Capitulo Quatro
Foi apenas um resmungo, mas foi o bastante para acordar Fabian. Ainda tonto de sono ele saiu do calor das cobertas indo para o lado do berço onde seu filho havia acordado e resmungava balançando os pequenos punhos.
— Bom dia Gabriel – disse ele pegando o pequeno filho e levando até a sua cama ao perceber que ele precisava trocar a fralda.
Antes de ser pai ele pensava que não era capaz de fazer isso sem vomitar, mas depois de tantos meses ele já nem mais ligava. Com o bebê no colo desceu para a cozinha esquentar leite para ele e enquanto o leite amornava em uma panela, ele olhou o céu escuro pelos vidros da janela da cozinha.
O relógio marcava quatro e cinqüenta da manhã, mesmo assim lá fora estava cheio de sons. Vacas mugiam, pessoas conversavam passando na gente da casa, um galo cantou de modo estridente ao longe, cachorros latiam alegres e havia o som de milhares de pássaros chilreando por todo o lado.
Sentou em uma cadeira dando o mama para o menino que sorvia com avidez o leite ouvindo o barulho do chuveiro no andar de cima. Seu irmão acordava para mais um dia de trabalho assim como aquelas pessoas lá fora. A vida na fazenda começava cedo. Em São Paulo também se tinha que acordar as vezes até mais cedo para chegar na hora no trabalho, enfrentado transito engarrafado ou transporte público super lotado.
Ali não havia a correria ou a poluição. O ar cheirava a terra, mato e flores que ele podia sentir mesmo dentro da casa.
O céu começou a ficar levemente roxo com veios rosas quando o menino se deu por satisfeito. Ele colocou-o no ombro para arrotar e Márcio desceu as escadas vestindo jeans, botas de cano alto, camisa de flanela e jaqueta jeans. Seus cabelos estavam levemente úmidos e ele sorriu ao ver o irmão ali.
— Bom dia! Acordaram cedo!
— O Gabriel sempre mama nessa hora. Nunca vi ninguém mais pontual. Gostaria que eu fizesse o café?
— Na verdade eu tomo café com os peões no refeitório deles – ele piscou um olho – A Aninha é uma rabugenta, mas faz um pão de queijo como ninguém. Vou lá buscar para você, ta frio demais para sair com o pequeno.
Ele pegou uma garrafa térmica no armário e abriu a porta para o ar frio da manhã.
O bebê finalmente dormia e ele o levou de volta ao berço descendo quando Márcio chegava com a garrafa e um recipiente de plástico grande.
Eles arrumaram a mesa e seu irmão destapou o pote percebendo que ele tinha trazido bolos, pães caseiros e pães de queijo para um batalhão.
— Acho que a Aninha ta achando que você precisa engordar! – Mário riu.
— Eu acho que estou ótimo, mas se continuar a comer a comida dela vou engordar mesmo – respondeu o outro revirando os olhos ao mastigar um pedaço de bolo da fubá.
— Não elogia não ou ela vai ficar insuportável!
— Ela é uma graça – olhou Márcio – Você e seu patrão tem uma relação estranha, eu não esperava isso de um patrão e um empregado.
— Laércio trata cada um de nós como parte de sua família, Fabian. Ele participa de todas as festas de aniversário, dá presentes a todos, é convidado para as festas de formatura e para ser padrinho de muitos bebês que nascem nas famílias dos moradores.
— Ele é muito rico?
— Está entre os vinte mais ricos do mundo.
Fabian quase engasgou.
— Ual!
— Isso tudo era do avô dele. Seu Antonio foi vaqueiro no pantanal e conseguiu comprar terras aqui quando isso era um sertão. Foi ganhando dinheiro com gado e café, construindo seu império de terras que ele foi conquistando. Ele tinha uma única filha e ela se casou com um comerciante rico da capital contra a vontade dele e foi embora brigada, nunca mais voltando. Laércio cresceu na capital, longe das suas raízes no interior, mas quando contou aos pais que era bissexual aos catorze anos e seus pais não aceitaram. Ele fugiu de casa com a roupa do corpo e pedindo carona chegou até a fazenda de um avô que ele não conhecia. Seu Antonio era um homem sério e por vezes conservador, mas aceitou o neto e sua opção sexual nunca tentando mudar isso. Pelo que sei os pais de Laércio nunca mais tentaram entrar em contato com ele, mas se quer saber a minha opinião ele não perdeu nada. Seu Antonio tinha o maior orgulho do homem que havia virado o neto.
— De pais ignorantes eu entendo – disse Fabian triste.
— Fabian – Márcio passou a mão no cabelo do irmão – Agora você está começando sua nova vida. Descanse esses dias e conheça a fazenda – levantou e pegou o chapéu – Vai haver muito tempo para que você pense no futuro, mas não se esqueça, você está em casa.
Lara de Rebelo e Rosar olhou para a casa de fazenda pintada de branco sorrindo pela primeira vez em muito tempo.
Havia investido ali todo o dinheiro que sua mãe havia deixado assim como do marido morto, mas deste ele não queria lembrar.
Criada em uma fazenda do interior do estado de Santa Catarina ele sempre quisera voltar para o campo, mas o marido dominador odiava qualquer coisa ligada ao meio rural. Quando Alonzo morreu em um acidente de carro há um ano ela começou a colar os cacos de sua vida.
Seus pais estavam mortos, Alonzo não tinha família. Ela estava sozinha para tomar as rédeas de sua vida e fazer o que quiser, mas assim como a liberdade trazia coisas boas com ela havia também a incerteza de estar fazendo o certo, de não estar jogando no lixo o dinheiro que tinha.
Ao parar o jipe Land Hover que havia comprado em um ataque de extravagância na porta da sua nova casa, percebeu que fizera o certo. Cortara todas as amarras com aquela vida que tivera ao lado do seu marido. Era hora de esquecer todo o pesadelo e seguir em frente.
Ela ainda era jovem com apenas vinte e oito anos. Longos cabelos loiros dourados e intensos olhos verdes. Seu corpo era cheio de curvas que seu marido odiava, vivia dizendo que ela estava gorda e por vezes a trancava no quarto só com água. Ele dizia que assim era melhor que i spar.
Bateu a porta do jipe com mais força que o necessário. Não ia mais pensar nisso. Ela se recusava a deixar as lembranças naquele louco destruírem a sua vida. Estava recomeçando e isso incluía novas lembranças que ela ia construir. Sabia que sempre haveria aquele lugar escuro dentro de sua mente onde as lembranças de sete anos vivendo com um maldito louco como Alonzo iam estar, o que ela podia fazer era não deixar com que isso regesse a sua vida.
Deixando as malas no carro andou até a casa em estilo colonial com as paredes pintadas de brancos e as janelas amplas azuis. A base era da casa era feita de pedras e a casa era cercada de uma ampla varanda cheia de samambaias e poltronas. A casa era cercada por um grande gramado bem aparado com vários canteiros de rosas de várias cores. Havia também uma piscina que não era visível naquela parte.
Ela mandara reformar tudo e concertar tudo. Haviam agora instalações modernas para o inicio da produção de leite que ele ia destinar a produção de queijos mineiros, ricota e queijo árabe, muito usado e procurado na região.
Os galpões estavam um pouco afastados e eram o curral, seu bezerreiro onde os bezerros iam ficar, a sala de ordenha, a fabrica de queijo e um barracão maior onde ficavam tratores e implementos agrícolas. Havia também a casa do caseiro, a o administrador e outra de um casal que cuidava da fazenda.
Ao longe viam-se as vacas pastando no pato seco, mas logo que a chuva da primavera caísse eles iam ficar verdes novamente. Enquanto isso a alimentação ia ser reforçada com o capim colonial e ração para que a produção de leite não se perdesse.
A porta de madeira da casa foi aberta por uma senhora gordinha e de pele morena que sorriu para ela.
Maria do Rosário Silva fora sua empregada e uma das únicas amigas em São Paulo, quando resolvera recomeçar a sua vida havia convidado Maria, seu marido Jorge e sua filha Marta para morarem na fazenda o que fora prontamente aceito pela família que a ajudara nos tempos difíceis.
— Bem vinda Lara – disse a senhora beijando o rosto da moça – Eu já estava preocupada com você nessa estrada.
— Sabe que eu sou boa motorista Maria – ele sorriu e devolveu o beijo – Como vão as coisas?
— Tá tudo bem – eles entraram na varanda de pisos cerâmicos e colunas de sustentação de madeira.
O interior da casa era também pintado de branco, com o chão de madeira recém envernizado. A sala tinha sofás em tons pasteis com poltronas floridas, mesas antigas e cristaleiras. Havia a um canto uma grande mesa de dez lugares que estava jogada na casa e que fora reformada. Os lustres no teto eram antigos, mas depois de uma limpeza tudo brilhava. Havia cheiro de cera e limpeza no ar que era aquecido pelo sol que entreva das janelas abertas para a brisa da manhã.
Elas foram até a cozinha enorme com paredes revestidas de pisos brancos, com um grande fogão a lenha de um lado onde labaredas lambiam as panelas que borbulhavam. Outra parte da cozinha era mais moderna, com armários pretos com detalhes brancos, eletrodomésticos e uma mesa de granito onde estava posto um grande café com bolinhos de chuva ainda quentes.
— Você fez bolinhos de chuva? – Lara abraçou a amiga – Como sabia que eu estava louca de saudade dos seus bolinhos?
— Uma mãe sempre sabe sobre os seus filhos.
— Cê não vai me fazer chorar, não é? – mas já haviam lágrimas nos olhos da moça ao abraçar a senhora.
— Não é essa a minha intenção filha. A coisa que mais quero é vê-la feliz finalmente.
— Então vamos começar agora! Vamos aos bolinhos!
Laércio havia ido a cidade buscar as vacinas que havia encomendado na loja de produtos agrícolas da cidade e enquanto observava as sementes de tomate cereja em uma prateleira ouvia os fazendeiros a sua volta.
— Soube que uma moleca da cidade comprou a fazenda do seu Célio? – perguntava um senhor alto e magro com um chapéu furado.
Ele era dono de uma grande fazenda de café, mas se vestia de uma maneira com roupas velhas e rasgadas.
Seu companheiro de fofocas era um outro fazendeiro com grandes bigodes, botas cobertas de bosta de vaca e cheirando a chiqueiro.
— Outra aventureira que acha que pode tocar uma fazenda. Não deve passar de uma puta da cidade grande.
Revirando os olhos ele pegou alguns pacotes de sementes de tomate para dar para Lucas usar em sua amada horta e foi rumo ao caixa. Um senhor sério e negro que Laércio conhecia há muitos anos.
— Bom dia seu Teo.
— Bom dia menino. Suas vacinas chegaram – lançou um olhar reprovador para os dois que olhavam as mercadorias com desdém – Eles se acharam outro coitado para fofocar.
— Estão falando da moça que comprou a fazenda perto de minha. Não sei muito, só que ela vai fazer queijo e já contratou empregados. É sempre bom ter alguém disposto a investir na cidade.
— Graças a Deus os jovens fazem isso, por que se dependesse desses fazendeiros velhos...
Ele deixou a frase no ar enquanto pegava o cartão de Laércio que percebera que os fazendeiros o olhavam de lado. Chegava a ser engraçado depois de tantos anos ele ainda ser motivo de chacota daqueles senhores que ainda não haviam percebido que a época dos coronéis havia acabado. Eles desaprovavam seu jeito de cuidar dos negócios e de tratar seus empregados como parte da família e mais que isso eles não suportavam o fato dele sair com homens.
— Deixe eles – resmungou seu Teo entregando suas coisas em uma sacola – O tempo passou, mas esses homens ainda não se deram conta. Quando perceberem isso vai ser tarde demais.
Laércio sorriu para o amigo e de despediu saindo da loja e indo para a sua caminhoneta parada no meio fio.
Rumou para a sua fazenda deixando de lado os fazendeiros para pensar em seu problema imediato, uma baba para os seus filhos. Eles eram já eram grandes, mas eles tinham a tendência de conseguir arranjar problemas o tempo todo e isso o deixava de cabelos brancos. Precisava de alguém em quem confiar e que fosse de pulso firme com eles.
Parou perto de casa e ao sair da caminhonete foi atacado por Anúbis que pulou em seu peito lambendo seu rosto como um louco.
— Anúbis para! – infelizmente o cachorro nunca havia obedecido a ele e só parou a sessão de lambidas para correr atrás de Sekmet que aparecera ali para se esfregar na suas pernas.
Olhou a corrida dos dois pela fazenda e balançou a cabeça. Nem ia tentar gritar com eles.
Ia entrar quando ouviu Samara chamando-o.
— Pai! – ele olhou para cima e quase teve um ataque cardíaco.
Sua filha estava no galho mais alto de um imenso pé de jatobás que ficava perto da sua entrada de carros. Ela acenava para ele a dez metros de altura.
— Samara minha filha, desce daí.
— Dá para ver toda a fazenda daqui pai!
— Do sótão também Samara! Desce daí!
Ante o tom autoritário do pai ele fez um bico e foi descendo pelos galhos com desenvoltura e quando chegou ao chão Laércio respirou aliviado.
— Samara o que foi que eu falei sobre subir em árvores?
— É perigoso eu posso cair e me machucar.
— E por que você estava em cima do pé de jatobá?
— Eu gosto de subir em árvores pai, eu não caio.
— Mas e se um dia cair de se machucar? Eu ia ficar muito triste e preocupado.
— Eu sei.
— Então tenha mais cuidado.
— Tá certo – ela saiu chutando pedras no caminho.
Ele precisava de ajuda e com urgência!
O blog Valfenda Brasil tem é apenas para postar histórias e contos que escrevo. Com isso espero divertir as pessoas levando elas aonde nem um homem jamais esteve!
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sábado, 31 de março de 2012
quinta-feira, 29 de março de 2012
Caminhos do Destino - Capitulo V
Capitulo V
Vozes infantis sussurravam na porta do quarto olhando para os dois vultos dormindo na pequena cama.
— Ele tá dormindo – disse Jason para o irmão.
— Assim fica mais legal – Jared abriu a porta e pulou em cima de Mathew e Shon gritando – Bom dia!
O príncipe deu um pulo e caiu da cama levando Shon consigo. Ao sair do emaranhado de cobertas viu os dois pestinhas menores rindo. Shon esfregava os olhos olhando para os dois.
— Vocês são uns chatos – ele disse com a voz rouca voltando a se arrastar para a cama.
— Vocês acordam todo mundo assim? – Mathew se levantou tentando arrumar os cabelos.
— Vamos tirar leite! – a dupla gritou toda feliz.
Mathew não tinha nem idéia de como se tirava leite, mas achava que deveria ajudar de alguma forma. Olhou pelas vidraças para o dia cinzento, o sol ia demorar um pouco para aparecer.
Jogou as cobertas de volta para Shon que já estava dormindo novamente. Ele saiu do quarto indo para o banheiro onde lavou o rosto na água gelada e encontrou um pente de madeira onde tentou arrumar os cabelos emaranhados. Ele havia perdido sua tira de coura e agora eles tinham que ficar soltos, dançando no seu rosto e ombros.
Se sentindo revigorado desceu as escadas bocejando e encontrou a cozinha de vento em popa.
— Bom dia! – disse Sara toda animada mexendo em uma panela no fogão.
— Bom dia – disse Paul olhando-o de relance e indo colocar pães no forno.
— Bom dia – disse Gabe entrando com cara de sono.
— Bom dia para todos apesar de ainda ser noite – resmungou Mathew sentando na mesa da cozinha e segurando a cabeça com a mão – Ainda to dormindo.
— Podia ter levantado mais tarde príncipe – disse Paul franzindo as sobrancelhas.
— Seus dois meninos menores me acordando dizendo que era hora de tirar leite.
— E eles que um príncipe vai tirar leite? – o tom de Gabe era debochado.
— Ora por que não? Não deve ser mais difícil que os exercícios da escola de guerra.
— Não cai nessa – Sara colocou a mão na cintura – Aquela vaca é o bicho mais chato e ranzinza que eu conheço!
— Deixa ele tentar Sara – Paul tinha um sorriso sardônico que arrepiou Mathew – Imagino que uma vaca não seja páreo para um grande guerreiro.
O príncipe fez uma careta para ele e Gabe escondeu um sorriso. Parecia que ele estava se recuperando de ontem à noite o que o deixava aliviado.
— Cadê o Shon? – perguntou Sara abrindo e fechando armários sem esbarrar em nada.
— Dormindo – resmungou Mathew tentando afastar seus cabelos do rosto.
— Nunca vi ninguém mais preguiçoso para acordar que esse menino – resmungou Paul – O que há com o seu cabelo? – perguntou ele ao perceber a impaciência do outro.
— Eu perdi minha tira e agora eles estão me incomodando.
— Humpf! – Paul retirou a tira da própria trança e foi até Mathew – Deixa eu dar uma ajuda.
O príncipe se surpreendeu quando as mãos calejadas seguraram seus cabelos de forma delicada e com destreza começaram a fazer um rabo da cavalo baixo. O corpo todo dele se arrepiou ao sentir ele passar os dedos por entre a suas mechas e teve vontade de gemer. Queria ficar assim para sempre.
— Prontinho – Paul retirou as mãos olhando para Mathew w retirando alguns fios de cabelos do rosto dele – Agora você este pronto para a Sindy.
— Sindy?!
— É o nome da bendita vaca – resmungava Sara.
— Você ta com ciúmes da vaca Sara? – Gabe colocou as mãos na cintura.
— Da onde você tirou essa idéia seu projeto de homem?
— Chega, chega, chega! – Paul levantou Mathew pelo braço e empurrou-o junto com Gabe porta afora – Vão buscar o leite ou esse café não sai hoje!
Saíram para uma manhã fria e úmida. O céu estava azul anil e uma leve claridade do leste mostrava que o sol chegava. Alguns fiapos de neblina se agarravam por entre as plantas do jardim e se espiralavam pelo gramado. O ar tinha cheiro de mato e terra molhados misturado com um leve aroma de mel. Pássaros passaram por cima de suas cabeças grasnando e saldando o novo dia.
Eles foram até uma parte do estábulo onde Mathew não tinha reparado e onde ficava uma um cubículo com uma vaca que mascava calmamente um tanto de feno e grãos.
Era uma vaca malhada de branco e preto que os olhou de forma desintereçada.
— Essa é a vaca que a Sara não gosta?
— Deve ser por que as duas são parecidas – Gabe tinha um sorriso de lado.
— Não fale assim, sua irmã é muito bonita.
— A Sara?! – Gabe olhou para Mathew como se ele tivesse perdido a cabeça – Ela é uma chata, mandona e implica com tudo que eu faço. Eu não acho ela bonita.
— É por que vocês são irmãos – apontou para a vaca – Agora me mostre o que eu tenho que fazer antes que o seu pai venha nos buscar pela orelha.
— Ele é bem capaz – disse Gabe indo até um canto onde havia um armário rústico retirando um balde de ferro e um pano – Tem que limpar as tetas dela e lavar bem a mão, meu pai sempre disse que temos que ter higiene. Tem uma torneira do lado de fora.
— Eu tenho que limpar o que?! – Mathew olhava para o pano e para Gabe.
— As tetas – o menino apontou para as mamas da vaca e o outro não pode deixar de fazer cara de horror.
— Você é da realeza mesmo – resmungou o menino puxando ele pela mão até a torneira onde molhou o pano e lavou as mãos fazendo Mathew também lavar.
Depois voltaram para a vaca. Gabe agachou limpando a teta da vaca e lavou a mão novamente, só então mostrou para o outro o que deveria fazer.
— Você segura a teta, aperta e puxa, assim – um jorro de leite saiu direto para o balde e a vaca nem pareceu se importar, continuou ruminando seu feno – Fácil!
