Capitulo 8 – Escapas na madrugada
A única coisa que passava pela minha
mente era um modo de torturar Tiol até ele implorar por clemência, mas eu não
acreditei foi o que ouvi de Valdi.
— Tiol será que me empresta seu
escravo essa noite?
Tiol me olhou com frieza, mas algo
mais parecia brilhar ali. Mais torturas? Não dava para identificar aquela
centelha que logo desapareceu.
— É todo seu irmão – entregou a
correia para o outro – Faça bom proveito.
Rosnei para Tiol que levantou uma
sobrancelha para mim, mas voltou a olhar as torturas que o mestre dos jogos
aplicava nos escravos.
Acompanhei Valdi para uma sala que
ficava nos fundos da sala dos jogos depois de subir um lance de escadas. Ia
encolhido com aquele maldito negocio dentro de mim se esfregando em minha
próstata e me deixando excitado.
Assim que entramos no quarto que não
tinha mais que uma cama, Valdi tirou a coleira de mim, juntou com todos os
outros aparatos, principalmente ao pênis no meu ânus o que me fez dar um
suspiro de alivio.
— Tem um banheiro ali – apontou para
uma porta – Por favor retire todo esse óleo do corpo.
O que quiser! Só esperava que ele
fosse mais gentil que seu irmão mais novo.
Tomei um longo banho, principalmente
por que minha ereção não ia embora e eu tive que me masturbar. Enrolei uma
toalha na cintura e sai para o quarto onde Valdi estava sentado no beiral da
janela que dava para os jardins.
— Vista-se – ele apontou para roupas
em cima da cama e eu olhei para ele sem entender.
— Pra que que você quer que eu me
vista? Não vai me usar?
— Fica calma – ele sorriu mostrando os
dentes brancos – Tirei você de lá antes que fizesse algo que se arrependesse.
Meu irmão quando está naquela sala se transforma e vi a raiva em você.
— Eu queria matá-lo!
— Não, não queria. Queria que ele
pagasse pela humilhação, mas não queria matar. Matar destrói algo dentro de nós
e para sempre.
— Obrigado – sentei na cama ainda de
toalha – Eu realmente ia dar um jeito de pegar Tiol, não sei como ou de que
forma, mas acho que ia fazer besteira.
— Concordo que meu irmão está
precisando de uma lição e posso ajudá-lo nisso – ele me olhou – Queria tanto
que ele voltasse a ser a pessoa que era.
— Ele já foi diferente disso?
— Ele era um bom garoto Andrew. Claro
que sempre praticou os nossos costumes que você acha tão bárbaro, mas era a luz
desse castelo. Todos os amavam e o povo o adorava, mas houve algo, há anos
atrás. Mudou ele, destruiu aos poucos o que ele era e ai ficou esse homem
sarcástico que desdenha das pessoas. Lamento não poder contar, mas isso é algo
pessoal de Tiol.
— Difícil imaginá-lo assim.
— É, quem o vê hoje nunca vai imaginar
– ele deu um suspiro triste e por um momento ele me lembrou Abrahan – Minha
família esta se desmanchando Andrew e eu não posso fazer nada. Me desculpe por
estar desabafando com você, mas eu sei que não contara nada a ninguém. Todos
nós, até mesmo Tiol sabemos disso. Você é um homem honrado.
— Homem?! – quase ri daquilo – Eu sou
um moleque, um escravo.
— Quem é você Andrew? Já pensou nisso?
Esqueça sobre a escravidão e olhe para você.
— Quer a verdade Valdi? Eu não sei
muito sobre mim. Sei que vivi uma vida vazia em meio a uma família que não
ligava para mim. Sem amigos, sem qualquer ligação com nada! – olhei atormentado
para o outro – Eu não sei quem eu sou!
— Está na hora de começar a se
encontrar então – ele sorriu doce para mim – Vou ti ajudar no que puder, talvez
consiga ti dar a liberdade, mas enquanto isso poderia me ajudar?
— O que eu poderia fazer? – claro que
eu ia ajudar aquela coisinha doce.
— Me ajude a mudar Tiol e cuidar de
Abrahan.
— Mudar Tiol? Isso não é meio...
impossível?
— Acho que não, mas vai ser um desafio
e vai deixar ele muito puto.
— A é? – aquilo já estava começando a
ficar bom – O que eu tenho a perder? Ajudo você e quanto a Abrahan eu faria
qualquer coisa por ele. Não sabe a inveja que tive de vocês por ter um pai
assim.
