Capitulo Sete
O coração de Laércio parecia que ia sair pela boca enquanto ele corria pelo pequeno pasto que separava as casas da mata. Pulou a cerca e correu por entre as arvores tentando pensar de que lado viera o grito da filho quando ouviu o seu choro não muito longe.
Finalmente chegou em uma clareira da mata onde cresciam pequenos arbustos por entre as árvores e o sol batia em pedras chatas que desciam até um pequeno córrego e a cena que viu fez seus joelhos tremerem.
Kauan segurava um galho que batera na cabeça da cobra. Ele não sabia de onde tirara força e coragem para pegar um galho grosso e esmagá-la e agora a cobra se contorcia no chão perto do seu pé.
Samara estava deitada no chão chorando e segurando a perna onde fora mordida.
— Meu Deus! – seu pai apareceu segurando a filha no colo e lançando um olhar duro para o menino como se tudo fosse culpa dele – Kauan vamos!
Laércio olhou para a pequena cascavel morta no chão e saiu correndo. O quanto mais rápido a sua filha tomasse o soro menos danos o veneno ia fazer em seu sistema.
Sua menina estava gemendo e chorando em seus braços.
— Calma meu bem. Já vai passar.
No meio do caminho encontrou Márcio que também ouvira os gritos, mas ele não parou para falar com o amigo.
Márcio olhou para trás para ver Kauan chorando e tremendo andando aos tropeções pela estrada.
— Kauan o que acontece? – perguntou ele se ajoelhando perto do menino que tremia.
— Uma cobra tio. Ela morde a Mara e eu matei ela, mas o pai ta bravo comigo! Eu não sei o que fazer.
— Calma – Márcio pegou o menino no colo – O que seu pai deve estar é nervoso e quando tudo isso passar eu tenho certeza que ele vai ver que você não teve culpa de nada.
Kauan começou a chorar em seu ombro e ele achou que era melhor levá-lo para sua casa e depois ir falar com os outros meninos.
Fabian viu de longe Laércio passar correndo com Samara nos braços e logo depois seu irmão aparecia com um Kauan que chorava tanto que estava soluçando.
— O que aconteceu Márcio? – perguntou ele acariciando a cabeça do menino.
— Parece que a Samara foi mordida por uma cobra e que o nosso herói aqui matou ela.
— Eu não sou herói! – o menino murmurava – Eu devia ter cuidado da minha irmã! Se ele morrer a culpa é minha! Eu não quero perder ela!
Havia tanta dor na voz do garoto que Fabian o pegou dos braços de Márcio e o abraçou apertando tentando transmitir consolo e calor para ele.
— Kauan coisas ruins as vezes acontecem sem que a gente possa impedir. Isso não quer dizer que seja culpa sua.
— Fique com ele Fabian que vou ver os outros. A Aninha foi visitar parentes em Ribeirão e eles estão sozinhos.
— Peça eles para eles virem aqui e ficarem comigo.
Márcio acenou e foi para a casa de Laércio, enquanto Fabian levou Kauan para dentro e o sentou no sofá depois buscou Gabriel que estava acordado e o estava olhando com seus grandes olhos azuis para o pai que o levava sorrindo.
Kauan estava sentado encolhido olhando para o nada. Havia parado de chorar e isso era quase tão problemático quanto seu choro desenfreado.
— Kauan está tudo bem? – perguntou Fabian passando a mão pelos cabelos do garotinho que estremeceu, mas não respondeu.
Nesse momento Márcio entrou com Regina e Jon que pareciam pálidos e tinham um olhar assustado.
— Kauan? – Regina foi até o irmão mais novo se ajoelhando perto dele.
— É culpa minha Gina – resmungava ele – Minha culpa como foi da mãe ter morrido.
— Não diga bobagens! – Jon olhou para o menino com cenho franzido – Você não tem culpa da mãe ter morrido e nem de uma cobra ter mordido a Samara! Lembra ano passado? O Luis Ricardo foi mordido por uma cascavel na entrada de carros da casa deles. Muitas pessoas são mordidas por ai e a culpa não é de ninguém.
Kauan olhou para o irmão mais velho e balançou a cabeça concordando, mas ainda com os olhos cobertos de tristeza.
— Calma todo mundo – disse Márcio que havia saído para falar no celular – O pai de vocês já chegou ao hospital e a Samara está recebendo soro. A mordida foi pequena assim como a quantidade de veneno. Amanhã ela já volta para casa.
Todo mundo respirou fundo com a noticia.
— O Laércio vai ter que ficar lá e eu disse que vocês vão ficar por aqui.
Os meninos balançaram a cabeça concordando e olhando para Fabian que sorriu para eles.
— Que tal se faço almoço pra gente? – perguntou ele sorrindo.
— Quer ajuda? – perguntou Jon tímido.
— Claro.
Eles foram para a cozinha enquanto Regina se fazia em casa e ligava a TV no desenho favorito de Kauan e pegava o pequeno irmão no colo.
— Gina – o menino deitou a cabeça no peito da irmã – Você acha que Fabian é legal?
— Eu vi pouco ele Kauan, mas acho que ele não é ruim.
— Ele gosta do Quico.
— E isso é uma boa coisa.
— Ele e o pai brigam como o Anúbis e a Sekmet.
— Mesmo?
— Hum, hum – ele olhou os olhos da irmã – O que você acha dele ser a nossa mãe?
— Do que você ta falando?
— A gente não quer outra mulher Gina, mas outro homem não ia ser complicado. O Fabian parece boa pessoa e quem sabe cuide bem da gente.
— Você quer que nosso pai case de novo?
— Quando o Fabian me abraça eu não sinto mais a dor aqui – colocou a mão em cima do coração – Eu sinto um calor gostoso. Você não acha que isso é bom?
— Quem sabe você está certo? Vamos conhecer o Fabian um pouco e se ele suportar a gente depois de uns dias podemos começar a pensar em um plano novo.
— Plano?
— O casamento do papai!
Alberto e Luis Ricardo haviam acompanhado Laércio até o hospital em outro carro preocupados com o patrão, mas felizmente tudo acabara sendo um grande susto e agora Laércio deixara a enfermaria feminina para almoçar, já que o horário do almoço já havia passado.
Uma senhora conhecido de Laércio que estava com a filha internada no mesmo quarto de Samara dissera que olhava e filha por ele e que ele deveria ir comer, ficar doente não ia ajudar em nada.
Samara estava meio sonolenta, mas não parava de falar com a menina internada com uma virose contando as suas aventuras.
Um tanto aliviado ele acompanhou os dois amigos até um restaurante perto do hospital e se deixou cair pálido na mesa.
— Luis pegue algo para ele – disse Alberto para o adolescente que acenou e foi para a pista de comidas.
— Está tudo bem agora meu amigo – disse Beto com carinho para o patrão que esfregava o rosto – Eu sei como é isso, passei pela mesma coisa ano passado, se lembra?
— Difícil esquecer – ele deu um sorriso fraco – Lucas bateu tanto na cobra que se não fosse alguns pedaços dela não saberíamos que era uma cascavel.
— O importante é que Luis e Samara estão conosco agora, o resto a gente dá jeito – segurou a mão do amigo que ficou agradecido pelo consolo.
— Que nojo!
Atrás deles duas senhoras olhavam eles de mãos dados com cara de repulsa.
— Esse mundo ta perdido mesmo – resmungou uma delas erguendo o nariz torto.
Alberto revirou os olhos, mas Laércio já estava estressado e sua vontade era ir até aquelas velhas e fazê-las se meterem com a própria vida, mas nesse momento Luis chegou com um prato de comido para ele e uma coca-cola.
— Isso é inveja – disse o adolescente com seu sorriso mais sedutor – Elas estão com inveja de três lindos e jovens homens.
Alberto não se segurou e começou a rir e Laércio quase engasga com o copo de coca.
Nas outras mesas algumas pessoas deram risos discretos. As duas senhoras voltaram a olhar para eles com raiva, mas nem um dos dois prestou mais atenção. Eles tinham mais o que pensar que duas velhas com cabeça do século retrasado.
Lara estava averiguando o mapa de sua propriedade pela décima vez e não parava de resmungar contra si mesma. Como fora se enganar tanto?
Sua fazenda terminava mesmo no riacho como aquele brutamontes havia dito e agora se sentia envergonhada por ter tratado o homem daquela maneira.
— O que há de tão interessante nesse mapa? – perguntou Maria entrando no escritório dela com uma xícara de café.
— Achei que a fazenda ia até uns pés de jabuticaba perto de um córrego, mas pelo que estou vendo ela termina antes.
— Já ouvi falar daquele pedaço de chão que já rendeu muita briga por aqui. Parece que o antigo dono daqui era mesmo o dono ,o seu Célio, mas ele pegou sua noiva com outro debaixo daqueles pés de jabuticaba e daí em diante não quis mais saber das terras que parece que foi vendida para a fazenda que faz divisa com a nossa indo para o norte, mas o dono da fazenda Paraíso provou que as terras eram deles há muito tempo e ai o Célio se negou a vender ou mesmo ceder as terras.
— Por que?
— Por que o dono da Paraíso era o homem que havia roubado a noiva do Célio!
— Que história de novela das seis!
— Parece que eles brigaram na justiça por quinze anos por cem metros de chão lamacento e no final, Antonio, que era o nome do outro fazendeiro, ganhou.
— Quanta teimosia – resmungou ela dobrando os mapas e deixando o assunto de lado – Obrigada pelo café.
— Vai ser só esse até a noite!
— Que? Você está cortando a minha cota de café na região que produz um dos melhores cafés que já tomei?
— Basicamente? Estou!
— Não faz isso comigo não!
Maria apenas levantou uma sobrancelha e deixou a sala deixando Lara resmungar sozinha.
Não muito longe da cidade de Altinópolis, em uma parada de caminhoneiros suja e cheirando a pinga barata, um homem observava tudo com seus olhos ejetados e um sorriso maldoso nos lábios.
Apertou o copo pensando que ele era o pescoço da pessoa que queria matar, mas não sem antes lhe dar uma lição. Ia quebrar seus ossos um por um e depois cortar as partes do seu corpo com ele ainda vivo.
O pensamento era excitante e ele se perguntou porque nunca tinha pensando nisso antes.
Deixando o copo de lado olhou para um rapaz que estava sentado perto dele. Era um andarilho, com as roupas esfarrapadas e sujas com uma mochila nas costas.
Voltou a sorrir e bebeu a bebida em um só gole.
O blog Valfenda Brasil tem é apenas para postar histórias e contos que escrevo. Com isso espero divertir as pessoas levando elas aonde nem um homem jamais esteve!
Minha lista de blogs
domingo, 27 de maio de 2012
O Escravo - Capitulo Quatro
Capitulo Quatro – O Imperador da Aurifen
Gemi ao me virar na cama. Meu corpo ardia mais que doía, mas a minha bunda queimava bastante. Voltei a me virar e a gemer, mas um braço na minha cintura me fez ficar quieto.
Espere! Um braço?
Acordei em um susto para perceber que estava em um quarto amplo que o sol da manhã iluminava por entre as cortinas de cor creme. Os móveis eram de madeira vermelha, mas os tapetes e os quadros eram em tons mais amenos. A lareira tinha algumas brasas e o quarto cheirava a pinho e um outro perfume mais almiscarado. A cama onde estava deitado era imensa e dava para pelo menos cinco pessoas dormirem bem nela, mas naquele momento apenas eu e... Tiol estávamos ali.
Tentei tirar o braço dele de mim, mas o maldito era forte mesmo dormindo.
— Me solta! – berrei para ele.
O príncipe abriu um olho e me olhou contrariado.
— Vai querer voltar logo para aquela sala?
— Tire as suas patas de mim!
— Pronto – ele soltou o braço e eu corri para uma porta que eu esperava que era o banheiro, estava a ponto de estourar de vontade de mijar.
Foi um alivio e quando terminei as minhas necessidades olhei para o banheiro que era tão luxuoso quanto o quarto. Todo em mármore rosa, com uma banheira redonda bem no meio e grande para dar uma festa dentro dela. Havia uma grande bancada com um espelho e muitos produtos. Me olhei ali observando o meu rosto magro, olhos verdes, lábios cheios e maçãs salientes. Nunca achei que era bonito. Meu corpo era magro, mas tinha algumas curvas que se deveria esperar achar no corpo das mulheres.
— Preciso de um banho – resmungou Tiol passando por mim e indo até a banheira.
— O que diabos foi aquilo ontem a noite?
— Você já esta me irritando Andrew!
— Não deveria ter me comprado para inicio de conversa!
Antes que eu me desse conta, Tiol estava do meu lado puxando os meus cabelos com olhar de fúria.
— Eu devia ter deixado você ser comprado por um idiota gordo e sádico que ia ti usar até ti matar!
— Por casa você não é sádico?
— Olhe para si mesmo Andrew! Não está machucado ou coisa assim. Dormiu em uma cama quente e tem o que comer.
— Eu quero a minha liberdade! Eu não pertenço a ninguém!
— Parece que você ainda não percebeu quem é o seu mestre!
— Você nunca vai ser o meu mestre – rosnei para ele.
Sabe, as vezes eu acho que o melhor que tenho a fazer é deixar a minha boca calada e naquele momento eu perdi uma excelente hora para isso.
Vi a fúria nos olhos de Tiol e tremi. Pela primeira vez estava com medo dele.
— Passou da hora pra mim mostrar algo para você!
Ele me arrastou até o quarto e me jogou na cama com a sua força. Eu me perguntava o que ele podia fazer de pior para mim do que já tinha feito.
Tiol me empurrou de bruços na cama e sem prévio aviso seu enorme falo entrou em mim. Eu não estava lubrificado ou coisa assim e isso doeu mais do que em qualquer vez que ele tinha entrado em mim. Agora ele queria me punir pelas minha palavras e estava fazendo um ótimo serviço.
Engasguei com a dor a cada estocada dele sabendo que os aurifenses podiam ter mais de uma ereção por vez e que ele ia me foder até que eu estivesse gritando por misericórdia, mas eu preferia morrer a fazer isso.
— Sempre tão orgulhoso – resmungou ele empurrando mais e me empurrando para a cabeceira da cama – Esse orgulho só vai ti trazer dor.
— Você é que me causa dor! – gritei para ele agarrando os lençóis com desespero ao sentir ele ejacular dentro de mim, mas seu pau não havia diminuído e ele continuou me estocando entre gemidos.
Para o meu desespero comecei a ficar excitado com aquilo. Era o fim! Como eu podia estar ficando duro quando era estuprado por um maldito príncipe?
— Ora, ora! – Tiol segurou o meu pênis com força – Parece que seu corpo é mais honesto que a sua boca!
— Vai se danar!
— Acho que a gente vai acabar de danando junto, meu belo!
Agora ele me penetrava com o intuito de acertar o meu ponto de prazer. Comecei a gemer sem parar parecendo mais uma prostituta. Gozei sujando toda a cama e ficando com o corpo mole entregue ao sadismo de Tiol que só terminou depois de ejacular três vezes em mim me sujando todo de sêmen.
— Da próxima vez eu coloco elixir em você e o deixo amarrado na cama as doze horas que ele dura e ai sim você vai ver o que é dor!
O príncipe limpou o falo na colcha e foi para o banheiro. Confesso que eu não tinha forças nem para me mexer e quando Tiol saiu do quarto assoviando eu me arrastei até o banheiro e me limpei.
Voltei ao quarto mancando sentindo o cheiro de sexo que permeava tudo ali, me perguntando o que ia fazer agora. Voltava para as cozinhas e para aquela maldita matrona? Mas como? Eu estava nu com apenas uma toalha me cobrindo.
As minhas indagações foram respondidas minutos depois quando Kritus apareceu com seu nariz empinado como se tivesse cheirando alguma coisa ruim o tempo todo o que eu imaginava era seu próprio cheiro.
— Se vista! – ele resmungou jogando umas roupas sobre a cama – Tem muito serviço ti esperando.
— Ei! – gritei para ele que já ia saindo – Eu estou com fome!
— Comida só a noite garoto e se eu ti pegar comendo algo por ai vou dar um jeito em você – seu sorriso era maldoso a ponto de me deixar com náuseas – Cubra esses ossos e vá para as cozinhas!
Xinguei ele, Tiol, meus pais, Deus e tudo que fosse possível imaginar! Aquilo não era justo!
Todavia justiça ou não eu não tinha escolha, pelo menos ainda não.
Durante aquele dia eu pensei várias vezes que era melhor voltar ao quarto das torturas. Pelo menos lá eu tinha algum prazer.
Eu trabalhei de forma ininterrupta por mais de catorze horas. Lavei, esfreguei o chão de um corredor de mais de cem metros de joelhos e quando estava terminando o maldito mordomo entrou com as botas cheias de lama e eu tive que começar tudo de novo! Ele me fez lavar todas as janelas do segundo andar e o chão da cozinha na hora em que os empregados almoçavam e ele me negava um pouco de comida, chegando a ameaçar os outros se me dessem algo.
Se o inferno existe ele é bem parecido com aquele lugar.
Já era noite fechada e eu confesso que já havia passado do ponto da fome. Fiquei jogado em um ponto de uma sala onde fora limpar. Encostei-me na parede sabendo que não ia conseguir ir a lugar algum, principalmente por que eu não tinha para onde ir. Duvidava que Tiol ia me deixar dormir com ele depois de tudo.
Puxei a cortina para que me escondesse e me desse algum calor quando a porta da sala foi aberta e duas pessoas entraram.
— Será que você pode parar de choramingar? – disse uma voz rude quando alguém foi jogado de encontro ao sofá.
Olhei por uma fresta na cortina vendo que era Abrahn e um homem desconhecido. Alto, imponente, forte, mas com o rosto contorcido de desprezo olhando para o outro que ficara de cabeça baixa no sofá.
— Me desculpe meu imperador – disse Abrahn com uma voz submissa que eu odiei.
— Desculpas? – o imperador desferiu um violento tapa no rosto dele fazendo com que fosse jogado de encontro ao assento do estofado – Eu não quero desculpas comigo! – ele segurou Abrahn pelos cabelos do mesmo modo que Tiol fazia comigo – Você é minha propriedade e eu quero que me obedeça! Se eu ver você perto de outro homem de novo vou ti chicotear até a morte e depois mato os inúteis dos seus filhos! – ele balançou a cabeça do homem com brusquidão – Entendeu?
— Sim meu senhor!
— Melhor assim! – o imperador o largou e foi até uma prateleira se servir de bebida – Retire sua roupa. Estou sem paciência hoje.
Com o rosto machucado e contorcido de nojo, Abrahn foi retirando as peças de roupa mostrando um corpo bem feito, com belos músculos e abdômen definido.
Ele ficou nu e se ajoelhou esperando pelo marido que o olhava com um sorriso desdenhoso.
— Agora Abrahn me diga o que você quer.
— Eu quero chupá-lo, meu senhor – respondeu o outro com a voz monocórdia.
— E você vai fazer direitinho ou vou sair daqui e foder um daqueles moleques que devem prestar para alguma coisa!
— Por favor meu senhor deixe meus filhos.
— Implore – o imperador encostou na mesinha – Rasteje e implore.
Eu fechei os olhos para aquilo. Era muita humilhação para uma pessoa tão boa quanto Abrahn era.
Quando voltei a olhar quase gemi de desgosto. Abrahn estava de quatro no chão lambendo as botas daquele maldito imperador e tudo por causa de filhos como Tiol. Será que o príncipe sabia disso? Como ele podia deixar o pai passar por isso?
— Chega! – gritou o imperador empurrando o outro de encontro ao chão – De quatro logo sua puta!
Os lábios de Albrahn eram um linha fina quando ele ficou de quatro com a bunda para o imperador que retirou algo de uma gaveta e fiquei abismado ao ver um grande pênis de um metal brilhante na mão dele. Deveria ter cerca de quarenta e cinco centímetros e eu já previa a dor que ele ia passar.
