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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A Busca da Felicidade - Capitulo III

                                                                          Mauro





Capitulo III



Mauro estremeceu olhando para o rosto raivoso do enteado de sua mãe.

— Não sei o que temos que conversar. Você já me julgou e me condenou.

— Eu amo a minha mãe e não quero que ela se machuque mais do que já o fez. Quero fazer um trato com você. Fique aqui e faça algo de bom nessa vida conhecendo ela e deixando que ela perca um pouco desse sentimento de culpa idiota que ela tem.

O outro respirou fundo e sentou na cama tentando manter distancia do outro.

— Olha eu não quis me meter na sua família, foi um acidente eu ter vindo aqui. Vou dar um jeito de ir embora logo.

— Você não entendeu moleque – ele aproximou-se dele como uma montanha, os olhos dourados cheios de fúria – Você vai ficar aqui e conhecer a Sacha e ser o melhor filho possível para ela ou vou atrás do seu pai e contar onde você está.

— Você é louco? Que direito tem de mandar na minha vida?

— O direito que você deu ao fazer o que fez com ela. Eu não acredito na sua versão de bonzinho, pode apostar nisso. Sacha quer que você fique e vai. Tem um pequeno apartamento em cima das baias dos cavalos, não vou ficar na mesma casa que você. É bom para a sua segurança que você nunca conte a ninguém essa conversa.

— Seu idiota, imbecil! – ele estava vermelho da raiva com as palavras do outro – Eu não sou algum cachorro para você tratar assim.

— Os meus cachorros são melhores que você. Esteja avisado. Se sair um centímetro da linha ou for embora vou mandar o seu pai atrás de você e nem pense em fugir, vou estar de olho.

Quando Valentim saiu do quarto Mauro tremia de fúria. Quem aquele arremedo de cowboy pensava que era para tratá-lo assim? Ele não tinha culpa com o que acontecera, fora tão vitima quanto a sua mãe, agora era acusado de uma forma tão crua que o deixava com vergonha mesmo não tendo culpa.

Só de pensar que seu pai podia encontrá-lo estremecia. Devia ser mais valente e enfrentar Luiz Gustavo, mas Mauro ainda tinha vivo na memória à arma apontada para si.

Respirando fundo ele se levantou não sabendo como sair da chantagem de Valentim. Ele podia contar aos outros, mas repudiava a possibilidade de causar uma briga entre eles como já havia causado quando chegara.

Talvez o melhor fosse mesmo ficar ali e tentar não causar confusão. Quem sabe ele conseguisse um emprego e uma forma de ter sua vida de volta. Pelo menos seus itens pessoais e seus documentos.

Lentamente ele desceu para a sala onde as pessoas se levantavam da grande mesa.

— Pensei que ia dormir mais Mauro – Dalton sorriu para ele.

— Obrigado por ter me deixado descansar e pela roupa.

— Filho precisamos conversar – disse Sacha chegando perto dele.

— Hum... sim eu gostaria de falar com a senhora.

— Precisamos ir – disse Wagner puxando Godofredo que ia fazer uma observação sarcástica – Kaila!

A menina olhou contrariada para o pai e o acompanhou para fora. Dalton disse um bom dia, beijou a mãe e disse que ia dormir um pouco, pois passara a noite em claro dirigindo e antes de sair desarrumou os longos cabelos de Mauro.

— Tchau baixinho.

Mauro olhou vermelho para ele, mas sorriu surpreendido com aquele carinho.

— Sente Mauro e como algo – pediu a sua mãe apontando para a mesa farta.

O estomago dele roncou de fome. Sentou e se serviu de pão feito em casa e café.

— Mauro sei que tudo isso foi muito inesperado para você e acredite que para todos nós. Percebi que não quer falar sobre o que o fez fugir machucado e vou respeitar seu silencio. Gostaria que ficasse conosco filho...

— Bem... mãe – Mauro extremamente constrangido pediu – Eu ia pedir se não posso ficar até conseguir algo – ele se sentia como se estivesse pedindo esmola – Talvez estejam precisando de alguém para ajudar na fazenda...

— Mauro você nem precisa pedir meu filho, mas quanto ao trabalho não precisa se preocupar...

— Mãe eu não posso viver de caridade do seu marido. Se não tiver algo aqui talvez um vizinho.

