Capitulo 11
Fabian acordou cedo para fazer o café
de Márcio. Ele procurava não pensar na noite anterior, mas era inevitável. Fora
tão bom ter a casa cheia de vida e Laércio estava tão lindo vestido daquele
modo, parecia àqueles cowboys que ele já vira na TV.
Cada olhar ou pequeno toque o havia
feito ofegar.
— Idiota! – contrariado deu um soco na
própria cabeça – Vê se ti enxerga! Acha mesmo que um cara rico e lindo como
Laércio vai querer algo com você? No máximo uma noite de sexo.
Esse pensamento o fez logo esfriar.
Não era um pensamento feliz, mas ele tinha que encarar a verdade, ele era um
ex-favelado que já havia feito muita bobagem na vida. Tinha que encarar a
realidade e não se perder em um mundo de fantasia.
Desligou a cafeteira e abriu o armário
retirando pães ali de dentro e foi até a geladeira pegar manteiga e geléia.
Usou a torradeira para fazer torradas e ouviu os passos do irmão descendo as
escadas com os cabelos molhados.
— Bom dia – disse ele sorrindo para o
irmão – Não devia ter acordado tão cedo pelo meu café, eu dava um jeito, além
disso, você começa hoje lá com as crianças.
— Não foi nada Márcio – disse ele sentando-se
à mesa e pegando uma torrada – A Aninha volta hoje, não?
— Volta. Olha Fabian, eu adoro esses
meninos, mas verdade seja dita, eles são terríveis quando querem, por isso seja
enérgico e qualquer coisa ligue para o Laércio.
— Assim você me assusta – disse o
irmão rindo, mas interiormente pensando no quanto cada uma das palavras de
Márcio eram verdadeiras.
Fabian colocou um Gabriel alimentado e
trocado no bebê conforto e saiu para a manhã fria de inverno. O sol surgia em
meio a muitas cores, mas o vermelho predominava. Rajadas de ventos levantavam
nuvens de poeira deixando tudo em um tom de ouro.
Laércio havia dito que deixaria a
porta da cozinha aberta e ele entrou por ela se defrontando com um verdadeiro
caos e Laércio no meio dele.
Haviam panelas sujas por todo o lado,
pacotes abertos em cima da mesa e balcões. Na pia alguém tentara fazer algo com
farinha e cobrira a mobília com uma fina camada branca e Laércio tinha farinha
nos cabelos, rosto e camisa xadrez.
— Não ria! – resmungou ele contrariado
ao ver Fabian morder os lábios, mas ele não conseguiu se controlar e caiu na
risada – Muito engraçado!
— Desculpe – Fabian tomou fôlego – Mas
eu não consegui resistir a sua cara branca.
O fazendeiro respirou raivoso e
espanou a farinha das roupas e tentou tirar dos cabelos.
— Eu tentei fazer panquecas, mas essa
não é a minha praia. Acabaram com o pão e eu nem notei, na verdade eu nem sei o
que tem nesses armários, é a Aninha que cuida de tudo.
— Eu vou dar uma olhada e fazer uma
lista de compras – ele tentou não voltar a rir – Que tal se lavar enquanto dou
um jeito aqui?
Laércio bufou a saiu. Rindo Fabian
deixou o bebê conforto em cima da mesa e começou a limpar os balcões e juntar
as panelas na pia. Abriu os armários vendo que havia diversos preparos de
massas e escolheu uma para fazer waffles já que ele vira uma maquina em cima de
uma bancada.
Adicionou leite e ovos à mistura
batendo manualmente enquanto a chapa esquentava. Foi fazendo os waffles,
colocou a cafeteira para ligar, leite para esquentar e preparar um chocolate
quente e lavar as panelas, enquanto guardava tudo fora de ordem. Varreu o chão
enquanto os últimos waffles ficavam prontos.
Abriu a geladeira tirando manteiga e
mel e colocou na mesa coberta por uma toalha limpa e o bule com o chocolate. O
café ficava aquecido na cafeteira.
Balançou a cabeça satisfeito ao olhar
tudo e se voltou para ver um Laércio boquiaberto com tudo limpo e arrumado
assim como o café prontinho e ainda saindo fumaça.
— Como você conseguiu fazer isso em
pouco tempo? Eu estou desde a madrugada lutando com essa bagunça!
— Eu gosto de cozinhar – Fabian riu –
Já trabalhei em uma cozinha de restaurante a ali as coisas aconteciam rápido.
— Fabian! – Kauan foi correndo até o
outro – Que bom que veio!
— Levantou cedo heim?
— Acho que todos nós sentimos o cheiro
– disse Regina na porta ainda de pijama – Se cheira bem quer dizer que não é o
pai quem fez.
— Ei! – Laércio virou-se indignado
para a filha – Minha comida não fede!
— Ela cheira ao gás que sai do
biodigestor – disse Samara passando por eles e sentando-se à mesa – O que estão
esperando? Eu to com fome!