O imperador nem mesmo o preparou. Enfiou o objeto com força para dentro de Abrahn que mordeu os lábios a ponto de cortá-los para não gritar a dor que sentia. Seu rosto ficou banhado em lagrimas e minha vontade era correr e ajudá-lo, mas eu não fiz isso. Meu medo de que aquele imperador fizesse o mesmo comigo me paralisou atrás das cortinas.
— Quando eu me casei com você sabia que ia ter alguém para brincar bastante, mas estou ficando entediado Abrahn – ele tirou e voltou a enfiar o pênis – Você já não está mais me satisfazendo e eu tenho que sair por ai para me divertir como outros – ele começou a estocá-lo sem piedade – Pegar alguns garotos que vivem por ai e torturá-los até ouvir seus gritos de agonia e depois sangrá-los aos poucos e transar com eles quando estão morrendo e tudo isso é culpa sua! – ele voltou a empurrar o objeto e Abrahn ficou pálido, achei que ia desmaiar.
O imperador jogou o pênis sujo de sangue longe e começou a forçar a sua mão dentro de marido.
— Geme sua maldita puta! – gritou o outro com uma expressão ensandecida socando a lateral do outros que engasgou sem ar com o soco – Você merece cada dor que eu ti causo, cada criança inocente que mato para poder ter um pouco de prazer por que meu marido é uma puta frigida!
Ele enfiou a mão inteira dentro de Abrahn e dessa vez ele pareceu não suportar mais.
— Chega! Por favor chega!
— Patético! – o imperador retirou a mão ensangüentada de dentro do outro que caiu se encontro ao chão em meio a tremores – Preciso de algo melhor para aplacar o meu fogo.
Ele se levantou e chutou o outro e saiu da sala deixando o marido para trás sangrando.
Tremendo sai do meu esconderijo e fui até Abrahn que estava desacordado. Olhei para o seu ânus descobrindo o estrago que o outro havia feito nele.
Não sabia o que fazer. Meu Deus eu não podia deixar o outro ali sangrando e fui procurar o único que conhecia.
Encontrei Tiol no quarto dele transando com uma mulher que gemia e se contorcia debaixo do corpo dele.
— Quer participar? – perguntou ele com sarcasmo.
Não sei porque mais vi vermelho naquele momento. Peguei o vestido jogado no chão e empurrei para ela.
— Saia daqui sua vagabunda antes que eu de um jeito nesse seu rosto de vaca!
A moça me olhou enfurecida, mas Tiol saiu de dentro dela com o olhar maroto. A mulher pegou a roupa, mas não vestiu saindo nua do quarto.
— Agora o que você vai fazer enquanto a isso, meu belo? – ele apontava para o seu enorme falo rígido.
— Você é u idiota, imbecil e tudo mais! Você ta ai fodendo uma mulher quando Abrahn está machucado!
O efeito das minhas palavras foram imediatas. Ele pulou da cama e segurou o meu braço.
— O que diabos você está falando?
— Venha comigo logo merda!
Tiol vestiu uma calça e me acompanhou até a sala onde Abrahn estava desacordado e sangrando.
— Papa! – Tiol caiu de joelhos perto dele – Meu Deus pai. Quem fez isso com você?
— O imperador – resmunguei me sentindo tonto de fome e cansaço.
O olhar incrédulo de Tiol me mostrou que ele não sabia desse lado do seu pai.
Gemi ao me virar na cama. Meu corpo ardia mais que doía, mas a minha bunda queimava bastante. Voltei a me virar e a gemer, mas um braço na minha cintura me fez ficar quieto.
Espere! Um braço?
Acordei em um susto para perceber que estava em um quarto amplo que o sol da manhã iluminava por entre as cortinas de cor creme. Os móveis eram de madeira vermelha, mas os tapetes e os quadros eram em tons mais amenos. A lareira tinha algumas brasas e o quarto cheirava a pinho e um outro perfume mais almiscarado. A cama onde estava deitado era imensa e dava para pelo menos cinco pessoas dormirem bem nela, mas naquele momento apenas eu e... Tiol estávamos ali.
Tentei tirar o braço dele de mim, mas o maldito era forte mesmo dormindo.
— Me solta! – berrei para ele.
O príncipe abriu um olho e me olhou contrariado.
— Vai querer voltar logo para aquela sala?
— Tire as suas patas de mim!
— Pronto – ele soltou o braço e eu corri para uma porta que eu esperava que era o banheiro, estava a ponto de estourar de vontade de mijar.
Foi um alivio e quando terminei as minhas necessidades olhei para o banheiro que era tão luxuoso quanto o quarto. Todo em mármore rosa, com uma banheira redonda bem no meio e grande para dar uma festa dentro dela. Havia uma grande bancada com um espelho e muitos produtos. Me olhei ali observando o meu rosto magro, olhos verdes, lábios cheios e maçãs salientes. Nunca achei que era bonito. Meu corpo era magro, mas tinha algumas curvas que se deveria esperar achar no corpo das mulheres.
— Preciso de um banho – resmungou Tiol passando por mim e indo até a banheira.
— O que diabos foi aquilo ontem a noite?
— Você já esta me irritando Andrew!
— Não deveria ter me comprado para inicio de conversa!
Antes que eu me desse conta, Tiol estava do meu lado puxando os meus cabelos com olhar de fúria.
— Eu devia ter deixado você ser comprado por um idiota gordo e sádico que ia ti usar até ti matar!
— Por casa você não é sádico?
— Olhe para si mesmo Andrew! Não está machucado ou coisa assim. Dormiu em uma cama quente e tem o que comer.
— Eu quero a minha liberdade! Eu não pertenço a ninguém!
— Parece que você ainda não percebeu quem é o seu mestre!
— Você nunca vai ser o meu mestre – rosnei para ele.
Sabe, as vezes eu acho que o melhor que tenho a fazer é deixar a minha boca calada e naquele momento eu perdi uma excelente hora para isso.
Vi a fúria nos olhos de Tiol e tremi. Pela primeira vez estava com medo dele.
— Passou da hora pra mim mostrar algo para você!
Ele me arrastou até o quarto e me jogou na cama com a sua força. Eu me perguntava o que ele podia fazer de pior para mim do que já tinha feito.
Tiol me empurrou de bruços na cama e sem prévio aviso seu enorme falo entrou em mim. Eu não estava lubrificado ou coisa assim e isso doeu mais do que em qualquer vez que ele tinha entrado em mim. Agora ele queria me punir pelas minha palavras e estava fazendo um ótimo serviço.
Engasguei com a dor a cada estocada dele sabendo que os aurifenses podiam ter mais de uma ereção por vez e que ele ia me foder até que eu estivesse gritando por misericórdia, mas eu preferia morrer a fazer isso.
— Sempre tão orgulhoso – resmungou ele empurrando mais e me empurrando para a cabeceira da cama – Esse orgulho só vai ti trazer dor.
— Você é que me causa dor! – gritei para ele agarrando os lençóis com desespero ao sentir ele ejacular dentro de mim, mas seu pau não havia diminuído e ele continuou me estocando entre gemidos.
Para o meu desespero comecei a ficar excitado com aquilo. Era o fim! Como eu podia estar ficando duro quando era estuprado por um maldito príncipe?
— Ora, ora! – Tiol segurou o meu pênis com força – Parece que seu corpo é mais honesto que a sua boca!
— Vai se danar!
— Acho que a gente vai acabar de danando junto, meu belo!
Agora ele me penetrava com o intuito de acertar o meu ponto de prazer. Comecei a gemer sem parar parecendo mais uma prostituta. Gozei sujando toda a cama e ficando com o corpo mole entregue ao sadismo de Tiol que só terminou depois de ejacular três vezes em mim me sujando todo de sêmen.
— Da próxima vez eu coloco elixir em você e o deixo amarrado na cama as doze horas que ele dura e ai sim você vai ver o que é dor!
O príncipe limpou o falo na colcha e foi para o banheiro. Confesso que eu não tinha forças nem para me mexer e quando Tiol saiu do quarto assoviando eu me arrastei até o banheiro e me limpei.
Voltei ao quarto mancando sentindo o cheiro de sexo que permeava tudo ali, me perguntando o que ia fazer agora. Voltava para as cozinhas e para aquela maldita matrona? Mas como? Eu estava nu com apenas uma toalha me cobrindo.
As minhas indagações foram respondidas minutos depois quando Kritus apareceu com seu nariz empinado como se tivesse cheirando alguma coisa ruim o tempo todo o que eu imaginava era seu próprio cheiro.
— Se vista! – ele resmungou jogando umas roupas sobre a cama – Tem muito serviço ti esperando.
— Ei! – gritei para ele que já ia saindo – Eu estou com fome!
— Comida só a noite garoto e se eu ti pegar comendo algo por ai vou dar um jeito em você – seu sorriso era maldoso a ponto de me deixar com náuseas – Cubra esses ossos e vá para as cozinhas!
Xinguei ele, Tiol, meus pais, Deus e tudo que fosse possível imaginar! Aquilo não era justo!
Todavia justiça ou não eu não tinha escolha, pelo menos ainda não.
Durante aquele dia eu pensei várias vezes que era melhor voltar ao quarto das torturas. Pelo menos lá eu tinha algum prazer.
Eu trabalhei de forma ininterrupta por mais de catorze horas. Lavei, esfreguei o chão de um corredor de mais de cem metros de joelhos e quando estava terminando o maldito mordomo entrou com as botas cheias de lama e eu tive que começar tudo de novo! Ele me fez lavar todas as janelas do segundo andar e o chão da cozinha na hora em que os empregados almoçavam e ele me negava um pouco de comida, chegando a ameaçar os outros se me dessem algo.
Se o inferno existe ele é bem parecido com aquele lugar.
Já era noite fechada e eu confesso que já havia passado do ponto da fome. Fiquei jogado em um ponto de uma sala onde fora limpar. Encostei-me na parede sabendo que não ia conseguir ir a lugar algum, principalmente por que eu não tinha para onde ir. Duvidava que Tiol ia me deixar dormir com ele depois de tudo.
Puxei a cortina para que me escondesse e me desse algum calor quando a porta da sala foi aberta e duas pessoas entraram.
— Será que você pode parar de choramingar? – disse uma voz rude quando alguém foi jogado de encontro ao sofá.
Olhei por uma fresta na cortina vendo que era Abrahn e um homem desconhecido. Alto, imponente, forte, mas com o rosto contorcido de desprezo olhando para o outro que ficara de cabeça baixa no sofá.
— Me desculpe meu imperador – disse Abrahn com uma voz submissa que eu odiei.
— Desculpas? – o imperador desferiu um violento tapa no rosto dele fazendo com que fosse jogado de encontro ao assento do estofado – Eu não quero desculpas comigo! – ele segurou Abrahn pelos cabelos do mesmo modo que Tiol fazia comigo – Você é minha propriedade e eu quero que me obedeça! Se eu ver você perto de outro homem de novo vou ti chicotear até a morte e depois mato os inúteis dos seus filhos! – ele balançou a cabeça do homem com brusquidão – Entendeu?
— Sim meu senhor!
— Melhor assim! – o imperador o largou e foi até uma prateleira se servir de bebida – Retire sua roupa. Estou sem paciência hoje.
Com o rosto machucado e contorcido de nojo, Abrahn foi retirando as peças de roupa mostrando um corpo bem feito, com belos músculos e abdômen definido.
Ele ficou nu e se ajoelhou esperando pelo marido que o olhava com um sorriso desdenhoso.
— Agora Abrahn me diga o que você quer.
— Eu quero chupá-lo, meu senhor – respondeu o outro com a voz monocórdia.
— E você vai fazer direitinho ou vou sair daqui e foder um daqueles moleques que devem prestar para alguma coisa!
— Por favor meu senhor deixe meus filhos.
— Implore – o imperador encostou na mesinha – Rasteje e implore.
Eu fechei os olhos para aquilo. Era muita humilhação para uma pessoa tão boa quanto Abrahn era.
Quando voltei a olhar quase gemi de desgosto. Abrahn estava de quatro no chão lambendo as botas daquele maldito imperador e tudo por causa de filhos como Tiol. Será que o príncipe sabia disso? Como ele podia deixar o pai passar por isso?
— Chega! – gritou o imperador empurrando o outro de encontro ao chão – De quatro logo sua puta!
Os lábios de Albrahn eram um linha fina quando ele ficou de quatro com a bunda para o imperador que retirou algo de uma gaveta e fiquei abismado ao ver um grande pênis de um metal brilhante na mão dele. Deveria ter cerca de quarenta e cinco centímetros e eu já previa a dor que ele ia passar.
O imperador nem mesmo o preparou. Enfiou o objeto com força para dentro de Abrahn que mordeu os lábios a ponto de cortá-los para não gritar a dor que sentia. Seu rosto ficou banhado em lagrimas e minha vontade era correr e ajudá-lo, mas eu não fiz isso. Meu medo de que aquele imperador fizesse o mesmo comigo me paralisou atrás das cortinas.
— Quando eu me casei com você sabia que ia ter alguém para brincar bastante, mas estou ficando entediado Abrahn – ele tirou e voltou a enfiar o pênis – Você já não está mais me satisfazendo e eu tenho que sair por ai para me divertir como outros – ele começou a estocá-lo sem piedade – Pegar alguns garotos que vivem por ai e torturá-los até ouvir seus gritos de agonia e depois sangrá-los aos poucos e transar com eles quando estão morrendo e tudo isso é culpa sua! – ele voltou a empurrar o objeto e Abrahn ficou pálido, achei que ia desmaiar.
O imperador jogou o pênis sujo de sangue longe e começou a forçar a sua mão dentro de marido.
— Geme sua maldita puta! – gritou o outro com uma expressão ensandecida socando a lateral do outros que engasgou sem ar com o soco – Você merece cada dor que eu ti causo, cada criança inocente que mato para poder ter um pouco de prazer por que meu marido é uma puta frigida!
Ele enfiou a mão inteira dentro de Abrahn e dessa vez ele pareceu não suportar mais.
— Chega! Por favor chega!
— Patético! – o imperador retirou a mão ensangüentada de dentro do outro que caiu se encontro ao chão em meio a tremores – Preciso de algo melhor para aplacar o meu fogo.
Ele se levantou e chutou o outro e saiu da sala deixando o marido para trás sangrando.
Tremendo sai do meu esconderijo e fui até Abrahn que estava desacordado. Olhei para o seu ânus descobrindo o estrago que o outro havia feito nele.
Não sabia o que fazer. Meu Deus eu não podia deixar o outro ali sangrando e fui procurar o único que conhecia.
Encontrei Tiol no quarto dele transando com uma mulher que gemia e se contorcia debaixo do corpo dele.
— Quer participar? – perguntou ele com sarcasmo.
Não sei porque mais vi vermelho naquele momento. Peguei o vestido jogado no chão e empurrei para ela.
— Saia daqui sua vagabunda antes que eu de um jeito nesse seu rosto de vaca!
A moça me olhou enfurecida, mas Tiol saiu de dentro dela com o olhar maroto. A mulher pegou a roupa, mas não vestiu saindo nua do quarto.
— Agora o que você vai fazer enquanto a isso, meu belo? – ele apontava para o seu enorme falo rígido.
— Você é u idiota, imbecil e tudo mais! Você ta ai fodendo uma mulher quando Abrahn está machucado!
O efeito das minhas palavras foram imediatas. Ele pulou da cama e segurou o meu braço.
— O que diabos você está falando?
— Venha comigo logo merda!
Tiol vestiu uma calça e me acompanhou até a sala onde Abrahn estava desacordado e sangrando.
— Papa! – Tiol caiu de joelhos perto dele – Meu Deus pai. Quem fez isso com você?
— O imperador – resmunguei me sentindo tonto de fome e cansaço.
O olhar incrédulo de Tiol me mostrou que ele não sabia desse lado do seu pai.
domingo, 20 de maio de 2012
Caminhos do Destino - Capitulo XXIV
Capitulo XXIV
Kallil parou para que os cavalos tivessem uma pausa e ele disse para Paul que deveria ser mais de duas da manhã. Ele havia apenas olhado o céu e dito isso.
— Você conhece mesmo o deserto – observou Paul olhando o rosto do outro ainda surpreendido com a similaridade entre eles.
— Bastante. Sempre fui curioso e atormentava todo mundo para que me explicasse isso ou aquilo. Costumava também sair com alguma caravana para comercializar com outros oasis.
— Kallil eu agradeço muito o que fez por mim, mas eu ainda não entendo o porque de você ter enfrentado o seu povo para me resgatar. Eu não quero parecer ingrato ou coisa assim.
— Eu sei – o rapaz deu um pequeno sorriso – Sei que estamos em perigo, mas eu quero muito contar uma coisa que soube apenas hoje. Vamos sentar um pouco.
Eles sentaram na areia fria ouvindo os ventos uivando por entra as dunas e carregando um pouco de areia aqui e ali e quando o sol despontasse o deserto não ia ser mais o mesmo.
Kallil olhou para Paul e começou a contar a sua história e a cada palavra Paul ficava mais e mais surpreso.
— Você acha que isso é verdade? – Paul não conseguia acreditar na história que ouvia.
— Eu acho e uma prova disso é a tatuagem que apareceu na sua e na minha testa quando nos tocamos. Eu sei que a magia das Rosas depende muito da sua ligação com a família.
— Que magia? Olha pra mim! Sou apenas um fazendeiro com cinco filhos!
— Existe todo o tipo de magia – respondeu Kallil calmamente – O clã das Rosas tinham uma estranha magia ligada a natureza. O que sei é que eles são descendentes de elfos e do povo do norte da terra antiga.
— Elfos?
Paul repuxou o cabelo ainda com a trança agora toda esfiapada imaginando o que aquilo queria dizer. Mas algo mais chamava a sua atenção. Ele nunca fora parecido com seu pai e nunca conhecera a sua mãe. Seu pai havia se mudado para aquela vila em Gaulesh quando ele tinha nove anos, antes disso eles moravam na fronteira ao norte. Pouco se lembrava da sua infância e na sua adolescência a coisa que ele mais queria era ficar longe do seu pai, era para isso que ele estava acumulando dinheiro.
— Você não gostaria de me ter como irmão Paul? – havia dor na voz de Kallil.
— Eu nunca tive um irmão Kallil, acho que nunca tive uma família de verdade a não ser aquela que criei – ele colocou a mão no ombro do rapaz – Não sabe a vontade que tenho que tudo isso seja verdade e que você seja meu irmão.
Kallil sorriu e mesmo na luz esmaecida das estrelas Paul podia ver como seus olhos brilhavam.
— Para descobrir a verdade temos que ir até o clã das Rosas, mas acho que não é uma boa ideia agora – disse Kallil – Vamos ser procurados por todo o lado até sairmos do deserto.
— Você me disse que no sul estaríamos bem.
— O sul é uma região que não é muito ligada as tribos nômades do norte, principalmente por que eles já não são mais nômades. Eles agora tem suas cidades nos oasis e em pequenos rios que cortam o deserto.
— Preciso achar meu filho Kallil – Paul apertou o tecido da camisa sob o coração – Estou tão preocupado com as minhas crianças... – sua voz saiu tremula e ele fazia o possível para não cair no choro, precisava ser forte.
— Bem a terra ancestral dos espíritos do vento é em Kotem, a terra dos dragões. Ela fica entre Gaulesh, o reino dos elfos e os desertos de Altair.
— Acha que ele pode ter ido para lá?
— Os espíritos não são maus e tudo que eles fazem tem um propósito. Não acredito que eles fariam algo ao seu filho. Podemos ir para Kotem.
— Obrigado Kallil – ele segurou a mão quente do outro.
Ekbert limpou a espada com nojo olhando para os guerreiros vestidos com farrapos e fedendo. Eram homens altos e loiros, com botas de um couro que ele nunca havia visto e com um cheiro de quem nunca havia visto um banho.
