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sábado, 28 de julho de 2012

O Escravo - Capitulo 16 - Vida e Morte

Capitulo 17 – Morte e Vida



Eu não conheço muito de armas, na verdade eu sempre considerei algo que não fosse seus punhos coisa de fracos, a maioria da galáxia vive de combates corpo a corpo. Campos de força individuais haviam tornado as armas pessoais obsoletas, mas em Aurifen as guerras não só tinham armas individuais como também bombas de poder devastador. Pelos auto falantes ouvimos o nome da mais temida de todas.

— Atenção a toda base! – era a voz de Erim fria e objetiva – Protocolo 21! Repito! Protocolo 21! O hangar foi atacado por uma bomba de fusão e as ondas de choque estão chegando até aqui! Protocolo 21!

Protocolo 21 era o modo como era chamado o plano caso a base fosse atacada por uma dessas bombas o que todos achavam praticamente impossível.

Uma bomba de fusão não era maior que um míssil pequeno, mas ele se auto alimentava causando uma reação em cadeia criando um pequeno sol com os materiais que ela se alimentava. Em um raio do cerca de quarenta quilômetros e com vinte de profundidade se formaria um buraco de lava incandescente. O problema era que não havia apenas a base ali, cerca de três cidades seriam destruídas, três cidades, três milhões de pessoas morrendo na agonia de ter seus átomos puxados aos poucos por algo que ia lembrar um buraco negro até entrar em fusão.

— Maldito! – Abrahan gritava me arrastando – Eu deveria ter matado aquele desgraçado! Ele nem mesmo está ai para as pessoas! Ele só que nos matar!

— Precisamos descer para os níveis inferiores! Será que os outros vão conosco?

— Cada um foi treinado para isso Andrew. Alem disso temos o nosso ponto de encontro!

Sim eu me lembrava! Iríamos nos encontrar na entrada no túnel de fuga, esperando até o ultimo segundo, mas se não aparecesse tinha que fugir e continuar a luta.

A base agora rangia como um animal nos estertores da morte. A nossa volta as pessoas corriam e os oficiais tentavam evacuar o mais ordenado possível. Tínhamos que usar as escadas, pois os elevadores eram muito perigosos.

Uma nova explosão balançou a base enterrada na terra. Um estranho rugido vinha de todos os lados e as pessoas começaram a gritar apavoradas com o que podia acontecer. Desciam aos tropeços as escadas.

Abrahan segurou a minha mão com medo de me perder, mas no meio do pandemônio foi inevitável! Fomos separados e eu solucei de medo e raiva olhando em volta.

Sabendo que o melhor caminho era continuar eu fui descendo com o rio de pessoas, mas tive o meu caminho barrado quando a estrutura já não mais suportou e uma parte do teto caiu bem na minha frente. Dei um pulo e por centímetros não fui atingido, mas muitas pessoas não tiveram a mesma sorte e eu desviei meu olhar do sangue, dos pedaços e dos gemidos.

Recuamos e saímos para um corredor dez andares antes do ultimo nível. O bom é que haviam quatro lances de escadas e eu esperava que pelo menos um deles não estivesse bloqueado.

Vocês devem estar pensando no quanto eu sou egoísta por não ter parado e salvo as pessoas presas, mas eu nada podia fazer e mesmo que quisesse, se um dia você estiver em uma situação de vida ou morte, vai entender. O instinto de sobrevivência toma conta de você, joga adrenalina no seu sangue e o empurra para a fuga. Talvez mais tarde eu chorasse por minha covardia, mas agora eu só pensava em sair da armadilha que aquela base havia se tornado.

As pessoas a minha volta se dispersaram procurando as escadas e eu fui para a parte da estrutura da base que parecia mais estável que era aquela oposta a explosão da bomba, isto é, o oeste da base.

Corri pelos corredores onde as luzes piscavam e logo a única coisa que restava eram as luzes de emergência vermelhas e fracas. Suas baterias iam durar duas horas e depois disso só haveria escuridão, todavia eu tinha a impressão que depois de duas horas não haveria mais base para ficar escura.

Pelo oeste não havia pessoas e eu percebi que estava ao nível dos laboratórios e foi quando topei com estranhos vestidos de preto com armas em punho e percebi que eram soldados do império fazendo o rescaldo para que nada fugisse da base.

Escondi-me atrás de uma porta quando eles começaram a disparar.

