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domingo, 30 de dezembro de 2012

A Busca da Felicidade - Capitulo IV

                                                                         Valentim






Capitulo VI


Quando o despertador tocou às cinco da manhã Mauro gemeu e colocou o travesseiro em cima da cabeça ao ver que ainda era escuro lá fora.

Arrastou-se para o banheiro onde tomou um banho para acordar e vestiu-se com uma camisa de mangas longas por causa do sol, uma calça jeans mais velha, meias e as botas.

Saiu para o lusco fusco da manhã. No horizonte já havia uma leve claridade e ele podia ouvir os sons do amanhecer: os pássaros cantavam com intensidade, um galo anunciava um novo dia e em algum lugar uma vaca mugia.

Andou até a casa de sua mãe e entrou pela porta da cozinha. Ali Duda já estava a toda preparando o café.

— Bom dia Mauro – disse ela sorrindo e tirando do forno uma assadeira com pães – Dormiu bem?

 — Dormi como uma pedra, obrigado. Precisa de ajuda?

— Bem, cê sabe cozinhar?

— Han... – ele coçou a cabeça – Não.

— Então senta ai e coma seu café. Logo todo mundo vai ter se levantado e a lida começa.

Mauro sentou-se à mesa e Duda colocou diante dele pão, queijo, leite, café e ovos mexidos. Mesmo sendo cedo ele se esforçou para comer tudo. Nesse meio tempo a casa começou a ganhar vida e o primeiro a chegar foi Valentim vestido com uma camisa azul de manga longa, calça jeans azul e botas de cano alto. Seus cabelos estavam molhados e penteados para trás e ele trazia um chapéu na mão parecido com aqueles que Indiana Jones usava nos filmes.

— Bom dia Duda – disse ele para a moça ignorando Mauro.

“Bom, dois podem jogar esse jogo” pensou ele atacando os ovos com fúria, sua vontade era que fosse a cada do idiota à sua frente.

— Bom dia Valentim e caso não tenha visto, o que acho improvável, Mauro está bem na sua frente e também merece um bom dia.

O outro olhou contrariado para a moça, mas resmungou um bom dia para Mauro que respondeu de má vontade também.

— Pensei que ia ter que te arrancar da cama – atacou Valentim com sarcasmo.

Mauro não respondeu continuando a comer. Para o seu deleite Valentim ficou vermelho ao ver que ele não respondia.

— Coma logo que temos que sair – mandou o outro e cada vez mais Mauro bolava planos para matar o enteado de sua mãe.

Assim que acabaram saíram para o dia. O sol estava nascendo com alguns raios que escapavam do horizonte banhavam as árvores mais altas. Um vento frio, mas revigorante soprava e Mauro respirou fundo se sentindo vivo depois de muito tempo. Era como sair de um longo tempo em uma prisão.

Com cara de quem ia para a forca, Valentim levou ele para a garagem. Era um galpão largo e comprido com três caminhonetes S10 cabine dupla sendo duas prateadas e uma preta e uma moto vermelha suja de lama.

Valentim foi até a caminhoneta preta e a destrancou fazendo um sinal para que Mauro entrasse.

Enquanto andavam pelos campos nem um dos dois trocaram uma palavra e o rapaz agradecia por isso já que ainda tinha vontade de matar o outro.

Atravessaram campos de soja e foram para o sul onde grandes pastos se estendiam por todo o lado. Perto de uma mata havia um grupo de pessoas perto de uma cerca semi pronta e uma pilha de mourões.

— Bom dia pessoal – disse Valentim saindo do carro, Mauro o seguiu olhando para os homens.

Eram fortes e altos em um total de cinco pessoas.

— Esse é Mauro e vai ajudar vocês – o sorriso dele deu calafrios no rapaz.

— Parece que ele vai quebrar Valentim – disse o mais velho dele – Não preciso de um guri aqui e sim de homens fortes para terminar a cerca antes dos bois do seu pai chegar.

— Será que posso falar com você Giovanni? – perguntou Valentim para o mais velho e os dois se afastaram deixando um constrangido Mauro para trás.

— Não se preocupe – disse o mais jovem deles chegando perto de Mauro – Meu nome é Heitor e Giovanni é meu pai. Não esquenta que o latido é pior que a mordida. Esses são Luis Fabio, Murilo e Francisco.

— Muito prazer – disse Mauro para os outros que o saldaram com educação.