— Povos bárbaros – ele cuspiu olhando para o lado onde Waldrich cuidava de Mat que havia sofrido um ferimento feio na cabeça.
Capela estava sentado na grama se despedindo dos guerreiros mortos.
Eles haviam sido pego de surpresa por cerca de dez guerreiros enormes e ferozes. Mesmo estando em maior numero a comitiva do príncipe não foi capaz de deter os guerreiros e antes que vissem Mat estava ferido e Capela lutando conta eles sabendo que não ia conseguir impedi-los. Fora então que esse enorme homem aparecera e com uma fúria cega os destruira. Capela nunca havia visto nada igual.
— Gostaria de saber o que os irlandeses estão fazendo tão longe do mar. Eles não costumam entrar continente afora – Ekbert olhou para Capela que se levantara com o rosto cheio de tristeza – Eles morreram como guerreiros rapaz. Seus espíritos vão em paz.
— A morte sempre dói senhor.
— Ekbert é o meu nome.
O grande guerreiro foi para junto de Waldrich que terminara o curativo na testa de Mat e agora estava alisando os cabelos do príncipe.
— Você sabia o que ia acontecer – resmungou ele para o outro que deu um leve sorriso.
— Por que esta bravo Ekbert?
— Você deveria ter me contado Waldrich! Deveria ter ficado em Lakina!
— Lakina não é o meu destino agora – ele olhou para Ekberto com seus estranhos olhos negros.
— Waldrich de Lakina? – Capela deu um paço para traz – Você é o mago?
— Eu sou o bicho papão que assombra vocês – havia sarcasmo na voz dele.
— Por que está nos ajudando?
— Por que eu não estou aqui para destruir ninguém que não seja Alberta, sua ex-rainha. Sei que você sabe que ela pretende algo contra o reino de Haven.
— Usando você!
— Usando Kamm, meu caro. Usando o filho caçula de Raguel de Jaire sedento de poder.
— Eu não estou entendendo nada.
— Você acha prudente falar para ele? – Ekbert não queria que Waldrich ficasse em mais perigo ainda.
— Eu acho que chegou a hora do espião do rei Dylan saber o que realmente está acontecendo e se você conta ou não ao seu príncipe é sua decisão.
Capela teve um sentimento desconfortável, mas ao mesmo tempo ele estava muito curioso para saber o que o tal mago tinha para dizer para ele.
— Primeiro tenente Capela obrigado por cuidar do meu filho.
Ao olhar a esposa Dylan podia dizer que ia haver uma tempestade ali. Mirian era ótima pessoa, mas seu ciúme as vezes o irritava e ela com certeza havia percebido os olhos de Shon que o olhava com curiosidade.
— Vamos entrar – disse Gwen tentando dissipar o estranho clima – Acho que já é hora do Shon deitar, não é Shon?
— O senhor é um rei? – ele perguntou para Dylan ignorando a princesa.
— Sou sim – ele ficou da altura dele olhando seu rosto e percebendo outras similaridades fora os olhos.
O modo como ele franzia o nariz ou quando ele torcia os lábios... Como ninguém tinha reparado nisso antes?
— Será que podemos conversar Dylan? – a voz de Mirian estava muito calma e isso o fazia temer o pior, mas ele ia deixar isso para depois.
Abraçou o menino e o pegou no colo.
— Que tal se o levo para dormir? – perguntou o grande rei sorrindo terno para o menino que devolveu o sorriso.
— Eu vou gostar senhor – disse ele.
— Me chame de Dylan – ele entrou com o menino no colo e subiu as escadas deixando os outras na sala.
Mirian tremia. Aquele menino não podia ser filho de Dylan! Ela mesma não conseguia dar um filho a ele e de repente aparecia aquele menino com os olhos naquela cor incomum.
— Mirian está tudo bem? – Gwen e Phil não entendiam o que estava acontecendo.
— De quem que aquele menino é filho?
— De um rapaz chamado Paul, ele é noivo de Mat – respondeu Phil cada vez mais confuso – O que tem isso Mirian?
— Será que vocês não perceberam? – ela quase gritou – Ele tem os olhos de Dylan. Ninguém mais tem olhos assim!
— Será que você pode baixar o tom antes de me acusar? – Dylan ia descendo as escadas – Caso não tenha percebido Mirian meu pai e meu irmão Mat tem os mesmos olhos que eu.
— Agora você vai dizer que ele é filho do seu pai? Ou de Mat? Eu vi como você olhava para ele!
— Eu conheço o pai gerador dele Mirian, eu o conheci a oito anos em uma noite das fogueiras. Eu era solteiro e gostava de aventuras.
— Então ele é seu!
— Você não ouviu nada do que eu disse – resmungou o rei cruzando os braços.
— E o que você disse? Nada! Eu não quero mais meias palavras Dylan McGives! Eu quero a verdade!
Sanet pousou perto da caverna onde vivia deixando Flyn e seu pai descerem das suas costas com Maleah ainda desacordado.
— Bem vindos a Kotem – disse o chefe dos dragões tentando dar um pouco de calma aos elfos cansados.
— Obrigado Sanet.
Eles entraram na caverna onde obscura. Os dragões podiam ver muito bem a noite e não precisavam de qualquer luz, mas Arkan tirou uma pequena pedra da bolsa e a apertou na palma de sua mão. A pedra começou a brilhar e o grande dragão a olhou curioso.
— Pedras do sol? Não via dessas há muitos anos.
— Não há muitas mais hoje em dia – disse Flyn que estava segurando o primo.
Entraram na caverna onde dormia Sanet e Tildo.
O dragão vermelho estava sentado olhando os visitantes com curiosidade.
— Sanet! Você demorou! – logo foi dizendo o filhote – Eu estava com medo, o humano está resmungando o tempo todo. Eu não entendo o que ele fala e eu não sabia o que fazer...
— Calma filhote – Sanet esfregou o focinho em Tildo – Quero que conheça os elfos Flyn, seu pai Arkan e Maleah que também está doente como o menino.
— Ola! Desculpe não ter falado com vocês! Estou preocupado com o humano. Gostei dele, queria ajudar ele, mas vocês tem um doente também. Podemos ajudá-lo também?
— Ele é uma gracinha – disse Flyn depositando Maleah no mesmo ninho que Gabe estava tremendo em meio a palha – Ele parece bem doente – colocou a mão na testa do menino percebendo a sua febre.
— Deixa eu dar uma olhada – Arkan sabia que seus poderes eram podiam ajudar o pequeno humano e ele estava grato por pelo menos isso ele poder fazer, já que com seu sobrinho só restava esperar.
Colocou a mão na testa de Gabe e sentiu a alma do menino percebendo de imediato que ele era meio elfo, mas isso não era impedimento para seu poder de cura correr pelas veias dele, eliminando sua fraqueza, purificando o seu corpo.
— Pronto – ele sentou cansado na palha – Amanhã ele vai estar muito bem.
— Mesmo?! – Tildo dava pulinhos perto de Arkan abrindo e fechando as asas de entusiasmo – Obrigado senhor elfo! Eu queria muito poder falar com o humano, mostrar a minha casa para ele.
— Tildo se acalme um pouco ou vai sufocar os elfos – resmungou o dragão deitando perto deles – Obrigado Arkan e Flyn.
— Nós é que agradecemos a sua ajuda – disse Flyn arrumando uma cama melhor para Maleah a Gabe com as mantas que tinham – Só espero que o meu tio não venha a fazer nada contra a sua tribo.
— Raguel não é tolo – resmungou o dragão fechando os olhos – Os dragões não são um inimigo fácil.
Durante a noite Flyn e Arkan se revezaram para cuidar de Malaeh e conforme o dia ia amanhecendo percebiam que as doze horas que o feitiço da dor ia perdendo as forças até que o tempo se esgotou.
Maleah acordou olhando para um teto alto, com estalactites imensas e sentindo que uma manada de cavalos o tivessem pisoteado. Sua memória estava falha e ele não entendia o que estava acontecendo.
— Bom dia primo – a voz alegre de Flyn chamou a sua atenção para o lado onde seu primo estava sentado perto dele – Como você está?
— F... – Maleah tentou falar mas sua garganta ardia a não saia som algum.
— Sua garganta deve ter se machucado quando você gritou ontem. Eu peguei algumas ervas secas em casa e trouxe, punha na língua e deixe elas agirem.
Flyn entregou um punhado de ervas escuras e secas para o primo que a pôs na língua deixando que um frescor maravilhoso corresse por sua dolorida garganta.
De repente a visão de seu pai lançando a magia da dor nele o fez estremecer. Era por isso que ele se sentia tão mau, tão cansado. Mas o que Flyn estava fazendo ali? Na verdade onde era ali?
Tentou se levantar, mas o primo o impediu.
— Maleah não se esforce! Seu corpo foi muito prejudicado com o feitiço. Levara alguns dias para você se sentir melhor. Se ficar quieto eu conto tudo que aconteceu.
O outro ficou imóvel olhando para o primo que deu um leve sorriso e começou a contar tudo enquanto alisava os cabelos do primo. No final do relato Maleah deixou com que suas lágrimas caíssem livremente. Não só ele fora expulso de suas terras, mas seu tio e primo haviam jogado tudo para o alto para ajudá-lo.
— Não fique assim – Flyn segurou a sua mão – Você sabe que estava ficando insuportável ficar na Floresta Velha com Raguel no comando. Ele mais e mais esta destruindo o nosso povo e no final as pessoas deixam ele fazer isso por comodidade. Eu quero algo mais do que ser repreendido dia e noite por chorar ou rir e se estivermos juntos tudo vai dar certo.
— Maleah! – Gabe entrou na caverna abraçando o elfo com força quase o fazendo engasgar com as ervas.
— Elfo Maleah acordou – Tildo também estava ali e imitou Gabe abraçando Maleah em uma confusão de pernas, braços e asas.
— Calma meninos! – Flyn tirou o dragão e Gabe de cima do primo – Assim vocês vão matar ele.
— Desculpe Maleah! – Gabe tinha o rosto sujo de suco de amoras que estivera comendo junto de Tildo e Arkan – Eu estava preocupado com você.
— Gostaria de saber o que esse bendito dgim queria ao trazê-los para cá – resmungava Flyn que tinha Tildo no colo e acariciava a cabeça do dragão que ronronava de contentamento.
— Eu ouvi ele – disse Gabe – Ele me falava que os meus poderes eram muito fortes e que eu deveria ser treinado por mestres, pelos dragões, mas eu não queria ir e ele me trouxe aqui sem meu consentimento. Meu pai deve estar preocupado.
Maleah cuspiu as ervas e olhou para o primo.
— Precisamos voltar – disse com a voz rouca.
— Você não está em condições de viajar e sabe disso – disse o primo com a voz dura – Vão se passar pelo menos uma semana antes que possamos pegar a estrada – olhou o rostinho triste de Gabe – Sei que quer voltar para casa Gabe, mas temos que esperar uns dias até que Maleah esteja bem. Enquanto isso porque não treina seus poderes com Sanet?
O menino balançou a cabeça concordando, mas com dor no coração pensando no pai e nos irmãos.
Kallil parou para que os cavalos tivessem uma pausa e ele disse para Paul que deveria ser mais de duas da manhã. Ele havia apenas olhado o céu e dito isso.
— Você conhece mesmo o deserto – observou Paul olhando o rosto do outro ainda surpreendido com a similaridade entre eles.
— Bastante. Sempre fui curioso e atormentava todo mundo para que me explicasse isso ou aquilo. Costumava também sair com alguma caravana para comercializar com outros oasis.
— Kallil eu agradeço muito o que fez por mim, mas eu ainda não entendo o porque de você ter enfrentado o seu povo para me resgatar. Eu não quero parecer ingrato ou coisa assim.
— Eu sei – o rapaz deu um pequeno sorriso – Sei que estamos em perigo, mas eu quero muito contar uma coisa que soube apenas hoje. Vamos sentar um pouco.
Eles sentaram na areia fria ouvindo os ventos uivando por entra as dunas e carregando um pouco de areia aqui e ali e quando o sol despontasse o deserto não ia ser mais o mesmo.
Kallil olhou para Paul e começou a contar a sua história e a cada palavra Paul ficava mais e mais surpreso.
— Você acha que isso é verdade? – Paul não conseguia acreditar na história que ouvia.
— Eu acho e uma prova disso é a tatuagem que apareceu na sua e na minha testa quando nos tocamos. Eu sei que a magia das Rosas depende muito da sua ligação com a família.
— Que magia? Olha pra mim! Sou apenas um fazendeiro com cinco filhos!
— Existe todo o tipo de magia – respondeu Kallil calmamente – O clã das Rosas tinham uma estranha magia ligada a natureza. O que sei é que eles são descendentes de elfos e do povo do norte da terra antiga.
— Elfos?
Paul repuxou o cabelo ainda com a trança agora toda esfiapada imaginando o que aquilo queria dizer. Mas algo mais chamava a sua atenção. Ele nunca fora parecido com seu pai e nunca conhecera a sua mãe. Seu pai havia se mudado para aquela vila em Gaulesh quando ele tinha nove anos, antes disso eles moravam na fronteira ao norte. Pouco se lembrava da sua infância e na sua adolescência a coisa que ele mais queria era ficar longe do seu pai, era para isso que ele estava acumulando dinheiro.
— Você não gostaria de me ter como irmão Paul? – havia dor na voz de Kallil.
— Eu nunca tive um irmão Kallil, acho que nunca tive uma família de verdade a não ser aquela que criei – ele colocou a mão no ombro do rapaz – Não sabe a vontade que tenho que tudo isso seja verdade e que você seja meu irmão.
Kallil sorriu e mesmo na luz esmaecida das estrelas Paul podia ver como seus olhos brilhavam.
— Para descobrir a verdade temos que ir até o clã das Rosas, mas acho que não é uma boa ideia agora – disse Kallil – Vamos ser procurados por todo o lado até sairmos do deserto.
— Você me disse que no sul estaríamos bem.
— O sul é uma região que não é muito ligada as tribos nômades do norte, principalmente por que eles já não são mais nômades. Eles agora tem suas cidades nos oasis e em pequenos rios que cortam o deserto.
— Preciso achar meu filho Kallil – Paul apertou o tecido da camisa sob o coração – Estou tão preocupado com as minhas crianças... – sua voz saiu tremula e ele fazia o possível para não cair no choro, precisava ser forte.
— Bem a terra ancestral dos espíritos do vento é em Kotem, a terra dos dragões. Ela fica entre Gaulesh, o reino dos elfos e os desertos de Altair.
— Acha que ele pode ter ido para lá?
— Os espíritos não são maus e tudo que eles fazem tem um propósito. Não acredito que eles fariam algo ao seu filho. Podemos ir para Kotem.
— Obrigado Kallil – ele segurou a mão quente do outro.
Ekbert limpou a espada com nojo olhando para os guerreiros vestidos com farrapos e fedendo. Eram homens altos e loiros, com botas de um couro que ele nunca havia visto e com um cheiro de quem nunca havia visto um banho.
— Povos bárbaros – ele cuspiu olhando para o lado onde Waldrich cuidava de Mat que havia sofrido um ferimento feio na cabeça.
Capela estava sentado na grama se despedindo dos guerreiros mortos.
Eles haviam sido pego de surpresa por cerca de dez guerreiros enormes e ferozes. Mesmo estando em maior numero a comitiva do príncipe não foi capaz de deter os guerreiros e antes que vissem Mat estava ferido e Capela lutando conta eles sabendo que não ia conseguir impedi-los. Fora então que esse enorme homem aparecera e com uma fúria cega os destruira. Capela nunca havia visto nada igual.
— Gostaria de saber o que os irlandeses estão fazendo tão longe do mar. Eles não costumam entrar continente afora – Ekbert olhou para Capela que se levantara com o rosto cheio de tristeza – Eles morreram como guerreiros rapaz. Seus espíritos vão em paz.
— A morte sempre dói senhor.
— Ekbert é o meu nome.
O grande guerreiro foi para junto de Waldrich que terminara o curativo na testa de Mat e agora estava alisando os cabelos do príncipe.
— Você sabia o que ia acontecer – resmungou ele para o outro que deu um leve sorriso.
— Por que esta bravo Ekbert?
— Você deveria ter me contado Waldrich! Deveria ter ficado em Lakina!
— Lakina não é o meu destino agora – ele olhou para Ekberto com seus estranhos olhos negros.
— Waldrich de Lakina? – Capela deu um paço para traz – Você é o mago?
— Eu sou o bicho papão que assombra vocês – havia sarcasmo na voz dele.
— Por que está nos ajudando?
— Por que eu não estou aqui para destruir ninguém que não seja Alberta, sua ex-rainha. Sei que você sabe que ela pretende algo contra o reino de Haven.
— Usando você!
— Usando Kamm, meu caro. Usando o filho caçula de Raguel de Jaire sedento de poder.
— Eu não estou entendendo nada.
— Você acha prudente falar para ele? – Ekbert não queria que Waldrich ficasse em mais perigo ainda.
— Eu acho que chegou a hora do espião do rei Dylan saber o que realmente está acontecendo e se você conta ou não ao seu príncipe é sua decisão.
Capela teve um sentimento desconfortável, mas ao mesmo tempo ele estava muito curioso para saber o que o tal mago tinha para dizer para ele.
— Primeiro tenente Capela obrigado por cuidar do meu filho.
Ao olhar a esposa Dylan podia dizer que ia haver uma tempestade ali. Mirian era ótima pessoa, mas seu ciúme as vezes o irritava e ela com certeza havia percebido os olhos de Shon que o olhava com curiosidade.
— Vamos entrar – disse Gwen tentando dissipar o estranho clima – Acho que já é hora do Shon deitar, não é Shon?
— O senhor é um rei? – ele perguntou para Dylan ignorando a princesa.
— Sou sim – ele ficou da altura dele olhando seu rosto e percebendo outras similaridades fora os olhos.
O modo como ele franzia o nariz ou quando ele torcia os lábios... Como ninguém tinha reparado nisso antes?
— Será que podemos conversar Dylan? – a voz de Mirian estava muito calma e isso o fazia temer o pior, mas ele ia deixar isso para depois.
Abraçou o menino e o pegou no colo.
— Que tal se o levo para dormir? – perguntou o grande rei sorrindo terno para o menino que devolveu o sorriso.
— Eu vou gostar senhor – disse ele.
— Me chame de Dylan – ele entrou com o menino no colo e subiu as escadas deixando os outras na sala.
Mirian tremia. Aquele menino não podia ser filho de Dylan! Ela mesma não conseguia dar um filho a ele e de repente aparecia aquele menino com os olhos naquela cor incomum.
— Mirian está tudo bem? – Gwen e Phil não entendiam o que estava acontecendo.
— De quem que aquele menino é filho?
— De um rapaz chamado Paul, ele é noivo de Mat – respondeu Phil cada vez mais confuso – O que tem isso Mirian?
— Será que vocês não perceberam? – ela quase gritou – Ele tem os olhos de Dylan. Ninguém mais tem olhos assim!
— Será que você pode baixar o tom antes de me acusar? – Dylan ia descendo as escadas – Caso não tenha percebido Mirian meu pai e meu irmão Mat tem os mesmos olhos que eu.
— Agora você vai dizer que ele é filho do seu pai? Ou de Mat? Eu vi como você olhava para ele!
— Eu conheço o pai gerador dele Mirian, eu o conheci a oito anos em uma noite das fogueiras. Eu era solteiro e gostava de aventuras.
— Então ele é seu!
— Você não ouviu nada do que eu disse – resmungou o rei cruzando os braços.
— E o que você disse? Nada! Eu não quero mais meias palavras Dylan McGives! Eu quero a verdade!
Sanet pousou perto da caverna onde vivia deixando Flyn e seu pai descerem das suas costas com Maleah ainda desacordado.
— Bem vindos a Kotem – disse o chefe dos dragões tentando dar um pouco de calma aos elfos cansados.
