Capitulo XXI – Parte I
A mudança do destino
O que
ele queria era um lindo e calmo casamento na igreja com o seu príncipe e
depois uma pequena comemoração na sua casa. O que Gwendelyn queria era
uma grande festa, com a igreja cheia e uma grande festa no castelo de
Haven.
Não adiantou Paul dizer o que queria para a princesa, ela
nem estava tão entusiasmada com a ideia de fazer o casamento do cunhado
que andava de um lado para o outro distribuindo ordens, mandando limpar
o castelo, preparar os pratos para a festa, chamando uma costureira
para ter as roupas prontas.
No final ele desistiu e aceitou o presente que estava recebendo.
Seus
filhos estavam adorando serem paparicados e andarem as soltas pelo
castelo entrando em cada passagem secreta que ele tinha e ninguém sabia.
Sara adorava as atenções dos rapazes da guarda, mas a cara feia do
príncipe Phillip para eles logo cortou a peregrinação de garotos nos
jardins onde ela já sabia andar depois de apenas dois dias, na verdade
ela sabia andar pelo castelo em sua maior parte sem ajuda deixando todos
assombrados. Não era necessário dizer que ela adorava ouvir os elogios e
Gabe implicava com ela o tempo todo.
Gabe ser meio elfo foi uma
surpresa para todos e ele treinou com Maleah aqueles dois dias, mas sem
apresentar sinais de magia o que levou Sara a lançar o sarcástico
comentário que ele era um elfo com defeito. A briga estava armada e Mat
teve que intervir antes que se pegassem no tapa.
Shon, Jared e
Jason viviam indo atrás de Mat ou Phillip quando eles iam para o campo
de treino e logo eram amigos dos soldados. Jason e Jared adoravam um
cavalo e Shon estava aprendendo a lutar com uma espada de madeira, mas
era um ótimo aprendiz e mesmo com a pouca idade apresentava o potencial
para ser um grande espadachim, fazendo Phil lembrar de Dylan que
aprendera esgrima com cinco anos.
Maleah e Capela estavam no
mesmo impasse. Phil se recusava a aceitar um casamento sem uma benção e o
elfo desdenhava disso dizendo que ele não era católico e estava indo
contra as leis de seu povo ao ficar longe de seu marido, feliz ou
infelizmente. Capela podia sentir a atração que agora tinha para com o
elfo, era como, se quando estava longe dele algo estivesse faltando
dento de si. Mas quando se encontravam nos corredores do castelo era
briga armada na certa e isso já estava estressando todo mundo. O caso
dos dois parecia ódio à primeira vista!
Assim como Phillip, com o
seu código de honra antiquado não deixava Mat e Paul sob o mesmo teto e
o irmão fora obrigado a dormir nos alojamentos do oficiais fora do
castelo deixando Mathew com vontade de estapear o irmão com a sua
“puritanisse”.
Três dias após ter chegado ao castelo e estar
recuperado totalmente, Paul resolveu fugir da Gwen e sua interminável
lista de casamento indo para o alto da torre onde Maleah e Gabe
treinavam. O filho estava contrariado por apenas ouvir o que o elfo
falava e não conseguir nada, mesmo sabendo que isso podia demorar.
— Eu disse que não era do dia para a noite que isso ai acontecer – respondeu o elfo ao olhar desanimado do menino.
Gabe
e ele estavam no meio da torre que não passava de um terraço com uma
pequena mureta separando de uma queda de vinte metros do chão. Maleah
havia dito que era um lugar seguro se os poderes do menino aflorassem
mesmo que o elfo julgasse isso impossível tão sedo.
Paul acenou para o filho e sentou no chão perto de Sara que tinha o rosto voltado para o vento.
— Ele um meio elfo! – a menina deu um sorriso torto para a mãe – Duvido que saia alguma coisa daí.
— Você está atormentando o seu irmão Sara? – Paul acariciou os cabelos loiros da filha que lhe sorriu.
—
Ele não precisa de mim. O professor mau humorado dele ajuda bastante.
Se fosse eu não ia demorar tanto para fazer algo tão bobo como comandar o
vento.
— Por que você não tenta? – gritou o menino contrariado
fazendo Maleah revirar os olhos mostrando que aquela não era a primeira
discussão deles.
— Eu não sou o elfo aqui Gabe.
