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domingo, 25 de março de 2012

Rumo ao Paraiso - Capitulo Dois

Capitulo Dois



A cada solavanco da caminhoneta Fabian via estrelas. Ele havia tentado parecer bem para Márcio, mas seu pai havia acertado alguns socos em seu abdômen deixando suas costelas doloridas.

Eles haviam saído da cidade para uma estrada asfaltada que cortava os campos que sumiam rapidamente na escuridão da noite. Havia luz suficiente para ele ver as serras verdes a distância, os campos verdes de cana e café e os pastos amarelados pela falta de chuva. Luzes de fazendas ao longe eram visíveis por entre as arvores ao longe.

Gabriel acordou com fome e resmungou muito tempo até começar a chorar. Fabian tentou acalmá-lo, mas o menino estava obviamente cansado e faminto.

— Tadinho – Márcio olhou para o sobrinho que havia parado de chorar, mas se mexia e resmungava nos braços do pai.

— Ele normalmente é um bom menino, mas está com fome e isso ele não perdoa – disse Fabian constrangido.

— Fabian o menino pode destruir a casa que vou achar bonitinho – disse Márcio rindo – Eu entendo que ele está com fome e você também. Vamos demorar só mais alguns minutos para chegar.

Viraram a direita para uma estrada de terra com alguns buracos que deixaram Fabian sem fôlego. Todavia isso durou apenas alguns segundos logo ele pode avistar uma placa ao Aldo esquerdo da estrada: Fazenda Paraíso. Era uma placa de madeira talhada e escura em cima de duas toras grossas de madeira. Dali para frente à estrada era asfaltada e de muito boa qualidade, o carro parecia deslizar pela noite que finalmente havia descido.

Mesmo na escuridão Fabian via os campos para alem da cerca de arame que separava a estrada do resto da propriedade. Ali os campos eram de cana de açúcar e um capim, pelo menos ele achava que aquilo era um tipo de capim, alto e roxo. Mesmo na seca tudo parecia viçoso e as folhas balançavam calmamente ao sabor da brisa da noite.

Os campos terminaram em uma mata. As árvores altas faziam um teto sobre a estrada e cortaram o bosque por cerca de dez minutos deixando o rapaz pasmo com tanta árvore. Eles cruzaram uma ponte sobre um córrego pequeno e começaram a subir sempre agora entre cafezais sem fim.

No topo da serra a noite já era cerrada e ele só podia ver as luzes da fazenda a distância ele se espantou com tantas.

— Nossa é grande!

— Ao contrario da maioria das fazendas o Paraíso tem a maioria dos seus empregados mora aqui mesmo. O salário é bom, alem de não pagarmos nem água nem energia temos uma participação nos lucros. Muitos aqui têm um pedaço de chão onde planta parte de sua comida e vende o restante.

— Parece ser um bom lugar para se viver.

— Eu adoro isso aqui. Quando cheguei aqui e fiquei como um vaqueiro eu não queria ir para mais nem outro lugar.

Eles atravessaram uma porteira de madeira pintada de branco e entraram em uma alameda de flamboyants que estavam perdendo as suas folhas. A alameda terminava em uma curva que descia para algumas construções, mas a esquerda podia-se ver uma imensa casa iluminada pelas luzes que ficavam no jardim. Seu estilo era vitoriano, com dois andares, janelas francesas brancas e sacadas. As paredes internas eram cobertas de trepadeiras, na verdade falsas vinhas que se entrelaçavam pelas grades da sacada. Não dava para ver os jardins, mas ele via algo das árvores e arbustos e imaginou que deveria ser um jardim magnífico.

Márcio desceu a ladeira atravessando galpões imensos e outras construções que ele não sabia identificar e dobrou a direita onde ele via que havia casas enfileiras ao longo da estrada, cerca de uma dúzia, com suas frentes com jardins e gramados voltados para a estrada.

— Essas são as casas dos empregados? – Fabian ficou boquiaberto olhando as construções.

— São. Eu moro na primeira.

As casas eram todas do mesmo estilo, em estilo sobrado e feitas de tijolos a vista com grandes portas de vidro na frente que dava para uma grande varanda. A direita da casa ficava a garagem e elas eram separadas por cercas vivas de murtas e ligando umas as outras até mesmo uma calçada de pedra cinza.

Márcio parou na frente da primeira casa, era a única que estava com as luzes apagadas.

— Bem vindo a sua nova casa – disse Márcio sorrindo para o irmão.

— Obrigado – ele teve vontade de chorar ao olhar para a casa e saber que ia finalmente comer algo e descansar.

Eles desceram com Fabian carregando Gabriel e o cesto e Márcio pegou as coisas na caçamba do veiculo. Atravessaram o pequeno passeio de cimento que cortava um gramado bem cuidado com várias roseiras em nichos da cerca viva.

Entraram na varanda onde havia várias redes e vasos com grandes samambaias. Márcio abriu a porta de madeira e ascendeu às luzes para uma grande sala com sofás pretos, uma raque da madeira escura com umas grande TV de LCD e aparelho de som. Uma das paredes tinha uma grande porta de vidro que dava o jardim e a outra uma coisa que Fabian só tinha visto em filmes, uma grande lareira de pedra com achas de lenha meio queimadas e cinzas mostrando que era usada.

Perto das escadas de madeira para o piso superior havia uma mesa de vidro fumê com seis cadeiras de aço com um vaso de orquídeas no centro.

Atravessando um espaço à esquerda onde havia uma cadeira de balanço via-se um balcão que dava para a cozinha.