— Obrigado Sanet.
Eles entraram na caverna onde obscura. Os dragões podiam ver muito bem a noite e não precisavam de qualquer luz, mas Arkan tirou uma pequena pedra da bolsa e a apertou na palma de sua mão. A pedra começou a brilhar e o grande dragão a olhou curioso.
— Pedras do sol? Não via dessas há muitos anos.
— Não há muitas mais hoje em dia – disse Flyn que estava segurando o primo.
Entraram na caverna onde dormia Sanet e Tildo.
O dragão vermelho estava sentado olhando os visitantes com curiosidade.
— Sanet! Você demorou! – logo foi dizendo o filhote – Eu estava com medo, o humano está resmungando o tempo todo. Eu não entendo o que ele fala e eu não sabia o que fazer...
— Calma filhote – Sanet esfregou o focinho em Tildo – Quero que conheça os elfos Flyn, seu pai Arkan e Maleah que também está doente como o menino.
— Ola! Desculpe não ter falado com vocês! Estou preocupado com o humano. Gostei dele, queria ajudar ele, mas vocês tem um doente também. Podemos ajudá-lo também?
— Ele é uma gracinha – disse Flyn depositando Maleah no mesmo ninho que Gabe estava tremendo em meio a palha – Ele parece bem doente – colocou a mão na testa do menino percebendo a sua febre.
— Deixa eu dar uma olhada – Arkan sabia que seus poderes eram podiam ajudar o pequeno humano e ele estava grato por pelo menos isso ele poder fazer, já que com seu sobrinho só restava esperar.
Colocou a mão na testa de Gabe e sentiu a alma do menino percebendo de imediato que ele era meio elfo, mas isso não era impedimento para seu poder de cura correr pelas veias dele, eliminando sua fraqueza, purificando o seu corpo.
— Pronto – ele sentou cansado na palha – Amanhã ele vai estar muito bem.
— Mesmo?! – Tildo dava pulinhos perto de Arkan abrindo e fechando as asas de entusiasmo – Obrigado senhor elfo! Eu queria muito poder falar com o humano, mostrar a minha casa para ele.
— Tildo se acalme um pouco ou vai sufocar os elfos – resmungou o dragão deitando perto deles – Obrigado Arkan e Flyn.
— Nós é que agradecemos a sua ajuda – disse Flyn arrumando uma cama melhor para Maleah a Gabe com as mantas que tinham – Só espero que o meu tio não venha a fazer nada contra a sua tribo.
— Raguel não é tolo – resmungou o dragão fechando os olhos – Os dragões não são um inimigo fácil.
Durante a noite Flyn e Arkan se revezaram para cuidar de Malaeh e conforme o dia ia amanhecendo percebiam que as doze horas que o feitiço da dor ia perdendo as forças até que o tempo se esgotou.
Maleah acordou olhando para um teto alto, com estalactites imensas e sentindo que uma manada de cavalos o tivessem pisoteado. Sua memória estava falha e ele não entendia o que estava acontecendo.
— Bom dia primo – a voz alegre de Flyn chamou a sua atenção para o lado onde seu primo estava sentado perto dele – Como você está?
— F... – Maleah tentou falar mas sua garganta ardia a não saia som algum.
— Sua garganta deve ter se machucado quando você gritou ontem. Eu peguei algumas ervas secas em casa e trouxe, punha na língua e deixe elas agirem.
Flyn entregou um punhado de ervas escuras e secas para o primo que a pôs na língua deixando que um frescor maravilhoso corresse por sua dolorida garganta.
De repente a visão de seu pai lançando a magia da dor nele o fez estremecer. Era por isso que ele se sentia tão mau, tão cansado. Mas o que Flyn estava fazendo ali? Na verdade onde era ali?
Tentou se levantar, mas o primo o impediu.
— Maleah não se esforce! Seu corpo foi muito prejudicado com o feitiço. Levara alguns dias para você se sentir melhor. Se ficar quieto eu conto tudo que aconteceu.
O outro ficou imóvel olhando para o primo que deu um leve sorriso e começou a contar tudo enquanto alisava os cabelos do primo. No final do relato Maleah deixou com que suas lágrimas caíssem livremente. Não só ele fora expulso de suas terras, mas seu tio e primo haviam jogado tudo para o alto para ajudá-lo.
— Não fique assim – Flyn segurou a sua mão – Você sabe que estava ficando insuportável ficar na Floresta Velha com Raguel no comando. Ele mais e mais esta destruindo o nosso povo e no final as pessoas deixam ele fazer isso por comodidade. Eu quero algo mais do que ser repreendido dia e noite por chorar ou rir e se estivermos juntos tudo vai dar certo.
— Maleah! – Gabe entrou na caverna abraçando o elfo com força quase o fazendo engasgar com as ervas.
— Elfo Maleah acordou – Tildo também estava ali e imitou Gabe abraçando Maleah em uma confusão de pernas, braços e asas.
— Calma meninos! – Flyn tirou o dragão e Gabe de cima do primo – Assim vocês vão matar ele.
— Desculpe Maleah! – Gabe tinha o rosto sujo de suco de amoras que estivera comendo junto de Tildo e Arkan – Eu estava preocupado com você.
— Gostaria de saber o que esse bendito dgim queria ao trazê-los para cá – resmungava Flyn que tinha Tildo no colo e acariciava a cabeça do dragão que ronronava de contentamento.
— Eu ouvi ele – disse Gabe – Ele me falava que os meus poderes eram muito fortes e que eu deveria ser treinado por mestres, pelos dragões, mas eu não queria ir e ele me trouxe aqui sem meu consentimento. Meu pai deve estar preocupado.
Maleah cuspiu as ervas e olhou para o primo.
— Precisamos voltar – disse com a voz rouca.
— Você não está em condições de viajar e sabe disso – disse o primo com a voz dura – Vão se passar pelo menos uma semana antes que possamos pegar a estrada – olhou o rostinho triste de Gabe – Sei que quer voltar para casa Gabe, mas temos que esperar uns dias até que Maleah esteja bem. Enquanto isso porque não treina seus poderes com Sanet?
O menino balançou a cabeça concordando, mas com dor no coração pensando no pai e nos irmãos.
domingo, 13 de maio de 2012
Caminhos do Destino - Capitulo XXIII
Sanet pousou perto da Floresta Velha sentindo o quanto a magia estava irrequieta naquele dia.
Mesmo voando ele não podia ver o fim da grande floresta dos elfos. Ele nunca gostara muito de lá, da magia antiga que sempre rondava tudo e mesmo com toda a sua beleza, parecia que perigos espreitavam atrás de cada arbusto.
Seu olfato apurado sentiu cheiro de elfos e cavalos. Levantou vôo novamente olhando a floresta do alto e viu na estrada dois elfos montados em unicórnios indo em direção à fronteira das matas. Ele reconheceu Flyn, seu conhecido, mas ele não conhecia o elfo mais velho que carregava outro desacordado.
Os unicórnios deveriam tê-lo sentido, pois pararam na estrada e os elfos olharam para cima.
Sanet voou mais baixo para que Flyn o reconhecesse e foi descendo lentamente pousando ali perto.
— Ola – disse ele para o elfo que conhecia há alguns anos.
Ele gostava muito de Flyn. O menino tinha uma afinidade muito grande com animais e plantas e já fora a Kotem atrás de plantas raras. Havia salvado um filhote de dragão e assim se tornara amigo deles.
— Sanet! – Flyn parecia perdido com a sua visita – Esta tudo bem?
— Preciso de sua ajuda Flyn. Encontrei um filhote de humano e ele está doente e gostaria de saber se você pode me ajudar.
— Lamento Sanet, mas estamos indo embora da Floresta Velha e acho que se fosse para as suas terras Raguel poderia lhe causar problemas.
— Acha mesmo que os dragões temem seu rei? – havia desdém na voz do grande dragão – Até onde eu sei, ele nunca tentou nada conosco por medo do nosso poder. Se esta indo embora de suas terras ofereço áxilo em Kotem para vocês.
Maleah estremeceu e gemeu de dor. Arkan olhou para o sobrinho com dor no coração. Ele nunca fora tomado pela maldição da dor, mas pelo que sabia era a pior dor que você podia imaginar. Sua mente se desliga de tudo e o que sobre é a necessidade de acabar com ela. Olhou para o dragão e depois para o filho.
— Flyn acho que devemos a aceitar a oferta do dragão. Maleah não está muito bem.
— Posso levá-los para Kotem em minhas costas. Nossas cavernas são bem secas e quentes e meu povo vai recebê-los bem – o dragão parecia ansioso em agradar os amigos elfos.
Sanet sempre gostara muito dos povos antigos, como os elfos eram conhecidos em muitos lugares. Diziam que a Deusa havia tocado a sua espécie durante a Grande Catástrofe os guiando para lugares seguros e desde então os elfos eram abençoados.
— Obrigado Sanet – Flyn sorriu para o outro.
Desceram dos unicórnios que Flyn agradeceu muito e se arrumaram nas costas do dragão, segurando nos espinhos que haviam ali e amarrando uma corda em seu pescoço para se firmarem.
O grande dragão levantou vôo de forma cuidadosa se afastando da Floresta Velha.
Flyn olhou uma ultima vez para o seu antigo lar como se despedisse em definitivo do lugar onde ele passara a sua existência.
Kallil viu quando seu pai entrou tropeçando na tenda bêbado. Sabia que não era a melhor hora para se conseguir respostas, mas ia partir naquela noite e não ia deixar de saber toda a verdade sobre ele e Paul.
Puxou uma espada de folha larga de um suporte preso em uma arca e empurrou seu suposto pai que caiu sentada em um monte de almofadas que ficava no centro da tenda.
— Mas o que diab...
Ele não pode completar a frase. Kallil havia colocado a ponta de sua espada no pescoço dele e fazia pressão.
— Eu ouvi o que você e aquele maldito ancião estavam falando. Eu quero a verdade!
— Você está louco moleque? – ele gritou, mas Kallil voltou a pressionar a espada contra seu pescoço deixando que um fio de sangue corresse por ele.
— A verdade ou eu não vou ter problemas nem um em manchar as areias com seu sangue imundo.
— Eu sabia que isso ia acontecer – ele rosnou olhando com nojo para o outro – Deveria ter deixado você morrendo no deserto, mas minha mulher estava inconsolável com a perda do nosso filho e eu precisava de um bebê!
— Você me roubou para dar a sua esposa?
— Não era nada planejado moleque. Durante muito tempo fui saqueador de tolos que andavam pelas estradas do deserto procurando fazer fortuna. Consegui muito e com todo o ouro e jóias juntei meu próprio povo e virei sheik! Mas roubar era um bom negócio e continuei a manter um grupo para isso e por vezes eu ia com eles. Um dia não suportei mais o choro da minha esposa que tinha perdido a criança que esperava e parti para um saque perto das terras do clã das Rosas. Sabia que esse povo era mágico e perigoso, mas se pegos desprevenidos sempre tinham bastante ouro em seus alforjes. Topamos com um macho e um duo com seus dois filhos, um de quatro anos e um bebê. Percebi que podia conseguir duas coisas, dinheiro e uma criança para acalmar a minha mulher. Matamos os dois adultos com flechas, roubamos o ouro e peguei você e outra criança deixei para morrer no deserto – olhou com desdém para o outro – Não era isso que queria saber? Você não é nada meu graças a Deusa!
Kallil deu um soco na cabeça dele com o punho da espada e ele caiu de lado desmaiado.
— Graças a Deusa digo eu.
Ele não era filho daquele monstro e tinha certeza que Paul era seu irmão. Ele não sabia como e nem por que os caminhos do destino tinham operado para eles se reencontrarem, mas ele não ia deixar nada acontecer com ele.
Pegou a mochila que tinha preparado onde colocara jóias e ouro junto com roupas e comida e saiu da tenda. Lá fora ouvia-se as vozes dos bêbados e os guardas dormiam graças ao sonífero que ele colocara na água.
Correu para a tenda onde estava Paul. O rapaz estava cochilando mesmo todo amarrado. Kallil entrou rapidamente e cortou as cordas assustando Paul que sentou e viu Kallil na obscuridade.
— Shiiii! – Kallil colocou o dedo nos lábios – Venha comigo.
Paul estava assustado, mas aquela podia ser a única chance de escapar e procurar Gabe.
Saíram da barraca para uma noite de lua crescente. Kallil o levou para um local onde haviam dois cavalos presos a uma pedra. Ficava atrás de um pequeno morro de rochas e não se podia ver do acampamento.
— Por que está me ajudando? – Paul não sabia se devia confiar naquele rapaz mesmo que fosse tão parecido consigo.
— Olha precisamos ir embora antes que alguém de por si. Se eu quisesse ti fazer mal te deixaria para ser vendido para Faisal.
A contra gosto Paul assentiu e subiu no cavalo.
— Fique perto de mim. Você não conhece o deserto e se perder é morte certa.
— Pra onde vamos? – Paul virou o cavalo para acompanhar o outro.
— Para o sul. Aquela é a região das tribos Calen e meu... o sheik não vai nos procurar lá.
Saíram cavalgando pela noite escura e muito fria. Paul não havia percebido isso até aquele momento. Era estranho um lugar ser tão quente de dia e frio à noite. Olhou para o céu vendo uma miríade de estrelas e o brilho leitoso da Via Láctea. Cheiros estranhos chegavam até ele com o vento seco do deserto.
Kallil andou de forma decidida como se conhecesse bem a estrada mesmo no escuro.
Paul estava cansado, mas seu coração doía ao pensar em seus filhos e em Mat. Queria tanto que ele estivesse ali para que o abraçasse e disse que tudo ia ficar bem, mas ele sentia que muita coisa podia acontecer antes de realmente ficar bem.
Mat olhava para o fogo do acampamento pensando no que acontecera naqueles dias. Gabe e Paul levados por um dgim e Sara desaparecida. Seus irmão haviam dito que ela fora para o norte, para os dragões.
Como uma menina cega havia conseguido sair do castelo e roubar um cavalo sem ser vista? Como ela podia sobreviver na estrada?
Sara era uma menina incrível, mas a estrada tinha muitos perigos que buracos ou curvas.
Para ele fora uma decisão dolorosa deixar de lado a busca de Paul e Gabe para encabeçar um grupo de busca pela menina.
Agora sabia que Sara estava com Mimir, era a única amazona que ele já vira por perto e as pessoas ao longo da estrada diziam que viam uma menina loira com uma linda mulher negra de porte altivo indo rumo às terras do norte.
Ele imaginava que a amazona tinha mais juízo. Deveria ter levado Sara para o castelo e não ter embarcado na loucura da menina.
Ele consultara sábios que haviam dito que os espíritos dos ventos se reunião nas praias e era o lugar onde ele deveria estar se não tivesse atrás daquele menina teimosa.
Capela estava ali perto com o semblante cansado. Mat sabia que ele não amava o elfo, mas estava ligado a ele de um modo muito estranho. Algo acontecera a Maleah e Capela podia dizer isso pelas dores que sentia no corpo e pela tristeza que o consumia.
O tenente havia se recusado a ir para o oceano dizendo que acreditava em Sara e que ele estava indo para o lugar certo.
Mathew não sabia mais em quem confiar em qual caminho seguir. A verdade era que, desde que pegara aquela estrada, algo dizia que estava indo para o caminho certo.
Um cheiro azedo pairou no ar um segundo. Os cavalos ficaram levemente inquietos e Mat pulou do lugar onde estava, mas seu grito de alerta morreu em sua garganta. Uma dolorosa escuridão desceu sobre ele.
Phillip arregalou os olhos para o mensageiro que trazia a mensagem que seu irmão Dylan estava chegando ao reino em poucos minutos.
— Dylan em uma visita de surpresa? – Gwen estava com Killian sentada no sofá perto da lareira.
Seu filho brincava de morder um pequeno ursinho de pelúcia e ria deliciado.
— Ótima hora para ele ser sociável – resmungou Phil sentando junto com a esposa e tocando com delicadeza no rosto do filho que segurou seu dedo com força.
— Acho que devemos ser gratos. Ele pode nos ajudar de alguma forma com toda essa confusão.
— Tia Gwen! – uma manhoso Shon apareceu no alto da escada com cara de choro.
— Shon o que aconteceu? – perguntou a princesa preocupada.
— Tô com saudades da mamãe! Quando ele volta?
— Vem cá – ela deu o filho para Phil segurar e pegou Shon no colo apertando seu corpinho frio olhando preocupada para as olheiras do menino – Sua mãe vai voltar logo. Mat foi buscar Paul, o Gabe e a Sara. Tenho certeza que logo vão estar todos juntos e indo para casa!
— Estou com medo – ele deitou a cabeça nos seios de Gwen – E se eles não voltarem mais?
— Acredite em Mat – disse o príncipe – Ele nunca vai desistir de achar sua mãe.
Nesse momento uma guarda entrou e fez uma reverencia.
— Meu príncipe o Grande Rei está chegando no pátio.
— Que tal conhecer o meu irmão? – perguntou Phillip para Shon – Ele está chegando para uma visita.
O menino balançou a cabeça e desceu do colo de Gwendelyn que pegou o filho e os três foram para a porta onde um vento gelado soprava.
As tochas do pátio estava acessas iluminando uma grande tropa que cerca a bela carruagem real dos McGives toda azul e dourada. A carruagem parou perto das escadas que dava para a porta principal do castelo.
Dylan saiu e ajudou a esposa a descer. Ela deu um gritinho e correu para abraçar Phillip.
— Saudades Phil!
— Também estava cunhada – ele riu da atitude expansiva da moça.
Mirian olhou para Gwen que estava com um grande sorriso no rosto e carregando o filho.
— Gwen que coisinha mais linda!
— Será que você não pode se conter Mirian? – resmungou Dylan atrás dela.
— Eu continuo não falando com você Dylan – ela disse em alto o bom som deixando o rei vermelho de raiva.
— Tudo bem irmão? – Phil sorriu abraçando seu irmão mais velho que lhe devolveu o aperto.
— Coisas de mulher – resmungou ele, mas Mirian fez que não o ouviu, ela olhava para Shon que estava encostado nas pernas de Gwen.
— Ola gracinha – disse ele sorrindo a agachando perto dele.
— Mirian, Dylan – Phil colocou a mão no ombro do menino – Esse é Shon filho de um amigo nosso.
Dylan olhou para o garotinho e sentiu o coração falhar uma batida. Ali a sua frente estava à cópia mais nova daquele garoto do sacrifício na noite das fogueiras, o rapaz oferecido ao rei servo para o ritual pagão. Mas o menino diante dele tinha olhos de outra cor, eram azuis, azuis como o seu.
Mesmo voando ele não podia ver o fim da grande floresta dos elfos. Ele nunca gostara muito de lá, da magia antiga que sempre rondava tudo e mesmo com toda a sua beleza, parecia que perigos espreitavam atrás de cada arbusto.
Seu olfato apurado sentiu cheiro de elfos e cavalos. Levantou vôo novamente olhando a floresta do alto e viu na estrada dois elfos montados em unicórnios indo em direção à fronteira das matas. Ele reconheceu Flyn, seu conhecido, mas ele não conhecia o elfo mais velho que carregava outro desacordado.
Os unicórnios deveriam tê-lo sentido, pois pararam na estrada e os elfos olharam para cima.
Sanet voou mais baixo para que Flyn o reconhecesse e foi descendo lentamente pousando ali perto.
— Ola – disse ele para o elfo que conhecia há alguns anos.
Ele gostava muito de Flyn. O menino tinha uma afinidade muito grande com animais e plantas e já fora a Kotem atrás de plantas raras. Havia salvado um filhote de dragão e assim se tornara amigo deles.
— Sanet! – Flyn parecia perdido com a sua visita – Esta tudo bem?
— Preciso de sua ajuda Flyn. Encontrei um filhote de humano e ele está doente e gostaria de saber se você pode me ajudar.
