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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Receita de Ano Novo

RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
Carlos Drummond de Andrade

Pessoal esse foi um ano maravilhoso. Nesse ano que já está nos dizendo adeus lá na plataforma de embarque muita coisa conteceu na minha vida e a melhor delas foi ter escrito para cada um de vocês. 
Cada capitulo que escrevi foi com imenso carinho e quando lia as mensagens de vocês por muitas vezes eu ri e chorei. Compartilhei com vocês meus bons e maus momentos e recebi muito carinho dos meus leitores maravilhosos.
Saibam que me faltam palavras para expressar o muito que estou feliz por ter feito esse blog e ter começado a escrever. 
Agora vou fazer as promeças básicas de fim de ano. Vamos à lista:
1 - Prometo melhorar mais e mais as histórias
2 - Vou procurar não atrasar nas postagens
3 - vou retomar as histórias meio esquecidas
4 - Melhorar o português
e...
5 - Ganhar na megasena da virada kkkkkkkkkkkkkkkk
Pessoal tenham uma boa passagem de ano e estourem um champagne por mim, pois a minha primeira vai ser para vocês.
Beijos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

domingo, 30 de dezembro de 2012

A Busca da Felicidade - Capitulo IV

                                                                         Valentim






Capitulo VI


Quando o despertador tocou às cinco da manhã Mauro gemeu e colocou o travesseiro em cima da cabeça ao ver que ainda era escuro lá fora.

Arrastou-se para o banheiro onde tomou um banho para acordar e vestiu-se com uma camisa de mangas longas por causa do sol, uma calça jeans mais velha, meias e as botas.

Saiu para o lusco fusco da manhã. No horizonte já havia uma leve claridade e ele podia ouvir os sons do amanhecer: os pássaros cantavam com intensidade, um galo anunciava um novo dia e em algum lugar uma vaca mugia.

Andou até a casa de sua mãe e entrou pela porta da cozinha. Ali Duda já estava a toda preparando o café.

— Bom dia Mauro – disse ela sorrindo e tirando do forno uma assadeira com pães – Dormiu bem?

 — Dormi como uma pedra, obrigado. Precisa de ajuda?

— Bem, cê sabe cozinhar?

— Han... – ele coçou a cabeça – Não.

— Então senta ai e coma seu café. Logo todo mundo vai ter se levantado e a lida começa.

Mauro sentou-se à mesa e Duda colocou diante dele pão, queijo, leite, café e ovos mexidos. Mesmo sendo cedo ele se esforçou para comer tudo. Nesse meio tempo a casa começou a ganhar vida e o primeiro a chegar foi Valentim vestido com uma camisa azul de manga longa, calça jeans azul e botas de cano alto. Seus cabelos estavam molhados e penteados para trás e ele trazia um chapéu na mão parecido com aqueles que Indiana Jones usava nos filmes.

— Bom dia Duda – disse ele para a moça ignorando Mauro.

“Bom, dois podem jogar esse jogo” pensou ele atacando os ovos com fúria, sua vontade era que fosse a cada do idiota à sua frente.

— Bom dia Valentim e caso não tenha visto, o que acho improvável, Mauro está bem na sua frente e também merece um bom dia.

O outro olhou contrariado para a moça, mas resmungou um bom dia para Mauro que respondeu de má vontade também.

— Pensei que ia ter que te arrancar da cama – atacou Valentim com sarcasmo.

Mauro não respondeu continuando a comer. Para o seu deleite Valentim ficou vermelho ao ver que ele não respondia.

— Coma logo que temos que sair – mandou o outro e cada vez mais Mauro bolava planos para matar o enteado de sua mãe.

Assim que acabaram saíram para o dia. O sol estava nascendo com alguns raios que escapavam do horizonte banhavam as árvores mais altas. Um vento frio, mas revigorante soprava e Mauro respirou fundo se sentindo vivo depois de muito tempo. Era como sair de um longo tempo em uma prisão.

Com cara de quem ia para a forca, Valentim levou ele para a garagem. Era um galpão largo e comprido com três caminhonetes S10 cabine dupla sendo duas prateadas e uma preta e uma moto vermelha suja de lama.

Valentim foi até a caminhoneta preta e a destrancou fazendo um sinal para que Mauro entrasse.

Enquanto andavam pelos campos nem um dos dois trocaram uma palavra e o rapaz agradecia por isso já que ainda tinha vontade de matar o outro.

