Minha lista de blogs

quinta-feira, 10 de maio de 2012

AS Terras de Avalon

Parte Um



Olhou para os jardins da casa da sua avó com um misto de tristeza e saudade. Ela havia morrido há apenas três dias, mas pareciam anos.

— O que você acha? – perguntou um senhor gordo que vivia enxugando o rosto com um lenço engordurado.

— A casa esta um pouco deteriorada, mas acredito que podemos ter um bom preço pelas terras – responde o outro, um sujeito magro e todo ossos com rosto queimado pelo sol.

— Isso é ótimo – responde tio Alceu.

A vontade de pular no tio e esganá-lo era enorme, mas antes que se metesse em mais problemas desceu da varanda e foi em direção ao pomar que terminava em uma pequena mata.

Sempre gostara de andar por aquelas matas e não pensar em nada.

Sentou no chão coberto de folhas e ficou pensando no que acontecera naqueles dias.

Sua avó havia dito que um dia seu pai havia aparecido com um bebê no sitio pedindo para ela cuidar dele, pois ele não podia e se foi. Ele nuca mais saberá do pai e não fazia esforço nem um para pensar nele. Sua avó era sua família e estava feliz com ela, até um mês atrás quando a sua avó foi diagnosticada com câncer do sistema linfático. Fora muito rápido e sua morte fora durante a noite, dormindo serenamente.

Ele não estivera do lado dela como queria tanto, era menor de idade e não podia ser acompanhante. Tia Ana havia ficado de muita má vontade e quando eu vira meu tio Alceu estava dando a noticia da sua morte com uma cara de falsa tristeza que tive vontade de socar.

Era como se arrancasse uma parte dele naquele momento e agora outra parte se ia, pois iam vender o sitio e era obrigado a viver com aqueles dois, tia Ana e tio Alceu.

Levantou contrariado chutando as folhas e com vontade de gritar até que a sua garganta rachasse. Sentiu os olhos arderem, mas eu me recusava a chorar, recusava a ser um fraco.

Voltou a andar pela mata observando os raios do sol filtrado por entre as folhas, parecendo rios de luz que chegavam a terra. O ar tinha cheiro de umidade e folhas decompostas, mas não era de todo ruim. O som dos pássaros gritando nos altos galhos se misturava com o rumorejar do riacho que cortava a mata.

Colocou as mãos nos bolsos do jeans velho e inclinou o rosto sentindo um raio de sol acariciar a sua face, aquecendo-a. sem que ele pudesse se contar uma lágrima correu por seu rosto e ele a enxugou com um gesto irritado.

Olhou para dois velhos pés de pinheiro que haviam nascido ali, lado a lado, como umbrais de uma porta. Quando era criança sua avó costumava dizer que ali era a porta para outro mundo, um lugar espetacular cheio de fadas e elfos. Se ele não quisesse ir e sumir deveria bater no pinheiro de direita três vezes. Havia feito isso por dezessete anos e se tornara um costume do qual ele não conseguia parar.

Ali parado ele olhou raivoso para os dois pinheiros.

— Se isso fosse realmente verdade a coisa que eu mais queria era desaparecer desse mundo e nunca mais ouvir falar dele.

Chutando as pinhas espalhadas pelo chão passou pelos pinheiros sem bater no da direita e respirou fundo ao chegar do outro lado com uma mistura de raiva, decepção e alivio.

Resolveu voltar para o sitio antes que seu tio resolvesse ir atrás dele e não estava afim de ouvir mais nada da boca daquele idiota.

Tropeçou em algumas pedras e caiu no chão soltando uma praga e seg rando a canela que havia batido.

De repente o ar se encheu de pequenos sons que lembravam sinos de cristal tocando. Pasmo olhou para um galho logo acima dele e pensou que ia ter um enfaro.

Pousado no galho havia pelo menos uma dúzia de estranhos seres. Não deveriam ter mais que trinta centímetros de altura, o corpo magro e diáfano que parecia tremeluzir no ar. As asas que lembravam folhas de videiras transparente e de cor azul balançavam na brisa. Elas se vestiam com pedaços de tecido amarrados com cipós. Os cabelos loiros brilhavam e seu riso era a coisa mais linda que ele já tinha ouvido.

Os estranhos seres levantaram vôo ainda rindo e dizendo em uma voz fina:

— Humano desastrado!

Ele achou que estava sonhando ou ficando louco. Levantou do chão e saiu correndo mesmo com a perna doendo não querendo pensar no que havia acabado de ver.

Depois de quinze minutos ele percebeu que a mata estava raleando e que deveria estar chegando perto da casa do sitio, qual não foi sua surpresa ao sair do meio das arvores e dar de topo com uma paisagem insólita.

A mata terminava em uma campo coberto de flores que lembravam margaridas e tulipas de todas as cores possíveis, mesmo do azul cobalto ao preto. O campo se estendia até outra mata que ia até o pé de uma montanha alta e cinzenta com o pico coberto de algo branco que ele imaginou ser neve. A montanha não estava só, atrás dela havia uma imensa cordilheira que se perdia a distancia.

Ele começou a andar para trás e correu de volta a mata.

— Isso não é verdade – ele falava consigo mesmo – Isso não pode estar acontecendo!

Com o coração aos pulos voltou para os dois pinheiros e gritou:

— Quero voltar para casa!

Correu por eles e pediu para tivesse dado certo quando ouviu uma voz atrás dele.

— A porta é só de um sentido, humano.

Ele deu um pulo olhando para uma moça alta e de pele muito branca olhando com incríveis olhos prateados. Seus cabelos negros e longos iam até os joelhos e ela vestia um vestido branco com algumas manchas de barro. Nas mãos longas e de dedos finos carregava algumas plantas.