— Lamento Sanet, mas estamos indo embora da Floresta Velha e acho que se fosse para as suas terras Raguel poderia lhe causar problemas.
— Acha mesmo que os dragões temem seu rei? – havia desdém na voz do grande dragão – Até onde eu sei, ele nunca tentou nada conosco por medo do nosso poder. Se esta indo embora de suas terras ofereço áxilo em Kotem para vocês.
Maleah estremeceu e gemeu de dor. Arkan olhou para o sobrinho com dor no coração. Ele nunca fora tomado pela maldição da dor, mas pelo que sabia era a pior dor que você podia imaginar. Sua mente se desliga de tudo e o que sobre é a necessidade de acabar com ela. Olhou para o dragão e depois para o filho.
— Flyn acho que devemos a aceitar a oferta do dragão. Maleah não está muito bem.
— Posso levá-los para Kotem em minhas costas. Nossas cavernas são bem secas e quentes e meu povo vai recebê-los bem – o dragão parecia ansioso em agradar os amigos elfos.
Sanet sempre gostara muito dos povos antigos, como os elfos eram conhecidos em muitos lugares. Diziam que a Deusa havia tocado a sua espécie durante a Grande Catástrofe os guiando para lugares seguros e desde então os elfos eram abençoados.
— Obrigado Sanet – Flyn sorriu para o outro.
Desceram dos unicórnios que Flyn agradeceu muito e se arrumaram nas costas do dragão, segurando nos espinhos que haviam ali e amarrando uma corda em seu pescoço para se firmarem.
O grande dragão levantou vôo de forma cuidadosa se afastando da Floresta Velha.
Flyn olhou uma ultima vez para o seu antigo lar como se despedisse em definitivo do lugar onde ele passara a sua existência.
Kallil viu quando seu pai entrou tropeçando na tenda bêbado. Sabia que não era a melhor hora para se conseguir respostas, mas ia partir naquela noite e não ia deixar de saber toda a verdade sobre ele e Paul.
Puxou uma espada de folha larga de um suporte preso em uma arca e empurrou seu suposto pai que caiu sentada em um monte de almofadas que ficava no centro da tenda.
— Mas o que diab...
Ele não pode completar a frase. Kallil havia colocado a ponta de sua espada no pescoço dele e fazia pressão.
— Eu ouvi o que você e aquele maldito ancião estavam falando. Eu quero a verdade!
— Você está louco moleque? – ele gritou, mas Kallil voltou a pressionar a espada contra seu pescoço deixando que um fio de sangue corresse por ele.
— A verdade ou eu não vou ter problemas nem um em manchar as areias com seu sangue imundo.
— Eu sabia que isso ia acontecer – ele rosnou olhando com nojo para o outro – Deveria ter deixado você morrendo no deserto, mas minha mulher estava inconsolável com a perda do nosso filho e eu precisava de um bebê!
— Você me roubou para dar a sua esposa?
— Não era nada planejado moleque. Durante muito tempo fui saqueador de tolos que andavam pelas estradas do deserto procurando fazer fortuna. Consegui muito e com todo o ouro e jóias juntei meu próprio povo e virei sheik! Mas roubar era um bom negócio e continuei a manter um grupo para isso e por vezes eu ia com eles. Um dia não suportei mais o choro da minha esposa que tinha perdido a criança que esperava e parti para um saque perto das terras do clã das Rosas. Sabia que esse povo era mágico e perigoso, mas se pegos desprevenidos sempre tinham bastante ouro em seus alforjes. Topamos com um macho e um duo com seus dois filhos, um de quatro anos e um bebê. Percebi que podia conseguir duas coisas, dinheiro e uma criança para acalmar a minha mulher. Matamos os dois adultos com flechas, roubamos o ouro e peguei você e outra criança deixei para morrer no deserto – olhou com desdém para o outro – Não era isso que queria saber? Você não é nada meu graças a Deusa!
Kallil deu um soco na cabeça dele com o punho da espada e ele caiu de lado desmaiado.
— Graças a Deusa digo eu.
Ele não era filho daquele monstro e tinha certeza que Paul era seu irmão. Ele não sabia como e nem por que os caminhos do destino tinham operado para eles se reencontrarem, mas ele não ia deixar nada acontecer com ele.
Pegou a mochila que tinha preparado onde colocara jóias e ouro junto com roupas e comida e saiu da tenda. Lá fora ouvia-se as vozes dos bêbados e os guardas dormiam graças ao sonífero que ele colocara na água.
Correu para a tenda onde estava Paul. O rapaz estava cochilando mesmo todo amarrado. Kallil entrou rapidamente e cortou as cordas assustando Paul que sentou e viu Kallil na obscuridade.
— Shiiii! – Kallil colocou o dedo nos lábios – Venha comigo.
Paul estava assustado, mas aquela podia ser a única chance de escapar e procurar Gabe.
Saíram da barraca para uma noite de lua crescente. Kallil o levou para um local onde haviam dois cavalos presos a uma pedra. Ficava atrás de um pequeno morro de rochas e não se podia ver do acampamento.
— Por que está me ajudando? – Paul não sabia se devia confiar naquele rapaz mesmo que fosse tão parecido consigo.
— Olha precisamos ir embora antes que alguém de por si. Se eu quisesse ti fazer mal te deixaria para ser vendido para Faisal.
A contra gosto Paul assentiu e subiu no cavalo.
— Fique perto de mim. Você não conhece o deserto e se perder é morte certa.
— Pra onde vamos? – Paul virou o cavalo para acompanhar o outro.
— Para o sul. Aquela é a região das tribos Calen e meu... o sheik não vai nos procurar lá.
Saíram cavalgando pela noite escura e muito fria. Paul não havia percebido isso até aquele momento. Era estranho um lugar ser tão quente de dia e frio à noite. Olhou para o céu vendo uma miríade de estrelas e o brilho leitoso da Via Láctea. Cheiros estranhos chegavam até ele com o vento seco do deserto.
Kallil andou de forma decidida como se conhecesse bem a estrada mesmo no escuro.
Paul estava cansado, mas seu coração doía ao pensar em seus filhos e em Mat. Queria tanto que ele estivesse ali para que o abraçasse e disse que tudo ia ficar bem, mas ele sentia que muita coisa podia acontecer antes de realmente ficar bem.
Mat olhava para o fogo do acampamento pensando no que acontecera naqueles dias. Gabe e Paul levados por um dgim e Sara desaparecida. Seus irmão haviam dito que ela fora para o norte, para os dragões.
Como uma menina cega havia conseguido sair do castelo e roubar um cavalo sem ser vista? Como ela podia sobreviver na estrada?
Sara era uma menina incrível, mas a estrada tinha muitos perigos que buracos ou curvas.
Para ele fora uma decisão dolorosa deixar de lado a busca de Paul e Gabe para encabeçar um grupo de busca pela menina.
Agora sabia que Sara estava com Mimir, era a única amazona que ele já vira por perto e as pessoas ao longo da estrada diziam que viam uma menina loira com uma linda mulher negra de porte altivo indo rumo às terras do norte.
Ele imaginava que a amazona tinha mais juízo. Deveria ter levado Sara para o castelo e não ter embarcado na loucura da menina.
Ele consultara sábios que haviam dito que os espíritos dos ventos se reunião nas praias e era o lugar onde ele deveria estar se não tivesse atrás daquele menina teimosa.
Capela estava ali perto com o semblante cansado. Mat sabia que ele não amava o elfo, mas estava ligado a ele de um modo muito estranho. Algo acontecera a Maleah e Capela podia dizer isso pelas dores que sentia no corpo e pela tristeza que o consumia.
O tenente havia se recusado a ir para o oceano dizendo que acreditava em Sara e que ele estava indo para o lugar certo.
Mathew não sabia mais em quem confiar em qual caminho seguir. A verdade era que, desde que pegara aquela estrada, algo dizia que estava indo para o caminho certo.
Um cheiro azedo pairou no ar um segundo. Os cavalos ficaram levemente inquietos e Mat pulou do lugar onde estava, mas seu grito de alerta morreu em sua garganta. Uma dolorosa escuridão desceu sobre ele.
Phillip arregalou os olhos para o mensageiro que trazia a mensagem que seu irmão Dylan estava chegando ao reino em poucos minutos.
— Dylan em uma visita de surpresa? – Gwen estava com Killian sentada no sofá perto da lareira.
Seu filho brincava de morder um pequeno ursinho de pelúcia e ria deliciado.
— Ótima hora para ele ser sociável – resmungou Phil sentando junto com a esposa e tocando com delicadeza no rosto do filho que segurou seu dedo com força.
— Acho que devemos ser gratos. Ele pode nos ajudar de alguma forma com toda essa confusão.
— Tia Gwen! – uma manhoso Shon apareceu no alto da escada com cara de choro.
— Shon o que aconteceu? – perguntou a princesa preocupada.
— Tô com saudades da mamãe! Quando ele volta?
— Vem cá – ela deu o filho para Phil segurar e pegou Shon no colo apertando seu corpinho frio olhando preocupada para as olheiras do menino – Sua mãe vai voltar logo. Mat foi buscar Paul, o Gabe e a Sara. Tenho certeza que logo vão estar todos juntos e indo para casa!
— Estou com medo – ele deitou a cabeça nos seios de Gwen – E se eles não voltarem mais?
— Acredite em Mat – disse o príncipe – Ele nunca vai desistir de achar sua mãe.
Nesse momento uma guarda entrou e fez uma reverencia.
— Meu príncipe o Grande Rei está chegando no pátio.
— Que tal conhecer o meu irmão? – perguntou Phillip para Shon – Ele está chegando para uma visita.
O menino balançou a cabeça e desceu do colo de Gwendelyn que pegou o filho e os três foram para a porta onde um vento gelado soprava.
As tochas do pátio estava acessas iluminando uma grande tropa que cerca a bela carruagem real dos McGives toda azul e dourada. A carruagem parou perto das escadas que dava para a porta principal do castelo.
Dylan saiu e ajudou a esposa a descer. Ela deu um gritinho e correu para abraçar Phillip.
— Saudades Phil!
— Também estava cunhada – ele riu da atitude expansiva da moça.
Mirian olhou para Gwen que estava com um grande sorriso no rosto e carregando o filho.
— Gwen que coisinha mais linda!
— Será que você não pode se conter Mirian? – resmungou Dylan atrás dela.
— Eu continuo não falando com você Dylan – ela disse em alto o bom som deixando o rei vermelho de raiva.
— Tudo bem irmão? – Phil sorriu abraçando seu irmão mais velho que lhe devolveu o aperto.
— Coisas de mulher – resmungou ele, mas Mirian fez que não o ouviu, ela olhava para Shon que estava encostado nas pernas de Gwen.
— Ola gracinha – disse ele sorrindo a agachando perto dele.
— Mirian, Dylan – Phil colocou a mão no ombro do menino – Esse é Shon filho de um amigo nosso.
Dylan olhou para o garotinho e sentiu o coração falhar uma batida. Ali a sua frente estava à cópia mais nova daquele garoto do sacrifício na noite das fogueiras, o rapaz oferecido ao rei servo para o ritual pagão. Mas o menino diante dele tinha olhos de outra cor, eram azuis, azuis como o seu.
Capitulo Tres - Castigos ao Anoitecer
Capitulo Três – Castigos ao Anoitecer
Assim que a nave pousou começamos a descer junto com boa parte dos oficiais. Estávamos perto dos prédios da alfândega e um fluxo constante de pessoas ia e vinha por ela. Reconheci alguns humanos exteriores com seu uniforme azul e alguns seres altos e magros que eu não tinha ideia de que povo era. Sabia que os aurifenses eram um povo um tanto xenofóbicos e isso parecia se mostrar nos poucos seres que transitavam na alfândega desse mundo.
Entramos por uma porta lateral sem precisar passar pela revista dos oficiais, a família real tinha seus privilégios. Atravessamos corredores cheios de militares e pessoas trabalhando que paravam para se inclinar para Tiol e Abrahn que sempre respondiam com educação.
Saímos para um estacionamento onde um carro nos esperava. Era realmente um carro como eu já vira nos museus. Com quatro rodas, preto e um pouco mais comprido que os outros, era uma limousine se não me enganava o nome.
Fiquei atrás de Tiol com medo de fazer alguma coisa errada, mas Abrahn me empurrou para entrar no veículo e o filho resmungou.
— Pai ele deve ir com a carga!
— Ele vai com a gente Tiol! – Abrahn parecia ter ficado contrariado com aquilo – O menino é um ser vivo e não um brinquedo que você pode montar e remontar. Se o quebrar ele morre! Espero que você se lembre disso.
O príncipe fez um bico e me olhou como se eu fosse o culpado de ter levado um puxão de orelha do pai.
Bem feito! Meu olhar dizia para ele.
Você me paga! Dizia seu olhar para mim.
O carro dentro eram grande e espaçoso. Com bancos de couro, painéis revestindo as laterais imitando madeira, uma TV pequena e um bar. Abrahn abriu uma garrafa de um liquido âmbar e começou a beber.
— Pai – Tiol tentou tirar a garrafa, mas o outro o olhou quase com raiva.
— Fique quieto Tiol! Eu preciso de uma bebida para enfrentar o seu pai.
Então era como eu tinha imaginado o gentil Abrahn não gostava do imperador e a dor que eu via naqueles olhos dizia muito. Tiol sentou e ficou olhando o outro beber com sofreguidão garrafa atrás de garrafa. Eu gostava de Abrahn e doía ver aquilo. Virei o meu rosto para as ruas onde o carro passava, vendo a grande cidade movimenta.
As pessoas se vestiam de modo estranho. Os homens pareciam gostar muito de botas de cano alto, camisas e coletes, chapéus e muitos portavam espadas. As mulheres vestiam longos vestidos que iam até o tornozelo e usavam chapéus enfeitados com plumas. Suas roupas eram muito coloridas me deixando tonto. No meu mundo se via muito o preto, branco e cinza, fora isso o resto era considerado fútil e humanos interiores não eram fúteis.
Os prédios de vários andares tinham fachadas de vidro fumê refletindo o transito que passava.
As lojas tinham produtos à mostra nas vitrines decoradas com flores ou papel colorido. Aquelas pessoas pareciam adorar uma cor!
Saíram da cidade indo por uma estrada que cortava uma mata de alamos, ou pareciam os alamos que eu conhecia das fotos da Terra. Tudo tinha cheiro de mato e ervas e inspirei fundo sentindo o odor me deliciando, nunca fora ao campo.
Meus pais moravam na cidade e eu vivia lá arranjando as minhas confusões com brigas e drogas ilegais.
Talvez eu merecesse isso. Ser mau leva ao mau, dizia um provérbio antigo. Eu estava sendo castigado por Deus em mesmo não querendo acreditar Nele pensei que se, talvez se, Ele existisse ele podia me dar uma segunda chance.
Chance para que? Algo perguntou dentro de mim. O que você quer? Nunca quis nada a não ser se meter em problemas e tentar que seus pais o vissem!
Cansado deitei o rosto no vidro do carro. Eu não sabia o que pensar e aquilo era pior que as torturas sexuais de Tiol. Estava me dando conta que era uma casca vazia e agora era propriedade daquele príncipe mimado.
Chegamos a uma vila de casas em estilo vitoriano, de tijolos a vista e muitos jardins. As calçadas de pedra tinham vasos floridos e bandeiras de todas as cores tremulavam no alto das casas. Subimos uma colina e eu vi o castelo. Imponente em meio as suas torres, muros de pedra escura, mas o castelo era feito de uma pedra branca e rosa que brilhava a luz do sol.
Entramos em um pátio e viramos à esquerda parando perto da entrada principal. Dali podia-se ver o jardim cheio de flores exóticas e arbustos coloridos.
A porta principal eram dupla de madeira esculpida no formato de uma constelação de cinco estrelas como os braços de uma cruz. Serviçais estavam perfilados na escada para receber Tiol e Abrahn, que mesmo depois de beber tanto, estava olhando tudo de forma indiferente.
O carro parou e Tiol me empurrou para fora deste. Para a minha vergonha tropecei e quase cai, mas consegui me firmar.
Tiol e Abrahn cumprimentaram os outros educadamente e ouvi o príncipe falar a um senhor velho:
— Kritus aquele é meu escravo. Ache o que fazer com ele enquanto eu não o convoco, só não quero que o jogue nos estábulos. Não quero ninguém fedendo a estrume para foder.
Meu Deus! Eu nunca ficara com tanta vergonha na minha vida e a minha vontade era avançar no pescoço daquele idiota e o sufocar lentamente, mas em vez disso, fui empurrado por Kritus para o outro lado da casa.
— Ainda mais essa – resmungava ele – Cuidar da puta do príncipe.
— Eu não sou puta de ninguém! – me virei para ele, mas levei um forte tapa no rosto.
— Cale a boca! Escravos do sexo não falam a menos que seja ordenado! Você é o menos entre nós e se não se comportar sua vida vai ser muito ruim.
— Você é algum tipo de cachorrinho da família real? – perguntei com desdém.
— Eu sou mordomo seu lixo e sou livre. Você vai ficar aqui sendo fodido por Tiol e todos os amigos dele até que ele se canse de você e o jogue na sarjeta onde vai ter que mendigar para comer. Agora cale a boca ou eu vou pegar um bastão de choque e fazer você me obedecer!
Velho maldito! Jurei que ele ia me pagar por aquilo!
Demos a volta no castelo e entramos por uma pequena porta lateral que dava para uma cozinha movimentada. Mulheres e homens iam e vinham preparando refeições em fogões de lenha enormes. A cozinha tinha maquinas modernas, mas também um jeito estranho de idade média que me senti transportado no tempo.
— Iran! – gritou Kritus para uma mulher gorda com o rosto marcado por verrugas. Seus olhos negros eram mortiços e percebi que não ia gostar dela também – Ponha essa merda para trabalhar, é o novo brinquedo o mestre Tiol.
Iran me olhou com nojo e raiva.
— Comece a lavar os pratos garoto e quem sabe consegue algo para comer no final do dia – ela apontou para uma pia coberta de louças sujas e eu quis gritar de raiva, mas não ia adiantar nada.
A cozinha nunca parava e o serviço também. Durante dez horas fiquei em pé, em comer nada lavando tudo que era jogado na pia. O detergente havia causado algum tipo de alergia e minhas mãos deixando-as feridas e ardendo. Minhas pernas doíam tanto que eu tinha vontade de me deixar cair ali mesmo.
Por um momento Iran saiu de cena e uma velha de olhar cansado veio até mim com um prato de comida.
— Como logo antes que ela volte!
Engoli pedaço de pão com carne rapidamente. Minutos depois Iran voltou com o rosto vermelho.
— Chega moleque! – ela me gritou – O mestre Tiol quer vê-lo.
Ela me empurrou e eu já estava ficando cheio dessa atitude de todo mundo me empurrando. Com as pernas cansadas, me arrastei atrás da mulher por corredores de pedras e chão acarpetado, descendo sempre até uma porta de aço entre aberta de onde vinha a conversa animada.
— Meu senhor ele está aqui – murmurou Iran com o rosto vermelho olhando pela porta.
— Obrigado Iran! – gritou Tiol lá de dentro e ouvi um coro de risadas.
— Entre – resmungou ela co os olhos faiscando.
Sem ter escolha entrei em uma sala grande, toda de pedra e sem janelas. As paredes eram cobertas de correntes e algemas. Haviam cavaletes estranhos por todo o lado e outros objetos que eu não sabia o que era. No centro da sala, em um tablado elevado, havia um homem amarrado a um tronco recebendo chicotadas de outro. O homem amarrado estava nu e se contorcia, não sabia se de dor ou prazer, cada vez que o chicote encontrava a sua carne. O outro era um homem grande de mascara vestindo uma estranha roupa que não passava de tiras de couro em volta de seu corpo. O pênis estava ereto e balançava a cada jogo de corpo do outro.