— Não seria caridade Mauro, mas saiba que sempre tem algo para fazer aqui e que um par de mãos a mais é sempre bom.

— Será que vocês tem um alojamento ou algo assim onde eu possa ficar? – Mauro mordeu os lábios constrangido com aquilo, mas não queria entrar em mais atrito com Valentim.

— Alojamento?! Mauro a casa é bem grande e tem quartos vagos.

— Mãe, por favor – ele segurou a mão dela em cima da mesa – Eu me sentiria melhor assim.

— Eu não gosto disso menino, mas tem um antigo apartamento em cima da estrebaria onde vivia o segurança da fazenda até quando ele se casou e mudou para uma casa aqui perto.

— Parece ótimo para mim, obrigado.

Sacha ainda parecia contrariada, mas para ter o filho perto de si faria qualquer vontade dele.

— Tenho algumas roupas antigas de Dalton guardadas que nunca lembrava de doar, acho que pode ajudar até irmos à cidade e vou pedir para arrumar o apartamento. Enquanto isso quero que coma e descanse – ela tocou em um ferimento na sua testa – Como queria ter impedido isso.

— Esqueci. Você não conseguiria mesmo se estivesse ali.

Aquela era uma verdade que mãe e filho compartilhavam. Ambos conheciam a brutalidade de Luiz Gustavo na carne.

~~***~~

Depois de comer o café Sacha o levou para um quarto vago onde deitou se sentindo cansado e com dor na cabeça e no rosto onde recebera as pancadas. Seu corpo doía pelo estresse e sua mente em turbilhão não ajudava nada.

Ele puxou a coberta quase cobrindo a cabeça e deixou com que um sono agitado o levasse.

Acordou quando o sol da tarde já se punha deixando tudo em um tom rosado. Levantou e foi até a janela olhando para baixo onde um pequeno jardim de rosas se estendia até um pequeno lago. Mais alem ele viu pastos e os campos de soja que se estendiam até perder de vista. À sua direita o morro se levantava majestoso com suas arvores e araucárias.

Desceu para a sala a encontrando vazia e resolveu ir até a cozinha ver se achava algo para comer. Encontrou uma senhora idosa e uma moça.

— Ola! – a moça lhe sorriu – Você deve ser Mauro, eu sou Maria Eduarda, mas pode me chamar de Duda e essa...

— Acho que eu posso me apresentar moleca! – retrucou a velha senhora de cara feia.

Ela era pequena, com o rosto coberto por uma rede de rugas, os olhos eram muito parecidos com os de Wagner e Valentim, dourados, cheios de vida. O cabelo branco estava amarrado em um coque alto e ela se vestia com um vestido florido.

— Meu nome é Lucia menino e pode me chamar de dona Lúcia.

Mauro teve vontade de rir dela, parada ali perto dele com as mãos na magra cintura.

— Prazer Duda, dona Lúcia.

— Bom, bom – a velha senhora voltou para o fogão.

— Com fome? – perguntou Duda com delicadeza.

Era uma moça de uns trinta anos, cabelos negros como a noite, olhos castanhos escuros, rosto redondo e um pouco mais alta que ele. Seu sorriso era doce e calmo.

— Sim eu perdi o almoço.

— Perdeu porque estava dormindo demais – resmungou Lucia.  

Duda revirou os olhos e pediu para que ele sentasse a mesa enquanto buscava algo.

Ele observou a grande cozinha que tinha as paredes de revestimento claro, chão de piso branco, armários pretos e brancos nas paredes, um fogão a gás e um a lenha que estava aceso naquela hora e onde panelas borbulhavam com um cheiro de dar água na boca. A mesa no centro era de madeira e parecia muita velha.

Duda apareceu com um sanduíche e um copo de suco.

— Acho que isso ajuda até o jantar.

— Obrigado.

— Sacha terminou de limpar o apartamento acima da estrebaria e levamos algumas coisas para lá para que se sinta confortável. Você vai gostar, é pequeno, mas arrumado.

— Vocês estão sendo muito gentis comigo.

— Fazer o que, né? – disse Lucia enquanto mexia as panelas.

— Não liga para ela – disse Duda olhando para Mauro e sorrindo – É a idade afetando os miolos dela.

