Capitulo 33 – A Hora Final
A hora havia chegado! Em menos de
vinte e quatro horas o golpe final seria desferido e a guerra teria o seu fim.
As pessoas a minha volta estavam
eufóricas com isso, mas eu tinha um pressentimento ruim e isso não me deixava
ficar quieto. Andei de um lado para outro na base de operações até que Tiol me
segurou.
— Andrew o que você tem?
— Eu não sei – esfreguei o meu rosto –
Estou com medo de todas as coisas estarem dando certo. Nada que vem fácil é
bom.
— Calma – ele sorriu para mim – O que
estamos fazendo há semanas não foi fácil. Sacrificamos-nos muito para ter tudo
pronto, pessoas morreram para que tudo estivesse no patamar que está. Nada
disse foi sequer perto de fácil.
— Desculpa – o abracei sentindo que a
minha barriga começava a ficar grande demais para isso – Acho que apenas estou
cansado.
Tiol olhou-me preocupado e tocou em
meu rosto procurando algum indicio de febre, mas eu não estava exatamente
doente. Meu corpo não havia sido feito para uma gestação e eu estava me
afogando em hormônios que não conseguia lidar.
— Porque não se deita enquanto
terminamos aqui? Em algumas horas vamos abandonar Belém rumo à base de
Tranalow.
— Acha que Yaci vai conseguir chegar
aqui?
— Bem, as naves negras estão tendo um
tempo difícil com as naves da federação. Valdi acabou de mandar uma mensagem
que estão escondidos na lua Arilien.
— A lua do seu tio – olhei para o
príncipe – Eu nunca entendi porque ele simplesmente se manteve em cima do muro
todo esse tempo.
— Valdi me disse que ele não está mais
lá – havia desprezo na voz dele – Ele fugiu para algum lugar do universo quando
as coisas começaram a ficar complicadas.
— Covarde desgraçado – xinguei.
— O que importa é que a lua está bem e
pode nos ajudar nesse momento. Valdi já montou um plano de ajuda a Aurifen
junto com o novo governador de Arilien que Yaci deu posse.
— Quem é o novo governador?
— Gwidion.
Sai dos braços dele e olhei sem
acreditar que Yaci tinha feito a sandice de colocar um pirata governando um
mundo inteiro.
— Seu irmão está maluco? Ficou demente
no espaço? Colocou um pirata no comando de um mundo?
— Andrew Valdi é o novo príncipe e foi
ele quem deu a ideia de Gwidion ser o novo governador.
— Você pode explicar o quanto quiser –
resmunguei – Eu nunca vou entender, mas eu prefiro não ter nem um contato com
eles ou vou esquecer que são casados com Valdi!
— Você é teimoso quando quer heim?
— Eu?... – pensei em retrucar bem sem educação
quando uma alta sirene se fez ouvir em toda a cidade – o que é isso?
— Estamos sendo invadidos! – gritou alguém
na sala que observava as câmeras de segurança – São soldados do governo!
— Porcaria! – esbravejou Tiol – Como nos
acharam? – ele gritou para todos na sala – Temos que evacuar a cidade!
A sirene lá fora começou a soar de
forma diferente como sinal claro de evacuação para os túneis laterais, feitos
pela população para casos como aquele.
Eu peguei uma mochila que sempre
carregava e que por ordem de Tiol todos na cidade carregavam de um lado para o
outro. Ali tinha uma arma, rações de emergência, lanternas, remédios e uma
garrafa de água. Um mapa eletrônico da rede de túneis fora codificado por mim
nos comunicadores que todos usavam.
Tiol me arrastou para fora onde as
pessoas corriam junto com suas famílias seguindo um plano previamente traçado
nas simulações que havíamos feito para caso aquilo ocorresse, mas eu nunca
acreditei que seriamos descobertos.
Meu coração batia forte no peito,
depois de ter sido capturado uma vez eu não queria nunca mais ter aquela experiência
e acredito que se Adamas nos pegasse agora era para matar.
Corremos com a multidão para as saídas
de emergência quando as porta principais foram abertas com uma grande explosão
que fez todo o abrigo estremecer. As pessoas à nossa volta gritavam em pânico
enquanto os guardas atacavam.
Tiol retirou a arma que carregava na
cintura.
— Andrew vá para a saída. Eu preciso
ajudar eles.
— Não! Eu não vou ti deixar para trás!
– gritei para ele em meio ao desespero e ao som de disparos.
— Andrew – Tiol segurou os meus ombros
com força – Eu também não quero isso, mas não podemos expor o nosso filho desse
modo e eu não posso correr enquanto as pessoas estão sendo mortas.
— Jure pra mim que vai voltar – gritei
– Jure pra mim! – eu comecei a chorar e tremer.
— Eu juro – ele me deu um pequeno
beijo nos lábios e disse no meu ouvido – Amo você e vou amar por toda a
eternidade.
