Capela
Capitulo XXIX
Sanet pousou com Arkan e Sara em
cima do morro onde ficava a sua caverna. O elfo ajudou a menina e de dentro da
caverna Flyn e Gabe vieram correndo, o menino tinha o dragão vermelho
saltitando atrás e parou bruscamente ao ver Sara.
— Sara? – ele não podia acreditar
que sua irmã estava ali – o que você está fazendo aqui? Veio sozinha? Sabe algo
do pai?
— Ola Gabe – resmungou ela e foi até
o menino devagar, sentindo o terreno e parou a poucos centímetros do irmã e lhe
lascou um belo tapa – Isso é por você ter levado a mãe embora, ter vindo para
esse fim de mundo sozinho e por ter me obrigado a vir atrás de você!
— Por algum acaso eu pedi para você vir
atrás de mim? Veio porque não passa de uma enxerida!
— Esse é o pagamento por dias
cavalgando atrás de um irmão ingrato?
— Eu deveria pagar você ou algo
assim Sara? Você é uma menina e deveria estar em casa cuidando dos meninos.
— Por que eu sou mulher deveria
ficar em casa?! Vê se ti enxerga Gabriel! Um moleque magricela que acha que é
algum guerreiro! Não sabe nem mesmo empunhar uma espada ao contrario da sua
linda e corajosa irmã!
— Cada essa irmã? – Gabe olhou em
volta fingindo não ver ela.
Sara não viu o movimento, mas conhecia
demais o irmão mais velho para saber o que ele estava fazendo. Ela chutou a sua
canela fazendo ele cair no chão com um grito de dor.
— Sua criança com complexo de homem.
EU cheguei até aqui onde nem mesmo um dos guardas do reino veio e por isso você
não tem o direito de me menosprezar!
—Você é uma moleca que acha que é
mulher e fica ai com ares de grande dama dando chutes nos outros!
— Tadinho do Gabe!
— Calem-se! – Sanet passou por eles
em seu passo bamboleante – Ou eu mesmo juro que mastigo um de você e depois
cuspo! Com tanta teimosia a carne deve ser mais do que dura!
Sara mostrou a língua para Gabe que
chutou terra em suas botas.
— Crianças por favor – Arkan se
aproximou – Sei que estão felizes por terem se encontrado, mas por favor dêem um
tempo.
— Vamos lá grande dama! – Gabe fez
um gesto para a caverna e segurou o ombro dela a empurrando para aquele lado –
Seu castelo a espera.
— Vai se danar!
— Grande Deusa! – Sanet escondeu a
cabeça por entre as patas e Tildo rolava de rir ali perto.
~~***~~
Paul estava meio verde cavalgando no
deserto que ia ficando escuro. O céu ainda cor de rosa tinha uma única estrela
brilhante no lado do poente. O planeta Venus brilhava antes das outras
estrelas.
— Como você está? – perguntou Kallil
para ele.
— Como você acha que eu estou?
— Ora Paul, até parece que você não
gostou da noticia?
— Kallil filho é uma dádiva, mas eu
jurei que nunca ia ter um filho fora do casamento novamente. Não sabe o quanto
essas crianças enfrentam e eu fui um irresponsável!
— Agora a água já secou, como
dizemos no deserto. O que está feito, está feito irmão. Não disse que ia casar
com Mathew? Assim que voltarmos para o seu país eu tenho certeza que ele vai
adorar a noticia e casar o mais rápido possível!
— Não é isso Kallil, só acho que estou
com medo, como estive na minha primeira gravidez. Eu já tenho cinco filhos e
agora terei o meu sexto e isso me preocupa. O que Mat vai pensar de mim? De minha
irresponsabilidade?
— Pelo que você me conta dele Paul,
ele vai é adorar. Você deveria confiar mais nas pessoas!
— Confiar é complicado para mim –
ele levantou a cabeça olhando para o céu agora azul marinho – Durante toda a
vida as pessoas em que confiei acabaram por me ferir ou ir embora e acho que
isso acabou me tirando a fé nelas.
— Eu entendo. Veja o que descobrimos
agora. Somos do clã das rosas e nem mesmo sabemos nossos nomes de verdade ou
quem era a nossa família. Paul? – Kallil viu o irmão empalidecer ao olhar para
o horizonte.
