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sexta-feira, 29 de junho de 2012

O Escravo - Capitulo 11 Viva a Revolução!


Capitulo 11 – Viva a Revolução!



Aquele estava sendo um dia calmo. Alem de Ian ninguém mais foi ao meu quarto e eu agradecia por isso. Queria muito saber se Abrahan estava bem, Ian não sabia me dizer, mas o que mais queria era ficar longe daquela família.

Você esta generalizando, vocês devem estar pensando, mas a experiência que tive, olhar para qualquer um deles, ia me lembrar do imperador e eu não queria isso de jeito nem um. Aquele homem era um monstro e eu me perguntava como ele como ele podia cuidar de um mundo todo.

Com essa curiosidade levantei encolhido e fui á estante procurando algo sobre o Imperador. Com um livro de história moderna de Aurifen deitei novamente gemendo de dor.

O Imperador de Aurifen chamava-se Adamas, o que Ra muito engraçado pelo fato de pensar nele apenas como o imperador. Ele havia subido ao poder há cerca de trinta anos quando da morte de seu pai.

De acordo com o livro, Adamas se recusou a levar sua eleição ao voto do povo para que fosse legitimado no seu posto de Imperador. Pelo que entendi ser imperador passa de geração para geração, mas se o povo não aceitar o imperador ele é destituído por lei e um novo imperador será eleito.

Adamas, ao não fazer isso, não legitimou seu cargo. Ele dizia que não o fizera por interesse do povo.

Sob o governo do Imperador Aurifen passou a ter uma ditadura, com o conselho do rei, eleito pelo voto popular, havia sido dissolvido e leis mudadas sem a aprovação da população.

Ter escravos sexuais foi liberado e quem falasse mau do governo podia ser preso e deportado para uma prisão em uma lua ressequida do sistema e nunca mais voltar.

A economia havia progredido muito com a abertura para mercados consumidores das pedras preciosas de Aurifen.

Suas pedras eram outro caso. Os humanos, tanto interiores quanto exteriores, usavam ouro, prata, diamantes e outras como pedras preciosas para jóias, mas o restante da galáxia gostava de pedras ictsis, uma pedra negra, que se lapidada do modo certo podia ser muito útil em armas muito potentes. Lasers é como os humanos chamam, mas tão fortes que podem desencadear a destruição de mundos.

Fechei o livro frustrado. Eu havia descoberto o nome do maldito e que ele enriquecera seu planeta, alem de que ele não era o legítimo imperador de acordo com as leis de Aurifen.

Alguém bateu na porta e acreditei que era Ian.

— Entra! – gritei colocando o livro na minha mesinha de cabeceira.

Mas não era Ian, mas Valdi com um sorriso triste.

— Ola! Como você está?

— Dolorido – eu podia acrescentar humilhado, triste, cansado, mas eu gostava de Valdi, ele não merecia que eu descarregasse nele o que seu pai fizera comigo.

— Eu lamento – disse ele sentando na cadeira perto de mim.

— Esqueci – fiz um gesto como se estivesse afastando uma mosca – Você não tem do que se desculpar Valdi, quem fez isso comigo foi o Imperador.

— Meu pai está virando um monstro Andrew. Eu e meus irmãos estivemos conversando e apesar de tudo ser do maior sigilo eu confio em você.

Valdi começou a me contar o que acontecera depois que o Imperador saiu e eu pude formar um quadro na minha mente.





 Tiol estava com tanta raiva que estava a ponto de sair e brigar com o seu pai, mas Erant o impediu.

— Vocês não queriam dar um jeito nele? – gritava Tiol tentando se livrar do irmão – Eu vou resolver isso hoje!

— Não vai não! – Abrahan havia saído da enfermaria encolhido e a ponto de desmaiar.

— Papa! – Tiol se desvencilhou de Erant para correr para ele antes que caísse no chão – O senhor deveria ficar descansando!

— Tiol, Erant – ele se apoiou no filho caçula – Me ajudem a chegar no quarto de um de vocês, eu não quero ir para perto do pai de vocês por hora e chamem Valdi e Yaci eu quero conversar com eles.

Tiol ia protestar, mas Abrahan fez um carinho nos cabelos do filho.

— Por favor meu querido. Isso é muito importante.

Mesmo contrariado, Tiol o levou até seu quarto enquanto Erant procurava os outros dois irmãos.

Quando estavam todos reunidos e em volta de Abrahan que deitara na cama de Tiol ele começou a conversar com seus filhos.