Mathew olhou com o cenho franzido para a vaca e pegou o balde tentando fazer o mesmo que Gabe tinha feito. Era muito mais difícil do que aparentava e assim que apertou a teta da vaca esta mugiu alto e bateu a perna no balde fazendo com que este e o príncipe caíssem de bunda no chão.
— Mas que merda! – Mathew não pode deixar de xingar.
Gabe tentava ficar sério, mas começou a rir descontrolado.
— Você sabia, não é? – Mathew perguntou de forma acusatória.
— A Sindy é muito sensível! – ele riu ainda mais e Mathew deixou a zanga de lado lembrando o tormento que vira nos olhos daquele garoto à noite.
— Bem senhor sabe tudo, vou ti mostrar como segurar nas tetas de uma moça – dessa vez foi Mathew quem riu ao ver a cara vermelha de Gabe.
O príncipe lavou o balde e as mãos novamente e agachou começando a falar e acariciar mansamente a vaca que o olhou de lado e recomeçou a ruminar. Mathew conseguiu com delicadeza ir pegando o jeito, mas logo seus braços e pernas doíam. Finalmente ele pode se levantar com o balde cheio de leite.
— Acho que consegui – riu ele vitorioso para Gabe – Vamos? Estou morto de fome.
Assim que eles saíram, o menino começou a lançar olhares curiosos para ele.
— O que há Gabe? – perguntou ele olhando o menino.
— É que... hã... você tem namorada? – ele parecia muito embaraçado ao fazer essa pergunta.
— Na verdade não. Passo tempo demais em missões para ter conseguido alguém.
— Nem mesmo um namorado? – ele parecia um tomate maduro.
— Não Gabe, eu não tenho ninguém. Você já teve alguém?
— Eu?! – ele estava tão embaraçado que tropeçou – Eu não tenho tempo para isso, tenho que ajudar o meu pai a cuidar da casa e das crianças. Eu só queria saber como era ter um namorado.
— Você gosta de alguém?
— Não – ele parecia desolado com isso – A maioria nem olha pra mim, afinal eu sou um rejeitado.
— A verdade Gabe é eles que estão perdendo em não conhecer um garoto corajoso e inteligente como você – sorriu para ele.
— Você me acha inteligente? – ele parecia muito cético – Eu nunca freqüentei uma escola, elas são dos padres e eles não aceitam pessoas como eu. Foi meu pai que me ensinou tudo o que sei.
— Eu não entendo o que esses padres pensam – Mathew resmungava furioso – Sei que a igreja aqui tem muita influencia, mas em Gaulesh as escolas são do reino e todos estudam nelas.
— Qualquer um? – perguntou Gabe cético.
— Todos. Apesar de não me dar bem com meus pais não posso dizer que foram maus reis, ao contrario, o povo os ama e respeita e eles servem de exemplo para muitos reinados por ai.
Eles chegaram até a casa e entraram no cozinha onde o cheiro de pão assado e panquecas fritas enchia o ambiente.
— Finalmente – resmungou Paul tomando o balde de Mathew – Pensei que tinham ido até a cidade buscar leite.
— Muito obrigado Mathew por sua ajuda – o príncipe imitou Paul contrariado – Deveria mostrar um pouco de agradecimento!
— Pra que? Você esta fazendo um serviço tão bom se agradecendo que não quis interromper.
— Há! Há! Muito engraçado – resmungou o outro sentando na mesa e afanando um pão.
— Cuidado ta quente! – Sara gritou tarde demais.
— Ai merda! – Mathew largou o pão em cima da mesa e balançou a mão.
— Isso ti ensina a não ser guloso – disse Paul pagando um pano de prato, molhando e jogando para ele – Coloque na queimadura para dar um alivio, vou buscar aloe vera – antes de sair virou-se para seu filho – Gabe chame seus irmão e arranque Shon daquela cama!
Perto da porta da cozinha, Paul havia plantado moitas de aloe vera que usava para fazer seus preparos. Havia aprendido com uma sabia mulher que não existia melhor cicatrizante e alivio para queimaduras.
As folhas eram de um verde pálido, com pequenos espinhos macios nas extremidades e quando cortadas deixavam sair um liquido gosmento e amarelado de cheiro forte.
Cortou uma pequena parte da folha e entrou na cozinha partindo a folha ao meio.
— Tire o pano – disse ele para o príncipe que olhava desconfiado para a folha que purgava a gosma.
— O que é isso? – perguntou ele tentando afastar a mão.
— Lingua de dragão! – Paul puxou o guardanapo e colocou a folha com a gosma em contado com a pele queimada fazendo o príncipe ter uma expressão de nojo – Deixe cinco minutos e pronto. Você não vai ter nem bolhas.
— Se eu não morrer envenenado antes – resmungava ele ante o cheiro forte da planta.
— Se fosse um desses emplastros nojentos que alguns mestres de cura fazem você não estaria reclamando! As pessoas deveriam olhar a natureza, ela é uma farmácia para tudo nessa vida.
Jared e Jason entraram correndo e rindo, enquanto Shon e Gabe vinha logo atrás. O primeiro estava com a cara amassada e pelo visto ainda com sono. Sem constrangimento nem um subiu em cima do colo de Mathew deitando a cabeça em seu peito e fechando os olhos.
— Shon! – Paul falou contrariado – Vá se sentar na cadeira!
— O Matt é gostoso de dormir – disse ele com a voz rouca.
Mathew riu segurando ele com a mão boa.
— Quando era da idade dele todo mundo tinha a mesma dificuldade de me tirar da cama, só depois que freqüentai a academia é que tive uma certa disciplina para acordar cedo.
— Shon desce – dessa vez o menino obedeceu fazendo um bico de um quilometro e todos puderam se servir.
Mathew nunca fora exigente com a comida, para ele estando cozida era o que bastava, mas ele não pode deixar de se deliciar com as panquecas com manteiga e mel, os pães fresquinhos e o café adoçado com o caríssimo açúcar branco dos reinos do sul.
— Eu não consegui resistir – ele disse para Mathew – Quando vi o açúcar e percebi que ele não ia alterar o gosto do café como o mel, eu economizei três meses para comprar um quilo.
— Pelo visto você é viciado em café!
— Achou meu ponto fraco – ele piscou um olho – Eu não consigo viver sem um pouco de café de manhã. Sei que a maioria só toma chá e acha café a bebida dos bárbaros do sul, mas se eles inventaram algo tão maravilhoso não devem ser tão bárbaros assim.
Eles caíram na risada e logo as crianças se juntaram a eles iluminando cada canto da casa que se enchia gradativamente com a luz do sol nascente com o som das risadas.
Sara parou de rir e virou a cabeça de lado.
— Dez cavaleiros, estão a galope, seus cavalos estão cansados – pausa – Todos tem espadas e armaduras.
— Onde Sara? – perguntou Paul preocupado.
— Quinhentos metros. Tudo bem mãe, são cavaleiros do reino.
— Como?... – Mathew estava decididamente pasmo.
— Posso ouvir até o mais pequeno som há quase um quilometro – disse ela com orgulho – Sei separá-los e classifica-los
— Como você pode ter certeza que são cavaleiros do reino?
— Normalmente por cauda das armaduras, mas agora por causa do barulho que estão fazendo. Nem um assaltante com um pouco que cérebro faria tal estardalhaço. Logo, logo vocês vão ouvi-los.
Não deu outra, alguns minutos depois ouviram patas de cavalo batendo no solo e alguém chamando Paul. O rapaz se levantou indo até a porta onde deu com dez cavalos negros e ofegantes com seus cavaleiros não mais ofegantes e com olheiras. A frente do grupo ia ninguém menos que o príncipe Phillip.
— Meu senhor – Paul fez uma reverencia completa para o senhor das terras de Haven.
— Paul eu precis... – nesse momento o príncipe viu Mathew que sorria amarelo da porta da casa.
— Mathew!! – ele desmontou em rapidamente – Estive ti procurando durante toda a noite! Droga eu morri de preocupação!
— Phillip me desculpe, a tempestade me pegou aqui eu não tive como voltar.
— Você saiu sem avisar ninguém para onde ia! Isso é muito perigoso!
— Foi uma coisa de momento...
— Nós vamos conversar no castelo!
— Meu senhor – Paul se inclinou uma segunda vez – O príncipe Mathew me ajudou na floresta e por isso ficou preso aqui na minha casa. Peço desculpas pelo transtorno.
— Esta tudo bem? – Phillip perguntou com a cara menos carrancuda.
— Eu torci o tornozelo e se sua alteza não estivesse por perto poderia ter tido problemas para voltar para casa.
— Que bom que meu irmão pode ajuda-lo Paul. Eu realmente me assustei ao ver que ele não aparecia.
— E resolveu sair debaixo de uma tempestade!
— O que você queria que eu fizesse irmão ingrato? Ficasse tomando vinho enquanto você estava por ai?
— Meu senhor – Paul chamou a atenção dos dois delicadamente tentando evitar uma briga na frente dos seus filhos – Vejo que estão todos cansados da noite insone, eu gostaria de oferecer um café da manhã ao senhor e seus homens para que possam se revigorar.
Os homens pareciam aliviados, mas o príncipe balançou a cabeça.
— Muito obrigado Paul, mas eu deixei Gwen no castelo sem noticias e ela deve estar preocupada – voltou-se para o irmão – Vamos?
— Vou buscar Linth – disse Mathew se virando a lançando um olhar agradecido para Paul.
— Eu ajudo! – disse Gabe indo atrás dele.
Essa foi a deixa para os outros garotos saírem da casa e fazerem reverencias para o príncipe e olhar para os cavaleiros ainda montados.
— Ola crianças! – disse Phillip sorrindo.
— Sua cavalaria faz muito barulho – disse Sara – Pude ouvi-los a meio quilometro.
— Sara! – Paul ficou vermelho.
— Já ouvi falar do seu ouvido Sara e garanto que muito poucas pessoas no mundo consegue ouvir algo de tão longe.
— Mas eu acho que eles existem, não é? Imagino que numa guerra passar despercebido seja muito importante. As pessoas não se dão conta do barulho que fazem até mesmo ao deslocar o ar.
Phillip estava mudo com a presença de espírito daquela menina e Paul sem fala de embaraço.
— Sabe Sara, isso é ensinado na academia da cavalaria de Gaulesh. Fico impressionado que você saiba.
— Eu escuto muito no mercado – ela deu de ombros – Mesmo cochichos são audíveis para mim – ela deu um sorriso coquete – Se você quiser guardar um segredo não o murmure a cem metros de mim.
O príncipe caiu na risada ante aquela menina atrevida e inteligente.
— Paul sua menina é incrível! – Phillip deu tapinhas na cabeça dele – Você e Gwen iam fazer um par de doer. Na verdade eu tenho uma proposta – virou-se para Paul – Que tal se você e sua família viessem para um jantar no castelo neste sábado? Tenho certeza que a minha esposa iria querer agradecer por ter acolhido Mathew.
— Obrigado meu príncipe – disse Paul com delicadeza, mas firme – Mas infelizmente não vai ser possível.
Phillip queria insistir, mas viu a determinação no rosto do outro.
— Tudo bem então.
Mathew estava terminando de selar seu cavalo e Gabe estava um pouco triste perto dele.
— Você vai mesmo vir nos visitar?
— Claro, eu dei a minha palavra. Virei assim que puder fugir do meu irmão.
— Se você quiser podemos ir pescar quando vier – o menino não olhava para ele. tinha a cabeça baixa e mecha em uma palha no chão com o pé.
— Que tal amanhã? Acho que hoje Phillip ia me matar se desaparecesse.
— Mesmo? – Gabe sorriu para ele – Eu vou ficar ti esperando.
— E eu virei, juro – ele bateu no ombro dele e foram juntos para a frente da casa onde Phillip já estava montado e esperando.
— Obrigado por tudo Paul – Mathew segurou a mão dele e deu um leve beijo sem tirar os olhos do rapaz vermelho.
Beijou o rosto de Sara e abraçou Jared e Jason. Olhou em volta a procura de Shon, mas o menino não apareceu.
— Ele não gosta de despedidas – disse Paul.
— De tchau a ele por mim – montou e acenou mais uma vez para a família acompanhando o irmão, mas querendo ficar ali.
Vozes infantis sussurravam na porta do quarto olhando para os dois vultos dormindo na pequena cama.
— Ele tá dormindo – disse Jason para o irmão.
— Assim fica mais legal – Jared abriu a porta e pulou em cima de Mathew e Shon gritando – Bom dia!
O príncipe deu um pulo e caiu da cama levando Shon consigo. Ao sair do emaranhado de cobertas viu os dois pestinhas menores rindo. Shon esfregava os olhos olhando para os dois.
— Vocês são uns chatos – ele disse com a voz rouca voltando a se arrastar para a cama.
— Vocês acordam todo mundo assim? – Mathew se levantou tentando arrumar os cabelos.
— Vamos tirar leite! – a dupla gritou toda feliz.
Mathew não tinha nem idéia de como se tirava leite, mas achava que deveria ajudar de alguma forma. Olhou pelas vidraças para o dia cinzento, o sol ia demorar um pouco para aparecer.
Jogou as cobertas de volta para Shon que já estava dormindo novamente. Ele saiu do quarto indo para o banheiro onde lavou o rosto na água gelada e encontrou um pente de madeira onde tentou arrumar os cabelos emaranhados. Ele havia perdido sua tira de coura e agora eles tinham que ficar soltos, dançando no seu rosto e ombros.
Se sentindo revigorado desceu as escadas bocejando e encontrou a cozinha de vento em popa.
— Bom dia! – disse Sara toda animada mexendo em uma panela no fogão.
— Bom dia – disse Paul olhando-o de relance e indo colocar pães no forno.
— Bom dia – disse Gabe entrando com cara de sono.
— Bom dia para todos apesar de ainda ser noite – resmungou Mathew sentando na mesa da cozinha e segurando a cabeça com a mão – Ainda to dormindo.
— Podia ter levantado mais tarde príncipe – disse Paul franzindo as sobrancelhas.
— Seus dois meninos menores me acordando dizendo que era hora de tirar leite.
— E eles que um príncipe vai tirar leite? – o tom de Gabe era debochado.
— Ora por que não? Não deve ser mais difícil que os exercícios da escola de guerra.
— Não cai nessa – Sara colocou a mão na cintura – Aquela vaca é o bicho mais chato e ranzinza que eu conheço!
— Deixa ele tentar Sara – Paul tinha um sorriso sardônico que arrepiou Mathew – Imagino que uma vaca não seja páreo para um grande guerreiro.
O príncipe fez uma careta para ele e Gabe escondeu um sorriso. Parecia que ele estava se recuperando de ontem à noite o que o deixava aliviado.
— Cadê o Shon? – perguntou Sara abrindo e fechando armários sem esbarrar em nada.
— Dormindo – resmungou Mathew tentando afastar seus cabelos do rosto.
— Nunca vi ninguém mais preguiçoso para acordar que esse menino – resmungou Paul – O que há com o seu cabelo? – perguntou ele ao perceber a impaciência do outro.
— Eu perdi minha tira e agora eles estão me incomodando.
— Humpf! – Paul retirou a tira da própria trança e foi até Mathew – Deixa eu dar uma ajuda.
O príncipe se surpreendeu quando as mãos calejadas seguraram seus cabelos de forma delicada e com destreza começaram a fazer um rabo da cavalo baixo. O corpo todo dele se arrepiou ao sentir ele passar os dedos por entre a suas mechas e teve vontade de gemer. Queria ficar assim para sempre.
— Prontinho – Paul retirou as mãos olhando para Mathew w retirando alguns fios de cabelos do rosto dele – Agora você este pronto para a Sindy.
— Sindy?!
— É o nome da bendita vaca – resmungava Sara.
— Você ta com ciúmes da vaca Sara? – Gabe colocou as mãos na cintura.
— Da onde você tirou essa idéia seu projeto de homem?
— Chega, chega, chega! – Paul levantou Mathew pelo braço e empurrou-o junto com Gabe porta afora – Vão buscar o leite ou esse café não sai hoje!
Saíram para uma manhã fria e úmida. O céu estava azul anil e uma leve claridade do leste mostrava que o sol chegava. Alguns fiapos de neblina se agarravam por entre as plantas do jardim e se espiralavam pelo gramado. O ar tinha cheiro de mato e terra molhados misturado com um leve aroma de mel. Pássaros passaram por cima de suas cabeças grasnando e saldando o novo dia.
Eles foram até uma parte do estábulo onde Mathew não tinha reparado e onde ficava uma um cubículo com uma vaca que mascava calmamente um tanto de feno e grãos.
Era uma vaca malhada de branco e preto que os olhou de forma desintereçada.
— Essa é a vaca que a Sara não gosta?
— Deve ser por que as duas são parecidas – Gabe tinha um sorriso de lado.
— Não fale assim, sua irmã é muito bonita.
— A Sara?! – Gabe olhou para Mathew como se ele tivesse perdido a cabeça – Ela é uma chata, mandona e implica com tudo que eu faço. Eu não acho ela bonita.
— É por que vocês são irmãos – apontou para a vaca – Agora me mostre o que eu tenho que fazer antes que o seu pai venha nos buscar pela orelha.
— Ele é bem capaz – disse Gabe indo até um canto onde havia um armário rústico retirando um balde de ferro e um pano – Tem que limpar as tetas dela e lavar bem a mão, meu pai sempre disse que temos que ter higiene. Tem uma torneira do lado de fora.
— Eu tenho que limpar o que?! – Mathew olhava para o pano e para Gabe.
— As tetas – o menino apontou para as mamas da vaca e o outro não pode deixar de fazer cara de horror.
— Você é da realeza mesmo – resmungou o menino puxando ele pela mão até a torneira onde molhou o pano e lavou as mãos fazendo Mathew também lavar.
Depois voltaram para a vaca. Gabe agachou limpando a teta da vaca e lavou a mão novamente, só então mostrou para o outro o que deveria fazer.
— Você segura a teta, aperta e puxa, assim – um jorro de leite saiu direto para o balde e a vaca nem pareceu se importar, continuou ruminando seu feno – Fácil!
Mathew olhou com o cenho franzido para a vaca e pegou o balde tentando fazer o mesmo que Gabe tinha feito. Era muito mais difícil do que aparentava e assim que apertou a teta da vaca esta mugiu alto e bateu a perna no balde fazendo com que este e o príncipe caíssem de bunda no chão.
— Mas que merda! – Mathew não pode deixar de xingar.
Gabe tentava ficar sério, mas começou a rir descontrolado.
— Você sabia, não é? – Mathew perguntou de forma acusatória.
— A Sindy é muito sensível! – ele riu ainda mais e Mathew deixou a zanga de lado lembrando o tormento que vira nos olhos daquele garoto à noite.
— Bem senhor sabe tudo, vou ti mostrar como segurar nas tetas de uma moça – dessa vez foi Mathew quem riu ao ver a cara vermelha de Gabe.
O príncipe lavou o balde e as mãos novamente e agachou começando a falar e acariciar mansamente a vaca que o olhou de lado e recomeçou a ruminar. Mathew conseguiu com delicadeza ir pegando o jeito, mas logo seus braços e pernas doíam. Finalmente ele pode se levantar com o balde cheio de leite.
— Acho que consegui – riu ele vitorioso para Gabe – Vamos? Estou morto de fome.
Assim que eles saíram, o menino começou a lançar olhares curiosos para ele.
— O que há Gabe? – perguntou ele olhando o menino.
— É que... hã... você tem namorada? – ele parecia muito embaraçado ao fazer essa pergunta.
— Na verdade não. Passo tempo demais em missões para ter conseguido alguém.
— Nem mesmo um namorado? – ele parecia um tomate maduro.
— Não Gabe, eu não tenho ninguém. Você já teve alguém?
