Capitulo II
Mauro não sabia o que estava
acontecendo. Sua cabeça estava uma bagunça, mas ele se lembrava do pai com uma
arma atrás dele. Todavia o que ele estava fazendo ali? Em meio aquelas pessoas
estranhas e com a sua mãe em meio a elas. A moça perto dele havia chamado de
mãe, então ela havia continuado em frente, tinha uma família enquanto ele vivia
com um pai abusivo.
— Mãe? – Kaila arregalou os olhos
– Ele é...
— Mauro o que você está fazendo
aqui? – ela se aproximou e o rapaz sentou no sofá não sabendo se suas pernas
bambas conseguiriam sustentar seu peso.
Sacha tentou tocar o seu rosto,
mas ele se esquivou. A mulher tremeu e olhou para o marido com a mão no peito.
Sua mãe tinha envelhecido pouco
pela velha foto que ele tinha escondido em casa. Ela continuava com os mesmos
cabelos cor de mel longos, os olhos azuis escuros muito parecidos com os seus,
o rosto quase sem rugas, o corpo magro e bem formado alem de ser do seu
tamanho, com um metros e sessenta e oito.
De todos os lugares do mundo como
ele fora parar ali? Justamente ali? Onde sua mãe vivia! Parecia tão irreal que
sua cabeça doeu com mais intensidade.
— Como é que você entrou no meu
caminhão? – perguntou Dalton chegando perto dele.
— Pessoal o menino está confuso –
disse Wagner tentando apaziguar as coisas, mas ele mesmo estava pasmo ao saber
que aquele era o filho de suas esposa – Tenham um pouco de calma.
— Parece que você foi espancado –
disse Kaila colocando as mãos na cintura – Em que tipo de briga você se meteu? Sabia
que devia aprender um pouco de auto defesa para não ficar todo estropiado
assim?
— Kaila! – Wagner às vezes tinha
vontade de dar uns tapas na filha por causa de sua boca grande.
— Onde... onde eu to?
— Fazenda 3M no município de
Mendes, Paraná – Valentim estava perto da uma das grandes janelas olhando
desconfiado para o rapaz – Você se diz filho da nossa mãe...
— Valentim – Sacha olhou para o mais
velho com carinho – Esse é o Mauro, eu falei dele.
— Um filho desnaturado que nunca
veio ver a mãe.
— Que? – o rosto de Mauro ficou
vermelho se sobrepondo à palidez – Você não tem direito de falar assim comigo!
— Você está na minha casa e tenho
todo o direito.
Mauro se levantou bruscamente
cheio de raiva, mas o chão ondulou sobre os seus pés e ele caiu de volta ao
sofá nauseado.
— Valentim agora não é hora para
discussões – disse Wagner contrariado – Deixe Mauro se recuperar para poder nos
contar o que aconteceu.
— E vocês vão acreditar nele?
Todos aqui sabem o que a mãe passou por causa desse pedaço de merda!
— Cale a boca! – Mauro gritou – Você
e sua família não sabem nada da minha vida! E pode ficar sossegado eu não vou
tirar a mãe de vocês, nem mesmo a conheço; estou aqui por acaso e vou embora.
— Você não a conhece porque não
quis!
— Valentim chega! – o pai teve
que gritar algo que odiava fazer com seus filhos – Por favor, meu filho chega
de brigas em casa.
— Mauro você está ferido e
precisa de ajuda – disse Sacha sentando perto dele – Seu pai sabe onde está? Precisa
falar com ele?
— Não! – ele pulou em pé e
conseguiu se equilibrar sem cair – Meu pai não sabe nada e não precisa saber. Eu
estou indo embora!
— Já vai tarde – rosnou Valentim
do seu posto junto à janela e com os braços cruzados.
— Podemos ajudar você – disse Dalton
com a sua voz calma – Precisa de um médico.
— Não – ele foi indo em direção à
porta.
— Mauro por favor – Sacha foi até
ele e segurou seu braço mesmo ele tentando se esquivar – Por favor, fique aqui
e me conte o que esta acontecendo. Foi o seu pai? – ela tocou em um dos seus
hematomas na testa.
Mauro estava cheio de raiva e
sendo irracional, mas ele só queria ficar longe da família perfeita da sua mãe,
ver aquilo doía demais.
Ele puxou o braço e saiu.
Wagner foi até a esposa e a
abraçou pelos ombros.
— Não podemos prendê-lo aqui
Sacha. Ele é um homem adulto.
— Adulto? Olhe para ele! É apenas
uma criança sozinha. Preciso falar com o pai dele.
— E se foi o pai dele quem o
machucou? Precisamos saber antes.
— Vou falar com ele – disse Dalton
que de todos era o mais calmo.
O rapaz saiu para o dia claro e
viu o outro indo até a estrada com passos trôpegos.
— Teimoso – ele sorriu lembrando-se
da mãe que conseguia levar o pai à loucura quando queria algo.
Ele correu para a estrada caminhando
ao lado dele.
— O que você quer? – resmungou o
outro.
