Capitulo VI
Abriu os olhos lentamente
observando uma nesga de sol que entrava pela cortina. Seu corpo ainda estava
rígido, mas não tanto como no dia anterior e o braço continuava com o seu
latejar, só que menos intenso.
Sentou lentamente olhando para a
cadeira vazia perto da sua cama imaginando se fora um sonho Valentim for até
seu quarto, mas ele sabia que fora real. Ele não entendia o que ele queria
agora. Não acreditava que o outro estava com dor na consciência por ele.
— Bom dia – Sacha entrou sorrindo
com uma bandeja – Ainda bem que acordou, eu trouxe o seu café. Você não jantou
e deve estar morrendo de fome.
— Bom dia mãe. Estou com um
pouco.
Ela colocou a bandeja nos seus
joelhos e sentou na cadeira o olhando com carinho.
— Vim de madrugada ver você e
encontrei Valentim aqui. Ele me disse que você estava com dor e que só dormiu
depois de tomar o remédio. Que bom que parece que vocês estão se entendendo.
Ela parecia feliz e ele deu um
sorriso sem graça. O que Sacha ia achar se descobrisse que Valentim era o culpado
dele estar machucado? Dele estar chantageando Mauro? Mas ele nunca ia dizer
isso, nunca mesmo. Isso ia matar o sorriso de Sacha e trazer briga para todos e
ele não queria isso.
— Bem você está de molho por
cinco dias.
— Que?! – ficar ali olhando para
o tempo tantos dias?
— O médico disse que nada de
esforços Mauro – ela pegou a bandeja – Tome seus remédios e durma mais um
pouco.
Ele não tinha um pingo de sono e
depois de uma hora já estava morrendo de tédio quando alguém bateu na porta.
— Entre – disse grato por ter
companhia.
Era Heitor. Ele estava lindo com seu
jeans apertado, camiseta preta justa e suas botas de cano alto. Ele tinha
tentado domar os cachos, mas eles já escapavam do gel formando um alo em torno
de sua cabeça. Seus olhos verdes brilhavam e ele sorria para ele de modo
carinhoso. Ele carregava uma caixa.
— Ola! Como você está?
— Oi Heitor! Bem parece que uma
tora caiu em cima de mim.
Ele riu e bagunçou os cabelos de
Mauro que já deviam estar um terror e entregou o pacote para ele.
Curioso Mauro abriu o pacote
vendo o livro que havia ali.
— Você se lembrou! – o rapaz
apertou o livro de encontro ao peito.
— Fui a Londrina resolver uns
problemas e vi a livraria e não pude deixar de pensar em você e resolvi comprar
para você, espero que goste.
— Obrigado Heitor – por impulso
elem deu um abraço apertado no outro.
Não acreditava que o outro não
tinha esquecido o que ele dissera em uma de suas conversas. Naquele dia olhando
o verde em volta deles Mauro disse que lembrava um pouco as paisagens do filme
Senhor dos Anéis e que ele sempre desejara ler o livro alem de ter visto o
filme mais de dez vezes.
— Que bom que gostou – disse ele
segurando o rosto de rapaz e o olhando de forma tão intensa que Mauro ficou
vermelho.
— Continua sendo uma gracinha –
disse Heitor e o beijou.
Mauro foi pego totalmente
desprevenido. Os lábios de Heitor eram macios, quentes e seu beijo tinha sabor
de hortelã. Era inebriante e viciante, ele não queria mais parar de beijar o
outro, mas tudo que era bom dura pouco. Heitor se afastou e o outro o olhou sem
entender.
— Mauro me desculpa eu acho que
passei dos limites, eu...
— Heitor eu adorei o seu beijo e
por mim você pode passar dos limites todos os dias.
— Bobo – ele fez um carinho no
rosto de Mauro – Eu não sabia se estava interpretando os sinais certo, mas cada
vez que eu ti olhava tinha vontade de ti apertar e beijar.
— O que eu não acredito é que
você seja gay.
— Eu tambem não sabia se você
era.