— Eu?! – ele estava tão embaraçado que tropeçou – Eu não tenho tempo para isso, tenho que ajudar o meu pai a cuidar da casa e das crianças. Eu só queria saber como era ter um namorado.
— Você gosta de alguém?
— Não – ele parecia desolado com isso – A maioria nem olha pra mim, afinal eu sou um rejeitado.
— A verdade Gabe é eles que estão perdendo em não conhecer um garoto corajoso e inteligente como você – sorriu para ele.
— Você me acha inteligente? – ele parecia muito cético – Eu nunca freqüentei uma escola, elas são dos padres e eles não aceitam pessoas como eu. Foi meu pai que me ensinou tudo o que sei.
— Eu não entendo o que esses padres pensam – Mathew resmungava furioso – Sei que a igreja aqui tem muita influencia, mas em Gaulesh as escolas são do reino e todos estudam nelas.
— Qualquer um? – perguntou Gabe cético.
— Todos. Apesar de não me dar bem com meus pais não posso dizer que foram maus reis, ao contrario, o povo os ama e respeita e eles servem de exemplo para muitos reinados por ai.
Eles chegaram até a casa e entraram no cozinha onde o cheiro de pão assado e panquecas fritas enchia o ambiente.
— Finalmente – resmungou Paul tomando o balde de Mathew – Pensei que tinham ido até a cidade buscar leite.
— Muito obrigado Mathew por sua ajuda – o príncipe imitou Paul contrariado – Deveria mostrar um pouco de agradecimento!
— Pra que? Você esta fazendo um serviço tão bom se agradecendo que não quis interromper.
— Há! Há! Muito engraçado – resmungou o outro sentando na mesa e afanando um pão.
— Cuidado ta quente! – Sara gritou tarde demais.
— Ai merda! – Mathew largou o pão em cima da mesa e balançou a mão.
— Isso ti ensina a não ser guloso – disse Paul pagando um pano de prato, molhando e jogando para ele – Coloque na queimadura para dar um alivio, vou buscar aloe vera – antes de sair virou-se para seu filho – Gabe chame seus irmão e arranque Shon daquela cama!
Perto da porta da cozinha, Paul havia plantado moitas de aloe vera que usava para fazer seus preparos. Havia aprendido com uma sabia mulher que não existia melhor cicatrizante e alivio para queimaduras.
As folhas eram de um verde pálido, com pequenos espinhos macios nas extremidades e quando cortadas deixavam sair um liquido gosmento e amarelado de cheiro forte.
Cortou uma pequena parte da folha e entrou na cozinha partindo a folha ao meio.
— Tire o pano – disse ele para o príncipe que olhava desconfiado para a folha que purgava a gosma.
— O que é isso? – perguntou ele tentando afastar a mão.
— Lingua de dragão! – Paul puxou o guardanapo e colocou a folha com a gosma em contado com a pele queimada fazendo o príncipe ter uma expressão de nojo – Deixe cinco minutos e pronto. Você não vai ter nem bolhas.
— Se eu não morrer envenenado antes – resmungava ele ante o cheiro forte da planta.
— Se fosse um desses emplastros nojentos que alguns mestres de cura fazem você não estaria reclamando! As pessoas deveriam olhar a natureza, ela é uma farmácia para tudo nessa vida.
Jared e Jason entraram correndo e rindo, enquanto Shon e Gabe vinha logo atrás. O primeiro estava com a cara amassada e pelo visto ainda com sono. Sem constrangimento nem um subiu em cima do colo de Mathew deitando a cabeça em seu peito e fechando os olhos.
— Shon! – Paul falou contrariado – Vá se sentar na cadeira!
— O Matt é gostoso de dormir – disse ele com a voz rouca.
Mathew riu segurando ele com a mão boa.
— Quando era da idade dele todo mundo tinha a mesma dificuldade de me tirar da cama, só depois que freqüentai a academia é que tive uma certa disciplina para acordar cedo.
— Shon desce – dessa vez o menino obedeceu fazendo um bico de um quilometro e todos puderam se servir.
Mathew nunca fora exigente com a comida, para ele estando cozida era o que bastava, mas ele não pode deixar de se deliciar com as panquecas com manteiga e mel, os pães fresquinhos e o café adoçado com o caríssimo açúcar branco dos reinos do sul.
— Eu não consegui resistir – ele disse para Mathew – Quando vi o açúcar e percebi que ele não ia alterar o gosto do café como o mel, eu economizei três meses para comprar um quilo.
— Pelo visto você é viciado em café!
— Achou meu ponto fraco – ele piscou um olho – Eu não consigo viver sem um pouco de café de manhã. Sei que a maioria só toma chá e acha café a bebida dos bárbaros do sul, mas se eles inventaram algo tão maravilhoso não devem ser tão bárbaros assim.
Eles caíram na risada e logo as crianças se juntaram a eles iluminando cada canto da casa que se enchia gradativamente com a luz do sol nascente com o som das risadas.
Sara parou de rir e virou a cabeça de lado.
— Dez cavaleiros, estão a galope, seus cavalos estão cansados – pausa – Todos tem espadas e armaduras.
— Onde Sara? – perguntou Paul preocupado.
— Quinhentos metros. Tudo bem mãe, são cavaleiros do reino.
— Como?... – Mathew estava decididamente pasmo.
— Posso ouvir até o mais pequeno som há quase um quilometro – disse ela com orgulho – Sei separá-los e classifica-los
— Como você pode ter certeza que são cavaleiros do reino?
— Normalmente por cauda das armaduras, mas agora por causa do barulho que estão fazendo. Nem um assaltante com um pouco que cérebro faria tal estardalhaço. Logo, logo vocês vão ouvi-los.
Não deu outra, alguns minutos depois ouviram patas de cavalo batendo no solo e alguém chamando Paul. O rapaz se levantou indo até a porta onde deu com dez cavalos negros e ofegantes com seus cavaleiros não mais ofegantes e com olheiras. A frente do grupo ia ninguém menos que o príncipe Phillip.
— Meu senhor – Paul fez uma reverencia completa para o senhor das terras de Haven.
— Paul eu precis... – nesse momento o príncipe viu Mathew que sorria amarelo da porta da casa.
— Mathew!! – ele desmontou em rapidamente – Estive ti procurando durante toda a noite! Droga eu morri de preocupação!
— Phillip me desculpe, a tempestade me pegou aqui eu não tive como voltar.
— Você saiu sem avisar ninguém para onde ia! Isso é muito perigoso!
— Foi uma coisa de momento...
— Nós vamos conversar no castelo!
— Meu senhor – Paul se inclinou uma segunda vez – O príncipe Mathew me ajudou na floresta e por isso ficou preso aqui na minha casa. Peço desculpas pelo transtorno.
— Esta tudo bem? – Phillip perguntou com a cara menos carrancuda.
— Eu torci o tornozelo e se sua alteza não estivesse por perto poderia ter tido problemas para voltar para casa.
— Que bom que meu irmão pode ajuda-lo Paul. Eu realmente me assustei ao ver que ele não aparecia.
— E resolveu sair debaixo de uma tempestade!
— O que você queria que eu fizesse irmão ingrato? Ficasse tomando vinho enquanto você estava por ai?
— Meu senhor – Paul chamou a atenção dos dois delicadamente tentando evitar uma briga na frente dos seus filhos – Vejo que estão todos cansados da noite insone, eu gostaria de oferecer um café da manhã ao senhor e seus homens para que possam se revigorar.
Os homens pareciam aliviados, mas o príncipe balançou a cabeça.
— Muito obrigado Paul, mas eu deixei Gwen no castelo sem noticias e ela deve estar preocupada – voltou-se para o irmão – Vamos?
— Vou buscar Linth – disse Mathew se virando a lançando um olhar agradecido para Paul.
— Eu ajudo! – disse Gabe indo atrás dele.
Essa foi a deixa para os outros garotos saírem da casa e fazerem reverencias para o príncipe e olhar para os cavaleiros ainda montados.
— Ola crianças! – disse Phillip sorrindo.
— Sua cavalaria faz muito barulho – disse Sara – Pude ouvi-los a meio quilometro.
— Sara! – Paul ficou vermelho.
— Já ouvi falar do seu ouvido Sara e garanto que muito poucas pessoas no mundo consegue ouvir algo de tão longe.
— Mas eu acho que eles existem, não é? Imagino que numa guerra passar despercebido seja muito importante. As pessoas não se dão conta do barulho que fazem até mesmo ao deslocar o ar.
Phillip estava mudo com a presença de espírito daquela menina e Paul sem fala de embaraço.
— Sabe Sara, isso é ensinado na academia da cavalaria de Gaulesh. Fico impressionado que você saiba.
— Eu escuto muito no mercado – ela deu de ombros – Mesmo cochichos são audíveis para mim – ela deu um sorriso coquete – Se você quiser guardar um segredo não o murmure a cem metros de mim.
O príncipe caiu na risada ante aquela menina atrevida e inteligente.
— Paul sua menina é incrível! – Phillip deu tapinhas na cabeça dele – Você e Gwen iam fazer um par de doer. Na verdade eu tenho uma proposta – virou-se para Paul – Que tal se você e sua família viessem para um jantar no castelo neste sábado? Tenho certeza que a minha esposa iria querer agradecer por ter acolhido Mathew.
— Obrigado meu príncipe – disse Paul com delicadeza, mas firme – Mas infelizmente não vai ser possível.
Phillip queria insistir, mas viu a determinação no rosto do outro.
— Tudo bem então.
Mathew estava terminando de selar seu cavalo e Gabe estava um pouco triste perto dele.
— Você vai mesmo vir nos visitar?
— Claro, eu dei a minha palavra. Virei assim que puder fugir do meu irmão.
— Se você quiser podemos ir pescar quando vier – o menino não olhava para ele. tinha a cabeça baixa e mecha em uma palha no chão com o pé.
— Que tal amanhã? Acho que hoje Phillip ia me matar se desaparecesse.
— Mesmo? – Gabe sorriu para ele – Eu vou ficar ti esperando.
— E eu virei, juro – ele bateu no ombro dele e foram juntos para a frente da casa onde Phillip já estava montado e esperando.
— Obrigado por tudo Paul – Mathew segurou a mão dele e deu um leve beijo sem tirar os olhos do rapaz vermelho.
Beijou o rosto de Sara e abraçou Jared e Jason. Olhou em volta a procura de Shon, mas o menino não apareceu.
— Ele não gosta de despedidas – disse Paul.
— De tchau a ele por mim – montou e acenou mais uma vez para a família acompanhando o irmão, mas querendo ficar ali.
terça-feira, 27 de março de 2012
Rumo ao Paraiso - Capitulo 3
Laércio com cara de nojo entregou para o filho caçula o rato branco que estava com na sua mão e com a calda em volta do seu pulso.
— Desculpa pai – Kauan parecia a ponto de chorar ao segurar com força o rato de encontro ao peito.
— Tudo bem Kauan – disse o pai colocando a mão no ombro do filho – Só deixe ele na gaiola.
O menino acenou com a cabeça e subiu as escadas quase correndo. Seus outros filhos o seguiram de cabeça baixa, chateados com o castigo de não usar a internet por uma semana.
Ele odiava fazer isso e pensou em chamá-los quando uma batida na porta da sala o interrompeu.
Foi até a porta dando de cara com Márcio.
— Boa noite Márcio! Entra.
— Boa noite Laércio – disse o amigo entrando na sala.
A sala de visitas era um grande salão com sofás, poltronas e mesas com uma grande mesa de jantar de um lado onde uma parede inteira de vidro deixava ver o jardim iluminado. Um grande lustre de cristal pendia do teto e a escada era de madeira escura subindo para os outros andares.
— Você achou seu irmão? – o outro convidou Márcio para sentar, mas o rapaz balançou a cabeça.
— Achei sim. Na verdade eu precisava de um favor. Ele trouxe o filho e eu não tenho berço e fiquei pensando se você pode me emprestar um dos que guarda no sótão.
— Claro! Vamos lá em cima dar uma olhada.
Enquanto subiam as escadas Márcio contava o que tinha acontecido ao irmão deixando Laércio indignado.
— Como um pai pode fazer isso a um filho? Olhamos nos noticiários isso o tempo todo, mas parece tão longe de nós que nos espantamos quando acontece com alguém perto – disse o fazendeiro abrindo o alçapão para que pudesse entrar.
O sótão era imenso e a bagunça guardada ali também. O avô de Laércio tinha costume de guardar tudo e o neto parece ter adquirido o mesmo hábito, coisa que Márcio agradecia hoje.
O berço estava em um canto, perto de outros dois e coberto por um tecido empoeirado e com teias de aranha.
— Isso parece um museu – disse Márcio olhando em volta.
— A Aninha chama de coisa pior – riu ele tirando o pano fazendo uma nuvem de poeira voar por todo o lado.
Os dois espirraram e balançaram as mãos na frente do rosto. Cada um pegou um lado do berço e começou a descer a escada.
Na altura do primeiro andar quase se mataram com o cachorro de Jonathan, um pastor alemão estabanado que se chamava Anúbis que adorava pular nas pessoas e ficar lambendo o seu rosto. Ele vivia correndo de um lado para outro e nesse momento corria atrás de Sekmet a gata malhada de Regina que odiava o cachorro e vivia arranhando seu focinho. Os dois derrapavam na escada encerada com o com Anúbis latindo feito um louco. Sekmet passou por baixo das pernas dos dois carregadores, mas Anúbis era grande demais e se contorceu passando do lado das escadas e empurrando tudo em seu caminho.
— Anúbis! Sekmet! – gritou Laércio se firmando antes que caísse escada abaixo com berço e tudo.
Márcio conseguiu se segurar com uma mão no corrimão. Eles ouviram a gata cuspir e gritar enquanto o cachorro latia alegremente. Ouviram o som de algo se quebrando e Laércio revirou os olhos não pensando na bagunça que deveria ter virado o corredor.
— Tira essa peste daqui! – era Regina gritando tentando salvar a sua gata.
— A culpa é do meu cachorro? – Jon respondeu do alto da escada – Essa sua gata vive machucando ele.
— A eterna briga de cão e gato? – riu Márcio.
— Às vezes eu até gosto do rato do Kauan – disse Laércio – Pelo menos ele não tenta me matar.
Eles conseguiram descer sem maiores problemas. Juntos saíram para a noite fria e de céu azul.
— Tá ficando cada vez mais frio – comentou Márcio.
— Esse ano teremos geada – disse o fazendeiro – O frio chegou cedo e o céu esta claro.
— Seu Quim costuma dizer que sente cheiro de gelo no ar.
Quim, na verdade era Joaquim Manoel Santos. Tinha setenta anos e ainda trabalhava na fazenda Paraíso desde que tinha quinze anos e com isso lá se iam cinqüenta e cinco anos. Era um homem alto e muito magro, às vezes ele parecia um galho pronto para quebrar, mas era um homem resistente e de semblante sério. Nunca fora a escola e aprendera a ler com Laércio que o ensinara quando fora morar na fazenda do avô.
Era o tipo de pessoa sem meias palavras e de grande conhecimento do tempo e das plantações. Criara oito filhos ali e conseguira dar faculdade a todos eles. Uma de suas filhas havia ficado viúva e voltara para a casa dos pais para alegria de Quim e sua esposa Margarida. Agora seus netos corriam pela fazenda e sua filha dava aula em uma escola rural da prefeitura.
Seus outros filhos viviam em várias cidades da região e fora do estado de São Paulo, mas eles sempre se reunião com os pais no natal, mostrando seu amor ao senhor de semblante sério, mas que sempre tinha um sorriso para os filhos e netos.
A casa de Márcio não era longe da casa principal e logo eles entravam na sala de Márcio e subiram a escada.
— Por aqui – Márcio apontou para o quarto de Fabian e abriu a porta.
Fabian estava no meio do quarto embalando o filho quando viu Márcio entrar primeiro com um breco de madeira, mas logo ele pode ver outro homem o ajudando.
Deveria ter cerca de um metro de noventa, com os músculos aparecendo sob a camisa ao fazer força para levar o berço para dentro. Cachos de cabelo dourado escapavam pelo chapéu stetson marrom emoldurando um rosto forte, de lábios cheios, com a barba por fazer. Quando ele olhou em direção a Fabian ele viu seus olhos de um verde brilhante com pontinhos dourados. Vestia uma calça jeans preta e apertada, uma camisa de flanela e uma jaqueta de couro preta que vestia muito bem os seus ombros largos.
— Laércio esse é o meu irmão Fabian – disse Márcio assim que colocaram o berço no chão – Fabian esse é o meu patrão Laércio.
— Muito prazer senhor Laércio – disse Fabian estendendo a mão.
— Senhor?! – Laércio segurou a sua mão com vigor e o olhou nos olhos sorrindo de modo sexi – Acho que não sou tão velho assim, não é? Pode me chamar de Laércio como todo mundo.
— Desculpa – Fabian estava constrangido e puxou a mão rapidamente – Laércio.
O rapaz voltou a ninar Gabriel e só então o fazendeiro notou o garotinho no se colo olhando-o atentamente.
— Mas que gracinha! – ele estendeu os braços – Posso?
Fabian sorriu constrangido e olhou o irmão que ria.
— Já disse que ele teve quatro Fabian, ele sabe o que faz.
Um tanto temeroso ele entregou o bebê para Laércio que o segurou de modo correto olhando a criança com carinho.
— Já faz tanto tempo que não segurava um que já estava esquecendo da sensação de calor que esses pedacinhos de gente conseguem deixar no nosso coração.
Fabian admirou as palavras simples, mas muito bonitas do outro que brincava com Gabriel. O menino havia segurado um de seus dedos com força e não parava de olhá-lo.
— Obrigado pelo empréstimo do berço se... quero dizer Laércio. Assim que puder comprar um eu devolvo.
— Deixe de bobagens! – ele riu fazendo cócegas na barriguinha do menino – Pode usar o berço. Ele estava trancado no sótão lá de casa servindo de acumulador de poeira – olhou o rapaz que desviou os olhos – Vocês já jantaram?
— Ainda não – foi Márcio que respondeu arrumando o colchão no berço – Eu ia ver se a Aninha tinha algo pra gente e leite pro Gabriel.
— Então está resolvido – disse Laércio alegremente olhando para Fabian – Convido vocês para o jantar.
— O que qui tem de bom hoje, heim? – perguntou Márcio colocando as mãos nos bolsos da calça.
— Eu convido e ainda é exigente? – o patrão fez cara feia, mas Márcio apenas levantou uma sobrancelha.
— Adoro o tutu de feijão de corda da Ana.
— Eu posso ti oferecer a ração do Anúbis.
— Ei a ração dele é importada! Deve ser gostosa.
Fabian olhava de olhos arregalados para a conversa entre empregado e patrão, mas na verdade ali pareciam dois velhos amigos do tempo de escola que viviam se encontrando.
— Estamos assustando o seu irmão Márcio! – riu Laércio.
— Liga não – o irmão fez um gesto de desdém – É assim que a gente costuma se tratar.
— Daí pra pior – responde o fazendeiro devolvendo Gabriel ao pai – Vamos comer meninos. Tô morto de fome.
Fabian estava com fome demais para discutir com o outro. Pegou uma manta para Gabriel e a sua sacola com fraldas e mamadeira e desceram as escadas.
Ao saírem para a noite o vento frio fez o rapaz estremecer. Ele precisava de uma blusa melhor para aquele clima.
De repente ele sentiu algo quente ser colocado em seus ombros e olhou para cima vendo que Laércio havia posto a jaqueta em seus ombros e sorria para ele de modo galante.
— Assim você pega uma pneumonia.
Fabian nunca fora de confiar em ninguém e em nada. Para ele havia sempre uma segunda intenção nos atos das pessoas. Ele se sentia desconfortável com as gentilezas de um senhor rico para com ele. Normalmente pessoas assim só estavam interessados em humilhar pessoas como ele.