Atravessaram campos de soja e foram para o sul onde grandes pastos se estendiam por todo o lado. Perto de uma mata havia um grupo de pessoas perto de uma cerca semi pronta e uma pilha de mourões.

— Bom dia pessoal – disse Valentim saindo do carro, Mauro o seguiu olhando para os homens.

Eram fortes e altos em um total de cinco pessoas.

— Esse é Mauro e vai ajudar vocês – o sorriso dele deu calafrios no rapaz.

— Parece que ele vai quebrar Valentim – disse o mais velho dele – Não preciso de um guri aqui e sim de homens fortes para terminar a cerca antes dos bois do seu pai chegar.

— Será que posso falar com você Giovanni? – perguntou Valentim para o mais velho e os dois se afastaram deixando um constrangido Mauro para trás.

— Não se preocupe – disse o mais jovem deles chegando perto de Mauro – Meu nome é Heitor e Giovanni é meu pai. Não esquenta que o latido é pior que a mordida. Esses são Luis Fabio, Murilo e Francisco.

— Muito prazer – disse Mauro para os outros que o saldaram com educação.

Heitor era bem alto, devia ter fácil mais de um metro e noventa. Os cabelos castanhos apareciam em cachos pelo chapéu de palha que usava e seus olhos eram um brilhante verde claro que pareciam hipnotizar quem olhasse para ele. O sorriso parecia fácil nos seus lábios cheios e sensuais que davam vontade de beijar...

“Foco Mauro!” resmungou consigo mesmo “Não é hora para pensar em beijos ou homens, alem de tudo ele não podia ser gay nunca! Um cara cheio de músculos e viril.”

Durante sua vida ele viveu na pequena cidade. Seu pai nunca deixou sair de lá e estava acostumado aos gays que viviam lá, na verdade os poucos que via na rua antes que seu pai soltar os cachorros neles. Alguns eram tão afetados e efeminados...

— Vamos então trabalhar – Giovanni voltando para os outros com a cara inda mais fechada.

Valentim foi embora e Mauro agradeceu por isso, mas minutos depois ele não tinha mais nada a agradecer.

Giovanni o colocou ele para carregar os mourões até onde os outros furavam os buracos e construíam a cerca.

Cada mourão tinha um metro e oitenta de altura, eram feitos de eucalipto tratado, com aproximadamente oito centímetros de largura e pesavam cerca de cinqüenta quilos cada, se levarmos em consideração que Mauro pesava cinqüenta e cinco ele estava tentando carregar o próprio peso no ombro.

Heitor pediu para o pai deixar ele ajudar os outros a esticar o arame, mas o pai se negou deixando o filho bem contrariado.

Não vendo outro jeito Mauro colocou um dos mourões em pé e dobrou o joelhos numa tentativa de colocar seu ombro no meio dele e o içar, mas algumas vezes ele não tinha sucesso e caia para trás com madeira e tudo.

Seu ombro protestava e gritava de dor na segunda entrega e cada vez eles estavam ficando mais longe. Por volta das onze horas Giovanni deu ordem de parada e Mauro caiu exausto perto da pilha de madeira de cerca achando que ia ter que amputar o ombro tal à dor.

— Aqui – Giovanni entregou para ele um pano grosso e dobrado – Coloque em cima do ombro quando pegar o próximo mourão vai ajudar com a dor. Está fazendo um bom trabalho – disse quase a contra gosto.

Uma caminhoneta prateada se aproximou. Ele pode ver a mãe no volante.

— Oi dona Sacha! – Heitor acenou alegre.

Sacha parou o veiculo perto deles.

Ela estava preocupada com o filho desde cedo e ao vê-lo ali com a cara cansada e branca ficou aflita. Aquele era um serviço duro até mesmo para homens mais fortes, por isso mesmo as cercas eram feitas pela equipe de Giovanni que atendiam toda a região e eram homens altos e fortes.

— Bom dia garotos. Que tal almoçar?

A fazenda oferecia a alimentação de quem trabalhava nela.

Cada um foi buscar correndo sua marmita junto com um litro de suco, mas Mauro continuava ali parado. Ela pegou uma das marmitas e uma garrafa de suco e foi até ele.   

— Almoço? – perguntou ela sorrindo e entregando as coisas para ele.

— Obrigado mãe.

