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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O Escravo - Capitulo 34 - Sobre a Dor e a Vida

Desculpas pelo atraso, mas estava terminando a primeira parte do meu tcc. Agora as férias estão ai, mas O Escravo está em sua reta final! Esse é o penultimo capitulo, espero que curtam.
Beijos




Capitulo 34 – Sobre a Dor e a Vida


O tiro ecoou pelo ambiente cavernoso fazendo todos encolherem as armas, inclusive Adamas que afastou a sua de Tiol olhando com desprezo para as pessoas que haviam chegado.

— Boa noite pai – disse Yaci com o rosto contorcido de raiva – Vejo que não mudou nada.

— Ora, ora, se não é o meu amado filho herdeiro – o imperador ria debochado.

Em torno de Yaci havia vários homens bem armados que logo desarmavam os soldados e ajudavam Tiol a se libertar. Ele correu até mim.

— Você está bem? – ele segurou o meu rosto que já devia estar com uma feia contusão.

— Estou – mas eu não estava.

Meu corpo doía e eu me sentia mais cansado como nunca na minha vida. O que mais queria nesse momento era que tudo isso acabasse de vez e pudéssemos recomeçar, mas pelo olhar de Yaci eu vi que finalmente estávamos diante da luta final que ia decidir o destino de Aurifen.

— Acabo meu pai – disse Yaci aproximando-se de do Imperador – Estamos atacando o que resta das forças suas lá em cima. Você perdeu.

— E você acha que é um Imperador? Acha que isso o legitima para o trono? Ou vai tomar o poder como eu fiz.

Yaci deu um sorriso frio para o pai e jogou para ele uma espada.

— Eu vou merecer o império aurifense.  

— O filhote acha que vence de mim? – Adamas riu girando a espada como um homem experiente – Então venha e me mostre o que sabe.

As espadas bateram uma na outra e o som doía nos meus ouvidos. Soldados e revolucionários observavam atentos sabendo que fosse lá o que fosse o resultado o império estava esfacelado e a revolução vencera. Era hora de depor as armas e recomeçar.

Yaci girou o corpo e bateu na espada do pai, mas Adamas parou o golpe do filho facilmente.

— Você sempre foi impaciente Yaci – o imperador ria.

A expressão do filho era fria enquanto o embati acontecia.

Tiol estava sentado no chão comigo apertando-me nos braços. Ele tremia, eu sentia isso. Ali era seu irmão e seu pai em uma luta que todos sabíamos no que ia dar: em morte. Um dos dois não ia sair vivo dali. Por mais que eu queria ver o imperador morto e enterrado ver seu próprio filho fazer isso era terrível e me deixava com náuseas.

Eu não entendia muito de esgrima, mas Adamas e Yaci tinham o estilo muito parecido, mas o príncipe era mais rápido pulando dos golpes do pai e atacando com mais rapidez que foi ficando cada vez mais visível com o passar dos minutos.

As espadas eram grandes e pesadas, com certeza não eram para embates tão longos.

O rosto de Adamas estava vincado pela raiva e pelo cansaço, Yaci estava cada vez mais frio e batendo na espada do pai com determinação.

O imperador fez um gesto mais longo e por um segundo Yaci foi pego desprevenido e a espada do imperador afundou no seu braço fazendo sangue escorrer por sua blusa e a todos gritarmos de raiva e medo, mas esse foi o momento que Adamas baixou a guarda, rindo triunfante.

Yaci segurou a arma com a sua mão esquerda e fez um arco com uma rapidez que nem nós vimos até que a cabeça do imperador caiu no chão rolando e seu corpo tombava em meio a espasmos e sangue.

Foi uma cena que nunca mais saiu da minha mente, às vezes eu tenho pesadelos com ela.

Yaci caiu de joelhos perto do corpo do pai e começou a chorar e a gritar colocando para fora uma dor que era quase física, que dilacerava sua alma.

Ele havia morto o seu pai, aquele que lhe dera a vida, que o criara e, mesmo ele sendo o monstro que se tornara, ele era, fora, seu pai.

Tiol chorava com o rosto escondido nos meus cabelos e deixei que uma lagrima escorresse por meu rosto pela dor daqueles príncipes e por cada aurifense.


~~***~~~


O que aconteceu depois é um borrão em minha memória. Estava cansado e me sentindo muito mau e acho que desmaiei patético, eu sei, mas tentem estarem grávidos em enfrentar uma guerra.