— Kallil o que é aquilo?
O rapaz olhou para frente vendo que
estavam se aproximando do que pareciam montanhas ao longe ainda distinguíveis na
pequena luz. Deveriam ter cerca de cem metros de altura e eram paredões de
rocha negra e lisa como paredes.
— Mas não é possível! – Kallil se
empertigou em cima do cavalo olhando par atrás como se esperasse ver algo –
Isso deveria estar mais ao norte e não para esse lado!
— O que diabos é isso? Parece um
muro, mas é impossível!
— É uma formação natural que foi
aproveitada por um povo. É ai que o clã das rosas mora.
— Mas não estávamos indo para o
leste?
— Eu devo ter errado um pouco os
meus cálculos. Se contornarmos vamos conseguir chegar a fronteira de Gaulesh.
Ambos ficaram ilhando para as
muralhas de rocha que se aproximavam cada vez mais e antes de ficar completamente
escuro eles puderam ver um imenso portão ao longe feito de ferro e entalhado
com rosas.
Eles chegaram aos pés do portão já
noite fechada. Não haviam guardas ou guaritas por ali. Paul duvidava que um
portão como aquele podia ser derrubado e afinal que faria isso no meio do nada.
Haviam montes de areia acumulados nele como se não fossem abertos há muito
tempo.
— Acha que eles estão ai? –
perguntou Paul –Quero dizer os outros desse clã.
— Se ainda existirem – Kallil deu de
ombros – Não se vê mais deles em anos.
Os cavalos iam contornando a muralha
e virando para o sul quando viram uma reentrância nas paredes, como uma
rachadura, uma ferida na pedra lisa da montanha.
Ao longe havia um estranho gemido
que arrepiou Paul e fez os cavalos ficarem inquietos sapateando na areia.
— Ai droga! – Kallil parou o cavalo.
— O que há Kallil? Que barulho é
esse?
— É uma tempestade de areia. Elas
acontecem de dia, mas quando vem de noite são para arrasar. Nada fica em pé no
seu caminho.
— Vamos entrar na entrada da rocha
que vimos ali atrás.
— Espero que ela seja funda ou podemos
ser sugados pelos ventos se eles virem de frente. No escuro não dá para ver
nada!
Eles deram meia volta e na luz fraca
das estrelas viram a estreita entrada que ia ficando escuro a medida que
entreva nas raízes da montanha.
— Acho que podemos ascender uma
tocha aqui – Kallil desmontou e pegou em seus alforjes um pedaço de madeira com
um pano enrolado com cheiro de azeite. Com uma pederneira ascendeu um pequeno
fogo que logo tomou o trapo iluminando em volta deles.
Entraram na caverna puxando os
cavalos. Era um corredor longo, com paredes cheias de pequenas reentrâncias e também
feita da fosca rocha negra da montanha.
— Parece que é profundo o suficiente
– disse Kallil parando em uma parte mais larga do corredor.
— Parece que há uma saída por esse
lado – Paul apontou para o vento que fazia a chama da tocha oscilar.
— Acha que o corredor corta a
muralha?
— Talvez – Paul deu de ombros – Não vejo
de onde pode estar vindo essa corrente de ar.
— Vamos dar uma olhada!
— Kallil não estamos aqui para
explorar. A ultima coisa que quero é acabar sendo preso por invasão ou pior,
que algum de nós saia ferido.
— Paul é só uma olhadinha. Você mesmo
viu que não há guardas nem nada por ai. Vai! – o outro fez um grande bico e
cara de cachorrinho perdido.
Paul suspirou fundo e olhou
contrariado para o outro.
— Não sei que é mais louco. Você por
querer isso ou eu por aceitar.
— Maravilha! – Kallil continuou andando
com Paul do seu lado.
Não demorou muito para que saíssem do
outro lado dando de cara com o que parecia uma grande planície que a luz das
estrelas parecia formada por restos de rochas amontoadas. Não havia luz e nem o
menos sinal de movimento. Ao longe se ouvia o gemido mais alto da tempestade.
— É só isso? – Kallil parecia
desapontado.