— Como está o trabalho – ela sentou perto dele.

— Meio pesado, mas estou dando conta – omitiu a parte que seu ombro doía como uma merda e que ele não sabia como continuar.

— Eu queria conversar com você, queria que nos conhecêssemos novamente. Sei que o tempo que perdemos não vai mais voltar, mas podemos tentar algo de agora em diante.

— Claro mãe. Eu gostaria.

Ela sorriu para ele e dando um beijo em seu rosto foi embora. Ele conseguiu engolir um pouco, mas a dor embrulhava o seu estômago.

Giovanni teve que voltar a cidade para buscar mais arame e Heitor o empurrou para longe das toras e começou a carregá-las ele mesmo. Foi ajudar aos outros a fixar elas no chão e assim quando o pai dele estava de volta boa parte da cerca estava feita e restava ajustar o arame que não era farpado para não causar estragos no couro dos animais.

Heitor levou um exausto Mauro em casa.

— Deite e descanse – disse ele se inclinando para o menino.

— Nem precisa dizer duas vezes – resmungou ele massageando os ombros – Acredite que vou ter o maior respeito pelas cercas de agora em diante.

— Eu não sei o que deu na cabeça do meu pai para obrigar você a carregar os mourões. Você tem um corpo magro e delicado, não é para isso.

— Acho que vou conseguir uns músculos agora – disse ele em tom de riso, mas o rosto vermelho pelo elogio.

— Você está corando! Que gracinha! – ele apertou as bochechas de Mauro que ficou ainda mais vermelho e bateu nas mãos dele.

— Ai! Odeio quando apertam as minhas bochechas!

— Ninguém cora mais hoje em dia, só achei uma graça – ele se aprumou no volante – Até a manhã Mauro.

— Tchau!

Mauro entrou na estrebaria tocando no rosto lembrando das grandes e ásperas mãos do trabalhador e seu pênis teve o desplante de começar a endurecer.

— Merda – resmungou ele para um dos belos cavalos malhados que estavam na baia e voltou a subir as escadas.

Retirou a roupa e foi para o pequeno banheiro onde olhou a mancha roxa que já se formava em seu ombro e para o membro desperto.

— Maravilha – resmungou ele – Preciso de um banho gelado. To tão cansado que nem me masturbar eu consigo.

Ficou um bom tempo debaixo do jato do chuveiro e depois se arrastou para a cama. Não tinha energia para jantar e nem queria ver a cara do Valentim ou ia acabar fazendo bobagem. Enfiou-se no meio dos cobertores e apagou acordando com alguém batendo na sua porta.

Gemendo percebeu que eram oito da noite. Abriu a porta e deu de cara com a sua mãe com uma expressão preocupada em um prato coberto por um guardanapo.

— Mauro você não foi comer e eu fiquei preocupada.

— Desculpa mãe, mas o serviço me deixou cansado. Acho que estou destreinado – ele deu uma risada.

— Mas precisa comer – ele deixou o prato na mesa e sentou na cadeira – Venha menino eu só vou embora quando limpar o prato.

Ele não teve opção em sentar e começar a comer o frango com polenta que estava muito bom. Nesse meio tempo ele começou a contar para ela sua infância e adolescência pulando algumas partes como as agressões do pai.

— Você nunca foi à faculdade filho?

— Eu sou muito burro para isso – disse ele dando de ombros e não ligando.

— Quem disse essa bobagem?

— As minhas notas, meu pai, todo mundo.

— Mauro eu não acredito nisso! Você se deixou influenciar pela opinião dos outros? Eu não acho você burro, aliais que definição idiota! As pessoas podem ser boas em uma coisa e não em outras se serem consideradas burras!

— Eu não sei mãe. Eu nunca fui bom em nada.

— Pois a gente vai descobrir – ela fez uma caricia em sua mão – Agora vá dormir para descansar – ela lhe deu um beijo e pegou o prato – Boa noite meu amor.

— Boa noite mãe.

Ele voltou para a cama com o coração aquecido pelas palavras dela. Por muito tempo seu pai o xingou de burro e retardado e isso acabou pegando na cidade e na escola. As suas notas foram caindo no mesmo ritmo que o bullyng que sofria.

Socou o travesseiro. Chega de pensar no passado, o presente já era ruim demais para ficar remoendo o que já passou.