— Olha Mauro sei que deve estar
confuso e magoado pelas palavras de Valentim, mas ele está apenas pensando na
nossa mãe, na verdade madrasta, mas eu não consigo chamar ela assim. Ela é a
minha mãe do coração assim como é para Valentim, a Kaila e o Bruno. Sacha casou
com meu pai há oito anos e minha mãe tinha morrido no parto do Bruno. Sentíamos
muito a falta de alguém e meu pai estava virando um solitário até que encontrou-a
trabalhando em um boteco de parada de caminhões não muito longe daqui. Meu pai
disse que foi amor à primeira vista e no mesmo dia ele a trouxe para casa. Caímos
de amor por ela, mas era uma mulher desconfiada e demorou para nos mostrar
afeição. Pelo que soubemos o marido a expulsou de casa e o filho se recusava a
falar com ela...
— Como é?! – Mauro olhou
contrariado para ele – Eu nunca soube que ela tentasse falar comigo! Um dia
acordei e ela tinha ido embora. Meu pai ficou louco quebrou a casa, queimou as
fotos e... a verdade é que ela simplesmente desapareceu e eu nunca mais ouvi
falar dela.
— Essa foi à história que seu pai
contou Mauro? Você acredita mais nele?
Mauro torceu os lábios mordendo
as bochechas por dentro. Dalton estava certo. Seu pai nunca fora de confiança,
mas porque ela nunca ligara?
— Volte comigo e saiba da versão
da sua mãe Mauro.
— Acho melhor não. Seu irmão
demonstrou com todas as letras o que acha de mim e eu não quero ser motivo de
uma briga de família.
— Valentim está assim só porque
sabe de uma versão assim como você. Venha – ele segurou a sua mão – Você precisa
de cuidados e uma coisa quente para comer.
Mauro foi levado mansamente por
Dalton. Ele queria saber a verdade, mas também a possibilidade de viver na rua
e a fome falaram mais alto que seu orgulho.
Voltaram para a casa onde sua mãe
estava chorando junto ao marido e quando o viu correu e o abraçou. Ele não a
afastou, mas não retribuiu o aperto, Valentim o olhava com um desprezo mudo nos
olhos.
— Por favor meu filho, me deixe
explicar.
Mauro sentou em uma poltrona
torcendo as mãos.
— Mauro seu pai sempre foi um
homem violento – ele iniciou sorrindo para ele com os rosto molhado de lagrimas
– Eu estava ficando cansada dele me bater e das humilhações e entrei com o
processo de divórcio. Ele ficou louco de raiva e achei que ia me matar. Covarde
eu fugi no meio da noite achando que votaria para ti buscar, mas isso não
aconteceu. Seu pai mandou a policia atrás de mim dizendo que eu o roubara, mas
era uma acusação fraca, todavia fiquei presa por seis meses e depois tentei
falar com você. Fui até a sua escola já que tinha medo de ir até a casa. A diretora
disse que foi falar com você e que você não queria me ver e que me mandou
morrer – Mauro tentou falar, mas ela balançou a cabeça – Deixe eu terminar meu
amor. Ouvir aquilo foi a maior dor da minha vida. Fiquei sem rumo por algum
tempo e quando dei por mim estava em um velho bar tentando sobreviver, foi onde
conheci Wagner – ela olhou para o marido que lhe deu um cálido sorriso – E ele
me deu uma linda família. Todavia eu tinha esperanças de que você ainda
quisesse me ver. Tentei ligar, mas o telefone estava desligado e mandei cartas
todos os meses, durantes três anos. Um dia todas elas voltaram fechadas e alguém
que se identificou como você escrevia que não era para mim mandar mais nada, já
que ele não tinha mais mãe e que eu era uma desconhecida.
— Eu nunca soube de nada disso –
disse Mauro tremulo e cheio de raiva por seu pai.
— Como podemos saber se isso é
verdade? – Valentim voltou ao ataque – Ele pode estar aqui para aplicar um
golpe a mando do pai dele. Eu não acredito em coincidências e duvido que fosse
o acaso que o trouxe aqui.
— Você não tem que acreditar nas
minhas palavras – retrucou Mauro levantando – Mas eu não tinha a mínima ideia
de quem era o caminhão quando me escondi nele.
— Se escondeu? – Wagner o olhou –
O que aconteceu com você Mauro?
Mauro não respondeu. Como ele
podia? Como contaria para a sua mãe e todos a sua volta que fora caçado por seu
pai ao dizer que era gay? Seria jogado na rua novamente.
— Quando você estiver pronto vai
nos contar – disse Sacha – Agora você precisa de um banho e algo para comer.
— Ele não pode ficar aqui! –
agora Valentim estava quase gritando – Não estão vendo que é o mesmo que trazer
uma cobra para dentro de casa?
Mauro estava cansado das
acusações e das brigas, mas parecia que elas o perseguiam sem trégua. Sua cabeça
latejava e ele não tinha como pensar no seu futuro já que não via uma luz nele.
— Valentim você não é de acusar
as pessoas sem prova – disse Dalton contrariado – Acha mesmo que podemos deixar
ele na rua? Sem casa?
Dalton não era de ficar dando
lição de moral em sua família, ele preferia ficar quieto, mas ele não podia
aceitar que o irmão mais velho achasse que era melhor deixar o garoto entregue
à sua sorte, isso seria cruel.
