia.

— Ai você pensou em mim?

— Bem eu já vi você de terno e fica um arrasa quarteirão. Que acha?

— Bem eu não tenho nada para fazer no sábado e vou gostar de sair um pouco agora que, espero, achei alguém para cuidar das crianças.

— Agora que vou com você estou animada. Ficar horas em meio a minha família ouvindo o quanto eu era magrinha adolescente é mais do que eu possa suportar.

— Não se preocupe – Laércio riu – Vamos botar para quebrar sábado. Agora ponha essa coisa que você chama de carro para anda e vamos comer!

~~***~~

Fabian estava um pouco preocupado em cuidar de quatro crianças, cinco de incluir Gabriel, mas descobriu que eles não eram a encarnação de diabo como ouvira.

Samara, de tromba seguira ele por todo lado, Kauan estava na mesa da cozinha com um caderno de desenho falando sem parar com o bebê que ria dele. Jon se enfurnou no jardim e ficou lá até que Fabian gritasse para ele usar o filtro solar e Regina voltou da sua cavalgada vermelha e suada, mas risonha. Ela trouxera Isabela para lhe apresentar.

Ele admirou a beleza da moça com seus longos cabelos cacheados caindo pelas costas, à pele cor de chocolate e os olhos castanhos brilhantes. A moça foi logo embora dizendo ajudar o pai.

Fabian tinha terminado de colocar a carne assada em cima do fogão quando gritos na sala chamou a sua atenção e ele correu para lá.

— Se esse projeto de cachorro chegar perto da minha gata de novo eu arranco as bolas dele! – Regina gritava para um vermelho Jon que segurava o pastor alemão que se contorcia em seus braços.

De cima da cristaleira a gata Sekmet bufava para o cão que por fim se libertou das mãos de Jon e pulou no móvel.

O armário balançou perigosamente fazendo o estomago de Fabian embrulhar, mas ele não caiu e a gata pulou dele para cima da estante e de lá para o sofá, tudo isso sendo seguida por um cachorro que deslizava e derrubava tudo que tinha pela frente.

— Regina, Jon! – Fabian disse contrariado para os dois – Mandem eles pararem de destruir a sala!

Todavia ele não devia ter falado nada, Anúbis ao ouvir a sua voz deixou a gata com uma rapidez impressionante e com a velocidade de um caça supersônico correu para Fabian e pulou com tudo no outro o jogando no chão e pisando em cima dele e começando a deixá-lo todo babado.

— Anúbis! – Jon gritou para o cachorro que largou Fabian e correu para o dono que desviou a tempo de seu ataque, mas o bicho simplesmente mudou de rota e voou para a gata que se esfregava em Kauan que tentava proteger a cesta onde Gabriel, que não entendia nada, ria de todo o barulho.

— Mãe de Deus! – Fabian tentou levantar e correr para o filho, mesmo sabendo que não ia dar tempo.

— Anúbis pega! – gritou Jon apontando para Regina que o olhou horrorizada.

Mas deu certo. O cachorro mudou de lado deixando a gata e indo com tudo para a moça que correu para a porta da sala tentando se livrar dele e conseguiu desviar bem a tempo de Laércio abrir a porta e levar o peso do cachorro to em cima dele e ir ao chão.

— JONANTAN!

— Crianças! – resmungava Samara detrás de um exemplar de um mangá.

Um comentário:

  1. Sinto-me egoísta por desejar, a cada semana, um capítulo novo, uma história nova, continuação das historias já lidas... enfim! Sei que andas por demais atarefada com as exigências da vida moderna. Mas o que fazer se vc escreve tão bem e nos cativa tão profundamente com cada personagem? Paul... Sara... Andrew... Tiol... Valentim... Fabiam... Laercio... são tantos...! Peço ao criador que te ilumine sempre e te faça sempre essa pessoa criativa, humana e alegre e saudável. Abraços e sucesso.

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