Minha lista de blogs

terça-feira, 26 de junho de 2012

Caminhos do Destino - Capitulo XXVII

                                                                 PAUL NO DESERTO


 
Capitulo XXVII



Paul olhava para o deserto observando o vento levar os grãos de um lado para o outro mudando as dunas de lugar. O céu de um azul cinzento brilhava e o calor fora da caverna onde estavam era tórrido.

Haviam viajado a noite toda e parado ao amanhecer para dormir em uma caverna num amontoado de rochas.

Kallil dormia calmamente, mas a cabeça de Paul estava em seus filhos e em Mat. Esfregou seu lado esquerdo como se quisesse acalmar seu coração, mas a sua dor não lhe dava trégua.

Lembrou de sua casa na orla da floresta, de suas crianças correndo de um lado para o outro, das brigas de Gabe e Sara e do sorriso de Mat que iluminava a sua vida.

Sentou na entrada da caverna deixando que seus pensamentos vagassem como os ventos e fossem carregados para a sua família. Pediu a Deus que todos estivessem bem e em segurança.

— Estou voltando – disse em voz baixa cansado.

De repente a bile subiu em sua garganta e ele correu para fora da caverna vomitando tudo que comera. Gemendo encostou a cabeça ma lateral da rocha. Era só o que lhe faltava, ficar doente no meio de um nada maldito.

Coçou a tatuagem da rosa contrariado e voltou para dentro deitando. Precisava descansar para continuar sua jornada e era isso que ia fazer!




Mimir girou o corpo batendo no pedaço de madeira que Sara segurava como se fosse uma espada e como das outras vinte vezes sara bloqueou seu golpe com um sorriso no rosto. Aquela criança podia ouvir e sentir seus movimentos quase antes mesmo dela começá-los.

— Como você faz isso? – perguntou a amazona irritada.

— Você pensa muito alto – disse a menina rindo – Eu decorei seus movimentos Mimir e os que você está improvisando não são bons.

Mimir girou o corpo e colocou o pedaço de madeira para baixo, mas Sara afastou o corpo com agilidade e bateu na mão dela para deixar a “arma” cair.

— Essa doeu – resmungou a outro olhando para a mão – Menina não há muitas mulheres do meu povo que podem me vencer e poucos homens, mas você mesmo não me vendo é capaz de fazer isso.

— A diferença é que vocês usam muito os olhos e esquecem que tem ouvidos, nariz e pele. Imagine que tudo isso trabalha para eu sentir as coisas ao meu redor e tenho uma memória muito boa.

— Sinto honrada em ter lutado com você – a moça inclinou perante Sara e a menina fez o mesmo.

Ela conhecera um pouco da amazona naqueles dias e passara a gostar de seu jeito decidido, de sua cultura e de seu modo de vida. Mimir amava e respeitava todas as coisas vivas e tinha uma energia incrível em sua voz quando ela falava de suas viagens e do seu sonho em abrir uma universidade no norte para ensinar história e aproximar os povos das amazonas.

Mimir tinha uma liberdade que de inicio seduziu Sara, mas a verdade era que ela preferia estar em sua casa, com sua mãe e irmãos e isso incluía o chato que estava indo resgatar. Ela esperava que Gabe estivesse bem e sua mãe também.

Ergueu o rosto em direção ao vento e sentiu cheiros estranhos nele cravo e canela flutuavam no ar mais seco e quente. Elas estavam chegando perto do deserto, podia sentir isso.

— Está preocupada com sua família – disse Mimir guardando as espadas de madeira.

— Estou. Sei que estamos perto do deserto. Cheiros mudam, o ar seco e a vegetação a nossa volta.

— Kotem não está muito longe. É uma região montanhosa e de difícil acesso, mas acho que podemos dar um jeito, alem do mais talvez ache algum dragão que conheça. Eles costumam ir para o sul no inverno ficar nas matas perto de nossas cidades e por muitas vezes eles entram nelas e ficam andando de um lado para o outro.

— Dragões nas cidades?! – Sara ficou horrorizada – Mas eles não comem vocês?

— São dragões verdes vegetarianos, mas mesmo os carnívoros não gostam da carne humana dizem que é salgada.

— Dizem? Dragões falam?

— Fluentemente.

— Eu não sabia disso. Gostaria de conversar com um deles.

— Quem sabe logo.



Gabe sentiu o vento á sua volta deixando que a sua consciência fluísse com ele. Era um exercício cansativo, mas ele conseguia fazê-lo com facilidade ali. Era como se a terra dos dragões tivessem uma força estranha sobre ele.

