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sábado, 28 de julho de 2012

O Escravo - Capitulo 16 - Vida e Morte

Capitulo 17 – Morte e Vida



Eu não conheço muito de armas, na verdade eu sempre considerei algo que não fosse seus punhos coisa de fracos, a maioria da galáxia vive de combates corpo a corpo. Campos de força individuais haviam tornado as armas pessoais obsoletas, mas em Aurifen as guerras não só tinham armas individuais como também bombas de poder devastador. Pelos auto falantes ouvimos o nome da mais temida de todas.

— Atenção a toda base! – era a voz de Erim fria e objetiva – Protocolo 21! Repito! Protocolo 21! O hangar foi atacado por uma bomba de fusão e as ondas de choque estão chegando até aqui! Protocolo 21!

Protocolo 21 era o modo como era chamado o plano caso a base fosse atacada por uma dessas bombas o que todos achavam praticamente impossível.

Uma bomba de fusão não era maior que um míssil pequeno, mas ele se auto alimentava causando uma reação em cadeia criando um pequeno sol com os materiais que ela se alimentava. Em um raio do cerca de quarenta quilômetros e com vinte de profundidade se formaria um buraco de lava incandescente. O problema era que não havia apenas a base ali, cerca de três cidades seriam destruídas, três cidades, três milhões de pessoas morrendo na agonia de ter seus átomos puxados aos poucos por algo que ia lembrar um buraco negro até entrar em fusão.

— Maldito! – Abrahan gritava me arrastando – Eu deveria ter matado aquele desgraçado! Ele nem mesmo está ai para as pessoas! Ele só que nos matar!

— Precisamos descer para os níveis inferiores! Será que os outros vão conosco?

— Cada um foi treinado para isso Andrew. Alem disso temos o nosso ponto de encontro!

Sim eu me lembrava! Iríamos nos encontrar na entrada no túnel de fuga, esperando até o ultimo segundo, mas se não aparecesse tinha que fugir e continuar a luta.

A base agora rangia como um animal nos estertores da morte. A nossa volta as pessoas corriam e os oficiais tentavam evacuar o mais ordenado possível. Tínhamos que usar as escadas, pois os elevadores eram muito perigosos.

Uma nova explosão balançou a base enterrada na terra. Um estranho rugido vinha de todos os lados e as pessoas começaram a gritar apavoradas com o que podia acontecer. Desciam aos tropeços as escadas.

Abrahan segurou a minha mão com medo de me perder, mas no meio do pandemônio foi inevitável! Fomos separados e eu solucei de medo e raiva olhando em volta.

Sabendo que o melhor caminho era continuar eu fui descendo com o rio de pessoas, mas tive o meu caminho barrado quando a estrutura já não mais suportou e uma parte do teto caiu bem na minha frente. Dei um pulo e por centímetros não fui atingido, mas muitas pessoas não tiveram a mesma sorte e eu desviei meu olhar do sangue, dos pedaços e dos gemidos.

Recuamos e saímos para um corredor dez andares antes do ultimo nível. O bom é que haviam quatro lances de escadas e eu esperava que pelo menos um deles não estivesse bloqueado.

Vocês devem estar pensando no quanto eu sou egoísta por não ter parado e salvo as pessoas presas, mas eu nada podia fazer e mesmo que quisesse, se um dia você estiver em uma situação de vida ou morte, vai entender. O instinto de sobrevivência toma conta de você, joga adrenalina no seu sangue e o empurra para a fuga. Talvez mais tarde eu chorasse por minha covardia, mas agora eu só pensava em sair da armadilha que aquela base havia se tornado.

As pessoas a minha volta se dispersaram procurando as escadas e eu fui para a parte da estrutura da base que parecia mais estável que era aquela oposta a explosão da bomba, isto é, o oeste da base.

Corri pelos corredores onde as luzes piscavam e logo a única coisa que restava eram as luzes de emergência vermelhas e fracas. Suas baterias iam durar duas horas e depois disso só haveria escuridão, todavia eu tinha a impressão que depois de duas horas não haveria mais base para ficar escura.

Pelo oeste não havia pessoas e eu percebi que estava ao nível dos laboratórios e foi quando topei com estranhos vestidos de preto com armas em punho e percebi que eram soldados do império fazendo o rescaldo para que nada fugisse da base.

Escondi-me atrás de uma porta quando eles começaram a disparar.

— Merda! Merda! Merda! – eu não parava de xingar vendo a minha vida ser ceifada por um punhado de porcos governamentais.

A base inclinou-se gemendo e eu fui jogado de encontro a parede e percebi que era a minha chance. Os soldados também estavam desequilibrados e eu pude sair correndo oposto ao lado que queria ir, com raios das armas explodindo à minha volta como fogos de artifício e seus estilhaços de calor queimando a minha pele. Eu não sentia nada, mas sabia que se sobrevivesse aquilo ia doer como o diabo.

Gritei para as pessoas que achei pelos corredores e um oficial da base passou correndo por mim para tentar fazer algo, mas eram dez contra um. Não suportei a curiosidade e olhei para trás para ver o pobre ser morto pelos militares e sua arma voar até mim.

Olhei para a arma que lembrava muito os rifles AR15 do século XX da Terra. Quase que automaticamente eu peguei a arma. Minha mão tremia e eu podia ter atirado, eu apontava para eles, podia ter feito algo, mas me envergonho dizer que fui covarde e isso causou o desastre que foi em seguida.