— Chega vocês dois – disse Paul contrariado – Assim as coisas não avançam mesmo.
—
Gabe essas coisas demoram mesmo – o elfo tentou ser paciente – Sua
puberdade, mesmo sendo meio elfo, será em três anos. Até lá sua alma e
seu corpo vão se preparar para o que esta por vir, por isso não espere
criar furacões do dia para a noite. O máximo que vai conseguir é sentir o
ar a sua volta. Agora volte aos exercícios que ensinei.
O menino
olhou para o sorriso zombeteiro de Sara e voltou a fechar os olhos
tentando se concentrar no ar a sua volta. Maleah havia dito que havia
correntes no ar do mesmo modo que havia nos rios. O ar quente mais leve e
menos denso subia enquanto o ar frio descia para o chão em um constante
vai e vem. Haviam obstáculos como montanhas e o próprio castelo que
eram barreiras para o ar e o vento gerando assim turbulências. As
pessoas não podiam ver, mas o ar a nossa volta geravam fluxos,
turbilhões e trocas de ar.
Ele deveria supostamente não só
sentir tudo isso como também ver toda essa dinâmica e ele achava isso
tudo tão improvável. Nunca havia pensado no ar como uma coisa viva e
fluida, mas ele aprendera que havia coisas que mesmo que você não via
estavam lá.
Tentou prestar atenção na sua mão direita onde ele
podia sentir o vento passando por entre os dedos, mas ele também podia
sentir ele no rosto, nas suas roupas, acariciando o seu rosto como se
fossem dedos, tocando os seus cabelos que balançavam ao seu doce sabor. O
vento parecia cantar a sua volta o envolvendo cada poro do seu corpo e
ele percebeu pela primeira vez o mundo invisível a sua volta.
Waldrich
estava na sacada do seu quarto sentindo o vento murmurar a sua volta
contando sobre o mundo lá fora. Ele sorriu quando um espírito do vento
passou por ele e sorriu se perdendo na distancia.
A natureza
sempre o acalmava e ele amava o silencio cheio de sussurros dos ventos.
Eles haviam sido seu único consolo nos anos de cativeiro sempre lhe
trazendo perfumes de terras distantes.
Mas naquele dia o vento
lhe trazia algo mais que perfume, o vento estava dizendo que coisas
incríveis estavam acontecendo e que o destino dos reinos dependia do que
aconteceria agora.
— Waldrich – Ekbert se levantou da cama onde
estava deitado esperando o amante – O que esta fazendo? – ele chegou por
trás e esfregou o magnífico corpo nu no mago que deu um sorriso doce.
—
Conversando com velhos amigos – ele se virou olhando para os olhos
castanhos do guerreiro – É chegada a hora Ekbert. Os ventos sussurram
que o nosso destino será trilhado agora.
— Agora?!
O mago colocou a mão em cima do coração do guerreiro.
— Agora!
Maleah
olhou para o garoto que estava de olhos fechados e braços estendidos.
Ele decididamente não tinha o perfil para ser professor.
De
repente ele sentiu algo, o ar estava mudando, era pouco mais estava.
Voltou a olhar Gabe que havia aberto os olhos e ele engasgou, os olhos
verdes do garoto agora eram azuis claros e dentro deles pareciam brilhar
uma tempestade.
Uma rajada de vento quase o derrubou e Gabe
sorriu. O elfo percebeu apavorado que o menino estava possuído por um
dgim, um espírito dos ventos. Eram seres selvagens e incontroláveis.
— Gabe! – ele gritou e foi jogado longe por um pequeno tornado quase caindo da torre.
O menino ergueu as palmas para cima e de repente um verdadeiro furacão rugia ali.
— Gabe!! – Paul se levantara segurando a filha olhando apavorado para o seu menino brincando com a tempestade de vento – Gabe!
Mas
Gabe estava adormecido, o dgim estava adorando controlar o ar no corpo
daquele garoto que ia ser muito poderoso algum dia e para isso ele sabia
o que deveria fazer. O menino deveria trilhar o mesmo destino dos
grandes senhores do ar de antigamente.
O tornado elevou os pés de Gabe e o menino flutuava acima do chão.
Maleah tentava chegar até ele e de algum modo conseguir fazer o garoto voltar a razão.
Paul levou a menina até as escadas.
— Sara fique aqui!
