Minha lista de blogs

quarta-feira, 27 de junho de 2012

O Colecionador de Olhos - Capitulo 2


PRAÇA XV DE NOVEMBRO



Capitulo 2


Aquela era a parte que Almeida mais detestava, até mais que conversar com os reportes. Falar com os familiares.

Diante dele estava um homem de estatura mediana, cabelo curto e rosto magro. Era noivo de Marcos e estava praticamente em choque com o que acontecera ao noivo.

— Eu não consigo acreditar nisso. Marcos não conseguia matar uma barata, ele nunca fez nada a ninguém e...

Ele começou a chorar e perdido Almeida ofereceu a ele uma caixa de lenços de papel. Algumas pessoas olhavam como nojo para o homem, mas Almeida lhes lançou um olhar frio. Seu irmão caçula era gay e ele não ia aceitar preconceitos dentro da delegacia. Estava cheio dessa merda das pessoas prestarem mais atenção na vida intima dos outros que nas deles que deveria ser de uma puta sem graça.

— Você tem contato com os pais dele, senhor Delcio?

— Não, não mais. Eles expulsaram Marcos de casa quando ele decidiu morar comigo.

— Tem o endereço deles?

— Não. A ultima noticia que tinha deles é que foram para os EUA trabalhar lá.

Almeida dispensou o outro depois de colher todas as informações que precisava, o delegado já havia ouvido o seu depoimento.

— E? – Braz sentou na mesa dele mastigando um pão doce.

— Da para parar de comer um pouco?

— Não.

Almeida respirou exasperado.

— Ele tem álibi que foi confirmado. O cara trabalha à noite numa transportadora, tinha pelo menos vinte pessoas ali.

— Voltamos a estaca zero? – Braz deu a sua ultima mordida no pão revirando os olhos.

— Vai ficar gordo.

— Felizmente a minha genética me favorece – ele riu superior – Eu não engordo.

— Almeida! Braz! – o delegado Moura gritou mau humorado da sua sala.

— Que será agora – resmungou Almeida indo com o parceiro rumo a sala de um delegado mau humorado.

— Fechem a porta e sentem. Eu liguei para Bertioga pedindo as copias do caso e eles me mandaram por e-mail – ele bateu em uma grande pilha sobre a mesa – Aqui está a tarefa de casa de vocês. Leiam muito atentamente.

— Lá se vai a minha noite – resmungou Braz.




Inocense e Lucas desceram apenas na hora do jantar que o dono tinha marcado às sete horas. A sala de refeições era depois de recepção e tinha cerca de cinco mesas de quatro lugares e um bufê onde podia se servir, uma porta a esquerda era da cozinha. Um radio tocava uma música suave.

A sala era pintada em tom pêssego e tinha alguns quadros com flores e frutas.

As mesas tinham quinze pessoas que comiam e conversavam.

— Oi! – saldou Inocense toda alegre – Boa noite meu nome é Inocense e esse é meu irmão Lucas.

— Ola! – respondeu uma moça que estava sentada na mesa com outra.

A moça que falara era pequena, estilo mignom, com cabelos castanhos encaracolados e cortados à altura do ombro. Os olhos castanhos brilhavam e seu sorriso iluminava seu rosto. A outra moça tinha cabelo negro curto, olhos verdes e rosto fino. Era alta com uma expressão séria e carrancuda.

— Venham sentar com a gente – continuou a moça – Meu nome é Alexandra, mas pode me chamar de Xandra mesmo. Essa com cara mau humorada é a Sabrina.

Sabrina olhou para Xandra como se quisesse esganá-la, mas olhou para os irmãos maneando a cabeça em um cumprimento.

— Ola! – os irmãos responderam.

Alexandra era uma pessoa que gostava de falar e logo estava contando a sua vida em Ribeirão Preto. Descobriram que ela era faxineira na mesma revista que Inocense e Lucas iam trabalhar e que Sabrina era uma professora de kung-fu em uma academia. Também descobriram que Ribeirão era uma cidade quente no verão e tem fama de ter o melhor shopp do Brasil.