— Eu quero que cada um de vocês me prometa que não vão procurar vingança contra o pai de vocês.

— Não pode pedir isso a nós, pai!  - Valdi levantou contrariado – Ele tem que parar!

— Meus filhos eu não me importo o que acontece comigo, mas se ele fizer qualquer coisa contra vocês eu não sei se vou aguentar.

— Pai – Yaci ajoelhou-se perto da cama e olhou Abrahan nos olhos – Sei que ama a gente e que faria qualquer coisa para que fiquemos seguros, mas isso foi a gora d’água. Fechei os meus olhos por muito tempo e o que consegui foi a sua dor e a dor do nosso povo.

— Yaci...

— Não, pai, deixa eu terminar! Eu não sou muito melhor que ele. sabia o que ele fazia com você e o que ele faz com crianças no porão. Ele as mata e estupra sem a menor piedade. Acha mesmo que podemos deixar um homem assim governar o nosso mundo?

 — E o que vocês vão fazer meu filho?

Yaci levantou e olhou os irmãos.

— A revolução.

— Revolução? – Tiol olhou perdido para o irmão – O que diabos é isso?

— Há um grupo de pessoas que se opõe ao governo do nosso pai. Ele os vem combatendo por muito tempo sem sucesso nem um. Ele me deixou na investigação desse grupo. Ele queria que fossem descobertos e eliminados. Com o passar do tempo eu descobri que não era um amontoado de pessoas desordenado, mas uma resistência bem formada que esta disposta de depor o Imperador e levar o próximo candidato à votação popular.

— E você acha que eles podem ou mesmo vão nos ajudar? – Erant cruzou os braços céptico.

— Eles querem o mesmo que nós, a destituição do Imperador.

— Isso é loucura Yaci! Se ele descobre mata cada um de vocês sem dó nem piedade – Abraham tremia só de pensar nisso.

— Mas ele vai descobrir pai! Vamos nos juntar a revolução e não ficar nas sombras, vamos conclamar o povo, incitá-lo! Temos dinheiro e armas e tenho certeza que a população humana e mestiça pode ser persuadida a nos ajudar.

— Você percebeu o que está falando Yaci? Você vai declarar uma guerra civil!

— Sei disso pai, mas se houver outra forma eu adoraria ouvir. O que não podemos é deixar as coisas como estão! Devo pensar no meu povo também.

— Eu estou com você! – Valdi levantou decido – Sou um príncipe aurifense e está na hora de começar a agir como tal.

— Acho isso uma loucura, mas vocês sabem o quanto eu gosto de uma boa loucura! – riu Erant para eles.

Todos olharam para Tiol que tinha ficado quieto.

— Algum de nós participou de uma guerra? Não! Se iniciarmos uma teremos que arcar com as conseqüências de levar milhares de vidas conosco.

— E o que estamos fazendo Tiol – Yaci foi para a janela olhar os jardins – Quando fechamos nossos olhos para nosso pai matando crianças, o dando ordens de segregação dos humanos e mestiços ou quando aceitamos como se fosse a coisa mais normal desse mundo que um escravocrata mate seu escravo com requintes de crueldade nós estamos levando vidas conosco. Deveríamos estar cuidando do povo e não aceitando que ele seja torturado e morto.

— Você vai se tornar defensor de escravos e mestiços agora Yaci?

— Estou cansado do seu preconceito! – Valdi levantou encarando o irmão – Chega dessa sua atitude Tiol! Vai destruir você e as pessoas a sua volta!

— O que faço da minha vida é problemas meu!    

— Chega vocês dois – interveio Abrahan e se voltou para Yaci – Você quer mesmo fazer isso Yaci?

— Sim pai. Por Aurifen e por minha família. Eu não estou sedento de poder e vou aceitar a decisão do povo, mas o que não posso continuar a ser conivente com o Imperador.

— Tiol? – olhou o filho caçula que balançou a cabeça.

— Eu não aceito entrar em uma guerra por essas pessoas! Se querem se sacrificar muito bem, mas não contem comigo! Não precisam se preocupar tão pouco, eu jamais contaria a nosso pai isso.

— Ele vai colocá-lo contra nós Tiol – disse Yaci – Mais cedo ou mais tarde vai ter que tomar partido nessa situação.

Tiol balançou a cabeça ainda em negação e saiu do quarto.

— Ele vai pensar – disse Erant – Confio nele.

