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quarta-feira, 11 de julho de 2012

O Colecionador de Olhos - Capitulo 3


Capitulo 3


Lucas mordeu a língua para não xingar o seu mais novo chefe que não passava do mau educado que quase o atropelara na rodoviária.

Israel Batista Almeida era um homem ainda mais bonito vestindo um caro terno cinza, com camisa azul marinho e gravata vermelha. Seus cabelos negros estavam bem penteados e os olhos verdes o olhavam que um misto de curiosidade e raiva.

— O que está esperando garoto? – disse o outro em forma de resmungo – Entre e feche a porta!

“Você precisa do emprego! Você precisa do emprego!” Lucas repetia para si mesmo como se fosse um mantra enquanto entreva na sala.

Era uma sala ampla, com uma grande janela que dava para a praça XV de Novembro onde se via as arvores balançando suavemente ao sabor da brisa. Haviam poltronas perto da mesa de Israel e perto da janela com uma mesinha de centro onde havia um jornal bagunçado. Um armário em uma parede estava cheio de livros e a escrivaninha do editor estava coberta de papéis, quase transbordando. Na parede atrás da mesa dele haviam porta retratos de Israel, uma linda moça de longos cabelos castanhos, uma casal idoso, um homem mais velho e muito parecido com Israel e três crianças com idades variadas.

— Você vai sentar ou ficar olhando?

— Precisa ser desagradável? – Lucas não pode conter a língua e depois ficou vermelho sentando na poltrona.

O rapaz não sabia de quem estava com mais raiva, se dele ou se do seu patrão resmungão.

— O que você disse?

— Disse que você é um baita sem educação! – que se danasse o emprego!

— E você não sabe o seu lugar!

— Ah! Eu sei. Sei que não em trabalhando para um troglodita que acha que ainda é feitor de escravos!

— Como você se atreve a falar comigo desse modo seu moleque! Eu sou seu patrão!

— Nem nessa e nem na próxima encarnação! Não posso trabalhar com uma pessoa que trata as outras como se fossem seres inferiores.

— Da onde você tirou isso moleque! Eu respeito e muito as pessoas.

— Com certeza – respondeu Lucas sarcástico – E eu acredito em papai Noel e coelhinho da páscoa!

— O que vocês estão fazendo? – Joana entrou encontrando os dois se encarando como se fossem pular um na garganta do outro – Se você espantar ele eu vou para casa e não volto! – a mulher cruzou os braços contrariada.

— Você também não Joana! – gritou Israel exasperado sentando.

— Você já se deu conta de quantos espantou até hoje? Foram trinta e cinco e não vou deixar ele ser o trigésimo sexto e me deixar afogada em trabalho!

— Me desculpe senhora – Lucas virou-se para ela – Mas eu não posso trabalhar com ele!

— Que bobagem menino! É claro que pode e vai! Ele pode ser um idiota, mas você está em uma das melhores revistas do estado de São Paulo, em uma empresa que cresce a cada ano. Não vai conseguir nada melhor por ai e sei que você é a pessoa ideal para o cargo. O fato de vocês tentarem se matar é apenas um detalhe desde que tentem fazer isso fora da empresa. Fui clara?

— Sim senhora – disse Lucas quase a ponto de bater continência.

— Eu ainda te demito! – rosnou Israel.

— Promessas, promessas! – disse a mulher pegando no braço de Lucas – Vamos trabalhar menino e deixar a fera lambendo as feridas.

O rosto de Israel era de quem ia gritar de raiva, mas Lucas estava começando e se divertir com a situação.




Almeida e Braz haviam passado a noite lendo e não estavam com boas caras naquela manhã, mas seu chefe estava com cara inda pior. Moura começou logo cedo gritando eles e mostrando a primeira pagina de um jornal sensacionalista onde se via a gravura de um pote com vários molhos em conserva com o titulo: “O Colecionador de Olhos Chega a Ribeirão Preto!”.

— Como diabos isso foi vazar para a imprensa! Era do que eu estava precisando! De um punhado de loucos arranjando histeria em massa nessa cidade!

— Não precisa isso ter saído daqui chefe – Almeida coçou os olhos – A internet faz todo o serviço, é só procurar por crimes parecidos por ai.

— Merda! – ele bateu na mesa com o jornal e um policial apareceu na sala.

— Doutor tem uns reportes...

— Eu não tenho nada para falar Gouveia! Já não falei isso!

O pobre policial ficou branco e correu dali apressado.

— Assim você mata o menino do coração chefe – disse Braz que não tinha medo dos gritos do delegado.

