Sanet pousou perto da Floresta Velha sentindo o quanto a magia estava irrequieta naquele dia.
Mesmo voando ele não podia ver o fim da grande floresta dos elfos. Ele nunca gostara muito de lá, da magia antiga que sempre rondava tudo e mesmo com toda a sua beleza, parecia que perigos espreitavam atrás de cada arbusto.
Seu olfato apurado sentiu cheiro de elfos e cavalos. Levantou vôo novamente olhando a floresta do alto e viu na estrada dois elfos montados em unicórnios indo em direção à fronteira das matas. Ele reconheceu Flyn, seu conhecido, mas ele não conhecia o elfo mais velho que carregava outro desacordado.
Os unicórnios deveriam tê-lo sentido, pois pararam na estrada e os elfos olharam para cima.
Sanet voou mais baixo para que Flyn o reconhecesse e foi descendo lentamente pousando ali perto.
— Ola – disse ele para o elfo que conhecia há alguns anos.
Ele gostava muito de Flyn. O menino tinha uma afinidade muito grande com animais e plantas e já fora a Kotem atrás de plantas raras. Havia salvado um filhote de dragão e assim se tornara amigo deles.
— Sanet! – Flyn parecia perdido com a sua visita – Esta tudo bem?
— Preciso de sua ajuda Flyn. Encontrei um filhote de humano e ele está doente e gostaria de saber se você pode me ajudar.
— Lamento Sanet, mas estamos indo embora da Floresta Velha e acho que se fosse para as suas terras Raguel poderia lhe causar problemas.
— Acha mesmo que os dragões temem seu rei? – havia desdém na voz do grande dragão – Até onde eu sei, ele nunca tentou nada conosco por medo do nosso poder. Se esta indo embora de suas terras ofereço áxilo em Kotem para vocês.
Maleah estremeceu e gemeu de dor. Arkan olhou para o sobrinho com dor no coração. Ele nunca fora tomado pela maldição da dor, mas pelo que sabia era a pior dor que você podia imaginar. Sua mente se desliga de tudo e o que sobre é a necessidade de acabar com ela. Olhou para o dragão e depois para o filho.
— Flyn acho que devemos a aceitar a oferta do dragão. Maleah não está muito bem.
— Posso levá-los para Kotem em minhas costas. Nossas cavernas são bem secas e quentes e meu povo vai recebê-los bem – o dragão parecia ansioso em agradar os amigos elfos.
Sanet sempre gostara muito dos povos antigos, como os elfos eram conhecidos em muitos lugares. Diziam que a Deusa havia tocado a sua espécie durante a Grande Catástrofe os guiando para lugares seguros e desde então os elfos eram abençoados.
— Obrigado Sanet – Flyn sorriu para o outro.
Desceram dos unicórnios que Flyn agradeceu muito e se arrumaram nas costas do dragão, segurando nos espinhos que haviam ali e amarrando uma corda em seu pescoço para se firmarem.
O grande dragão levantou vôo de forma cuidadosa se afastando da Floresta Velha.
Flyn olhou uma ultima vez para o seu antigo lar como se despedisse em definitivo do lugar onde ele passara a sua existência.
Kallil viu quando seu pai entrou tropeçando na tenda bêbado. Sabia que não era a melhor hora para se conseguir respostas, mas ia partir naquela noite e não ia deixar de saber toda a verdade sobre ele e Paul.
Puxou uma espada de folha larga de um suporte preso em uma arca e empurrou seu suposto pai que caiu sentada em um monte de almofadas que ficava no centro da tenda.
— Mas o que diab...
Ele não pode completar a frase. Kallil havia colocado a ponta de sua espada no pescoço dele e fazia pressão.
— Eu ouvi o que você e aquele maldito ancião estavam falando. Eu quero a verdade!
— Você está louco moleque? – ele gritou, mas Kallil voltou a pressionar a espada contra seu pescoço deixando que um fio de sangue corresse por ele.
— A verdade ou eu não vou ter problemas nem um em manchar as areias com seu sangue imundo.
— Eu sabia que isso ia acontecer – ele rosnou olhando com nojo para o outro – Deveria ter deixado você morrendo no deserto, mas minha mulher estava inconsolável com a perda do nosso filho e eu precisava de um bebê!
— Você me roubou para dar a sua esposa?
