Capitulo 7
Desenhara Valentim? Será que no
lugar de bater o ombro ele bateu a cabeça e ficou doido?
Sentou em um banco do jardim
olhando para um canteiro de margaridas e olhou para o céu escuro onde nuvens
pesadas passeavam e deu um longo suspiro preso entre a raiva de si mesmo e o
cansaço. Fora uma semana complicada onde a sua vida mudara 180º é claro que ele
estava confuso e perdido.
Decidiu que não ia mais esquentar
sua cabeça com tudo isso, no lugar ele devia estar pensando no homem
maravilhoso que queria ficar com ele.
Voltou para dentro da casa onde
encontrou sua mãe e Lucia conversando. Sacha o puxou para sentar com elas e
logo Kaila veio pululando de fora e se jogou no sofá perto de Mauro.
Ela contou sobre a criação de
cavalos paint horse que fora vista por muitos como uma loucura, ninguém
conhecia aquele cavalo, mas com o passar do tempo foram percebendo que era uma
raça de animal bonita, resistente e inteligente. Usada para a lida e
competições no estado, agora era muito procurado e ela estava finalmente conseguindo
devolver o dinheiro emprestado do pai e ter algum lucro.
Sua mãe avisou que era hora dele
retirar as fachas do braço e de tomar seus remédios, inclusive o de dor que ele
tentava esconder que estava sentindo.
Sacha o levou para o quarto e com
cuidado foi retirando as fachas o que se mostrou um alivio de inicio, mas ao
olhar para o ombro preferia ter mantido elas. Ele estava coberto de um por do
sol entre roxo e amarelo, tanto ombro quanto braço.
Ela lhe deu os remédios e o
mandou descansar. Louco por um banho ele foi para o banheiro sentindo o ombro
latejar. Depois de alguns minutos as drogas começaram a fazer efeito e ele
estava sonolento. Enxugou e foi dormir apenas com a boxer como fazia em casa
tendo sonhos com o belo Heitor.
~~***~~
Dalton ainda estava pensando no
desenho de Mauro quando foi entregar a escultura para o novo escritório de
advocacia da cidade. Já era tarde de sábado, mas eles iam abrir para arrumar
tudo para inaugurar segundo.
A cidade de Mendes estava
precisando de algo assim. O único advogado da cidade tinha se aposentado e
agora os sobrinhos vindos da cidade de São Paulo iam tocar um escritório ali.
Dalton parou na Avenida Principal
perto de um prédio de dois andares onde na fachada estava a placa recém
colocada: Advocacia D’Angelo e os nomes Dayno e Dante D’Angelo, advogados.
Ele foi até a porta de vidro e
entrou na recepção que já estava pronta. Era um cômodo grande com poltronas
confortáveis, uma TV de tela plana na parede, o balcão onde ia ficar a
recepção, o chão era de madeira e brilhava e haviam grandes janelas que davam
para a rua. À direita havia um corredor onde ele ouvia vozes.
— Bem Dayno você é tão jeitoso.
— Precisa ser sarcástico!
— Eu falei que a gente devia ter
contratar um montador, mas você tem que sempre dar uma de sabido.
— Não jogue a culpa toda em cima
de mim! Você também disse que sabia montar essa coisa.
Dalton bateu palmas e chamou, mas
os dois estavam tão concentrados na sua discussão que o rapaz não viu opção ao
não ser entrar pelo corredor. Haviam duas portas à direita e duas à esquerda e
a segunda à esquerda estava aberta.
— Ola – disse ele aparecendo na
porta e dando com uma montanha de papelão e compensado de madeira por todo o
lado e dois homens no meio de tudo isso.
Eram quase da sua altura, talvez
pouco mais altos. Os cabelos castanhos eram curtos em um rosto anguloso, mas
elegante, com um maxilar forte e lábios um pouco mais grossos que o normal. Os
olhos eram de um lindo negro brilhante e com pestanas longas e grossas. Eram
gêmeos idênticos e só diferiam pela roupa, um vestia jeans azul com camisa pólo
branca e o outro uma camiseta negra com calça jeans também preta.
— Desculpe eu vim entregar a estatueta.
Tentei bater, mas ninguém atendeu.
— Oi – o de blusa pólo sorriu
para ele mostrando dentes muito brancos e perfeitos – Deve ser o presente do
tio.
— Uma estátua? – o rapaz de negro
fez cara de desdém – Cara ele podia ter nos dado algo útil e não um peso de
papel.
Dalton ficou vermelho. Suas peças
não eram “pesos de papel”. Eram obras de arte onde ele colocava parte de sua
alma, de sua força vital. Aquele homem não tinha o direito de desmerecer o seu
trabalho!