Sabrina não disse nada assim como Lucas que preferia comer e ficar olhando para o prato impedindo que as pessoas olhassem o hematoma em seu rosto.

— Deveria aprender a se defender – disse Sabrina se levantando e saindo.

A moça tinha se dirigido para um pasmo Lucas que ficou olhando a moça sair da sala.

— Olha, a Sabrina é boa pessoa. Ela me ensinou alguma coisa do Karatê ou kung-fu que ela dá aula e ela é boa mesmo nisso. Ela acha que todos devem saber se defender porque diz que a maioria das agressões acontecem com pessoas da família. Ela dá aulas de graça para as mulheres do abrigo da prefeitura.

— Talvez ela tenha razão – disse Lucas tocando no olho – Mas eu sou péssimo nesse negócio de bater nas pessoas. Pra mim é tão errado quanto matar.

— Cada um tem o seu pensamento – disse uma moça entrando com um bebê nos braços.

— Oi Marcela! – Xandra deu um gritinho de alegria e brincou como os dedos da criança que riu para ela – Ola Manuela!

— Eu preciso ir mais cedo para o restaurante Xandra será que você...

— Dá ela aqui! – a moça parecia feliz como se tivesse ganhado um presente de fim de ano – A gente vai se divertir!

— Vocês duas – riu Marcela olhando para os gêmeos – Ola, meu nome é Marcela e essa é a minha filha Manuela.

— Oi – respondeu Inocense – Eu sou Inocense e esse é o meu irmão Lucas.

— Sabia que vocês são umas gracinhas? – disse a moça de longos cabelos castanhos claros, olhos azuis e corpo bem feito – Gêmeos, não?

— Somos sim e obrigado pela gracinha, mas acho que o meu irmão se enquadra melhor na descrição.

Lucas fez cara feia, mas deu um sorriso para Marcela.

— Sua filha é uma gracinha – disse ele olhando para a menina que brincava com Xandra.

— Foi um prazer conhecer vocês, mas tenho que ir para o trabalho – deu um beijo na filha e deu tchau para todos.

— Ela mora aqui? – perguntou Inocense – Pensei que era uma pensão para solteiros.

— Gustavo abriu uma exceção para ela. Os pais a expulsaram de casa quando souberam que ela estava grávida e que não ia falar de quem. Ela foi viver em uma pensão em outro ponto da cidade, mas perdeu o emprego e não pode ficar lá indo morar nas ruas. A Sabrina achou ela em trabalho de parto na porta da pensão e levou ela para o hospital. Desde ai ela colocou a Marcela debaixo da sua asa.

— Os pais as vezes conseguem ser bem burros – comentou Lucas perdendo a fome.

— Você tem família aqui Xandra? – perguntou Inocense.

— Minha família é de São José do Rio Preto. Vim para cá procurando uma vida melhor e não é tão fácil assim.

O programa do radio acabou e uma voz feminina e muito bonita pareceu flutuar no ar:

— Boa noite Ribeirão. Aqui é a Estranha da Noite para todos os corações apaixonados dessa linda cidade.

Uma balada dos Beatles começou a tocar.

— Estranha da noite? – perguntou Inocense achando graça.

— Ela é uma radialista super dez! Seu programa é muito interessante e toca todo o tipo de musica romântica. Eu não sei o nome dela e acho que pouca gente sabe, mas é isso que é o legal nela, todo esse mistério.

Eles ficaram ali ouvindo o radio e conversando até que Lucas bocejou e Inocense subiu para o quarto com ele.

Quando já estavam deitados procuravam conversar sobre o futuro e seus sonhos e deixar para trás tudo o que acontecera em São Paulo.



Lucas acordou pouco antes das seis e meia de manhã, mas ficou uns minutos deitado aproveitando a preguiça e não se sentindo ameaçado. Seu pai sempre chegava de manhã gritando e xingando e pegava quem ele via pela frente para descarregar e na maioria das vezes era ele.