— Mas tome muito cuidado com o
imperador Andrew, procure não chamar a sua atenção para ele. Se ele quiser
fazer algo nem um de nós vai poder impedir.
— Yaci é herdeiro do trono, não é? Ele
não pode fazer algo?
— Talvez pudesse se as forças armadas
não estivessem parcialmente do lado do imperador. O alto escalão está com meu
pai e apenas uma pequena parcela das tropas conosco. Não temos poder suficiente
para isso.
— Acha que isso pode mudar?
— Meu irmão respeita muito o meu pai,
mas acho que o limite está chegando. Mais cedo ou mais tarde vamos conseguir
mudar o rumo das coisas – ele levantou da janela – Que tal um passeio? Posso te
mostrar um pouco da vida noturna do nosso povo.
— Devo ter medo?
— Não. Vamos apenas sair desse castelo
um pouco. Vista-se!
Vesti a roupa que ele me oferecia. Uma
calça de um tecido grosso e preto, que muito me lembrava os jeans da Terra, uma
camisa branca com manga três quartos e botas de cano alto, macias e de cor
castanha.
Saímos por corredores vazios para a
parte externa do castelo até a garagem com seus carros de luxo.
O carro de Valdi era preto e sóbrio,
parecido em ele.
Saímos para a noite enluarada. Arilien,
a lua azul, estava gloriosa no céu e me perdi olhando para ela e nem vendo a
estrada, mas logo percebi que pegamos a via principal para a capital.
— Logo estaremos de Mailt, nossa
capital econômica. Gosto de ir lá dançar ou apenas passear.
Mailt era um grande espetáculo de
cores naquela hora da noite. As lojas ligavam letreiros em neon coloridos e
telões mostravam propagandas e noticias. As ruas estavam lotadas, na sua
maioria de pessoas jovens vestindo suas roupas coloridas. Os rapazes com seus
coletes e espadas, as mulheres com longos vestidos e seus cabelos prateados
balançando a brisa.
— É estranho pensar que vocês têm mais
homens que mulheres, nos mundos que ouvi falar sempre foi ao contrario.
— Houve uma doença há cerca de
duzentos anos trazida por estrangeiros que atingiu a nossa população feminina.
Metade das mulheres morreram e nunca conseguimos aumentar a sua população. Por
isso nossa taxa de fertilidade é baixa e a população que aumenta é a humana e a
de mestiços.
— Seu povo não deve gostar desses
mestiços ou desses humanos – disse pensando no que Tiol me falara dos
esquecidos da vila.
— Os mais velhos ainda os vêem como
uma praga, um problema, mas os mais jovens estão mudando isso. Acreditamos que
eles são parte de Aurifen, são o nosso povo também e que essa segregação tem
que acabar.
Entramos em uma rua lateral, escura
terminando em um prédio de aspecto sombrio com uma porta e do lado uma entrada
de garagem.
Valdi parou ali e fez sinal para
descer. Eu confesso que estava com medo. O que era aquele lugar? Mais um salão
de jogos para torturas?
Um aurifen saiu pela porta. Ele
parecia um aurifen, mas os olhos eram castanhos e percebi que era um dos
mestiços.
— Boa noite meu senhor – o homem se
inclinou dando um leve sorriso.
— Boa noite Fess. Como estamos?
— Casa cheia.
— Maravilha! – ele jogou a chave para
o outro – Guarde o carro pra mim.
— Claro senhor.
— Vamos Andrew! Vou ti mostrar um
lugar que apenas as pessoas certas conhecem.
Meu medo eram quais eram essas
pessoas.
Entramos em um corredor escuro, mas no
fim dele podia ver luz e música. Não a musica eletrônica que se toca hoje no
meu mundo, mas de alguém cantando uma balada dançante.
Chegamos em um ambiente cavernoso com
terraços circulando nas paredes, luzes dançantes e coloridas indo de uma lado
para o outro, um palco onde uma moça cantava vestida com um vestido de couro
negro agarrado ao seu corpo e atrás dela uma banda com instrumentos que eu
sabia só existiam nos museus: baixo, guitarra, teclado, bateria, saxofone e até
mesmo um violino. A pista de dança parecia ter o chão feito de vidro, pois
vinha luz debaixo dela. O balcão de um bar corria toda uma parede e apresentava
uma grande coleção de garrafas coloridas. Os balcões tinham mesas onde
circulavam garçons vestido de preto servindo as pessoas e tudo estava lotado de
gente de todo o tipo desde a humanos a aurifenses pulando e se esfregando no
ritmo da musica.