Os resto da sala era composto por poltronas espalhadas aqui e ali, com mesinhas cheias de bebidas e muitos homens, alguns mesmo transando em meio aos outros que assistiam ao flagelo e batiam palmas.
— Esse é seu novo brinquedo? – perguntou um rapaz magro com os cabelos prateados cortados curtos.
— Exatamente Turon – Tiol estava relaxado olhando para mim – Gosta dele?
— Posso dar uma experimentada? – Turon lambeu os beiços e eu vi que a noite ia ser longa.
— Fique a vontade – Tiol fez pouco caso voltando a beber e olhar os outros prostitutos tendo relações sexuais pela sala.
Turon andou a minha volta e eu tinha vontade de socar a sua cara magra, mas com tanta gente em volta achei que isso ia ser uma idiotice.
— Mestre dos jogos! – Turon gritou e o homem que flagelava o outro o olhou – Um novo recruta! Quero ele pronto para mim.
O homem inclinou a cabeça e desceu do estrado indo em minha direção. Dei um passo para trás, mas o cara era forte e me segurou. Seus músculos sobressaiam em meio às tiras de couro e seus olhos tinham um brilho enlouquecido. Senti que um arrepio descia a minha espinha.
Ele me arrastou para o estrado e eu fui ficando vermelho de vergonha.
— Tire a roupa ou vou rasgá-la, decisão sua – disse o mestre dos jogos com uma voz rouca e estranha.
— Não – rosnei para ele e o maldito pareceu gostar disso.
Ele me pegou pelos cabelos e puxou para perto de uma das paredes me prendendo nas algemas e de costas para todos. Risadas encham o ambiente junto com gemidos de gozo. Senti algo gelado em minhas costas e de repente percebi que as minhas roupas estavam sendo cortadas por uma faca.
— Maldito idiota – gritei cheio de raiva apenas para ouvi-lo rir.
Com destreza ele retirou as minhas roupas e deu algumas palmadas bem dolorosas em minha bunda. Xinguei ele, mas nada abalava o cara.
— Meu senhor do a ele a flor de Liz? – perguntou o mestre dos jogos para Turon que riu.
— De a ele algo mais forte meu caro. Temos bastante gente aqui que vai adorar foder essa bunda.
— Claro meu senhor. Darei a ele o elixir.
Eu não sabia do que eles estavam falando até que senti a minha bunda ser aberta e algo começar a entrar lá. Tentei me afastar, mas as algemas eram curtas e eu não podia me mexer muito.
Fosse lá o que fosse estava entrando muito dentro de mim. Era fino, flexível e gelado e só percebi que era um tipo de cateter quando um liquido foi esguichado dentro de mim. Era gelado, mas começou a esquentar na hora.
Deus o que era aquilo? De repente parecia que havia fogo correndo dentro das minhas veias e meu pau levantou tão rápido que eu nem percebi. Em segundo ejaculava sujando a parede, mas isso não diminuiu a minha ereção nem mesmo o meu calor.
— Restrições mestre! – vozes gritaram e eu fui retirado das algemas e colocado em um dos cavaletes.
Minhas pernas foram presas e minhas mãos algemadas neste de modo que a minha bunda ficasse empinada para cima. Haviam correias para prender o pênis e os testículos de forma dolorosa. Um alargador foi colocado em mim abrindo a minha entra e esguichando lubrificante.
Eu sentia uma necessidade tão grande de me livrar do calor que comecei a gritar. Meu falo amarrado impedia que eu ejaculasse.
Uma venda foi colocada sobre os meus olhos e algo em meus ouvidos. Fiquei apavora ao ser privado dos sentidos, quase entrei em pânico, mas o que aconteceu em seguida varreu tudo da minha cabeça.
O alargador foi arrancado de mim com brutalidade e foi penetrado por um longo pau que m estocou sem piedade até ejacular dentro de mim. Depois dele vieram outros, tantos que eu perdi a conta. Podia sentir o sêmen escorrendo por minhas pernas até o chão. Minhas pernas e braços estavam dormentes e meu pênis doía de um modo insano.
De repente fui liberado e cai no chão. Um monte confuso de braços e pernas, ainda com uma ereção que eu achava que nunca ia passar.
Fui levado para o tronco e flagelado sem piedade. Ejaculei no troco, mas nem mesmo isso me satisfez. Que tipo de afrodisíaco era aquele?
A venda e os tampões foram tirados dos meus ouvidos e eu percebi que era Tiol ali, gloriosamente nu com seu pau levantado e duro.
— Você está coberto de sêmen belo. Cheirando a sexo por todo o lado e com uma linda ereção.
— Faça isso parar – resmunguei com a garganta machucada de tanto gritar.
— Ainda não.
Foi a sua vez de me penetrar. As pessoas na sala davam vivas e isso parecia deixar Tiol ainda com mais tesão. Suas estocadas eram tão fortes que ele me levantava do chão, apertava a minha área de prazer. Ejaculai três vezes antes que o sêmen quente de Tiol escorresse por minas pernas. Fiquei pendurado nas algemas sem forças até para pensar.
— Quem sabe assim você descobre quem é seu mestre – murmurou ele no meu ouvido.
Fui tirado das algemas e fiquei jogado ali no chão na sala onde as pessoas começavam a ir embora. O mestre dos jogos veio até mim e enfiou algo novamente em meu buraco, o mesmo cateter e eu pensei que se fosse mais afrodisíaco eu não ia suportar. Mas o liquido quente fez com que me desejo desaparecesse rapidamente deixando com que eu sentisse as dores que vinha do meu anus arrebentado por ter sido fodido por tantas vezes.
O mestre dos jogos me jogou em cima de um ombro e começou a me carregar. Antes de desmaiar pude ouvir suas voz satisfeita.
— Foi uma bela noite, da próxima vez será dentro da jaula.
quinta-feira, 10 de maio de 2012
AS Terras de Avalon
Parte Um
Olhou para os jardins da casa da sua avó com um misto de tristeza e saudade. Ela havia morrido há apenas três dias, mas pareciam anos.
— O que você acha? – perguntou um senhor gordo que vivia enxugando o rosto com um lenço engordurado.
— A casa esta um pouco deteriorada, mas acredito que podemos ter um bom preço pelas terras – responde o outro, um sujeito magro e todo ossos com rosto queimado pelo sol.
— Isso é ótimo – responde tio Alceu.
A vontade de pular no tio e esganá-lo era enorme, mas antes que se metesse em mais problemas desceu da varanda e foi em direção ao pomar que terminava em uma pequena mata.
Sempre gostara de andar por aquelas matas e não pensar em nada.
Sentou no chão coberto de folhas e ficou pensando no que acontecera naqueles dias.
Sua avó havia dito que um dia seu pai havia aparecido com um bebê no sitio pedindo para ela cuidar dele, pois ele não podia e se foi. Ele nuca mais saberá do pai e não fazia esforço nem um para pensar nele. Sua avó era sua família e estava feliz com ela, até um mês atrás quando a sua avó foi diagnosticada com câncer do sistema linfático. Fora muito rápido e sua morte fora durante a noite, dormindo serenamente.
Ele não estivera do lado dela como queria tanto, era menor de idade e não podia ser acompanhante. Tia Ana havia ficado de muita má vontade e quando eu vira meu tio Alceu estava dando a noticia da sua morte com uma cara de falsa tristeza que tive vontade de socar.
Era como se arrancasse uma parte dele naquele momento e agora outra parte se ia, pois iam vender o sitio e era obrigado a viver com aqueles dois, tia Ana e tio Alceu.
Levantou contrariado chutando as folhas e com vontade de gritar até que a sua garganta rachasse. Sentiu os olhos arderem, mas eu me recusava a chorar, recusava a ser um fraco.
Voltou a andar pela mata observando os raios do sol filtrado por entre as folhas, parecendo rios de luz que chegavam a terra. O ar tinha cheiro de umidade e folhas decompostas, mas não era de todo ruim. O som dos pássaros gritando nos altos galhos se misturava com o rumorejar do riacho que cortava a mata.
Colocou as mãos nos bolsos do jeans velho e inclinou o rosto sentindo um raio de sol acariciar a sua face, aquecendo-a. sem que ele pudesse se contar uma lágrima correu por seu rosto e ele a enxugou com um gesto irritado.
Olhou para dois velhos pés de pinheiro que haviam nascido ali, lado a lado, como umbrais de uma porta. Quando era criança sua avó costumava dizer que ali era a porta para outro mundo, um lugar espetacular cheio de fadas e elfos. Se ele não quisesse ir e sumir deveria bater no pinheiro de direita três vezes. Havia feito isso por dezessete anos e se tornara um costume do qual ele não conseguia parar.
Ali parado ele olhou raivoso para os dois pinheiros.
— Se isso fosse realmente verdade a coisa que eu mais queria era desaparecer desse mundo e nunca mais ouvir falar dele.
Chutando as pinhas espalhadas pelo chão passou pelos pinheiros sem bater no da direita e respirou fundo ao chegar do outro lado com uma mistura de raiva, decepção e alivio.
Resolveu voltar para o sitio antes que seu tio resolvesse ir atrás dele e não estava afim de ouvir mais nada da boca daquele idiota.
Tropeçou em algumas pedras e caiu no chão soltando uma praga e seg rando a canela que havia batido.
De repente o ar se encheu de pequenos sons que lembravam sinos de cristal tocando. Pasmo olhou para um galho logo acima dele e pensou que ia ter um enfaro.
Pousado no galho havia pelo menos uma dúzia de estranhos seres. Não deveriam ter mais que trinta centímetros de altura, o corpo magro e diáfano que parecia tremeluzir no ar. As asas que lembravam folhas de videiras transparente e de cor azul balançavam na brisa. Elas se vestiam com pedaços de tecido amarrados com cipós. Os cabelos loiros brilhavam e seu riso era a coisa mais linda que ele já tinha ouvido.
Os estranhos seres levantaram vôo ainda rindo e dizendo em uma voz fina:
— Humano desastrado!
Ele achou que estava sonhando ou ficando louco. Levantou do chão e saiu correndo mesmo com a perna doendo não querendo pensar no que havia acabado de ver.
Depois de quinze minutos ele percebeu que a mata estava raleando e que deveria estar chegando perto da casa do sitio, qual não foi sua surpresa ao sair do meio das arvores e dar de topo com uma paisagem insólita.
A mata terminava em uma campo coberto de flores que lembravam margaridas e tulipas de todas as cores possíveis, mesmo do azul cobalto ao preto. O campo se estendia até outra mata que ia até o pé de uma montanha alta e cinzenta com o pico coberto de algo branco que ele imaginou ser neve. A montanha não estava só, atrás dela havia uma imensa cordilheira que se perdia a distancia.
Ele começou a andar para trás e correu de volta a mata.
— Isso não é verdade – ele falava consigo mesmo – Isso não pode estar acontecendo!
Com o coração aos pulos voltou para os dois pinheiros e gritou:
— Quero voltar para casa!
Correu por eles e pediu para tivesse dado certo quando ouviu uma voz atrás dele.
— A porta é só de um sentido, humano.
Ele deu um pulo olhando para uma moça alta e de pele muito branca olhando com incríveis olhos prateados. Seus cabelos negros e longos iam até os joelhos e ela vestia um vestido branco com algumas manchas de barro. Nas mãos longas e de dedos finos carregava algumas plantas.
— Que... quem... – ele não conseguia para de gaguejar.
— Meu nome é Daila Isne, e eu moro nesta mata.
— O que é você? – ele finalmente gritou fazendo ela dar um suspiro raivoso e cruzou os braços fazendo mais terra cair no seu vestido.
— Sou uma guardiã da floresta.
— Tipo um espírito? – sua voz estava esganiçada.
— Tipo uma maga que é paga pelo reino para cuidar que aqui não vire lar de bandidos.
— Reino? Maga?
— Você tem algum problema, garoto? Normalmente os humanos que aqui chegam não ficam tão... bobos.
— E o que você espera? – ele gritou quase histérico – De repente eu estou na mata da minha casa e quando vejo estou em meio a Terra do Nunca!
— Eu não sei onde fica essa terra estranha, mas aqui é o reino de Avalon.
— Avalon! O mesmo do rei Arthur e da Morgana?
— Não sei quem são esses.
— Como eu vim parar aqui?
— Ora, você quis! Ninguém atravessa a estrada entre os mundos se assim não quiser. Tem que querer com uma força muito forte para conseguir com que a porta se abra.
— Você disse que a porta só tem um sentido?
— Esta porta só pode ser usada por quem queira chegar a Avalon, mas existe um caminho de volta. No reino da Bretanha, nas matas dos celtas.
— Como eu chego lá?
— Pra que? Você não teve tanto trabalho para chegar aqui e agora quer ir embora?
— Olha eu não sabia que isso ia acontecer, eu nunca acreditei que o portal pudesse ser real!
— A Bretanha fica há três dias de viagem pelo mar Itos – ela o olhou atentamente.
— O que? – perguntou ele assustado com aquele olhar.
— Eu já não ti vi por ai?
— Eu nunca estive aqui.
— Você... – ela coçou o queixo – Tenho a impressão...
Ela balbuciava e ele se perguntou se não tinha ido parar em uma terra de doidos.
— Ora, você é a cara do rei consorte! – respondeu ela estalando os dedos.
Ele respirou fundo contrariado.
— É certo. Agora será que pode me dizer como eu chego a Bretanha?
— Será que você não entende garoto? – ela balançou as mãos, as ervas murchas indo de um lado para o outro – O rei Kaylin teve o filho levado por seu esposo o rei Alon há muitos anos. Na época havia uma grande guerra e Kaylin conseguiu retardar os exércitos inimigos por tempo suficiente para que Alon pegar um navio e ir para a Bretanha e nunca mais foi visto.
— Você acha que eu sou o tal filho do rei! – ele riu – Você esta realmente doida.
— Na estou não – ela voltou a cruzar os braços – Você é a cara do Rei Kaylin, mas tem os olhos do rei Alon.
— Da um tempo! Dois reis? E quem é a minha mãe senhora da sabedoria?
— Kaylin.
— Kaylin é ele ou ela.
— Ele é o rei consorte menino, é um procriador.
— Ele é um homem!
— E daí?
— Homens não engravidam sua louca!
— Louca! – ela bufou contrariada – Menino você aqui é o louco e desinformado! Um procriador tem os dois sexos. Normalmente eles têm uma aparência andrógena mais perto do lado masculino, mas podem ter filhos como uma mulher assim que atingem os dezessete anos e se tornam férteis e suas partes femininas ativas.
— Eu não sei em qual mundo de loucos eu entrei, eu só quero ir embora!
— Então venha até o reino e conheça o rei Kaylin.
— De jeito nem um!
— Covarde? – ela ergueu as sobrancelhas o olhando com desdém.
— Eu não sou covarde! – gritou ele colérico – Ninguém me chama de covarde sua... esquisita!
— Então vem comigo e ai eu não vou fazer mau juízo de você.
— Tenho uma condição.
— Condições são perigosas para ambos os lados – seus olhos prateados brilhavam – Todavia é um pagamento justo. Qual a condição?
— Quero que me ajude a chegar a Bretanha.
— Pois bem – ela ergueu a mão colocando a palma em cima do coração – Nosso destino é traçado, pelo caminho complicado seguiremos. A Bretanha chegaremos.
Sua mão foi envolta em uma luz azul, como uma centelha, que durou poucos segundos e depois sumiu.
— O que foi isso? – ele tinha dado um passo para trás.
— Uma promessa, e promessa de magos jamais podem ser quebradas. Estamos ligados – ela parecia feliz com isso.
— Você não precisava ter feito uma promessa assim.
— Certo, mas eu estou cansada de ficar aqui no meio do mato e se faço uma promessa de magos o meu chefe não pode deixar de me liberar.
— Você esta me usando?
— Exatamente.
Ele bufou contrariado.
— Se não tem jeito – ele estendeu a mão – Meu nome é Gael Medeiros.
— Certo Gael – ela riu – Vamos até a minha casa pegar um cavalo e ir até o reino.
Gael não sabia em que embrulhada tinha se metido, mas de uma coisa ele sabia, não podia ficar ali parado e esperando que algo acontecesse.
terça-feira, 8 de maio de 2012
Caminhos do Destino - Capitulo XXII
Capitulo XXII
Seu corpo doía de uma forma que o deixava com náuseas. Gabe se revirou se perguntando o que tinha acontecido para ele ficar assim. Sua mente estava confusa e sua cabeça doía quando ele tentava forçar a mente. Uma fungada perto dele o fez acordar e olhar de lado para um animal do tamanho de um cão labrador e de cor muito vermelha.
O menino olhava assombrado para o dragão que mexia a cabeça de um lado para o outro como se também estivesse com muito curioso com ele.
Quando Gabe se mexeu e sentou, o dragão se afastou rápido sem parar de olhá-lo.
O menino olhou em volta vendo que estava em uma caverna deitado em um amontoado de folhas secas e fofas. A caverna deveria ter mais de vinte metros de altura e havia outros amontoados de folhas por toda parte.
— Pensei que não ia acordar mais – Gabe deu um pulo ao perceber que o dragão estava falando e com ele.
— Você fala?!
— Falo sim. Eu nunca tinha visto um humano antes. Vocês são tão frágeis e sem asas. Não tem escamas e sua pele é branca.
— Onde eu estou?
— Nas terras de Kotem onde os dragões vivem.
— Eu não consigo entender como eu vim parar aqui!
— Um dgim o trouxe.
— Um o que?
— Um espírito dos ventes. Eles vivem por ai e são bastante problemáticos como Sanet fala. Fazem o que querem e quando querem. Ninguém controla um dgim.
— Por que ele me trouxe aqui?
— Isso eu não sei. Mas você é um mestre do ar, um dos poucos.
— Ola humano – um imenso dragão negro entrou na caverna andando nas quatro patas e com o corpo bamboleando.
— Sanet ele não sabe por que foi trazido pelo dgim nem mesmo o que era um dgim...
— Calma filhote – ele se aproximou do menino humano vendo tremer e se encolher no ninho onde o tinha colocado. O filhote humano estava com medo, mas também estava doente – Me diga o seu nome filhote.
— Gabe – ele murmurou com a voz sumida.
— Não precisa ter medo Gabe. Nós dragões respeitamos muitos os mestres do ar. Eles são abençoados pela deusa.
— Eu quero voltar para casa.
— Onde é a sua casa?
— Haven.
— Você está meio longe – disse o dragão vermelho – Estamos entre o as tribos e o reino de Gaulesh.
Gabe conhecia um pouco de mapas para saber o quão longe era aquilo. Seu corpo estava cansado e sua mente confusa demais para ele pensar em como voltar. Ele precisava deitar. Deixou sua cabeça cair no amontoado de folhas e dormiu imediatamente.
— Sanet o que está acontecendo com ele?
— Calma Tildo – o grande dragão empurrou um pouco das folhas com o focinho cobrindo o menino – Ele está doente por causa do dgim. Os espíritos dos ventos por muitas vezes drenam a energia dos seres para se alimentarem, deve ter sido isso que fizeram a ele.
— O que fazemos? – o pequeno dragão praticamente saltitava de preocupação.
— Bem pequeno eu não entendo nada de humanos e por isso preciso pedir ajuda. Conheço um elfo que pode vir até aqui. Vou até a Floresta Velha conversar com ele. Enquanto isso cuide dele Tildo e se precisar de algo fale com Krian, ela é a minha segunda em comando.
— Certo – o dragão vermelho deitou perto do humano e ficou olhando-o fixo.
Sanet riu da atitude dele e saiu da caverna e abriu as grandes asas voando rumo à fronteira onde ficavam os elfos da floresta.
Maleah acordou em meio a uma grande dor de cabeça. Gemendo revirou na cama e uma mão o impediu de se mexer.
— Tenha calma primo.