Heitor era bem alto, devia ter fácil mais de um metro e noventa. Os cabelos castanhos apareciam em cachos pelo chapéu de palha que usava e seus olhos eram um brilhante verde claro que pareciam hipnotizar quem olhasse para ele. O sorriso parecia fácil nos seus lábios cheios e sensuais que davam vontade de beijar...

“Foco Mauro!” resmungou consigo mesmo “Não é hora para pensar em beijos ou homens, alem de tudo ele não podia ser gay nunca! Um cara cheio de músculos e viril.”

Durante sua vida ele viveu na pequena cidade. Seu pai nunca deixou sair de lá e estava acostumado aos gays que viviam lá, na verdade os poucos que via na rua antes que seu pai soltar os cachorros neles. Alguns eram tão afetados e efeminados...

— Vamos então trabalhar – Giovanni voltando para os outros com a cara inda mais fechada.

Valentim foi embora e Mauro agradeceu por isso, mas minutos depois ele não tinha mais nada a agradecer.

Giovanni o colocou ele para carregar os mourões até onde os outros furavam os buracos e construíam a cerca.

Cada mourão tinha um metro e oitenta de altura, eram feitos de eucalipto tratado, com aproximadamente oito centímetros de largura e pesavam cerca de cinqüenta quilos cada, se levarmos em consideração que Mauro pesava cinqüenta e cinco ele estava tentando carregar o próprio peso no ombro.

Heitor pediu para o pai deixar ele ajudar os outros a esticar o arame, mas o pai se negou deixando o filho bem contrariado.

Não vendo outro jeito Mauro colocou um dos mourões em pé e dobrou o joelhos numa tentativa de colocar seu ombro no meio dele e o içar, mas algumas vezes ele não tinha sucesso e caia para trás com madeira e tudo.

Seu ombro protestava e gritava de dor na segunda entrega e cada vez eles estavam ficando mais longe. Por volta das onze horas Giovanni deu ordem de parada e Mauro caiu exausto perto da pilha de madeira de cerca achando que ia ter que amputar o ombro tal à dor.

— Aqui – Giovanni entregou para ele um pano grosso e dobrado – Coloque em cima do ombro quando pegar o próximo mourão vai ajudar com a dor. Está fazendo um bom trabalho – disse quase a contra gosto.

Uma caminhoneta prateada se aproximou. Ele pode ver a mãe no volante.

— Oi dona Sacha! – Heitor acenou alegre.

Sacha parou o veiculo perto deles.

Ela estava preocupada com o filho desde cedo e ao vê-lo ali com a cara cansada e branca ficou aflita. Aquele era um serviço duro até mesmo para homens mais fortes, por isso mesmo as cercas eram feitas pela equipe de Giovanni que atendiam toda a região e eram homens altos e fortes.

— Bom dia garotos. Que tal almoçar?

A fazenda oferecia a alimentação de quem trabalhava nela.

Cada um foi buscar correndo sua marmita junto com um litro de suco, mas Mauro continuava ali parado. Ela pegou uma das marmitas e uma garrafa de suco e foi até ele.   

— Almoço? – perguntou ela sorrindo e entregando as coisas para ele.

— Obrigado mãe.

— Como está o trabalho – ela sentou perto dele.

— Meio pesado, mas estou dando conta – omitiu a parte que seu ombro doía como uma merda e que ele não sabia como continuar.

— Eu queria conversar com você, queria que nos conhecêssemos novamente. Sei que o tempo que perdemos não vai mais voltar, mas podemos tentar algo de agora em diante.

— Claro mãe. Eu gostaria.

Ela sorriu para ele e dando um beijo em seu rosto foi embora. Ele conseguiu engolir um pouco, mas a dor embrulhava o seu estômago.

Giovanni teve que voltar a cidade para buscar mais arame e Heitor o empurrou para longe das toras e começou a carregá-las ele mesmo. Foi ajudar aos outros a fixar elas no chão e assim quando o pai dele estava de volta boa parte da cerca estava feita e restava ajustar o arame que não era farpado para não causar estragos no couro dos animais.

Heitor levou um exausto Mauro em casa.

— Deite e descanse – disse ele se inclinando para o menino.

— Nem precisa dizer duas vezes – resmungou ele massageando os ombros – Acredite que vou ter o maior respeito pelas cercas de agora em diante.

— Eu não sei o que deu na cabeça do meu pai para obrigar você a carregar os mourões. Você tem um corpo magro e delicado, não é para isso.

— Acho que vou conseguir uns músculos agora – disse ele em tom de riso, mas o rosto vermelho pelo elogio.