— Foi uma noite calma – disse Inocense em meio ao emaranhado de cobertas – Odeio levantar cedo.

— É melhor ir acordando – ele deu um pulo da cama – Vou tomar banho.

— Fique a vontade – resmungou ele voltando a cobrir a cabeça.

Depois de se aprontarem desceram para o refeitório onde algumas pessoas tomavam café e isso incluía Xandra que estava diante de um prato gigante de pães, bolos e frutas.

— Bom dia – disse ela toda feliz – Venham tomar café para irmos para a revista.

— Eu não tenho estômago para tanta coisa logo cedo – observou Lucas, mas a irmã tinha os olhos brilhantes ao ver que ele tinha feito waffles como os que ela via nas padarias chiques de São Paulo.

 — Olhe Lucas! Waffles!

— Ela achou o paraíso – resmungou ele pegando um pão francês e uma xícara de café.

Enquanto ele mastigava o seu pão, Inocense e Alexandra se fartavam da massa com mel.

Saíram para um dia de sol forte e céu límpido. Rumaram para o ponto de ônibus que não ficava muito longe da pensão, mas naquela hora ele chegou lotado e eles tiveram que se espremer para entrar. Xandra não parecia se importar e ia conversando com seus conhecidos e apontando Inocense e Lucas como seus novos amigos.

A viagem durou vinte minutos e pararam na Praça XV de Novembro, já que a revista ficava em um prédio ali perto.

A praça tinha grandes arvores que estavam perdendo as folhas caindo como chuva nos caminhos e nos gramados. Bancos de madeiras estavam espalhados por todo o canto e em um ponto havia o monumento de um soldado. Uma fonte esguichava água para o alto deixando o ar com cheiro de umidade e um barulho de água calmante no estresse do dia a dia.

Desceram duas quadras até chegarem em um prédio de fachada espelhada e hall de entrada todo acarpetado de verde. Dois seguranças estavam postados sérios perto da entrada.

— Vocês precisam de autorização para subir enquanto não tem crachá – disse Xandra parando perto da balconista – Lidia esses são Lucas e Inocense Mendes, são novos contratados.

— Identidades, por favor.

Cada um mostrou a carteira e a moça sorriu para eles indicando o décimo andar onde ficava o RH da empresa.

No elevador Xandra apertou o nono andar.

— Eu limpo esse andar.

Quando o elevador chegou lá ela se despediu e os irmão subiram mais um andar até que as portas abriram e se viram em outro hall com uma mesa semi-circular onde uma senhora trabalhava em um computador. A sala tinha o mesmo carpete verde e uma planta perto da entrada do elevador. Atrás da senhora havia um quadro com o que pareciam todas as capas da revista Ribeirão Hoje.

— Bom dia – disse ela dando um pequeno sorriso – Inocense e Lucas, certo?

— Sim senhora – responde a moça olhando para ela.

— Bem garotos acho que eu tenho que separar vocês – ela se levantou – Inocense o diretor de RH está esperando você, ultima porta a direita. Lucas venha comigo e eu vou ti apresentar ao seu chefe.

Inocense deu um sorriso encorajador para Lucas e se foi. O rapaz acompanhou a senhora para a esquerda onde havia uma sala desocupada e uma porta nos fundos.

— Essa vai ser a sua sala. Assim que terminar com o chefe pode me procurar que eu vou passar o serviço para você – ela foi até a porta e entrou sem bater.

— Pelo amor de Deus Joana! Já não te pedi para bater?

— Sabe que até hoje tenho esperança de fazer isso e te pegar nu, não é? Deixa de resmungar ou vai assustar seu novo secretario.

— Mande ele entrar de uma vez por todas mulher!

— Entre Lucas e não se preocupe temos soro anti-rábico guardado caso ele te morder.

O tal chefe xingou ela, mas Joana apenas saiu da cabeça erguida.

Não sabendo o que pensar ele entrou na sala, mas não pode deixar de exclamar com grande desgosto:

— Você??




Nenhum comentário:

Postar um comentário