— Bem – Mauro voltou a recostar
na cama abraçando o grosso volume – Eu na verdade nunca sai do armário, estava
com medo demais do meu pai e do mundo para isso. Quando enfrentei tudo pela
primeira vez acabei tendo que fugir de casa.
— As coisas não são fáceis para
nem um de nós Mauro – ele segurou a mão dele – O que vou ti contar é algo que
só minha família sabe, apesar de eu ter assumido minha sexualidade há algum
tempo. Meu pai tambem não aceitava a homossexualidade e era ferrenho combatente
dela e eu descobri que era gay aos treze anos quando fiquei duro olhando amigos
meus nus. Foi um choque pra mim e eu tentei mudar isso de todos os modos por um
ano, mas eu percebi que mulheres não me atraiam sexualmente de modo algum e
cometi o erro em achar que meu pai entenderia – ele acariciou a palma da mão de
Mauro – Mas ele não entendeu e me deu uma surra tão forte que só não morri
porque minha mãe e irmãos o impediram. Fiquei internado e com tanta raiva
Mauro, aquilo acumulava dentro de mim. Eu tinha raiva de minha mãe e dos meus
irmãos por não terem interferido no inicio e do meu pai eu guardava o mais
profundo ódio. Eu nunca voltei para casa depois daquele dia, eu fugi do
hospital e usando caronas cheguei até Curitiba. Vivi nas ruas muito tempo, fiz
bicos, pratiquei pequenos furtos até arranjar algo em uma construtora. Era um
serviço pesado que me deu músculos e me fez ficar mais maduro. Durante muito
tempo eu fiquei tentado em ligar para casa, mas eu estava preso no meio da
minha raiva até que vi algo um dia em uma lan house – Heitor lançou um olhar
triste para Mauro – A minha foto Mauro em um site de buscas de pessoas
desaparecidas, um site que meu irmão havia criado para tentar me achar. Já
faziam dois anos e eu não sabia o que fazer, havia tido raiva deles tanto tempo
que nem saberia por onde começar.
Mauro afastou-se e pediu para ele
sentar na cama do lado dele e assim que ele fez o abraçou e fez ele deitar a
cabeça em seu ombro. Não disse nada, aquele era o momento de Heitor desabafar.
— Acredito que não teria entrado
em contato por puro orgulho se não tivesse ficado doente. Uma apendicite de
emergência e precisavam de alguém da família ali e eu liguei para casa depois
de tanto tempo. Não sabe o quando doeu ouvir minha mãe chorar e perguntar em
total desespero onde eu estava. Algumas horas depois estavam todos ali, mas eu
tive que ser operado com rapidez e quando acordei eu vi meu pai e minha mãe
perto de minha cama. Assim que me viram acordar os dois começaram a chorar.
Aquilo me desequilibrou totalmente, eu pintava meus pais como pessoas frias e
distantes, mas não era assim. Meu pai me pediu desculpas e implorou para que eu
voltasse para casa e no final era o que eu mais queria, voltar para o meu canto
com meus pais e irmãos. Não foi um mar de rosas depois, mas eles tentavam
aceitar os namorados que apresentava e começaram a enfrentas as pessoas por
minha causa.
Mauro pensou na raiva que tinha
do seu pai, mas algo lhe dizia que Luiz Gustavo não estava lhe procurando para
levá-lo de braços abertos para a sua casa, mas para por um fim na sua
existência que poderia manchar a sua limpa honra.
— Admiro deu pai Heitor – disse
Mauro acariciando os cachos dele – Fez tudo para ter o filho e volta.
— Depois de tudo ficamos mais
perto e me arrependi de toda a raiva que juntei dele.
Mauro sentia o cheiro de Heitor. Almiscarado,
de algum perfume caro, mas havia outro como o do mato recém cortado e da terra
lavada pela chuva. Era embriagador e ele queria sentir esse perfume o tempo
todo.
Heitor deu um sorriso e voltou a
beijá-lo. Sua língua pedindo passagem para explorar a boca do rapaz que se
derretia debaixo das cobertas. Sua ereção dura roçando no tecido do pijama.