— Andrew! – alguém se lançou à minha frente me abraçando e senti o impacto da arma nas costas da pessoa.

Caímos os dois juntos e quando percebi era Erant sorrindo para mim, o rosto sujo de fuligem, o sangue escorrendo por sua boca e um buraco se formando em seu abdômen, queimando lentamente o seu interior.

Eu não sei explicar o que aconteceu em seguida. Era como se não fosse eu, era como se tivesse sido possuído por um espírito e peguei a arma caída e comecei a atirar com uma precisão tamanha que não dei chance para os outros. A arma era potente o suficiente para derrubar parte do teto em cima deles e logo ali havia um punhado de ferro retorcido.

Ofegava cheio de raiva e com um jubilo estranho por ter vencido e, que Deus me perdoe, por ter matado eles.

Joguei a arma no chão e corri para Erant. Ele ainda sorria para mim e murmurou com dificuldade.

— Vá!

— Não! Não sem você!

— Vá... Andrew... eu não... tenho mais... tempo. Cuide de todos e do meu sobrinho.

Vi quando a luz da vida deixou seus olhos. Eu gritei, gritei e gritei até que estava ficando sem voz. Minha vontade era ficar ali, esperando ser soterrado pelos destroços, mas e ai? O que Erant fez ia ser em vão?

Beijei a testa dele fechando seus olhos e comecei a correu a procura de uma escada. A arma ficou para trás e eu jurei que nunca mais ia matar ninguém.

As paredes agora pareciam que estavam sendo retorcidas por um gigante irado. Aos tropeços eu corria, caia e via cadáveres por todo o lado.

Cheguei até uma escada e comecei a descer. Minhas pernas pesavam e sabia que a descarga de adrenalina estava passando.

A escada estava livre e em uma curva quase cai! Abrahan, Ian, Yaci e (pasmem) Tiol subiam as escadas em um grupo.

— Andrew! – Abrahan gritou aliviado.

Eles haviam voltado por minha causa! Não conseguia acreditar naquilo!

Desci correndo e pulei nos braços de Tiol tremendo e chorando. Só agora o choque chegava até mim e eu começava a cair aos pedaços.

Tiol ficou rígido e me afastou, mas havia algo em seu olhar, algo que foi muito fugaz para que eu percebesse o que era.

— Andrew você viu Erant? – perguntou Yaci muito preocupado.

Há um modo delicado de dizer a um pai e aos seus irmãos que seu filho, seu irmão, morreu? Não, não há.

— Lá em cima. Ele morreu me protegendo.     

Abrahan encostou-se na parede e parecia que ia desmaiar, Yaci abraçou a Ian e Tiol me olhou com raiva. Enfrentei seu olhar torcendo os lábios irado. Eu estava me sentindo culpado o suficiente para ter esse projeto de príncipe me encarando e eu não ia deixar o sacrifício de Erant em vão.

— Vamos! – gritei para eles descendo as escadas.

Não olhei para trás para ver se vinham. A decisão de viver ou morrer cabia a cada um deles, mas eu não tinha mais a minha vida nas minhas mãos, ela pertencia a Erant e eu ia reverenciar a vida dele vivendo a minha e cuidando de meu filho do melhor modo possível.

Cheguei a um imenso ambiente cavernoso e percebi que parte da estrutura havia caído. Estávamos presos ali.

— As naves! – Tiol gritou – Podemos usar as naves individuais.

— O poço de decolagem de dupla estrutura, deve estar inteiro! – disse Yaci correndo para os fundos da sala.

Havia ali dez pequenos caças estreitos, no formato de uma seta e onde apenas duas pessoas cabiam.

— Tiol leve Andrew, Yaci fique com Ian e eu piloto o outro sozinho. Se nos separarmos nosso ponto de encontro é na casa da vovó!

Ninguém discutiu, não havia mais tempo. Acima de nós o metal rangia, estalava e gritava.

Pulamos para os caças e entramos em suas cabines estreitas. Tiol ia no banco à minha frente manipulando os controles com pericia. Cada caça teve a cabina fechada por uma capota de vidro e eu me senti terrivelmente exposto.

— Como a gente vai tirar essas coisas daqui? – perguntei para Tiol.

— Vai ver!

Ele ligou os jatos verticais e fomos empurrados para cima com a velocidade de um balão de gás furado. Acima de nós a boca escura de um túnel nos engoliu e subimos vertiginosamente no escuro. Tiol manipulou os controles empurrando o bico da nave para cima e começou a disparar as peças de artilharia da nave e eu vi o céu azul acima de nós um segundo antes de sairmos para a luz do dia pegando as naves do governo de surpresa.

— Coloque o cinto Andrew! – Tiol gritou fazendo manobras para escapar dos tiros e em um minuto estávamos de lado e no outro de cabeça para baixo.

O mundo girava e eu estava a ponto de vomitar. O brilho dos raios de calor passou a direita e Tiol empinou a nave rumo ao espaço, mas a perseguição não parava.

Saímos da atmosfera e eu pude olhar maravilhado o universo brilhando a minha volta, era quase como se eu pudesse tocar as estrelas através do vidro blindado do caça.

A nave rumava para um grande amontoado de pedras.

— Você está indo para os asteróides Tiol! – gritei para ele empurrando o seu banco.

— Para com isso! Vai matar nós dois idiota. Os asteróides é a nossa única chance!

