Capitulo XXIV
Kallil parou para que os cavalos tivessem uma pausa e ele disse para Paul que deveria ser mais de duas da manhã. Ele havia apenas olhado o céu e dito isso.
— Você conhece mesmo o deserto – observou Paul olhando o rosto do outro ainda surpreendido com a similaridade entre eles.
— Bastante. Sempre fui curioso e atormentava todo mundo para que me explicasse isso ou aquilo. Costumava também sair com alguma caravana para comercializar com outros oasis.
— Kallil eu agradeço muito o que fez por mim, mas eu ainda não entendo o porque de você ter enfrentado o seu povo para me resgatar. Eu não quero parecer ingrato ou coisa assim.
— Eu sei – o rapaz deu um pequeno sorriso – Sei que estamos em perigo, mas eu quero muito contar uma coisa que soube apenas hoje. Vamos sentar um pouco.
Eles sentaram na areia fria ouvindo os ventos uivando por entra as dunas e carregando um pouco de areia aqui e ali e quando o sol despontasse o deserto não ia ser mais o mesmo.
Kallil olhou para Paul e começou a contar a sua história e a cada palavra Paul ficava mais e mais surpreso.
— Você acha que isso é verdade? – Paul não conseguia acreditar na história que ouvia.
— Eu acho e uma prova disso é a tatuagem que apareceu na sua e na minha testa quando nos tocamos. Eu sei que a magia das Rosas depende muito da sua ligação com a família.
— Que magia? Olha pra mim! Sou apenas um fazendeiro com cinco filhos!
— Existe todo o tipo de magia – respondeu Kallil calmamente – O clã das Rosas tinham uma estranha magia ligada a natureza. O que sei é que eles são descendentes de elfos e do povo do norte da terra antiga.
— Elfos?
Paul repuxou o cabelo ainda com a trança agora toda esfiapada imaginando o que aquilo queria dizer. Mas algo mais chamava a sua atenção. Ele nunca fora parecido com seu pai e nunca conhecera a sua mãe. Seu pai havia se mudado para aquela vila em Gaulesh quando ele tinha nove anos, antes disso eles moravam na fronteira ao norte. Pouco se lembrava da sua infância e na sua adolescência a coisa que ele mais queria era ficar longe do seu pai, era para isso que ele estava acumulando dinheiro.
— Você não gostaria de me ter como irmão Paul? – havia dor na voz de Kallil.
— Eu nunca tive um irmão Kallil, acho que nunca tive uma família de verdade a não ser aquela que criei – ele colocou a mão no ombro do rapaz – Não sabe a vontade que tenho que tudo isso seja verdade e que você seja meu irmão.
Kallil sorriu e mesmo na luz esmaecida das estrelas Paul podia ver como seus olhos brilhavam.
— Para descobrir a verdade temos que ir até o clã das Rosas, mas acho que não é uma boa ideia agora – disse Kallil – Vamos ser procurados por todo o lado até sairmos do deserto.
— Você me disse que no sul estaríamos bem.
— O sul é uma região que não é muito ligada as tribos nômades do norte, principalmente por que eles já não são mais nômades. Eles agora tem suas cidades nos oasis e em pequenos rios que cortam o deserto.
— Preciso achar meu filho Kallil – Paul apertou o tecido da camisa sob o coração – Estou tão preocupado com as minhas crianças... – sua voz saiu tremula e ele fazia o possível para não cair no choro, precisava ser forte.
— Bem a terra ancestral dos espíritos do vento é em Kotem, a terra dos dragões. Ela fica entre Gaulesh, o reino dos elfos e os desertos de Altair.
— Acha que ele pode ter ido para lá?
— Os espíritos não são maus e tudo que eles fazem tem um propósito. Não acredito que eles fariam algo ao seu filho. Podemos ir para Kotem.
— Obrigado Kallil – ele segurou a mão quente do outro.
