Capitulo XXVIII
Era tão estranho, mas ele não
conseguia vê-lo chorar, isso doía em seu coração de um modo que ele não
conseguiu se conter. Tocou no roto do outro homem. Ele parecia mais velho, mas
ele tinha aqueles rostos de que a gente nunca consegue saber a idade, ele podia
ter vinte ou quarenta; era um rosto atemporal.
— Você está bem? – Mat se sentia tonto
e muito estranho sem saber onde estava e onde estava Capela.
— Mathew – o homem murmurou segurando
sua mão e esse gesto aqueceu o coração do príncipe de um modo como ninguém
tinha feito – Meu filho.
— Filho? – Mat puxou a mão e olhou
mais detidamente – Quem é você?
— Waldrich de Lakina – disse o outro
olhando-o com aqueles olhos negros profundos.
— Você é o mago de Lakina? – Mat deu
um pulo e tentou ficar em pé, mas caiu de joelhos e procurou a espada – O que
você fez com Capela? Onde estamos? – havia raiva na voz do príncipe.
Mat queria muito achar a sua espada e
dar um fim ao inimigo do Gaulesh. Desde criança aprendera que não havia ser mais
pífio que Waldrich. Seus poderes possuíam mentes e destruíam povos.
— Estamos no deserto de Altair e seu
amigo Capela está por perto.
— O que diabos você quer? – Mathew
rosnou para ele.
— Contar umas verdades Mat. Contar
sobre você, seus irmãos, eu e seus pais. Falar aquilo que Alberta escondeu de
vocês toda a vida.
— Hum! Verdade? Não me faça rir! Você
não passa de um mago poderoso e manipulador!
— Mas você também é um mago Mat.
— Esta doido? Eu não tenho nada de
mago em mim!
— Tem sim e vem de família. Se eu não
tivesse impedido todos os seus irmãos eram magos, mas com você eu não pude, eu
não tinha mais forças.
— Olha eu não sei do que você está
falando e não me interessa. O que eu quero é sair daqui e procurar Capela,
tenho que encontrar...
— Está atrás de Sara, filha de Paul,
seu noivo.
— Foi você! – Mat avançou para
Waldrich, mas o mago ergueu a mão e uma parede de energia empurrou Mat para
trás – Foi você que as levou seu maldito!
— Não Mat. Sara partiu porque quis e
Paul está vindo para cá assim como todos os outros. Eu não fiz nada a seus
entes queridos.
— Acha mesmo que vou acreditar em
você?
— Não, eu não acho. Alberta fez um bom
serviço em treinar vocês para me odiar, mas acredito que elam também não fez um
bom trabalho cuidando de vocês.
— A minha vida pessoal não lhe diz
respeito!
— Diz do momento em que você é filho
meu.
— Você é louco?! – Mat riu de escárnio
– Acha mesmo que a minha mãe se envolveria com alguém como você?
— Alberta? Felizmente eu nunca toquei
naquele monstro. Eu sou seu pai gerador Mat, eu sou um duo.
— Eu não tenho que ouvir isso – Mat
tentava se levantar e se afastar, mas suas pernas estavam fracas demais.
— Tem! Tem que ouvir sobre o monstro
que é Alberta e Mader! Tem que ouvir o que eles fizeram comigo e com vocês!
— Cale a boca!
— Não! Seu pai me prendeu, me
estuprou...
— Pare! – Mat tapou os ouvidos, mas
agora ele podia ouvir a voz do mago na sua cabeça.
— Durante doze anos fui mantido em uma
torre servindo de aos gostos malditos de Mader e ao sadismo de Alberta. Por
doze anos eles tiraram cada filho que gerei para dar a uma louca!
Mat gritou e deixou sua cabeça cair
até o chão de areia tentando tirar a voz e as imagens que via tão cheias de dor
e medo e aquilo doía nele também.
Algo dentro de si quebrava em muitos
cacos e uma coisa estava se agitando dentro dele como uma grande onda que
parecia que ia sufocá-lo. O calor em seu corpo e em sua mente o estava
queimando e ele gritava mais e mais em agonia até que ele libertou algo que não
conseguiu mais conter.
As pedras onde eles estavam voaram a
quilômetros de distancia e quando Mat abriu seus olhos eles estavam tão negros
quanto os de Waldrich. Mathew estava tomado por seu poder e o mago estremeceu
ao ver o quanto seu filho caçulo tinha poder dentro dele.
O mago ergueu a mão criando um escudo
em frente a ele, mas quando Mat ergueu a própria mão e o golpeou com sua
energia foi jogado longe na areia quente.