— É a nossa morte! Ninguém pilota em meio a milhões de pedras voando à nossa volta a 45.000 quilômetros por hora!

— Eu piloto!

— Você é louco!

— Eu comprei você, acho que sou mesmo.

— Idiota!

— Feche a matraca Andrew!

— Quando descermos você me paga.

Ele apenas resmungou e realmente entrou nos asteróides. Havia pedras do tamanho de grãos de poeira até mesmo pequenos planetas a nossa volta, girando e colidindo uns nos outros como se uma criança brincasse com elas.

Tiol pilotava bem, mas não tão bem. Uma pedra do tamanho de uma montanha voou acima de nós nos prensando entre duas pedras ainda maiores. Pulamos fora, mas a nossa asa foi atingida.

A nave deu um solavanco e tivemos que sair dos asteróides. Fora desses pudemos ver os destroços das naves que tentaram nos seguir, mas outros foram mais inteligentes e voaram ao nosso encontro.

Com uma curva fomos direto para Aurifen, para a sua parte que era noite. Tiol xingou a acelerou a nave à potencia máxima, cortando a atmosfera como uma raio, mas a nave cambaleava e sabia que não ia suportar um combate.

— Precisamos de uma distração – disse ele me olhando de lado – Eu vou ejetar a gente e explodir a nave e esperar que eles acreditem que ela explodiu.

— Esse é o seu plano?!

— Se você tem outro eu escuto, mas se não o tem cale a boca e se segure!

A cabine de comando era uma grande célula salva vidas, feita para suportar grandes impactos e salvar seus ocupantes, mas não sei se ela podia suportar uma explosão de depois cair na terra sem matar a gente.

Com um clique a cabina se soltou e um segundo depois o caça explodiu como uma imensa bola de fogo iluminando a noite do planeta lá embaixo e a cabine salva vidas caiu como um uma estrela cadente feita de fogo rumo à terra.  



quarta-feira, 25 de julho de 2012

O Escravo - Capitulo 16 Sabendo Certas Verdades

                                                                             VALDI

Gostaria de agradecer a todos que visitam o blog por sua visita e por seus comentarios. Cada um de voces faz esse bolg e gostaria de dar um agradecimento especial a Sonhador que me deu uma ótima ideia sobre Valdi e pode apostar que vou arranjar para ele alguem maravilhoso. Beijos!



Capitulo 16 – Sabendo Certas Verdades



— Há! Há! – disse sentando na maca e olhando para Yaci e depois Abrahan – Muito engraçado vocês dois. Eu aqui achando que estou com uma doença terminal e vêem gozar com a minha cara.

— Mas é verdade – Yaci estava fazendo força para não rir.

— Palhaços! – resmunguei pronto para ir embora quando uma mulher saiu com meu médico.

Mulheres são raras em Aurifen e por isso mesmo muito valorizadas. Normalmente elas tinham mais de um marido por seu poder de procriação. Ela estava vestida com um jaleco azul, símbolo dos médicos do planeta e podia considerar ela uma mulher muito bonita com cabelos prateados curtos, olhos vermelhos sérios e corpo bem formado.

— Andrew não é? – disse ela olhando para alguns papéis – O médico que te atendeu me chamou.

— E a senhora é...? – sei que podia estar parecendo grosseiro, mas a brincadeira daqueles dois estava entalada na minha garganta.

— Geneticista e obstetra Dra Nateren Imere.

— Obstetra? – voltei para Yaci – A brincadeira de vocês não está indo longe demais?

— Não há brincadeira aqui senhor Andrew – disse a médica em tom cortante – Por favor, venham a minha sala.

— Eu não vou a sua sala enquanto não souber o que está acontecendo!  - emburrado cruzei os braços.

— Você vai para a minha sala agora ou eu vou chamar um guarda e mandar carregá-lo até lá! Certo!

— Certo – que mais eu podia dizer diante daquela mulher que parecia mais ameaçadora que o imperador?

A sala dela ficava ali perto e entramos os quatro. Era uma sala simples, com duas poltronas, a mesa dela e uma porta que dava para uma sala de exames.

— Muito bem – ela se sentou e pediu para que eu e Abrahan sentássemos – Eu vi o escâner do seu corpo senhor Andrew e o que ele me mostrou é deveras curioso. O senhor nasceu de uma manipulação genética, não é?

— É – disse de má vontade, ela não precisava me perguntar isso! Estava na cara em qualquer exame genético.

— Bem o senhor desenvolveu um ovário inativo, seria apenas um apêndice se alguém não o estimulasse a produzir um óvulo – ela ergueu a mão quando eu tentei falar – Deixe terminar! Seu corpo produziu um óvulo que foi fecundado e introduzido em um útero artificial em uma cavidade em seu abdômen.

— A... – foi um comentário brilhante da minha parte, mas me dêem um desconto! Como você estaria se recebesse a noticia que ia ter um filho.

— O feto tem cerca de quatro semanas. É ainda um amontoado de células, mas que logo vai se transformar em um embrião.

— Isso é um pesadelo, só pode ser – eu não estava pensando coisa com coisa.

— A senhora está me dizendo que isso foi provocado – Abrahan olhou para a moça que assentiu.

— Em teoria esta é uma técnica que pode ser usada em qualquer homem, mas as evoluções hormonais iriam impedir isso de acontecer, mas humanos manipulados podem ter o óvulo implantado em seu corpo sem que este o rejeite. Pelo que vi do escâner, o corpo dele está produzindo hormônios que ajudam seu organismo a não expulsar o feto.