— O que temos que ver agora são os detalhes. Preciso conversar com o líder da revolução.

— Acha que ele vai aceitar a sua ajuda? – Abrahan estava céptico.

— Claro que sim, afinal conheço bem ele e vocês também!

— Ele pertence ao nosso círculo? – perguntou Valdi curioso.

— Não exatamente, mas se olhar pela janela vai ver ele.

Valdi e Erant correram para olhar os jardins iluminado pelas lanternas, mas a única coisa que viram foi Erim resmungando contra ajudantes imprestáveis.

— Não tem ninguém lá fora Yaci – disse Erant contrariado.

— Mas é claro que tem.

— Erim?! – Valdi ficou boquiaberto – Isso é brincadeira!

— Não. Ele é o líder e descobri há duas semanas.

— Por que você já não o entregou para o nosso pai?

— Por que eu queria saber mais sobre essa revolução e sobre Erim.

— Ele suspeita de alguma coisa?

— Erim não é tolo Valdi, ele sabe que eu descobri a sua identidade, mas mesmo assim continua aqui como se nada estivesse acontecendo, como se ele quisesse nos sondar também para ver qual era o nosso próximo passo.

— Erim Gnare – Abrahan quase não acreditava – Um jardineiro e mestre dos jogos.

— Quer disfarce melhor? Assim ele sabe de muita coisa e principalmente dentro da sala de jogos onde as pessoas costumam soltar a língua.

— Tem certeza que o pai de vocês não sabe dele?

— Eu consegui despistá-lo até agora, mas creio que ele vai ficar cada vez mais desconfiado. Temos que agir logo – Yaci olhou para o pai – Temos que conseguir tirar você daqui pai.

— Não posso deixar Tiol para trás Yaci.

— Ele vai conosco por bem ou por mal! Ele não é mais um adolescente para ficar tendo essas atitudes. Vou conversar com Erim essa noite e se as coisas deram certo, amanhã vamos partir.

— Para onde? – perguntou Valdi.

— Por hora isso só Erim sabe, mas quero todos prontos. Tenham em mão aquilo que não pode ser deixado para trás em hipótese nem uma.

— Mas e Andrew? Se ele ficar... – Valda balançou a cabeça.

— Ele vir conosco assim como Ian. Não quero que fiquem para morrer nas mãos dele.




— ...e foi isso – terminou Valdi de contar a sua história me deixando pasmo.

— Vocês vão fazer isso mesmo?

— Gostaria que houvesse outro modo, mas não há.

— Obrigado por ter se lembrado de mim Valdi, eu não sei o que ia fazer se descobrisse que vocês tinham partido e me deixado nas mãos desse doido!

A porta foi aberta e um carrancudo Tiol entrou olhando feio para Valdi.

— O que você está fazendo aqui?

— Boa noite para você também Tiol e o que eu saiba aqui é a minha casa ainda.

— Eu quero conversar com meu escravo! Saia!

— Como você é educado – resmungou Valdi me abraçando e sussurrando no meu ouvido – O que Tiol mais teme nessa vida é o amor – ele se afastou sorrindo para mim – Descanse bem Andrew.

Por um momento olhei em confusão para o rosto safado de Valdi até que se fez luz em meu espírito e eu entendi o comentário dele.

Tiol olhou com cara feia o irmão sair e ele se sentou perto de mim.

— Como você está?

— Depois de uma sessão de tortura? Ótimo.

— Meu pai as vezes exagera...

— Seu pai é doido Tiol e não pelo que ele fez a mim, mas pelo que ele fez a Abrahan.

Tiol passou os dedos pelo cabelo prateado com um estranho desespero.

— Ele é o imperador Andrew, devemos respeito a ele.

— Acredita mesmo no que está falando Tiol? Mesmo ele machucando Abrahan, a pessoa que ele supostamente deveria amar?

— Essa bobagem de amor não existe! – agora ele parecia alterado.

— Então você não ama seu pai Abrahan?

— Falo de outro tipo de amor.

— Mesmo? – sentei na beirada da cama chegando perto dele – Você fala daquele amor que as pessoas ficam suspirando por ai? Ou aquele em que você não para de pensar na pessoa amada? Talvez aquele onde você quer fazer de tudo, até trazer as estrelas – fui chegando mais perto – Ou daquele amor ardente, sem limites ou regras que nos queima por dentro a ponto de achar que o nosso coração vai explodir!?