Eles logo chegaram a casa e entrara na sala imensa que Fabian olhava com deslumbramento.
— Vocês vão deixar a comida esfriar? – Aninha entrou na sala olhando contrariada para o patrão.
Ana Maria era empregada do seu avô e agora era dele. Para Laércio ela era parte da família e quisera lhe dar a aposentadoria há algum tempo, mas ela preferia ficar na ativa para não enferrujar de acordo com ela. Ela tinha sessenta e um anos, era baixinha, com os cabelos já cinzentos e encaracolados que ela usava curto. Seus olhos eram castanhos e sua pele morena tinha inda um brilho saudável.
— Aninha venha conhecer o irmão de Márcio.
— E esse filho de chocadeira tem irmão? – olhou torto para Márcio que ria e balançava as sobrancelhas para ela obviamente irritando a mulher.
— Aninha meu amor...
— Meu amor a tua vovozinha! – retrucou ela torcendo os lábios e olhando para Fabian – Você é irmão de menino lindo? Só podem ter ti trocado no hospital.
Ela foi até Fabian e olhou para ele e o bebê sorrindo.
— Prazer garoto. Meu nome é Ana Maria, mas pode me chamar de Aninha como todo mundo. Seu filho?
— Sim senhora. Pra mim também é um prazer conhecê-la – ele gostava da mulher de língua afiada e sorriso doce.
— E ele ainda é educado – disse ela indo em direção a uma porta nos fundos da sala – Ele não pode ser seu irmão mesmo Márcio.
Márcio fez uma careta para ela e Laércio riu indo em direção a escada e gritando:
— Jantar cambada!
Fabian ouviu um grande estrondo como se uma manada de elefantes descesse a escada e de repente quatro crianças desciam as escadas seguidas de um pastor alemão com um lenço amarrado a calda e um gato colorido.
O cachorro deu um latido feliz para o seu lado e teria pulado nele se Laércio não tivesse segurado o enorme cachorro.
— Calma Anúbis!
Fabian olhava apavorado para o cão que tinha a língua para fora e lambia o rosto do fazendeiro que tentava afastá-lo. O gato, que na verdade era uma gata, começou a se esfregar em suas pernas ronronando.
— Sekmet! – gritou Laércio tentando segurar Anúbis e afastar a gata.
Quem, em nome de Deus, deu esses nomes aos animais?
— Anúbis pra fora! – um adolescente havia aberto a porta e o cachorro pulou todo feliz para noite deixando para trás um Laércio descabelado e babado.
— Desculpe a confusão Fabian. Anúbis é um pouco exagerado – olhou para os filhos que observavam Fabian com curiosidade – Crianças esse é Fabian irmão de Márcio e Gabriel filho e Fabian.
— É o seu irmão de São Paulo, tio Márcio? – perguntou um garotinho com semblante triste.
— É ele Kauan e vai morar na fazenda agora.
— É um prazer conhecer vocês – disse Fabian sorrindo para eles.
— Vamos comer gente – chamou Laércio e se dirigiram para a mesa de jantar onde Aninha colocara as travessas.
— De o bebê pra mim que eu vou dar de mamadeira para ele.
— Eu não quero incomodar senhora – Fabian tinha sempre muito medo de dar seu filho para pessoas que não conheciam.
— Tá tudo bem Fabian – disse Márcio – A Aninha é grossa, mas é ótima com as crianças!
— Eu vou mostrar quem é grossa amanhã – ela deu um sorriso totalmente vilã da novela das oito e pegou Gabriel no colo com delicadeza e a bolsa. Ela foi para a cozinha conversando com o menino.
Fabian sentou na mesa de mogno com os outros olhando para as travessas de carne, arroz, feijão e legumes gratinados. Haviam também salada de folhas e sucos.
A boca dele estava salivando diante do cheiro de comida.
— Deixa que eu ti sirvo – disse Laércio sorrindo para ele – O que gosta?
— Eu não tenho problemas com comida, gosto de tudo.
O fazendeiro sorriu para ele e encheu seu prato. Logo todos comiam e falavam ao mesmo tempo em uma cacofonia de sons que Márcio parecia se sentir à vontade.
As crianças conversaram com Fabian sobre São Paulo. Kauan era o mais quieto e olhava ressabiado para o outro e remexia na comida no seu prato. Já Regina e Samara eram as faladeiras e desenvoltas. Jon era um adolescente quieto, não exatamente triste. Ele parecia mais desligado do mundo a sua volta.
Quando todos terminaram de comer Laércio e Márcio foram buscar uma tigela com um doce verde que comeram com queijo fresco.
Ana apareceu com Gabriel que estava dormindo nos seus braços.
— Seu filho é um doce – dizia ela entregando o menino para Fabian que sorriu ao ver o semblante satisfeito do bebê.
— Ele costuma ser bem tranqüilo.
— Cadê a mãe dele? – perguntou Regina olhando o bebê por sobre a mesa.
— Ela morreu no parto – respondeu Fabian triste.
— A minha também morreu – Kauan falava pela primeira vez olhando triste para o bebezinho.
— Eu lamento – disse Fabian – Eu também já não tenho mais mãe e sinto muito a falta dela.
Kauan olhou para Fabian e balançou a cabeça triste indo para as escadas atrás do seu rato.
— Ele nunca conseguiu se recuperar da morte da mãe – disse Laércio olhando o filho se afastando.
Márcio e Fabian se despediram. O rapaz agradeceu Laércio por tudo e saíram para a noite fria.
Fabian ia pensando naquela família tão estranha e Márcio bocejava pensando em sua cama.
Lucas olhou em volta mais uma vez antes de se dar por derrotado.
— Será que alguém viu os meus óculos? – ele gritou para a sala onde três dos seus cinco filhos viam TV.
— Em cima da geladeira! – gritou Isabella em tom de riso.
Lucas revirou os olhos e olhou em cima da geladeira duplex de cor inox vendo os óculos pendurados na parte de cima.
Ele odiava aqueles óculos, mas ele não se acostumara com as benditas lentes de contato e agora para ler um simples livro de receitas ele tinha que ter cara de professor.
Examinou seu reflexo na geladeira torcendo os lábios com desgosto. Ele não tinha mais que um metro e sessenta e seu filho mais velho de dezesseis anos já era muito maior que ele. Seus cabelos negros com reflexos azulados tinha alguns fios brancos que ele quisera cobrir com tinturas mais Alberto, seu marido, havia impedido.
Seus olhos eram castanhos, da cor de chocolate, o rosto de pele muito branca tinha umas pequenas manchas que ele ganhara andando no sol sem protetor que ele resmungava que deixava sua pele oleosa. Seu corpo era magro e flexível. Quando era adolescente havia dançado em boates gays de São Paulo deixando muitos homens babando por ele, mas havia sido um advogado sério e taciturno que havia roubado seu coração.
Alberto Sampaio era um advogado de uma grande firma e sua especialidade era direito internacional prestando serviços para multinacionais. Vindo de família rica e influente, enfrentara toda ela por sua opção sexual até que teve que se afastar por não suportar mais as agressões da família.
Vivia sozinho em um apartamento de luxo. Não gostava de paqueras, o que ele procurava era um namorado, alguém com quem ele podia contar e repartir a sua solidão.
Um dia fora a um bar e dera de cara com o mais lindo dançarino que ele vira na vida. Ficara cada segundo olhando para o seu corpo definido coberto de óleo.
Passara a frequentar a boate com as esperança de ser notado pelo belo dançarino, pois não tinha coragem de se aproximar.
Uma noite saindo da boate frustrado por não ter conseguido se declarar de novo ele viu em um beco três homens molestando um menor. Sem pensar duas vezes, Alberto investira contra os valentões e conseguira nocauteá-los. Quando foi ajudar o agredido vira que era o lindo dançarino da boate, machucado e traumatizado.
Alberto o levara para casa e no outro dia se declarara gaguejando para Lucas.
Lucas havia visto aquele homem lindo que ia toda a noite e ficava olhando ele dançar.
Depois da agressão ele estava desconfiado e com medo de tudo, mas Alberto o pedira em namoro, como uma cena de filme em preto e branco. Era a coisa mais fofa que alguém já tinha feito por ele. Aceitou namorar e em uma semana estavam morando juntos e Lucas deixava a boate para se dedicar a casa e ao namorado.
Durante três anos eles viveram bem e felizes, mas um dia um louco homofóbico atirado em Alberto na rua quase causando a sua morte.
Eles não queriam mais viver em São Paulo e foi assim que Alberto entrou em contato com seu amigo de infância Laércio que por coincidência precisava de um advogado e alguém que ajudasse a administrar uma grande fortuna.
Assim deixaram a cidade grande para morar em uma fazenda do interior.
Um ano depois eles começaram a luta para adotar uma criança e com a ajuda de Laércio e seu poder eles conseguirão a guarda de cinco irmãos órfãos que lutavam nos abrigos para não serem separados. Ninguém queria adotar ao mesmo tempo cinco crianças e ainda mais se elas fossem negras.
Assim que viram os irmãos Alberto e Lucas não tiveram dúvidas, esses eram os filhos deles. Isso fora há seis anos e ele não conseguia imaginar sua vida sem eles.
— O que tem de tão interessante na porta da geladeira? – Berto entrara na cozinha enxugando o cabelo e sorrindo para o marido.
— Apreciando o meu reflexo – disse Lucas rindo e se virando para dar um beijo no pescoço de Alberto – Tá cheiroso.
— É o perfume que me deu de natal – deu um beijo nos lábios dele e disse no seu ouvido – Passei também em outros lugares.
— Se comporte seu pervertido – riu o marido voltando para a bancada e colocando os óculos – De noite e te cheiro todinho.
— Estarei esperando.
Lucas deu uma risada e balançou a cabeça feliz.
segunda-feira, 26 de março de 2012
Capitulo VI - Caminhos do Destino
Capitulo IV
Depois do jantar Mathew se ofereceu para lavar os pratos e Paul mandou Gabe ir com ele. O garoto resmungou sobre isso ser coisa de mulher, mas se calou ante o olhar o pai.
Jared e Jason apesar de caindo de sono fizeram birra para subir para seus quartos. Sara os empurrou para cima dizendo que ia dormir também. Ela estava risonha demais para a paz de espírito de Paul.
Depois de uma hora, Mathew e Paul foram até se sentar na sala onde o pai costurava perto da lareira acessa e com o pé em cima de um banquinho.
— Odeio lavar pratos e panelas – Gabe resmungava ao sentar perto do pai.
— Sei que odeia isso filho, mas não podemos viver em uma casa suja e cozinhar se não houver panelas. Acho que é justo se a Sara fez o jantar os outros lavarem os pratos.
— Ele é péssimo lavando as coisas – Gabe olhava de forma acusadora para o príncipe que riu.
— Eu sou melhor com uma espada.
Os trovões voltaram a ribombar e o menino chegou mais perto de Paul.
— Ta tudo bem – disse o outro abraçando os ombros magros do menino – É só a chuva.
Mathew observou como o menino estremecia a cada relâmpago, mas tentava se mostrar corajoso.
— Já ouviu falar nos dragões Gabe? – o príncipe tentou distraí-lo do barulho das trovoadas.
— Eles são lenda – resmungou o outro, mas o olhou curioso de lado.
— Eu já vi muitos – disse ele dando de ombros.
— Mesmo? – ele agora parecia muito interessado.
— Nas terras de Gaulesh ao norte. O reino de minha família da ao norte para as terras dos elfos...
— Elfos!! – Gabe havia dado um pulo ao ouvir aquilo e seus olhos brilhavam.
— Você disse a palavra mágica – riu Paul – Ele é louco para conhecer os elfos.
— Você já viu algum Mathew?
— Duas vezes quando servia em uma base na fronteira. Eles não são muitos de se afastarem das matas onde é seu lar.
— Como eles são?
— Parecidos conosco, mas também diferentes. São altos e esguios, com longos cabelos de um tom lilás e olhos muito parecidos com os seus, verdes como as primeiras folhas de uma videira. Falam uma estranha língua, mas também a nossa. Quando cantam é como se o mundo inteiro brilhasse e você pudesse senti-lo pela primeira vez.
— Eles têm orelhas pontudas como dizem?
— Isso é lenda, apesar de sua beleza sobrenatural ser real. Nunca tinha visto ninguém manejar uma espada e um arco como esses elfos. Mesmo aparentemente magros eles são muito fortes e certeiros.
— E os dragões?
— Esses eu já vi varias vezes. Alguns são fazem nada, mas também não se aproximam de populações humanas, são os dragões brancos. Já os negros são ferozes e causam destruição por todo o lado. Conheci alguns vermelhos, mas eles são do tamanho de um cachorro médio e muita gente têm eles na fronteira como bichos de estimação.
— Um dragão!? – o menino se maravilhava com as palavras do outro – Ual! Eu queria um.
— Eu imagino o que aconteceria – Paul balançou a cabeça como se apenas o pensamento fosse doloroso – É hora de dormir Gabe.
— Mas pai eu queria ouvir mais sobre os elfos!
— Acho que o príncipe Mathew esta cansado filho. Talvez um outro dia vocês possam conversar sobre os povos do norte.
A expressão do menino era de tristeza ao se levantar e Mathew pensou em algo para animá-lo.
— Que tal se eu trouxesse um dos livros que falam sobre elfos da biblioteca do meu irmão? Ele tem ótimas ilustrações.
— Mesmo? – os olhos de Gabe se iluminaram e ele praticamente saltou no pescoço dele – Obrigado!
— Ora, de nada – o outro ficou sem graça.
— Boa noite – ele seu um beijo em Mathew e outro em Paul – Boa noite pai – e subiu correndo as escadas carregando uma das lamparinas acesas em cima de uma mesinha perto da escada.
— Gabe deve ter gostado mesmo de você! – Paul estava pasmo – Ele é sempre tão arredio e nunca chegou perto de estranhos.
— Acho que depois de ararmos um campo e lavarmos uma pilha de pratos deixamos de ser estranhos.
— Talvez ele esteja melhorando – disse Paul quase num sussurro.
— Paul, Gabe me disse que a mãe verdadeira dele o jogou no lixo?
— Ele contou isso pra você? – o outro se empertigou na hora.
— Ele me falou depois que eu contei que a minha mãe me obrigava a viver em cima dos estábulos e proibia de entrar no castelo.
— Por que ela fez isso?! – Paul parecia horrorizado.
Mathew respirou fundo olhando para a janela.
— Somos em quatro irmãos. Dylan, Phillip, Katrina e eu. Assim que Dylan nasceu ela não queria mais filhos em hipótese nem uma, mas meu pai dizia que a casa dos McGives de Gaulesh precisava de mais herdeiros e assim nasceu Phillip e Katrina. Para a minha mãe e meu pai era mais do que o suficiente alem de que para eles só o que importava era o herdeiro do reino, meu irmão mais velho. Phillip e Kate viviam em outra residência perto do castelo, mas longe o suficiente para não incomodar – aquilo doía tanto em ser dito, ele sentia o rosto quente de humilhação pelo que sua mãe fizera, mas estranhamente seu peito parecia ficar mais leve a cada palavra que dizia a Paul – Qual não foi a surpresa dos meus pais, descobrir oito anos após Kate ter nascido que a minha mãe estava grávida de novo. O que eu sei é que ela me odiou desde o dia de minha concepção. Assim que nasci fui criado pelos criados do castelo e quando tinha sete anos eles me mandaram para um quarto nos estábulos. Eu via os meus irmãos e costumávamos nos encontrar as escondidas em uma passagem que dava no sótão. Os criados nos ajudavam nisso e Dylan era o nosso líder nas aventuras de explorar o sótão e o porão onde meus pais nunca iam. Ele era o mais velho e vivia prometendo que um dia todos iam morar junto no castelo – ele deu uma risada sem alegria – Quando ele ficou maior de idade tentou fazer isso e nossa mãe ficou doida de raiva e transformou a vida de nós três em um inferno que resolvemos fugir um dia, mas Dylan descobriu e percebeu que aquilo não estava dando certo. Como príncipe herdeiro ele também era o duque de Albarã, uma grande extensão de terras ao oeste que ficava nos vales. Fomos morar na propriedade que havia ali como protegidos do duque. Finalmente tínhamos alguma paz, mas descobríamos finalmente que nossos pais nunca iam nos amar.
— Isso... – olhou para um tremulo Paul com os olhos castanhos brilhando de raiva – Como uma mãe pode fazer isso? Como não amar os seus filhos? Como não se deliciar com cada sorriso, com cada travessura? Como não querer sentir o seu calor ou ficar olhando para eles dormindo por horas? Como não vê-los crescer e se orgulhar de cada pequena vitória daquele pequeno ser que é parte de você?
— Imaginei que para uma pessoa como você Paul, as atitudes dos meus pais seriam incompreensíveis. Alguém que ama incondicionalmente à sua família, que se doa de corpo e alma a ela.
Paul sentiu raiva por aqueles pais e pena pela solidão que via nos olhos de Mathew. Levantou da poltrona e foi mancando até um surpreso príncipe. Estendeu a mão para ele o convidando a levantar e quando ele o fez, Paul o abraçou apertado.
— Nem uma criança deveria passar por isso – murmurava ele – Elas são o presente mais lindo que uma pessoa pode ganhar de Deus.
Mathew fez força para não chorar, mas era como se um dique que sempre reterá as suas emoções tivesse rompido. Ele começou a soluçar como uma criança ferida que é abraçada pela mãe, coisa que ele nunca tinha feito.
Demorou algum tempo para que ele pudesse se acalmar e quando isso aconteceu ele se deu conta do corpo quente de Paul, dos seus braços apertando seus ombros e do seu perfume doce.
Segurou o rosto do outro acariciando a pele lisa e delicada. Beijos as pálpebras úmidas, a ponta do nariz e finalmente os lábios. Ele apertou Paul trazendo ele para mais perto e o outro não fez menção de se afastar, ao contrario, ele segurou na camisa dele com força.
Eles se beijaram com ferocidade e paixão, sedentos de amor. Mathew sugava a língua de Paul e este sentiu a ereção do outro de encontro ao seu abdômen deixando ele duro na hora. Gemeu quando Mathew desceu as mãos para suas nádegas e apertou afoito. Ele queria sentir aquelas mãos em sua carne nua e isso o fazia gemer e quase gozar sem nem mesmo se tocar.
Mathew beijou o queixo dele e começou a marcar seu pescoço com um forte chupão. Como Paul não vestia a longa túnica dentro de casa ele pode colocar as mãos sob a sua camisa sentindo a pele lisa e quente e tocou os mamilos sensíveis de Paul que mordeu os lábios para não gritar, deus ele estava a ponto de ejacular dentro de suas calças.
O príncipe o olhou com aqueles incríveis olhos violetas e desceu as mãos para a sua calça e Paul estremeceu. Ele precisava parar, mas já fazia tanto tempo que ele não sentia tanto prazer que seu corpo não respondia mais a sua cabeça.
Mathew meteu a mão dentro de suas calças e roupas intimas tocando em seu pênis ereto de onde o pré sêmen pingava. Passou o dedo pela ranhura da ponta e começou uma lenta e torturante masturbação que o deixou de pernas bambas.
Paul jogou a cabeça para cima revirando os olhos quando a mãos do príncipe chegou até o seu escroto e voltou a subir por toda a extensão do pênis em um vai e vem ainda mais lento e torturante.
Mathew lambeu os lábios ao vê-lo ofegante e se contorcendo de prazer em seus braços. Nunca havia visto nada mais erótico e ele estava tão duro que seu pau doía e pressionava os botões da calça. Voltou a violar a boca do outro com fúria e aumento a velocidade de sua mão até que sentiu um liquido quente se derramar nela.
Paul quase havia desmaiado ao gozar na mão do outro, se ele não o tivesse segurando teria caído no chão.