Gemendo sentou olhando para o rapaz
envolto em vento de fogo que estava criando um tornado à sua volta, fundindo a
areia ao ponto de transformá-la em vidro. Mat criou arestas afiadas de vidro e
as dirigiu para o mago que no ultimo segundo conseguiu desviá-las com um golpe
de energia. Cacos de vidro voaram por todo o lado.
Mais arestas afiadas voaram para ele,
mas agora eram tantas que Waldrich não conseguiu desviar todas e teve o braço e
a perna rasgados pelos pedaços de vidro. Seu sangue manchou a areia e ele
gritou em agonia.
Ele nunca pode imaginar que havia
tanto poder dentro de Mat, que ele fosse ficar tão descontrolado assim.
— Mathew! – gemeu ele para o filho que
chegava cada vez mais perto todo cercado de artefatos afiados de vidro que
brilhavam à luz do sol no deserto – Por favor maus filho.
— Eu não sou seu filho!
— É tão meu filho que pode fazer o que
poucos magos no mundo fazem. Sem nem mesmo dizer formulas mágicas você manipula
as forças da natureza. Mat você não herdou isso de Alberta, mas de sua
verdadeira mãe, eu!
— Porque, porque você nos deixou com
ela? – Mat parecia ter entendido a verdade mesmo sob a incrível pressão da
magia em torno dele.
— Durante doze anos fui estuprado e
maltratado, me desculpe meu filho, mas a única coisa que eu pensei em minha
vida depois de ser solto foi em vingança – lagrimas começaram a cair nos olhos
do mago – Sei que nunca vai poder me dar qualquer amor, mas saiba que eu os
amei a cada segundo de minha vida.
Mat tremeu e baixou as mãos. O tornado
de poder em torno dele se dispersou e as arestas de vidro caíram à volta deles
enterrando na areia fofa. Os olhos do príncipe voltaram ao normal e ele andou
rígido até o mago que sangrava e se ajoelhou perante ele.
— Eu sei que não sou filho de Alberta
agora. Posso sentir a sua mente, posso ver o seu sofrimento. Sou tão ligado a
você que sinto até mesmo a sua dor.
— Deixe seu poder se dispersar filho,
a sua conexão comigo vai desaparecer e você não precisa sentir essa dor e essa
amargura.
— Alberta nunca faria isso por mim,
nunca se preocuparia com o que sinto. Eu não sei o que é amor de mãe, mas talvez
você possa me ensinar algum dia.
Waldrich abraçou Mat com o braço bom
agradecendo a Deus por ter tido a possibilidade de ter abraçado seu filho antes
de morrer.
— Mathew! – Capela e Ekbert estavam
chegando perto deles preocupados.
— Waldrich! – Ekbert correu para perto
do seu amado vendo os ferimentos – Você precisava fazer isso com ele? – disse
colérico para Mat que o olhou com dor nos olhos.
— Ekbert – Waldrich tocou em seu braço
– Isso é um preço pequeno por ter meu filho comigo por alguns segundos.
— Deixa eu cuidar disso – resmungou o
guerreiro abrando a mochila.
— Me desculpe – murmurou Mat.
— Shiii – Waldrich colocou os dedos em
seus lábios – Esta tudo bem meu menino.
Capela colocou a mão no ombro do
príncipe agora convencido do que o mago dissera. Era inacreditável o que
Alberta era capaz de fazer e isso incluía Mader.
— Você esta bem? – perguntou para o
amigo.
— Não Capela e acho que muito tempo
vai se passar antes que eu me sinta bem.
Maleah sorriu ao ver o pequeno tornado
na palma da mão de Gabe que tinha os olhos brilhando de prazer.
— Mas ele não dura muito – disse o
menino com um bico nos lábios – Não sei como, mas isso me cansa de verdade.
— A magia usa sua força de vida
filhote de elfo – riu Maleah bagunçando os cabelos do menino.
— Sabe o quanto isso é estranho? –
Gabe sentou perto de Maleah na cama feita de palha na caverna que estava
ficando escura com o final do dia chegando – Eu sou filho de um elfo.
— Logo vai ser um belo elfo
adolescente destruindo corações por ai! – riu o outro deixando o menino
vermelho.
— Nada ver! – disse o outro fugindo
rapidinho de perto do elfo.
— Assim você assusta o menino Maleah!
– Arkan riu sentando perto do sobrinho com um pedaço de raiz assada e uma
cumbuca com sopa de uma erva amarga muito saborosa que crescia aos montes nas
encostas dos morros de Kotem – Trate de comer!
— O senhor to ficando um baita carcereiro!
– resmungou o outro, mas bebeu a sopa e comeu a raiz que era de polpa roxa e
muito doce.
— Amanhã partiremos – disse Arkan –
Sanet disse que vai nos deixar em uma parte do deserto de Altair perto de
Gaulesh. Ele não entra nas terras humanas sem a devida autorização para evitar
problemas futuros.
— Ele já fez muito por nós tio –
Maleah olhou em volta – Onde está Flyn?
— Conversando com os dragões – o homem
riu – Acho que ele vai escrever um livro quando sairmos daqui.
— Tio... quais são os seus planos
agora? Sei que Dylan ia adorar que vocês fossem morar em Gaulesh.
— Não sei ainda filho. Estive
conversando com Flyn e ele sempre foi um soldado, mas isso foi imposição do seu
pai. Flyn gosta da terra e sei que Haven tem terras muito boas para o cultivo.
Trouxe algumas pedras preciosas comigo que podem nos render algum dinheiro por
hora.
— Não se preocupe com isso tio, eu
tenho dinheiro guardado em Gaulesh. Dylan guardou para mim muito do que
consegui durante a minha vida.
— Isso lhe pertence filho, agora você
está casado, vai ter uma família.
Maleah ficou vermelho e cutucou uma
palha.
— Seu companheiro sabe que você é um
duo?
— Não tivemos tempo para isso. Tudo
foi tão rápido, alem do mais eu acho que Capela me odeia, nunca vai querer ter
uma família comigo.
— O destino é sábio, diz o ditado e eu
concordo com ele – Arkan se levantou – Ele não teria juntado vocês dois se algo
não os unisse.
Maleah não tinha a mesma convicção do
tio.
Nesse momento Sanet entrou na caverna
com seu andar bamboleante.
— Ola Maleah, Arkan – disse ele – Um
dos meus guardas de fronteira disse que uma amazona e uma criança humana estão
se aproximando do nosso território. Gostaria de saber se você poderia vir
comigo e ver o que eles querem. Normalmente eu os expulsaria, mas dada as
circunstancias acho bom ouvir o que elas tem a dizer.
— Claro Sanet – olhou para Maleah –
Você vai ficar bem?
— Claro tio, pode ir.
Sanet e Arkan saíram da caverna para
um céu vermelho. O sol estava se pondo em meio a muitas nuvens denunciando que
o inverno estava chegando a Kotem.
O elfo subiu no dorso do dragão
enquanto este alçava vôo. Não voaram muito tempo e logo estavam deixando para
trás as serras e colinas de Kotem para chegar a uma região de matas cortadas
por uma velha estrada quase perdida no mato.
Lá em baixou ele viu duas figuras
pequenas a cavalo que pararam imediatamente olhando para eles, mesmo que o
dragão estivesse alto e não fizesse barulho com as suas asas.
Sanet pousou perto deles amassando
algumas árvores jovens no processo.
Arkan viu que se tratavam de duas
mulheres, uma negra e alta, com longos cabelos caindo em cachos pelas costas e
uma menina loira, corpo magro e cabelos até os ombros que inclinava a cabeça em
direção a eles sem olhá-los.
A moça negra não parecia ter medo
algum do dragão. Encarava ele e Arkan com uma altiva dignidade que o elfo não
deixou de admirar.
Ele desceu do dorso do dragão indo em
direção a elas, mas antes que chegasse a menina disse:
— Você cheira igual a Maleah!
— Você conhece meu sobrinho criança
humana?
— É Sara para você senhor elfo –
resmungou ela e cheirou o ar – O dragão cheira a um dia de sol e... mato...
outra coisa não muito boa – ela franziu o nariz e Sanet revirou os olhos.
— Ela se parece com Tildo.
— Boa tarde dragão, senhor elfo – a
moça negra respondeu com dignidade – Meu nome é Mimir Greal e sou uma amazona e
essa é minha amiga Sara. Estamos em uma busca por um garoto, ele se chama...
— Gabe – completou o Sanet – Eu
imagino.
— Imaginou bem.
— Sabe dele então? – perguntou a
garota esperançosa.
— Ele está com o meu bando – respondeu
o dragão – Você deve ser a irmã irritante dele, certo?
— Irmã irritante? Quando eu encontrar
aquela coisa do meu irmão foi fazer picadinho dele, pode ter certeza! – mas a
menina não podia esconder a felicidade de achar o irmão – Mas apenas Gabe está
com vocês? Um homem chamado Paul não?