— Ora Dayno ele quis ser gentil –
ele pegou a estatueta das mãos de Dalton e desembrulhou do papel pardo expondo
a Justiça feita toda em madeira com seu vestido esvoaçante, os olhos vendados.
Em uma de suas mãos ela segurava uma balança e na outra uma espada.
— Linda! – os olhos do rapaz
brilharam ao acariciar a estatueta – Ainda não tinha visto uma dessas em
madeira e nem tão bela.
— Obrigado – agradeceu Dalton
sorrindo para o outro.
— Foi você quem fez?! – o rapaz
levantou a sobrancelha – Cara você é um artista e tanto, ela é linda.
— Que bom que pelo menos você
gostou – olhou para Dayno que devolveu seu olhar com deboche.
— Não é nada pessoal menino, eu
sou só mais pratico.
— Meu nome é Dalton, não menino –
ele tinha a mandíbula apertada.
— Dalton não ligue para o meu
irmão – disse o outro estendendo a mão – Meu nome é Dante e o idiota ali é
Dayno.
— É um prazer conhecer você Dante
– ele apertou a mão do advogado que sorria de forma doce para ele.
— Acredito que não tenha prazer
nem um em me conhecer – Dayno deu um sorriso de escárnio para ele.
— Isso é você quem diz – Dalton
olhou sério para ele – Respeito senhor Dayno, é uma coisa que se conquista e
devo dizer que não respeito nem um pingo o senhor. Até mais Dante.
Ele ia sair da sala, mas Dayno
levantou do meio do papelão e madeira e segurou seu braço.
— Quem você pensa que é para
falar assim comigo, seu caipira!
— Alem de grosso você é surdo?
Acabei de dizer para você quem sou, Dalton Lucas Batista, artista plástico. E
você? Quem é? – ele puxou o braço com força – Pra mim, ninguém!
Dayno ficou paralisado pela
audácia do rapaz que saiu da sala sem nem mesmo olhar para trás.
— Você mereceu isso Dayno – disse
Dante colocando a estatueta em uma mesa com tampo de vidro em um canto –
Desmerecer as pessoas parece ser o seu esporte preferido.
— Merda! – ele bufou voltando
para perto do armário que tentava montar – Vim parar no meio de um monte de
caipiras imbecis.
— Vai continuar até quando com
essa atitude de criança? Porra Dayno acha mesmo que dava para ficarmos em São
Paulo depois de tudo? Eu nem mesmo conseguia sair mais na rua depois de ter
sido seqüestrado e você baleado. Isso nunca mais vai sair da minha cabeça – ele
olhava para a janela que dava para a avenida vendo Dalton ir para uma
caminhonete do outro lado – Viemos para recomeçar e eu não ia ti deixar para
trás.
— Desculpa – Dayno deitou em meio
a um monte de plástico bolha – Mas eu estou acostumado com as baladas da cidade
grande e aqui? O que tem aqui?
— Londrina fica aqui perto –
Dante sentou perto dele tentando espantar a depressão – Agora pare de reclamar
e vamos terminar isso.
~~***~~
No jantar Dalton ainda estava
cheio de raiva dos novos advogados. Ele compartilhou isso com a família já que
eles procuravam sempre ajudar uns aos outros.
— Minha vontade é ir lá dar uns
tapas nele! – Sacha sempre queria proteger seus filhos do mundo lá fora.
— Por ser honesto? – Dona Lucia
comia calmamente – Ele é prático, disse isso.
— Mãe! – Wagner olhou feio para a
senhora.
— Acho que mexeu um pouco com meu
orgulho de artista vó – disse Dalton sorrindo para ela, conhecia a mulher de
muitos carnavais.
— Não é certo desmerecer os
outros – disse Godofredo olhando contrariado para o prato – Sacha filha eu
tenho mesmo que só comer mato?
— É uma dieta balanceada Godo, o
médico recomendou.
— Se não quer comer então vá até
a cozinha e se empanturre de carne – disse Lucia azeda – Assim você morre logo
do coração.
— A senhora não vê a hora da
minha morte, não é mãe?
— Meu calendário ainda está no
meu quarto marcando os dias.
— Pois eu ainda vou viver muito
sua velha decrépita!
Mauro estava assustado com a
troca de palavras na mesa, mas parecia que ninguém estava levando a sério,
continuavam a comer normalmente e Godofredo tinha um sorriso e Lucia parecia
feliz em discutir.
— Vocês dois estão assustando o
menino – resmungou Wagner que nunca fora de participar das brincadeiras da mãe
e do irmão – Mauro isso é o jeito deles, não se preocupe.