— Delicioso – murmurou Mathew lambendo o seu ouvido.
De repente a sala toda foi iluminada por uma luz muito brilhante o logo em seguida um trovão estremeceu a casa toda tal a sua intensidade.
No segundo após foi tudo tão silencioso que Paul ouvia as batidas do seu coração, mas logo um grito longo e agonizante encheu o ar.
— Meu Deus Gabe! – Paul tentou correr, mas quase foi ao chão por causa do pé torcido.
Mathew segurou-o antes que fosse ao chão e o outro lutava contra ele.
— Me solta! Eu preciso ir ver meu filho!
— Você não vai ajudar ele caindo da escada – segurou Paul no colo – Pegue a lanterna!
Paul agarrou a lanterna de cima da mesa e iluminou o caminho para Mathew que subia as escadas de dois em dois degraus. O grito apavorado de Gabe enchia a casa e cortava o coração de ambos.
O quarto de Gabe e Shon era no fim do corredor a direita. Jared, Jason e Sara estavam no corredor.
— Mãe ele esta gritando de novo – Sara choramingava enquanto os dois menores se agarravam a ela – Ajuda ele.
— Fiquem calmos, ele só se assustou.
Mathew pôs ele no chão na porta do quarto que Paul abriu e encontrou Shon chorando aos pés da cama de Gabe e este encostado em um canto da parede, os olhos arregalados e pálido. Ele não parecia ter notado quando os dois entraram.
— Ele bateu em mim, mãe – Shon tremia e podia-se ver uma mancha vermelha se formando – Eu só queria ajudar ele...
— Calma – Paul abraçou o menino – Você sabe que ele não sabia que era você?
— Ele não tem culpa – Shon chorava ainda mais – O homem que fez isso com ele é que tem.
— Deixe ele comigo – Mathew segurou Shon no colo que soluçava de dar pena – Cuide do Gabe.
Paul acenou um agradecimento e foi se aproximando lentamente do filho mais velho.
— Gabe, sou eu, seu pai. Esta tudo bem, foi só um trovão. Eu estou aqui com você e nada vai ti acontecer.
— Ele ta ali – o menino apontou para a escuridão – Manda ele embora. Manda ele embora – e ele começou com uma cantinela com essas três palavras enquanto balançava seu corpo para frente e para trás.
Paul se aproximava lentamente até que sentou do lado dele e o puxou para os braços.
— Ele já foi embora, Gabe. Ele já foi embora.
O garoto parecia acordar naquele momento. Estremeceu nos braços do pai e começou a chorar de uma forma que dava pena.
Paul começou a cantar uma canção de ninar que acalmou aos poucos o menino.
— Pai desculpa – ele pedia com a voz rouca.
— Não precisa pedir desculpas meu anjo – Paul enxugava as lágrimas do menino – Você esta melhor?
— Minha cabeça dói – ele olhou para Shon nos braços de Mathew – Shon? Eu assustei você de novo?
— Não – ele fungou – Foi o trovão. Eu cai da cama – enterrou o rosto no peito de Mathew e ele não pode de deixar de admirar o fato dele não contar o que havia acontecido e assim fazer o irmão se sentir ainda pior.
Sara e os outros dois meninos estavam na porta.
— Vão dormir – disse Paul – Ta tudo bem agora.
Sara assentiu e empurrou Jared e Jason para o corredor.
— Que tal se você for dormir comigo e Mathew ficar aqui com Shon? – perguntou Paul ajudando o filho a se levantar.
Gabe assentiu com a cabeça parecendo extremamente constrangido com tudo que tinha acontecido. Paul lançou um olhar atormentado para Mathew que sorriu.
— Eu não gosto muito de tempestades – ele disse olhando para os olhos vermelhos de Shon – acho que se eu estiver junto com o Shon vou sentir menos medo. O que acha disso companheiro?
— Hum, hum – ele resmungou coçando os olhos.
— Vamos Gabe – Paul abraçou os ombros do filho – Vai ser bom alguém dormir comigo também. Sabe o quanto eu odeio trovões.
— O senhor rói unhas quando esta relampejando – o menino disse sorrindo para ele.
— Eu não rôo unhas! – Paul protestava enquanto saia do quarto e dizia um obrigado mudo para Mathew que lhe sorria com os olhos brilhando.
Assim que eles saíram Shon pulou do colo do príncipe e correu para a sua cama afastando as cobertas, deitando a batendo em um canto da cama.
— Venha dormir comigo Mathew!
Olhou para a estreita cama se perguntando como ia caber ali, mas não teve coragem de decepcionar o menino e se apertou com ele na cama de solteiro.
— Você é grande! – ele riu a sua doce risada infantil e abraçou o pescoço de Mathew beijando o seu rosto – Boa noite.
— Boa noite pequeno – o coração dele se encheu de ternura e ele se acomodou do lado do menino que em segundos já dormia. Ele passou a noite pensando em tudo que tinha acontecido.
Depois do jantar Mathew se ofereceu para lavar os pratos e Paul mandou Gabe ir com ele. O garoto resmungou sobre isso ser coisa de mulher, mas se calou ante o olhar o pai.
Jared e Jason apesar de caindo de sono fizeram birra para subir para seus quartos. Sara os empurrou para cima dizendo que ia dormir também. Ela estava risonha demais para a paz de espírito de Paul.
Depois de uma hora, Mathew e Paul foram até se sentar na sala onde o pai costurava perto da lareira acessa e com o pé em cima de um banquinho.
— Odeio lavar pratos e panelas – Gabe resmungava ao sentar perto do pai.
— Sei que odeia isso filho, mas não podemos viver em uma casa suja e cozinhar se não houver panelas. Acho que é justo se a Sara fez o jantar os outros lavarem os pratos.
— Ele é péssimo lavando as coisas – Gabe olhava de forma acusadora para o príncipe que riu.
— Eu sou melhor com uma espada.
Os trovões voltaram a ribombar e o menino chegou mais perto de Paul.
— Ta tudo bem – disse o outro abraçando os ombros magros do menino – É só a chuva.
Mathew observou como o menino estremecia a cada relâmpago, mas tentava se mostrar corajoso.
— Já ouviu falar nos dragões Gabe? – o príncipe tentou distraí-lo do barulho das trovoadas.
— Eles são lenda – resmungou o outro, mas o olhou curioso de lado.
— Eu já vi muitos – disse ele dando de ombros.
— Mesmo? – ele agora parecia muito interessado.
— Nas terras de Gaulesh ao norte. O reino de minha família da ao norte para as terras dos elfos...
— Elfos!! – Gabe havia dado um pulo ao ouvir aquilo e seus olhos brilhavam.
— Você disse a palavra mágica – riu Paul – Ele é louco para conhecer os elfos.
— Você já viu algum Mathew?
— Duas vezes quando servia em uma base na fronteira. Eles não são muitos de se afastarem das matas onde é seu lar.
— Como eles são?
— Parecidos conosco, mas também diferentes. São altos e esguios, com longos cabelos de um tom lilás e olhos muito parecidos com os seus, verdes como as primeiras folhas de uma videira. Falam uma estranha língua, mas também a nossa. Quando cantam é como se o mundo inteiro brilhasse e você pudesse senti-lo pela primeira vez.
— Eles têm orelhas pontudas como dizem?
— Isso é lenda, apesar de sua beleza sobrenatural ser real. Nunca tinha visto ninguém manejar uma espada e um arco como esses elfos. Mesmo aparentemente magros eles são muito fortes e certeiros.
— E os dragões?
— Esses eu já vi varias vezes. Alguns são fazem nada, mas também não se aproximam de populações humanas, são os dragões brancos. Já os negros são ferozes e causam destruição por todo o lado. Conheci alguns vermelhos, mas eles são do tamanho de um cachorro médio e muita gente têm eles na fronteira como bichos de estimação.
— Um dragão!? – o menino se maravilhava com as palavras do outro – Ual! Eu queria um.
— Eu imagino o que aconteceria – Paul balançou a cabeça como se apenas o pensamento fosse doloroso – É hora de dormir Gabe.
— Mas pai eu queria ouvir mais sobre os elfos!
— Acho que o príncipe Mathew esta cansado filho. Talvez um outro dia vocês possam conversar sobre os povos do norte.
A expressão do menino era de tristeza ao se levantar e Mathew pensou em algo para animá-lo.
— Que tal se eu trouxesse um dos livros que falam sobre elfos da biblioteca do meu irmão? Ele tem ótimas ilustrações.
— Mesmo? – os olhos de Gabe se iluminaram e ele praticamente saltou no pescoço dele – Obrigado!
— Ora, de nada – o outro ficou sem graça.
— Boa noite – ele seu um beijo em Mathew e outro em Paul – Boa noite pai – e subiu correndo as escadas carregando uma das lamparinas acesas em cima de uma mesinha perto da escada.
— Gabe deve ter gostado mesmo de você! – Paul estava pasmo – Ele é sempre tão arredio e nunca chegou perto de estranhos.
— Acho que depois de ararmos um campo e lavarmos uma pilha de pratos deixamos de ser estranhos.
— Talvez ele esteja melhorando – disse Paul quase num sussurro.
— Paul, Gabe me disse que a mãe verdadeira dele o jogou no lixo?
— Ele contou isso pra você? – o outro se empertigou na hora.
— Ele me falou depois que eu contei que a minha mãe me obrigava a viver em cima dos estábulos e proibia de entrar no castelo.
— Por que ela fez isso?! – Paul parecia horrorizado.
Mathew respirou fundo olhando para a janela.
— Somos em quatro irmãos. Dylan, Phillip, Katrina e eu. Assim que Dylan nasceu ela não queria mais filhos em hipótese nem uma, mas meu pai dizia que a casa dos McGives de Gaulesh precisava de mais herdeiros e assim nasceu Phillip e Katrina. Para a minha mãe e meu pai era mais do que o suficiente alem de que para eles só o que importava era o herdeiro do reino, meu irmão mais velho. Phillip e Kate viviam em outra residência perto do castelo, mas longe o suficiente para não incomodar – aquilo doía tanto em ser dito, ele sentia o rosto quente de humilhação pelo que sua mãe fizera, mas estranhamente seu peito parecia ficar mais leve a cada palavra que dizia a Paul – Qual não foi a surpresa dos meus pais, descobrir oito anos após Kate ter nascido que a minha mãe estava grávida de novo. O que eu sei é que ela me odiou desde o dia de minha concepção. Assim que nasci fui criado pelos criados do castelo e quando tinha sete anos eles me mandaram para um quarto nos estábulos. Eu via os meus irmãos e costumávamos nos encontrar as escondidas em uma passagem que dava no sótão. Os criados nos ajudavam nisso e Dylan era o nosso líder nas aventuras de explorar o sótão e o porão onde meus pais nunca iam. Ele era o mais velho e vivia prometendo que um dia todos iam morar junto no castelo – ele deu uma risada sem alegria – Quando ele ficou maior de idade tentou fazer isso e nossa mãe ficou doida de raiva e transformou a vida de nós três em um inferno que resolvemos fugir um dia, mas Dylan descobriu e percebeu que aquilo não estava dando certo. Como príncipe herdeiro ele também era o duque de Albarã, uma grande extensão de terras ao oeste que ficava nos vales. Fomos morar na propriedade que havia ali como protegidos do duque. Finalmente tínhamos alguma paz, mas descobríamos finalmente que nossos pais nunca iam nos amar.
— Isso... – olhou para um tremulo Paul com os olhos castanhos brilhando de raiva – Como uma mãe pode fazer isso? Como não amar os seus filhos? Como não se deliciar com cada sorriso, com cada travessura? Como não querer sentir o seu calor ou ficar olhando para eles dormindo por horas? Como não vê-los crescer e se orgulhar de cada pequena vitória daquele pequeno ser que é parte de você?
— Imaginei que para uma pessoa como você Paul, as atitudes dos meus pais seriam incompreensíveis. Alguém que ama incondicionalmente à sua família, que se doa de corpo e alma a ela.
Paul sentiu raiva por aqueles pais e pena pela solidão que via nos olhos de Mathew. Levantou da poltrona e foi mancando até um surpreso príncipe. Estendeu a mão para ele o convidando a levantar e quando ele o fez, Paul o abraçou apertado.
— Nem uma criança deveria passar por isso – murmurava ele – Elas são o presente mais lindo que uma pessoa pode ganhar de Deus.
Mathew fez força para não chorar, mas era como se um dique que sempre reterá as suas emoções tivesse rompido. Ele começou a soluçar como uma criança ferida que é abraçada pela mãe, coisa que ele nunca tinha feito.
Demorou algum tempo para que ele pudesse se acalmar e quando isso aconteceu ele se deu conta do corpo quente de Paul, dos seus braços apertando seus ombros e do seu perfume doce.
Segurou o rosto do outro acariciando a pele lisa e delicada. Beijos as pálpebras úmidas, a ponta do nariz e finalmente os lábios. Ele apertou Paul trazendo ele para mais perto e o outro não fez menção de se afastar, ao contrario, ele segurou na camisa dele com força.
Eles se beijaram com ferocidade e paixão, sedentos de amor. Mathew sugava a língua de Paul e este sentiu a ereção do outro de encontro ao seu abdômen deixando ele duro na hora. Gemeu quando Mathew desceu as mãos para suas nádegas e apertou afoito. Ele queria sentir aquelas mãos em sua carne nua e isso o fazia gemer e quase gozar sem nem mesmo se tocar.
Mathew beijou o queixo dele e começou a marcar seu pescoço com um forte chupão. Como Paul não vestia a longa túnica dentro de casa ele pode colocar as mãos sob a sua camisa sentindo a pele lisa e quente e tocou os mamilos sensíveis de Paul que mordeu os lábios para não gritar, deus ele estava a ponto de ejacular dentro de suas calças.
O príncipe o olhou com aqueles incríveis olhos violetas e desceu as mãos para a sua calça e Paul estremeceu. Ele precisava parar, mas já fazia tanto tempo que ele não sentia tanto prazer que seu corpo não respondia mais a sua cabeça.
Mathew meteu a mão dentro de suas calças e roupas intimas tocando em seu pênis ereto de onde o pré sêmen pingava. Passou o dedo pela ranhura da ponta e começou uma lenta e torturante masturbação que o deixou de pernas bambas.
Paul jogou a cabeça para cima revirando os olhos quando a mãos do príncipe chegou até o seu escroto e voltou a subir por toda a extensão do pênis em um vai e vem ainda mais lento e torturante.
Mathew lambeu os lábios ao vê-lo ofegante e se contorcendo de prazer em seus braços. Nunca havia visto nada mais erótico e ele estava tão duro que seu pau doía e pressionava os botões da calça. Voltou a violar a boca do outro com fúria e aumento a velocidade de sua mão até que sentiu um liquido quente se derramar nela.
Paul quase havia desmaiado ao gozar na mão do outro, se ele não o tivesse segurando teria caído no chão.
— Delicioso – murmurou Mathew lambendo o seu ouvido.
De repente a sala toda foi iluminada por uma luz muito brilhante o logo em seguida um trovão estremeceu a casa toda tal a sua intensidade.
No segundo após foi tudo tão silencioso que Paul ouvia as batidas do seu coração, mas logo um grito longo e agonizante encheu o ar.
— Meu Deus Gabe! – Paul tentou correr, mas quase foi ao chão por causa do pé torcido.
Mathew segurou-o antes que fosse ao chão e o outro lutava contra ele.
— Me solta! Eu preciso ir ver meu filho!
— Você não vai ajudar ele caindo da escada – segurou Paul no colo – Pegue a lanterna!
Paul agarrou a lanterna de cima da mesa e iluminou o caminho para Mathew que subia as escadas de dois em dois degraus. O grito apavorado de Gabe enchia a casa e cortava o coração de ambos.
O quarto de Gabe e Shon era no fim do corredor a direita. Jared, Jason e Sara estavam no corredor.
— Mãe ele esta gritando de novo – Sara choramingava enquanto os dois menores se agarravam a ela – Ajuda ele.
— Fiquem calmos, ele só se assustou.
Mathew pôs ele no chão na porta do quarto que Paul abriu e encontrou Shon chorando aos pés da cama de Gabe e este encostado em um canto da parede, os olhos arregalados e pálido. Ele não parecia ter notado quando os dois entraram.
— Ele bateu em mim, mãe – Shon tremia e podia-se ver uma mancha vermelha se formando – Eu só queria ajudar ele...
— Calma – Paul abraçou o menino – Você sabe que ele não sabia que era você?
— Ele não tem culpa – Shon chorava ainda mais – O homem que fez isso com ele é que tem.
— Deixe ele comigo – Mathew segurou Shon no colo que soluçava de dar pena – Cuide do Gabe.
Paul acenou um agradecimento e foi se aproximando lentamente do filho mais velho.
— Gabe, sou eu, seu pai. Esta tudo bem, foi só um trovão. Eu estou aqui com você e nada vai ti acontecer.
— Ele ta ali – o menino apontou para a escuridão – Manda ele embora. Manda ele embora – e ele começou com uma cantinela com essas três palavras enquanto balançava seu corpo para frente e para trás.
Paul se aproximava lentamente até que sentou do lado dele e o puxou para os braços.
— Ele já foi embora, Gabe. Ele já foi embora.
O garoto parecia acordar naquele momento. Estremeceu nos braços do pai e começou a chorar de uma forma que dava pena.
Paul começou a cantar uma canção de ninar que acalmou aos poucos o menino.
— Pai desculpa – ele pedia com a voz rouca.
— Não precisa pedir desculpas meu anjo – Paul enxugava as lágrimas do menino – Você esta melhor?
— Minha cabeça dói – ele olhou para Shon nos braços de Mathew – Shon? Eu assustei você de novo?
— Não – ele fungou – Foi o trovão. Eu cai da cama – enterrou o rosto no peito de Mathew e ele não pode de deixar de admirar o fato dele não contar o que havia acontecido e assim fazer o irmão se sentir ainda pior.
Sara e os outros dois meninos estavam na porta.
— Vão dormir – disse Paul – Ta tudo bem agora.
Sara assentiu e empurrou Jared e Jason para o corredor.
— Que tal se você for dormir comigo e Mathew ficar aqui com Shon? – perguntou Paul ajudando o filho a se levantar.
Gabe assentiu com a cabeça parecendo extremamente constrangido com tudo que tinha acontecido. Paul lançou um olhar atormentado para Mathew que sorriu.
— Eu não gosto muito de tempestades – ele disse olhando para os olhos vermelhos de Shon – acho que se eu estiver junto com o Shon vou sentir menos medo. O que acha disso companheiro?
— Hum, hum – ele resmungou coçando os olhos.
— Vamos Gabe – Paul abraçou os ombros do filho – Vai ser bom alguém dormir comigo também. Sabe o quanto eu odeio trovões.
— O senhor rói unhas quando esta relampejando – o menino disse sorrindo para ele.
— Eu não rôo unhas! – Paul protestava enquanto saia do quarto e dizia um obrigado mudo para Mathew que lhe sorria com os olhos brilhando.
Assim que eles saíram Shon pulou do colo do príncipe e correu para a sua cama afastando as cobertas, deitando a batendo em um canto da cama.
— Venha dormir comigo Mathew!
Olhou para a estreita cama se perguntando como ia caber ali, mas não teve coragem de decepcionar o menino e se apertou com ele na cama de solteiro.
— Você é grande! – ele riu a sua doce risada infantil e abraçou o pescoço de Mathew beijando o seu rosto – Boa noite.
— Boa noite pequeno – o coração dele se encheu de ternura e ele se acomodou do lado do menino que em segundos já dormia. Ele passou a noite pensando em tudo que tinha acontecido.
domingo, 25 de março de 2012
Rumo ao Paraiso - Capitulo Dois
Capitulo Dois
A cada solavanco da caminhoneta Fabian via estrelas. Ele havia tentado parecer bem para Márcio, mas seu pai havia acertado alguns socos em seu abdômen deixando suas costelas doloridas.