~~***~~

A semana passou como um borrão de cansaço para Mauro que nem mesmo vontade de xingar Valentim tinha, mesmo porque pouco se viam. Ele tomava café sedo e Heitor passava e pegava ele, à noite Duda lavava o jantar dele o que fora um ótimo arranjo mesmo que sua mãe parece desgostar.

Ele acabou conhecendo mais Heitor e Giovanni que a família de sua mãe.

Depois do primeiro dia ele meio que conquistara o respeito do mais velho, mas inda não deixava de carregar os mourões.

Na sexta feira as quatro faltava apenas uma hora para o fim do trabalho e o rapaz não via a hora e ir para casa e dormir umas vinte e quatro horas.

Segurou o ultimo mourão (graças a Deus!) e foi em direção a equipe que estava subindo um terreno bem inclinado o que era complicado para ele ao arrastar dezenas de quilos de madeira para cima.

Ele podia ouvir Giovanni resmungar de Francisco dizendo que o trabalho estava torto e Chico resmungava que ele não via nada torto e por ai vai. Giovanni não estava feliz se não reclamava de algo.

Mauro levantou a cabeça olhando para Heitor que estava em cima do morro rindo para ele.

De repente seu pé prendeu em algo e o tombo foi inevitável. Ele caiu com tudo no chão e a tora de madeira caiu em cima de seu ombro machucado o que lhe rendeu um grito de dor e ele acabou ralando pelo capim.

— Mauro! – Heitor gritou o correu para ele conseguindo parar a sua queda, mas o rapaz estava branco de dor e já meio inconsciente – Mauro!

Ele escutou Heitor o chamar, mas parecia vir de muito longe e ele estava mais interessado em cair naquele escuridão onde não havia mais dor dilacerando o seu braço. Depois disso tudo foi um borrão de vozes e cores até que ele ficou um pouco mais consciente ao ser colocado em uma maca por Heitor.

— Heitor – resmungou ele segurando a barra da camisa dele.

— Mauro graças a Deus. Olha você está em um hospital e vão ti levar para fazer exames.

Ele não queria ficar nas mãos de desconhecidos, mas eles o levaram pelos corredores brancos e insípidos do hospital para uma sala de raios X. Depois havia um médico perto dele falando dele ter deslocado o ombro e que iam colocar no lugar e antes que ele pudesse pensar o homem segurou seu ombro e o empurrou para dentro. Se ter o mourão caindo no seu braço doeu recolocar o ombro no lugar foi dez vezes pior e lagrimas de dor começaram a descer por seu rosto. Ele foi colocado no soro depois de ter o ombro enfaixado para diminuir a dor. Finalmente a dor pareceu ceder um pouco.

Minutos depois algumas pessoas entraram na sala de recuperação era sua mãe e Wagner.

— Mauro! – ela tocou na minha testa com carinho – Você me deu um grande susto sabia?

— Acho que topei com um buraco de tatu. Deviam proibir eles de fazer casas no pasto – tentei fazer um pouco de humor, mas nem um dos dois estava para isso.

— Porque você estava carregando madeira Mauro? – Wagner parecia bastante chateado.

— Foi culpa minha Wagner. Eu achava que conseguia – o que menos queria era que Giovanni ou Heitor se metessem encrencas por minha causa.

— Sabia que podia ter mais que um ombro deslocado Mauro? Você podia ter morrido ali e ter metido a mim a Giovanni em sérios problemas. Percebe isso!

Mauro engoliu em seco. Por um momento a figura de Wagner e seu pai se misturaram e ele começou a tremer. Droga ele não tinha culpa! Não merecia isso.

— Wagner – Sacha queria dar uns tapas no marido – Olhe para ele! O menino está tremendo com seus gritos!

Ele parou e olhou envergonhado para o rapaz pálido ali deitado. Sem camisa ele podia ver o corpo magro do menino e o ombro enfaixado, mas foram os olhos tomado de terror que o deixou pior. Sacha contara a ele sobre o ex marido e se Luis Gustavo fazia o mesmo com o menino era claro que ele tinha medo, na verdade pavor, de explosões de raiva.

— Desculpe Mauro – ele tocou com delicadeza o ombro que não estava machucado – Eu exagerei.

— O senhor está certo – ele respondeu sem olhar para a mãe ou Wagner – Eu podia causar um problemas dos grandes para vocês já que nem mesmo documentos eu tenho. Eu nunca quis isso mãe, Senhor Wagner. Sua família me acolheu no momento mais difícil dela e eu não sei como agradecer, mas acho que tenho que ir embora, talvez voltar para casa.