— Vão lá descobrir esse bendito assassino!

Os investigadores levantaram e foram para as suas mesas olhar seus papéis.

— Esse trabalho ainda me mata – resmungou Almeida sentando.

— Mas você gosta do que faz, não é? Afinal não estaria aqui se não fosse.

Almeida olhou contrariado para o amigo. Braz era uma das poucas pessoas a saber que ele vinha de família rica e que tinha uma considerável conta bancaria graças a herança deixada pela avó materna e que os pais haviam repassado a eles.

O policial havia comprado um apartamento e guardado o restante e seu irmão havia iniciado uma revista que ia muito bem.

Sim, ele trabalhava porque gostava do que fazia e reclamar fazia parte do seu dia a dia.

— Trabalhando gordo!

— Quem é gordo aqui! – gritou alisando o ventre liso.

Almeida revirou os olhos e empurrou ele da mesa.



Inocense conversou com o Rh e depois foi apresentada aos seus colegas de trabalho. Uma equipe bem humorada que logo a encantou.

— Finalmente um rosto bonito – disse Rafael Braga um repórter policial.

— Ei! – disse uma moça alta de belos olhos castanhos e corpo curvilíneo – Está me chamando de feia Rafael? – ela colocou as mãos nos quadris olhando de forma sombria para ele.

— Ei Raquel você é casada e eu prefiro não me meter com o armário do seu marido então mesmo que você seja uma gata eu vou jogar minhas fichas na solteira – ele ergueu as sobrancelhas para Inocense que caiu na risada.

O rapaz era dez centímetros mais alto que ela, com cabelos loiros amarrados em um rabo de cavalo, olhos azuis límpidos e com um brilho divertido neles.

— Você e Inocense vão trabalhar juntos ma parte policial da revista – disse Ana Flávia a diretora do Rh que estava com eles.

Era uma mulher de quarenta anos negra, alta e magra com os cabelos negros lisos caindo pelas costas e olhos negros com um brilho sério. Ela sorrira das brincadeiras dos reportes, mas não parecia uma chefe para se brincar.

A sala dos reportes era ampla, com mesas espalhadas de forma desordenada em meio a vasos de plantas, cadeiras que iam de uma lado para o outro com nas mesas, copos de café e muito papel.

— Juízo! – Ana levantou o dedo para Rafael e saiu deixando todos na sala rindo.

— Mas eu sou tão ajuizado! – resmungou ele o que só rendeu mais risadas.

Inocense sentou em uma mesa perto de Rafael e pensou em como seu irmão estava se saindo.

— Como é o editor? – perguntou para o outro, mas foi uma moça atrás dela que respondeu.

— O cão chupando manga!

— Débora! – uma linda moça baixinha a repreendeu – Ele é só um pouco ríspido.

— Ele jogou uma lista telefônica em mim Carla! – Débora respondeu vermelha de raiva.

— E você devolveu – disse Rafael calmamente.

— Acha mesmo que eu ia deixar ele me chamar de fútil, me jogar uma lista telefônica? Não mesmo!

— Isso não é certo – Inocense olhou assustada para eles – Um patrão não pode ameaçar um funcionário!

— Benzinho ele ainda vai jogar algo em você – disse Débora lixando as unhas – É o jeito dele. Eu acho ele um idiota, mas é uma ótimo editor e um bom patrão quando não está tentando te matar.

— Ele ainda está em choque pela morte da esposa – disse Carla com a sua voz doce.

— Por favor – Débora apontou a lixa de unhas para a outra – Isso já faz um ano e meio e ele sempre foi um grosso, a única que o aturou foi a Manuela, que Deus a tenha.

— É melhor pararem de fofocar – resmungou Paulo Ricardo levantando de sua mesa – Vou para o treino do Comercial.

— Eu tenho uma loja de modas para visitar – disse Débora pegando a sua bolsa.

— É hora do trabalho – disse Carla saindo com Débora.

— Carla e Débora trabalham na seção de moda? – perguntou para Rafael que riu.

— Não, Carla é repórter política. Ele costuma mexer com alguns vespeiros e olhando para ela se percebe que tamanho não é documento, a menina consegue ser um espinho no pé de alguns políticos da cidade e da região.

— Uau!

— Bem meu amor, temos o nosso trabalho.

— Sem essa de meu amor – resmungou a moça.

— Claro meu amor – Rafael levantou um jornal – Temos um colecionador de olhos para dar uma olhada. O que acha/

— Acho que vou adorar essa cidade!

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