Capitulo 17 – Morte e Vida
Eu não conheço muito de armas, na
verdade eu sempre considerei algo que não fosse seus punhos coisa de fracos, a
maioria da galáxia vive de combates corpo a corpo. Campos de força individuais
haviam tornado as armas pessoais obsoletas, mas em Aurifen as guerras não só
tinham armas individuais como também bombas de poder devastador. Pelos auto
falantes ouvimos o nome da mais temida de todas.
— Atenção a toda base! – era a voz
de Erim fria e objetiva – Protocolo 21! Repito! Protocolo 21! O hangar foi
atacado por uma bomba de fusão e as ondas de choque estão chegando até aqui!
Protocolo 21!
Protocolo 21 era o modo como era
chamado o plano caso a base fosse atacada por uma dessas bombas o que todos
achavam praticamente impossível.
Uma bomba de fusão não era maior que
um míssil pequeno, mas ele se auto alimentava causando uma reação em cadeia
criando um pequeno sol com os materiais que ela se alimentava. Em um raio do
cerca de quarenta quilômetros e com vinte de profundidade se formaria um buraco
de lava incandescente. O problema era que não havia apenas a base ali, cerca de
três cidades seriam destruídas, três cidades, três milhões de pessoas morrendo
na agonia de ter seus átomos puxados aos poucos por algo que ia lembrar um
buraco negro até entrar em fusão.
— Maldito! – Abrahan gritava me
arrastando – Eu deveria ter matado aquele desgraçado! Ele nem mesmo está ai para
as pessoas! Ele só que nos matar!
— Precisamos descer para os níveis
inferiores! Será que os outros vão conosco?
— Cada um foi treinado para isso Andrew.
Alem disso temos o nosso ponto de encontro!
Sim eu me lembrava! Iríamos nos
encontrar na entrada no túnel de fuga, esperando até o ultimo segundo, mas se
não aparecesse tinha que fugir e continuar a luta.
A base agora rangia como um animal
nos estertores da morte. A nossa volta as pessoas corriam e os oficiais
tentavam evacuar o mais ordenado possível. Tínhamos que usar as escadas, pois
os elevadores eram muito perigosos.
Uma nova explosão balançou a base
enterrada na terra. Um estranho rugido vinha de todos os lados e as pessoas
começaram a gritar apavoradas com o que podia acontecer. Desciam aos tropeços
as escadas.
Abrahan segurou a minha mão com medo
de me perder, mas no meio do pandemônio foi inevitável! Fomos separados e eu
solucei de medo e raiva olhando em volta.
Sabendo que o melhor caminho era
continuar eu fui descendo com o rio de pessoas, mas tive o meu caminho barrado
quando a estrutura já não mais suportou e uma parte do teto caiu bem na minha
frente. Dei um pulo e por centímetros não fui atingido, mas muitas pessoas não
tiveram a mesma sorte e eu desviei meu olhar do sangue, dos pedaços e dos
gemidos.
Recuamos e saímos para um corredor
dez andares antes do ultimo nível. O bom é que haviam quatro lances de escadas
e eu esperava que pelo menos um deles não estivesse bloqueado.
Vocês devem estar pensando no quanto
eu sou egoísta por não ter parado e salvo as pessoas presas, mas eu nada podia
fazer e mesmo que quisesse, se um dia você estiver em uma situação de vida ou
morte, vai entender. O instinto de sobrevivência toma conta de você, joga
adrenalina no seu sangue e o empurra para a fuga. Talvez mais tarde eu chorasse
por minha covardia, mas agora eu só pensava em sair da armadilha que aquela
base havia se tornado.
As pessoas a minha volta se
dispersaram procurando as escadas e eu fui para a parte da estrutura da base
que parecia mais estável que era aquela oposta a explosão da bomba, isto é, o
oeste da base.
Corri pelos corredores onde as luzes
piscavam e logo a única coisa que restava eram as luzes de emergência vermelhas
e fracas. Suas baterias iam durar duas horas e depois disso só haveria
escuridão, todavia eu tinha a impressão que depois de duas horas não haveria
mais base para ficar escura.
Pelo oeste não havia pessoas e eu
percebi que estava ao nível dos laboratórios e foi quando topei com estranhos
vestidos de preto com armas em punho e percebi que eram soldados do império fazendo
o rescaldo para que nada fugisse da base.
Escondi-me atrás de uma porta quando
eles começaram a disparar.