Ekbert limpou a espada com nojo olhando para os guerreiros vestidos com farrapos e fedendo. Eram homens altos e loiros, com botas de um couro que ele nunca havia visto e com um cheiro de quem nunca havia visto um banho.
— Povos bárbaros – ele cuspiu olhando para o lado onde Waldrich cuidava de Mat que havia sofrido um ferimento feio na cabeça.
Capela estava sentado na grama se despedindo dos guerreiros mortos.
Eles haviam sido pego de surpresa por cerca de dez guerreiros enormes e ferozes. Mesmo estando em maior numero a comitiva do príncipe não foi capaz de deter os guerreiros e antes que vissem Mat estava ferido e Capela lutando conta eles sabendo que não ia conseguir impedi-los. Fora então que esse enorme homem aparecera e com uma fúria cega os destruira. Capela nunca havia visto nada igual.
— Gostaria de saber o que os irlandeses estão fazendo tão longe do mar. Eles não costumam entrar continente afora – Ekbert olhou para Capela que se levantara com o rosto cheio de tristeza – Eles morreram como guerreiros rapaz. Seus espíritos vão em paz.
— A morte sempre dói senhor.
— Ekbert é o meu nome.
O grande guerreiro foi para junto de Waldrich que terminara o curativo na testa de Mat e agora estava alisando os cabelos do príncipe.
— Você sabia o que ia acontecer – resmungou ele para o outro que deu um leve sorriso.
— Por que esta bravo Ekbert?
— Você deveria ter me contado Waldrich! Deveria ter ficado em Lakina!
— Lakina não é o meu destino agora – ele olhou para Ekberto com seus estranhos olhos negros.
— Waldrich de Lakina? – Capela deu um paço para traz – Você é o mago?
— Eu sou o bicho papão que assombra vocês – havia sarcasmo na voz dele.
— Por que está nos ajudando?
— Por que eu não estou aqui para destruir ninguém que não seja Alberta, sua ex-rainha. Sei que você sabe que ela pretende algo contra o reino de Haven.
— Usando você!
— Usando Kamm, meu caro. Usando o filho caçula de Raguel de Jaire sedento de poder.
— Eu não estou entendendo nada.
— Você acha prudente falar para ele? – Ekbert não queria que Waldrich ficasse em mais perigo ainda.
— Eu acho que chegou a hora do espião do rei Dylan saber o que realmente está acontecendo e se você conta ou não ao seu príncipe é sua decisão.
Capela teve um sentimento desconfortável, mas ao mesmo tempo ele estava muito curioso para saber o que o tal mago tinha para dizer para ele.
— Primeiro tenente Capela obrigado por cuidar do meu filho.
Ao olhar a esposa Dylan podia dizer que ia haver uma tempestade ali. Mirian era ótima pessoa, mas seu ciúme as vezes o irritava e ela com certeza havia percebido os olhos de Shon que o olhava com curiosidade.
— Vamos entrar – disse Gwen tentando dissipar o estranho clima – Acho que já é hora do Shon deitar, não é Shon?
— O senhor é um rei? – ele perguntou para Dylan ignorando a princesa.
— Sou sim – ele ficou da altura dele olhando seu rosto e percebendo outras similaridades fora os olhos.
O modo como ele franzia o nariz ou quando ele torcia os lábios... Como ninguém tinha reparado nisso antes?
— Será que podemos conversar Dylan? – a voz de Mirian estava muito calma e isso o fazia temer o pior, mas ele ia deixar isso para depois.
Abraçou o menino e o pegou no colo.
— Que tal se o levo para dormir? – perguntou o grande rei sorrindo terno para o menino que devolveu o sorriso.
— Eu vou gostar senhor – disse ele.
— Me chame de Dylan – ele entrou com o menino no colo e subiu as escadas deixando os outras na sala.
Mirian tremia. Aquele menino não podia ser filho de Dylan! Ela mesma não conseguia dar um filho a ele e de repente aparecia aquele menino com os olhos naquela cor incomum.
