Capitulo V
Assim que saiu da sala de
recuperação apoiado em Wagner ele percebeu que todo mundo estava na pequena
sala de espera do hospital: Kaila, Dalton, Bruno, Heitor, Giovanni e… Valentim
com uma cara que ele não saberia decifrar nem mesmo quando estava sóbrio. O
remédio para dor fora bastante forte para ele estar bem grogue.
— Mauro! – Kaila pulou e ia
abraçar ele quando Sacha a segurou.
— Calma Kaila – ela deu um leve
sorriso para a menina – Abraços de urso agora vão doer um bocado.
— Ai desculpa! – ela deu um beijo
no rosto dele – Como você está?
— Me pergunta quando passar o
efeito do remédio – disse ele sorrindo para ela.
— Cara você nos deu um baita
susto – Bruno seguiu o conselho da mãe e apenas tocou no ombro bom dele.
— Desculpe.
— Isso acontece – Dalton também
chegou perto dele com seu sorriso que sempre parecia iluminar tudo à sua volta
– Trabalhar na fazenda é meio perigoso, mas tropeçar em um buraco de tatu
Mauro?
Mauro começou a rir mesmo com a
dor e logo estavam todos gargalhando da sua situação menos Valentim que olhava
tudo muito sério. Heitor observou isso pelo canto do olho e começou a juntar
algumas peças. Ia ter uma conversa com aquele rapaz, a se ia ter!
— Mauro... – Giovanni chegou
perto dele esfiapando u chapéu de palha na sua mão.
— Seu Giovanni desculpe por ser
um tonto – disse Mauro imediatamente – Eu desobedeci o senhor achando que podia
carregar a tora. Me desculpe mesmo. Serei um exemplo de obediência de agora em
diante.
Giovanni ficou vermelho e depois
olhou com um sorriso agradecido para o menino.
— Todos nós fazemos loucuras às
vezes filho – Heitor captou o fugaz olhar do pai para Valentim.
— É melhor irmos – disse Wagner –
Parece que esse aqui vai ficar de molho umas semanas, por isso vai ter tempo de
pensar na burrada Giovanni.
— Ele estava fazendo um bom
trabalho Wagner, saiba disso.
— Olha – Wagner olhou para o
menino – Giovanni não costuma elogiar seus trabalhadores, sinta-se
honrado.
O menino lançou um olhar
agradecido para ele e se foi apoiado no ombro de Wagner com o resto da família,
mas Heitor segurou o ombro de Valentim que era o ultimo.
— Pensei que você era uma boa
pessoa Valentim!
— Qual o seu problema Heitor?
— Usou sua posição de dono da
fazenda para obrigar meu pai a ordenar que Mauro carregasse ou mourões. Isso
não é coisa que uma pessoa faça!
— Anda vendo chifre na cabeça de
cavalo? – respondeu o outro com sarcasmo e se virando para ir embora.
— Não. Estou vendo um idiota que
se divertiu torturando uma criança.
Valentim não respondeu a ofensa
mesmo porque ele sabia que era verdade. Durante a semana ele observou o menino
vendo que ele não reclamava, era pontual e carinhoso com a mãe. Ele queria
tanto acreditar que Mauro era o vilão da história que não percebia que ele
estava fazendo esse papel e apenas notara isso quando chegou a noticia de que o
menino se acidentara.
Droga! Onde ele estava com a
cabeça para obrigar Giovanni a fazer isso? Agora parecia que seu grande amigo
estava cheio de raiva dele.
Como ele ia consertar isso? Pedir
desculpas? Para aquele moleque que olhava para ele como de fosse algum tipo de
larva?
Sabia que merecia isso, mas fazer
era outros quinhentos. Toda a sua vida ele ficou posando de irmão mais velho,
aquele que cuida, que não erra e não pedia desculpas.
Ele deu um longo suspirou ao ver
a família indo rumo ao estacionamento. Ele se metera na enrascada ele tinha que
sair dela.
~~***~~
Mauro estava meio dormindo, mas
mesmo assim teve seu primeiro vislumbre da cidade de Mendes. Era pequena, com
ruas largas e arborizadas. Não havia prédios e as casas tinham um estilo
europeu inconfundível com casas em estilo vitoriano e holandeses. Os jardins
eram de encher os olhos e mesmo a mais humilde residência tinha o seu para
mostrar. As lojas se enfileiravam na rua principal, uma grande avenida com um
canteiro central com o canteiro central cheio de ipês de jardim em flor. Já era
quase noite com as luzes se ascendendo para um céu cor de chumbo. Lá fora o
vento soprava carregando flores amarelas e o ar tinha cheiro de umidade de mato,
um cheiro limpo que acaricia a pele.