— Merda! Merda! Merda! – eu não
parava de xingar vendo a minha vida ser ceifada por um punhado de porcos
governamentais.
A base inclinou-se gemendo e eu fui
jogado de encontro a parede e percebi que era a minha chance. Os soldados também
estavam desequilibrados e eu pude sair correndo oposto ao lado que queria ir,
com raios das armas explodindo à minha volta como fogos de artifício e seus
estilhaços de calor queimando a minha pele. Eu não sentia nada, mas sabia que
se sobrevivesse aquilo ia doer como o diabo.
Gritei para as pessoas que achei
pelos corredores e um oficial da base passou correndo por mim para tentar fazer
algo, mas eram dez contra um. Não suportei a curiosidade e olhei para trás para
ver o pobre ser morto pelos militares e sua arma voar até mim.
Olhei para a arma que lembrava muito
os rifles AR15 do século XX da Terra. Quase que automaticamente eu peguei a
arma. Minha mão tremia e eu podia ter atirado, eu apontava para eles, podia ter
feito algo, mas me envergonho dizer que fui covarde e isso causou o desastre
que foi em seguida.
— Andrew! – alguém se lançou à minha
frente me abraçando e senti o impacto da arma nas costas da pessoa.
Caímos os dois juntos e quando
percebi era Erant sorrindo para mim, o rosto sujo de fuligem, o sangue
escorrendo por sua boca e um buraco se formando em seu abdômen, queimando
lentamente o seu interior.
Eu não sei explicar o que aconteceu
em seguida. Era como se não fosse eu, era como se tivesse sido possuído por um espírito
e peguei a arma caída e comecei a atirar com uma precisão tamanha que não dei
chance para os outros. A arma era potente o suficiente para derrubar parte do
teto em cima deles e logo ali havia um punhado de ferro retorcido.
Ofegava cheio de raiva e com um jubilo
estranho por ter vencido e, que Deus me perdoe, por ter matado eles.
Joguei a arma no chão e corri para
Erant. Ele ainda sorria para mim e murmurou com dificuldade.
— Vá!
— Não! Não sem você!
— Vá... Andrew... eu não... tenho
mais... tempo. Cuide de todos e do meu sobrinho.
Vi quando a luz da vida deixou seus
olhos. Eu gritei, gritei e gritei até que estava ficando sem voz. Minha vontade
era ficar ali, esperando ser soterrado pelos destroços, mas e ai? O que Erant
fez ia ser em vão?
Beijei a testa dele fechando seus
olhos e comecei a correu a procura de uma escada. A arma ficou para trás e eu
jurei que nunca mais ia matar ninguém.
As paredes agora pareciam que
estavam sendo retorcidas por um gigante irado. Aos tropeços eu corria, caia e
via cadáveres por todo o lado.
Cheguei até uma escada e comecei a
descer. Minhas pernas pesavam e sabia que a descarga de adrenalina estava
passando.
A escada estava livre e em uma curva
quase cai! Abrahan, Ian, Yaci e (pasmem) Tiol subiam as escadas em um grupo.
— Andrew! – Abrahan gritou aliviado.
Eles haviam voltado por minha causa!
Não conseguia acreditar naquilo!
Desci correndo e pulei nos braços de
Tiol tremendo e chorando. Só agora o choque chegava até mim e eu começava a
cair aos pedaços.
Tiol ficou rígido e me afastou, mas
havia algo em seu olhar, algo que foi muito fugaz para que eu percebesse o que
era.
— Andrew você viu Erant? – perguntou
Yaci muito preocupado.
Há um modo delicado de dizer a um
pai e aos seus irmãos que seu filho, seu irmão, morreu? Não, não há.
— Lá em cima. Ele morreu me
protegendo.
Abrahan encostou-se na parede e parecia
que ia desmaiar, Yaci abraçou a Ian e Tiol me olhou com raiva. Enfrentei seu olhar
torcendo os lábios irado. Eu estava me sentindo culpado o suficiente para ter
esse projeto de príncipe me encarando e eu não ia deixar o sacrifício de Erant
em vão.
— Vamos! – gritei para eles descendo
as escadas.
Não olhei para trás para ver se
vinham. A decisão de viver ou morrer cabia a cada um deles, mas eu não tinha
mais a minha vida nas minhas mãos, ela pertencia a Erant e eu ia reverenciar a
vida dele vivendo a minha e cuidando de meu filho do melhor modo possível.
Cheguei a um imenso ambiente
cavernoso e percebi que parte da estrutura havia caído. Estávamos presos ali.