A verdade é que eu acordei em uma cama que ficava em uma enfermaria sem janelas, mas com um ambiente bem iluminado.

Tinham varias camas com pessoas correndo de um lado para outro junto com médicos e enfermeiros humanos e aurifenses.

Meu filho chutou meu ventre e dei um suspiro de alivio.

“Você é forte!” pensei enquanto acariciava a minha barriga não querendo olhar para a movimentação de pessoas indo e vindo e dos gemidos de dor das pessoas.

— Andrew? – alguém estava perto de mim e quando levantei o olhar eu vi que era Abrahan.

— Abrahan! – gemi olhando para o seu rosto cansado e com um doce sorriso.

— Meu filho – ele me apertou nos braços e isso abriu os diques e eu chorei sem medo nos braços do homem que eu considerava o meu pai.

— Calma, calma – ele murmurava para mim enquanto acariciava as minhas costas.

— Eu senti saudades – ri para ele ao nos separamos enquanto o doce aurifense enxugava as minhas lágrimas.

— Eu também meu querido – disse ele tocando no meu ventre – E o meu neto?

— Acordado e chutando como um atacante – como para provar isso o bebê deu um chute bem no local onde a mão de Abrahan estava e os olhos dele se iluminaram.

— É maravilhoso sentir o meu neto Andrew e saber que você e ele estão a salvo.

— E os outros?

— Tentando saber o que fazer – ele sentou na cama segurando a minha mão – Não sobrou muito do nosso mundo e se não fosse Aurilien não teríamos nem o que comer. Estamos na Oghman transportando feridos para a lua onde serão tratados. Conseguimos colocar mil pessoas aqui dentro e essa é a nossa décima viagem.

— Estou na bendita nave pirata? – eu explodi de raiva – Eu prefiro ficar em Aurifen!

— Andrew todos nós erramos, mas os piratas salvaram o nosso mundo e estão salvando vidas aqui. Porque não pode perdoar e seguir em frente? Não fez isso com Tiol?

Com raiva de mim mesmo fiz um beicinho de desgosto e Abrahan deu um leve sorriso acariciando os meus cabelos.

— Você é uma pessoa incrível filho e sei que vai fazer isso.

Fiquei vermelho com o elogio dele, mas meu coração palpitava cada vez que ele usava a palavra filho comigo.

— O dorminhoco esta acordado – Erim apareceu sorrindo para mim e colocando a mão no ombro de Abrahan – Tudo bem meu amor?

— Sim – o antigo consorte real tocou na mão no seu ombro com um carinho doce – Ele já esta implicando por estar aqui então esta bem.

— Eu não sou implicante – eu tentei me defender, mas Erim levantou uma sobrancelha – Talvez um pouquinho.

Eles riram e eu me senti melhor.

— Estamos indo para a lua? – perguntei.

— Sim – Erim acariciava os cabelos de Abrahan como se não pudesse se manter longe dele – Estamos levando as pessoas para os hospitais de lá. a maioria são da capital. Algumas cidades de médio porte conseguiram sobreviver e estamos contando coma infraestrutura delas para atendermos os feridos. Alem disso deixaremos você e Itieu lá para que...

— Que? – eu nem deixei ele terminar – Eu não vou ficar na lua!

— Olha Andrew Tiol...

— Não importa o que esse príncipe disse! Eu vou voltar para Aurifen nem que seja a pé!

— Eu disse que ele não ia aceitar – Valdi apareceu com Itieu no colo me olhando com os seus grandes olhos vermelhos.

— Itieu – eu sorri para ele.

O menino escapou do colo de Valdi e correu para o meu onde empoleirou e começou a chorar e tremer.

— Calma – eu o apertei nos meus braços grato por sentir o seu cheiro novamente – Estamos juntos de novo.

O menino me olhou por entre as lagrimas.

— Não vai embora mais não é?

— Não.

— Eu quero o papai – ele gemeu e eu percebi que ele queria Tiol, aquele saco de merda.

— Eu e Itieu voltamos para o planeta – eu sentenciei.

Eles não me convenceram e logo estava voltando para Aurifen com Itieu do meu lado.

Na lua eu havia pedido para Valdi comprar um ursinho de pelúcia, na verdade era um animal parecido com um gato, mas bastava. Eu dera para o menino para que ele não se sentisse tão sozinho e agora ele apertava o bichinho sentado do meu lado, já que a minha barriga impedia-o de sentar no meu colo.

Eu fazia um carinho em seus cabelos e ele parecia muito melhor, menos pálido e mais sorridente.    