— Não era nada planejado moleque. Durante muito tempo fui saqueador de tolos que andavam pelas estradas do deserto procurando fazer fortuna. Consegui muito e com todo o ouro e jóias juntei meu próprio povo e virei sheik! Mas roubar era um bom negócio e continuei a manter um grupo para isso e por vezes eu ia com eles. Um dia não suportei mais o choro da minha esposa que tinha perdido a criança que esperava e parti para um saque perto das terras do clã das Rosas. Sabia que esse povo era mágico e perigoso, mas se pegos desprevenidos sempre tinham bastante ouro em seus alforjes. Topamos com um macho e um duo com seus dois filhos, um de quatro anos e um bebê. Percebi que podia conseguir duas coisas, dinheiro e uma criança para acalmar a minha mulher. Matamos os dois adultos com flechas, roubamos o ouro e peguei você e outra criança deixei para morrer no deserto – olhou com desdém para o outro – Não era isso que queria saber? Você não é nada meu graças a Deusa!
Kallil deu um soco na cabeça dele com o punho da espada e ele caiu de lado desmaiado.
— Graças a Deusa digo eu.
Ele não era filho daquele monstro e tinha certeza que Paul era seu irmão. Ele não sabia como e nem por que os caminhos do destino tinham operado para eles se reencontrarem, mas ele não ia deixar nada acontecer com ele.
Pegou a mochila que tinha preparado onde colocara jóias e ouro junto com roupas e comida e saiu da tenda. Lá fora ouvia-se as vozes dos bêbados e os guardas dormiam graças ao sonífero que ele colocara na água.
Correu para a tenda onde estava Paul. O rapaz estava cochilando mesmo todo amarrado. Kallil entrou rapidamente e cortou as cordas assustando Paul que sentou e viu Kallil na obscuridade.
— Shiiii! – Kallil colocou o dedo nos lábios – Venha comigo.
Paul estava assustado, mas aquela podia ser a única chance de escapar e procurar Gabe.
Saíram da barraca para uma noite de lua crescente. Kallil o levou para um local onde haviam dois cavalos presos a uma pedra. Ficava atrás de um pequeno morro de rochas e não se podia ver do acampamento.
— Por que está me ajudando? – Paul não sabia se devia confiar naquele rapaz mesmo que fosse tão parecido consigo.
— Olha precisamos ir embora antes que alguém de por si. Se eu quisesse ti fazer mal te deixaria para ser vendido para Faisal.
A contra gosto Paul assentiu e subiu no cavalo.
— Fique perto de mim. Você não conhece o deserto e se perder é morte certa.
— Pra onde vamos? – Paul virou o cavalo para acompanhar o outro.
— Para o sul. Aquela é a região das tribos Calen e meu... o sheik não vai nos procurar lá.
Saíram cavalgando pela noite escura e muito fria. Paul não havia percebido isso até aquele momento. Era estranho um lugar ser tão quente de dia e frio à noite. Olhou para o céu vendo uma miríade de estrelas e o brilho leitoso da Via Láctea. Cheiros estranhos chegavam até ele com o vento seco do deserto.
Kallil andou de forma decidida como se conhecesse bem a estrada mesmo no escuro.
Paul estava cansado, mas seu coração doía ao pensar em seus filhos e em Mat. Queria tanto que ele estivesse ali para que o abraçasse e disse que tudo ia ficar bem, mas ele sentia que muita coisa podia acontecer antes de realmente ficar bem.
Mat olhava para o fogo do acampamento pensando no que acontecera naqueles dias. Gabe e Paul levados por um dgim e Sara desaparecida. Seus irmão haviam dito que ela fora para o norte, para os dragões.
Como uma menina cega havia conseguido sair do castelo e roubar um cavalo sem ser vista? Como ela podia sobreviver na estrada?
Sara era uma menina incrível, mas a estrada tinha muitos perigos que buracos ou curvas.
Para ele fora uma decisão dolorosa deixar de lado a busca de Paul e Gabe para encabeçar um grupo de busca pela menina.
Agora sabia que Sara estava com Mimir, era a única amazona que ele já vira por perto e as pessoas ao longo da estrada diziam que viam uma menina loira com uma linda mulher negra de porte altivo indo rumo às terras do norte.