— Merda! Merda! Merda! – eu não parava de xingar vendo a minha vida ser ceifada por um punhado de porcos governamentais.

A base inclinou-se gemendo e eu fui jogado de encontro a parede e percebi que era a minha chance. Os soldados também estavam desequilibrados e eu pude sair correndo oposto ao lado que queria ir, com raios das armas explodindo à minha volta como fogos de artifício e seus estilhaços de calor queimando a minha pele. Eu não sentia nada, mas sabia que se sobrevivesse aquilo ia doer como o diabo.

Gritei para as pessoas que achei pelos corredores e um oficial da base passou correndo por mim para tentar fazer algo, mas eram dez contra um. Não suportei a curiosidade e olhei para trás para ver o pobre ser morto pelos militares e sua arma voar até mim.

Olhei para a arma que lembrava muito os rifles AR15 do século XX da Terra. Quase que automaticamente eu peguei a arma. Minha mão tremia e eu podia ter atirado, eu apontava para eles, podia ter feito algo, mas me envergonho dizer que fui covarde e isso causou o desastre que foi em seguida.

— Andrew! – alguém se lançou à minha frente me abraçando e senti o impacto da arma nas costas da pessoa.

Caímos os dois juntos e quando percebi era Erant sorrindo para mim, o rosto sujo de fuligem, o sangue escorrendo por sua boca e um buraco se formando em seu abdômen, queimando lentamente o seu interior.

Eu não sei explicar o que aconteceu em seguida. Era como se não fosse eu, era como se tivesse sido possuído por um espírito e peguei a arma caída e comecei a atirar com uma precisão tamanha que não dei chance para os outros. A arma era potente o suficiente para derrubar parte do teto em cima deles e logo ali havia um punhado de ferro retorcido.

Ofegava cheio de raiva e com um jubilo estranho por ter vencido e, que Deus me perdoe, por ter matado eles.

Joguei a arma no chão e corri para Erant. Ele ainda sorria para mim e murmurou com dificuldade.

— Vá!

— Não! Não sem você!

— Vá... Andrew... eu não... tenho mais... tempo. Cuide de todos e do meu sobrinho.

Vi quando a luz da vida deixou seus olhos. Eu gritei, gritei e gritei até que estava ficando sem voz. Minha vontade era ficar ali, esperando ser soterrado pelos destroços, mas e ai? O que Erant fez ia ser em vão?

Beijei a testa dele fechando seus olhos e comecei a correu a procura de uma escada. A arma ficou para trás e eu jurei que nunca mais ia matar ninguém.

As paredes agora pareciam que estavam sendo retorcidas por um gigante irado. Aos tropeços eu corria, caia e via cadáveres por todo o lado.

Cheguei até uma escada e comecei a descer. Minhas pernas pesavam e sabia que a descarga de adrenalina estava passando.

A escada estava livre e em uma curva quase cai! Abrahan, Ian, Yaci e (pasmem) Tiol subiam as escadas em um grupo.

— Andrew! – Abrahan gritou aliviado.

Eles haviam voltado por minha causa! Não conseguia acreditar naquilo!

Desci correndo e pulei nos braços de Tiol tremendo e chorando. Só agora o choque chegava até mim e eu começava a cair aos pedaços.

Tiol ficou rígido e me afastou, mas havia algo em seu olhar, algo que foi muito fugaz para que eu percebesse o que era.

— Andrew você viu Erant? – perguntou Yaci muito preocupado.

Há um modo delicado de dizer a um pai e aos seus irmãos que seu filho, seu irmão, morreu? Não, não há.

— Lá em cima. Ele morreu me protegendo.     

Abrahan encostou-se na parede e parecia que ia desmaiar, Yaci abraçou a Ian e Tiol me olhou com raiva. Enfrentei seu olhar torcendo os lábios irado. Eu estava me sentindo culpado o suficiente para ter esse projeto de príncipe me encarando e eu não ia deixar o sacrifício de Erant em vão.

— Vamos! – gritei para eles descendo as escadas.

Não olhei para trás para ver se vinham. A decisão de viver ou morrer cabia a cada um deles, mas eu não tinha mais a minha vida nas minhas mãos, ela pertencia a Erant e eu ia reverenciar a vida dele vivendo a minha e cuidando de meu filho do melhor modo possível.

Cheguei a um imenso ambiente cavernoso e percebi que parte da estrutura havia caído. Estávamos presos ali.