Foi ai que fiz o que eu não deveria ter feito. Durante muito tempo depois eu ia me arrepender do meu gesto, mas eu só pensava em punir Tiol.

Eu me joguei em seus braços e comecei a beijá-lo. Ele me abraçou e retribuiu o beijo com um ardor que me fez gemer em sua boca quente úmida.

Ele sabia beijar! Eu nunca havia beijado ninguém em minha vida e o meu primeiro beijo era uma tentativa de vingança? Em que eu estava me tornando? Mas eu não consegui parar de beijá-lo e acabava me lembrando daqueles romances mornos que havia na escola onde descrevia os beijos como inebriantes e com sabor. Achava aquilo uma baita bobagem, mas o beijo de Tiol tinha gosto de morangos com chocolate e eu estava ficando viciado nele.

Quando nos separamos Tiol me olhou apavorado.

Como lembrete recebi um belo de um tapa e ele saiu correndo do meu quarto me deixando caído ali no chão nem sentindo o ardor no meu rosto, mas ainda com o gosto dele na minha boca.  

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Rumo ao Paraido - Capitulo Nove


Capitulo Nove



A manhã chegou com o sol despontando no horizonte iluminando umas poucas nuvens de cor de rosa e esquentando o frio da manhã. Os sons da fazenda também estavam pelo ar como o mugido das vacas, o canto dos galos e o sussurro do vento nas árvores.

Fabian havia acordado cedo para fazer o café. Tentara levantar sem acordar Kauan que dormia com ele, mas uns minutos depois o menino entrou na cozinha e sentou em uma cadeira encarando a mesa da cozinha. Tinha um ar abatido e cansado.

— Kauan ainda está cedo, pode dormir um pouco mais.

— Eu não quero dormir. Eu sonhei que a Mara morria e o pai brigava comigo.

Decididamente Fabian ia ter uma conversa com aquele fazendeiro! Sua atitude quanto ao filho não devia ser muito boa para deixá-lo assim.

Ele procurou distrair o menino fazendo panquecas e conversando sobre a cidade de São Paulo e sobre os desenhos que assistia quando criança.

Regina desceu bocejando.

— Bom dia – disse ela desarrumando os cabelos de Kauan e beijando Gabriel que estava em sua cesta – Panquecas! Ai eu tom morrendo de fome.

— Você sempre ta morrendo de fome – resmungou Kauan arrumando o cabelo.

— Eu estou em fase de crescimento!

Fabian riu dos irmãos e continuou a fazer o café até que Jon desceu com a cara amassada e resmungando de ser muito cedo.

Começaram a tomar o seu café e logo Márcio apareceu esfregando as mãos e tremendo.

— Gente ta um frio danado lá fora – disse ele sentando e pegando uma xícara para tomar café quente – Esse ano teremos geada.

Uma batida na porta interrompeu a conversa dele e Fabian se levantou para atender dando de cara com Laércio que carregava uma Samara sorridente.

— Pai! – Regina e Jon pularam da mesa e foram para o pai e a irmão.

— Por favor, entrem está frio ai fora para a menina – disse Fabian abrindo mais a porta.

Laércio sorriu para ele, mas Fabian lançou um olhar duro para o fazendeiro.

— Tudo certo Samara? – perguntou Márcio empurrando uma cadeira para Laércio colocar a menina.

— Ainda dói um pouco, mas ta tudo certo. Era uma baita cascavel!

— Era mais perto de um filhote, filha – Samara logo ia começar a contar que era a anaconda – Cadê o Kauan? Dormindo?

Olharam em volta dando finalmente falta do caçula.

— Ele deve ter subido para o quarto – olhou para Laércio – Gostaria de vir comigo?

Laércio franziu as sobrancelhas, mas acompanhou o rapaz escada acima, mas assim que chegaram no corredor Fabian parou na frente dele com o olhar frio.

— Seu Laércio, seu filho está muito assustado achando que tudo isso é culpa dele, até mesmo para dormir ele teve dificuldades.

— Mas porque ele está pensando essas besteiras? – Laércio assustou-se com a declaração do outro.

— Parece que foi o modo como você o tratou na mata. Ele é um garoto muito sensível Laércio.

— Eu estava apavorado naquela hora e acho que fui grosso com ele – passou as mãos pelos cachos loiros mostrando certo desespero – Eu jamais culparia meu filho por algo assim Fabian. Sei que eles gostam da liberdade e vivem explorando a fazenda. Ninguém nunca conseguiu impedir eles disso. Tenho certeza que foi Samara que o empurrou para a mata, Kauan odeia ficar andando pelo mato.

— Não é a mim que você deve dizer isso, mas ao Kauan – apontou a porta do seu quarto – Ele dormiu comigo, vamos dar uma olhada se ele voltou para o meu quarto.

Fabian abriu a porta e deu com o menino deitado na cama escondendo o rosto do travesseiro com o corpo sacudido por soluços.

O rapaz teve vontade de pegá-lo no colo e o abraçar até poder amenizar a sua dor, mas sabia que isso devia ser feito pelo pai dele.

Laércio deu um sorriso para ele e entrou no quarto. Fabian fechou a porta e desceu.

Dentro do quarto Laércio colocou a mão na cabeça castanha do filho bagunçando os cabelos cheio de cachos. Kauan se virou assustado olhando com os olhos azuis vermelhos do choro para o pai. Ele nem deixou Laércio falar algo, jogou-se nos braços dele e começou a falar aos tropeços.

— Desculpa pai! Eu devia ter cuidado da Mara! Eu devia ter matado a cobra mais cedo, antes dela...

— Kauan – Laércio disse com gentileza – Você não tem culpa nem uma, entende. Há cobras por todo o lado aqui na fazenda – abraçou ele apertado – Samara foi quem ti carregou para a mata, não é? Por favor filho não vá mais lá. Eu já falei com a sua irmã e ela disse que não vai fazer isso mais – afastou um pouco o menino – Filho obrigado por ter cuidado da Mara. Se você não fosse uma garoto tão corajoso sua irmã podia ter sido picada com mais profundidade.

Kauan voltou a abraçá-lo.

— Vamos ver a sua irmã – disse ele pegando o filho no colo.

Eles desceram e encontraram Samara contando a sua aventura pela décima vez. A menina se agarrou em Kauan beijando ele no rosto várias vezes até que ele mandou ela parar porque aquilo era nojento!

Todos riram e voltaram para o seu café com os corações mais leves.



A fazenda Santa Cruz era vizinha da fazenda paraíso ao sul, mas nem Laércio e nem Celso Ciro de Albuquerque, dono da Santa Cruz, mantinham contato. Celso fora amigo intimo do avô de Laércio, mas quando descobrira que p sobrinho do homem era bissexual cortara relações com aquela família.

— Essa cidade não é mais a mesma – resmungou Tiago Mourão, advogado de renome na cidade – Essas bichas estão infestando o nosso lar e corrompendo os nossos filhos.

— Eu conversei com o delegado, mas você sabe como aquele idiota é!

— Ele não vai fazer nada! Eu sabia disso há muito tempo.

— O que temos que fazer é juntar as pessoas de bem dessa cidade e dar um jeito nisso Tiago. Não posso continuar com medo de que meus netos peguem essa doença de homossexualidade.

— Pra mim isso é pura falta de vergonha na cara. Por mim já tínhamos dado um fim a essas porcarias!

— Você sabe que Laércio não é alguém para se brincar. Dinheiro é poder meu caro e Laércio tem os dois. Por isso temos que agir nas sombras aos poucos e deixá-lo para o final.

— Concordo com você – Tiago deu um sorvo em seu wisk matinal – Vou conversar com os outros e marcar uma reunião.

— Só seja discreto homem, há muito simpatizante dessa gente por ai que pode entrar em nosso caminho.

— Não se preocupe Celso, vou fazer tudo discretamente.

Celso sorriu de forma superior como se fosse rei do mundo. Olhou para a sala de sua mansão na fazenda ricamente decorada com tudo que de melhor que o dinheiro podia conseguir. Ele não acreditava que as pessoas não conseguiam vencer e ficar como ele. As pessoas de classe baixa não passavam de instrumentos para ele, um mercado consumidor para os seus produtos que não deveria pensar, apenas consumir.

Laércio sempre fora uma pedra em seu caminho. Rico, mas mesmo assim se rebaixava alardeando que era bissexual e repartindo lucros com seus empregados. Onde já se viu isso? Ele cortaria um braço fora antes de dar algo aos seus empregados. Para ele trabalhou e fez bem o seu serviço, recebe, mas não deveria esperar nada mais que isso. Ele não era o governo que ficava fazendo caridade, ele trabalhava muito por tudo que tinha.

Estava disposto a se livrar dessa pedra o mais rápido possível!