— Mãe o que está acontecendo? Aquele não é o Gabe eu posso ouvir algo sussurrando!
— Vai ficar tudo bem – Paul colocou a mão no ombro da filha e correu para fora para o inferno de vento que havia virado a torre.
Do chão as pessoas apontavam para o céu onde um cone de um tornado havia se formado em um dia sem nuvens.
Paul
gritou para o filho mais uma vez e enfrentou os ventos com força
nascida do desespero. Maleah também estava ali perto com o corpo
inclinado para gente tentando assim romper a pressão do ar.
Mat,
Phil e Capela, que haviam visto o que estava acontecendo na torre
correram para cima não acreditando no que viam. Gabe em meio ao tornado
com roupas e cabelos açoitados violentamente, Maleah e Paul tentando
enfrentar o inferno que fora desencadeado.
— Paul! Gabe! – ele
gritou e pulou para a torre no mesmo momento que o dgim olhava para ele
percebia que aquele homem podia ser um problema para os seus planos.
Expandiu
o tornado não percebendo que com isso ele levava Paul e Maleah com ele e
jogou uma rajada de vento nos outros três que foram jogados longe. O
imenso funil se levantou no ar carregando os três e de repente eles
haviam sumido e um estranho silencio caiu sobre a terra.
O blog Valfenda Brasil tem é apenas para postar histórias e contos que escrevo. Com isso espero divertir as pessoas levando elas aonde nem um homem jamais esteve!
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domingo, 29 de abril de 2012
sexta-feira, 27 de abril de 2012
Rumo ao Paraiso - Capitulo Seis
Capitulo Seis
Fabian estava deitado em seu quarto olhando a lua pela vidraça da janela. Algo havia feito ele perder sono. Gabriel dormia tranquilamente em seu berço, mas ele havia acordado às duas e até agora nada de sono. Respirou fundo e pensou em ir para a cozinha preparar um chá quando o celular tocou. Ele correu para atender com medo de que Gabriel acordasse e nem viu quem chamava aquela hora.
— Alô?
— Acha mesmo que vai fugir de mim seu filho de uma cadela.
— Pai!
— Você me paga Fabian! Você e essa sua cria – ele desligou.
Fabian ficou ainda longos minutos com o telefone encostado no ouvido e de repente deixou ele cair tremendo incontrolavelmente. Nunca havia imaginado que seu pai podia ligar para ameaça-lo e ao seu filho.
Sabia que não ia conseguir dormir mais depois daquilo e foi para a cozinha fazer um chá de camomila antes que pegasse as suas coisas e seu filho e desaparecesse.
Tinha que pensar com a cabeça e não com o seu medo. Estava sem um centavo e não tinha para onde ir. Seu pai não sabia do endereço de Márcio e não era tão fácil chegar até aquela fazenda.
Tentou preparar a bebida sem fazer barulho, mas derrubou a xícara e logo Márcio estava na porta da cozinha olhando preocupado o irmão.
— Tudo bem Fabian?
— Desculpa Márcio – disse o outro do chão pegando os cacos – Eu não conseguia dormir e vim fazer um chá, mas eu sou um desastre.
— Você está tremendo – Márcio segurou seu braço e o fez levantar e na mesma hora Fabian se jogou nos braços do irmão chorando – Fabian?
— Márcio ele me ligou. Disse que ia me matar e ao Gabriel! O que eu faço?
— Calma! – ele sentou o irmão em uma das cadeiras e se ajoelhou na frente dele – Agora me conta certinho o que aconteceu.
Tentando controlar seu choro e tremor ele contou sobre a ligação do pai para o outro que ouvia atentamente com o rosto contorcido de desgosto.
— O que mais me assustou Márcio era que ele não parecia bêbado ou drogado.
— Sei que está com medo, mas fique calmo. O pai não sabe o meu endereço e mesmo que descubra é muito difícil ele chegar aqui. A fazenda tem segurança e na cidade sempre sabemos se algum estranho chega. Ele está apenas querendo ti assustar.
— Desculpa despejar tudo isso em cima de você.
— Larga de ser bobo – Márcio levantou bagunçando os cabelos do irmão – Eu estou adorando ter vida nessa casa e ter um sobrinho – segurou a mão de Fabian – Vamos dormir e você vai se sentir melhor.
— Obrigado mano.