— As naves! – Tiol gritou – Podemos usar as naves individuais.

— O poço de decolagem de dupla estrutura, deve estar inteiro! – disse Yaci correndo para os fundos da sala.

Havia ali dez pequenos caças estreitos, no formato de uma seta e onde apenas duas pessoas cabiam.

— Tiol leve Andrew, Yaci fique com Ian e eu piloto o outro sozinho. Se nos separarmos nosso ponto de encontro é na casa da vovó!

Ninguém discutiu, não havia mais tempo. Acima de nós o metal rangia, estalava e gritava.

Pulamos para os caças e entramos em suas cabines estreitas. Tiol ia no banco à minha frente manipulando os controles com pericia. Cada caça teve a cabina fechada por uma capota de vidro e eu me senti terrivelmente exposto.

— Como a gente vai tirar essas coisas daqui? – perguntei para Tiol.

— Vai ver!

Ele ligou os jatos verticais e fomos empurrados para cima com a velocidade de um balão de gás furado. Acima de nós a boca escura de um túnel nos engoliu e subimos vertiginosamente no escuro. Tiol manipulou os controles empurrando o bico da nave para cima e começou a disparar as peças de artilharia da nave e eu vi o céu azul acima de nós um segundo antes de sairmos para a luz do dia pegando as naves do governo de surpresa.

— Coloque o cinto Andrew! – Tiol gritou fazendo manobras para escapar dos tiros e em um minuto estávamos de lado e no outro de cabeça para baixo.

O mundo girava e eu estava a ponto de vomitar. O brilho dos raios de calor passou a direita e Tiol empinou a nave rumo ao espaço, mas a perseguição não parava.

Saímos da atmosfera e eu pude olhar maravilhado o universo brilhando a minha volta, era quase como se eu pudesse tocar as estrelas através do vidro blindado do caça.

A nave rumava para um grande amontoado de pedras.

— Você está indo para os asteróides Tiol! – gritei para ele empurrando o seu banco.

— Para com isso! Vai matar nós dois idiota. Os asteróides é a nossa única chance!

— É a nossa morte! Ninguém pilota em meio a milhões de pedras voando à nossa volta a 45.000 quilômetros por hora!

— Eu piloto!

— Você é louco!

— Eu comprei você, acho que sou mesmo.

— Idiota!

— Feche a matraca Andrew!

— Quando descermos você me paga.

Ele apenas resmungou e realmente entrou nos asteróides. Havia pedras do tamanho de grãos de poeira até mesmo pequenos planetas a nossa volta, girando e colidindo uns nos outros como se uma criança brincasse com elas.

Tiol pilotava bem, mas não tão bem. Uma pedra do tamanho de uma montanha voou acima de nós nos prensando entre duas pedras ainda maiores. Pulamos fora, mas a nossa asa foi atingida.

A nave deu um solavanco e tivemos que sair dos asteróides. Fora desses pudemos ver os destroços das naves que tentaram nos seguir, mas outros foram mais inteligentes e voaram ao nosso encontro.

Com uma curva fomos direto para Aurifen, para a sua parte que era noite. Tiol xingou a acelerou a nave à potencia máxima, cortando a atmosfera como uma raio, mas a nave cambaleava e sabia que não ia suportar um combate.

— Precisamos de uma distração – disse ele me olhando de lado – Eu vou ejetar a gente e explodir a nave e esperar que eles acreditem que ela explodiu.

— Esse é o seu plano?!

— Se você tem outro eu escuto, mas se não o tem cale a boca e se segure!

A cabine de comando era uma grande célula salva vidas, feita para suportar grandes impactos e salvar seus ocupantes, mas não sei se ela podia suportar uma explosão de depois cair na terra sem matar a gente.

Com um clique a cabina se soltou e um segundo depois o caça explodiu como uma imensa bola de fogo iluminando a noite do planeta lá embaixo e a cabine salva vidas caiu como um uma estrela cadente feita de fogo rumo à terra.  



3 comentários:

  1. Wow...
    Acho que não há o que comentar...
    Um minuto de silêncio pelas vidas perdidas de Aurifen...

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  2. Estou sem palavras...
    ESpero que tudo saia bem para Abrahan e seus filhos.

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  3. não vejo a hora dos próximos capítulos ,sabem quando a gente não consegue deixar de assistir a novela das oito ,está muito melhor .BJSSSSSSSSS

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