Sua mão direita foi á frente e ele deixou o vento passar por seus dedos prestando atenção na sua direção, intensidade e temperatura. Ficou maravilhado em como as rajadas viam em sentido contrario e elas eram mais quentes e tinham uma intensidade mais forte. Sanet havia dito que as rajadas eram ventos vindos do deserto de Altair e se misturavam aos ventos das terras de Gaulesh.

Sua mão virou quando algo aconteceu. O vento não se afastou, era como se eles estivesse girando em sua mão. Abriu os olhos vendo assombrado a pequena movimentação em torno de sua mão como um pequeno tornado em torno dos seus dedos.

Forçou-se a ficar calmo de deixar o vento saber do que ele queria e o pequeno tornado escapou de sua mão indo dançar a sua frente aumentando de tamanho, mas sob controle.

Gabe empurrou o tornado que ficou maior e ficou girando no mesmo lugar. Ele sentiu as correntes de vento e ergueu as duas mãos. O tornado ficou imenso no topo da colina.

Rindo ele o fez subir aos céus e logo imaginou seu próprio corpo subindo junto e ele estava voando, mas não sentia medo, ao contrario, ele se sentia livre pela primeira vez na vida! Seu coração parecia que ia explodir de alegria.

Voou mais alto com o seu tornado e entrou no meio dele deixando que o vento aumentasse ainda mais ficando tão veloz e forte que tudo a sua volta desapareceu e ele estava dentro de um mundo nebuloso e cheio com o rugido do tornado. Seu corpo subiu ao sabor das correntes e ele voou acima das nuvens deixando o tornado se desfazer.

Seu corpo sem peso cortou as nuvens deixando-o com os cabelos pingando e pela primeira vez ele olhou a terra abaixo dele e ficou encantado ao perceber que não tinha medo. Estava tão alto que o mundo parecia uma colcha de retalhos aos seus pés.

Viu pássaro e dragões voando. Nuvens passavam á sua volta e ele resolveu voltar para a terra onde Sanet o olhava. Se fosse possível parecia que o dragão estava sorrindo.

— Muito bem filhote – elogiou ele – Entendeu como é o seu poder?

— É maravilhoso Sanet – ele estava pulando como Tildo.

— Mas cuidado. Tudo nessa vida tem um preço. Quando usa o poder esta usando a força da sua vida e isso o enfraquece. Se usar muito tempo vai cair de exaustão.

— Terei cuidado, mas a sensação de voar é tão maravilhosa que quase não consegui descer. Era como se eu quisesse ficar voando para sempre!

— Os dragões sabem como é a sensação – olhou para o céu – Voar por entre as nuvens deixando o vento zunir por entre as nossas asas e nos embriagarmos com a sensação de liberdade.

Gabe olhou para a colina onde ficava a caverna de Sanet e pensou preocupado em Maleah.

— Quero mostrar para Maleah, mas ele está estranho. Ele não fala nem com o seu tio.

— O pai de Maleah fez algo muito ruim a ela filhote. O que ele precisa é de tempo, lamber as suas feridas para cicatrizar e poder assim ir em frente.

— Existem pais maus em todo o mundo, né Sanet?

— É isso ai filhote, mas existem pais incríveis que seguimos o exemplo por toda a nossa vida. Meu pai morrer há mais de seiscentos anos e mesmo assim eu ainda lembro os seus conselhos e do seu rugido.

— Eu nunca vou esquecer o meu.

Os dois ficaram ali olhando ao longe e lembrando-se dos seus entes queridos.



Maleah virou as costas para seu primo que estava perto dele segurando uma folha com carne e legumes assados.

— Maleah se não comer não vai se recuperar.

— Quem disse que eu quero me recuperar?

— Malaeh... – Flyn havia conversado horas com ele, se bem que na verdade fora um monólogo, mas nada adiantou.

A depressão de seu primo doía em sua alma.

— Flyn nos dê licença – pediu Arkan entrando e com uma expressão dura que o rapaz vira apenas quando ele o mandara arrumar as suas coisas.

Ele acenou para o pai e deixou a caverna.

Maleah havia ouvido o tio, mas fingira que dormia não querendo falar com ninguém.

— Maleah nós vamos conversar sério agora e sei muito bem que está acordado e me ouvindo! Agora me olhe a vamos conversar.

A contra gosto ele olhou para o rosto sério do tio que estava em pé.