Isso pareceu ter acordado de vez o elfo que deu um pulo olhando para o rosto de Flyn que estava sentado do lado dele. Percebeu que estava em seu antigo quarto nas dependências do castelo elfo da Floresta Velha.
Era um quarto simples, com apenas uma cama, um baú e uma cadeira onde Flyn estava sentado. Seu pai nunca gosta muito de coisas rebuscadas e normalmente guardava para si a opulência.
— Flyn?!
— Como está se sentindo? – perguntou o primo com aquela gentileza que já lhe havia rendido criticas por parte dos outros elfos.
— Como?... – balançou a cabeça muito perdido – Estamos na Floresta Velha?
— Um dgim o trouxe. Eu vi enquanto patrulhava e o segui. Encontrei você caído na Velha Senhora e um pouco machucado. Dei uma curada nos seus ferimentos, mas os meus poderes não fazem muito efeito agora – olhou detidamente para o primo – Com quem você se casou Maleah?
O outro deu um longo suspiro. Sabia que isso ia acontecer, mas não imaginou que fosse tão difícil falar do que havia acontecido com ele para sua família. Agora que estava ligado a Capela os poderes de cura dos elfos não o atingiam como deveriam. O companheiro deveria estar por perto para que a cura se desse a contendo.
— Com um tenente humano.
— Maleah!
Ambos se viraram para a porta onde Raguel de Jaire observava sobrinho e filho com os olhos verdes cheios de raiva que ele tentava esconder com uma grande frieza. Atrás dele estava Arkan, seu irmão e pai de Flyn.
Arkan era desprezado por Raguel por ter se ligado a uma elfa dos bosques, diferentes dos elfos da Floresta Velha. Era um homem gentil, de riso fácil. Seus longos cabelos negros estavam presos em uma trança que caia sobre seu ombro e seus olhos verdes tinham um brilho muito raro de se ver nos elfos da Floresta.
— Saia Flyn – Raguel disse com a sua voz fria – Eu tenho que conversar com meu filho.
— Tio...
— Flyn! – seu pai o chamou sabendo que Raguel podia fazer qualquer coisa em seus estado atual.
O rapaz olhou para o primo, mas esse olhava o pai com a cabeça levantada. Ele foi até a porta e saiu com Arkan.
— Em suas viagens a sua educação se perdeu? – Raguel disse com sarcasmo olhando para o filho com desdém – Não presta o devido respeito ao seu pai?
Maleah rangeu os dentes, mas levantou da cama escondendo um gemido por causa das dores e se postou em um joelho na frente do pai.
— Quem é seu companheiro?
— Seu nome é Capela, tenente do principado de Haven.
— Um homem humano Maleah! – o rapaz continuava ajoelhado ouvindo o pai – Você é uma vergonha para a nossa raça.
— Pai...
— Cale a boca!! Você e Kamm são a desgraça da minha vida e a vergonha para o povo elfo! Maleah como castigo por isso está expulso das terras da Floresta Velha.
— Não! – o rapaz havia se levantado rapidamente e encarava o pai pela primeira vez na vida – Nem eu nem Capela fizemos nada de errado! Ele salvou a minha vida quando o laço terno foi criado!
O soco que Raguel deu no filho o jogou no chão com a boca sangrando.
— Você não é mais meu filho, você não é mais um elfo! – Raguel o olhou com os olhos com um estranho brilho – Seu castigo por macular a raça dos elfos é a expulsão, mas o seu castigo por gritar comigo é a maldição!
Seu pai estendeu a mão e antes que Maleah sequer pudesse pensar uma dor inacreditável correu por seu corpo e ele começou a gritar e se contorcer no chão.
Aparentemente satisfeito Raguel saiu do quarto para o corredor onde Arkan tentava segurar Flyn que queria entrar no quarto do primo ao ouvir os primeiros gritos deste.
— Arkan em doze horas a maldição da dor vai desaparecer e você pode levar esse traidor e jogá-lo nas areias do deserto de Altair.
— Como pode? – Flyn conseguiu se desvencilhar do pai – Ele é seu próprio filho e o senhor jogou nele a pior das maldições!
— Você pode ser meu sobrinho, mas se me falar assim mais uma vez será você a ser jogado nas areias do deserto – olhou Arkan – Fui claro?
— Sim meu rei – respondeu o outro com os dentes apertados de raiva e segurando o braço do filho quase a ponto de doer – Eu ouço e obedeço.
O rei deu um pequeno sorriso de escárnio e saiu pelo corredor onde ressoavam os gritos de Maleah.
— Pai! – Flyn olhava horrorizado para o outro.
De repente a máscara de subserviência de Arkan desapareceu e um olhar duro e determinado apareceu.
— Flyn – ele segurou os braços do filho – Vá até a nossa casa e pegue algumas coisas, o suficiente para sobrevivermos no deserto. Filho pegue algo que queira guardar, uma lembrança. Nós não voltaremos mais para cá.
O rapaz entendeu o que o outro falara e dando um abraço nele correu para fazer o que o outro tinha pedido.
Respirando fundo ele entrou no quarto onde Maleah já estava sem voz e sem forças. Seu corpo era vez por outra sacudido por tremores provocados pela maldição.
Raguel era um homem temido por seus poderes. Ele podia infringir dor em seus inimigos e seus poderes agiam por doze horas sobre as pessoas. Um elfo podia sobreviver, mas um ser humano não agüentaria mais que algumas horas, ele morria de choque.
Arkan com o coração doendo olhou para o menino que amava como a um filho e que seu irmão sempre tivera o prazer de torturar.
Maleah estava todo contorcido, da sua boca saia abundante saliva, o suor encharcava a sue corpo e ele havia urinado na roupa por causa da dor. Ele sabia que a mente do elfo estava se afastando do corpo dele para fosse preservada, mas isso era muito perigoso, ele podia nunca mais acordar.
Arkan colocou a mão na testa do sobrinho. Assim com Raguel podia dar dor às pessoas ele podia lhes alivio. Sabia que não ia conseguir acabar com toda a maldição, mas iria mitigar a dor para que pudesse fugir dali.
Maleah ofegou e olhou para o tio ajoelhado do lado dele passando a mão nos seus cabelos.
— T... tio... – sua voz estava tão rouca dos gritos que estava quase inaudível.
— Maleah eu vou tirar você daqui. Sei que ainda está sentindo dor, mas acredito que pode suportá-la por algum tempo.
O sobrinho assentiu agora chorando abertamente.
— Venha meu querido. Vamos ti limpar e sair daqui. Já mandei Flyn preparar tudo para partirmos para as terras humanas.
— Mas tio... ele vai descobrir! Vocês não podem...
— Maleah casa é onde está as pessoas que amamos. Se você e Flyn estiverem comigo nós podemos arranjar um lar onde quer que formos. Alem disso seu marido deve estar esperando você.
Maleah queria impedir seu tio de estragar a sua vida com ele, mas já não tinha forças. Ele ainda não podia acreditar que seu próprio pai havia feito aquilo com ele, jogado sobre ele a mais terrível das maldições e parecer feliz com isso. Será que Kamm estava certo? Seu pai não passava de um monstro?
Kalill ainda não acreditava como aquele estranho se parecia com ele. Ele parecia mais velho, mas tinham os mesmo cabelos castanho dourados com as pontas crespas, a pele muito branca, o formato fino e delicado do rosto, o corpo esguio e sem pelos o que provava que ele era um duo como ele.
Assim como ele, os soldados do oasis haviam visto o dgim e ido até onde ele correra para ajudar a vítima que estava desmaiada na areia.
Seu pai havia dado a ordem para colocá-lo em uma das tendas de prisioneiros e quando Kalill dissera indignado que ele não era um criminoso levara um soco do pai.
Depois disso ele se escondera na sua tenda e agora havia rastejado até a tenda do rapaz adormecido e amarrado.
Os guardas estavam comendo seu jantar e se empanturrando de vinho de tâmara, assim se tornavam descuidados e ele aproveitara essa distração para entrar na tenda para olhar novamente o duo.
De repente do lado da tenda ele ouviu seu pai e Aran, ancião da tribo falando baixo. Deu um pulo e pensou em ir embora quando escutou o que eles diziam.
— Ele é um duo – disse seu pai – Faisal vai adorar mais um para a venda. Não vejo a hora de me livrar desse problema.
— Até hoje eu não entendo o porquê de você ter criado Kalill como seu filho – resmungou o ancião – Deveria ter feito dele escravo.
— Ele não ia valer tanto, oras. Como filho de sheik o que posso pedir por ele é muito mais.
— Você notou o quanto são parecidos?
— Sim – seu pai parecia perturbado – Acha que aquele maldito dgim o trouxe aqui por isso?
— Acha que é o irmão mais velho dele? – perguntou o outro na dúvida.
Kalill tapou a boca para não ofegar com aquelas revelações.
— O menino deve ter morrido no deserto. Afinal ele deveria ter apenas uns quatro anos quando matamos os seus pais perto do clã das Rosas. A nossa sorte é que o menino ainda não apresentou a maldita magia ou seu símbolo ia aparecer e eu não ia conseguir vendê-lo para Faisal, sabe o quanto aquele idiota tem medo das Rosas.
— Acho que você está certo em querer se livrar de Kalill. A magia das Rosas é imprevisível. Ele pode apresentar ela logo.
— Mandei um recado para Faisal que ele deve levar Kalill amanhã e quem sabe esse outro. Levantaremos as tendas em três dias e vamos partir para o norte e deixar o idiota lidar com o problema quando aparecer.
Os dois riram.
— Vamos beber – disse seu pai se afastando – Amanhã teremos bastante dinheiro no bolso.
Kalill tremia. Não podia ser verdade o que ele ouvira. Ele não era filho do sheik? Ele era do clã das Rosas?
Conhecia pouco do povo que vivia nas montanhas a leste. Seu clã habitava um vale que ficava cercado por vastas montanhas por todos os lados e a única entrada era um portão de cinqüenta metros de altura e de ferro fundido. Mas já há vários anos ninguém mais tinha noticias do clã e corria o boato que seu povo já não existia mais e agora ele descobria que pertencia a eles.
Olhou para o desconhecido pensando nas palavras do seu pai sobre ele ter um irmão. Era loucura, mas a semelhança entre eles era tão grande que a desconfiança estava virando certeza.
Tocou no rosto do outro e quase gritou quando algo parecido com um ferro em brasa parecia tocar a sua testa do lado esquerdo. Gemendo apertou o local e olhou para o rapaz que havia acordado ofegante e gemendo.
Pasmo Kalill percebeu que do lado esquerdo da testa do outro havia formado uma tatuagem, uma pequena rosa entrelaçada em um ramo de espinhos. Tinha certeza que na própria testa dele havia surgido um símbolo igual.
— Onde? – rapaz ofegou e tentou levantar percebendo apavorado que estava amarrado.
— Shiii! – Kalill colocou o dedos nos lábios – Sei que está confuso, mas eu sou seu amigo e vou ti ajudar.
— Meu filho! Sabe do meu filho?
— Você chegou aqui sozinho. Meu nome é Kalill e você está no deserto de Altair. Um dgim, um espírito do vento o trouxe aqui.
— Eu preciso achar o meu filho – gemeu o outro.
— Olha eu não sei se posso ser ajuda em encontrar o seu filho, mas primeiro vamos escapar daqui e ai vamos procurá-lo eu prometo.
— Meu nome é Paul – murmurou o outro ainda aparentemente apavorado com a situação.
— Certo Paul. Está todo mundo bebendo e eu vou dar um jeito de colocar calmante na bebida dos soldados de vigia. Eu vou arranjar dois cavalos e partimos logo, eu venho ti buscar.
— Por que esta me ajudando?
— Por muitos motivos, mas vamos discutir eles quando estivermos longe daqui.
Kalill rastejou para fora d atenda com sua decisão tomada.
Mimir não podia deixar de admirar Sara. A menina podia ser cega, mas conseguia se localizar na estrada e no local onde estava.
Fora da vila, com os cheiros da natureza, ela podia seguir o caminho com facilidade.
Como adulta ela deveria ter levado a menina de volta, mas estava seguindo o seu instinto. Algo a empurrava para essa aventura rumo ao norte, rumo à terra dos dragões.
Ela conhecia os verdes que imigravam no inverno para a Amazônia atrás de frutas e passavam a habitar as florestas perto das cidades. Aceitavam bem as amazonas e eram até mesmo dóceis com elas. Mas ela não conhecia as outras espécies de dragões e alem do mais aquela região era o caminho para o reino dos elfos e o deserto de Altair.
— Mimir você acha que acharemos a minha mãe e o meu irmão? – a voz de Sara parecia chorosa.
— Acho que sim Sara. Pode ser uma jornada em noite de lua nova, mas depois de pensar um pouco eu acho que tem uma grande chance de ser verdade que o dgim iria para lá. As terras dos dragões são cheias de magia e o habitat de muitos espíritos elementares.
— Queria que Mat tivesse me escutado. Ele está indo para o litoral.
— Espero que ele saiba o que está fazendo. Os caminhos para o oceano é cheio de perigos, principalmente de traficantes de escravos para os portos e para serem exportados para o alem mar. O reino da Irlanda ainda é um dos poucos das terras antigas a ter escravos.
— Eu nunca ouvi falar desse reino.
— É uma ilha ao norte do continente antigo. Dizem que quem vive lá é um povo bárbaro e sanguinário. Eles costumam avançar para o oriente com medo de Roma. Muitos vêem até aqui a procura de escravos para contrabandear para o seu país. Sei que Roma tem uma força militar marítima a caça deles, mas é complicado proteger a imensa massa de terras do nosso continente e ainda o continente antigo. Gorlan não faz nada para ajudar e por muito tempo o Império cogitou em invadir aquele reino, mas ia ser uma matança inútil. Eles por fim deixaram os problemas para os reinos daqui.
— Nossa! Você é mesmo uma professora como disse!
— Eu dou aula de história nas universidades do meu país. Gosto de escrever livros sobre isso e ir de terra em terra aprendendo seus costumes e lendas.
— Deve ser uma vida incrível!
— Você gostaria de uma vida assim?
— Eu?! – Sara deu uma risada – Não Mimir. Eu não sonho com grandes aventuras, nunca quis isso. Ouvir histórias é legal, mas participar delas... – ela fez um bico – Nos livros os heróis caminham dias nos seus cavalos e depois pulam para a luta como se nada tivesse acontecido, mas eu to morrendo de dor na bunda, não gostei de dormir no chão e minhas pernas estão ficando assadas. Na vida real é dolorosa.
Mimir caiu na risada com aquilo.
— Então que tal se eu cantasse para você dar uma esquecida das suas dores? Sei algumas baladas que aprendi nas estradas.
— Eu ia adorar!
Mimir respirou fundo e olhou para a estrada que cortava as matas e começou:
— Amigo pela estrada eu vou
Sempre em frente, suave trotando, amigo eu vou.
Na estrada da floresta
Onde o sábia está
Eu vou chegando lá.
Amigo a estrada é longa
Estou cansada, mas em gente vou
Não sei o destino
Mas agora feliz estou
Meu amigo pela estrada eu vou
Suave trotando, sempre em frente estou
Vamos cantar
Os espíritos das árvores
Vou acalmar
E pela estrada em frente eu vou
Ela continuou a cantar e logo Sara havia aprendido a letra e começou a cantar com ela. A estrada agora parecia menos cansativa, mas não menos longa. Haviam muitos caminhos a serem percorridos antes de conseguirem chegar às terras dos dragões.
Arkan conhecia o castelo dos elfos como a palma de sua mão. Sabia de suas passagens secretas e usou uma delas para retirar Maleah que andava apoiado em seu ombro tentando não gritar de dor a cada movimento.
Elas saíram para a vila que ficava em uma imensa clareira da Floresta Velha. Antigamente eles moravam em casa no alto das árvores, lindas e elegantes, mas Raguel assinou um decreto que as casas deveriam ficar no chão e foram obrigados a construir suas casas de pedra e madeira. Eram casas pesadas sem a beleza de antigamente.
Os elfos estavam esfacelando diante do seu rei, mas boa parte da população não ligava para isso. Mostrar que estavam desgostosos era o mesmo que mostrar fraqueza e um elfo jamais poderia ser fraco. Aqueles que queriam um modo diferente de vida partiam para os prados onde os elfos verdes eram calorosos e amigos.
A casa de Arkan ficava perto do norte da vila, afastada das outras casas. Assim que chagou lá Maleah estava a ponto de desmaiar e Flyn o segurou antes que caísse.
— Está tudo pronto filho? – perguntou o outro ajudando o rapaz a sentar Maleah em uma poltrona.
— Está tudo pronto. Eu pedi ajuda aos unicórnio para nos movermos com mais rapidez.
— Você é amigo de todos os animais, não é? – seu pai deu um sorriso cálido para ele e olhou em volta.
Era estranho como não sentia nada em deixar a sua casa. Desde que sua esposa morrera ele já não sentia parte de mais nada. Talvez fosse hora mesmo de recomeçar.
— Vamos meninos – ele pegou o sobrinho no colo que estava semi desmaiado e rumou para a parte detrás da casa onde três grandes cavalos negros como a noite esperavam.
Na testa de cada um deles havia um grande chifre espiralado e pontiagudo. Feito de um material mais duro que osso, as pessoas procuravam evitar os selvagens cavalos. Eles não podiam serem domesticados e aceitavam a aproximação de muitos pouco seres, Flyn era um deles.
O maior de todos resfolegou e olhou detidamente para Arkan. Depois de alguns segundos ele baixou a cabeça e os outros o acompanharam.
— Obrigado amigo – disse Flyn fazendo uma reverencia educada – Nunca vamos esquecer esse favor.
O cavalo relinchou balançando a crina como se concordando.
Flyn havia prendido alguns sacos em suas ancas e, como não tinham selas, teriam que montar em pelo.
Arkan foi carregando Maleah a sua frente e Flyn foi com os outros cavalos em frente. Eles entraram pela mata evitando as estradas.
Por um momento Flyn olhou para trás com dor no coração, mas ao lembrar que estava junto de seu pai e seu primo seu coração se acalmou e ele não mais olhou para o que ficara atrás.
Seu corpo doía de uma forma que o deixava com náuseas. Gabe se revirou se perguntando o que tinha acontecido para ele ficar assim. Sua mente estava confusa e sua cabeça doía quando ele tentava forçar a mente. Uma fungada perto dele o fez acordar e olhar de lado para um animal do tamanho de um cão labrador e de cor muito vermelha.
O menino olhava assombrado para o dragão que mexia a cabeça de um lado para o outro como se também estivesse com muito curioso com ele.
Quando Gabe se mexeu e sentou, o dragão se afastou rápido sem parar de olhá-lo.
O menino olhou em volta vendo que estava em uma caverna deitado em um amontoado de folhas secas e fofas. A caverna deveria ter mais de vinte metros de altura e havia outros amontoados de folhas por toda parte.
— Pensei que não ia acordar mais – Gabe deu um pulo ao perceber que o dragão estava falando e com ele.
— Você fala?!
— Falo sim. Eu nunca tinha visto um humano antes. Vocês são tão frágeis e sem asas. Não tem escamas e sua pele é branca.
— Onde eu estou?
— Nas terras de Kotem onde os dragões vivem.
— Eu não consigo entender como eu vim parar aqui!
— Um dgim o trouxe.
— Um o que?
— Um espírito dos ventes. Eles vivem por ai e são bastante problemáticos como Sanet fala. Fazem o que querem e quando querem. Ninguém controla um dgim.
— Por que ele me trouxe aqui?
— Isso eu não sei. Mas você é um mestre do ar, um dos poucos.
— Ola humano – um imenso dragão negro entrou na caverna andando nas quatro patas e com o corpo bamboleando.
— Sanet ele não sabe por que foi trazido pelo dgim nem mesmo o que era um dgim...
— Calma filhote – ele se aproximou do menino humano vendo tremer e se encolher no ninho onde o tinha colocado. O filhote humano estava com medo, mas também estava doente – Me diga o seu nome filhote.