Heitor aventurou a mão por sobre
a camisa do pijama acariciando seus mamilos sensíveis e Mauro se segurou para
não gritar de prazer ao tê-los puxados a acariciados pelos dedos ásperos do
outro.
— Você me deixa louco – confessou
Heitor ao desfazer o beijo – Desde que ti conheci é o seu rosto que aparece à
noite nas minhas fantasias e é seu corpo que sonho acariciar e lamber todo.
— Ó Deus, assim você me deixa
louco – disse Mauro sentindo a ereção ainda mais dura.
Com um sorriso safado, Heitor
retirou os cobertores e puxou sua calça de pijama e sua boxer revelando seu
pênis ereto e já com pré sêmen caindo dele.
— Tão lindo – disse Heitor
segurando o grande pau pela base e dando um beijinho na ponta – Um lindo pau
que está me dando água na boca – e abocanhou o pênis com gula.
Em choque, Mauro jogou a cabeça
para trás apertando o punho para não gritar. Imagina o que ia acontecer se
alguém chegasse? Ele nem queria pensar, na verdade ele nem podia com a boca
quente de Heitor lambendo e sugando seu membro sensível. Nunca fizera isso na
vida, apenas a sua mão já tocara o seu membro e ter Heitor fazendo maravilhas
com a boca e sua mão áspera acariciando as suas bolas foi o suficiente para ele
gozar como um louco dentro da boca de Heitor de bebeu tudo como se fosse néctar
delicioso que não podia deixar escapar nem uma gota.
Mauro estava ofegante e tonto
depois do maior orgasmo de sua vida. Heitor voltou a beijá-lo repartindo seu
gosto com ele.
Depois de tudo ele teve as roupas
arrumadas e as cobertas puxadas por sobre ele.
— Foi delicioso – disse Heitor no
seu ouvido – Não vejo a hora de você melhorar e poder foder essa bela bunda.
— Eu nunca... nunca...
— Xiii! – Heitor colocou um dedo
em seus lábios – Não tem importância. Só de pensar que eu vou ser o primeiro
fico inda mais duro.
Mauro olhou para o volume na
apertada calça jeans dele.
— Eu posso ajudá-lo.
— Estou me guardando para a sua
bela bunda Mauro – ele riu quando o menino ficou ainda mais vermelho – Preciso
ir, mas volto amanhã. Aproveite o livro de descanse.
Mauro já estava dormindo quando
ele saiu, aninhado entre os cobertores ele tevês lindos sonhos com o belo homem
de olhos verdes e foi acordado pela mãe na hora do almoço.
— Você parece bem melhor – disse ela
sorrindo – Soube que Heitor esteve aqui.
— Ele me trouxe um presente –
disse Mauro mostrando o livro e ficando um pouco vermelho com o pensamento do
que tinha acontecido mais cedo.
— Heitor sempre foi muito gentil –
ele sorriu sentando perto dele e colocando a mão em sua testa – O que acha de
descer um pouco depois do almoço?
— Sim, por favor!
Sacha riu do desespero do menino
e quando ele terminou de comer se vestiu com um short e uma camiseta e desceu
com a mãe para a sala. Eles foram para a varanda sentar o observar o dia que
havia ficado um pouco quente. Nuvens escuras se levantavam novamente no horizonte
mostrando que mais chuva vinha por ai.
Mauro olhou para a vista. Os jardins
bem cuidados da casa, os armazéns e a estrebaria. Alem disso haviam duas casas
que ficavam ao fundo da fazenda que ele não tinha reparado.
— Eu nem tinha notado as casas
mãe.
— Eram casas de empregados, mas
agora só uma esta ocupada, pela Duda.
— Ela mora com a família?