— Mauro – Wagner levantou o queixo dele – Você vai para casa sim, mas a sua casa de verdade, aqui em Mendes conosco e não com o homem violento que seu pai é. Jamais deixarei que volte para lá e ser ferido de novo, entendeu? Desculpe ter sido um idiota, mas às vezes eu faço isso, pergunte aos outros.

Droga ele não queria chorar, mas não conseguia mais resistir e desabou em lagrimas no ombro da mãe que afagava os seus cabelos com amor falando palavras de conforto para ele, mas outra coisa fez ele estremecer. Quando Valentim descobrir o que tinha acontecido iria entregar ele para o pai?   

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A Busca da Felicidade - Capitulo III

                                                                          Mauro





Capitulo III



Mauro estremeceu olhando para o rosto raivoso do enteado de sua mãe.

— Não sei o que temos que conversar. Você já me julgou e me condenou.

— Eu amo a minha mãe e não quero que ela se machuque mais do que já o fez. Quero fazer um trato com você. Fique aqui e faça algo de bom nessa vida conhecendo ela e deixando que ela perca um pouco desse sentimento de culpa idiota que ela tem.

O outro respirou fundo e sentou na cama tentando manter distancia do outro.

— Olha eu não quis me meter na sua família, foi um acidente eu ter vindo aqui. Vou dar um jeito de ir embora logo.

— Você não entendeu moleque – ele aproximou-se dele como uma montanha, os olhos dourados cheios de fúria – Você vai ficar aqui e conhecer a Sacha e ser o melhor filho possível para ela ou vou atrás do seu pai e contar onde você está.

— Você é louco? Que direito tem de mandar na minha vida?

— O direito que você deu ao fazer o que fez com ela. Eu não acredito na sua versão de bonzinho, pode apostar nisso. Sacha quer que você fique e vai. Tem um pequeno apartamento em cima das baias dos cavalos, não vou ficar na mesma casa que você. É bom para a sua segurança que você nunca conte a ninguém essa conversa.

— Seu idiota, imbecil! – ele estava vermelho da raiva com as palavras do outro – Eu não sou algum cachorro para você tratar assim.

— Os meus cachorros são melhores que você. Esteja avisado. Se sair um centímetro da linha ou for embora vou mandar o seu pai atrás de você e nem pense em fugir, vou estar de olho.

Quando Valentim saiu do quarto Mauro tremia de fúria. Quem aquele arremedo de cowboy pensava que era para tratá-lo assim? Ele não tinha culpa com o que acontecera, fora tão vitima quanto a sua mãe, agora era acusado de uma forma tão crua que o deixava com vergonha mesmo não tendo culpa.

Só de pensar que seu pai podia encontrá-lo estremecia. Devia ser mais valente e enfrentar Luiz Gustavo, mas Mauro ainda tinha vivo na memória à arma apontada para si.

Respirando fundo ele se levantou não sabendo como sair da chantagem de Valentim. Ele podia contar aos outros, mas repudiava a possibilidade de causar uma briga entre eles como já havia causado quando chegara.

Talvez o melhor fosse mesmo ficar ali e tentar não causar confusão. Quem sabe ele conseguisse um emprego e uma forma de ter sua vida de volta. Pelo menos seus itens pessoais e seus documentos.

Lentamente ele desceu para a sala onde as pessoas se levantavam da grande mesa.

— Pensei que ia dormir mais Mauro – Dalton sorriu para ele.

— Obrigado por ter me deixado descansar e pela roupa.

— Filho precisamos conversar – disse Sacha chegando perto dele.

— Hum... sim eu gostaria de falar com a senhora.

— Precisamos ir – disse Wagner puxando Godofredo que ia fazer uma observação sarcástica – Kaila!

A menina olhou contrariada para o pai e o acompanhou para fora. Dalton disse um bom dia, beijou a mãe e disse que ia dormir um pouco, pois passara a noite em claro dirigindo e antes de sair desarrumou os longos cabelos de Mauro.

— Tchau baixinho.

Mauro olhou vermelho para ele, mas sorriu surpreendido com aquele carinho.

— Sente Mauro e como algo – pediu a sua mãe apontando para a mesa farta.

O estomago dele roncou de fome. Sentou e se serviu de pão feito em casa e café.