— As naves! – Tiol gritou – Podemos usar
as naves individuais.
— O poço de decolagem de dupla
estrutura, deve estar inteiro! – disse Yaci correndo para os fundos da sala.
Havia ali dez pequenos caças estreitos,
no formato de uma seta e onde apenas duas pessoas cabiam.
— Tiol leve Andrew, Yaci fique com
Ian e eu piloto o outro sozinho. Se nos separarmos nosso ponto de encontro é na
casa da vovó!
Ninguém discutiu, não havia mais
tempo. Acima de nós o metal rangia, estalava e gritava.
Pulamos para os caças e entramos em
suas cabines estreitas. Tiol ia no banco à minha frente manipulando os
controles com pericia. Cada caça teve a cabina fechada por uma capota de vidro
e eu me senti terrivelmente exposto.
— Como a gente vai tirar essas
coisas daqui? – perguntei para Tiol.
— Vai ver!
Ele ligou os jatos verticais e fomos
empurrados para cima com a velocidade de um balão de gás furado. Acima de nós a
boca escura de um túnel nos engoliu e subimos vertiginosamente no escuro. Tiol
manipulou os controles empurrando o bico da nave para cima e começou a disparar
as peças de artilharia da nave e eu vi o céu azul acima de nós um segundo antes
de sairmos para a luz do dia pegando as naves do governo de surpresa.
— Coloque o cinto Andrew! – Tiol gritou
fazendo manobras para escapar dos tiros e em um minuto estávamos de lado e no
outro de cabeça para baixo.
O mundo girava e eu estava a ponto
de vomitar. O brilho dos raios de calor passou a direita e Tiol empinou a nave
rumo ao espaço, mas a perseguição não parava.
Saímos da atmosfera e eu pude olhar
maravilhado o universo brilhando a minha volta, era quase como se eu pudesse
tocar as estrelas através do vidro blindado do caça.
A nave rumava para um grande
amontoado de pedras.
— Você está indo para os asteróides
Tiol! – gritei para ele empurrando o seu banco.
— Para com isso! Vai matar nós dois
idiota. Os asteróides é a nossa única chance!
— É a nossa morte! Ninguém pilota em
meio a milhões de pedras voando à nossa volta a 45.000 quilômetros por hora!
— Eu piloto!
— Você é louco!
— Eu comprei você, acho que sou
mesmo.
— Idiota!
— Feche a matraca Andrew!
— Quando descermos você me paga.
Ele apenas resmungou e realmente
entrou nos asteróides. Havia pedras do tamanho de grãos de poeira até mesmo
pequenos planetas a nossa volta, girando e colidindo uns nos outros como se uma
criança brincasse com elas.
Tiol pilotava bem, mas não tão bem. Uma
pedra do tamanho de uma montanha voou acima de nós nos prensando entre duas
pedras ainda maiores. Pulamos fora, mas a nossa asa foi atingida.
A nave deu um solavanco e tivemos
que sair dos asteróides. Fora desses pudemos ver os destroços das naves que
tentaram nos seguir, mas outros foram mais inteligentes e voaram ao nosso
encontro.
Com uma curva fomos direto para
Aurifen, para a sua parte que era noite. Tiol xingou a acelerou a nave à potencia
máxima, cortando a atmosfera como uma raio, mas a nave cambaleava e sabia que
não ia suportar um combate.
— Precisamos de uma distração –
disse ele me olhando de lado – Eu vou ejetar a gente e explodir a nave e
esperar que eles acreditem que ela explodiu.
— Esse é o seu plano?!
— Se você tem outro eu escuto, mas
se não o tem cale a boca e se segure!
A cabine de comando era uma grande
célula salva vidas, feita para suportar grandes impactos e salvar seus
ocupantes, mas não sei se ela podia suportar uma explosão de depois cair na
terra sem matar a gente.
Com um clique a cabina se soltou e
um segundo depois o caça explodiu como uma imensa bola de fogo iluminando a
noite do planeta lá embaixo e a cabine salva vidas caiu como um uma estrela
cadente feita de fogo rumo à terra.
Wow...
ResponderExcluirAcho que não há o que comentar...
Um minuto de silêncio pelas vidas perdidas de Aurifen...
Estou sem palavras...
ResponderExcluirESpero que tudo saia bem para Abrahan e seus filhos.
não vejo a hora dos próximos capítulos ,sabem quando a gente não consegue deixar de assistir a novela das oito ,está muito melhor .BJSSSSSSSSS
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