Os meninos correram para a mesa
deixando um fazendeiro resmungando na porta sobre sua comida não feder.
Fabian riu dele e Laércio revirou os
olhos, mas depois piscou para ele indo sentar-se à mesa com a família ruidosa.
— Tome café Fabian – disse Laércio
para o rapaz – Obrigado, mas tomei em casa.
— Então senta ai e bebe algo.
Ele balançou a cabeça e pegou uma
xícara de chocolate quente sentando em uma das cadeiras da mesa olhando para
Gabriel que agora estava em seu colo.
— Agora eu quero saber o que cada um
vai fazer – disse Laércio olhando serio para os filhos.
— Eu tenho que cuidar do meu jardim –
disse Jon mordendo um waffle cheio de manteiga e mel.
— Eu vou cavalgar – franziu as
sobrancelhas para a cara amarrada do pai – A qual é pai! Só fico na fazenda!
Vou eu e a Isabela.
— Eu espero que as duas tenham juízo!
— Será que podemos andar por ai? –
perguntou Samara toda sorrisos para o pai.
— Você esta confinada em casa até
segunda ordem, entendeu Samara?
A menina fez um grande bico cruzando
os braços, mas Laércio foi irredutível. A filha tinha que aprender que seus
atos tem conseqüências.
— Eu quero ficar com o Fabian – disse Kauan
segurando a mão do rapaz olhando quase temeroso para Laércio.
— Podemos ir ver Quico depois, o que
acha? – Fabian perguntou com carinho para o menino que teve o rostinho triste
iluminado por um sorriso.
— Bem eu tenho que ir ver a fazenda,
mas todo mundo tem que obedecer o Fabian e estou falando sério! Chega de
estripulias por ai ou cada um vai acabar parando em algum acampamento de
férias.
Fabian notou a cara de horror das
crianças e percebeu que esse acampamento devia ser terrível.
Ele beijou cada um dos filhos antes de
sair e acenou para Fabian. Rumou para a caminhoneta quatro por quatro preta e
dirigiu-se para uma parte da propriedade onde as maquinas cortavam eucaliptos
para uma fabrica de papel.
Parou para conversar com o encarregado
e viu que estava tudo certo e que ia receber o relatório por e-mail. Satisfeito
foi para uma parte da propriedade em que cerca de vinte pessoas trabalhavam no
reflorestamento de uma área onde havia cerca de cinco nascentes.
— Bom dia seu Laércio! – disse Marquinhos.
Era um homem baixo e um pouco gordo
com uma careca que já se fazia presente. Morava na fazenda e era o encarregado
dos trabalhadores que reflorestavam a área para que as nascentes não secassem.
— Olha quem veio fazer uma visita! –
ele apontou para uma moça que conversava com alguns trabalhadores e tinha uma
muda de embaúba na mão.
Era Miriam Siqueira, engenheira
florestal que prestava serviços para Laércio no reflorestamento da propriedade.
Miriam era de estatura mediana,
cabelos longos, castanhos e encaracolados que ela mantinha sempre presos em um
rabo de cavalo. Seu corpo era curvilíneo, talvez um pouco acima do peso o que
não tirava a sua beleza, principalmente dos rosto em forma de coração com olhos
de um verde claro que chamava a atenção por onde fosse.
— Oi Miriam! – ele acenou para ela ao
descer da caminhoneta – Não esperava ver você aqui.
— Estive prestando serviços para a
fazenda Sagarana e resolvi dar uma passada por aqui – ela olhou em volta –
Laércio está ficando lindo.
— É.
Olharam para as árvores que já tinham
um metro e meio perto das nascentes que ficavam em um rebaixamento do terreno. À
direita e esquerda haviam grandes campos selvagens que já pareciam estar
virando um cerrado.
— É incrível como as matas se alternam
em Altinópolis – disse a moça – Se vermos de um lado temos uma mata de
transição muito parecida com a Mata Atlântica, mas do outro um terreno arenoso
e uma vegetação típica de cerrado.
— Meu avô costumava chamar a minha
atenção para isso e eu adorava ver quantas nuances há nessa fazenda e nas
terras da região.
— Vi que os seus eucaliptos estão
sendo cortados.
— Já estão no ponto e está um bom
período para a venda da madeira, se bem que boa parte desta vai para a minha
fabrica de papel.
Enquanto olhavam o trabalho dos
empregados os dois começaram uma conversa sobre a bolsa de valores e mercados
internacionais.
Laércio gostava de conversar com
Miriam. Ela tinha uma boa conversa, era culta e educada.
Subiram uma elevação do terreno onde
Laércio mostrou para ela onde pretendia estender a sua plantação de eucaliptos
e ela disse que voltaria no outro dia para tirar amostras do solo e ver a
viabilidade da plantação.
— Você já esta voltando para Ribeirão?
– perguntou ele ao acompanhá-la até a pampa que dirigia.
— Bem acho que vou até Batatais para
almoçar e depois de lá volto para casa.