— Sei que tudo que ti aconteceu foi terrível, mas olhe o modo como está tratando Flyn! Ele o ama como a um irmão e eu o amo como se você fosse o meu filho! Deixamos tudo para traz por você e não nos arrependemos disso, mas se continuar a fazer o que está fazendo vai só conseguir afastar todos aqueles que ti amam e ficar sozinho e isso, filho, é um destino terrível.

Maleah tremeu com as palavras do tio e envergonhado cobriu os olhos com os braços e de repente sentiu os braços do tio o levantando e apertando seu corpo tremulo em um abraço que só o seu tio sabia dar.

Retribuiu o abraço agradecendo a Deus por ter dado a ele um tio e um primo que são capazes de fazer o que eles fizeram por ele e o elfo percebeu que ele não estava só e perdido, ele estava com sua família, ele estava em casa.





Kamm olhou para os homens que partiam para as terras de Haven e ficou satisfeito que tudo finalmente tenha começado.

— Aquele maga desapareceu – disse Naara perto dele – Soube que saiu com o amante.

— Waldrich não me preocupa Naara, mas eu preciso saber o que esta acontecendo para o rei Dylan ir para Haven.

— Foi confrontar o irmão – a elfo vermelha deu de ombros.

— Dylan pode ser tudo, mas não é idiota. Está na hora de jogarmos as terras humanas no caos e atacarmos a Floresta Velha.

— Acha que vai ser fácil assim vencer o seu pai?

— Não, mas meu pai nunca pensou que seria atacado em seus domínios, principalmente porque a floresta não é um local para quem não a conhece.

— Ele nunca achou que um dos seus ia atacá-lo? – ronronou a moça esfregando seu rosto nele.

— Meu pai tem controle sobre os elfos e os outros não são guerreiros. Ele não teme os humanos. Seu descuido vai lhe custar caro – ele deu um paço para trás se livrando da elfo que fungou contrariada.

— Pela Deusa Kamm! Eu me alimento de energia sexual e estou com fome!

— Vai procurar o que comer então – disse ele dando as costas para ela – Eu tenho mais o que fazer.

Naara revirou os olhos e foi atrás de alguém que saciasse a sua fome.




Capela ainda estava tremulo depois da sua viagem.

Waldrich havia invocado um bando de águias gigantes que ele só conhecia em livros de fantasia. Haviam atrelado suas coisas nelas e levantado vôo para o desespero dele que havia descoberto ter medo de alturas. Havia se agarrado as penas da ave não olhando para baixo nas seis horas que passaram voando.

Finalmente avistaram o deserto de Altair depois de uma alta cadeia de montanhas cobertas de neves que brilhavam rosa ao amanhecer.

O deserto era uma extensão sem fim de areia e ilhas de rocha cobertas de cacto por todo o lado. Um oceano de areia a se perder de vista.

— É hora de irmos – disse Ekbert para Capela.

— Vamos andar no deserto nesse sol?

O grande homem deu um sorriso sem alegria.

— Não vamos muito longe menino. Precisamos nos afastar para que Waldrich converse com Mathew e force a sua magia.

Capela olhou para o pequeno mago que estava olhando o rosto de Mat sem parecer dar conta que eles estavam ali ainda.

Queria protestar, mas sabia que aquele guerreiro Ekbert não era para ser contrariado e se quisesse ser verdadeiro tinha curiosidade em como tudo aquilo ia terminar. Se Mat manifestar mesmo alguma magia a história que ele ouvira era verdadeira, mas se isso não acontecesse ele sabia que era o vilão naquela história.

Resolveu acompanhar o guerreiro para outro amontoado de rochas há cerca de cem metros deles.

Enquanto isso Waldrich tocava na testa de Mat deixando que seu poder fluísse para ele e o acordasse. Era tão bom tocar em seu menino de novo depois de tantos anos. Ele era tão pequeno quando nascera que tivera medo que ele não vivesse, mas Mathew sempre fora um lutador e agora ia saber a verdade sobre a sua descendência.

Ao recuperar a sua consciência Mat piscou focando a sua visão em um teto de rocha e no calor seco que o cercava. Sua cabeça latejava e parecia que fora usada como martelo.

— Como você está? – perguntou uma voz perto dele e Mat virou a cabeça com algum custo para um homem baixo de cabelos castanhos e olhos tão negros como uma noite sem lua.

Algo se agitou dentro dele.

— Conheço você?

Waldrich começou a chorar.

2 comentários: