Capitulo Nove
A manhã chegou com o sol despontando
no horizonte iluminando umas poucas nuvens de cor de rosa e esquentando o frio
da manhã. Os sons da fazenda também estavam pelo ar como o mugido das vacas, o
canto dos galos e o sussurro do vento nas árvores.
Fabian havia acordado cedo para fazer
o café. Tentara levantar sem acordar Kauan que dormia com ele, mas uns minutos
depois o menino entrou na cozinha e sentou em uma cadeira encarando a mesa da
cozinha. Tinha um ar abatido e cansado.
— Kauan ainda está cedo, pode dormir
um pouco mais.
— Eu não quero dormir. Eu sonhei que a
Mara morria e o pai brigava comigo.
Decididamente Fabian ia ter uma
conversa com aquele fazendeiro! Sua atitude quanto ao filho não devia ser muito
boa para deixá-lo assim.
Ele procurou distrair o menino fazendo
panquecas e conversando sobre a cidade de São Paulo e sobre os desenhos que
assistia quando criança.
Regina desceu bocejando.
— Bom dia – disse ela desarrumando os
cabelos de Kauan e beijando Gabriel que estava em sua cesta – Panquecas! Ai eu
tom morrendo de fome.
— Você sempre ta morrendo de fome –
resmungou Kauan arrumando o cabelo.
— Eu estou em fase de crescimento!
Fabian riu dos irmãos e continuou a
fazer o café até que Jon desceu com a cara amassada e resmungando de ser muito
cedo.
Começaram a tomar o seu café e logo
Márcio apareceu esfregando as mãos e tremendo.
— Gente ta um frio danado lá fora –
disse ele sentando e pegando uma xícara para tomar café quente – Esse ano teremos
geada.
Uma batida na porta interrompeu a
conversa dele e Fabian se levantou para atender dando de cara com Laércio que
carregava uma Samara sorridente.
— Pai! – Regina e Jon pularam da mesa
e foram para o pai e a irmão.
— Por favor, entrem está frio ai fora
para a menina – disse Fabian abrindo mais a porta.
Laércio sorriu para ele, mas Fabian
lançou um olhar duro para o fazendeiro.
— Tudo certo Samara? – perguntou Márcio
empurrando uma cadeira para Laércio colocar a menina.
— Ainda dói um pouco, mas ta tudo
certo. Era uma baita cascavel!
— Era mais perto de um filhote, filha –
Samara logo ia começar a contar que era a anaconda – Cadê o Kauan? Dormindo?
Olharam em volta dando finalmente
falta do caçula.
— Ele deve ter subido para o quarto –
olhou para Laércio – Gostaria de vir comigo?
Laércio franziu as sobrancelhas, mas
acompanhou o rapaz escada acima, mas assim que chegaram no corredor Fabian
parou na frente dele com o olhar frio.
— Seu Laércio, seu filho está muito
assustado achando que tudo isso é culpa dele, até mesmo para dormir ele teve
dificuldades.
— Mas porque ele está pensando essas
besteiras? – Laércio assustou-se com a declaração do outro.
— Parece que foi o modo como você o
tratou na mata. Ele é um garoto muito sensível Laércio.
— Eu estava apavorado naquela hora e
acho que fui grosso com ele – passou as mãos pelos cachos loiros mostrando
certo desespero – Eu jamais culparia meu filho por algo assim Fabian. Sei que
eles gostam da liberdade e vivem explorando a fazenda. Ninguém nunca conseguiu
impedir eles disso. Tenho certeza que foi Samara que o empurrou para a mata,
Kauan odeia ficar andando pelo mato.
— Não é a mim que você deve dizer
isso, mas ao Kauan – apontou a porta do seu quarto – Ele dormiu comigo, vamos
dar uma olhada se ele voltou para o meu quarto.
Fabian abriu a porta e deu com o
menino deitado na cama escondendo o rosto do travesseiro com o corpo sacudido
por soluços.
O rapaz teve vontade de pegá-lo no
colo e o abraçar até poder amenizar a sua dor, mas sabia que isso devia ser
feito pelo pai dele.
Laércio deu um sorriso para ele e
entrou no quarto. Fabian fechou a porta e desceu.