Lucia lançou um olhar feroz para a moça e apontou a colher de pau para ela, mas Duda bocejou.

— Que tal vir comigo conhecer o lugar?

Aliviado ele acompanhou ela.

— Sabe Lucia é uma boa pessoa, acida, mas boa. Ela adora jogos de palavras e se quer seu respeito ganhe uma briga de boca com ela.

Saíram para a tarde que chegava um pouco fria e com cheiro de chuva. Nuvens escuras se levantavam ao norte.

Desceram uma estrada de chão cheia de cascalho para uma estrebaria feita de madeira. As baias estavam cheias com belos cavalos que batiam as patas no chão cheio de palha. Eram cavalos estranhos como ele nunca tinha visto ao vivo, apenas nos filmes.

Eram malhados, brancos com marrom na sua maioria, alguns mesmo totalmente brancos.

— Kaila chama eles de um nome engraçado, americano acho: paint horse.

— Eles são lindos – disse Mauro que não era muito de ficar perto de animais.

A fazenda do seu pai era composta por um punhado de terras arrendadas e o resto eram imensas plantações comerciais de cana de açúcar e soja. Sua casa sempre fora um local insípido onde nem mesmo os jardins floresciam.

Subiram por uma escada de madeira para o andar de cima onde havia uma porta também de madeira. Ao abrir deram com uma pequena sala conjugada com uma minúscula cozinha, mas tudo era muito organizado. Haviam duas poltronas em frente a uma TV em cima de um pequeno rack, uma mesa de granito com quatro cadeiras, um armário embutido na cozinha, um fogão de duas bocas, uma pia do lado deste, uma geladeira e um microondas.

Havia uma porta que devia dar para o quarto e uma grande janela com uma cortina clara esvoaçante na brisa.

— Aqui é o quarto – Duda abriu uma porta para um pequeno quarto com uma cama de solteiro, um armário, um baú e outra porta aberta onde ele via um banheiro de piso claro.

Em cima da colcha de retalhos da cama haviam pilhas arrumadas de roupas, no chão um par de botas, um tênis e chinelos. Haviam também artigos de higiene como escova de dente, pasta, pentes e um jogo de xampu e condicionador.

— Sua mãe não sabia o seu numero, mas ela achava que as roupas e os calçados iam servir.

Mauro tocou nas pilhas de roupas emocionado. Ele já havia se esquecido o que era um carinho de mãe, o que era uma preocupação sincera.    

— Preciso agradecer a ela.

— O jantar é as sete. Ai você agradece.

Ela se despediu e o deixou só.

Não sabendo muito o que fazer arrumou suas coisas no quarto e andou até a sala sentando em uma poltrona e ligou a TV para se distrair.

As quinze para sete vestiu uma camisa de mangas longas xadrez, uma calça jeans preta e as botas que eram bem usadas, mas confortáveis e foi até a casa que tinha a porta aberta depois de Kaila sair correndo atrás de Godofredo.

— Não se atreva a tocar na minha aranha de novo tiol – ela gritava possessa.

— Kaila! – Valentim quase tropeçou em Mauro e o olhou com desprezo antes de ir atrás da irmã e do tio que corriam pela estrada.

— Mauro – Wagner puxou ele para dentro – Saia do frio e deixe eles se matarem.

— Boa noite senhor.

— Por favor, só Wagner, senhor me fez sentir mais velho do que sou.

— Claro Wagner.

— Sabia que você podia ter ficado na casa menino.

— Me desculpe o trabalho que dei, mas eu acho que assim sua família vai se sentir mais à vontade e eu também.

— Se isso te faz feliz. Venha comer.

Entraram na sala indo para a mesa onde estava sua mãe que lhe sorria, dona Lucia com cara de poucos amigos, Dalton e um rapaz que devia ser um pouco mais novo que ele.

— Ola – disse o menino se levantando a apertando à mão de Mauro – Acho que não fomos apresentados já que eu estava dormindo, meu nome é Bruno e sou o caçula dessa família de loucos.

— Muito prazer Bruno.

— Da onde esse menino saiu exatamente? – perguntou dona Lucia olhando para Mauro só faltando rosnar.

— Mãe eu já conversei com você! – Wagner parecia contrariado – Deixe o menino em paz, o que ele menos precisa é do seu sarcasmo.