Mesmo que Márcio tenha acalmado um pouco o seu coração havia algo um leva mau estar que Fabian não conseguia tirar de sua mente.
Regina havia tomado café a ido andar a cavalo com Isabella, filha de Alberto e Lucas.
Isabella era uma moça de quinze anos, com longos cabelos negros e encaracolados, olhos de um lindo dourado e pele cor de chocolate. Era uma moça de sangue quente e orgulhosa. Ela e Regina eram as melhores amigas desde que a moça negra havia chegado a casa dos pais adotivos.
— Você viu o irmão do Márcio? – perguntou Isabella emparelhando a sua égua malhada com a branca de Regina.
— Ele jantou lá em casa no dia que chegou, mas depois eu não vi mais ele. estive maquinando o que fazer com a próxima babá que meu pai arranjar.
— Você ainda se pergunta o por que de seu pai querer uma babá – a moça balançou a cabeça contrariada – Você e seus irmão só aprontam!
— Ele não entende que não quero uma babá idiota! Sou grandinha para escolher a minha vida.
— Tá bom Regina – Isa lançou um olhar contrariado para ela – Meu pai Lucas sempre me fala para não ter pressa em crescer, que a vida é curta para ser apressado.
— Eu não to com pressa de crescer Isa! É só que estou cheia das pessoas mandando em mim.
— Os burros falam e os inteligentes obedecem.
— Esse é mais um dos ditados loucos do Lucas?
— Do meu pai Alberto – ela riu – Ele fala isso quando pai Lucas fala demais.
— Imagino o que acontece – riu Regina lembrando do quando Lucas era esquentado.
— Na cama. Pai Alberto arrasta pai Lucas para o quarto quando ele começa e berrar.
As duas riram.
Elas estavam andando pelos campos perto dos pastos da fazenda vizinha, a fazenda Santa Catarina.
Mesmo estando tudo seco, haviam pequenas flores nascendo perto das cercas e ao longe podia-se ver serras e vales imersos em uma fina neblina matutina.
Um carro vermelho andando pela estrada próxima a cerca chamou a atenção delas. Era uma Mercedes conversível e o filho caçula dos donos da Santa Catarina dirigia.
Breno Murilo Carli tinha dezesseis anos, mas adora se mostrar dirigindo a Mercedes que ganhara de aniversário do pai. Era um rapaz soberbo, de rosto marcado por espinhas e olhos castanhos. Regina o achava um idiota pomposo, mas ele vivia cheio de admiradoras atrás do seu dinheiro.
— Bom dia Regina – disse ele ignorando Isa – Que tal dar uma volta comigo?
— Que tal você se enxergar Breno? – a moça revirou os olhos – Vamos Isa, acho que tem algo morto por aqui, ta fedendo.
— Você é uma sapata orgulhosa, isso sim! – gritou Breno mordido em seu orgulho.
— Se eu sou gay ou não só diz respeito para mim Breno – respondeu Regina – Mas eu não sei o por que de estar me atormentando! Eu sei que você arrasta um bonde pelo Paulo Bomba!
Breno ficou vermelho como um pimentão e voltou para o seu carro batendo a porta e saído levantando uma nuvem de poeira.
— Você sabe que andar comigo só vai dar pano para eles dizerem isso – disse Isa triste.
— Ai Isabella! Acha mesmo que estou preocupada com isso? Eu não sou gay, mas se fosse eu ia namorar você.
— Regina!
— To falando sério oras! Você é bonita e inteligente, mas eu gosto dos pênis assim como você.
— Se o seu pai ouve você com essa boca suja...
— Eu não falo isso perto do meu pai. Ele lava a minha boca com sabão.
— Eu queria que as pessoas fossem menos idiotas.
— Elas são idiotas e isso é um fato!
As duas acabaram caindo na risada dando a volta para voltar a fazenda quando viram um rapaz andando com um saco nas costas. Era Mário, um rapaz de quinze anos que vivia com o pai na fazenda Santa Catarina.
Mário era belamente bronzeado e de olhos azuis celestes. Seu cabelo loiro era curto e seu rosto bonito tinha sempre uma expressão triste. Todos sabiam que o pai autoritário costumava bater no menino e que ele fora obrigado a largar a escola. Ele cultivava cogumelos champignon em um galpão nos fundos de sua casa e vendia para Laércio sem que o pai soubesse, pois ele era um grande homofóbico.
