Capitulo XXVII
Paul olhava para o deserto observando
o vento levar os grãos de um lado para o outro mudando as dunas de lugar. O céu
de um azul cinzento brilhava e o calor fora da caverna onde estavam era
tórrido.
Haviam viajado a noite toda e parado ao
amanhecer para dormir em uma caverna num amontoado de rochas.
Kallil dormia calmamente, mas a cabeça
de Paul estava em seus filhos e em Mat. Esfregou seu lado esquerdo como se
quisesse acalmar seu coração, mas a sua dor não lhe dava trégua.
Lembrou de sua casa na orla da
floresta, de suas crianças correndo de um lado para o outro, das brigas de Gabe
e Sara e do sorriso de Mat que iluminava a sua vida.
Sentou na entrada da caverna deixando
que seus pensamentos vagassem como os ventos e fossem carregados para a sua
família. Pediu a Deus que todos estivessem bem e em segurança.
— Estou voltando – disse em voz baixa
cansado.
De repente a bile subiu em sua
garganta e ele correu para fora da caverna vomitando tudo que comera. Gemendo
encostou a cabeça ma lateral da rocha. Era só o que lhe faltava, ficar doente
no meio de um nada maldito.
Coçou a tatuagem da rosa contrariado e
voltou para dentro deitando. Precisava descansar para continuar sua jornada e
era isso que ia fazer!
Mimir girou o corpo batendo no pedaço
de madeira que Sara segurava como se fosse uma espada e como das outras vinte
vezes sara bloqueou seu golpe com um sorriso no rosto. Aquela criança podia
ouvir e sentir seus movimentos quase antes mesmo dela começá-los.
— Como você faz isso? – perguntou a
amazona irritada.
— Você pensa muito alto – disse a
menina rindo – Eu decorei seus movimentos Mimir e os que você está improvisando
não são bons.
Mimir girou o corpo e colocou o pedaço
de madeira para baixo, mas Sara afastou o corpo com agilidade e bateu na mão
dela para deixar a “arma” cair.
— Essa doeu – resmungou a outro
olhando para a mão – Menina não há muitas mulheres do meu povo que podem me
vencer e poucos homens, mas você mesmo não me vendo é capaz de fazer isso.
— A diferença é que vocês usam muito
os olhos e esquecem que tem ouvidos, nariz e pele. Imagine que tudo isso
trabalha para eu sentir as coisas ao meu redor e tenho uma memória muito boa.
— Sinto honrada em ter lutado com você
– a moça inclinou perante Sara e a menina fez o mesmo.
Ela conhecera um pouco da amazona
naqueles dias e passara a gostar de seu jeito decidido, de sua cultura e de seu
modo de vida. Mimir amava e respeitava todas as coisas vivas e tinha uma
energia incrível em sua voz quando ela falava de suas viagens e do seu sonho em
abrir uma universidade no norte para ensinar história e aproximar os povos das
amazonas.
Mimir tinha uma liberdade que de
inicio seduziu Sara, mas a verdade era que ela preferia estar em sua casa, com
sua mãe e irmãos e isso incluía o chato que estava indo resgatar. Ela esperava
que Gabe estivesse bem e sua mãe também.
Ergueu o rosto em direção ao vento e
sentiu cheiros estranhos nele cravo e canela flutuavam no ar mais seco e
quente. Elas estavam chegando perto do deserto, podia sentir isso.
— Está preocupada com sua família –
disse Mimir guardando as espadas de madeira.
— Estou. Sei que estamos perto do
deserto. Cheiros mudam, o ar seco e a vegetação a nossa volta.
— Kotem não está muito longe. É uma
região montanhosa e de difícil acesso, mas acho que podemos dar um jeito, alem
do mais talvez ache algum dragão que conheça. Eles costumam ir para o sul no
inverno ficar nas matas perto de nossas cidades e por muitas vezes eles entram
nelas e ficam andando de um lado para o outro.
— Dragões nas cidades?! – Sara ficou
horrorizada – Mas eles não comem vocês?
— São dragões verdes vegetarianos, mas
mesmo os carnívoros não gostam da carne humana dizem que é salgada.
— Dizem? Dragões falam?
— Fluentemente.
— Eu não sabia disso. Gostaria de
conversar com um deles.
— Quem sabe logo.
Gabe sentiu o vento á sua volta
deixando que a sua consciência fluísse com ele. Era um exercício cansativo, mas
ele conseguia fazê-lo com facilidade ali. Era como se a terra dos dragões
tivessem uma força estranha sobre ele.