— Mauro sei que tudo isso foi muito inesperado para você e acredite que para todos nós. Percebi que não quer falar sobre o que o fez fugir machucado e vou respeitar seu silencio. Gostaria que ficasse conosco filho...

— Bem... mãe – Mauro extremamente constrangido pediu – Eu ia pedir se não posso ficar até conseguir algo – ele se sentia como se estivesse pedindo esmola – Talvez estejam precisando de alguém para ajudar na fazenda...

— Mauro você nem precisa pedir meu filho, mas quanto ao trabalho não precisa se preocupar...

— Mãe eu não posso viver de caridade do seu marido. Se não tiver algo aqui talvez um vizinho.

— Não seria caridade Mauro, mas saiba que sempre tem algo para fazer aqui e que um par de mãos a mais é sempre bom.

— Será que vocês tem um alojamento ou algo assim onde eu possa ficar? – Mauro mordeu os lábios constrangido com aquilo, mas não queria entrar em mais atrito com Valentim.

— Alojamento?! Mauro a casa é bem grande e tem quartos vagos.

— Mãe, por favor – ele segurou a mão dela em cima da mesa – Eu me sentiria melhor assim.

— Eu não gosto disso menino, mas tem um antigo apartamento em cima da estrebaria onde vivia o segurança da fazenda até quando ele se casou e mudou para uma casa aqui perto.

— Parece ótimo para mim, obrigado.

Sacha ainda parecia contrariada, mas para ter o filho perto de si faria qualquer vontade dele.

— Tenho algumas roupas antigas de Dalton guardadas que nunca lembrava de doar, acho que pode ajudar até irmos à cidade e vou pedir para arrumar o apartamento. Enquanto isso quero que coma e descanse – ela tocou em um ferimento na sua testa – Como queria ter impedido isso.

— Esqueci. Você não conseguiria mesmo se estivesse ali.

Aquela era uma verdade que mãe e filho compartilhavam. Ambos conheciam a brutalidade de Luiz Gustavo na carne.

~~***~~

Depois de comer o café Sacha o levou para um quarto vago onde deitou se sentindo cansado e com dor na cabeça e no rosto onde recebera as pancadas. Seu corpo doía pelo estresse e sua mente em turbilhão não ajudava nada.

Ele puxou a coberta quase cobrindo a cabeça e deixou com que um sono agitado o levasse.

Acordou quando o sol da tarde já se punha deixando tudo em um tom rosado. Levantou e foi até a janela olhando para baixo onde um pequeno jardim de rosas se estendia até um pequeno lago. Mais alem ele viu pastos e os campos de soja que se estendiam até perder de vista. À sua direita o morro se levantava majestoso com suas arvores e araucárias.

Desceu para a sala a encontrando vazia e resolveu ir até a cozinha ver se achava algo para comer. Encontrou uma senhora idosa e uma moça.

— Ola! – a moça lhe sorriu – Você deve ser Mauro, eu sou Maria Eduarda, mas pode me chamar de Duda e essa...

— Acho que eu posso me apresentar moleca! – retrucou a velha senhora de cara feia.

Ela era pequena, com o rosto coberto por uma rede de rugas, os olhos eram muito parecidos com os de Wagner e Valentim, dourados, cheios de vida. O cabelo branco estava amarrado em um coque alto e ela se vestia com um vestido florido.

— Meu nome é Lucia menino e pode me chamar de dona Lúcia.

Mauro teve vontade de rir dela, parada ali perto dele com as mãos na magra cintura.

— Prazer Duda, dona Lúcia.

— Bom, bom – a velha senhora voltou para o fogão.

— Com fome? – perguntou Duda com delicadeza.

Era uma moça de uns trinta anos, cabelos negros como a noite, olhos castanhos escuros, rosto redondo e um pouco mais alta que ele. Seu sorriso era doce e calmo.

— Sim eu perdi o almoço.

— Perdeu porque estava dormindo demais – resmungou Lucia.  

Duda revirou os olhos e pediu para que ele sentasse a mesa enquanto buscava algo.

Ele observou a grande cozinha que tinha as paredes de revestimento claro, chão de piso branco, armários pretos e brancos nas paredes, um fogão a gás e um a lenha que estava aceso naquela hora e onde panelas borbulhavam com um cheiro de dar água na boca. A mesa no centro era de madeira e parecia muita velha.