— Você está corando! Que gracinha! – ele apertou as bochechas de Mauro que ficou ainda mais vermelho e bateu nas mãos dele.

— Ai! Odeio quando apertam as minhas bochechas!

— Ninguém cora mais hoje em dia, só achei uma graça – ele se aprumou no volante – Até a manhã Mauro.

— Tchau!

Mauro entrou na estrebaria tocando no rosto lembrando das grandes e ásperas mãos do trabalhador e seu pênis teve o desplante de começar a endurecer.

— Merda – resmungou ele para um dos belos cavalos malhados que estavam na baia e voltou a subir as escadas.

Retirou a roupa e foi para o pequeno banheiro onde olhou a mancha roxa que já se formava em seu ombro e para o membro desperto.

— Maravilha – resmungou ele – Preciso de um banho gelado. To tão cansado que nem me masturbar eu consigo.

Ficou um bom tempo debaixo do jato do chuveiro e depois se arrastou para a cama. Não tinha energia para jantar e nem queria ver a cara do Valentim ou ia acabar fazendo bobagem. Enfiou-se no meio dos cobertores e apagou acordando com alguém batendo na sua porta.

Gemendo percebeu que eram oito da noite. Abriu a porta e deu de cara com a sua mãe com uma expressão preocupada em um prato coberto por um guardanapo.

— Mauro você não foi comer e eu fiquei preocupada.

— Desculpa mãe, mas o serviço me deixou cansado. Acho que estou destreinado – ele deu uma risada.

— Mas precisa comer – ele deixou o prato na mesa e sentou na cadeira – Venha menino eu só vou embora quando limpar o prato.

Ele não teve opção em sentar e começar a comer o frango com polenta que estava muito bom. Nesse meio tempo ele começou a contar para ela sua infância e adolescência pulando algumas partes como as agressões do pai.

— Você nunca foi à faculdade filho?

— Eu sou muito burro para isso – disse ele dando de ombros e não ligando.

— Quem disse essa bobagem?

— As minhas notas, meu pai, todo mundo.

— Mauro eu não acredito nisso! Você se deixou influenciar pela opinião dos outros? Eu não acho você burro, aliais que definição idiota! As pessoas podem ser boas em uma coisa e não em outras se serem consideradas burras!

— Eu não sei mãe. Eu nunca fui bom em nada.

— Pois a gente vai descobrir – ela fez uma caricia em sua mão – Agora vá dormir para descansar – ela lhe deu um beijo e pegou o prato – Boa noite meu amor.

— Boa noite mãe.

Ele voltou para a cama com o coração aquecido pelas palavras dela. Por muito tempo seu pai o xingou de burro e retardado e isso acabou pegando na cidade e na escola. As suas notas foram caindo no mesmo ritmo que o bullyng que sofria.

Socou o travesseiro. Chega de pensar no passado, o presente já era ruim demais para ficar remoendo o que já passou.

~~***~~

A semana passou como um borrão de cansaço para Mauro que nem mesmo vontade de xingar Valentim tinha, mesmo porque pouco se viam. Ele tomava café sedo e Heitor passava e pegava ele, à noite Duda lavava o jantar dele o que fora um ótimo arranjo mesmo que sua mãe parece desgostar.

Ele acabou conhecendo mais Heitor e Giovanni que a família de sua mãe.

Depois do primeiro dia ele meio que conquistara o respeito do mais velho, mas inda não deixava de carregar os mourões.

Na sexta feira as quatro faltava apenas uma hora para o fim do trabalho e o rapaz não via a hora e ir para casa e dormir umas vinte e quatro horas.

Segurou o ultimo mourão (graças a Deus!) e foi em direção a equipe que estava subindo um terreno bem inclinado o que era complicado para ele ao arrastar dezenas de quilos de madeira para cima.

Ele podia ouvir Giovanni resmungar de Francisco dizendo que o trabalho estava torto e Chico resmungava que ele não via nada torto e por ai vai. Giovanni não estava feliz se não reclamava de algo.

Mauro levantou a cabeça olhando para Heitor que estava em cima do morro rindo para ele.

De repente seu pé prendeu em algo e o tombo foi inevitável. Ele caiu com tudo no chão e a tora de madeira caiu em cima de seu ombro machucado o que lhe rendeu um grito de dor e ele acabou ralando pelo capim.

— Mauro! – Heitor gritou o correu para ele conseguindo parar a sua queda, mas o rapaz estava branco de dor e já meio inconsciente – Mauro!