— Gabe – ele murmurou com a voz sumida.
— Não precisa ter medo Gabe. Nós dragões respeitamos muitos os mestres do ar. Eles são abençoados pela deusa.
— Eu quero voltar para casa.
— Onde é a sua casa?
— Haven.
— Você está meio longe – disse o dragão vermelho – Estamos entre o as tribos e o reino de Gaulesh.
Gabe conhecia um pouco de mapas para saber o quão longe era aquilo. Seu corpo estava cansado e sua mente confusa demais para ele pensar em como voltar. Ele precisava deitar. Deixou sua cabeça cair no amontoado de folhas e dormiu imediatamente.
— Sanet o que está acontecendo com ele?
— Calma Tildo – o grande dragão empurrou um pouco das folhas com o focinho cobrindo o menino – Ele está doente por causa do dgim. Os espíritos dos ventos por muitas vezes drenam a energia dos seres para se alimentarem, deve ter sido isso que fizeram a ele.
— O que fazemos? – o pequeno dragão praticamente saltitava de preocupação.
— Bem pequeno eu não entendo nada de humanos e por isso preciso pedir ajuda. Conheço um elfo que pode vir até aqui. Vou até a Floresta Velha conversar com ele. Enquanto isso cuide dele Tildo e se precisar de algo fale com Krian, ela é a minha segunda em comando.
— Certo – o dragão vermelho deitou perto do humano e ficou olhando-o fixo.
Sanet riu da atitude dele e saiu da caverna e abriu as grandes asas voando rumo à fronteira onde ficavam os elfos da floresta.
Maleah acordou em meio a uma grande dor de cabeça. Gemendo revirou na cama e uma mão o impediu de se mexer.
— Tenha calma primo.
Isso pareceu ter acordado de vez o elfo que deu um pulo olhando para o rosto de Flyn que estava sentado do lado dele. Percebeu que estava em seu antigo quarto nas dependências do castelo elfo da Floresta Velha.
Era um quarto simples, com apenas uma cama, um baú e uma cadeira onde Flyn estava sentado. Seu pai nunca gosta muito de coisas rebuscadas e normalmente guardava para si a opulência.
— Flyn?!
— Como está se sentindo? – perguntou o primo com aquela gentileza que já lhe havia rendido criticas por parte dos outros elfos.
— Como?... – balançou a cabeça muito perdido – Estamos na Floresta Velha?
— Um dgim o trouxe. Eu vi enquanto patrulhava e o segui. Encontrei você caído na Velha Senhora e um pouco machucado. Dei uma curada nos seus ferimentos, mas os meus poderes não fazem muito efeito agora – olhou detidamente para o primo – Com quem você se casou Maleah?
O outro deu um longo suspiro. Sabia que isso ia acontecer, mas não imaginou que fosse tão difícil falar do que havia acontecido com ele para sua família. Agora que estava ligado a Capela os poderes de cura dos elfos não o atingiam como deveriam. O companheiro deveria estar por perto para que a cura se desse a contendo.
— Com um tenente humano.
— Maleah!
Ambos se viraram para a porta onde Raguel de Jaire observava sobrinho e filho com os olhos verdes cheios de raiva que ele tentava esconder com uma grande frieza. Atrás dele estava Arkan, seu irmão e pai de Flyn.
Arkan era desprezado por Raguel por ter se ligado a uma elfa dos bosques, diferentes dos elfos da Floresta Velha. Era um homem gentil, de riso fácil. Seus longos cabelos negros estavam presos em uma trança que caia sobre seu ombro e seus olhos verdes tinham um brilho muito raro de se ver nos elfos da Floresta.
— Saia Flyn – Raguel disse com a sua voz fria – Eu tenho que conversar com meu filho.
— Tio...
— Flyn! – seu pai o chamou sabendo que Raguel podia fazer qualquer coisa em seus estado atual.
O rapaz olhou para o primo, mas esse olhava o pai com a cabeça levantada. Ele foi até a porta e saiu com Arkan.
— Em suas viagens a sua educação se perdeu? – Raguel disse com sarcasmo olhando para o filho com desdém – Não presta o devido respeito ao seu pai?
Maleah rangeu os dentes, mas levantou da cama escondendo um gemido por causa das dores e se postou em um joelho na frente do pai.
— Quem é seu companheiro?
— Seu nome é Capela, tenente do principado de Haven.
— Um homem humano Maleah! – o rapaz continuava ajoelhado ouvindo o pai – Você é uma vergonha para a nossa raça.
— Pai...
— Cale a boca!! Você e Kamm são a desgraça da minha vida e a vergonha para o povo elfo! Maleah como castigo por isso está expulso das terras da Floresta Velha.
— Não! – o rapaz havia se levantado rapidamente e encarava o pai pela primeira vez na vida – Nem eu nem Capela fizemos nada de errado! Ele salvou a minha vida quando o laço terno foi criado!
O soco que Raguel deu no filho o jogou no chão com a boca sangrando.
— Você não é mais meu filho, você não é mais um elfo! – Raguel o olhou com os olhos com um estranho brilho – Seu castigo por macular a raça dos elfos é a expulsão, mas o seu castigo por gritar comigo é a maldição!
Seu pai estendeu a mão e antes que Maleah sequer pudesse pensar uma dor inacreditável correu por seu corpo e ele começou a gritar e se contorcer no chão.
Aparentemente satisfeito Raguel saiu do quarto para o corredor onde Arkan tentava segurar Flyn que queria entrar no quarto do primo ao ouvir os primeiros gritos deste.
— Arkan em doze horas a maldição da dor vai desaparecer e você pode levar esse traidor e jogá-lo nas areias do deserto de Altair.
— Como pode? – Flyn conseguiu se desvencilhar do pai – Ele é seu próprio filho e o senhor jogou nele a pior das maldições!
— Você pode ser meu sobrinho, mas se me falar assim mais uma vez será você a ser jogado nas areias do deserto – olhou Arkan – Fui claro?
— Sim meu rei – respondeu o outro com os dentes apertados de raiva e segurando o braço do filho quase a ponto de doer – Eu ouço e obedeço.
O rei deu um pequeno sorriso de escárnio e saiu pelo corredor onde ressoavam os gritos de Maleah.
— Pai! – Flyn olhava horrorizado para o outro.
De repente a máscara de subserviência de Arkan desapareceu e um olhar duro e determinado apareceu.
— Flyn – ele segurou os braços do filho – Vá até a nossa casa e pegue algumas coisas, o suficiente para sobrevivermos no deserto. Filho pegue algo que queira guardar, uma lembrança. Nós não voltaremos mais para cá.
O rapaz entendeu o que o outro falara e dando um abraço nele correu para fazer o que o outro tinha pedido.
Respirando fundo ele entrou no quarto onde Maleah já estava sem voz e sem forças. Seu corpo era vez por outra sacudido por tremores provocados pela maldição.
Raguel era um homem temido por seus poderes. Ele podia infringir dor em seus inimigos e seus poderes agiam por doze horas sobre as pessoas. Um elfo podia sobreviver, mas um ser humano não agüentaria mais que algumas horas, ele morria de choque.
Arkan com o coração doendo olhou para o menino que amava como a um filho e que seu irmão sempre tivera o prazer de torturar.
Maleah estava todo contorcido, da sua boca saia abundante saliva, o suor encharcava a sue corpo e ele havia urinado na roupa por causa da dor. Ele sabia que a mente do elfo estava se afastando do corpo dele para fosse preservada, mas isso era muito perigoso, ele podia nunca mais acordar.
Arkan colocou a mão na testa do sobrinho. Assim com Raguel podia dar dor às pessoas ele podia lhes alivio. Sabia que não ia conseguir acabar com toda a maldição, mas iria mitigar a dor para que pudesse fugir dali.
Maleah ofegou e olhou para o tio ajoelhado do lado dele passando a mão nos seus cabelos.
— T... tio... – sua voz estava tão rouca dos gritos que estava quase inaudível.
— Maleah eu vou tirar você daqui. Sei que ainda está sentindo dor, mas acredito que pode suportá-la por algum tempo.
O sobrinho assentiu agora chorando abertamente.
— Venha meu querido. Vamos ti limpar e sair daqui. Já mandei Flyn preparar tudo para partirmos para as terras humanas.
— Mas tio... ele vai descobrir! Vocês não podem...
— Maleah casa é onde está as pessoas que amamos. Se você e Flyn estiverem comigo nós podemos arranjar um lar onde quer que formos. Alem disso seu marido deve estar esperando você.
Maleah queria impedir seu tio de estragar a sua vida com ele, mas já não tinha forças. Ele ainda não podia acreditar que seu próprio pai havia feito aquilo com ele, jogado sobre ele a mais terrível das maldições e parecer feliz com isso. Será que Kamm estava certo? Seu pai não passava de um monstro?
Kalill ainda não acreditava como aquele estranho se parecia com ele. Ele parecia mais velho, mas tinham os mesmo cabelos castanho dourados com as pontas crespas, a pele muito branca, o formato fino e delicado do rosto, o corpo esguio e sem pelos o que provava que ele era um duo como ele.
Assim como ele, os soldados do oasis haviam visto o dgim e ido até onde ele correra para ajudar a vítima que estava desmaiada na areia.
Seu pai havia dado a ordem para colocá-lo em uma das tendas de prisioneiros e quando Kalill dissera indignado que ele não era um criminoso levara um soco do pai.
Depois disso ele se escondera na sua tenda e agora havia rastejado até a tenda do rapaz adormecido e amarrado.
Os guardas estavam comendo seu jantar e se empanturrando de vinho de tâmara, assim se tornavam descuidados e ele aproveitara essa distração para entrar na tenda para olhar novamente o duo.
De repente do lado da tenda ele ouviu seu pai e Aran, ancião da tribo falando baixo. Deu um pulo e pensou em ir embora quando escutou o que eles diziam.
— Ele é um duo – disse seu pai – Faisal vai adorar mais um para a venda. Não vejo a hora de me livrar desse problema.
— Até hoje eu não entendo o porquê de você ter criado Kalill como seu filho – resmungou o ancião – Deveria ter feito dele escravo.
— Ele não ia valer tanto, oras. Como filho de sheik o que posso pedir por ele é muito mais.
— Você notou o quanto são parecidos?
— Sim – seu pai parecia perturbado – Acha que aquele maldito dgim o trouxe aqui por isso?
— Acha que é o irmão mais velho dele? – perguntou o outro na dúvida.
Kalill tapou a boca para não ofegar com aquelas revelações.
— O menino deve ter morrido no deserto. Afinal ele deveria ter apenas uns quatro anos quando matamos os seus pais perto do clã das Rosas. A nossa sorte é que o menino ainda não apresentou a maldita magia ou seu símbolo ia aparecer e eu não ia conseguir vendê-lo para Faisal, sabe o quanto aquele idiota tem medo das Rosas.
— Acho que você está certo em querer se livrar de Kalill. A magia das Rosas é imprevisível. Ele pode apresentar ela logo.
— Mandei um recado para Faisal que ele deve levar Kalill amanhã e quem sabe esse outro. Levantaremos as tendas em três dias e vamos partir para o norte e deixar o idiota lidar com o problema quando aparecer.
Os dois riram.
— Vamos beber – disse seu pai se afastando – Amanhã teremos bastante dinheiro no bolso.
Kalill tremia. Não podia ser verdade o que ele ouvira. Ele não era filho do sheik? Ele era do clã das Rosas?
Conhecia pouco do povo que vivia nas montanhas a leste. Seu clã habitava um vale que ficava cercado por vastas montanhas por todos os lados e a única entrada era um portão de cinqüenta metros de altura e de ferro fundido. Mas já há vários anos ninguém mais tinha noticias do clã e corria o boato que seu povo já não existia mais e agora ele descobria que pertencia a eles.
Olhou para o desconhecido pensando nas palavras do seu pai sobre ele ter um irmão. Era loucura, mas a semelhança entre eles era tão grande que a desconfiança estava virando certeza.
Tocou no rosto do outro e quase gritou quando algo parecido com um ferro em brasa parecia tocar a sua testa do lado esquerdo. Gemendo apertou o local e olhou para o rapaz que havia acordado ofegante e gemendo.
Pasmo Kalill percebeu que do lado esquerdo da testa do outro havia formado uma tatuagem, uma pequena rosa entrelaçada em um ramo de espinhos. Tinha certeza que na própria testa dele havia surgido um símbolo igual.
— Onde? – rapaz ofegou e tentou levantar percebendo apavorado que estava amarrado.
— Shiii! – Kalill colocou o dedos nos lábios – Sei que está confuso, mas eu sou seu amigo e vou ti ajudar.
— Meu filho! Sabe do meu filho?
— Você chegou aqui sozinho. Meu nome é Kalill e você está no deserto de Altair. Um dgim, um espírito do vento o trouxe aqui.
— Eu preciso achar o meu filho – gemeu o outro.
— Olha eu não sei se posso ser ajuda em encontrar o seu filho, mas primeiro vamos escapar daqui e ai vamos procurá-lo eu prometo.
— Meu nome é Paul – murmurou o outro ainda aparentemente apavorado com a situação.
— Certo Paul. Está todo mundo bebendo e eu vou dar um jeito de colocar calmante na bebida dos soldados de vigia. Eu vou arranjar dois cavalos e partimos logo, eu venho ti buscar.
— Por que esta me ajudando?
— Por muitos motivos, mas vamos discutir eles quando estivermos longe daqui.
Kalill rastejou para fora d atenda com sua decisão tomada.
Mimir não podia deixar de admirar Sara. A menina podia ser cega, mas conseguia se localizar na estrada e no local onde estava.
Fora da vila, com os cheiros da natureza, ela podia seguir o caminho com facilidade.
Como adulta ela deveria ter levado a menina de volta, mas estava seguindo o seu instinto. Algo a empurrava para essa aventura rumo ao norte, rumo à terra dos dragões.
Ela conhecia os verdes que imigravam no inverno para a Amazônia atrás de frutas e passavam a habitar as florestas perto das cidades. Aceitavam bem as amazonas e eram até mesmo dóceis com elas. Mas ela não conhecia as outras espécies de dragões e alem do mais aquela região era o caminho para o reino dos elfos e o deserto de Altair.
— Mimir você acha que acharemos a minha mãe e o meu irmão? – a voz de Sara parecia chorosa.
— Acho que sim Sara. Pode ser uma jornada em noite de lua nova, mas depois de pensar um pouco eu acho que tem uma grande chance de ser verdade que o dgim iria para lá. As terras dos dragões são cheias de magia e o habitat de muitos espíritos elementares.
— Queria que Mat tivesse me escutado. Ele está indo para o litoral.
— Espero que ele saiba o que está fazendo. Os caminhos para o oceano é cheio de perigos, principalmente de traficantes de escravos para os portos e para serem exportados para o alem mar. O reino da Irlanda ainda é um dos poucos das terras antigas a ter escravos.
— Eu nunca ouvi falar desse reino.
— É uma ilha ao norte do continente antigo. Dizem que quem vive lá é um povo bárbaro e sanguinário. Eles costumam avançar para o oriente com medo de Roma. Muitos vêem até aqui a procura de escravos para contrabandear para o seu país. Sei que Roma tem uma força militar marítima a caça deles, mas é complicado proteger a imensa massa de terras do nosso continente e ainda o continente antigo. Gorlan não faz nada para ajudar e por muito tempo o Império cogitou em invadir aquele reino, mas ia ser uma matança inútil. Eles por fim deixaram os problemas para os reinos daqui.
— Nossa! Você é mesmo uma professora como disse!
— Eu dou aula de história nas universidades do meu país. Gosto de escrever livros sobre isso e ir de terra em terra aprendendo seus costumes e lendas.
— Deve ser uma vida incrível!
— Você gostaria de uma vida assim?
— Eu?! – Sara deu uma risada – Não Mimir. Eu não sonho com grandes aventuras, nunca quis isso. Ouvir histórias é legal, mas participar delas... – ela fez um bico – Nos livros os heróis caminham dias nos seus cavalos e depois pulam para a luta como se nada tivesse acontecido, mas eu to morrendo de dor na bunda, não gostei de dormir no chão e minhas pernas estão ficando assadas. Na vida real é dolorosa.
Mimir caiu na risada com aquilo.
— Então que tal se eu cantasse para você dar uma esquecida das suas dores? Sei algumas baladas que aprendi nas estradas.
— Eu ia adorar!
Mimir respirou fundo e olhou para a estrada que cortava as matas e começou:
— Amigo pela estrada eu vou
Sempre em frente, suave trotando, amigo eu vou.
Na estrada da floresta
Onde o sábia está
Eu vou chegando lá.
Amigo a estrada é longa
Estou cansada, mas em gente vou
Não sei o destino
Mas agora feliz estou
Meu amigo pela estrada eu vou
Suave trotando, sempre em frente estou
Vamos cantar
Os espíritos das árvores
Vou acalmar
E pela estrada em frente eu vou
Ela continuou a cantar e logo Sara havia aprendido a letra e começou a cantar com ela. A estrada agora parecia menos cansativa, mas não menos longa. Haviam muitos caminhos a serem percorridos antes de conseguirem chegar às terras dos dragões.
Arkan conhecia o castelo dos elfos como a palma de sua mão. Sabia de suas passagens secretas e usou uma delas para retirar Maleah que andava apoiado em seu ombro tentando não gritar de dor a cada movimento.
Elas saíram para a vila que ficava em uma imensa clareira da Floresta Velha. Antigamente eles moravam em casa no alto das árvores, lindas e elegantes, mas Raguel assinou um decreto que as casas deveriam ficar no chão e foram obrigados a construir suas casas de pedra e madeira. Eram casas pesadas sem a beleza de antigamente.
Os elfos estavam esfacelando diante do seu rei, mas boa parte da população não ligava para isso. Mostrar que estavam desgostosos era o mesmo que mostrar fraqueza e um elfo jamais poderia ser fraco. Aqueles que queriam um modo diferente de vida partiam para os prados onde os elfos verdes eram calorosos e amigos.
A casa de Arkan ficava perto do norte da vila, afastada das outras casas. Assim que chagou lá Maleah estava a ponto de desmaiar e Flyn o segurou antes que caísse.
— Está tudo pronto filho? – perguntou o outro ajudando o rapaz a sentar Maleah em uma poltrona.
— Está tudo pronto. Eu pedi ajuda aos unicórnio para nos movermos com mais rapidez.
— Você é amigo de todos os animais, não é? – seu pai deu um sorriso cálido para ele e olhou em volta.
Era estranho como não sentia nada em deixar a sua casa. Desde que sua esposa morrera ele já não sentia parte de mais nada. Talvez fosse hora mesmo de recomeçar.
— Vamos meninos – ele pegou o sobrinho no colo que estava semi desmaiado e rumou para a parte detrás da casa onde três grandes cavalos negros como a noite esperavam.
Na testa de cada um deles havia um grande chifre espiralado e pontiagudo. Feito de um material mais duro que osso, as pessoas procuravam evitar os selvagens cavalos. Eles não podiam serem domesticados e aceitavam a aproximação de muitos pouco seres, Flyn era um deles.
O maior de todos resfolegou e olhou detidamente para Arkan. Depois de alguns segundos ele baixou a cabeça e os outros o acompanharam.
— Obrigado amigo – disse Flyn fazendo uma reverencia educada – Nunca vamos esquecer esse favor.
O cavalo relinchou balançando a crina como se concordando.
Flyn havia prendido alguns sacos em suas ancas e, como não tinham selas, teriam que montar em pelo.
Arkan foi carregando Maleah a sua frente e Flyn foi com os outros cavalos em frente. Eles entraram pela mata evitando as estradas.
Por um momento Flyn olhou para trás com dor no coração, mas ao lembrar que estava junto de seu pai e seu primo seu coração se acalmou e ele não mais olhou para o que ficara atrás.
Assinar:
Postagens (Atom)