Estava no banco de trás apoiado
no ombro da mãe que falava com Wagner sobre a chuva que não tardaria em cair e
sobre a nova criação de gado.
Embalado pela doce voz de sua mãe
ele adormeceu acordando quando a caminhonete parou.
— Chegamos – sussurrou sua mãe
beijando seu rosto.
Ele ainda estava grogue pelo
remédio e seu ombro começara a doer novamente. Ele se sentia cansado e o corpo
rígido por ter dormido na estrada.
Com ajuda da sua mãe ele saiu e
já ia se dirigindo para a estrebaria quando Sacha segurou seu ombro bom.
— Nem pensar nisso menino – disse
ela com rosto em um esgar contrariado – Você não vai ficar sozinho naquele
quarto sem ninguém para cuidar de você! Duda já arrumou suas coisas no quarto
de hóspedes.
Mauro queria protestar, mas ele
não tinha muitas forças para isso. Docilmente se deixou levar para dentro. O
resto da família chegava com as caminhonetas atrás e isso enchia seu coração de
calor. Pela primeira vez desde que ele se lembrava alguém se preocupava com ele
daquele modo e ele se viu querendo participar da família, mas ele sabia que
Valentim podia contar para eu pai a qualquer momento; ele tinha que ir embora o
mais rápido possível.
Dentro da casa dona Lucia
esperava eles sentada no sofá. Seu rosto era sério quando ele chegou perto dele
e Mauro pediu a Deus para ela não vir com mais sarcasmos, estava ficando
cansado deles.
— Bem, vejo que ele sobreviveu –
ela resmungou e ele ficou vermelho – Eu fiquei preocupada em quem eu ia
atormentar de manhã.
Para o seu espanto ela lhe deu um
abraço, um tapa no ombro do filho e um beijo no rosto de Sacha.
— Como você é carinhosa mãe –
resmungou Wagner esfregando o braço – Onde está o safado do seu outro filho?
— Eu não tenho outro filho, mas
se está falando daquela largatixa do Godofredo ia passar da fazenda Santa
Isabel e não me pergunte o porquê!
— Venha Mauro.
Sua mãe o levou para cima não sem
antes ele captar um pequeno sorriso da velha senhora para ele.
Sacha o levou para um quarto no
fim do corredor.
— Esse é meu quarto – disse Sacha
abrindo a porta – Você precisa de um banho e o melhor vai ser de banheira e o
meu quarto é o único que tem. Vou ti ajudar...
— Que? – Mauro nunca havia ficado
mais vermelho – A senhora vai me dar banho?
— Eu sou sua mãe Mauro.
— Eu me viro sozinho.
— Você não tem nada que eu não
tenha visto Mauro e agora entre no quarto.
— Sim senhora – se desse ele
tinha batido continência.
O quarto da sua mãe era grande
com uma cama de casal coberta com um edredom azul e branco, mas paredes eram
brancas, assim como as cortinas. Havia armários brancos e pretos e uma
penteadeira antiga em um canto coberta de perfumes de produtos de maquiagem. Um
sofá perto da janela completava a decoração, alem de tudo havia uma porta.
— Sente um pouco enquanto eu
encho a banheira e nem tente fugir!
Ele tive vontade de rir do jeito
mandão da mãe. Seu pai também lhe dava ordens, mas muitas vezes elas vinham
acompanhadas de algum tapa e muitos gritos.
Ele foi até a janela sentindo o
cheiro de terra molhada mostrando que a chuva não tardava. Gostava da chuva, de
ficar deitado em sua cama à noite ouvindo a chuva bater na janela, eram seus únicos
momentos de paz.
— Vamos lá – sua mãe apareceu na
porta do banheiro e ele ficou vermelho como o por do sol.
— Será que posso ao menos tirar a
roupa sozinho mãe?
— Se você cair Mauro e mesma
desloco o seu outro ombro!
Ele riu da raiva dela e entrou no
banheiro. Era grande, com um grande armário com tampo de mármore que ia de um
lado ao outro fazendo também às vezes de pia. Estava cheia de perfumes, cremes,
aparelho de barbear, loções, pentes, escova, um secador encostado em um canto. O
chuveiro era protegido por um boxe de vidro e a banheira de hidromassagem
ficava no centro do quarto. Era enorme e na cor preta contrastando com os pisos
e azulejos do banheiro que eram imaculadamente brancos. Ela estava até a metade
com água e com bastante espuma como os filmes que ele via na TV.