— É isso mesmo menino – disse
Godo rindo – Eu e a velha nos amamos!
— Em que vida?
— Vai mãe, ce me ama.
— Do mesmo modo que gosto das
cobras.
— Meu Deus – gemeu Wagner, mas
todo mundo ria na mesa.
Mauro sorriu daquela família tão
peculiar. Era tão estranho o modo de eles tratarem uns aos outros. Sacha não
era mãe legitima de ninguém, mas isso parecia não contar. Ela era a mãe para os
meninos, cuidando de cada um com zelo e muito amor, coisa que Mauro pouco
conhecia.
Valentim era o mais quieto, mas
sempre tinha um conselho para cada um.
Um raio iluminou a sala e um
forte trovão estremeceu as vidraças.
— Odeio temporais – resmungou Bruno
chegando perto de irmão mais velho.
— Você é mesmo o bebê da casa,
heim Bruno? – Kaila brincou com ele.
— Só porque eu sou honesto o
bastante para dizer do que tenho medo? Você nem pode ver uma de suas éguas
parindo que se borra toda!
— Fecha a sua matraca!
— Kaila, Bruno! – agora Wagner
parecia contrariado – Assim como é muito feio gozar uma pessoa por expor os
seus medos, também o é ao expor os medos de outra pessoa.
Mauro pensou no pai. Em uma
discussão dessas ele teria ficado do lado de um dos dois e incentivado o outro
a discutir até chegar às vias de fato, mas Wagner conseguia em poucas palavras
terminar a discussão e fazer os filhos verem o ponto certo.
A chuva já caia com intensidade
cheia de raios e trovões quando Mauro foi para o seu quarto com o braço e agora
as costas doendo. Não disse nada para não preocupar a mãe e passou uma pomada
analgésica na lesão para relaxar os músculos e sentou em uma poltrona para ler
o seu livro.
Valentim também fora para a
biblioteca ler e dar uma olhada na organização dos livros, quando Dalton
apareceu com uma tela.
— Gostaria que visse algo mano –
ele mostrou o desenho que Mauro fez.
— Lindo Dalton! Pensei que não
fosse a sua praia pintar, mas esse desenho diz o contrario.
Ele olhou as linhas fortes do
desenho se surpreendendo que o irmão o tenha desenhado, mas o que mais gostou
foi à tempestade que rugia nas bordas, parecia que ele a enfrentava ou que o
desenho saísse das brumas.
Em uma obra de arte cada um tem
uma forma de interpretá-la.
— Na verdade não fui eu, foi o
Mauro.
— Mauro?! – o que aquele guri
queria desenhando ele?
— Eu também fiquei pasmo quando
vi o quando ele desenha bem, mas o menino ficou bem constrangido e não quis
falar mais do assunto. Acho que ele pode dar um bom artista com um curso ou
algo assim.
— Deveria falar com ele Dalton –
resmungou Valentim se voltando para a prateleira.
— Ainda acha Mauro uma má pessoa?
— Porque pergunta isso?
— Pelo modo como você olha para
ele, meio com raiva, meio perdido.
— Olha eu posso ter tido uma
ideia errada dele, mas isso não significa que tenho que gostar do menino. Ele está
aqui e tenho que suportá-lo, fim.
— E se fosse eu?
— O que?
— É, e se fosse eu a sair por ai
e precisar de ajudo? Você não ia querer que me ajudassem, me acolhessem?
— Que conversa idiota Dalton! Aquele
menino não tem nada a ver com você!
— Acho que tem mais do que
imagina Valentim! Pelo que vejo aqui ele é um artista e artistas vêem o mundo
de outra forma, nós olhamos a beleza das coisas mesmo onde ela parece não
existir e por vezes esses nossos óculos cor de rosa nos fazem sofrer bastante;
alem disso Mauro é gay, como eu.
— Como você sabe disso, ele ti
contou?
— Não, eu apenas sei. Então por
mim irmão, não trate o Mauro desse modo. Eu sei um pouco o quando deve ser difícil
para ele, mas eu tenho uma família que me ama, e ele? Foi jogado para fora de
casa e está pedido, mesmo que esteja agora conosco ele está sempre se
protegendo. Da para sentir o quanto ele se afasta quando chegamos perto
emocionalmente.
— Dalton eu prometo pensar em
suas palavras, mas é o que posso lhe dar agora.
— Sei que vai fazer o que é certo
Valentim – ele lhe entregou a tela – É uma bela obra, guarde ela.
Valentim olhava para o quadro
quando Dalton saiu.