Duda apareceu com um sanduíche e um copo de suco.

— Acho que isso ajuda até o jantar.

— Obrigado.

— Sacha terminou de limpar o apartamento acima da estrebaria e levamos algumas coisas para lá para que se sinta confortável. Você vai gostar, é pequeno, mas arrumado.

— Vocês estão sendo muito gentis comigo.

— Fazer o que, né? – disse Lucia enquanto mexia as panelas.

— Não liga para ela – disse Duda olhando para Mauro e sorrindo – É a idade afetando os miolos dela.

Lucia lançou um olhar feroz para a moça e apontou a colher de pau para ela, mas Duda bocejou.

— Que tal vir comigo conhecer o lugar?

Aliviado ele acompanhou ela.

— Sabe Lucia é uma boa pessoa, acida, mas boa. Ela adora jogos de palavras e se quer seu respeito ganhe uma briga de boca com ela.

Saíram para a tarde que chegava um pouco fria e com cheiro de chuva. Nuvens escuras se levantavam ao norte.

Desceram uma estrada de chão cheia de cascalho para uma estrebaria feita de madeira. As baias estavam cheias com belos cavalos que batiam as patas no chão cheio de palha. Eram cavalos estranhos como ele nunca tinha visto ao vivo, apenas nos filmes.

Eram malhados, brancos com marrom na sua maioria, alguns mesmo totalmente brancos.

— Kaila chama eles de um nome engraçado, americano acho: paint horse.

— Eles são lindos – disse Mauro que não era muito de ficar perto de animais.

A fazenda do seu pai era composta por um punhado de terras arrendadas e o resto eram imensas plantações comerciais de cana de açúcar e soja. Sua casa sempre fora um local insípido onde nem mesmo os jardins floresciam.

Subiram por uma escada de madeira para o andar de cima onde havia uma porta também de madeira. Ao abrir deram com uma pequena sala conjugada com uma minúscula cozinha, mas tudo era muito organizado. Haviam duas poltronas em frente a uma TV em cima de um pequeno rack, uma mesa de granito com quatro cadeiras, um armário embutido na cozinha, um fogão de duas bocas, uma pia do lado deste, uma geladeira e um microondas.

Havia uma porta que devia dar para o quarto e uma grande janela com uma cortina clara esvoaçante na brisa.

— Aqui é o quarto – Duda abriu uma porta para um pequeno quarto com uma cama de solteiro, um armário, um baú e outra porta aberta onde ele via um banheiro de piso claro.

Em cima da colcha de retalhos da cama haviam pilhas arrumadas de roupas, no chão um par de botas, um tênis e chinelos. Haviam também artigos de higiene como escova de dente, pasta, pentes e um jogo de xampu e condicionador.

— Sua mãe não sabia o seu numero, mas ela achava que as roupas e os calçados iam servir.

Mauro tocou nas pilhas de roupas emocionado. Ele já havia se esquecido o que era um carinho de mãe, o que era uma preocupação sincera.    

— Preciso agradecer a ela.

— O jantar é as sete. Ai você agradece.

Ela se despediu e o deixou só.

Não sabendo muito o que fazer arrumou suas coisas no quarto e andou até a sala sentando em uma poltrona e ligou a TV para se distrair.

As quinze para sete vestiu uma camisa de mangas longas xadrez, uma calça jeans preta e as botas que eram bem usadas, mas confortáveis e foi até a casa que tinha a porta aberta depois de Kaila sair correndo atrás de Godofredo.

— Não se atreva a tocar na minha aranha de novo tiol – ela gritava possessa.

— Kaila! – Valentim quase tropeçou em Mauro e o olhou com desprezo antes de ir atrás da irmã e do tio que corriam pela estrada.

— Mauro – Wagner puxou ele para dentro – Saia do frio e deixe eles se matarem.

— Boa noite senhor.

— Por favor, só Wagner, senhor me fez sentir mais velho do que sou.

— Claro Wagner.

— Sabia que você podia ter ficado na casa menino.

— Me desculpe o trabalho que dei, mas eu acho que assim sua família vai se sentir mais à vontade e eu também.

— Se isso te faz feliz. Venha comer.

Entraram na sala indo para a mesa onde estava sua mãe que lhe sorria, dona Lucia com cara de poucos amigos, Dalton e um rapaz que devia ser um pouco mais novo que ele.