— Que... quem... – ele não conseguia para de gaguejar.

— Meu nome é Daila Isne, e eu moro nesta mata.

— O que é você? – ele finalmente gritou fazendo ela dar um suspiro raivoso e cruzou os braços fazendo mais terra cair no seu vestido.

— Sou uma guardiã da floresta.

— Tipo um espírito? – sua voz estava esganiçada.

— Tipo uma maga que é paga pelo reino para cuidar que aqui não vire lar de bandidos.

— Reino? Maga?

— Você tem algum problema, garoto? Normalmente os humanos que aqui chegam não ficam tão... bobos.

— E o que você espera? – ele gritou quase histérico – De repente eu estou na mata da minha casa e quando vejo estou em meio a Terra do Nunca!

— Eu não sei onde fica essa terra estranha, mas aqui é o reino de Avalon.

— Avalon! O mesmo do rei Arthur e da Morgana?

— Não sei quem são esses.

— Como eu vim parar aqui?

— Ora, você quis! Ninguém atravessa a estrada entre os mundos se assim não quiser. Tem que querer com uma força muito forte para conseguir com que a porta se abra.

— Você disse que a porta só tem um sentido?

— Esta porta só pode ser usada por quem queira chegar a Avalon, mas existe um caminho de volta. No reino da Bretanha, nas matas dos celtas.

— Como eu chego lá?

— Pra que? Você não teve tanto trabalho para chegar aqui e agora quer ir embora?

— Olha eu não sabia que isso ia acontecer, eu nunca acreditei que o portal pudesse ser real!

— A Bretanha fica há três dias de viagem pelo mar Itos – ela o olhou atentamente.

— O que? – perguntou ele assustado com aquele olhar.

— Eu já não ti vi por ai?

— Eu nunca estive aqui.

— Você... – ela coçou o queixo – Tenho a impressão...

Ela balbuciava e ele se perguntou se não tinha ido parar em uma terra de doidos.

— Ora, você é a cara do rei consorte! – respondeu ela estalando os dedos.

Ele respirou fundo contrariado.

— É certo. Agora será que pode me dizer como eu chego a Bretanha?

— Será que você não entende garoto? – ela balançou as mãos, as ervas murchas indo de um lado para o outro – O rei Kaylin teve o filho levado por seu esposo o rei Alon há muitos anos. Na época havia uma grande guerra e Kaylin conseguiu retardar os exércitos inimigos por tempo suficiente para que Alon pegar um navio e ir para a Bretanha e nunca mais foi visto.

— Você acha que eu sou o tal filho do rei! – ele riu – Você esta realmente doida.

— Na estou não – ela voltou a cruzar os braços – Você é a cara do Rei Kaylin, mas tem os olhos do rei Alon.

— Da um tempo! Dois reis? E quem é a minha mãe senhora da sabedoria?

— Kaylin.

— Kaylin é ele ou ela.

— Ele é o rei consorte menino, é um procriador.

— Ele é um homem!

— E daí?

— Homens não engravidam sua louca!

— Louca! – ela bufou contrariada – Menino você aqui é o louco e desinformado! Um procriador tem os dois sexos. Normalmente eles têm uma aparência andrógena mais perto do lado masculino, mas podem ter filhos como uma mulher assim que atingem os dezessete anos e se tornam férteis e suas partes femininas ativas.

— Eu não sei em qual mundo de loucos eu entrei, eu só quero ir embora!

— Então venha até o reino e conheça o rei Kaylin.

— De jeito nem um!

— Covarde? – ela ergueu as sobrancelhas o olhando com desdém.

— Eu não sou covarde! – gritou ele colérico – Ninguém me chama de covarde sua... esquisita!

— Então vem comigo e ai eu não vou fazer mau juízo de você.

— Tenho uma condição.

— Condições são perigosas para ambos os lados – seus olhos prateados brilhavam – Todavia é um pagamento justo. Qual a condição?

— Quero que me ajude a chegar a Bretanha.

— Pois bem – ela ergueu a mão colocando a palma em cima do coração – Nosso destino é traçado, pelo caminho complicado seguiremos. A Bretanha chegaremos.

Sua mão foi envolta em uma luz azul, como uma centelha, que durou poucos segundos e depois sumiu.

— O que foi isso? – ele tinha dado um passo para trás.

— Uma promessa, e promessa de magos jamais podem ser quebradas. Estamos ligados – ela parecia feliz com isso.

— Você não precisava ter feito uma promessa assim.

— Certo, mas eu estou cansada de ficar aqui no meio do mato e se faço uma promessa de magos o meu chefe não pode deixar de me liberar.

— Você esta me usando?

— Exatamente.

Ele bufou contrariado.

— Se não tem jeito – ele estendeu a mão – Meu nome é Gael Medeiros.

— Certo Gael – ela riu – Vamos até a minha casa pegar um cavalo e ir até o reino.

Gael não sabia em que embrulhada tinha se metido, mas de uma coisa ele sabia, não podia ficar ali parado e esperando que algo acontecesse.

2 comentários:

  1. avalon, terra do rei arthur, so vc para escrever um texto assim, amei. bjs lu

    ResponderExcluir
  2. Oi! Linda história. Pelo visto terá muito mistério e aventura. Realmente amei! Igualmente costumo escrever, e posto em um site voltado a histórias... Que interessa, por que não postar suas histórias nele? Na certa alcançara mais leitores? Afinal, escrever muito bem. Vai a dica.

    https://www.fanfiction.com.br/

    O site é muito bom, e tem muitas pessoas que acessam ele.

    ResponderExcluir