— A senhora conseguiu a assinatura genética do feto? – Yaci parecia se divertir com aquilo.

— Sim, pertence ao príncipe Tiol.

— Não é possível! – eu gritei – Eu não sou uma mulher! Olha pra mim! Sou um homem! Eu não posso engravidar!

— Não sozinho Andrew – disse a médica com toda a sua paciência – Mas tudo foi fabricado para você ter este filho e seu corpo o reconhece, ele é parte de você agora. Isso não o torna menos homem.

— Tira de mim! Se for verdade tira de mim!

— Andrew! – Abrahan gritou para mim – Gerar a vida é um dom! nós não praticamos abortos em nossa cultura.

— Eu não sou assassina senhor Andrew! – a voz dela cortava como uma navalha bem afiada – E se tentar fazer algo com a criança vai ser julgado como assassino aqui em Aurifen.

— Eu não posso ter essa coisa comigo! – eu estava descontrolado e ia gritar novamente com ela quando Ian deu um tapa em meu rosto.

É isso mesmo, o pequeno Ian me deu um doloroso tapa para que eu voltasse ao mundo do bom senso.

— Você me bateu?! – eu estava pasmo.

— Olha o que você está falando Andrew! – disse ele em um só fôlego – Está tentando praticar um assassinato contra uma pessoa que nem mesmo pode se defender! Contra o seu próprio filho!

Eu podia ser muita coisa nessa vida, mas nunca matara ninguém e não sabia mesmo se teria coragem algum dia disso. O que Ian estava falando era certo, mas eu estava assustado e isso eles não pareciam notar.

— Eu não sei o que fazer! – gritei puxando os meus cabelos em total desespero.

— Ele consegue levar a gravidez até o fim? – agora Yaci parecia serio.

— Pode – respondeu a doutora – Devemos tomar cuidado e fazer consultas diárias, mas ele pode – ela me olhou com seus olhos frios vermelhos – Andrew você sabe como isso aconteceu? Quem fez essa cirurgia em você?

— Não, eu tenho idei... – de repente algo veio em minha cabeça – Mas eu tive um sonho esquisito, sonhei que estava em uma sala de cirurgias com um homem desconhecido e com o imperador e que eles faziam algo comigo e com outra pessoa.

— Devem ter usado algum calmante – disse ela balançando a cabeça – Eu ouvira rumores de uma pesquisa assim, algo que podia aumentar o numero da nossa população, afinal nunca conseguimos fazer clones ou mesmo manipular geneticamente os fatos para nasceram mais fêmeas. De acordo com os estudos isso acabara dando em nada, mas parece que o imperador continuou com a pesquisa e conseguiu seu especimen ideal para os testes.

— Eu não sou um rato de testes de laboratório! – disse indignado.

— Espere Andrew – Abrahan se virou para mim – Você disse que havia dois de vocês lá?

— Bem foi isso que ouvi do imperador.

Abrahan olhou automaticamente para Ian que arregalou os olhos.

— Eu não tive nem um sonho – disse ele vermelho.

— Vamos ver isso menino – disse Nateren se levantando e indo para a sala de exames.

— Tudo bem pequeno – disse Yaci se levantando e segurando a mão do outro – Eu vou com você.

Eles entraram na sala me deixando perdido ali.

— Andrew? – Abrahan fez um carinho nos meus cabelos e sorriu de um modo que iluminou seu rosto cansado – Eu estou muito feliz em ser avô, saiba disso.

— Porque ele usaria o esperma de Tiol em mim?

— Adamas acredita na supremacia de sua família. Ele nunca ia correr o risco de produzir uma criança deste modo que não fosse de sua família. Imagina o tipo de propaganda que ele podia fazer com o seu neto? Seria encarado como um deus e ele ia adorar. Ele sempre gostou muito de Yaci, seu herdeiro e de Tiol, seu filho mais parecido com ele. Valdi e Erant sempre foram deixados de lado e eu agradecia por isso, mesmo que preferisse que ele deixasse todos eles.

— Você os ama como seus filhos, não é?

— Quando eu fui obrigado a casar com Adamas, sua esposa morrera há apenas uma semana e Tiol tinha apenas um mês. Todos eles eram meninos assustados com um pai que parecia estar enlouquecendo e culpando a todos pela morte dela. Ele se transformou no monstro que é hoje, mas já foi um bom imperador.

Havia uma tristeza tão grande em seu rosto que o abracei e ficamos assim até a médica voltar com Ian e Yaci que tinham um sorriso bobo nos rosto.

— Não me diga... – olhei de Ian para Yaci.

— Vou ser pai! – o homem quase dava pulinhos de alegria e Ian parecia iluminado.

— Então Yaci é o pai de seu filho? – perguntei para Ian.

— É.

— Acho que devo agradecer ao meu pai por ter usado esperma da família para isso – disse Yaci sentando e colocando Ian no seu colo que passou o olhar com adoração.

— Bem eu quero ver os dois todos os dias e vou dar uma lista do que devem e do que não devem fazer e vão seguir a risca – disse a doutora digitando no computador.

— Precisa avisar Tiol Andrew – disse Yaci fazendo carinhos do companheiro que só faltava ronronar.

— Sabe o que ele vai fazer? Mandar eu me virar. Duvido que ele goste da noticia – responde com amargura.