Dentro do quarto Laércio colocou a mão
na cabeça castanha do filho bagunçando os cabelos cheio de cachos. Kauan se
virou assustado olhando com os olhos azuis vermelhos do choro para o pai. Ele nem
deixou Laércio falar algo, jogou-se nos braços dele e começou a falar aos
tropeços.
— Desculpa pai! Eu devia ter cuidado
da Mara! Eu devia ter matado a cobra mais cedo, antes dela...
— Kauan – Laércio disse com gentileza –
Você não tem culpa nem uma, entende. Há cobras por todo o lado aqui na fazenda –
abraçou ele apertado – Samara foi quem ti carregou para a mata, não é? Por
favor filho não vá mais lá. Eu já falei com a sua irmã e ela disse que não vai
fazer isso mais – afastou um pouco o menino – Filho obrigado por ter cuidado da
Mara. Se você não fosse uma garoto tão corajoso sua irmã podia ter sido picada
com mais profundidade.
Kauan voltou a abraçá-lo.
— Vamos ver a sua irmã – disse ele
pegando o filho no colo.
Eles desceram e encontraram Samara
contando a sua aventura pela décima vez. A menina se agarrou em Kauan beijando
ele no rosto várias vezes até que ele mandou ela parar porque aquilo era
nojento!
Todos riram e voltaram para o seu café
com os corações mais leves.
A fazenda Santa Cruz era vizinha da
fazenda paraíso ao sul, mas nem Laércio e nem Celso Ciro de Albuquerque, dono
da Santa Cruz, mantinham contato. Celso fora amigo intimo do avô de Laércio,
mas quando descobrira que p sobrinho do homem era bissexual cortara relações
com aquela família.
— Essa cidade não é mais a mesma –
resmungou Tiago Mourão, advogado de renome na cidade – Essas bichas estão
infestando o nosso lar e corrompendo os nossos filhos.
— Eu conversei com o delegado, mas você
sabe como aquele idiota é!
— Ele não vai fazer nada! Eu sabia
disso há muito tempo.
— O que temos que fazer é juntar as
pessoas de bem dessa cidade e dar um jeito nisso Tiago. Não posso continuar com
medo de que meus netos peguem essa doença de homossexualidade.
— Pra mim isso é pura falta de
vergonha na cara. Por mim já tínhamos dado um fim a essas porcarias!
— Você sabe que Laércio não é alguém para
se brincar. Dinheiro é poder meu caro e Laércio tem os dois. Por isso temos que
agir nas sombras aos poucos e deixá-lo para o final.
— Concordo com você – Tiago deu um
sorvo em seu wisk matinal – Vou conversar com os outros e marcar uma reunião.
— Só seja discreto homem, há muito
simpatizante dessa gente por ai que pode entrar em nosso caminho.
— Não se preocupe Celso, vou fazer
tudo discretamente.
Celso sorriu de forma superior como se
fosse rei do mundo. Olhou para a sala de sua mansão na fazenda ricamente
decorada com tudo que de melhor que o dinheiro podia conseguir. Ele não
acreditava que as pessoas não conseguiam vencer e ficar como ele. As pessoas de
classe baixa não passavam de instrumentos para ele, um mercado consumidor para
os seus produtos que não deveria pensar, apenas consumir.
Laércio sempre fora uma pedra em seu
caminho. Rico, mas mesmo assim se rebaixava alardeando que era bissexual e
repartindo lucros com seus empregados. Onde já se viu isso? Ele cortaria um
braço fora antes de dar algo aos seus empregados. Para ele trabalhou e fez bem
o seu serviço, recebe, mas não deveria esperar nada mais que isso. Ele não era
o governo que ficava fazendo caridade, ele trabalhava muito por tudo que tinha.
Estava disposto a se livrar dessa
pedra o mais rápido possível!
Laércio havia pedido para Fabian ir
conversar com ele em sua casa após o almoço. Sem entender o que o fazendeiro
queria com ele, pegou o cesto de Gabriel que ria para ele e saiu de casa para
um dia que começara a esquentar. A previsão do tempo na internet havia alertado
para chuvas fortes que podiam chegar a qualquer momento.
Foi até a porta e bateu ouvindo
preocupado uma serie de latidos fortes e Laércio gritando:
— Anúbis sai! Para! Anúbis!
A porta abriu a um descabelado e
babado Laércio segurava o pastor alemão que queria pular em Fabian que deu um
passo para trás colocando a cesta atrás dele.