— Ora não seja boba – Laércio deu seu
melhor sorriso para ela – Vamos lá em casa almoçar.
— Laércio sem avisar...
— Olha os meus filhos tem um novo babá
que é bom cozinheiro.
— UM babá? – ele riu.
— Acabei as minhas possibilidades com
as mulheres e duvido que alguma queira vir para cá depois do que meus filhos
fizeram.
— Eu gosto de suas crianças e acho que
estão exagerando.
— Eu sou pai deles Miriam e os amo,
mas sei do que são capazes quando querem. E ai? Almoço?
— Tudo bem, mas se aceitar um convite.
Laércio encostou o quadril na pampa e
lançou seu melhor olhar sedutor para ela.
— Você já está me convidando para
encontros sórdidos? Que coisa feia Miriam!
— Você e sua mente suja! – disse ela
franzindo as sobrancelhas para ele – Eu estou precisando de um par para o
casamento de minha irmã e é cheio daquelas frescuras der se ir de longo e terno
e os amigos que tenho não são muito dessa praia.
— Ai você pensou em mim?
— Bem eu já vi você de terno e fica um
arrasa quarteirão. Que acha?
— Bem eu não tenho nada para fazer no sábado
e vou gostar de sair um pouco agora que, espero, achei alguém para cuidar das
crianças.
— Agora que vou com você estou
animada. Ficar horas em meio a minha família ouvindo o quanto eu era magrinha
adolescente é mais do que eu possa suportar.
— Não se preocupe – Laércio riu –
Vamos botar para quebrar sábado. Agora ponha essa coisa que você chama de carro
para anda e vamos comer!
~~***~~
Fabian estava um pouco preocupado em
cuidar de quatro crianças, cinco de incluir Gabriel, mas descobriu que eles não
eram a encarnação de diabo como ouvira.
Samara, de tromba seguira ele por todo
lado, Kauan estava na mesa da cozinha com um caderno de desenho falando sem
parar com o bebê que ria dele. Jon se enfurnou no jardim e ficou lá até que
Fabian gritasse para ele usar o filtro solar e Regina voltou da sua cavalgada
vermelha e suada, mas risonha. Ela trouxera Isabela para lhe apresentar.
Ele admirou a beleza da moça com seus
longos cabelos cacheados caindo pelas costas, à pele cor de chocolate e os
olhos castanhos brilhantes. A moça foi logo embora dizendo ajudar o pai.
Fabian tinha terminado de colocar a
carne assada em cima do fogão quando gritos na sala chamou a sua atenção e ele
correu para lá.
— Se esse projeto de cachorro chegar
perto da minha gata de novo eu arranco as bolas dele! – Regina gritava para um
vermelho Jon que segurava o pastor alemão que se contorcia em seus braços.
De cima da cristaleira a gata Sekmet
bufava para o cão que por fim se libertou das mãos de Jon e pulou no móvel.
O armário balançou perigosamente
fazendo o estomago de Fabian embrulhar, mas ele não caiu e a gata pulou dele
para cima da estante e de lá para o sofá, tudo isso sendo seguida por um
cachorro que deslizava e derrubava tudo que tinha pela frente.
— Regina, Jon! – Fabian disse
contrariado para os dois – Mandem eles pararem de destruir a sala!
Todavia ele não devia ter falado nada,
Anúbis ao ouvir a sua voz deixou a gata com uma rapidez impressionante e com a
velocidade de um caça supersônico correu para Fabian e pulou com tudo no outro
o jogando no chão e pisando em cima dele e começando a deixá-lo todo babado.
— Anúbis! – Jon gritou para o cachorro
que largou Fabian e correu para o dono que desviou a tempo de seu ataque, mas o
bicho simplesmente mudou de rota e voou para a gata que se esfregava em Kauan
que tentava proteger a cesta onde Gabriel, que não entendia nada, ria de todo o
barulho.
— Mãe de Deus! – Fabian tentou
levantar e correr para o filho, mesmo sabendo que não ia dar tempo.
— Anúbis pega! – gritou Jon apontando
para Regina que o olhou horrorizada.
Mas deu certo. O cachorro mudou de
lado deixando a gata e indo com tudo para a moça que correu para a porta da
sala tentando se livrar dele e conseguiu desviar bem a tempo de Laércio abrir a
porta e levar o peso do cachorro to em cima dele e ir ao chão.
— JONANTAN!
— Crianças! – resmungava Samara detrás
de um exemplar de um mangá.
Sinto-me egoísta por desejar, a cada semana, um capítulo novo, uma história nova, continuação das historias já lidas... enfim! Sei que andas por demais atarefada com as exigências da vida moderna. Mas o que fazer se vc escreve tão bem e nos cativa tão profundamente com cada personagem? Paul... Sara... Andrew... Tiol... Valentim... Fabiam... Laercio... são tantos...! Peço ao criador que te ilumine sempre e te faça sempre essa pessoa criativa, humana e alegre e saudável. Abraços e sucesso.
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