— Oi Mário! – Isa chamou ele que olhou para ela sorrindo e quando viu Regina ficou vermelho e baixou a cabeça.
Regina sempre havia visto o rapaz de longe, mas não podia imaginar que ele era aquela coisa fofa e que ainda ficava corado! Ela queria ele!
— Você está indo para o Paraiso? – perguntou ela sorrindo.
— Si... sim senhora – gaguejou ele.
— Meu nome é Regina – ela estendeu a mão para ele – Vamos que eu ti levo.
— Não, ta tudo bem! – ele ficou ainda mais vermelho e Isa escondeu um sorriso ao ver o olhar predador de Regina.
Sim o menino era adorável, mas ela gostava dos homens mais dominadores ao contrario de Regina que sempre gostava de dominar todo mundo.
— Anda logo! – o garoto não teve outra alternativa que não subir na garupa de Regina – Se segura bem! – disse puxando as mãos do rapaz para a sua cintura.
Isabella teve que instigar o cavalo ou ia acabar rindo dos dois. Mário muito vermelho e embaraçado e Regina com um sorriso safado.
Kauan olhava contrariado para Samara enquanto desciam para a mata que ficava atrás da cede da fazenda.
— Mara o pai disse para não virmos aqui!
— Larga de ser medroso! Eu sei que tem algo nessa mata. Eu posso ver luzes à noite vindas daqui. Noite passada eu subi lá no pé de jatobá e fiquei olhando.
— O pai já falou para você não subir lá!
— Fecha a matraca Kauan! O pai disse isso, o pai disse aquilo! Que saco!
— Mara você é muito chata! – o menino fez um bico, mas a menina não respondeu.
Samara observava curiosa as árvores com seus cipós, o chão coberto de folhas e pequenas plantas, o grasnado dos pássaros no alto e o cheiro de mato e lama que tinha por toda parte. Ali havia um córrego que ia descendo por entre as matas.
Kauan tropeçou e se perguntou se não devia ter ficado em casa com Quico.
— Mara o que qui você acha que vai achar aqui?
— ETs ora!
— ET? Cê ta boa da cabeça?
— Boa até demais moleque! Você não vê sempre os OVNIs voando pelo céu?
— Eu vejo um punhado de luzes apagadas e umas sombras. Se aquilo é OVNI é muito chato!
— Eu sei que vou achar um ET e vou mostrar pro mundo que eles existem!
— Pra que?
— Como pra que?
— Pra que que o mundo tem que saber que os ETs existem? Se isso que a gente vê é OVNI de outro mundo todo mundo ta vendo e se não vêem os ETs é por que não querem ver. Se você mostrar um ET eles vão ver o que eles querem, vão ver qualquer coisa menos o seu ET.
Samara parou olhando o irmão.
— Cê anda conversando muito com o Jon, não é? Deu pra filosofar agora?
— Não, é que eu acho que é assim – ele balançou os ombros – O pai sempre diz que as pessoas vêem aquilo que querem ver.
— Tá certo – resmungou a irmã – Mas será que as pessoas vão ver outra coisa se eu apresentar um ET ao vivo? Eu acho que não.
— Eu acho que você tem que parar de ler terias da conspiração. Não tão fazendo bem pra sua cabeça.
A menina deu um suspiro contrariado e continuou a andar pela mata.
Jonathan estava arrumando as rosas no jardim que a sua mãe ajudara a fazer. Ele se lembrava dela ali, em meio às flores que ela amava. Seu jardim secreto, como ela gostava de chamar, era um terreno cercado por uma cerca viva de pingos de ouro que deveriam ter uns dois metros de altura. O jardim crescera em torno de uma fonte onde a estatua de um anjo despejava água através de um jarro que se derramava em um pequeno lago onde haviam carpas.
Em toda a volta haviam canteiros de rosas de todas as cores. Algumas eram trepadeiras e subiam por treliças, outras pareciam imensos arbustos e ainda havia aquelas com longas hastes.
Também haviam canteiros de margaridas brancas e amarelas, moitas de boca-de-leão, arbustos de hibiscos, manacás, brinco-de-princesa, alfazema e alecrim, moitas de erva-cidreira, lírios, amaralilis, dama da noite, iris de pedra e begônias. Os jasmins se entrelaçavam nos jacarandás e nos ipês-de-jardim deixando o ar perfumado. Haviam também um cheiro de menta vindo dos canteiros e que ele mesmo havia plantado perto da lima da pércia. Todavia seu maior xodó eram os canteiros de amor-perfeito que coloriam por todo o lado.