Sua mão direita foi á frente e ele
deixou o vento passar por seus dedos prestando atenção na sua direção,
intensidade e temperatura. Ficou maravilhado em como as rajadas viam em sentido
contrario e elas eram mais quentes e tinham uma intensidade mais forte. Sanet
havia dito que as rajadas eram ventos vindos do deserto de Altair e se
misturavam aos ventos das terras de Gaulesh.
Sua mão virou quando algo aconteceu. O
vento não se afastou, era como se eles estivesse girando em sua mão. Abriu os
olhos vendo assombrado a pequena movimentação em torno de sua mão como um
pequeno tornado em torno dos seus dedos.
Forçou-se a ficar calmo de deixar o
vento saber do que ele queria e o pequeno tornado escapou de sua mão indo
dançar a sua frente aumentando de tamanho, mas sob controle.
Gabe empurrou o tornado que ficou
maior e ficou girando no mesmo lugar. Ele sentiu as correntes de vento e ergueu
as duas mãos. O tornado ficou imenso no topo da colina.
Rindo ele o fez subir aos céus e logo
imaginou seu próprio corpo subindo junto e ele estava voando, mas não sentia
medo, ao contrario, ele se sentia livre pela primeira vez na vida! Seu coração
parecia que ia explodir de alegria.
Voou mais alto com o seu tornado e
entrou no meio dele deixando que o vento aumentasse ainda mais ficando tão
veloz e forte que tudo a sua volta desapareceu e ele estava dentro de um mundo
nebuloso e cheio com o rugido do tornado. Seu corpo subiu ao sabor das
correntes e ele voou acima das nuvens deixando o tornado se desfazer.
Seu corpo sem peso cortou as nuvens
deixando-o com os cabelos pingando e pela primeira vez ele olhou a terra abaixo
dele e ficou encantado ao perceber que não tinha medo. Estava tão alto que o
mundo parecia uma colcha de retalhos aos seus pés.
Viu pássaro e dragões voando. Nuvens
passavam á sua volta e ele resolveu voltar para a terra onde Sanet o olhava. Se
fosse possível parecia que o dragão estava sorrindo.
— Muito bem filhote – elogiou ele –
Entendeu como é o seu poder?
— É maravilhoso Sanet – ele estava
pulando como Tildo.
— Mas cuidado. Tudo nessa vida tem um
preço. Quando usa o poder esta usando a força da sua vida e isso o enfraquece.
Se usar muito tempo vai cair de exaustão.
— Terei cuidado, mas a sensação de
voar é tão maravilhosa que quase não consegui descer. Era como se eu quisesse
ficar voando para sempre!
— Os dragões sabem como é a sensação –
olhou para o céu – Voar por entre as nuvens deixando o vento zunir por entre as
nossas asas e nos embriagarmos com a sensação de liberdade.
Gabe olhou para a colina onde ficava a
caverna de Sanet e pensou preocupado em Maleah.
— Quero mostrar para Maleah, mas ele
está estranho. Ele não fala nem com o seu tio.
— O pai de Maleah fez algo muito ruim
a ela filhote. O que ele precisa é de tempo, lamber as suas feridas para
cicatrizar e poder assim ir em frente.
— Existem pais maus em todo o mundo,
né Sanet?
— É isso ai filhote, mas existem pais
incríveis que seguimos o exemplo por toda a nossa vida. Meu pai morrer há mais
de seiscentos anos e mesmo assim eu ainda lembro os seus conselhos e do seu
rugido.
— Eu nunca vou esquecer o meu.
Os dois ficaram ali olhando ao longe e
lembrando-se dos seus entes queridos.
Maleah virou as costas para seu primo
que estava perto dele segurando uma folha com carne e legumes assados.
— Maleah se não comer não vai se
recuperar.
— Quem disse que eu quero me
recuperar?
— Malaeh... – Flyn havia conversado
horas com ele, se bem que na verdade fora um monólogo, mas nada adiantou.
A depressão de seu primo doía em sua
alma.
— Flyn nos dê licença – pediu Arkan
entrando e com uma expressão dura que o rapaz vira apenas quando ele o mandara
arrumar as suas coisas.
Ele acenou para o pai e deixou a
caverna.
Maleah havia ouvido o tio, mas fingira
que dormia não querendo falar com ninguém.
— Maleah nós vamos conversar sério
agora e sei muito bem que está acordado e me ouvindo! Agora me olhe a vamos
conversar.
A contra gosto ele olhou para o rosto
sério do tio que estava em pé.