Eles haviam saído da cidade para uma estrada asfaltada que cortava os campos que sumiam rapidamente na escuridão da noite. Havia luz suficiente para ele ver as serras verdes a distância, os campos verdes de cana e café e os pastos amarelados pela falta de chuva. Luzes de fazendas ao longe eram visíveis por entre as arvores ao longe.
Gabriel acordou com fome e resmungou muito tempo até começar a chorar. Fabian tentou acalmá-lo, mas o menino estava obviamente cansado e faminto.
— Tadinho – Márcio olhou para o sobrinho que havia parado de chorar, mas se mexia e resmungava nos braços do pai.
— Ele normalmente é um bom menino, mas está com fome e isso ele não perdoa – disse Fabian constrangido.
— Fabian o menino pode destruir a casa que vou achar bonitinho – disse Márcio rindo – Eu entendo que ele está com fome e você também. Vamos demorar só mais alguns minutos para chegar.
Viraram a direita para uma estrada de terra com alguns buracos que deixaram Fabian sem fôlego. Todavia isso durou apenas alguns segundos logo ele pode avistar uma placa ao Aldo esquerdo da estrada: Fazenda Paraíso. Era uma placa de madeira talhada e escura em cima de duas toras grossas de madeira. Dali para frente à estrada era asfaltada e de muito boa qualidade, o carro parecia deslizar pela noite que finalmente havia descido.
Mesmo na escuridão Fabian via os campos para alem da cerca de arame que separava a estrada do resto da propriedade. Ali os campos eram de cana de açúcar e um capim, pelo menos ele achava que aquilo era um tipo de capim, alto e roxo. Mesmo na seca tudo parecia viçoso e as folhas balançavam calmamente ao sabor da brisa da noite.
Os campos terminaram em uma mata. As árvores altas faziam um teto sobre a estrada e cortaram o bosque por cerca de dez minutos deixando o rapaz pasmo com tanta árvore. Eles cruzaram uma ponte sobre um córrego pequeno e começaram a subir sempre agora entre cafezais sem fim.
No topo da serra a noite já era cerrada e ele só podia ver as luzes da fazenda a distância ele se espantou com tantas.
— Nossa é grande!
— Ao contrario da maioria das fazendas o Paraíso tem a maioria dos seus empregados mora aqui mesmo. O salário é bom, alem de não pagarmos nem água nem energia temos uma participação nos lucros. Muitos aqui têm um pedaço de chão onde planta parte de sua comida e vende o restante.
— Parece ser um bom lugar para se viver.
— Eu adoro isso aqui. Quando cheguei aqui e fiquei como um vaqueiro eu não queria ir para mais nem outro lugar.
Eles atravessaram uma porteira de madeira pintada de branco e entraram em uma alameda de flamboyants que estavam perdendo as suas folhas. A alameda terminava em uma curva que descia para algumas construções, mas a esquerda podia-se ver uma imensa casa iluminada pelas luzes que ficavam no jardim. Seu estilo era vitoriano, com dois andares, janelas francesas brancas e sacadas. As paredes internas eram cobertas de trepadeiras, na verdade falsas vinhas que se entrelaçavam pelas grades da sacada. Não dava para ver os jardins, mas ele via algo das árvores e arbustos e imaginou que deveria ser um jardim magnífico.
Márcio desceu a ladeira atravessando galpões imensos e outras construções que ele não sabia identificar e dobrou a direita onde ele via que havia casas enfileiras ao longo da estrada, cerca de uma dúzia, com suas frentes com jardins e gramados voltados para a estrada.
— Essas são as casas dos empregados? – Fabian ficou boquiaberto olhando as construções.
— São. Eu moro na primeira.
As casas eram todas do mesmo estilo, em estilo sobrado e feitas de tijolos a vista com grandes portas de vidro na frente que dava para uma grande varanda. A direita da casa ficava a garagem e elas eram separadas por cercas vivas de murtas e ligando umas as outras até mesmo uma calçada de pedra cinza.
Márcio parou na frente da primeira casa, era a única que estava com as luzes apagadas.
— Bem vindo a sua nova casa – disse Márcio sorrindo para o irmão.
— Obrigado – ele teve vontade de chorar ao olhar para a casa e saber que ia finalmente comer algo e descansar.
Eles desceram com Fabian carregando Gabriel e o cesto e Márcio pegou as coisas na caçamba do veiculo. Atravessaram o pequeno passeio de cimento que cortava um gramado bem cuidado com várias roseiras em nichos da cerca viva.
Entraram na varanda onde havia várias redes e vasos com grandes samambaias. Márcio abriu a porta de madeira e ascendeu às luzes para uma grande sala com sofás pretos, uma raque da madeira escura com umas grande TV de LCD e aparelho de som. Uma das paredes tinha uma grande porta de vidro que dava o jardim e a outra uma coisa que Fabian só tinha visto em filmes, uma grande lareira de pedra com achas de lenha meio queimadas e cinzas mostrando que era usada.
Perto das escadas de madeira para o piso superior havia uma mesa de vidro fumê com seis cadeiras de aço com um vaso de orquídeas no centro.
Atravessando um espaço à esquerda onde havia uma cadeira de balanço via-se um balcão que dava para a cozinha.
Fabian olhava maravilhado para aquela casa. Ele nunca pensara que ia morar em lugar como aquele.
— Desculpe a bagunça – disse Márcio sem graça catando roupas que ele deixara jogada em cima dos sofá de couro.
Ele pegou rapidamente uma revista pornô e embolou na roupa vermelho de vergonha.
— Márcio – Fabian o olhou com carinho – Não precisa mudar o seu jeito só por minha causa. Achar suas revistas vai ser menos constrangedor do que você achar as minhas.
— Bem eu prefiro peitos e dos grandes, se você me entende? – ele riu – Mas pra mim não tem importância de você ter as suas revistas por ai, só tome cuidado com as crianças da colônia. Elas acham que todas as casas são delas e entram sem bater e sem cerimônia. Já fui pego em situações embaraçosas por causa disso, mas adoro elas de qualquer forma – apontou para as escadas – Vou ti mostrar os quartos.
Eles subiram para o segundo piso que tinha um banheiro no corredor de três quartos. Márcio abriu o segundo mostrando para o irmão um quarto uma cama de solteiro, um guarda-roupa, uma cômoda, uma poltrona perto da janela com uma mesinha do lado.
Marcio deixou as malas em um canto e olhou Fabian.
— Tem roupa de cama no guarda-roupa e pode usar o banheiro do corredor sem preocupação. Vou buscar algo para comermos na casa do Laércio e já peço para trazer um berço que ele tem guardado no sótão.
— Obrigado pela ajuda Márcio, mas Gabriel pode dormir comigo até eu poder comprar algo.
— Para de esquentar essa cabecinha – ele riu – Laércio não vai precisar desse berço tão cedo, ela já tem quatro.
Ele desfez o cabelo dele e saiu do quarto deixando o irmão olhar em volta cansado e agradecido.
— Isso não é justo! – Regina se jogou na cama de Jonathan que lia um livro – Ficar sem internet por uma semana! Isso é tortura e das bravas!
Regina era uma menina de catorze anos de longos cabelos negros, olhos verdes e rosto sardento. Era alta e de corpo bem feito. Seu temperamento era explosivo e decidido, mas ela gostava de demonstrar seu amor e sua raiva com as mesma intensidade.
— Fizeram por merecer – resmungou Jon de detrás das Vinte Mil Léguas Submarinas.
— Não vem não! Você também participou.
O menino fez um trejeito irritado com os lábios. Ele era irmão gêmeo de Regina com os mesmos cabelos negros e olhos verdes, assim como o rosto sardento. Quanto ao temperamento não podiam ser mais diferentes, Jon era calmo, adorava plantas e ler livros. Tímido não tinha a mesma desenvoltura da irmã.
— Tenho que anotar em nunca mais participar dos planos de vocês.
— Bem que você riu bastante – disse Samara do chão onde jogava no celular.
Samara tinha doze anos e tinha cabelos castanhos e olhos azuis. Era um espírito livre que gostava de sempre estar correndo por ai e subindo em árvores. Comandava sua turminha de garotada da fazenda e estava pronta para brigar sempre que alguém ia discutir com ela.
— Será que alguém viu o Quico? – perguntou Kauan olhando por todo lado.
Kauan era o caçula de oito anos. Seus cabelos castanhos eram encaracolados, a pele muito branca e olhos azuis claros. Tinha um olhar triste e era muito parecido com Jon, apenas que era mais introvertido, sempre preso eu seu mundo, mas seguia Samara por todo lado. De todos era quem mais sentia falta de uma mãe.
— Você não prendeu ele na gaiola? – perguntou Regina temerária. Seu pai odiava ratos e só deixava Kauan ficar com o rato branco por que fora a única coisa que o filho caçula pedira em dois anos de intensa depressão.
— Deixei ele só um pouquinho solto e ele fugiu – sua voz era chorosa.
Os irmãos se olharam e de repente todo mundo largou o que estava fazendo e começou uma busca frenética por todo o lado.
Laércio largou os papéis em cima da escrivaninha cansado. Retirou os óculos que usava para leitura e coçou os olhos. Fechou o notebook e inclinou a cadeira relaxando pela primeira vez no dia. Não pode deixar de sorrir ao lembrar da cara da moça coberta de gosma verde e rir mais ainda da inventividade dos filhos.
Eles deveriam estar fazendo algo mais útil, mas ele e Carla sempre haviam deixado seus filhos meio soltos. Eles estavam sempre pela fazendo, brincando, ajudando, correndo. Cresceram junto com as outras crianças da fazenda quase que como uma família, ele mesmo se sentia assim em relação às pessoas que convivia há tantos anos.
Fechou os olhos lembrando da esposa. Deus seus olhos verdes, do amor que ela olhava para ele e para os filhos, do seu riso que iluminava tudo, sua energia e temperamento forte. Das risadas ao verem um filme e os dois acharem o mocinho bonito. Carla nunca tivera problemas com a sua bissexualidade.
Lembrou das noites com eles ouvindo Scorpions e dançando na sala. Das vezes que eles ficavam cantando para os filhos dormirem, dos passeios perto do rio. Das noites de amor...
— Foda! – xingou ele – Preciso de uma bebida.
Foi até o bar que ficava no seu escritório e abaixou-se pegando a garrafa de wisk. Levantou a mão para pegar um copo na prateleira de cima quando s sua mão se fechou em algo mole e quente.
— Kauan!!
O grito pode ser ouvido na casa toda. No quarto os meninos pararam com a procura se olhando preocupados.
— Acho que o pai achou o Quico – disse Regina.
A cada solavanco da caminhoneta Fabian via estrelas. Ele havia tentado parecer bem para Márcio, mas seu pai havia acertado alguns socos em seu abdômen deixando suas costelas doloridas.
Eles haviam saído da cidade para uma estrada asfaltada que cortava os campos que sumiam rapidamente na escuridão da noite. Havia luz suficiente para ele ver as serras verdes a distância, os campos verdes de cana e café e os pastos amarelados pela falta de chuva. Luzes de fazendas ao longe eram visíveis por entre as arvores ao longe.
Gabriel acordou com fome e resmungou muito tempo até começar a chorar. Fabian tentou acalmá-lo, mas o menino estava obviamente cansado e faminto.
— Tadinho – Márcio olhou para o sobrinho que havia parado de chorar, mas se mexia e resmungava nos braços do pai.
— Ele normalmente é um bom menino, mas está com fome e isso ele não perdoa – disse Fabian constrangido.
— Fabian o menino pode destruir a casa que vou achar bonitinho – disse Márcio rindo – Eu entendo que ele está com fome e você também. Vamos demorar só mais alguns minutos para chegar.
Viraram a direita para uma estrada de terra com alguns buracos que deixaram Fabian sem fôlego. Todavia isso durou apenas alguns segundos logo ele pode avistar uma placa ao Aldo esquerdo da estrada: Fazenda Paraíso. Era uma placa de madeira talhada e escura em cima de duas toras grossas de madeira. Dali para frente à estrada era asfaltada e de muito boa qualidade, o carro parecia deslizar pela noite que finalmente havia descido.
Mesmo na escuridão Fabian via os campos para alem da cerca de arame que separava a estrada do resto da propriedade. Ali os campos eram de cana de açúcar e um capim, pelo menos ele achava que aquilo era um tipo de capim, alto e roxo. Mesmo na seca tudo parecia viçoso e as folhas balançavam calmamente ao sabor da brisa da noite.
Os campos terminaram em uma mata. As árvores altas faziam um teto sobre a estrada e cortaram o bosque por cerca de dez minutos deixando o rapaz pasmo com tanta árvore. Eles cruzaram uma ponte sobre um córrego pequeno e começaram a subir sempre agora entre cafezais sem fim.
No topo da serra a noite já era cerrada e ele só podia ver as luzes da fazenda a distância ele se espantou com tantas.
— Nossa é grande!
— Ao contrario da maioria das fazendas o Paraíso tem a maioria dos seus empregados mora aqui mesmo. O salário é bom, alem de não pagarmos nem água nem energia temos uma participação nos lucros. Muitos aqui têm um pedaço de chão onde planta parte de sua comida e vende o restante.
— Parece ser um bom lugar para se viver.
— Eu adoro isso aqui. Quando cheguei aqui e fiquei como um vaqueiro eu não queria ir para mais nem outro lugar.
Eles atravessaram uma porteira de madeira pintada de branco e entraram em uma alameda de flamboyants que estavam perdendo as suas folhas. A alameda terminava em uma curva que descia para algumas construções, mas a esquerda podia-se ver uma imensa casa iluminada pelas luzes que ficavam no jardim. Seu estilo era vitoriano, com dois andares, janelas francesas brancas e sacadas. As paredes internas eram cobertas de trepadeiras, na verdade falsas vinhas que se entrelaçavam pelas grades da sacada. Não dava para ver os jardins, mas ele via algo das árvores e arbustos e imaginou que deveria ser um jardim magnífico.
Márcio desceu a ladeira atravessando galpões imensos e outras construções que ele não sabia identificar e dobrou a direita onde ele via que havia casas enfileiras ao longo da estrada, cerca de uma dúzia, com suas frentes com jardins e gramados voltados para a estrada.
— Essas são as casas dos empregados? – Fabian ficou boquiaberto olhando as construções.
— São. Eu moro na primeira.
As casas eram todas do mesmo estilo, em estilo sobrado e feitas de tijolos a vista com grandes portas de vidro na frente que dava para uma grande varanda. A direita da casa ficava a garagem e elas eram separadas por cercas vivas de murtas e ligando umas as outras até mesmo uma calçada de pedra cinza.
Márcio parou na frente da primeira casa, era a única que estava com as luzes apagadas.
— Bem vindo a sua nova casa – disse Márcio sorrindo para o irmão.
— Obrigado – ele teve vontade de chorar ao olhar para a casa e saber que ia finalmente comer algo e descansar.
Eles desceram com Fabian carregando Gabriel e o cesto e Márcio pegou as coisas na caçamba do veiculo. Atravessaram o pequeno passeio de cimento que cortava um gramado bem cuidado com várias roseiras em nichos da cerca viva.
Entraram na varanda onde havia várias redes e vasos com grandes samambaias. Márcio abriu a porta de madeira e ascendeu às luzes para uma grande sala com sofás pretos, uma raque da madeira escura com umas grande TV de LCD e aparelho de som. Uma das paredes tinha uma grande porta de vidro que dava o jardim e a outra uma coisa que Fabian só tinha visto em filmes, uma grande lareira de pedra com achas de lenha meio queimadas e cinzas mostrando que era usada.
Perto das escadas de madeira para o piso superior havia uma mesa de vidro fumê com seis cadeiras de aço com um vaso de orquídeas no centro.
Atravessando um espaço à esquerda onde havia uma cadeira de balanço via-se um balcão que dava para a cozinha.
Fabian olhava maravilhado para aquela casa. Ele nunca pensara que ia morar em lugar como aquele.
— Desculpe a bagunça – disse Márcio sem graça catando roupas que ele deixara jogada em cima dos sofá de couro.
Ele pegou rapidamente uma revista pornô e embolou na roupa vermelho de vergonha.
— Márcio – Fabian o olhou com carinho – Não precisa mudar o seu jeito só por minha causa. Achar suas revistas vai ser menos constrangedor do que você achar as minhas.
— Bem eu prefiro peitos e dos grandes, se você me entende? – ele riu – Mas pra mim não tem importância de você ter as suas revistas por ai, só tome cuidado com as crianças da colônia. Elas acham que todas as casas são delas e entram sem bater e sem cerimônia. Já fui pego em situações embaraçosas por causa disso, mas adoro elas de qualquer forma – apontou para as escadas – Vou ti mostrar os quartos.
Eles subiram para o segundo piso que tinha um banheiro no corredor de três quartos. Márcio abriu o segundo mostrando para o irmão um quarto uma cama de solteiro, um guarda-roupa, uma cômoda, uma poltrona perto da janela com uma mesinha do lado.
Marcio deixou as malas em um canto e olhou Fabian.
— Tem roupa de cama no guarda-roupa e pode usar o banheiro do corredor sem preocupação. Vou buscar algo para comermos na casa do Laércio e já peço para trazer um berço que ele tem guardado no sótão.
— Obrigado pela ajuda Márcio, mas Gabriel pode dormir comigo até eu poder comprar algo.
— Para de esquentar essa cabecinha – ele riu – Laércio não vai precisar desse berço tão cedo, ela já tem quatro.
Ele desfez o cabelo dele e saiu do quarto deixando o irmão olhar em volta cansado e agradecido.
— Isso não é justo! – Regina se jogou na cama de Jonathan que lia um livro – Ficar sem internet por uma semana! Isso é tortura e das bravas!
Regina era uma menina de catorze anos de longos cabelos negros, olhos verdes e rosto sardento. Era alta e de corpo bem feito. Seu temperamento era explosivo e decidido, mas ela gostava de demonstrar seu amor e sua raiva com as mesma intensidade.
— Fizeram por merecer – resmungou Jon de detrás das Vinte Mil Léguas Submarinas.
— Não vem não! Você também participou.
O menino fez um trejeito irritado com os lábios. Ele era irmão gêmeo de Regina com os mesmos cabelos negros e olhos verdes, assim como o rosto sardento. Quanto ao temperamento não podiam ser mais diferentes, Jon era calmo, adorava plantas e ler livros. Tímido não tinha a mesma desenvoltura da irmã.
— Tenho que anotar em nunca mais participar dos planos de vocês.
— Bem que você riu bastante – disse Samara do chão onde jogava no celular.
Samara tinha doze anos e tinha cabelos castanhos e olhos azuis. Era um espírito livre que gostava de sempre estar correndo por ai e subindo em árvores. Comandava sua turminha de garotada da fazenda e estava pronta para brigar sempre que alguém ia discutir com ela.
— Será que alguém viu o Quico? – perguntou Kauan olhando por todo lado.
Kauan era o caçula de oito anos. Seus cabelos castanhos eram encaracolados, a pele muito branca e olhos azuis claros. Tinha um olhar triste e era muito parecido com Jon, apenas que era mais introvertido, sempre preso eu seu mundo, mas seguia Samara por todo lado. De todos era quem mais sentia falta de uma mãe.
— Você não prendeu ele na gaiola? – perguntou Regina temerária. Seu pai odiava ratos e só deixava Kauan ficar com o rato branco por que fora a única coisa que o filho caçula pedira em dois anos de intensa depressão.
— Deixei ele só um pouquinho solto e ele fugiu – sua voz era chorosa.
Os irmãos se olharam e de repente todo mundo largou o que estava fazendo e começou uma busca frenética por todo o lado.