Ele escutou Heitor o chamar, mas parecia vir de muito longe e ele estava mais interessado em cair naquele escuridão onde não havia mais dor dilacerando o seu braço. Depois disso tudo foi um borrão de vozes e cores até que ele ficou um pouco mais consciente ao ser colocado em uma maca por Heitor.

— Heitor – resmungou ele segurando a barra da camisa dele.

— Mauro graças a Deus. Olha você está em um hospital e vão ti levar para fazer exames.

Ele não queria ficar nas mãos de desconhecidos, mas eles o levaram pelos corredores brancos e insípidos do hospital para uma sala de raios X. Depois havia um médico perto dele falando dele ter deslocado o ombro e que iam colocar no lugar e antes que ele pudesse pensar o homem segurou seu ombro e o empurrou para dentro. Se ter o mourão caindo no seu braço doeu recolocar o ombro no lugar foi dez vezes pior e lagrimas de dor começaram a descer por seu rosto. Ele foi colocado no soro depois de ter o ombro enfaixado para diminuir a dor. Finalmente a dor pareceu ceder um pouco.

Minutos depois algumas pessoas entraram na sala de recuperação era sua mãe e Wagner.

— Mauro! – ela tocou na minha testa com carinho – Você me deu um grande susto sabia?

— Acho que topei com um buraco de tatu. Deviam proibir eles de fazer casas no pasto – tentei fazer um pouco de humor, mas nem um dos dois estava para isso.

— Porque você estava carregando madeira Mauro? – Wagner parecia bastante chateado.

— Foi culpa minha Wagner. Eu achava que conseguia – o que menos queria era que Giovanni ou Heitor se metessem encrencas por minha causa.

— Sabia que podia ter mais que um ombro deslocado Mauro? Você podia ter morrido ali e ter metido a mim a Giovanni em sérios problemas. Percebe isso!

Mauro engoliu em seco. Por um momento a figura de Wagner e seu pai se misturaram e ele começou a tremer. Droga ele não tinha culpa! Não merecia isso.

— Wagner – Sacha queria dar uns tapas no marido – Olhe para ele! O menino está tremendo com seus gritos!

Ele parou e olhou envergonhado para o rapaz pálido ali deitado. Sem camisa ele podia ver o corpo magro do menino e o ombro enfaixado, mas foram os olhos tomado de terror que o deixou pior. Sacha contara a ele sobre o ex marido e se Luis Gustavo fazia o mesmo com o menino era claro que ele tinha medo, na verdade pavor, de explosões de raiva.

— Desculpe Mauro – ele tocou com delicadeza o ombro que não estava machucado – Eu exagerei.

— O senhor está certo – ele respondeu sem olhar para a mãe ou Wagner – Eu podia causar um problemas dos grandes para vocês já que nem mesmo documentos eu tenho. Eu nunca quis isso mãe, Senhor Wagner. Sua família me acolheu no momento mais difícil dela e eu não sei como agradecer, mas acho que tenho que ir embora, talvez voltar para casa.

— Mauro – Wagner levantou o queixo dele – Você vai para casa sim, mas a sua casa de verdade, aqui em Mendes conosco e não com o homem violento que seu pai é. Jamais deixarei que volte para lá e ser ferido de novo, entendeu? Desculpe ter sido um idiota, mas às vezes eu faço isso, pergunte aos outros.

Droga ele não queria chorar, mas não conseguia mais resistir e desabou em lagrimas no ombro da mãe que afagava os seus cabelos com amor falando palavras de conforto para ele, mas outra coisa fez ele estremecer. Quando Valentim descobrir o que tinha acontecido iria entregar ele para o pai?   

3 comentários:

  1. oi... amo seu blog e adoro de paixão seus contos.
    fico olhando toda hora para ver se tem postado algo novo rsrsrs amo acho cada um melhor que outro estou amando mauro e também valentin...
    brigadão.
    bjs de sua fã vilma

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  2. oie..adroro seus contos, estou dentindo falta "Rumo ao Paraiso"...vc vai dar continuidade?...ESPERO Q SIM...
    BJOS
    GISELLY

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  3. É difícil ler uma história sua sem ter crise de risos ou de lágrimas... É incrível a capacidade e a profundidade de seus textos. sou seu fã. Não tem jeito.

    Mais uma história linda...! Mauro, Valentim, Heitor... o que vai dar nesse triangulo? Muito obrigado por nos presentear com mais uma narrativa sensível, humana, bem contada e com muita emoção! Felicidades.

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