Antes que eu pudesse responder ele me
empurrou para o meio de fluxo grande de pessoas que fugiam e fui praticamente
arrastado por elas para dentro do túnel mal iluminado.
“É bom que você viva seu desgraçado! Ou
eu vou até o inferno atrás de você!” corri junto com as pessoas tremulo e
tropeçando e logo havia tantas ramificações que as pessoas começaram a se
perderem umas das outras e quando vi estava correndo sozinho em uma caverna que
ia ficando sem iluminação.
— Merda – xinguei abrindo a mochila e
retirando a lanterna.
Olhei para a arma ali dentro e
estremeci de nojo. Eu não ia matar mais ninguém! Jurei isso quando matei os
guardas depois de terem atirado em Erant, mas eu devia ter bom senso; não
estava só e uma vida dependia de mim para me entregar aqueles escrúpulos.
Segurei a arma e girei o cano ouvindo
um clique, sinal que havia mudado ela para o modo de atordoar. Era o que eu
podia fazer.
Colocando a mochila nas costas peguei
o comunicador no bolso. Era um aparelho não mais de dez por cinco centímetros com
tela sensível ao toque e que podia projetar um mapa tridimensional no ar. Liguei-o
percebendo que estava em um túnel antigo de manutenção que ia desembocar em uma
porta para a superfície.
Desligando voltei a caminhar.
~~***~~
Frey estava monitorando as redes de
informação dentro do planeta. Ele conseguia fazer isso já que Andrew havia lhe
dado as senhas do computador central da Sede de Informações do Governo, não sem
antes o xingar.
Diabos! O menino não sabia perdoar e
não adiantava ele ter pedido desculpas falando que não sabia que carregavam
escravos até o contrato ser firmado.
Depois daquilo era mais fácil ser fora
da lei, pelo menos eles sabiam o que estavam roubando.
Não fora uma vida fácil e ele às vezes
se perguntava o que estava fazendo e se era aquilo que queria deixar para os
seus filhos, mas desde que Valdi chegara tudo mudou.
Agora a nave estava a serviço de
Aurifen e Gwidion era governador de uma lua, um mundo lindo cheio de vales com
florestas e campos floridos. Era um lugar de agricultores, mas com cidades de
porte médio onde o mercado já florescia. A lua tinha potencial para ser um
entreposto comercial sem que isso interferisse em Aurifen.
Aquele sistema ficava a meio caminho
do exterior da galáxia e do seu centro. Sabia que havia planetas interessados
em comerciar ali, mas sem a perspectiva de uma base de apoio.
Ao ver aquela lua essa fora à primeira
ideia de Gwidion aprovada por Yaci e que havia rendido um beijo apaixonado de
Valdi.
Estava perdido em suas contemplações
para o futuro que quase deixou algo passar, mas se deteve e percebeu a seriedade
do que estava vendo.
— Yaci – gritou para o príncipe que
estava ali perto conversando com Abrahan – A cidade de Belém está sendo
invadida!
— O que?! Como eles descobriam? – ele correu
para um dos computadores da nave tentando falar com Tranalow.
— Nós captamos a ordem agora pouco –
disse o comandante de revolução assim que apareceu na tela – Não temos mais
tempo a perder meu príncipe.
— Iniciem a operação!
— Meu imperador! – Tranalow bateu continência
colocando a mão direita em cima do coração – Por Aurifen!
O ataque final teve inicio.
~~***~~
Porque tinha que ser tão longe? E porque
aquela barriga tinha que pesar tanto?
Meu filho me deu um chute dolorido.
— Desculpa! Eu não estou reclamando de
você, mas acho que eu ando precisando fazer exercícios e pretendo fazer assim
que você nascer.
Era bom ter alguém para conversar
naquele local, principalmente agora que havia me dado o luxo de começar a ficar
claustrofóbico. Parecia que não havia ar suficiente naquele lugar para mim e o
fato de estar ficando ofegante não ajudava em nada.
O túnel onde estava era baixo, mas eu também
era baixinho o que ajudava.
O chão sob o meu pé estremeceu e todo
o túnel ficou tomado por uma fina nuvem de pó. Segurei-me na parede assustado e
recomecei a andar com mais ímpeto com medo de que eles tivessem a boa ideia de
jogar uma bomba de fusão ali. Sabia que se fizessem isso eu não tinha chance
nem uma de escapar.
Sai para uma galeria mais ampla e
cimentada com pequenas luzes. Devia fazer parte dos abrigos anti-atômicos e eu
tinha que sair para um túnel lateral, mas eu estava com medo demais para
raciocinar e comecei a correr por ali mesmo sem nem consultar o mapa que tinha.
Bem a gente acaba sempre fazendo
bobagens na vida, mas saibam que em caso de guerra isso pode custar a sua vida.
Todos os túneis sempre desembocam em grandes
galerias e aquele não era diferente. Corri sem pensar por uma delas e quando me
dei conta algo bateu em minhas costas com toda a força e eu cai esparramado no
chão tentando de algum modo proteger a minha barriga.