Laércio largou os papéis em cima da escrivaninha cansado. Retirou os óculos que usava para leitura e coçou os olhos. Fechou o notebook e inclinou a cadeira relaxando pela primeira vez no dia. Não pode deixar de sorrir ao lembrar da cara da moça coberta de gosma verde e rir mais ainda da inventividade dos filhos.
Eles deveriam estar fazendo algo mais útil, mas ele e Carla sempre haviam deixado seus filhos meio soltos. Eles estavam sempre pela fazendo, brincando, ajudando, correndo. Cresceram junto com as outras crianças da fazenda quase que como uma família, ele mesmo se sentia assim em relação às pessoas que convivia há tantos anos.
Fechou os olhos lembrando da esposa. Deus seus olhos verdes, do amor que ela olhava para ele e para os filhos, do seu riso que iluminava tudo, sua energia e temperamento forte. Das risadas ao verem um filme e os dois acharem o mocinho bonito. Carla nunca tivera problemas com a sua bissexualidade.
Lembrou das noites com eles ouvindo Scorpions e dançando na sala. Das vezes que eles ficavam cantando para os filhos dormirem, dos passeios perto do rio. Das noites de amor...
— Foda! – xingou ele – Preciso de uma bebida.
Foi até o bar que ficava no seu escritório e abaixou-se pegando a garrafa de wisk. Levantou a mão para pegar um copo na prateleira de cima quando s sua mão se fechou em algo mole e quente.
— Kauan!!
O grito pode ser ouvido na casa toda. No quarto os meninos pararam com a procura se olhando preocupados.
— Acho que o pai achou o Quico – disse Regina.
sábado, 24 de março de 2012
Caminhos do Destino - Capitulo III
Capitulo III
Assim que sairão da mata mais fechada chegaram a uma estrada que ia para o sul e Paul indicou que aquele era o caminho para sua casa.
Desde o acontecido na floresta eles não tinham se falado muito. Cada um parecia imerso em seus pensamentos, mas era difícil não sentir o calor de cada um, o modo como seus corpos se esfregavam no trote do cavalo.
Finalmente na curva de uma estrada avistaram a casa de pedra coberta de trepadeiras que lembravam vinhas. Mathew admirou a beleza do local cercado de jardins e gramados fazendo fundo com as matas. A direita da casa haviam pequenos campos cultivados formando pequenos quadrados coloridos.
— Sua casa é muito bonita – disse ele – Quem é que cuida dos campos e jardins?
— Quem? – Paul olhou para ele sem entender – Eu e as crianças cuidamos de tudo.
O príncipe ficou sem fala ao pensar que aquele garoto delicado e um punhado de crianças cuidavam da casa e de campos cultivados. Ele não sabia muito sobre o cultivo, mas nos campos de Gaulesh ele sempre via muitas pessoas trabalhando no cultivo dos campos.
De repente a porta da frente se abriu e viram Sara sair acompanhada dos gritos de Gabe:
— Eu já não falei para você me obedecer! – ele gritava vermelho de raiva.
— E eu já não falei que não tenho que obedecer um moleque que complexo de homem! – ela descia as escadas com desenvoltura – É a mãe e o homem do mercado seu cego.
Gabe já tinha visto ao longe Paul e Mathew no cavalo, mas ele não entendia o que estava acontecendo e arrebanhou seus irmãos para dentro da casa e ficara observando eles da janela. De repente Sara cheirou o ar e se precipitou para fora dizendo conhecer o cavaleiro. O menino ficara cheio de raiva e medo, mas sua irmã nunca o ouvia.
— Tá tudo bem Gabe – Paul sorriu para ele, mas Gabe continuou olhando para Mathew com o rosto fechado e os olhos verdes brilhando desconfiados. Ele não gostava daquele estranho.
Ao ouvir a voz da mãe Shon, Jason e Jared saíram de dentro da casa correndo para olhar o cavalo e o cavaleiro com olhos arregalados.
— Ola! – Sara era todo sorrisos arrumando os cabelos loiros.
Paul revirou os olhos em desespero e Mathew ria atrás dele.
— Sua filha é incrível – disse ele – Ele conseguiu saber que era eu mesmo nessa distância!
O outro preferiu não responder. O cavalo parou perto dos três meninos mais novos que quase pulavam de curiosidade.
— Ola crianças – disse Mathew sorrindo para eles. Ele saltou do cabalo e ajudou um Paul vermelho e embaraçado a descer.
— Pai você tá bem? – Gabe havia se aproximado com passos incertos olhando ora para o visitante ora para o pai.
— Estou sim Gabe, eu dei uma torcidinha do tornozelo e lord Mathew me deu uma carona.
— Você é mesmo um lord? – Shon arregalou os olhos violetas olhando de forma admirada para ele – Você já lutou em uma batalha? Posso ver a sua espada? Você é lord de onde?
— Calma Shon! – Paul ria – Você não deu tempo nem dele se apresentar. Isso é falta de educação filho.
Jared e Jason olhava o cavalo negro com as bocas abertas. Eles eram loucos para montar um cavalo de raça como aquele.
— Meu nome é príncipe Mathew do reino de Gaulesh.
— Você é irmão do príncipe Phillip? – perguntou Gabe ainda desconfiado indo para perto do pai e segurando o cesto.
— Isso mesmo – ele sorriu para o menino mais velho, mas só o que conseguiu foi um olhar frio do menino. Parecia que ele tinha a quem puxar.
— Tudo bem mesmo pai? – Gabe segurou a mão de Paul e olhou para ele com os olhos preocupados.
— Não faça essa cara – Paul ria bagunçando os cabelos do filho – Vou melhorar depois de descansar um pouco.
— É melhor enfaixar esse tornozelo – disse Mathew olhando-o sério – Fique em repouso até amanhã que estará melhor.
— Eu sou curandeiro – resmungou Paul – Sei muito bem o que estou fazendo! Meu pé esta bem. Hoje tenho que terminar de semear um campo de feijões ou vou perder o prazo para isso – ele levantou o queixo – Agradeço a carona, príncipe Mathew.
— Ora – os olhos violetas dele brilhavam – mas eu ainda não terminei o meu trabalho.
— O q...
Antes que Paul pudesse esboçar alguma reação foi pego no colo pelo outro.
— Sara me mostre o caminho – disse ele com a voz autoritária.
— Claro – ela disse com uma risadinha.
Paul não sabia o que fazer melhor com o príncipe, se o matava com requintes de crueldade ou se simplesmente lhe dava um chute por entre as pernas. Todavia permaneceu quieto para que Gabe não avançasse em cima do outro como parecia que ia fazer a qualquer momento.
Eles entraram em uma sala pequena com alguns sofás e poltronas, uma cristaleira e uma lareira de pedra. As janelas tinham cortinas brancas de renda e o chão era coberto por tapetes de crochê. Uma escadaria de madeira subia para o primeiro andar e o piso dela brilhava encerado. Tudo era muito limpo, aconchegante e o perfume de frisos vinha de vasos colocados em uma mesinha perto de uma porta que dava para outra sala.
Mathew deixou o rapaz em uma poltrona perto da lareira apagada e foi dar uma olhada no tornozelo inchado e vermelho. As cordas das sandálias haviam marcado a pele onde estas estavam apertando.
Finalmente Paul parecia estar sentindo o latejar do pé, olhando com olhos cansados e desanimados para o tornozelo.
Ele sabia que havia esperado muito para plantar a ultima área de feijões. Mesmo um dia de atraso podia comprometer a colheita das vagens verdes que ele ia fazer conserva para o inverno e para vender o que sobrasse. Agora ele corria o risco de colher às vagens perto demais do frio e uma geada mais forte poderia por toda a sua plantação a perder.
Sentiu as mãos pequenas e delicadas da filha no seu pé e percebeu que ela o olhava preocupada.
— Dói muito mãe?
— Um pouco querida, mas amanhã eu vou estar bem, pode apostar.
— Gabe – Mathew se virou para o garoto mais velho que o olhava de lado – Me mostre o que fazer no campo e eu posso semear o que for necessário.
— N...
— Que ótimo! – gritou Sara sorrindo e batendo palmas – Enquanto os meninos ti ajudam eu faço o jantar. Janta com a gente, não é Mathew?
— Claro – ele disse ao ver o rosto vermelho de Paul.
— Sar...
— Vamos Gabe – Shon puxava o irmão mais novo – Vamos mostrar para o Mathew os campos.
Gabe deu uma olhada para o pai e saiu com todos para fora.
— Sara o que você tá tentando fazer? – Paul estava muito contrariado.
— Agora? Vou conseguir umas ervas para o seu pé e depois o jantar – disse ela alegremente indo para a cozinha o deixandoele bufando.
Mathew deixou seu cavalo em um velho estábulo onde um burro cinza mascava feno em uma baia. Jared e Jason não paravam de falar do grande cavalo e do grande guerreiro deixando ele sem graça. Shon estava ajudando Gabe a pegar a plantadeira manual e as sementes.
O príncipe olhou ressabiado para a plantadeira que tinha o formato de um V e era feito de madeira e metal que Gabe arrastava para fora do estábulo junto com Shon.
— O senhor não tem que fazer isso – disse Gabe todo orgulhoso – Sou muito bem capaz de cuidar do meu pai. Eu posso semear os campos.
Deus! Tal mãe tal filho. A plantadeira era quase da altura do menino e ele a segurava todo duro e orgulhoso.
— Cê é bobo Gabe? – Shon disse colocando as mãos na cintura – Sabe que não consegue fazer isso!
— Eu por acaso perguntei pra você? E bobo é essa sua cara de tonto.
— Eu não sou tonto! – Shon parecia que ia chorar.
— Tonto e chorão!
— Você esta exagerando Gabe – repreendeu Mathew delicadamente. Ele não queria se meter na vida das crianças, mas o menino mais velho estava com raiva e descontava no menor que já chorava de cabeça baixa.
— Você não se meta! – Gabe ergueu os ombros magros tentando parecer maior – Não tem nada que ver com essa família, a minha família. É um estranho e não é bem vindo!
Havia mais que raiva nos olhos verdes do garoto, bem la no fundo Mathew podia ver uma grande tristeza que fez com que ele respirasse fundo para se acalmar. Ficou sobre um joelho deixando seu rosto no mesmo nível que o outro.
— Sabe Gabe, quando eu era da sua idade minha mãe não deixava entrar no castelo onde ela e meu pai viviam. Eu dormia em cima das cocheiras e não me importava de ficar lá, mas eu queria mesmo era que a minha mãe gostasse de mim, mas ela tinha outras coisas a pensar. Eu admiro o modo como seu pai cuida de vocês e os ama, acho que sinto um pouco de ciúmes de uma família tão bonita e o admiro por proteger ela.
— Sua mãe não gostava de você? – o queixo dele tremia – Minha mãe verdadeira não gostava de mim, ela me jogou fora igual ao lixo – fez força para não chorar na frente do outro.
— Sabe o que eu acho? Que a sua verdadeira mãe encontrou você e que a mulher que ti deu a luz, não era nada sua.
Gabe colocou a pequena mão no ombro dele.
— Então você pode ficar com a gente príncipe. Nós seremos a sua família! – abraçou um chorão Shon – Desculpa baixinho.
— Tudo bem Gabe – ele respondeu com a voz rouca e olhou para Mathew – Fica com a gente?
O príncipe olhou para aqueles olhos que o choro havia tornado quase roxo e seu coração se aqueceu de uma forma estranha. Aquelas crianças eram admiráveis.
— Na verdade estou ficando no castelo com o meu irmão, mas eu gostaria de vir visitar vocês de vez em quando. Posso?
— Você vai vir mesmo? – Shon fez um bico adorável e Mathew teve vontade de apertar as bochechas dele.
— É uma promessa – ele estendeu a mão para o menino que ainda parecia relutante – Dou minha palavra de cavaleiro. Promessas assim não podem ser quebradas.
— A gente não precisa cotar a mão para uma promessa dessas? – perguntou Gabe preocupado.
— Querem saber de um segredo? – eles inclinaram as cabeças para ele – Eu e meus irmãos selávamos promessas com cuspi.
— É menos nojento que sangue – disse Shon cuspindo na mão e a estendendo.
Mathew fez o mesmo e apertou a mão do outro com solenidade e depois olhou Gabe que batia o pé com impaciência.
— Eu não vou cuspir na mão, isso é coisa de criança. Eu aceito a sua palavra.
— Eu não sou criança! – Shon logo retrucou para o irmão.
— Não to vendo ele reclamar – sorrindo apontou para Mathew que não se conteve e caiu sentado no chão gargalhando.
Shon começou a rir e Jared e Jason que haviam ficado olhando o cavalo correram e pularam em cima do príncipe querendo saber o que era engraçado. Gabe sorria indulgente, como um adulto olhando as travessuras de uma criança. Shon pulou no bolo e Mathew puxou o braço do menino mais velho que caiu em meio a pernas e braços que começavam a lhe fazer cócegas e ele não pode resistir a ficar gargalhando. Quando se acalmaram estavam cobertos de poeira e ofegantes.
— Acho melhor a gente ir trabalhar – disse Mathew levantando e ajudando Shon e Jared.
— Isso mesmo – Gabe voltara com ar sério ficando em pé a ajudando Jason – Estamos atrasados.
A tropa rumou para os campos que ficavam a direita da casa indo para um terreno vazio, mas já arado para o cultivo.
Gabe mostrou como colocavam as sementes dentro da plantadeira e como ele deveria proceder para não deixar cair muitas sementes em cada vez que enfiava a ponta do equipamento na terra.
Era um serviço cansativo, onde ele tinha que prestar muita atenção nos espaços entre cada aplicação e não plantar muito fundo, pois assim as sementes não nasceriam. Por vezes os garotos tiveram que desenterrar as sementes no lugar onde ele enfiara demais a plantadeira.
Depois de cinco horas dessa tortura e com os braços a ponto de cair eles tinham semeado todo o campo quando o sol já se punha em um mar colorido de vermelho e laranja, nuvens ao longe denunciavam uma tempestade e o cheiro de terra molhada já encha o ar. Todos estavam cobertos de terra e Mathew e perguntava como ia entrar na casa de Paul daquele jeito e sua questão foi respondida quando ele os avistou chegando e foi até a porta mancando.
— O que vocês fizeram?! Cavaram buracos e rolaram dentro deles?
— O campo ta pronto pai – Gabe estava todo orgulhoso.
— Todos para o banho.
Foi um “ah” geral dos meninos, mas Paul apontava para dentro.
— Tirem esses sapatos e cuidado para não espalharem terra no corredor!
— Sim senhor – os meninos relutantes se arrastaram para dentro e Paul olhou o príncipe.
— Bem acho que você não teria uma roupa para mim, então vou ter que deixar para mais tarde – Mathew deu um sorriso luminoso no rosto sujo.
— Pode tirando essas botas e entre logo!
— Sim senhor! – ele bateu continência.
— Idiota!
— Sabe, a recíproca é verdadeira.
— Você se acha tão inteligente, não é?
— Eu não me acho Paul. Ai que esta o diferencial.
— Então, grande sábio apontou as escadas – Pode encontrar o caminho sozinho. Há um banheiro no meu quarto e algumas roupas em cima da minha cama. Meu quarto fica no primeiro andar, segundo a direita.
Mathew retirou as botas de couro e entrou olhando Paul que soltava chispas pelos olhos dourados, estava adorando importuná-lo.
Ele subiu as escadas de madeira até o primeiro andar. Haviam corredores à direita e esquerda e ele pode ouvir o barulho de água e o riso de crianças no corredor da esquerda e percebeu que eles estavam mais brincando que tomando banho.
Abriu a porta do quarto olhando com curiosidade para o ambiente já na penumbra. A cama era grande coberta por uma colcha de retalhos, as janelas tinham cortinas azuis e tapetes floridos cobriam o chão. As paredes tinham quadros mostrando paisagens bucólicas e alguns tinham cavalos correndo por uma linda capina. Uma cadeira de balanço estava perto e uma janela aberta por onde o cheiro de chuva entrava. Uma porta perto do guarda-roupa mostrava onde era o banheiro que era pequeno, com banheira de porcelana branca, a privada e uma pia com tampo de mármore onde se alinhavam alguns perfumes e pentes.
— Não é que o pequeno Paul é vaidoso.
Rindo ele abrir a torneira recebendo um jato de água levemente morna deixando ele contrariado. Odiava banho frio, mas não ia esperar que Paul arrastasse água quente até la em cima.
Descobriu sabão e toalhas e entrou na água dando um respingo pela sua temperatura, mas seu corpo logo se acostumou e ele agradeceu poder tirar toda a poeira que lhe cobria.
Deitou a cabeça na fria porcelana pensando em tudo que acontecera naquele dia e se sentindo estranhamente bem como ele não se sentia há muito tempo. Sorriu e lavou os cabelos e depois de se enxaguar enrolou a toalha na cintura e foi para o quarto onde achou em cima da cama algumas roupas um tanto velhas, mas muito limpas. Eram roupas de um homem da sua altura, mas muito mais corpulento o que o deixou se perguntando o que elas faziam na casa de Paul. Vestiu a calça de lã e a camisa de linho cru. Penteou e deixou os cabelos soltos para secarem e desceu para a sala onde Paul conversava e ria com Sara perto da lareira acesa.
— Agora você ta cheirando melhor – disse Sara rindo par ele.
— Eu fedia antes?
— Fedia.
— Sara! – ralhou Paul.
— Não é você que diz pra gente dizer a verdade sempre?
— Sara, por favor, arranque aqueles quatro do banho pra gente poder jantar.
— Certo mãe – respondeu ela com a voz mais doce do mundo e subiu as escadas.
Mathew ria quando sentou perto do outro.
— Sabe Paul, você tem uma família maravilhosa!
A frase surpreendeu o outro e o fez sorrir.
— Todos eles são maravilhosos.
O sorriso de Paul iluminava seus tristes olhos dourados e Mathew descobriu que queria ver esse sorriso todos os dias, todas as horas, todos os minutos de sua vida. Ele aquecia seu coração e incendiava todo o seu corpo.
O duo molhou os lábios cheios e o príncipe teve que se conter para não puxá-lo para os braços, saborear aqueles lábios novamente e sentir novamente seu sabor. Ele havia ficado viciado naquele néctar.
Antes que pudesse fazer qualquer coisa, ouviu-se um estrondo nas escadas de cinco crianças que corriam.
— Não corram na escada! – admoestou Paul contrariado para os filhos – É perigoso.
— Tô com fome mãe! – Jared pulou no colo de Paul coçando os olhos.
— Com fome e com sono, né – ele riu beijando os cabelos úmidos do filho.
Jason também foi para o colo de Paul enciumado e Shon ficou olhando-o com ar triste até que Mathew o segurou e o pôs sentado no colo. O menino deu um sorriso luminoso.
Gabe acompanhou Sara para colocar o jantar na mesa.
Paul apertou os filhos nos braços que tagarelavam ao perceber que naquele momento eles pareciam uma típica família se reunindo para o jantar e ele teve que enfiar as unhas na palma da mão para acabar com essa doce ilusão. Eles não eram uma família, Mathew era um príncipe e depois de hoje nunca mais iam se ver e isso era o melhor. O que alguém tão lindo como Mathew iria querer com um curandeiro cheio de filhos e marcado pela vida.
Sara chamou eles para comerem. As crianças correram, mas Mathew estendeu a mão para Paul.
— Eu posso andar – resmungou ele.
— Será que você não pode fazer nada sem discutir comigo? – ele segurou o braço do outro e foram para a outra sala que era uma pequena sala de jantar.
A mesa estava posta e as lamparinas acesas nas paredes e as velas nos castiçais em cima da mesa.
Haviam travessas de purê de batata com manteiga, legumes refogados e frango frito. O cheiro era de dar água na boca e Mathew sentiu a barriga roncar.