— Não filho, ela é sozinha. Pai e
mãe mortos pelo câncer, os irmãos não queriam saber dela mesmo que ela tivesse
devotado sua vida toda em cuidar dos pais. Uma amiga minha da cidade me falou
dela quando estava procurando alguém para cuidar da casa e quando a conheci não
tive dúvidas, contratei ela. A única coisa que ela queria era um cantinho só
dela e por isso reformamos a casa e a deixamos morar ali.
— Eu gostei dela.
— Que declaração fofa! – Duda estava
chagando na varanda rindo – Não andou contando histórias tristes para ele, não
é?
— Me conhece Duda, adoro um
drama.
Ambas rirão e Mauro deu um leve
sorriso.
— Porque não vai conhecer o estúdio
do Dalton? – perguntou Duda – Parece que você esta meio entediado. Fica atrás da
casa.
— De uma saída, mas cuidado com
esse ombro.
— Sim senhora.
Ele contornou a casa e viu um
barracão no fim do jardim. Andou até lá ouvindo o barulho de uma serra. A porta
estava aberta e ele viu uma coleção de peças inacabadas, bustos, estatuetas de
pessoas e animais; haviam bancadas nas paredes e armários de aço. Ele as fazia de madeira e argila e havia esse
material por todo o lado.
— Ola! – disse Mauro tentando não
assustar Dalton que estava usando uma pequena serra para cortar um pedaço de
madeira.
— Oi! – ele desligou a serra e
retirou o capacete e a viseira pedindo para ele entrar – Parece que você melhorou.
— Melhorei, graças aos cuidados
de todos vocês.
— Sente aqui – ele apontou para
uma cadeira de balanço a um canto – Quando Chico ligou dizendo o que tinha
acontecido achei que a mãe ia desmaiar.
— Sabe é estranho ter alguém tão preocupado
assim comigo, me sinto um pouco perdido.
— Mas é bom, não é?
— Muito – ele olhou em volta –
Tudo o que você faz é tão bonito, não sei como consegue, eu nem saberia
começar.
— Eu sempre fiz pequenas
esculturas em galhos e dava para os meus irmãos, um dia peguei uma faca afiada
e comecei com uma madeira maior e quando vi era isso que eu queria fazer da
minha vida. Não vai me deixar rico, mas eu faço o que gosto.
Mauro observou no fundo um
cavalete.
— Você tambem pinta Dalton?
— Eu tentei, mas essa não é a
minha praia. Acabou ficando as telas e tintas que comprei. Eu só preciso
terminar uma escultura para um comerciante de Mendes e posso lhe mostrar tudo.
Ele voltou para uma estatueta de
uma mulher vendada e Mauro lembrou de tê-la vista nos escritórios dos
advogados, a Justiça, vendada representando que todos eram iguais perante ela.
Ele foi até os fundos olhando o
cavalete e um pedaço de grafite. Quase sem querer ele começou a desenhar uma
pessoa montada em um cavalo, trotando em um vale com as bordas escuras como
preso em uma tempestade.
— Eu não sabia que você desenhava
– disse Dalton sorrindo e chagando perto dele.
— Desculpe Dalton, eu mexi em
suas coisas.
— Deixe disso Mauro – ele olhava
para o desenho em preto e branco – Nossa parece que ele esta saindo das
sombras, como se o mundo estivesse se construindo daí. Decididamente você fez
Valentim mais bonito do que ele é de verdade – Dalton riu, mas Mauro
empalideceu ao ver que tinha desenhado o desagradável – Olha eu tenho tintas e
se você colorir vai ficar a coisa mais linda do mundo. Você tem talento Mauro,
nunca pensou nisso?
— Isso é bobagem Dalton – disse
ele largando a grafite e balançando a cabeça – Eu só sei desenhar umas linhas. Preciso
ir, tchau.
O rapaz olhou o outro ir embora e
depois para a beleza da tela que tinha diante de si. Mesmo ferido ele conseguia
criar uma bela obra.
— Mauro o que fizeram com a sua auto-estima?
Como sempre aguardando ansiosamente mais capítulos. Você não decepciona. Beijos e abraços.
ResponderExcluirPs. adoro um triangulo amoroso. rsrsrsrs
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