— Não dizem que roedores sempre caem
em armadilhas? – disse uma voz zombeteira acima de mim.
Atordoado percebi que estava diante de
um soldado que me olhava com desprezo.
Maldição!
Rolei para longe de sua bota que foi
em direção ao meu filho e puxei a arma da minha calça e atirei sem nem mesmo
fazer pontaria. O soldado caiu como um monte de roupa suja.
— Desgraçado! – chutei ele nas
costelas e voltei a correr, mas parecia que o soldadinho de chumbo tinha amigos
e eles apareceram dos outros túneis apontando a arma para mim.
Com raiva de mim e deles joguei a
arma.
— Nos encontramos de novo Andrew! –
aquela voz...
O imperador apareceu detrás dos seus
homens com um sorriso no rosto. Vestido todo de preto ele estava pálido e com
olheiras profundas. Seus olhos vermelhos não sorriam, pareciam cheios de uma
raiva descomunal.
— Espero que você esteja péssimo imperador
– disse com azedume.
— Você é sempre tão engraçado Andrew
Drake.
Fiquei rígido ao ouvir meu nome
completo. Já fazia tanto tempo que eu não o usava que eu o tinha esquecido e
era melhor assim. A família Drake eram uns filhos da mãe que deviam ser jogados
no canto mais fedorento da galáxia pelo que fizeram a mim por causa do
dinheiro.
— Andei procurando informações de você
e veja que descobri o quanto bom você é com computadores.
— Então você usou a cabeça? Que milagre!
— Você invadiu a minha central de
informações e passou informações erradas – ele andou em volta de mim – Ainda me
deixou um brinde, um vírus muito bem escondido. Mas encontrei alguns técnicos que
deram um jeito nele sem que você percebesse meu gênio da informática.
Tive vontade de me chutar. Eu estava
tão certo que eles eram uns idiotas com relação à tecnologia que havia deixado
brechas e isso tinha sido a nossa ruína.
— O que vai fazer agora imperador? Me matar?
Anda logo com isso!
Eu queria ser corajoso, mas estava
tremendo e com a mão na minha barriga. Meu filho não tinha culpa de toda aquela
merda e agora ele ia morrer sem nem mesmo ter tido a chance de vir ao mundo.
— Não tão fácil garoto – ele riu fazendo
um som oco – Estou esperando...
Eu ia retrucar quando algo foi jogado
dentro da sala e eu ofeguei ao ver Tiol. Estava desacordado e com um filete de
sangue saindo de sua testa.
— Tiol! – corri para ele temendo o
pior, mas ele estava vivo.
— O idiota estava ajudando um punhado
de vermes a fugir – Adamas ria – Ele não tem a capacidade nem para salvar a
própria vida.
— Ele é muito melhor que você seu
projeto de imperador! – gritei para ele – Ele tem mais coragem correndo em suas
veias do que em alguém como você Adamas.
O imperador me olhou rígido ao ver a
minha omissão do eu titulo.
— Não me falto com o respeito humano!
— Você não tem respeito Adamas!
Respeito se conquista e o único que merece o título de imperador é Yaci! Ele é
o imperador de Aurifen!
Qual é mesmo o ditado antigo da Terra?
Não se cutuca onça com vara curta? Bem, assim que terminei o meu discurso
inflamado recebi um soco do imperador que me jogou ao chão e me fez ver tudo
embaçado à minha volta.
Uma sombra passou por mim e ouvi
gritos, quando pude ver percebi que Tiol tinha acordado e visto o que Adamas
havia feito comigo. O príncipe, tomado de raiva, havia pulado no pai e o
socado, mas os guardas o seguravam agora enquanto o imperador limpava o sangue
do rosto rindo.
— Ola filho!
— Se tocar nele de novo eu ti mato! –
quatro soldados o seguravam.
— Sempre tão idiota. Não sei por que
não matei vocês ao nascerem. Teriam me poupado muitos problemas.
— Você está louco pai! Olha o que você
fez com o nosso planeta!
— Eu apenas o limpei da escória.
— Ele está destruído! Tem pessoas
mortas por todo o lado, as cidades estão em ruínas. Aurifen não existe mais e
tudo isso é culpa do senhor. Um déspota louco.
— Acho que está na hora de voltar a
minha sanidade – disse Adamas pegando a arma – Vou me livrar de cada um de você
e ter o poder total nas mãos.
Tiol levantou o queixo ante o cano da
arma.
— Tiol! – eu gritei ao ouvir um tiro.
Incrível, toda vez que eu lia achava que não poderia ficar melhor, mas me enganei, e estou enlouquecendo de curiosidade, e muito temerosa para saber o que você planejou para o destino de Tiol e Andrew, e dos outros, está de parabéns...;)>
ResponderExcluirai meu Deus, realmente to tendo um ataque cardiaco, ta demais a historia, a curiosidade ta me matando, rsrsrsrsrs
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