Ele imaginava que a amazona tinha mais juízo. Deveria ter levado Sara para o castelo e não ter embarcado na loucura da menina.
Ele consultara sábios que haviam dito que os espíritos dos ventos se reunião nas praias e era o lugar onde ele deveria estar se não tivesse atrás daquele menina teimosa.
Capela estava ali perto com o semblante cansado. Mat sabia que ele não amava o elfo, mas estava ligado a ele de um modo muito estranho. Algo acontecera a Maleah e Capela podia dizer isso pelas dores que sentia no corpo e pela tristeza que o consumia.
O tenente havia se recusado a ir para o oceano dizendo que acreditava em Sara e que ele estava indo para o lugar certo.
Mathew não sabia mais em quem confiar em qual caminho seguir. A verdade era que, desde que pegara aquela estrada, algo dizia que estava indo para o caminho certo.
Um cheiro azedo pairou no ar um segundo. Os cavalos ficaram levemente inquietos e Mat pulou do lugar onde estava, mas seu grito de alerta morreu em sua garganta. Uma dolorosa escuridão desceu sobre ele.
Phillip arregalou os olhos para o mensageiro que trazia a mensagem que seu irmão Dylan estava chegando ao reino em poucos minutos.
— Dylan em uma visita de surpresa? – Gwen estava com Killian sentada no sofá perto da lareira.
Seu filho brincava de morder um pequeno ursinho de pelúcia e ria deliciado.
— Ótima hora para ele ser sociável – resmungou Phil sentando junto com a esposa e tocando com delicadeza no rosto do filho que segurou seu dedo com força.
— Acho que devemos ser gratos. Ele pode nos ajudar de alguma forma com toda essa confusão.
— Tia Gwen! – uma manhoso Shon apareceu no alto da escada com cara de choro.
— Shon o que aconteceu? – perguntou a princesa preocupada.
— Tô com saudades da mamãe! Quando ele volta?
— Vem cá – ela deu o filho para Phil segurar e pegou Shon no colo apertando seu corpinho frio olhando preocupada para as olheiras do menino – Sua mãe vai voltar logo. Mat foi buscar Paul, o Gabe e a Sara. Tenho certeza que logo vão estar todos juntos e indo para casa!
— Estou com medo – ele deitou a cabeça nos seios de Gwen – E se eles não voltarem mais?
— Acredite em Mat – disse o príncipe – Ele nunca vai desistir de achar sua mãe.
Nesse momento uma guarda entrou e fez uma reverencia.
— Meu príncipe o Grande Rei está chegando no pátio.
— Que tal conhecer o meu irmão? – perguntou Phillip para Shon – Ele está chegando para uma visita.
O menino balançou a cabeça e desceu do colo de Gwendelyn que pegou o filho e os três foram para a porta onde um vento gelado soprava.
As tochas do pátio estava acessas iluminando uma grande tropa que cerca a bela carruagem real dos McGives toda azul e dourada. A carruagem parou perto das escadas que dava para a porta principal do castelo.
Dylan saiu e ajudou a esposa a descer. Ela deu um gritinho e correu para abraçar Phillip.
— Saudades Phil!
— Também estava cunhada – ele riu da atitude expansiva da moça.
Mirian olhou para Gwen que estava com um grande sorriso no rosto e carregando o filho.
— Gwen que coisinha mais linda!
— Será que você não pode se conter Mirian? – resmungou Dylan atrás dela.
— Eu continuo não falando com você Dylan – ela disse em alto o bom som deixando o rei vermelho de raiva.
— Tudo bem irmão? – Phil sorriu abraçando seu irmão mais velho que lhe devolveu o aperto.
— Coisas de mulher – resmungou ele, mas Mirian fez que não o ouviu, ela olhava para Shon que estava encostado nas pernas de Gwen.
— Ola gracinha – disse ele sorrindo a agachando perto dele.
— Mirian, Dylan – Phil colocou a mão no ombro do menino – Esse é Shon filho de um amigo nosso.
Dylan olhou para o garotinho e sentiu o coração falhar uma batida. Ali a sua frente estava à cópia mais nova daquele garoto do sacrifício na noite das fogueiras, o rapaz oferecido ao rei servo para o ritual pagão. Mas o menino diante dele tinha olhos de outra cor, eram azuis, azuis como o seu.
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