— Dê uma chance a ele – disse Abrahan para mim.

O que mais eu podia dar?


~~***~~~


Devo dizer que a reação dele foi bem engraçada.

Quando voltamos para o apartamento Valdi, Erant e Tiol estavam ali fazendo planos para a viagem suicida de Valdi.

Tentei fugir rapidinho para o meu quarto, mas Yaci me segurou e contou tudo com aquele seu jeito direto que me dava vontade de bater nele.

Erant e Valdi adoraram a noticia que seriam tios, abraçando a mim e a Ian, mas Tiol ficou vermelho, verde e por fim um branco doentio. Olhava estático para nós e eu quase perguntei se ele era algum zumbi agora.

— Como ele pode me usar para uma experiência?

Ótimo! Ele estava indignado por que ELE fora usado por seu pai? E eu? Eu carregava o filho dele dentro da minha barriga e ele fazia de conta que nada estava acontecendo.

— Você? – gritei com ele – Seu saco egoísta de merda!

— Do que você me chamou? – ele havia se levantado possesso.

— Está com os ouvidos sujos Tiol? – reclinei-me no sofá olhando para ele – VOCÊ só pensa em VOCÊ! Nem passou pela sua cabeça que eu estou grávido, um homem numa situação das mais estranhas e com um filho SEU e você fica gritando que foi usado pelo seu pai? Eu preferia ter tido um filho de Valdi que é um homem de verdade e não de algo como você!

— Olha só como fala comigo escravo!

— Escravo a tua avó! – gritei no mesmo tom – Eu não sou mais escravo seu, sou um homem livre e se acabei ficando assim, ótimo! Agora eu tenho uma família e ela não precisa de um idiota insensível e que olha mais para o umbigo que a sua volta!

— Isso não é um filho! Não passa de uma experiência genética!

— Chega Tiol! – Abrahan havia se levantado muito contrariado – Você está falando do seu filho e por mais medo que tenha disso, agora ele é sua responsabilidade! Não adiante se esconderem atrás de gritos e acusações que isso não vai dar em nada. Cuide de Andrew e da criança que ele carrega com o amor que sei que você tem filho – Abrahan tocou no rosto do filho caçula com um carinho que ele não merecia – Pare de agir assim, por favor! Eu quero meu filho de volta Tiol. Aquele garoto alegre, que sempre estava pronto para iluminar o meu dia. Sei que ele não morreu que está dentro de você. Se continuar assim, só vai conseguir ficar só e amargurado e eu não quero isso para um filho meu.

Tiol olhou para o pai com lagrimas nos olhos e para mim com absoluto pânico. Tudo bem! Eu vivi sozinho a minha vida toda, não ia precisa r de alguém agora!


~~***~~~


Valdi ia partir naquele dia. Foram um mês de preparações nos mais ínfimos detalhes e um mês que eu queria esquecer.

Passei cada dia vomitando ou ficando tonto até que percebi que o lugar mais seguro para mim era a minha cama.

Tiol ainda me olhava como se eu fosse uma estrela super-nova pronta para explodir, mas ele começara há passar algum tempo comigo, acredito que por mais imposição da médica que de qualquer coisa.

Descobri que fetos aurifenses necessitam ter os dois pais junto dele. Ouvindo suas vozes e sentindo o calor deles. Assim Tiol massageava a minha barriga, primeiro automaticamente e depois de um tempo ele a olhava com carinho quando achava que eu não o via.

Eu não havia engordado nada que fosse significativo, mas isso ia começar depois do quarto mês, todavia no escâner ele aparecia se desenvolvendo.

Ver na tela era estranho e mais estranho ainda era saber que estava dentro de mim.

Já Yaci e Ian pareciam estar vivendo uma lua de mel eterna que um dia reclamei que ia ter uma over dose de açúcar com os carinhos e palavra melosas que trocavam, mas a verdade era que eu estava morto de inveja. Mesmo com Valdi, Erant e Abrahan ali para mim eu me sentia só, cansado e... (para o meu infinito desespero) carente. Eu botava a culpa nos hormônios, mas a doutora, com aquele seu jeito delicado, havia me dito que os hormônios que meu corpo estava liberando não afetavam o humor.

Estava na sala de comando, que conseguira passe livre depois de prometer a Erim que ia trazer Abrahan comigo. O chefe de revolução só faltava babar no consorte real, que o tratava com fria educação.

As telas estavam focalizando várias partes, mas em uma delas eu via duas naves atacando uma cidade cheia de neve.

— A central de comando aérea – disse Erim chegando perto de mim que estava sentando junto com Abrahan – Estamos atacando ela para criar distração suficiente para Valdi escapar.

— Ele vai ter que acelerar muito na atmosfera – Abrahan estava muito preocupado com o filho – Isso vai criar um rastro de fogo no ar.

— Em trinta segundos ele vai ser localizado mesmo, então privilegiamos a velocidade.

— Ainda acho que isso é uma loucura.

— Se houvesse outro modo Abrahan – Erim tentou colocar a mão no ombro do outro que logo fugiu ao seu toque – Infelizmente nós precisamos de ajuda aqui.

— Valdi está partindo – disse Tules para a sala que olhava para uma pequena nave sair como um raio do hangar que ficava em uma parte distante da cede da revolução.

A nave tinha o formato de um disco achatado de cerca de quinze metros de diâmetro por cinco de altura. Era uma nave de curso médio, para até mil anos-luz, mas era veloz e podia acelerar muita rápido e era com isso que contávamos.