— Lamento Sara – o grande dragão
balançou a cabeça de réptil de um modo muito humano – Gabe e o elfo Maleah.
— Senhora – o elfo cumprimentou a
amazona – Meu nome é Arkan.
— Um elfo da Floresta Velha – observou
a amazona – Vive entro os dragões?
— Apenas por um curto período – disse
ele.
— É muito longe? – Mimir perguntou
para Sanet.
— Com esses animais sim, mas eu posso
levá-los voando.
— Não podemos deixar os cavalos –
respondeu Mimir voltando-se para Sara – Sara gostaria de ir com Sanet até onde
estão os outros enquanto eu levo as nossas montarias para lá?
— Gostaria muito Mimir – respondeu a
menina feliz em finalmente algo estar dando certo.
— Eu cuido dela – disse o elfo com
aquela sua voz calma.
Mimir o olhou de forma altiva e
desconfiada.
— Vou confiar em você elfo, cuide bem
dela.
— Não se preocupe amazona e cuido bem
de crianças.
— Ei! – gritou Sara – Quem é criança
aqui?
— Até onde eu sei Sara – respondeu a
amazona de mau humor – É você!
A menina bufou para ela, mas desceu do
cavalo e foi para onde ouvira a voz do elfo carregando a sua bolsa.
— Vou mandar um dos meus guardas
guiá-la – disse Sanet para a amazona – Creio que você conhece bem os dragões
verdes?
— Sim. Eles imigram para a Amazônia
todos os anos.
— Vou pedir para um deles vir até
aqui.
— Obrigada.
— Tchau Mimir – Sara acenou para ela e
depois se voltou para Arkan que sorriu para a criança – Será que pode me
mostrar onde está o dragão? Eu posso até saber onde que ele está pelo cheiro,
mas não vou conseguir montar nele.
— Ei! – resmungou o dragão cheirando
as escamas – Meu cheiro não é tão ruim!
— Talvez o que lhe falte seja um bom
banho. Existem muitas arvores com as folhas perfumadas por aqui, podia se
esfregar nelas e quem sabe eu acredito em você depois.
— E quem sabe eu devesse jogá-la lá de
cima! – Sanet ficou frente a frente com o rosto da menina que contorceu o nariz
com desgosto.
— Você não faria isso com uma doce
humana, não é?
— Não me tente filhote!
— Chega! – Arkan segurou na mão de
Sara.
Finalmente ele havia olhado nos olhos
opacos dela e percebido que a menina era cega. Ajudou ela a subir em Sanet que
estava com as escamas eriçadas de raiva.
— Acho que não deveria brigar com
alguém que vai voar com você – disse o elfo segurando a menina na sua frente.
— Ele não vai fazer isso – ela riu –
Ele pode até ter se irritado, mas ele gostou de mim, não é Sanet? – ele deu
umas palmadinhas na lateral do pescoço do outro.
— Do mesmo jeito que eu gosto de um
osso entalado na garganta – respondeu o dragão alçando voo.
A tarde estava chegando, Kalil podia
ver pela luz que entrava pela caverna. Era hora de continuar a estrada, mas um
estranho som chamou a sua atenção e ele levantou correndo para a entrada da
caverna onde Paul estava vomitando pálido.
— Paul! – Kalil colocou a mão no ombro
dele sentindo os músculos trêmulos sob os dedos – Você está bem?
— Eu não sei Kalil – gemeu ele olhando
para o mais novo com uma mão no estômago – Eu não consegui dormir. Eu tenho
vomitado o dia todo mesmo não tendo mais nada no estômago. Me sinto muito
cansando e tonto. Será que peguei alguma doença?
— Venha aqui – Kalil foi para o fundo
da caverna e fez ele sentar lhe dando água para beber – Paul sei que a gente
tem pouca intimidade ainda, mas você teve relações sexuais nos últimos dias?
Paul engasgou com a água e olhou
contrariado para o rapaz.
— Kalil o que isso tem a ver...
— Olha – o outro segurou a sua mão
sorrindo – Eu nunca tive relações, mas desde pequenos as mulheres da tribo nos
instruem e pelo que eu estou vendo Paul, você está grávido!
Paul empalideceu ainda mais e ficou
com o corpo mole caindo desmaiado sobre o manto onde deitara.
Sorrindo Kalil arrumou o outro de
forma a ficar mais confortável e começou a sorrir como bobo:
— Eu vou ser tio!
ei menina tava com saudades, adoro esta estoria,
ResponderExcluire quando vc não posta ela eu sinto falta.
bjs lu
cada vez mais emocionante!!
ResponderExcluir