Valentim saiu intempestivamente.
— Isso passa – disse Sacha para
Mauro – Ele é uma boa pessoa.
— Vem comigo – disse Dalton
sorrindo para ele e o levando para o andar de cima.
O quarto de Dalton era cheio de
esculturas de madeira e argila, quadros nas paredes, um velho tapete de lã no
chão, uma cama de casal com uma colcha de retalhos, um guarda-roupa de madeira
vermelha, uma mesa perto da janela onde haviam mais esculturas sem terminar e
uma poltrona de couro.
— Desculpa a baderna – disse o
outro sorrindo.
Mauro segurou uma escultura
admirando a beleza de peça. Eram na sua maioria de animais, mas haviam também
de seres humanos. Uma de argila mostrava um homem nu deitado com a mão no peito
e olhar sedutor.
— São lindas.
— Obrigado – Dalton abriu o
armário – Olha sou maior que você, mas acho que encontro um moletom.
Ele lhe estendeu uma calça de
moletom marrom, uma camiseta branca e uma cueca boxer e apontou para uma porta
que ele não tinha reparado.
— Ali é o banheiro, pode ficar a
vontade.
— Mais uma vez obrigado Dalton
por sua gentileza.
Ele entrou no banheiro pequeno,
mas bem montado. As paredes eram azuis forradas de pastilhas, as peças do
banheiro eram pretas, mas a pedra de mármore da pia eram claros e o armário debaixo
desta, branco.
Lentamente e sentindo dores por
todo o lado ele se despiu e entrou no jato quente do chuveiro.
Sua cabeça voltou a latejar e ele
procurou não pensar na confusão que era agora a sua vida. Não tinha uma peça de
roupa ou um documento. Ia precisar de um emprego e um lugar para morar, talvez
uma pensão.
Terminou logo o banho e se vestiu
colocando a roupa suja no cesto e foi para o quarto onde Dalton trabalhava com
uma afiada faca terminando sua escultura.
— Melhor?
— Melhor, mas parece que um
caminhão passou por cima de mim – ele deu um sorriso fraco sentando na cama.
— Porque não deita um pouco? Depois
trago algo para você comer.
Mauro pensou em recusar, mas seu
corpo clamava pela cama macia e mesmo constrangido por deitar em uma cama que
não era a sua ele se esticou em cima do edredom de apagou.
Dalton deu um sorriso de pegou
uma manta colocando em cima do menino.
— Parece que você tem uma longa
estrada irmãozinho – ele fez um carinho nos cabelos dele e resolveu descer.
Na sala todos tomavam café menos
Valentim.
— Cadê Mauro Dalton? – perguntou sua
mãe preocupada.
— Capotou na cama. Deixei-o
dormindo já que ele parecia mais cansado que com fome. Assim que ele acordar
trago ele para comer algo – olhou em volta – Cadê a vovó Lucia.
— Na casa da Maria Betânia –
disse Godofredo que não estava presente na cena, mas Kaila já fofocara tudo
para o tio – Cada coisa que a gente não vê todo dia. O menino entrou no
caminhão logo do enteado de mãe desaparecida. Ah! Isso daria um bom roteiro e
bem meloso para a novela das sete.
— Isso não é brincadeira
Godofredo – disse Sacha contrariada para o cunhado – Mauro está fugindo do pai,
tenho certeza disso. Luis Gustavo costumava me deixar com os mesmos machucados.
— Deveríamos ter ido vê-lo há
mais tempo – resmungou Wagner – Tudo isso acabou virando um monte de mal
entendidos.
— Não tínhamos como saber – disse
Kaila que preferiu não fazer brincadeiras ao ver a mãe tão arrasada – Mas gente
o Bruno ta com uma vida mansa demais. Cadê ele?
— Dormindo Kaila e deixe seu
irmão em paz! – disse Sacha olhando feio para a filha – Ele ficou até tarde
ajudando Valentim com o veterinário no parto de uma das suas éguas.
— Eu não posso ver aquilo – a moça
fez cara de nojo – Eu tenho vontade de vomitar.
Durante algum tempo a família
continuou a discutir sobre o que tinha acontecido e nesse meio tempo Mauro
acordou de um pesadelo com um sobressalto e sentou na cama ofegante e tremulo.
— Acho que temos que conversar.
O coração de Mauro pulou ao ver
Valentim parado perto da cama com cara de poucos amigos.
OH!!! Dalla... Está ótima a continuação... Será que o Valentim vai se apaixonar pelo Mauro... ou será o Dalton....kkkkkkk...Tô esperando ansiosa o próximo capítulo...
ResponderExcluirBEIJOS... OBRIGADA por permitir que desfrutemos do seu talento pra escrever...
Nossa, to morrendo de curiosidade para saber o resta da trama, esta otima, tomara q o Valentim fique perdidamente apaixonado pelo Mauro rsrsrs...Parabéns pelo blog, esta incrível!!Bjs.
ResponderExcluirAdorei! Torço pelo Mauro e Valentim. Esperando pelo proximo capitulo.
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