Laércio havia pedido para Fabian ir conversar com ele em sua casa após o almoço. Sem entender o que o fazendeiro queria com ele, pegou o cesto de Gabriel que ria para ele e saiu de casa para um dia que começara a esquentar. A previsão do tempo na internet havia alertado para chuvas fortes que podiam chegar a qualquer momento.

Foi até a porta e bateu ouvindo preocupado uma serie de latidos fortes e Laércio gritando:

— Anúbis sai! Para! Anúbis!

A porta abriu a um descabelado e babado Laércio segurava o pastor alemão que queria pular em Fabian que deu um passo para trás colocando a cesta atrás dele.

— Anúbis! – cachorro parou de tentar pular em Fabian para pular em Laércio e o lamber por todo o rosto.

O fazendeiro tentou empurrar o cachorro, mas acabou por tropeçar em Sekmet que estava se enroscando em suas pernas e caiu em meio a cão e gato.

— Laércio você está bem? – Fabian estava preocupado, mas tinha medo de chegar perto daquele cachorro psicótico.

 — Eu estou vivo – resmungou ele segurando o pescoço de Anúbis que todo feliz se livrou dele e deu um pulo para cima da gata que gritou contrariada e correu para aporta com o cachorro atrás dela. Ouviram o barulho de algo caindo ao longe.

— Um dia esses dois me matam – resmungou Laércio do chão com os cabelos em pé e baba no rosto.

Fabian não pode se segurar e começou a rir, Gabriel também deu um gritinho do seu carregador.

— Vocês dois tão adorando – ele começou a rir também e aceitou a mão de Fabian para se levantar – Venha Fabian, fique a vontade. Vou me limpar, estou fedendo a cachorro.

O rapaz entrou na sala olhando os móveis que compunham tudo com leveza e bom gosto.

— Desculpe a bagunça, mas Anúbis é meio enérgico.

— Meio? – o cachorro mais parecia uma máquina de lamber ambulante.

Laércio deu um pequeno sorriso e sentou no sofá convidando Fabian a fazer o mesmo.

— Bem Fabian eu gostaria de ti fazer uma proposta.

— Proposta? – imediatamente ele ficou vermelho ao ser ver pensando em uma cama com lençóis de seda.

— Uma proposta de trabalho.

— Ah! – idiota! Fabian se xingou mentalmente.

— Márcio me disse que você estava procurando algo e eu estou precisando de ajuda desesperadamente.

— Bem eu não sei fazer muita coisa em uma fazenda, mas estou disposto a aprender.

— Bem, eu gostaria de ti oferecer o emprego de beba dos meus filhos! – ele deu um grande sorriso.

— Eu de baba? Acho que não tenho qualificação para isso, seu Laércio.

— Por favor, me chame só de Laércio e foram os meus filhos que me pediram para conversar com você. Parece que eles gostaram muito da sua companhia e acharam que você podia ser um ótimo baba. Você não precisa se preocupar com Gabriel pode trazer ele junto, meus meninos adoram bebês. O que acha?

Fabian não sabia o que responder. Ele pensara em todo tipo de trabalho, mas o de babá de quatro crianças que pareciam atrair problemas como mel atrai abelhas não era um deles.

— Bem o salário que oferece é acima de média... – Laércio disse uma cifra de quatro dígitos que quase fez ele engasgar.

Tudo isso para ser babá? Deus ele precisava do dinheiro e alem do mais podia cuidar do seu filho também.

— Aceito seu Laércio – ele estendeu a mão para o fazendeiro que a segurou olhando em seus olhos.

— Esqueça o “seu” Fabian, é só Laércio.

Laércio apertou a sua mãos mais tempo do que o necessário deixando Fabian ainda mais vermelho e nervoso. Ele precisa muito trabalhar, mas ficar perto daquele homem lindo e másculo ia acabar sendo a sua perdição.



Há cerca de setenta quilômetros de Altinópolis, o dono de um posto de gasolina na beira da estrada quase teve um infarto ao encontrar um corpo atrás do seu estabelecimento. Ali era um matagal e ele fora até ali dar uma mijada quando viu um monte de moscas ao longe e olhando com mais atenção viu as roupas de mendigo que estivera ali no outro dia. Curioso deus alguns passos e ao ver o estado do corpo voltou para trás aos tropeços. Alguém havia cortado a cabeça do pobre rapaz e colocado ela em cima do seu tórax com o rosto voltado para o sul como uma macabra seta apontando uma direção.