~~***~~
O dia amanheceu completamente sem
nuvens, com um céu azul anil brilhante. Depois do temporal o ar cheirava a mato
e terra molhada, mas também parecia vir com ele um cheiro de limpeza que
impregnava tudo. O sol apareceu aquecendo tudo e prometendo um dia quente.
Mauro desceu para tomar café bem
melhor e esperava poder voltar a trabalhar logo, mas queria voltar para o seu
quarto em cima da estrebaria, se sentia melhor ali.
Ainda tinha medo ao olhar para
Valentim, medo de que ele cumprisse as ameaças e ligasse para o seu pai.
Na mesa estava apenas sua mãe que
tomava uma xícara de café olhando pela janela para o céu azul.
— Bom dia mãe – disse ele
sorrindo.
— Bom dia meu amor. Já viu o dia?
Já faz tempo que não temos um assim.
— Eu olhei quando levantei, está
mesmo lindo – ele se serviu de café – Acho que estou ficando preguiçoso, são
nove horas já!
— Não seja bobo, é domingo dia
para descansar.
Nesse momento alguém bateu na
porta e entrou sem que ninguém abrisse, era Heitor todo sorrisos.
— Bom dia dona Sacha, Mauro.
— Vai ser um bom dia quando
esquecer desse dona menino – resmungou a sua mãe – Venha tomar café.
— Obrigado – ele deu um grande
sorriso para Mauro – Mas na verdade eu vim ver se o Mauro quer dar um passeio. O
dia está lindo e pensei em levar ele para conhecer uns pontos turísticos e
depois para almoçar.
— Está um dia lindo para um
passeio – olhou para o filho – Gostaria? Seu ombro esta melhor?
— Meu ombro está ótimo mãe e eu
ia adorar dar uma passeada – passar o dia com Heitor? Claro!
Logo ele estava indo para a
caminhonete de Heitor que estava ali perto.
— Sonhei com você – disse Heitor
assim que entraram.
— Bons sonhos?
— Vamos dizer que foram ótimos –
disse ele levantando as sobrancelhas para o rapaz que riu.
— Também tive os meus sonhos.
Rindo Heitor ligou a caminhonete
e eles foram pelas estradas.
— Conheço um bom lugar para
passarmos o dia – disse ele – É uma cachoeira em uma fazenda, um lugar
particular onde o dono é meu amigo e me deixa entrar.
— Por mim, qualquer lugar com você.
Heitor colocou a mão em sua cocha
dando um leve aperto.
Eles atravessaram fazendas e plantações
chegando até uma mata densa. Atravessaram uma ponte de madeira e por fim
depararam com uma cerca de arame e uma porteira trancada. Heitor a destrancou
com uma chave que tinha e continuaram viagem pela estrada que cortava a mata
onde vez por outra uma grande araucária levantava-se mais alta que todas as
outras árvores.
Desceram uma pequena ladeira e
deram nas margens de um riacho com leito de pedras. Ele fazia uma curva e
deixava um trecho sombreado com uma fina areia, era perto de uma clareira na
mata onde cresciam pequenos arbustos e flores do campo dando um colorido em
tudo.
— Que lugar lindo! – Mauro desceu
do carro, mas antes que olhasse tudo Heitor o segurou e o beijou com intensidade
de um homem sedento.
Ele apertava Mauro de encontro ao
corpo e o rapaz sentia a vidência do desejo do outro de encontra ao seu ventre,
o duro pênis do companheiro.
Eles só interromperam o beijo
quando ficaram sem ar.
— Nossa! – Mauro olhou para o
outro – Que beijo.
— Eu precisava de você Mauro –
ele tocou no rosto do outro – Eu só penso em você desde ontem.
— Comigo é a mesma coisa. Eu queria
ti sentir novamente, estou ficando louco de tesão!
Mauro sorriu olhando em volta.
— Estamos mesmo sós aqui?
— Quase ninguém vem aqui – Heitor
foi para a caçamba da caminhonete de onde tirou uma cesta, uma bolsa térmica e
um cobertor – Vim preparado.
Juntos levaram as coisas para
debaixo da árvore perto do rio e colocaram a cesta e a bolsa em cima de uma
pedra larga e o cobertor em cima da areia fofa. Os dois deitaram no cobertor e
recomeçaram os beijos agora seguidas de caricias.
Mauro não pode deixar de gemer
quando Heitor o colocando por cima apertou suas nádegas com força.
— Ummm... Heitor, por favor, me
faça seu.
Os olhos do outro se encheram da
mais pura luxuria.
AI-MEU-DEUS! quero mais.
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