Fabian olhava maravilhado para aquela casa. Ele nunca pensara que ia morar em lugar como aquele.

— Desculpe a bagunça – disse Márcio sem graça catando roupas que ele deixara jogada em cima dos sofá de couro.

Ele pegou rapidamente uma revista pornô e embolou na roupa vermelho de vergonha.

— Márcio – Fabian o olhou com carinho – Não precisa mudar o seu jeito só por minha causa. Achar suas revistas vai ser menos constrangedor do que você achar as minhas.

— Bem eu prefiro peitos e dos grandes, se você me entende? – ele riu – Mas pra mim não tem importância de você ter as suas revistas por ai, só tome cuidado com as crianças da colônia. Elas acham que todas as casas são delas e entram sem bater e sem cerimônia. Já fui pego em situações embaraçosas por causa disso, mas adoro elas de qualquer forma – apontou para as escadas – Vou ti mostrar os quartos.

Eles subiram para o segundo piso que tinha um banheiro no corredor de três quartos. Márcio abriu o segundo mostrando para o irmão um quarto uma cama de solteiro, um guarda-roupa, uma cômoda, uma poltrona perto da janela com uma mesinha do lado.

Marcio deixou as malas em um canto e olhou Fabian.

— Tem roupa de cama no guarda-roupa e pode usar o banheiro do corredor sem preocupação. Vou buscar algo para comermos na casa do Laércio e já peço para trazer um berço que ele tem guardado no sótão.

— Obrigado pela ajuda Márcio, mas Gabriel pode dormir comigo até eu poder comprar algo.

— Para de esquentar essa cabecinha – ele riu – Laércio não vai precisar desse berço tão cedo, ela já tem quatro.

Ele desfez o cabelo dele e saiu do quarto deixando o irmão olhar em volta cansado e agradecido.



— Isso não é justo! – Regina se jogou na cama de Jonathan que lia um livro – Ficar sem internet por uma semana! Isso é tortura e das bravas!

Regina era uma menina de catorze anos de longos cabelos negros, olhos verdes e rosto sardento. Era alta e de corpo bem feito. Seu temperamento era explosivo e decidido, mas ela gostava de demonstrar seu amor e sua raiva com as mesma intensidade.

— Fizeram por merecer – resmungou Jon de detrás das Vinte Mil Léguas Submarinas.

— Não vem não! Você também participou.

O menino fez um trejeito irritado com os lábios. Ele era irmão gêmeo de Regina com os mesmos cabelos negros e olhos verdes, assim como o rosto sardento. Quanto ao temperamento não podiam ser mais diferentes, Jon era calmo, adorava plantas e ler livros. Tímido não tinha a mesma desenvoltura da irmã.

— Tenho que anotar em nunca mais participar dos planos de vocês.

— Bem que você riu bastante – disse Samara do chão onde jogava no celular.

Samara tinha doze anos e tinha cabelos castanhos e olhos azuis. Era um espírito livre que gostava de sempre estar correndo por ai e subindo em árvores. Comandava sua turminha de garotada da fazenda e estava pronta para brigar sempre que alguém ia discutir com ela.

— Será que alguém viu o Quico? – perguntou Kauan olhando por todo lado.

Kauan era o caçula de oito anos. Seus cabelos castanhos eram encaracolados, a pele muito branca e olhos azuis claros. Tinha um olhar triste e era muito parecido com Jon, apenas que era mais introvertido, sempre preso eu seu mundo, mas seguia Samara por todo lado. De todos era quem mais sentia falta de uma mãe.

— Você não prendeu ele na gaiola? – perguntou Regina temerária. Seu pai odiava ratos e só deixava Kauan ficar com o rato branco por que fora a única coisa que o filho caçula pedira em dois anos de intensa depressão.

— Deixei ele só um pouquinho solto e ele fugiu – sua voz era chorosa.

Os irmãos se olharam e de repente todo mundo largou o que estava fazendo e começou uma busca frenética por todo o lado.




Laércio largou os papéis em cima da escrivaninha cansado. Retirou os óculos que usava para leitura e coçou os olhos. Fechou o notebook e inclinou a cadeira relaxando pela primeira vez no dia. Não pode deixar de sorrir ao lembrar da cara da moça coberta de gosma verde e rir mais ainda da inventividade dos filhos.

Eles deveriam estar fazendo algo mais útil, mas ele e Carla sempre haviam deixado seus filhos meio soltos. Eles estavam sempre pela fazendo, brincando, ajudando, correndo. Cresceram junto com as outras crianças da fazenda quase que como uma família, ele mesmo se sentia assim em relação às pessoas que convivia há tantos anos.

Fechou os olhos lembrando da esposa. Deus seus olhos verdes, do amor que ela olhava para ele e para os filhos, do seu riso que iluminava tudo, sua energia e temperamento forte. Das risadas ao verem um filme e os dois acharem o mocinho bonito. Carla nunca tivera problemas com a sua bissexualidade.

Lembrou das noites com eles ouvindo Scorpions e dançando na sala. Das vezes que eles ficavam cantando para os filhos dormirem, dos passeios perto do rio. Das noites de amor...

— Foda! – xingou ele – Preciso de uma bebida.

Foi até o bar que ficava no seu escritório e abaixou-se pegando a garrafa de wisk. Levantou a mão para pegar um copo na prateleira de cima quando s sua mão se fechou em algo mole e quente.

— Kauan!!

O grito pode ser ouvido na casa toda. No quarto os meninos pararam com a procura se olhando preocupados.

— Acho que o pai achou o Quico – disse Regina.

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