Retirou as roupas e as colocou em
cima do balcão dobradas e entrou com facilidade na banheira erguendo o braço e
a colocando em cima da beirada desta. Deu uma olhada para ver se suas partes
intimas estavam escondidas pela espuma e chamou e mãe que entrou com uma ar de
riso.
— Nem parece que você saiu da
minha barriga. Quanta vergonha!
— É que eu nunca fiquei pelado na
frente de ninguém.
— Nem de sua namorada?!
“Beleza Mauro! Agora explica para
a sua MÃE que você é gay e ainda por cima virgem”.
Mauro ficou mudo, sem saber como
contar para ela sobre a sua vida.
— Mauro eu sei que isso não é da
minha conta, desculpe.
Ela pegou xampu e condicionador
junto com uma caneca de plástico e começou a lavar os seus cabelos. Podia não
ser a melhor hora para falar disso, mas ele não achava que devia continuar
escondendo de sua mãe.
— Sabe mãe eu acho que é sim da
sua conta, porque você é minha mãe e pela primeira vez em muitos anos tenho alguém
que se preocupa comigo – ele observava as bolhas de sabão enquanto falava – O pai
ficou cada vez pior. Ele não ouvia ninguém e de repente achou que devia limpar
o mundo das anormalidades, era como ele chamava as pessoas homoafetivas. Ele e
outros fazendeiros imbecis criaram o que eles chamavam de Frente Conservadora. Com
a ajuda do dinheiro que comprava o silencio e a conivência da policia, eles
passaram a expulsar essas pessoas da cidade. Usavam a violência e tudo o mais,
além de constranger eles em público. Era só nisso que ele falava o tempo todo,
da sua raiva contra as aberrações – ele não ia falar das surras e do que tinha
passado nas mãos dele, não agora – Um dia eu perdi a paciência e gritei com
ele, falei que era... gay como as pessoas que ele abominava. Ele pegou uma arma
e eu fugi e não sei que obra do destino me trouxe aqui, mas eu agradeço.
Durante todo o tempo em que ele
estava contando a sua mãe não falara nada. Ela continuou a lavar os seus
cabelos com cuidado. Sua expressão era neutra e aquilo estava sufocando Mauro,
mas ele não ia empurrar ela mais.
Ele não conseguiu terminar o
banho e no final ela o enxugou. Estava sentado na cama dela com a mãe
esfregando a toalha no seu cabelo loiro quando ela falou do assunto.
— Mauro seu pai sempre foi um
homem preconceituoso e achei que isso podia mudar com o tempo, que era coisa de
momento. Eu era uma idiota e fui mais idiota ainda por ter deixado você com ele.
— Mãe – Mauro segurou o braço
dela com a mão boa – Acha mesmo que ia conseguir algo contra o pai? Mesmo sendo
algo terrível o dinheiro conta muito nesse país e isso ele tem bastante. No final
ele ia dar um jeito de prendê-la e a senhora nunca ia poder ter uma família
como essa.
— Mas e você meu amor? – ela se
ajoelhou aos pés dele – O que foi da sua vida?
— O que eu aceitei. Eu podia ter
lutado, eu podia ter ido embora, eu fui covarde mãe e a senhora não tem culpa
nisso, eu nunca a culpei.
Sacha segurou o rosto dele e o
beijou com infinito carinho.
— Obrigada meu amor.
— A senhora está decepcionada
porque eu sou... – ele virou o rosto.
— Mauro não me importa se você é
gay, na verdade eu nunca dei marcas às pessoas. Esse é homo, esse é gay. Não me
importa mesmo, você é um bom garoto e isso sim me importa.
Mauro olhou para ela com lagrimas
nos olhos.
Da porta sem que ninguém o visse
Valentim observava a conversa sabendo que se fosse pego ali espiando sua mãe o
esfolaria vivo, mas ele não podia deixar de ouvir a conversa dos dois.
Voltando para o quarto sua cabeça
estava a mil. Ele achava mesmo que Sacha e Mauro estavam exagerando, mas algo
na expressão dos dois dizia que não, que aquele homem era tão violento e louco
como diziam.
O que teria acontecido com Mauro
se ele tivesse ligado para Luis Gustavo? O pensamento o fazia estremecer.