— Anúbis! – cachorro parou de tentar
pular em Fabian para pular em Laércio e o lamber por todo o rosto.
O fazendeiro tentou empurrar o
cachorro, mas acabou por tropeçar em Sekmet que estava se enroscando em suas
pernas e caiu em meio a cão e gato.
— Laércio você está bem? – Fabian
estava preocupado, mas tinha medo de chegar perto daquele cachorro psicótico.
— Eu estou vivo – resmungou ele segurando o
pescoço de Anúbis que todo feliz se livrou dele e deu um pulo para cima da gata
que gritou contrariada e correu para aporta com o cachorro atrás dela. Ouviram o
barulho de algo caindo ao longe.
— Um dia esses dois me matam –
resmungou Laércio do chão com os cabelos em pé e baba no rosto.
Fabian não pode se segurar e começou a
rir, Gabriel também deu um gritinho do seu carregador.
— Vocês dois tão adorando – ele começou
a rir também e aceitou a mão de Fabian para se levantar – Venha Fabian, fique a
vontade. Vou me limpar, estou fedendo a cachorro.
O rapaz entrou na sala olhando os
móveis que compunham tudo com leveza e bom gosto.
— Desculpe a bagunça, mas Anúbis é
meio enérgico.
— Meio? – o cachorro mais parecia uma
máquina de lamber ambulante.
Laércio deu um pequeno sorriso e
sentou no sofá convidando Fabian a fazer o mesmo.
— Bem Fabian eu gostaria de ti fazer
uma proposta.
— Proposta? – imediatamente ele ficou
vermelho ao ser ver pensando em uma cama com lençóis de seda.
— Uma proposta de trabalho.
— Ah! – idiota! Fabian se xingou
mentalmente.
— Márcio me disse que você estava
procurando algo e eu estou precisando de ajuda desesperadamente.
— Bem eu não sei fazer muita coisa em uma
fazenda, mas estou disposto a aprender.
— Bem, eu gostaria de ti oferecer o
emprego de beba dos meus filhos! – ele deu um grande sorriso.
— Eu de baba? Acho que não tenho
qualificação para isso, seu Laércio.
— Por favor, me chame só de Laércio e
foram os meus filhos que me pediram para conversar com você. Parece que eles
gostaram muito da sua companhia e acharam que você podia ser um ótimo baba. Você
não precisa se preocupar com Gabriel pode trazer ele junto, meus meninos adoram
bebês. O que acha?
Fabian não sabia o que responder. Ele pensara
em todo tipo de trabalho, mas o de babá de quatro crianças que pareciam atrair
problemas como mel atrai abelhas não era um deles.
— Bem o salário que oferece é acima de
média... – Laércio disse uma cifra de quatro dígitos que quase fez ele
engasgar.
Tudo isso para ser babá? Deus ele
precisava do dinheiro e alem do mais podia cuidar do seu filho também.
— Aceito seu Laércio – ele estendeu a
mão para o fazendeiro que a segurou olhando em seus olhos.
— Esqueça o “seu” Fabian, é só
Laércio.
Laércio apertou a sua mãos mais tempo
do que o necessário deixando Fabian ainda mais vermelho e nervoso. Ele precisa
muito trabalhar, mas ficar perto daquele homem lindo e másculo ia acabar sendo
a sua perdição.
Há cerca de setenta quilômetros de
Altinópolis, o dono de um posto de gasolina na beira da estrada quase teve um
infarto ao encontrar um corpo atrás do seu estabelecimento. Ali era um matagal
e ele fora até ali dar uma mijada quando viu um monte de moscas ao longe e
olhando com mais atenção viu as roupas de mendigo que estivera ali no outro
dia. Curioso deus alguns passos e ao ver o estado do corpo voltou para trás aos
tropeços. Alguém havia cortado a cabeça do pobre rapaz e colocado ela em cima
do seu tórax com o rosto voltado para o sul como uma macabra seta apontando uma
direção.
Nossa, dalla32, tava esperando ansioso pela continuação de Rumo ao Paraíso!!! Obrigadoooo!!!
ResponderExcluirAdoro essa história!
Até mais.
nossa tô mais que ansiosa pela continuação!!eu sei que você tá escrevendo vários na integra, mas por favor posta outro capítulo logo!!rsrs
ResponderExcluirAdoro sua histórias!bjus