— É noite Kallil, não dá para ver
nada e mesmo assim esse lugar parece ser imenso.
— Acho que não ninguém aqui mesmo.
— Nisso você se engana forasteiro –
ambos deram um pulo e se viram cercados por guerreiros de longos cabelos negros
e corpos esguios empunhando arcos e flechas apontados diretamente para eles.
Nem um dos dois havia ouvido nada!
— Olha só estamos de passagem – Paul
tentou apaziguá-los tremulo – Estamos apenas fugindo da tempestade.
— Já ouvimos muito dessa conversa –
disse o mais alto deles dando um passo a frente e olhando-os à luz da tocha de
Kallil – Vocês tem a marca das rosas em vocês! Quem são?
— Meu nome é Kallil e esse é Paul. Descobrimos
há pouco tempo que somos filhos das rosas e irmãos. Fomos seqüestrados dos
nossos pais há mais de vinte anos aqui perto do seu portão.
O homem chegou perto deles olhando
de forma curiosa para Kallil e parou em Paul e ficou tão pálido que parecia que
ia desmaiar.
— Kiamyen – murmurou ele – Como?
— Do que você me chamou? – Paul estremeceu
com aquela palavra que de repente lhe parecia conhecida – Eu já ouvi ela
antes...
— Kia filho prometido, Myen
esperança – ele respondeu –É comum o nosso povo dar dois nomes aos filhos
fusionando-os. Esse era o seu nome.
— Você sabe quem somos?! – Kallil estava
tremulo.
— Você eu não estava tão certo, mas
ele... – olhou para Paul – Ele é a cópia do meu irmão, Krinieh.
— Isso é impossível – Paul balançava
a cabeça. Ele ainda não consegui acreditar que a sua vida era um mentira, que
ele não era Paul, que tinha outro nome e outra família.
—Não, não é. São os caminhos do
destino que o trouxe a nós – disse o outro – Meu nome é Atrenhre, seu tio.
— Eu não acredito! – Kallil estava
tão feliz que a tocha tremia – Eu achava que você já não existiam mais!
— Estamos reclusos aqui desde que
meu irmão foi morto. Nosso povo estava sendo massacrado pelos nômades atrás de
dinheiro e escravos. Não somos um povo numeroso e nosso maior tesouro são as
pessoas. Decidimos que era melhor ficarmos em nosso pequeno vale esperando que
dias mais felizes chegassem – ele sorriu para Paul – E eles enfim podem estar
chegando.
— Como eram os nomes dos nossos
pais? – perguntou Kallil.
— Krinieh era meu irmão e seu pai
gerador e Balnuem era seu outro pai. Procuramos vocês por semanas até que
desistimos. Onde foram parar todo esse tempo?
— Isso é uma longa história – Kallil
deu um grande sorriso para ele.
— Você não parece feliz – Atrenhere disse
olhando para Paul que não conseguia esconder seu medo.
— Eu só não consigo entender isso. É
demais para mim. Um dia eu sou um fazendeiro sem descendência, sem irmãos e com
um pai que eu nem me queria mais lembrar e no outro descubro que não sou nada
do que acreditava ser e do nada a minha nova família aparece! Desculpe se não
levo muita fé no destino e tenho um pé atrás com essas coincidências.
— Entendo o seu medo, somos
desconhecidos, mas eu gostaria que nos acompanhasse até a nossa vila. Lamento não
lhes dar opção quanto a isso, perdi vocês um dia e não vou deixar isso
acontecer novamente. Vamos uma tempestade está chegando.
Kallil estava feliz em acompanhá-lo,
mas Paul queria mesmo era continuar a sua estrada e ir para casa, para seus
filhos e para Mat. Olhou para o céu com lagrimas nos olhos se perguntando como
estavam todos.
~~***~~
Ekbert havia cuidado de Waldrich e
eles rumaram para um cânion de rochas não muito longe dali, de acordo com o
mago o a estrada estreita que cortava as rochas dava perto de uma região entre
Kotem, Gaulesh e os desertos de Altair, era ali que Paul, Gabe e Maleah iam
encontrá-los. Como seu novo pai sabia disso, Mathew não tinha ideia, mas
esperava que ele tivesse razão.