— Mirian está tudo bem? – Gwen e Phil não entendiam o que estava acontecendo.
— De quem que aquele menino é filho?
— De um rapaz chamado Paul, ele é noivo de Mat – respondeu Phil cada vez mais confuso – O que tem isso Mirian?
— Será que vocês não perceberam? – ela quase gritou – Ele tem os olhos de Dylan. Ninguém mais tem olhos assim!
— Será que você pode baixar o tom antes de me acusar? – Dylan ia descendo as escadas – Caso não tenha percebido Mirian meu pai e meu irmão Mat tem os mesmos olhos que eu.
— Agora você vai dizer que ele é filho do seu pai? Ou de Mat? Eu vi como você olhava para ele!
— Eu conheço o pai gerador dele Mirian, eu o conheci a oito anos em uma noite das fogueiras. Eu era solteiro e gostava de aventuras.
— Então ele é seu!
— Você não ouviu nada do que eu disse – resmungou o rei cruzando os braços.
— E o que você disse? Nada! Eu não quero mais meias palavras Dylan McGives! Eu quero a verdade!
Sanet pousou perto da caverna onde vivia deixando Flyn e seu pai descerem das suas costas com Maleah ainda desacordado.
— Bem vindos a Kotem – disse o chefe dos dragões tentando dar um pouco de calma aos elfos cansados.
— Obrigado Sanet.
Eles entraram na caverna onde obscura. Os dragões podiam ver muito bem a noite e não precisavam de qualquer luz, mas Arkan tirou uma pequena pedra da bolsa e a apertou na palma de sua mão. A pedra começou a brilhar e o grande dragão a olhou curioso.
— Pedras do sol? Não via dessas há muitos anos.
— Não há muitas mais hoje em dia – disse Flyn que estava segurando o primo.
Entraram na caverna onde dormia Sanet e Tildo.
O dragão vermelho estava sentado olhando os visitantes com curiosidade.
— Sanet! Você demorou! – logo foi dizendo o filhote – Eu estava com medo, o humano está resmungando o tempo todo. Eu não entendo o que ele fala e eu não sabia o que fazer...
— Calma filhote – Sanet esfregou o focinho em Tildo – Quero que conheça os elfos Flyn, seu pai Arkan e Maleah que também está doente como o menino.
— Ola! Desculpe não ter falado com vocês! Estou preocupado com o humano. Gostei dele, queria ajudar ele, mas vocês tem um doente também. Podemos ajudá-lo também?
— Ele é uma gracinha – disse Flyn depositando Maleah no mesmo ninho que Gabe estava tremendo em meio a palha – Ele parece bem doente – colocou a mão na testa do menino percebendo a sua febre.
— Deixa eu dar uma olhada – Arkan sabia que seus poderes eram podiam ajudar o pequeno humano e ele estava grato por pelo menos isso ele poder fazer, já que com seu sobrinho só restava esperar.
Colocou a mão na testa de Gabe e sentiu a alma do menino percebendo de imediato que ele era meio elfo, mas isso não era impedimento para seu poder de cura correr pelas veias dele, eliminando sua fraqueza, purificando o seu corpo.
— Pronto – ele sentou cansado na palha – Amanhã ele vai estar muito bem.
— Mesmo?! – Tildo dava pulinhos perto de Arkan abrindo e fechando as asas de entusiasmo – Obrigado senhor elfo! Eu queria muito poder falar com o humano, mostrar a minha casa para ele.
— Tildo se acalme um pouco ou vai sufocar os elfos – resmungou o dragão deitando perto deles – Obrigado Arkan e Flyn.
— Nós é que agradecemos a sua ajuda – disse Flyn arrumando uma cama melhor para Maleah a Gabe com as mantas que tinham – Só espero que o meu tio não venha a fazer nada contra a sua tribo.
— Raguel não é tolo – resmungou o dragão fechando os olhos – Os dragões não são um inimigo fácil.