— Ola – disse o menino se levantando a apertando à mão de Mauro – Acho que não fomos apresentados já que eu estava dormindo, meu nome é Bruno e sou o caçula dessa família de loucos.

— Muito prazer Bruno.

— Da onde esse menino saiu exatamente? – perguntou dona Lucia olhando para Mauro só faltando rosnar.

— Mãe eu já conversei com você! – Wagner parecia contrariado – Deixe o menino em paz, o que ele menos precisa é do seu sarcasmo.

— Eu não sou sarcástica seu filho desnaturado! Eu devia ter ido para um asilo onde ia ser melhor tratada!

— Tenho ótimos endereços mãe.   

— Devem ter ti trocado na maternidade! Não tem como você ser meu filho.

— Eu concordo mãe e um exame de DNA pode nos ajudar enormemente.

Lucia bufou e voltou a comer.

— Coma Mauro – sem que ele percebesse sua mãe tinha feito o seu prato – Você quase não comeu o dia todo.

Vermelho pela atenção ele pegou o prato e pôs-se a comer quando Kaila, Godofredo e Valentim entraram.

— Será que os três podem parar e jantar agora? – perguntou Wagner contrariado.

Eles sentaram e Valentim lançava olhares de desprezo para Mauro que tinha vontade de jogar o copo de suco na cabeça dele.

“Como alguém pode ser tão nojento, burro, imbecil, pateta, bonito” ela quase engasgou ao pensar assim. Claro que o cara era bonito, ele não era cego ou idiota. Dalton também era bonito com aquele seu jeito doce e sorriso fácil. Era uma família de pessoas bonitas, mesmo as mulheres ele tinha que admitir. Kaila tinha cabelos longos, lisos e castanhos brilhantes, os olhos eram de um lindo tom de chocolate e seu corpo era magro, mas com boas curvas. Sua mãe sempre fora linda e ele tinha que admitir que ela continuava, mesmo dona Lucia mantinha resquícios dessa beleza.

— Me diga Mauro você sabe algo sobre fazendas? – perguntou Wagner para ele.

— Não muito senhor, mas posso aprender. Em casa eu costumava trabalhar no escritório do meu pai, mas não havia muita coisa mesmo já que boa parte das terras eram arrendadas.

— Podemos por ele junto com os peões para arrumar as cercas – disse Valentim olhando para ele com um estranho sorriso de lado.

— Eles estão arrumando as cercas Valentim – disse sua mãe contrariada – É um trabalho muito pesado para ele.

— Acho que ele não pode opinar muito e se algumas cercas são demais para ele imagine o resto. Talvez ele não seja capaz de fazer nada.

O sangue subiu à cabeça de Mauro. Ele pensava que não podia odiar o outro mais, todavia agora ele superou a faze da raiva para a fase do ódio.

— Mãe eu estou pronto para fazer qualquer trabalho. Posso muito bem ajudar com as cercas.

— Então estamos comb...

— Valentim – havia uma frieza na voz de Wagner que até Mauro estremeceu – Acho que sou eu quem coordena os trabalhadores e não me ouvi dizendo para onde ele vai.

— Desculpe pai – ele parecia envergonhado – Mas é o único trabalho disponível e toda ajuda é bem vinda.

— S... Wagner eu poderia tentar? – Mauro olhou para o homem – Talvez seja de alguma ajuda.

Ele tinha que fazer o outro mudar de ideia ou Valentim podia cumprir a sua promessa e avisar o seu pai.

— Vamos tentar Mauro, mas se perceber que não consegue quero que me fale. Não se sinta mal por isso, afinal é um trabalho duro.

— Obrigado.

Jantaram em silencio e Mauro percebeu que sua mãe não gostara nada do que ele ia fazer, mas não tinha opção. Com Valentim em cima dele era melhor assim.

Terminado o jantar ele rejeitou a sobremesa e voltou para a estrebaria sobre um céu coberto de estrelas.

Cansado ele sentou e resolveu dormir porque teria que acordar às cinco da manhã se queria acompanhar os outros na lida. Encontrara um velho despertador e o programou para as cinco e desligou a luz deitando.

Como a sua vida podia mudar tanto em vinte e quatro horas? Havia escapado do pai para as garras de Valentim que não tinha escrúpulos de atormentar a sua vida o enchendo de ameaças.

O que iria acontecer de agora em diante?