Chegando ao seu quarto fechou a
porta e encostou nela. Ele se considerava uma boa pessoa, mas suas ações não
eram de pessoas boas. Ele havia agido como uma pessoa intransigente,
preconceituosa e má. Sem escrúpulos em um havia obrigado Giovanni a mandar o
rapaz a carregar as toras mesmo sabendo que o menino podia se machucar. Agira tomado
pela raiva sem pensar nas conseqüências e agora Heitor e Giovanni estavam
brigados com ele e Mauro ferido.
Como se conserta algo assim? Como
ele podia mudar tudo que havia feito e não se sentir menos homem? Será mesmo
que a sua masculinidade ia estar a perigo se ele se desculpasse?
Valentim esfregou os cabelos em
total desespero e cheio de raiva se si mesmo.
~~***~~
Mauro acordou bruscamente. Estava
tendo mais um dos seus pesadelos, mas agora ele podia acrescentar a dor em meio
a isso. O efeito de remédio que recebera no hospital devia estar passando e
agora seu ombro latejava de forma dolorosa.
Tentou voltar a dormir. No seu
relógio em cima da mesinha de cabeceira marcavam duas em quinze da manhã ainda,
todavia a dor atingiu níveis maiores ele no final ele não conseguia conter os
gemidos e as náuseas.
Deus como aquilo doía!
Quando estamos com uma dor muito
intensa parece que só a ela na nossa cabeça. Tudo gira em torno da dor e de
alguma forma dela ir embora, de quando o tormento ia acabar.
Apesar do frio ele começou a suar
e empurrou as cobertas trincando os dentes ao fazer qualquer movimento.
Ele nem viu a porta abrir até ter
alguém perto dele.
— Mauro?
A merda! Tudo o que ele precisava
era do Valentim ali com ele.
— Vai embora! – rosnou Mauro sem
olhar para ele tentando não gemer – Me deixa em paz!
— Está sentindo dor? Tem analgésicos
que compramos no caminho para cá.
Claro que sim. Como ele fora
idiota em não procurar.
— Eu vou tomar. Será. Que. Você. Pode.
Sair. Agora! – ele disse trinando os dentes.
— Saiba que você consegue ser
ainda mais teimoso que a mãe.
A cabeça de Mauro não estava
funcionando ou ele teria dado uma resposta altura, mas a única coisa que sua
mente pensava era naquela maldita dor.
Valentim pegou dois comprimidos e
um copo de água que estava em uma cômoda e levou para o menino encolhido da
cama.
Mauro pegou o remédio e jogou na
boca e depois o copo de água. Bebeu tudo, nem percebera que estava cheio de
sede.
Agora ele só podia esperar que a
dor diminuísse e que isso fosse logo.
Para o seu desespero Valentim
sentou na cadeira perto da sua cama.
— O que você quer meu Deus! Só me
deixe em paz.
— Você não está bem.
— Nossa que constatação obvia!
— Parece que a dor te deixa mal
humorado.
— Mal humorado? – Mauro olhou ele
pela primeira vez.
Estava vestindo uma camiseta e um
short com os cabelos em desalinho e totalmente lindo.
— Valentim vai embora ou eu vou
começar a xingar você!
— Vou ficar até o remédio fazer
efeito.
Mauro bufou, mas outra pontada e
ele se esqueceu de quem estava ali. Seu corpo se contraiu de dor e lagrimas involuntárias
escorreram do seu rosto molhando a fronha do travesseiro.
— Já vai passar – a voz de Valentim
era quase delicada, mas Mauro estava preso em sua dor para prestar atenção em
qualquer outra coisa.
Depois de meia hora a dor começou
a ceder e ele foi relaxando o corpo tenso, até que ele respirou aliviado e
sentiu o sono chegando.
Olhou de soslaio para Valentim
que ainda estava ali o observando e antes de adormecer ele se perguntou o que
ele estava fazendo. Sem saber que Valentim se fazia a mesma pergunta.
Por favor, por favor, por favor,...
ResponderExcluirSei que vc deve ser muito ocupada, mas por favor não me enlouqueça com a falta de capítulos, Pelo amor de Deus poste todo dia, rsrsrsrs, brincadeira, mas sério fico insadecida qdo entro e não tem novidade,adoro suas postagens e estou aguardando atualizações de outras estorias, inté.
Ok pessoal não pretendo mais matar o Valentim...kkkkkkkk.... agora que ele deixou de ser idiota.... mas mudando de assunto....MEUS DEUS que GATO é esse do HEITOR.... BABEI!!!!....LINDO.... Dalla continua firme... to amando....BEIJOS!!!
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