Não tínhamos comunicação com Valdi, pois as ondas de radio podiam ser localizadas.

Vimos ele queimar a atmosfera tal a sua velocidade e também quando um enxame de naves menores a perseguia quando estava saindo da mesosfera do planeta e depois disso nada mais podemos captar.

Deus eu esperava que ele estivesse bem, mas eu tinha as minhas dúvidas com tudo aquilo atrás dele.

— O merda – xingou Tules olhando para a tela onde as naves atacavam o centro de controle aéreo de Aurifen.

Abatidas, eles caíram para o solo como bolas de fogo. Os caças do governo nem mesmo havia esperado eles saírem fora da cidade que cercava o centro, agora as casas em volta ardiam em centenas de pontos onde pedaços e combustível haviam caído. Os pilotos não conseguiram ejetar e deviam ter morrido do um jeito terrível em meio a todo o fogo.

Era a primeira vez que eu via a guerra nua e crua na minha frente e não pelos relatos de outras pessoas e eu juro que não queria ver mais.

Pensar naquelas pessoas queimando vivas e de como o governo nem mesmo se importava com a população lá embaixo havia deixado meu estomago embrulhado e meus olhos ardendo.

Algumas pessoas choravam e um rapaz que manipulava alguns computadores eram amparado por Tules. O rapaz era noivo de um dos pilotos das naves que haviam dado a vida em uma tentativa desesperada de Valdi conseguir ajuda.

— Andrew, vamos – Abrahan me puxou para fora da sala e antes que percebesse eu caíra em seu braços chorando.

— Odeio isso – gemi para ele.

— A guerra é algo terrível Andrew. Os governantes brigam e o povo sofre.

Antes que respondesse algo sacudiu a base até os alicerces e se Abrahan não estivesse me segurando eu tinha ido ao chão como muitas pessoas a minha volta.

Segundos depois sirenes começaram a tocar enlouquecidas e eu participara de treinamentos suficientes para saber ao que aquilo significava: a base estava sendo atacada!


domingo, 22 de julho de 2012

Capitulo 15 - Intermezzo

                                                                            Andrew



Capitulo 15 – Intermezzo1



Depois de estar algumas horas trancado Ian foi me ver. Ficara chorando como um idiota e meus olhos estavam vermelhos e inchados, me sentia um caco.

— Andrew se quiser conversar... – Ian disse naquela sua voz mansa que de algum modo conseguia acalmar um pouco os meus nervos.

— Não agora, Ian.

— Tudo bem – ele acariciou os meus cabelos – Mestre Yaci conclamou a população contra o atual Imperador.

— O que? – sentei-me na cama de supetão – Como foi isso.

Ian começou a sua história e eu usei a minha imaginação novamente...

~~***~~

Yaci depois que deixou Ian no alojamento foi procurar Erim Gnare que estava em uma parte do complexo onde ficava o centro de comando.

Era uma imensa sala circular cheia de telas e computadores, pessoas iam e vinham, mas quando o príncipe entrou pararam para inclinar a cabeça para ele em sinal de respeito. Yaci não esperava isso vindo dos revolucionários, mas gostou da demonstração de respeito deles, mostrando que podia ser mais fácil lidar com a situação se eles não desconfiassem dele a cada segundo.

Foi até Erim que estava em uma mesa em um canto com um homem alto e vestido de negro que observava um mapa em 3D holográfico na mesa. Era a representação da capital econômica e arredores até o castelo do Imperador.

— Ola Yaci – disse o ex-jardineiro sorrindo – Este é Uliam Soltec, meu segundo em comando.

Uliam inclinou a cabeça para ele e Yaci fez o mesmo em sinal de respeito deixando o revoltoso pasmo. A nobreza não costumava mostrar respeito por pessoas do povo.

— É um prazer Uliam – disse ele e voltou seus olhos para o mapa – O que estão procurando?

— Na verdade estamos olhando a movimentação do seu pai – respondeu Erim – Desde que vocês sumiram ele não lançou uma ordem de busca, mas suas tropas estão se deslocando para as capitais do império. Ele fechou Tvs e rádios por todo o planeta e começou a controlar as mensagens via satélite. A lua Aurilien está praticamente isolada com proibição da saída de qualquer nave de lá. Há naves em prontidão fora do mundo e as principais cidades estão com lei marcial.

— O que ele está fazendo? – Yaci resmungou debruçando-se sobre o mapa.

— Imaginamos que ele esteja se preparando para a guerra – disse Uliam olhando o príncipe que franziu o cenho contrariado.

— Eu não esperava por uma reação tão rápida dele – disse Yaci.

— Temos que contratacar logo – disse Erim – Seu pai controla os satélites, mas conseguimos invadir a rede de computadores a assim ter uma brecha. Vai durar poucos minutos, mas podemos usar de tudo desde as redes domesticas de TV até mesmo as comunicações do exército – colocou a mão no ombro de Yaci – Para isso Yaci eu preciso de você. Preciso que seja você a se comunicar com os aurifenses, a conclamá-los e se revoltarem contra o Imperador.

— Isso não vai ser tão fácil, mas eu tenho certeza que uma parte dos militares vai estar do meu lado.

— Você tem alguem lá dentro? – perguntou Uliam.