— Que lugar incrível! – não pude
deixar de exclamar.
— Vamos nos divertir!
E ele sabia como. As pessoas o
tratavam como uma delas conversando animados e contando piadas. Ele me
apresentou para todos os seus conhecidos e depois bebemos uma coquitel doce e o
dele era sem álcool.
— Já vi acidentes demais para brincar
com as nossas vidas – ele me respondeu quando perguntei para ele se não bebia.
Dançamos, isso depois dele me
arrastar. Eu nunca havia dançado e tinha medo de dar vexame, mas não só ele me
ensinou como cada uma daquelas pessoas estava ali me mostrando os passos das
danças.
Comemos e bebemos a noite toda e quando
estava amanhecendo saímos rindo pela estrada eu meio bêbado e ele sóbrio, mas
com o semblante desanuviado.
Paramos em um parque e fomos ver o sol
nascer perto de um lago em meio a neblina matutina. Deixei Valdi me abraçar.
Era como o abraço de um irmão, quente e caloroso.
— Obrigado – disse para ele deitando a minha
cabeça em seu ombro.
— Obrigado à moda aurifense?
— Não, estou tonto demais para sexo.
— Não se preocupe, não penso em sexo
agora. Estou me sentindo melhor do que muito sexo que fiz na vida – ele olhou
para o lago cercado de matas de pinheiro e flores – Meus irmão nunca me
acompanham e esses lugares, estão preocupados demais em manter as aparências em
não se divertirem, mas eu não vou morrer naquele castelo. Não sou herdeiro de
nada e logo pretendo ter a minha vida.
— E como seria essa vida? – perguntei
curioso.
— Sou formado em diplomacia espacial e
quero abrir um escritório em uma das colônias espaciais da Terra. Os humanos
exteriores estão criando um império e a diplomacia para resolver pequenos
conflitos está em alta.
— Estamos perto da Terra, não?
— Há duzentos anos luz, pouco mais de
seis horas de viagem. Eles têm colônias em sistemas vizinhos e apenas uma hora
daqui. Comerciamos com elas, mas o relacionamento diplomático é falho, sempre
falo isso.
— Eu não entendo nada de diplomacia.
— Nunca pensou em uma profissão?
— Não, acho que eu nunca pensei em
nada. Meu mundo é quase tudo feito por maquinas e computadores, os humanos
vivem para se divertir e fazer intrigas. Sei que vocês não tem relações com o
meu mundo a não ser o mercado de escravos.
— As colônias interiores não são muito
sociáveis Mathew. Seu povo sempre quis ser a raça perfeita, tanto que vocês não
têm deficientes ou negros entre vocês. Sua manipulação genética chegou a isso,
mas isso tem um preço. Sua raça esta deprimida, morrendo aos poucos tão
modificados que nem mesmo são mais humanos.
Sai dos braços de Valdi e o olhei.
— Acha que eu não sou humano?
— Você se considera humano ou humano
interior Mathew?
— Eu sou um humano interior!
— Ai está a sua resposta. Os humanos
da Terra se consideram apenas humanos e abandonaram a manipulação genética há
muito tempo. Eles não têm mais robôs e seus computadores não tem autonomia.
— Eu queria dizer que você esta errado,
mas não está. Sei que sou fruto de uma manipulação genética, que era para eu
ser uma mulher, mas meu pai nunca quis mulheres como filhos. Fui manipulado
para ser homem. Acha que eu tenho algo de mulher?
— Não, você é bem homem – ele riu
olhando para o meio das minhas pernas.
— Pervertido!
— É melhor voltarmos ou Tio vai acabar
procurando por você e não queremos mais problemas.
— Você disse que ia me ajudar a dar
uma lição no seu irmão!
— E não esqueci. Hoje a noite ele vai experimentar
um pouco do próprio veneno.
— Sei que isso vai me colocar em
encrencas, mas dar um jeito no Tiol vai compensar tudo.
Valdi riu e me puxou pela mão para
irmos para o carro. Tanto ele como eu estávamos com um sorriso matreiro nos
lábios.
Tiol! Nos espere!
ta começando aficar interessante,mas não gostaria que andrew pagasse a tiol na mesma moeda, senão seria igual a eles e então andrew ão poderia mais reclamar, das condições que tiol usa ele.
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