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sexta-feira, 16 de março de 2012

Rumo ao Paraíso

Prólogo



Então ele estava ali! Mas onde exatamente era aquele “ali”? Um barracão de telha de zinco que cobria dois banheiros, um bar, um guichê e um punhado de bancos de madeira deteriorados. O terreno em frente, nos fundos e aos lados era um grande terreno baldio cheio de mato onde alguns garotos corriam soltando pipas no vento frio da tarde.

O ar estava carregado de partículas de poeira que dançavam ao redor dos raios de um sol vermelho e pálido. Tudo a sua volta tinha um estranho cheiro de terra e mato que ele não estava acostumado e que o deixava inquieto.

A verdade com os seres humanos é esta, o desconhecido nos assustam de tal forma que a coisa mais simples e cotidiana parece terrivelmente perigosa se ela é algo novo. Nada podia ser mais pacato que aquele lugar onde nem mesmo um carro passava e onde o silencio convidava-nos a sentar e filosofar sobre o porquê da vida.

O céu de um azul pálido tinha algumas nuvens que, nos raios do sol, pareciam sujas como se tivessem rolado na terra marrom e depois corrido para o céu.

Ele se mexeu inquieto no banco de madeira onde faltavam diversas ripas olhando de lado para os tipos que tinham descido com ele do ônibus.

Um rapaz negro, com várias correntes e boné de lado falava ao celular. Ele parecia grande e mal, mas as suas palavras mostravam o quanto é errado o tal primeiro olhar:

— Tá mãe! Eu truxe o teu remédio! Truxe o doce da Carla também! Ta eu compro carne pra senhora. Beijinhos minha fofinha – ela afastou o telefone da orelha quando ela disse algo – Que coisa feia xingar, fofinha!

Ele desligou antes que ela respondesse e ele foi descendo a rua rindo e carregando as suas sacolas.

Havia também um casal de pessoas com mochilas e barraca de camping que conversavam com um rapaz loiro, cabelos compridos e corpo bem formado. Era um guia que ia levá-los para acampar em um lugar chamado Morro da Mesa.

— Sera que você trouxe bateria suficiente dessa vez Melissa? – perguntou o rapaz moreno que a acompanhava – Eu não quero perder nada!

— Trouxe Rodrigo – ela revirou os olhos – Quem sabe dessa vez você consegue uma exclusiva com um ET.

— Vocês são caçadores de OVINS? – o guia loiro parecia quase em pânico.

— Dos melhores – disse Rodrigo estufando o peito e querendo parecer maior que o seu metro e sessenta – Nossas fotos já até apareceram na revista UFOs e CIA.

— Uma revista fulera da capital que vive inventando teorias da conspiração furadas – respondeu a moça quase com enfado – Cara eu já vi tanto balão voador por ai que se tiver mesmo algum ET na Terra, quando eu o encontrar, lhe dou um soco na cara por ter se escondido tão bem.

Eles rumaram para a caminhoneta do guia que parecia que tinha chupado limão, enquanto Rodrigo e Melissa discutiam se o presidente americano era um reptiliano, fosse lá o que fosse isso.

No outro banco haviam duas senhoras sentadas olhando tudo em volta e não perdendo nada.

— Cotinha cê o filho do Carlão da padaria? Comu é qui aquele meninu tava vestido?

— É o fim do mundo Benta! To falando proce, é o dia do juízo final.

— Cotinha ce viu aqueles dois atrás dos tais “OVI”?

— Esse mundo ta perdido Benta. Esse povo vem lá da capital pra ficar a toa, escreve o que eu to falando!

As duas o olharam e pareceram cair em si levantando do banco e saindo para a rua falando mal de alguma pobre vizinha. Elas andavam no meio da rua como se ali nunca passasse um carro.

Respirou fundo olhando para o último ser que restara ali. Ele dormia calmamente em um velho moises azul, cercado por sua manta amarela de lã. Cabelos castanhos cobriam sua cabeça e uma pequena mão aparecia por entre as dobras do cobertor.

Com delicadeza ele segurou os pequenos dedos acariciando com cuidado.

Seu filho era a única coisa que restara na vida de importante. Por ele havia fugido de São Paulo com duas pequenas bolsas, a maioria roupas de seu filho e o moises, com apenas o dinheiro da passagem para aquela cidade perdida no interior.

Era ali que seu irmão mais velho morava e só ele sabia disso. Márcio havia saído de casa há dez anos quando seu pai o lhe dera uma surra por se recusar a dar o dinheiro que ele tinha ganhado trabalhando de entregador numa padaria da favela. Durante cinco anos ele nada soubera do irmão até que ele recebeu um telefonema dele contando que estava bem e onde estava morando. Deixara também o numero de um telefone celular que ele nunca ligara.

Jogou a cabeça para trás abraçando-se no ar frio. Nem mesmo sabia se Márcio continuava ali, mas tudo acontecera tão depressa e ele não pudera ligar avisando de nada. Nas rodoviárias que tinha esperado ele não tivera coragem de ligar para ele.

E se ele não o aceitasse? Se mandasse ele se virar? O que ia fazer? Ia viver nas ruas com seu filhinho?

— Você é um covarde Fabian – gemeu ele.

Quem sabe se alguma vez ele tivesse enfrentado o seu pai ele não estivesse naquela situação, sem teto e morrendo de fome.

Sei estômago roncou lembrando ele que não comia nada a quase trinta e sei horas. O leite de seu filho havia acabado também.

Era hora de tomar uma atitude! Pegou seu celular e procurou o numero programado. Apertou o botão de discagem rápida com a mão tremendo. De repente ele ouviu a voz forte de seu irmão e seu coração disparou:

— Alo?



Continua...

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