— Sim tenho e acho que podemos usá-lo bem. Ele pode começar a mostrar o caminho da revolução para aqueles que querem e tentar tirar da linha de fogo a população de inocentes.

— Você sabe que isso não vai impedir que a guerra mate, Yaci – disse Erim serio – Infelizmente vamos ter que enfrentar a morte muitas vezes enquanto procuramos derrubar o imperador.

— Isso não vai me impedir de tentar Erim. Eu não seria melhor que o meu pai se não procurasse salvar o máximo possível de vidas.

— Acho que escolhi certo – disse Erim sorrindo colocando a mão no ombro dele – A transmissão está pronta para você. Assim que se preparar podemos iniciar.

— Eu estou pronto!

Eles foram até uma parte da sala onde havia um grande aparato de computadores e onde um rapaz de prateados cabelos curtos manipulava com os fones de ouvido.

— Tules – Erim colocou a mão no ombro do outro que olhou para eles com belos olhos castanhos mostrando que era um mestiço – Esse é o príncipe Yaci e ele vai usar o tempo que você nos conseguiu com o satélite.

— Principe?! – Tules deu um pulo derrubando os fones –Meus deuses me desculpe! – ele se inclinou fazendo exageradamente tropeçando no fio do fone.

— Está tudo bem Tules! – Yaci riu segurando o ombro do outro.

— Me disseram que você estava aqui, mas eu achei que era só fofoca. Eu não acredito que o herdeiro do trono está aqui e vai se juntar a revolução! Isso é tão legal!

— Tules por favor – Erim revirou os olhos – Assim você sufoca ele e alem do mais não temos muito tempo.

— Está bem, está bem – resmungou o rapaz puxando o fone do chão e enroscando todo nele fazendo Uliam bufar irritado e o outra lhe mostrar a língua.

— Nossa como você é maduro Tules – resmungou Uliam contrariado.

Finalmente o outro conseguiu se desembaraçar dos fios e sentar começando a manipular os computadores como uma velocidade que deixou Yaci tonto.

— Pronto príncipe – disse ele se voltando para Yaci – É só apertar este botão e olhar para a pequena tela à sua frente que a transmissão vai começar. Vai durar cerca de cinco minutos, mais que isso pode revelar a nossa localização.

Yaci olhou para a tela onde um relógio digital no canto superior estava parado. Respirou fundo ciente que estava dando um passo gigantesco, um o passo que ia levar o seu mundo a uma guerra generalizada se fosse bem sucedido.

Apertou o botão colocando e ergueu o queixo para a tela.

— Aurifenses, vocês me conhecem como o príncipe Yaci, herdeiro do trono de Aurifen. Meu pai, o imperador, está levando o nosso mundo a ruína e cada um de vocês já percebeu ou sentiu isso. Ele não aceita ser legitimado pelo povo, pois sabe que ele não é aceito por vocês. Durante toda a nossa história o povo legitimou seus governantes e estes respeitaram o povo, mas Adamas não fez isso! Ele desdenha da vontade de vocês, ele desdenha dos seus direitos! Olhem para o nosso belo mundo e me digam se ele está bem, se está prosperando. Nossa economia está cada vez mais frágil, nossa política é está nas mãos de um só homem! Nem mesmo os conselheiros do povo ele admite ter! Levantem aurifenses contra isso! Eu estou pronto para ir com vocês combater o meu pai, restabelecer a ordem e aceitar a vontade do povo pelo voto de legitimação. Para isso me uni a revolução que não quer mais nada que os seus e os nosso direitos sejam respeitados e o nosso mundo siga em frente na sua antiga glória. Eu e meus irmãos e mais Abrahan The Araty, consorte do meu pai estamos unidos para que isso aconteça – ele se aproximou da tela – Vocês tem direitos que devem ser respeitados. Cada um de vocês é se suma importância para o nosso mundo e estou falando dos aurifenses, dos humanos e dos mestiços que devemos parar de tratar como escravos ou simples restos de um povo. Eles também são aurifenses! Por tudo isso lutem! Lutem pelo nosso mundo! Lutem por seus direitos! Lutem sua liberdade!

Yaci encerrou a transmissão alguns segundos antes de o relógio bater cinco minutos. Ele se inclinou para o painel cansado e sentindo um enorme peso nos ombros. Quantas vidas iam ser perdidas com isso?

De repente a sala se encheu de palmas. Cada pessoa que estava ali batia palmas para o príncipe e tinha um sorriso nos lábios.

— Por Aurifen! – gritou um rapaz e logo todos gritavam.

— Você fez o certo – Erim colocou a mão no ombro dele.

— Acho que não há certo ou errado nesse caminho Erim. Todos os caminhos vão para a guerra e a guerra nunca é algo certo.

~~***~~~


— Foi um belo discurso – disse Ian com os olhos brilhando.

— Eu nunca vi uma guerra, mas li sobre elas – sentei abraçando os joelhos – Eles são terríveis.

— Há outro caminho?

— Eu não sei Ian. Não pertenço ao governo ou algo assim. As vezes eu só queria ficar quieto em um canto e ver se eu desapareço com o tempo.

— Andrew você está estranho. Sabe, uma das coisas que me chamou a atenção quando o conheci foi a sua tenacidade, sua força. Por favor não perca isso.

— A vida, pelo menos a minha, parece tão vazia Ian. Não há nada no meu futuro pra mim me segurar.

— Então vamos nos segurar no presente. Viver um momento de cada vez e por mais clichê que isso pareça ajuda a seguir em frente.