— Sei que tudo que ti aconteceu foi terrível,
mas olhe o modo como está tratando Flyn! Ele o ama como a um irmão e eu o amo
como se você fosse o meu filho! Deixamos tudo para traz por você e não nos
arrependemos disso, mas se continuar a fazer o que está fazendo vai só
conseguir afastar todos aqueles que ti amam e ficar sozinho e isso, filho, é um
destino terrível.
Maleah tremeu com as palavras do tio e
envergonhado cobriu os olhos com os braços e de repente sentiu os braços do tio
o levantando e apertando seu corpo tremulo em um abraço que só o seu tio sabia
dar.
Retribuiu o abraço agradecendo a Deus
por ter dado a ele um tio e um primo que são capazes de fazer o que eles
fizeram por ele e o elfo percebeu que ele não estava só e perdido, ele estava
com sua família, ele estava em casa.
Kamm olhou para os homens que partiam
para as terras de Haven e ficou satisfeito que tudo finalmente tenha começado.
— Aquele maga desapareceu – disse
Naara perto dele – Soube que saiu com o amante.
— Waldrich não me preocupa Naara, mas
eu preciso saber o que esta acontecendo para o rei Dylan ir para Haven.
— Foi confrontar o irmão – a elfo
vermelha deu de ombros.
— Dylan pode ser tudo, mas não é
idiota. Está na hora de jogarmos as terras humanas no caos e atacarmos a
Floresta Velha.
— Acha que vai ser fácil assim vencer
o seu pai?
— Não, mas meu pai nunca pensou que
seria atacado em seus domínios, principalmente porque a floresta não é um local
para quem não a conhece.
— Ele nunca achou que um dos seus ia
atacá-lo? – ronronou a moça esfregando seu rosto nele.
— Meu pai tem controle sobre os elfos
e os outros não são guerreiros. Ele não teme os humanos. Seu descuido vai lhe
custar caro – ele deu um paço para trás se livrando da elfo que fungou
contrariada.
— Pela Deusa Kamm! Eu me alimento de
energia sexual e estou com fome!
— Vai procurar o que comer então –
disse ele dando as costas para ela – Eu tenho mais o que fazer.
Naara revirou os olhos e foi atrás de
alguém que saciasse a sua fome.
Capela ainda estava tremulo depois da
sua viagem.
Waldrich havia invocado um bando de
águias gigantes que ele só conhecia em livros de fantasia. Haviam atrelado suas
coisas nelas e levantado vôo para o desespero dele que havia descoberto ter
medo de alturas. Havia se agarrado as penas da ave não olhando para baixo nas
seis horas que passaram voando.
Finalmente avistaram o deserto de
Altair depois de uma alta cadeia de montanhas cobertas de neves que brilhavam
rosa ao amanhecer.
O deserto era uma extensão sem fim de
areia e ilhas de rocha cobertas de cacto por todo o lado. Um oceano de areia a
se perder de vista.
— É hora de irmos – disse Ekbert para
Capela.
— Vamos andar no deserto nesse sol?
O grande homem deu um sorriso sem
alegria.
— Não vamos muito longe menino.
Precisamos nos afastar para que Waldrich converse com Mathew e force a sua
magia.
Capela olhou para o pequeno mago que
estava olhando o rosto de Mat sem parecer dar conta que eles estavam ali ainda.
Queria protestar, mas sabia que aquele
guerreiro Ekbert não era para ser contrariado e se quisesse ser verdadeiro
tinha curiosidade em como tudo aquilo ia terminar. Se Mat manifestar mesmo
alguma magia a história que ele ouvira era verdadeira, mas se isso não
acontecesse ele sabia que era o vilão naquela história.
Resolveu acompanhar o guerreiro para outro
amontoado de rochas há cerca de cem metros deles.
Enquanto isso Waldrich tocava na testa
de Mat deixando que seu poder fluísse para ele e o acordasse. Era tão bom tocar
em seu menino de novo depois de tantos anos. Ele era tão pequeno quando nascera
que tivera medo que ele não vivesse, mas Mathew sempre fora um lutador e agora
ia saber a verdade sobre a sua descendência.
Ao recuperar a sua consciência Mat
piscou focando a sua visão em um teto de rocha e no calor seco que o cercava.
Sua cabeça latejava e parecia que fora usada como martelo.
— Como você está? – perguntou uma voz
perto dele e Mat virou a cabeça com algum custo para um homem baixo de cabelos
castanhos e olhos tão negros como uma noite sem lua.
Algo se agitou dentro dele.
— Conheço você?
Waldrich começou a chorar.
a monica cade vc?
ResponderExcluirbjs lu
Oi Lu! Eu ti mandei um e-mail! Se não recebeu me avisa aqui. Beijos!
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