Paremos em uma área limpa que servia de espaço porto, já que o que existia fora destruído.

Sendo o chão de terra, as naves não pousavam realmente; ficavam flutuando uns centímetros acima do solo, pois afundariam ao tocá-lo.

Outras naves que sobreviveram também iam e vinham lavando feridos e trazendo suprimentos.

Trailers foram colocados em toda a volta da área servindo de central de comando e veículos circulavam por todo o lado.

Descemos apenas nós. Os outros estavam envolvidos em levar os feridos para a lua.

Segurando a mão de Itieu andamos em meio à movimentação sendo saldados por todos que trabalhavam ali.

— Andrew! – alguém me abraçou e eu vi que era Aaran.

— Aaran! Você está bem?

— Graças a Deusa – ele disse se afastando – Eu e Bairon sobrevivemos a estamos ajudando no que podemos.

— Estou feliz que estejam bem, mas eu preciso falar com Tiol, sabe onde eu o acho?

— Ali – ele apontou para um trailer maior que os outros muito movimentado – É a central de comando.

— Obrigado Aaran.

Fui em direção indicada e entrei no veiculo onde a movimentação era intensa. Ali dentro havia monitores de computador transmitindo informações, enquanto Yaci e Tiol estavam sentados em torno de uma pequena mesa redonda onde conversavam com outro senhor. Todos estavam com o semblante cansado e olheiras escuras sob os olhos vermelhos.

— Pai! – Itieu deu um grito de alegria e correu para Tiol que o segurou pasmo me olhando contrariado – Olha! – o menino mostrou o gato de pelúcia – Papa deu ele pra mim. Eu amo ele!

Itieu conseguia ser fofo mesmo com aquele idiota como pai.

— Ola garoto – Tiol sorriu dando um beijo no rosto dele – Não era para vocês estarem com tio Valdi e o vovô?

— Eu quero ficar com você! – o menino se agarrou a ele com os olhos marejados – Deixa pai!

— Claro. Você não quer sentar ali um pouco enquanto falo com seu papa? – ele apontou para um pequeno sofá ali perto onde o menino empoleirou e ficou conversando com o brinquedo.

— Ola Andrew – Yaci sorriu para mim e se voltou para Tiol – Eu disse que você devia ter conversado com ele!

— O que você está fazendo aqui? – Tiol estava bufando, mas eu o ignorei e sentei perto do novo imperador.

— Como eu ajudo Yaci? Sabe que sou bom nas comunicações e acho que a Central de Informações ainda esta em pé, não?

— Sim Andrew. Vamos levar a base para o prédio assim que terminarmos aqui, mas acho que você pode ir se inteirando da situação. Vou mandar Aaran e Bairon com você, temos muitos descontentes por ai.

— Andrew!!

— O que é Tiol?

— Eu não mandei você ficar na lua?

— Eu não obedeço você. Não é meu dono.

— Pelo amor da Deusa, você está grávido e não pode ficar andando de um lado para o outro.

— Ora vai pastar! Eu e o meu filho sobrevivemos a uma guerra, a explosões e seqüestros e um monte de merda para agora você ficar chilicando quando eu só vou mexer com computadores.

— Você sabe que passou por muito estresse e isso não é bom para o meu filho!

— Até onde eu sei você não fez esse filho sozinho, assim o filho é nosso seu príncipe idiota!

— Humano irresponsável!

— Agora chega os dois! – Yaci disse em tom contrariado – Por mais que eu esteja achando engraçadinho os dois eu não tenho tempo para isso. Tiol Andrew vai para a Central coordenar as comunicações e você fica comigo e não quero ouvir mais nada.

Eu fiz um bico contrariado e Tiol bufava, mas sentou-se à mesa percebendo que era hora de trabalharmos pelo mundo de Aurifen e não discutirmos.

Assim eu e Itieu partimos para a Central de Informações, único prédio inteiro na capital.

Trabalhamos dia e noite levantando os custos da reconstrução, perdas de vidas, economia e toda uma serie de coisas com cifras imensas.

Estávamos todos cansados a ponto da exaustão e depois de duas semanas eu estava me sentindo mal demais para continuar com aquilo. Estava cansado o tempo todo, irritado e cheio de desejos idiotas que Tiol satisfazia depois de alguns gritos meus.

Sei que fui um porre naquela época, mas foram dias difíceis e dolorosos.

A cada dia o numero de mortos subia e eu via Yaci definhando, não só pelo estado que seu mundo ficara, mas porque Ian não acordava. Ele continuava em como apesar dos esforços dos médicos.

O castelo e a vila não haviam sido atingidos e por isso fixamos residência ali.

Sabia que logo eu entraria em trabalho de parto e a única coisa que podia fazer naqueles dias era me sentar em uma cadeira perto da cama de Ian e conversar com ele.

Abrahan arrastava Yaci de vez em quando para ver o garoto, mas eram apena por alguns segundos e ele logo ia embora com lagrimas nos olhos cansados.

— Seu marido é um idiota – eu bufei para ele – Eu sei que você quer ele por perto, mas ele consegue ser mais cabeça dura que Tiol.

— Ola – Valdi colocou a cabeça dentro do quarto com um bebê nos braços e Ana logo atrás.

Eu pouco via Ana ou a sua família que estavam ajudando um país ao norte onde Tiesis agora era governador por ordem de Yaci.

— Ana! – eu sorri para ela e a moça me abraçou de lado por causa da minha barriga e me beijou no rosto.

— Como você está?

— Cansado e gigante – resmunguei voltando a sentar e olhando Valdi que tinha um brilho nos olhos ao olhar para Volgan, um bebê humano, filho adotivo de Frey e Gwidion, mas agora de Valdi também.

Eu via-o e os outros dois pelos corredores. As crianças davam um ar alegre a toda a tristeza que vivíamos e Itieu agora era inseparável amigo dos dois pestinhas.

Sabia que Valdi logo ia se mudar para Aurilien, a lua, onde Gwidion era governador e se preparava para instalar um entreposto comercial que ia render muito a lua e ao mundo de Aurifen. Mas eu ia fazer o possível para que Itieu estivesse sempre em contato com seus amigos e eu também não ia deixar de visitar Valdi.

Por fim eu percebi que ter raiva dos ex-piratas era idiotice e comecei a pelo menos ter uma conversa civilizada com eles.

— Ian – Valdi beijou a testa do outro e Volgan resmungou em seu sono.

Era um belo bebê humano com cabelos muito negros e pele branca.

— Como vocês estão? – perguntei para Ana que acariciava os meus cabelos em uma caricia que estava me dando sono.

— Estamos indo bem. Tiesis esta conseguindo bastante ajuda para reerguer o país e Karl o está ajudando. Finalmente Marc esta em uma escola.

— Fico feliz por você Ana.

— Acho que vamos ficar bem Andrew, vai ver.

Eu esperava que sim, mas não tinha tanta certeza com relação a Ian e Yaci. A cada dia as chances de sobrevivência de Ian eram mais e mais pequenas e isso acontecia também com o fraco ser que ele carregava no ventre.

O dia estava acabando quando voltei para o meu quarto. Minhas costas doíam a ponto de começar a mancar e eu queria me deitar.

Encontrei Tiol e Itieu brincando no nosso quarto.

Como um bobo eu sorri para os homens da minha vida.

— Papa! – Itieu pulou e abraçou a minha barriga – Oi irmãozinho!

— O que você estão fazendo?

— Jogando futebol virtual – Tiol me mostrou a placa de vídeo game 3D no meio do quarto – Logo vamos lá fora jogar com uma bola de verdade. O que acha Itieu?

— Eeeba pai! – os dois rolaram pelo chão rindo e eu só pude sentar na cama com um leve gemido que não escapou de Tiol.

— Que tal procurar Owen e Brit para brincarem?

— Tá! – ele estalou um beijo em Tiol e depois em mim e correu para a porta.

— Queria ter essa energia – gemi mexendo as costas.

Tiol colocou a mão na base da minha coluna e começou uma massagem relaxante.

— Sabia que você está lindo? – ele disse sorrindo para mim.

— Mentiroso – retruquei de olhos fechados e ficando relaxado nos braços dele.

— Não, é verdade. Sempre foi o homem mais bonito que já vi Andrew.

Ele parou e eu abri os meus olhos só para ver ele ajoelhado na minha frente com uma cara determinada.

— Tiol?

— Andrew antes de qualquer coisa eu quero que me perdoe por tudo que fiz, mas saiba que eu amei você desde o primeiro momento que o vi e mesmo de uma forma torta eu tentei mostrar isso – ele segurou a minha mão me deixando cada vez mais pasmo e tremulo – Andrew eu o amo alem de minha própria vida – ele levantou os olhos para mim – Gostaria de ser o meu companheiro?



   

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