— Eu não sou sarcástica seu filho desnaturado! Eu devia ter ido para um asilo onde ia ser melhor tratada!

— Tenho ótimos endereços mãe.   

— Devem ter ti trocado na maternidade! Não tem como você ser meu filho.

— Eu concordo mãe e um exame de DNA pode nos ajudar enormemente.

Lucia bufou e voltou a comer.

— Coma Mauro – sem que ele percebesse sua mãe tinha feito o seu prato – Você quase não comeu o dia todo.

Vermelho pela atenção ele pegou o prato e pôs-se a comer quando Kaila, Godofredo e Valentim entraram.

— Será que os três podem parar e jantar agora? – perguntou Wagner contrariado.

Eles sentaram e Valentim lançava olhares de desprezo para Mauro que tinha vontade de jogar o copo de suco na cabeça dele.

“Como alguém pode ser tão nojento, burro, imbecil, pateta, bonito” ela quase engasgou ao pensar assim. Claro que o cara era bonito, ele não era cego ou idiota. Dalton também era bonito com aquele seu jeito doce e sorriso fácil. Era uma família de pessoas bonitas, mesmo as mulheres ele tinha que admitir. Kaila tinha cabelos longos, lisos e castanhos brilhantes, os olhos eram de um lindo tom de chocolate e seu corpo era magro, mas com boas curvas. Sua mãe sempre fora linda e ele tinha que admitir que ela continuava, mesmo dona Lucia mantinha resquícios dessa beleza.

— Me diga Mauro você sabe algo sobre fazendas? – perguntou Wagner para ele.

— Não muito senhor, mas posso aprender. Em casa eu costumava trabalhar no escritório do meu pai, mas não havia muita coisa mesmo já que boa parte das terras eram arrendadas.

— Podemos por ele junto com os peões para arrumar as cercas – disse Valentim olhando para ele com um estranho sorriso de lado.

— Eles estão arrumando as cercas Valentim – disse sua mãe contrariada – É um trabalho muito pesado para ele.

— Acho que ele não pode opinar muito e se algumas cercas são demais para ele imagine o resto. Talvez ele não seja capaz de fazer nada.

O sangue subiu à cabeça de Mauro. Ele pensava que não podia odiar o outro mais, todavia agora ele superou a faze da raiva para a fase do ódio.

— Mãe eu estou pronto para fazer qualquer trabalho. Posso muito bem ajudar com as cercas.

— Então estamos comb...

— Valentim – havia uma frieza na voz de Wagner que até Mauro estremeceu – Acho que sou eu quem coordena os trabalhadores e não me ouvi dizendo para onde ele vai.

— Desculpe pai – ele parecia envergonhado – Mas é o único trabalho disponível e toda ajuda é bem vinda.

— S... Wagner eu poderia tentar? – Mauro olhou para o homem – Talvez seja de alguma ajuda.

Ele tinha que fazer o outro mudar de ideia ou Valentim podia cumprir a sua promessa e avisar o seu pai.

— Vamos tentar Mauro, mas se perceber que não consegue quero que me fale. Não se sinta mal por isso, afinal é um trabalho duro.

— Obrigado.

Jantaram em silencio e Mauro percebeu que sua mãe não gostara nada do que ele ia fazer, mas não tinha opção. Com Valentim em cima dele era melhor assim.

Terminado o jantar ele rejeitou a sobremesa e voltou para a estrebaria sobre um céu coberto de estrelas.

Cansado ele sentou e resolveu dormir porque teria que acordar às cinco da manhã se queria acompanhar os outros na lida. Encontrara um velho despertador e o programou para as cinco e desligou a luz deitando.

Como a sua vida podia mudar tanto em vinte e quatro horas? Havia escapado do pai para as garras de Valentim que não tinha escrúpulos de atormentar a sua vida o enchendo de ameaças.

O que iria acontecer de agora em diante?

  

 

Um comentário:

  1. Dalla amei a foto do Mauro, posta uma do Valentim....kkkkkk... adoro cowboys...... Será que o Valentim é daqueles todo machões e protetores com quem ama.... são os meus preferidos... To doida que ele se apaixone pelo Mauro...kkkkk
    Até o proximo Capítulo..
    Beijos

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