Durante o dia quente eles
conversaram e o rapaz pode ver muito de Phil, Dylan a Katrina nele. O modo como
ele franzia o cenho contrariado quando Ekbert o tratava como uma criança, seu
trejeito de revirar os olhos quando tropeçava, seu tic de mexer as mãos o tempo
todo como se não pudesse parar quieto, tudo isso lembrava um pouquinho cada
irmão dele.
Waldrich contou sua vida, falando de
sua solidão e de sua sede de vingança, de como tudo isso arruinou a sua vida e
de como ele lamentava não ter ido atrás de casa um dos seus filhos há muito
tempo.
Quando a noite chegou eles montaram
acampamento e o mago criou um estranho fogo que queimava sem lenha e que Ekbert
usou para fazer uma sopa com grãos secos e carne seca que ele trazia na
mochila.
Mat foi até Capela que estava quieto
em um canto e que não dissera uma palavra em todo o caminho.
— Tudo bem Capela?
— Só estou tentando entender tudo
isso Mathew, parece loucura demais.
— Eu sei, imagina para mim.
— Alem disso eu estou me sentindo
muito estranho. É como se algo faltasse dentro de mim, como se eu tivesse um
buraco em minhas entranhas... – ele esfregou a testa em desespero – Deus eu não
sei como explicar.
— Você é casado a um elfo – Ekbert
falava enquanto cozinhava sem se preocupar com a cara feia de Waldrich por ele
estar se metendo – Vocês são um agora. Enquanto não estiverem perto suas almas
vão estar aos pedaços. Elos entre elfos são muito fortes, principalmente se você
está lutando contra ele.
— Eu não estou lutando, só estou com
medo de tudo isso – ele deu um suspiro raivoso – As nossas vidas viraram de
cabeça para baixo em poucos dias não é?
— É – Mat riu – Mas acho que tudo
fica mais fácil se aceitarmos o que está acontecendo. Maleah é uma boa pessoa e
acho que você tem muito a ganhar com ele, mesmo que estejam sempre as brigas.
— Talvez seja hora de fazer isso. Eu
só não sei como é que Maleah vai reagir, afinal ele ficou muito contrariado
quando salvei a vida dele, o que é uma injustiça!
— Espero que não briguem todo o
caminho para Haven.
— Eu não posso prometer, mas vou
procurar não matar ele.
— Eu não vejo a hora de ver Paul,
estou morrendo de saudades e afinal o nosso casamento está em andamento – olhou
Waldrich que estava sentado perto de Ekbert – Você vai conosco não é pai? Tenho
que ti apresentar a seus outros filhos.
— Mathew eu esperei tanto tempo para
ser chamado de pai – ele deixou que duas lagrimas escorressem por seu rosto e
ele as enxugou com a mão tremula – Mas receio que seus irmãos vão ter muita
dificuldade de aceitar isso.
— Não se preocupe, vou conversar com
eles.
— Mas há uma coisa que me preocupa –
Ekbert correu os dedos entro os cabelos do mago fazendo Mat fechar a cara para
ele – Onda anda aquela brucha da Alberta?
Waldrich estremeceu de raiva ao
ouvir esse nome.
— Eu não consegui encontrá-la em lugar
algum e isso está me preocupando – o mago segurou a mão do guerreiro com
carinho – Mas acredito que mais cedo ou mais tarde ela vai fazer a sua aparição
e quando isso acontecer estarei preparado.
Os olhos negros de Waldrich
brilharam como a explosão de uma supernova.
vc continua a me surpreender, amei.bjs lu
ResponderExcluirDalla, descobri o teu blog neste momento e gostei imensamente. Parabéns. Dei uma lida neste capítulo e apreciei o post acima (claro, rsrs) e gostaria de saber como faço para ler - ter acesso - ao publicado anteriormente deste livro que aí está. Abraços e fico e volto aqui também para ver tua resposta.
ResponderExcluirOi Ma Cristina. Que bom que gostou da minha história! Tenho outras. Para ver os capitulos anteriores basta ir até os arquivos do blog que ficam bem em cima à direita ou então clicar em Postagens mais antigas no final da página que você vai voltando pouco a pouco. Espero que se divirta batante! Beijos!
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