Olhei de lado para ele sorrindo fracamente.

— Você não vai me deixar desistir não é?

— Pode apostar que não! – ele deu um sorriso – Olha temos uma cozinha e eu trabalhei em um restaurante antes de ser vendido como escravo. Que tal fazermos o jantar?

— Eu na cozinha? – balancei a cabeça – Sou o maior desastre natural perto de uma panela Ian.

— Então está na hora de resolvermos esse problema! Lave o rosto e me encontre na cozinha, vou chamar o Abrahan para ele não ficar sozinho no quarto.

Deu um pequeno sorriso quando ele saiu pensando no que teria acontecido se não estivesse ali. Levantei logo não querendo pensar nisso.

~~***~~


Não vi os príncipes por dias e estava ficando sufocado de ficar ali trancado. Ian não parecia ter esse mesmo problema, sempre alegre cuidava para que nada faltasse a mim ou a Abrahan, mas eu percebia a sua tristeza, ele sentia falta de Yaci.

Depois do que acontecera eu simplesmente procurava não ficar pensando em Tiol, mas eu não podia impedir Abrahan de falar dele. De acordo com o antigo consorte real, Tiol havia se juntado aos irmãos na luta contra o pai e pelas noticias que víamos na TV, mesmo censuradas pelo governo a coisa não estava boa.

Uma parte da população havia ouvido Yaci e exigido as eleições, mas o Imperador havia mandado demolir a Assembléia do Povo, uma prédio antigo onde os representantes do povo promoviam discussões sobre Aurifen e sua política. Fora a gota d’água para o povo, mas os militares ainda estavam do lado de Adamas e isso enfraquecia muito o povo.

Os revolucionários haviam conseguido mais adeptos e Yaci junto com Erant haviam lhes fornecido armas das próprias forças armadas. Yaci tinha os códigos dos arsenais e o Imperador havia esquecido este detalhe e antes que os códigos mudassem três arsenais haviam sido saqueados.

Valdi tentava conseguir ajuda da Federação da Terra, mas com as comunicações cortadas eles tinham que usar satélites locais para a transmissão o que restringia o seu alcance.

— Vou tentar sair do planeta – disse Valdi em um dia que estava comendo conosco.

— Seu pai não está bloqueando todo espaço aéreo? – perguntei preocupado.

— Há uma pequena brecha que os técnicos da revolução conseguiram, uma janela por assim dizer, que vai me manter invisível por alguns minutos.

— Meu filho – Abrahan andava pálido e abatido – Isso não vai impedir eles de localizarem a nave assim que sair do solo.

— Vamos criar alguma distração – disse Yaci entrando na cozinha e sorrindo para eles.

— Mestre! – Ian parecia que ia derreter na cadeira.

— Mas isso é um tiro no escuro como fala em meu mundo – voltei-me novamente para Valdi – A Federação não se envolve com problemas internos dos mundos.

— Mas vai me ouvir quando souber como os humanos são tratados aqui em Aurifen.

— Epâ! A Terra não vai intervir com humanos interiores Valdi, vai colocar a sua vida em risco á toa.

— Precisamos tentar – disse ele me olhando decidido – Eu conheço um pouco sobre os humanos da Terra e sei que são pessoas prontas para ajudar aqueles que precisam.

— Mas Andrew está certo – disse Abrahan – A Terra não pode correr o risco de se meter em assuntos internos dos mundos ou a Federação vai acabar por controlar a vida de todos os mundos.

— Eu tenho que tentar pai.

Abrahan deu um longo suspiro percebendo que tinha perdido a batalha, mas ele ainda tinha um olhar muito preocupado e triste.

Olhei para o meu prato com a sopa de carne e de repente aquilo parecia asqueroso e antes que me desse conta minha boca se encheu de água e eu corri para o banheiro do meu quarto pondo tudo que tinha no estômago para fora.    

— Andrew? – Ian e Abrahan estavam do meu lado enquanto eu estava sentado no chão suando frio.

— Acho que não me caiu bem a sopa – tentei fazer graça, mas a verdade é que eu me sentia mau demais para isso.

— Precisa ver o médico da base – Yaci se juntou a turba e contrai o rosto com raiva – Sem manha Andrew! Estamos em um ambiente fechado onde dez mil pessoas moram. Qualquer coisa pode ser contagiosa e isso pode ser um desastre.

Eu idéio médicos, será que já disse isso? Eu odeio médicos e fim de papo.

Odeio ser apalpado, picado e todas as sandices que essas pessoas fazem conosco, por isso não me culpem se depois de uma hora eu estava deitado na maca de péssimo humor com Ian rindo de mim.

Abrahan apareceu saindo da sala do médico tão branco que eu quase sai da maca e mandei ele sentar.

— É tão ruim assim o que tenho? – em um tempo onde quase todas as doenças tem cura fiquei realmente preocupado.

— Depende – Yaci saiu da sala também pálido, mas havia um ar de riso em seu rosto.

Ei! Eu estou doente! Baixa um pouco a bola.

— Andrew você está grávido!


~~***~~~


1Intermezzo: Breve espetáculo entre dois atos de um drama ou de uma ópera.
Pequeno trecho que separa as partes principais de uma composição musical.   
Usei a expressão por achar que cabia bem no capitulo que pode ser considerado o meio da fic e onde Andrew recebe uma noticia que vai mudar a sua vida.