Durante a noite Flyn e Arkan se revezaram para cuidar de Malaeh e conforme o dia ia amanhecendo percebiam que as doze horas que o feitiço da dor ia perdendo as forças até que o tempo se esgotou.
Maleah acordou olhando para um teto alto, com estalactites imensas e sentindo que uma manada de cavalos o tivessem pisoteado. Sua memória estava falha e ele não entendia o que estava acontecendo.
— Bom dia primo – a voz alegre de Flyn chamou a sua atenção para o lado onde seu primo estava sentado perto dele – Como você está?
— F... – Maleah tentou falar mas sua garganta ardia a não saia som algum.
— Sua garganta deve ter se machucado quando você gritou ontem. Eu peguei algumas ervas secas em casa e trouxe, punha na língua e deixe elas agirem.
Flyn entregou um punhado de ervas escuras e secas para o primo que a pôs na língua deixando que um frescor maravilhoso corresse por sua dolorida garganta.
De repente a visão de seu pai lançando a magia da dor nele o fez estremecer. Era por isso que ele se sentia tão mau, tão cansado. Mas o que Flyn estava fazendo ali? Na verdade onde era ali?
Tentou se levantar, mas o primo o impediu.
— Maleah não se esforce! Seu corpo foi muito prejudicado com o feitiço. Levara alguns dias para você se sentir melhor. Se ficar quieto eu conto tudo que aconteceu.
O outro ficou imóvel olhando para o primo que deu um leve sorriso e começou a contar tudo enquanto alisava os cabelos do primo. No final do relato Maleah deixou com que suas lágrimas caíssem livremente. Não só ele fora expulso de suas terras, mas seu tio e primo haviam jogado tudo para o alto para ajudá-lo.
— Não fique assim – Flyn segurou a sua mão – Você sabe que estava ficando insuportável ficar na Floresta Velha com Raguel no comando. Ele mais e mais esta destruindo o nosso povo e no final as pessoas deixam ele fazer isso por comodidade. Eu quero algo mais do que ser repreendido dia e noite por chorar ou rir e se estivermos juntos tudo vai dar certo.
— Maleah! – Gabe entrou na caverna abraçando o elfo com força quase o fazendo engasgar com as ervas.
— Elfo Maleah acordou – Tildo também estava ali e imitou Gabe abraçando Maleah em uma confusão de pernas, braços e asas.
— Calma meninos! – Flyn tirou o dragão e Gabe de cima do primo – Assim vocês vão matar ele.
— Desculpe Maleah! – Gabe tinha o rosto sujo de suco de amoras que estivera comendo junto de Tildo e Arkan – Eu estava preocupado com você.
— Gostaria de saber o que esse bendito dgim queria ao trazê-los para cá – resmungava Flyn que tinha Tildo no colo e acariciava a cabeça do dragão que ronronava de contentamento.
— Eu ouvi ele – disse Gabe – Ele me falava que os meus poderes eram muito fortes e que eu deveria ser treinado por mestres, pelos dragões, mas eu não queria ir e ele me trouxe aqui sem meu consentimento. Meu pai deve estar preocupado.
Maleah cuspiu as ervas e olhou para o primo.
— Precisamos voltar – disse com a voz rouca.
— Você não está em condições de viajar e sabe disso – disse o primo com a voz dura – Vão se passar pelo menos uma semana antes que possamos pegar a estrada – olhou o rostinho triste de Gabe – Sei que quer voltar para casa Gabe, mas temos que esperar uns dias até que Maleah esteja bem. Enquanto isso porque não treina seus poderes com Sanet?
O menino balançou a cabeça concordando, mas com dor no coração pensando no pai e nos irmãos.
sua estoria esta ficando mais emocionante, vou esperar o proximo capitulo ansiosa,estou encantada com ela.
ResponderExcluirbjs lu
Muito boom. Li tudo em um dia.
ResponderExcluirE eu sabia q Shon era filho do Dylan kkkk
ansiosa esperando pelo próximo capítulo.