— O cheiro é divino Sara – ele olhou para a mocinha loira que se empertigou toda.
— Ela vai ficar insuportável se você elogiar ela muito – resmungou Gabe.
— Isso é despeito – ele jogou os cabelos para trás – Você Gabe, não consegue ferver água sem queimá-la!
— Eu faço serviço de homem, não fico cozinhando.
— Homem?! Você se refere a si mesmo? Pobre menino ilusionado.
— Gabe e Sara – Paul estava perdendo a paciência – sentem e vamos jantar.
Os dois ficaram quietos e eles puderam sentar a começar a comer. Nesse momento ouviram o ribombar de um trovão e a chuva batendo de encontro às vidraças.
— Ei Mathew – Shon gritou todo alegre – Você vai ter que passar a noite aqui!
Paul e ele se olharam apavorados.
Assim que sairão da mata mais fechada chegaram a uma estrada que ia para o sul e Paul indicou que aquele era o caminho para sua casa.
Desde o acontecido na floresta eles não tinham se falado muito. Cada um parecia imerso em seus pensamentos, mas era difícil não sentir o calor de cada um, o modo como seus corpos se esfregavam no trote do cavalo.
Finalmente na curva de uma estrada avistaram a casa de pedra coberta de trepadeiras que lembravam vinhas. Mathew admirou a beleza do local cercado de jardins e gramados fazendo fundo com as matas. A direita da casa haviam pequenos campos cultivados formando pequenos quadrados coloridos.
— Sua casa é muito bonita – disse ele – Quem é que cuida dos campos e jardins?
— Quem? – Paul olhou para ele sem entender – Eu e as crianças cuidamos de tudo.
O príncipe ficou sem fala ao pensar que aquele garoto delicado e um punhado de crianças cuidavam da casa e de campos cultivados. Ele não sabia muito sobre o cultivo, mas nos campos de Gaulesh ele sempre via muitas pessoas trabalhando no cultivo dos campos.
De repente a porta da frente se abriu e viram Sara sair acompanhada dos gritos de Gabe:
— Eu já não falei para você me obedecer! – ele gritava vermelho de raiva.
— E eu já não falei que não tenho que obedecer um moleque que complexo de homem! – ela descia as escadas com desenvoltura – É a mãe e o homem do mercado seu cego.
Gabe já tinha visto ao longe Paul e Mathew no cavalo, mas ele não entendia o que estava acontecendo e arrebanhou seus irmãos para dentro da casa e ficara observando eles da janela. De repente Sara cheirou o ar e se precipitou para fora dizendo conhecer o cavaleiro. O menino ficara cheio de raiva e medo, mas sua irmã nunca o ouvia.
— Tá tudo bem Gabe – Paul sorriu para ele, mas Gabe continuou olhando para Mathew com o rosto fechado e os olhos verdes brilhando desconfiados. Ele não gostava daquele estranho.
Ao ouvir a voz da mãe Shon, Jason e Jared saíram de dentro da casa correndo para olhar o cavalo e o cavaleiro com olhos arregalados.
— Ola! – Sara era todo sorrisos arrumando os cabelos loiros.
Paul revirou os olhos em desespero e Mathew ria atrás dele.
— Sua filha é incrível – disse ele – Ele conseguiu saber que era eu mesmo nessa distância!
O outro preferiu não responder. O cavalo parou perto dos três meninos mais novos que quase pulavam de curiosidade.
— Ola crianças – disse Mathew sorrindo para eles. Ele saltou do cabalo e ajudou um Paul vermelho e embaraçado a descer.
— Pai você tá bem? – Gabe havia se aproximado com passos incertos olhando ora para o visitante ora para o pai.
— Estou sim Gabe, eu dei uma torcidinha do tornozelo e lord Mathew me deu uma carona.
— Você é mesmo um lord? – Shon arregalou os olhos violetas olhando de forma admirada para ele – Você já lutou em uma batalha? Posso ver a sua espada? Você é lord de onde?
— Calma Shon! – Paul ria – Você não deu tempo nem dele se apresentar. Isso é falta de educação filho.
Jared e Jason olhava o cavalo negro com as bocas abertas. Eles eram loucos para montar um cavalo de raça como aquele.
— Meu nome é príncipe Mathew do reino de Gaulesh.
— Você é irmão do príncipe Phillip? – perguntou Gabe ainda desconfiado indo para perto do pai e segurando o cesto.
— Isso mesmo – ele sorriu para o menino mais velho, mas só o que conseguiu foi um olhar frio do menino. Parecia que ele tinha a quem puxar.
— Tudo bem mesmo pai? – Gabe segurou a mão de Paul e olhou para ele com os olhos preocupados.
— Não faça essa cara – Paul ria bagunçando os cabelos do filho – Vou melhorar depois de descansar um pouco.
— É melhor enfaixar esse tornozelo – disse Mathew olhando-o sério – Fique em repouso até amanhã que estará melhor.
— Eu sou curandeiro – resmungou Paul – Sei muito bem o que estou fazendo! Meu pé esta bem. Hoje tenho que terminar de semear um campo de feijões ou vou perder o prazo para isso – ele levantou o queixo – Agradeço a carona, príncipe Mathew.
— Ora – os olhos violetas dele brilhavam – mas eu ainda não terminei o meu trabalho.
— O q...
Antes que Paul pudesse esboçar alguma reação foi pego no colo pelo outro.
— Sara me mostre o caminho – disse ele com a voz autoritária.
— Claro – ela disse com uma risadinha.
Paul não sabia o que fazer melhor com o príncipe, se o matava com requintes de crueldade ou se simplesmente lhe dava um chute por entre as pernas. Todavia permaneceu quieto para que Gabe não avançasse em cima do outro como parecia que ia fazer a qualquer momento.
Eles entraram em uma sala pequena com alguns sofás e poltronas, uma cristaleira e uma lareira de pedra. As janelas tinham cortinas brancas de renda e o chão era coberto por tapetes de crochê. Uma escadaria de madeira subia para o primeiro andar e o piso dela brilhava encerado. Tudo era muito limpo, aconchegante e o perfume de frisos vinha de vasos colocados em uma mesinha perto de uma porta que dava para outra sala.
Mathew deixou o rapaz em uma poltrona perto da lareira apagada e foi dar uma olhada no tornozelo inchado e vermelho. As cordas das sandálias haviam marcado a pele onde estas estavam apertando.
Finalmente Paul parecia estar sentindo o latejar do pé, olhando com olhos cansados e desanimados para o tornozelo.
Ele sabia que havia esperado muito para plantar a ultima área de feijões. Mesmo um dia de atraso podia comprometer a colheita das vagens verdes que ele ia fazer conserva para o inverno e para vender o que sobrasse. Agora ele corria o risco de colher às vagens perto demais do frio e uma geada mais forte poderia por toda a sua plantação a perder.
Sentiu as mãos pequenas e delicadas da filha no seu pé e percebeu que ela o olhava preocupada.
— Dói muito mãe?
— Um pouco querida, mas amanhã eu vou estar bem, pode apostar.
— Gabe – Mathew se virou para o garoto mais velho que o olhava de lado – Me mostre o que fazer no campo e eu posso semear o que for necessário.
— N...
— Que ótimo! – gritou Sara sorrindo e batendo palmas – Enquanto os meninos ti ajudam eu faço o jantar. Janta com a gente, não é Mathew?
— Claro – ele disse ao ver o rosto vermelho de Paul.
— Sar...
— Vamos Gabe – Shon puxava o irmão mais novo – Vamos mostrar para o Mathew os campos.
Gabe deu uma olhada para o pai e saiu com todos para fora.
— Sara o que você tá tentando fazer? – Paul estava muito contrariado.
— Agora? Vou conseguir umas ervas para o seu pé e depois o jantar – disse ela alegremente indo para a cozinha o deixandoele bufando.
Mathew deixou seu cavalo em um velho estábulo onde um burro cinza mascava feno em uma baia. Jared e Jason não paravam de falar do grande cavalo e do grande guerreiro deixando ele sem graça. Shon estava ajudando Gabe a pegar a plantadeira manual e as sementes.
O príncipe olhou ressabiado para a plantadeira que tinha o formato de um V e era feito de madeira e metal que Gabe arrastava para fora do estábulo junto com Shon.
— O senhor não tem que fazer isso – disse Gabe todo orgulhoso – Sou muito bem capaz de cuidar do meu pai. Eu posso semear os campos.
Deus! Tal mãe tal filho. A plantadeira era quase da altura do menino e ele a segurava todo duro e orgulhoso.
— Cê é bobo Gabe? – Shon disse colocando as mãos na cintura – Sabe que não consegue fazer isso!
— Eu por acaso perguntei pra você? E bobo é essa sua cara de tonto.
— Eu não sou tonto! – Shon parecia que ia chorar.
— Tonto e chorão!
— Você esta exagerando Gabe – repreendeu Mathew delicadamente. Ele não queria se meter na vida das crianças, mas o menino mais velho estava com raiva e descontava no menor que já chorava de cabeça baixa.
— Você não se meta! – Gabe ergueu os ombros magros tentando parecer maior – Não tem nada que ver com essa família, a minha família. É um estranho e não é bem vindo!
Havia mais que raiva nos olhos verdes do garoto, bem la no fundo Mathew podia ver uma grande tristeza que fez com que ele respirasse fundo para se acalmar. Ficou sobre um joelho deixando seu rosto no mesmo nível que o outro.
— Sabe Gabe, quando eu era da sua idade minha mãe não deixava entrar no castelo onde ela e meu pai viviam. Eu dormia em cima das cocheiras e não me importava de ficar lá, mas eu queria mesmo era que a minha mãe gostasse de mim, mas ela tinha outras coisas a pensar. Eu admiro o modo como seu pai cuida de vocês e os ama, acho que sinto um pouco de ciúmes de uma família tão bonita e o admiro por proteger ela.
— Sua mãe não gostava de você? – o queixo dele tremia – Minha mãe verdadeira não gostava de mim, ela me jogou fora igual ao lixo – fez força para não chorar na frente do outro.
— Sabe o que eu acho? Que a sua verdadeira mãe encontrou você e que a mulher que ti deu a luz, não era nada sua.
Gabe colocou a pequena mão no ombro dele.
— Então você pode ficar com a gente príncipe. Nós seremos a sua família! – abraçou um chorão Shon – Desculpa baixinho.
— Tudo bem Gabe – ele respondeu com a voz rouca e olhou para Mathew – Fica com a gente?
O príncipe olhou para aqueles olhos que o choro havia tornado quase roxo e seu coração se aqueceu de uma forma estranha. Aquelas crianças eram admiráveis.
— Na verdade estou ficando no castelo com o meu irmão, mas eu gostaria de vir visitar vocês de vez em quando. Posso?
— Você vai vir mesmo? – Shon fez um bico adorável e Mathew teve vontade de apertar as bochechas dele.
— É uma promessa – ele estendeu a mão para o menino que ainda parecia relutante – Dou minha palavra de cavaleiro. Promessas assim não podem ser quebradas.
— A gente não precisa cotar a mão para uma promessa dessas? – perguntou Gabe preocupado.
— Querem saber de um segredo? – eles inclinaram as cabeças para ele – Eu e meus irmãos selávamos promessas com cuspi.
— É menos nojento que sangue – disse Shon cuspindo na mão e a estendendo.
Mathew fez o mesmo e apertou a mão do outro com solenidade e depois olhou Gabe que batia o pé com impaciência.
— Eu não vou cuspir na mão, isso é coisa de criança. Eu aceito a sua palavra.
— Eu não sou criança! – Shon logo retrucou para o irmão.
— Não to vendo ele reclamar – sorrindo apontou para Mathew que não se conteve e caiu sentado no chão gargalhando.
Shon começou a rir e Jared e Jason que haviam ficado olhando o cavalo correram e pularam em cima do príncipe querendo saber o que era engraçado. Gabe sorria indulgente, como um adulto olhando as travessuras de uma criança. Shon pulou no bolo e Mathew puxou o braço do menino mais velho que caiu em meio a pernas e braços que começavam a lhe fazer cócegas e ele não pode resistir a ficar gargalhando. Quando se acalmaram estavam cobertos de poeira e ofegantes.
— Acho melhor a gente ir trabalhar – disse Mathew levantando e ajudando Shon e Jared.
— Isso mesmo – Gabe voltara com ar sério ficando em pé a ajudando Jason – Estamos atrasados.
A tropa rumou para os campos que ficavam a direita da casa indo para um terreno vazio, mas já arado para o cultivo.
Gabe mostrou como colocavam as sementes dentro da plantadeira e como ele deveria proceder para não deixar cair muitas sementes em cada vez que enfiava a ponta do equipamento na terra.
Era um serviço cansativo, onde ele tinha que prestar muita atenção nos espaços entre cada aplicação e não plantar muito fundo, pois assim as sementes não nasceriam. Por vezes os garotos tiveram que desenterrar as sementes no lugar onde ele enfiara demais a plantadeira.
Depois de cinco horas dessa tortura e com os braços a ponto de cair eles tinham semeado todo o campo quando o sol já se punha em um mar colorido de vermelho e laranja, nuvens ao longe denunciavam uma tempestade e o cheiro de terra molhada já encha o ar. Todos estavam cobertos de terra e Mathew e perguntava como ia entrar na casa de Paul daquele jeito e sua questão foi respondida quando ele os avistou chegando e foi até a porta mancando.
— O que vocês fizeram?! Cavaram buracos e rolaram dentro deles?
— O campo ta pronto pai – Gabe estava todo orgulhoso.
— Todos para o banho.
Foi um “ah” geral dos meninos, mas Paul apontava para dentro.
— Tirem esses sapatos e cuidado para não espalharem terra no corredor!
— Sim senhor – os meninos relutantes se arrastaram para dentro e Paul olhou o príncipe.
— Bem acho que você não teria uma roupa para mim, então vou ter que deixar para mais tarde – Mathew deu um sorriso luminoso no rosto sujo.
— Pode tirando essas botas e entre logo!
— Sim senhor! – ele bateu continência.
— Idiota!
— Sabe, a recíproca é verdadeira.
— Você se acha tão inteligente, não é?
— Eu não me acho Paul. Ai que esta o diferencial.
— Então, grande sábio apontou as escadas – Pode encontrar o caminho sozinho. Há um banheiro no meu quarto e algumas roupas em cima da minha cama. Meu quarto fica no primeiro andar, segundo a direita.
Mathew retirou as botas de couro e entrou olhando Paul que soltava chispas pelos olhos dourados, estava adorando importuná-lo.
Ele subiu as escadas de madeira até o primeiro andar. Haviam corredores à direita e esquerda e ele pode ouvir o barulho de água e o riso de crianças no corredor da esquerda e percebeu que eles estavam mais brincando que tomando banho.
Abriu a porta do quarto olhando com curiosidade para o ambiente já na penumbra. A cama era grande coberta por uma colcha de retalhos, as janelas tinham cortinas azuis e tapetes floridos cobriam o chão. As paredes tinham quadros mostrando paisagens bucólicas e alguns tinham cavalos correndo por uma linda capina. Uma cadeira de balanço estava perto e uma janela aberta por onde o cheiro de chuva entrava. Uma porta perto do guarda-roupa mostrava onde era o banheiro que era pequeno, com banheira de porcelana branca, a privada e uma pia com tampo de mármore onde se alinhavam alguns perfumes e pentes.
— Não é que o pequeno Paul é vaidoso.
Rindo ele abrir a torneira recebendo um jato de água levemente morna deixando ele contrariado. Odiava banho frio, mas não ia esperar que Paul arrastasse água quente até la em cima.
Descobriu sabão e toalhas e entrou na água dando um respingo pela sua temperatura, mas seu corpo logo se acostumou e ele agradeceu poder tirar toda a poeira que lhe cobria.
Deitou a cabeça na fria porcelana pensando em tudo que acontecera naquele dia e se sentindo estranhamente bem como ele não se sentia há muito tempo. Sorriu e lavou os cabelos e depois de se enxaguar enrolou a toalha na cintura e foi para o quarto onde achou em cima da cama algumas roupas um tanto velhas, mas muito limpas. Eram roupas de um homem da sua altura, mas muito mais corpulento o que o deixou se perguntando o que elas faziam na casa de Paul. Vestiu a calça de lã e a camisa de linho cru. Penteou e deixou os cabelos soltos para secarem e desceu para a sala onde Paul conversava e ria com Sara perto da lareira acesa.
— Agora você ta cheirando melhor – disse Sara rindo par ele.
— Eu fedia antes?
— Fedia.
— Sara! – ralhou Paul.
— Não é você que diz pra gente dizer a verdade sempre?
— Sara, por favor, arranque aqueles quatro do banho pra gente poder jantar.
— Certo mãe – respondeu ela com a voz mais doce do mundo e subiu as escadas.
Mathew ria quando sentou perto do outro.
— Sabe Paul, você tem uma família maravilhosa!
A frase surpreendeu o outro e o fez sorrir.
— Todos eles são maravilhosos.
O sorriso de Paul iluminava seus tristes olhos dourados e Mathew descobriu que queria ver esse sorriso todos os dias, todas as horas, todos os minutos de sua vida. Ele aquecia seu coração e incendiava todo o seu corpo.
O duo molhou os lábios cheios e o príncipe teve que se conter para não puxá-lo para os braços, saborear aqueles lábios novamente e sentir novamente seu sabor. Ele havia ficado viciado naquele néctar.
Antes que pudesse fazer qualquer coisa, ouviu-se um estrondo nas escadas de cinco crianças que corriam.
— Não corram na escada! – admoestou Paul contrariado para os filhos – É perigoso.
— Tô com fome mãe! – Jared pulou no colo de Paul coçando os olhos.
— Com fome e com sono, né – ele riu beijando os cabelos úmidos do filho.
Jason também foi para o colo de Paul enciumado e Shon ficou olhando-o com ar triste até que Mathew o segurou e o pôs sentado no colo. O menino deu um sorriso luminoso.
Gabe acompanhou Sara para colocar o jantar na mesa.
Paul apertou os filhos nos braços que tagarelavam ao perceber que naquele momento eles pareciam uma típica família se reunindo para o jantar e ele teve que enfiar as unhas na palma da mão para acabar com essa doce ilusão. Eles não eram uma família, Mathew era um príncipe e depois de hoje nunca mais iam se ver e isso era o melhor. O que alguém tão lindo como Mathew iria querer com um curandeiro cheio de filhos e marcado pela vida.
Sara chamou eles para comerem. As crianças correram, mas Mathew estendeu a mão para Paul.
— Eu posso andar – resmungou ele.
— Será que você não pode fazer nada sem discutir comigo? – ele segurou o braço do outro e foram para a outra sala que era uma pequena sala de jantar.
A mesa estava posta e as lamparinas acesas nas paredes e as velas nos castiçais em cima da mesa.
Haviam travessas de purê de batata com manteiga, legumes refogados e frango frito. O cheiro era de dar água na boca e Mathew sentiu a barriga roncar.
— O cheiro é divino Sara – ele olhou para a mocinha loira que se empertigou toda.
— Ela vai ficar insuportável se você elogiar ela muito – resmungou Gabe.
— Isso é despeito – ele jogou os cabelos para trás – Você Gabe, não consegue ferver água sem queimá-la!
— Eu faço serviço de homem, não fico cozinhando.
— Homem?! Você se refere a si mesmo? Pobre menino ilusionado.
— Gabe e Sara – Paul estava perdendo a paciência – sentem e vamos jantar.
Os dois ficaram quietos e eles puderam sentar a começar a comer. Nesse momento ouviram o ribombar de um trovão e a chuva batendo de encontro às vidraças.
— Ei Mathew – Shon gritou todo alegre – Você vai ter que passar a noite aqui!
Paul e ele se olharam apavorados.
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