Ele podia passar horas ali com as suas plantas e de algum modo ele sentia que a sua mãe estava ali com ele.
Sabia o quanto os seus irmãos sofreram com a morte dela e tentava se mostrar forte, mas tinha dia que o que ele mais queria era um abraço dela dizendo que tudo ia ficar bem.
— Eu entendo por que você não sai daqui.
Jon deu um pulo olhando para Luis Ricardo, filho de Lucas e Alberto.
Luis era um rapaz de dezesseis anos, alto e forte. Os cabelos eram muito negros e encaracolados como o da irmã Isa, mas ele tinha os olhos muito negros e brilhantes. Seu corpo definido e sua beleza chamava a atenção por onde passava e sua graça felina encantava a todos.
— Oi Luis – Jon tentou não ficar corado como um bobo apaixonado – Está precisando de algo?
— Será que eu tenho que precisar de algo para ver meu amigo? – Luis sorriu ao ver o rosto vermelho de Jon.
— Cê sabe que não – resmungou o outro se ajoelhando e retirando as ervas daninhas de seus amores-perfeitos.
— Jon você ainda fica vermelho! Que gracinha!
— E você continua um bobo! – ele olhou para cima contrariado.
— Mesmo? Acho que estamos progredindo. Normalmente você me chama de imbecil.
— Luis deixa o menino em paz! – Isa entrou no jardim empacando a brincadeira dele.
— Você não tinha saído a cavalo Isabella?
— Você disse o tempo verbal certo irmãozinho, eu sai e já voltei e vim salvar o Jon de você!
— Ele não precisa ser salvo de mim!
— Pela cara dele, precisa.
Luis passou perto da irmã e resmungou:
— Eu ti pego em casa!
A moça deu um sorriso de desdém. Sabia que o irmão estava atrás de Jon, mas o menino ainda era muito jovem para as investidas de Luis. Ele era seu irmão e o amava, mas ele comeria Jon no café da manhã, no mau sentido é claro.
— E ai Jon?
— Seu irmão não estava fazendo nada Isa.
— Não né? Jon o cara só faltava te comer com os olhos e você nem percebe?
— Você é que vê maldade em tudo – ele se levantou – Luis não é gay.
— Você é?
— Eu?! – ele parecia surpreendido pela pergunta – Eu não sei. Nunca pensei nisso.
— Então é melhor ficar de olho no meu irmão. Boa pessoa, mas não pode ver uma bunda bonita e sem querer ofender a sua é uma gracinha.
— Isabella!
Fabian estava sentado na varanda com Gabriel em seu carregador, dormindo. Ele via as pessoas indo e vindo, as crianças correndo e belos homens passando com seus jeans apertados.
— Você está tendo uma visão e tanto! – uma voz chamou a sua atenção e ele viu um pequeno homem de cabelos negros e olhos castanhos parado perto da varanda – Ola meu nome é Lucas.
— Oi. Eu sou Fabian – o rapaz lembrou que um dos homens do casal gay que vivia na fazenda se chamava Lucas – Quer entrar?
Lucas sorriu para ele e sentou em uma das cadeiras olhando para o menino que dormia.
— Eles são a coisa mais linda nessa idade, mas assim que começar a engatinhar Deus nos ajude.
— Você tem filhos?
— Eu e meu companheiro temos cinco.
— Uau!
— É exatamente isso que penso quando lembro de quando os adotamos. Eram cinco irmão assustados, sendo que um deles era ainda um bebê de nove meses.
— Deve ter sido complicado conseguir a guarda.
— Um pouco – ele olhou Fabian – Mas não mais do que seria se eles fossem crianças brancas. Negros e, sendo em cinco, quando a fizemos o processo eles estavam felizes por conseguir um lar para eles.
— O preconceito idiota!
— Acho que nós dois entendemos de preconceito, não é?
— Eu não entendi.
— Por sermos gays.
— É – aquele homem era tão aberto que Fabian não sabia o que fazer.
— Eu acho que o mundo já é complicado demais para meias palavras Fabian. Eu sou gay e não me envergonho disso assim como eu espero que os meus filhos não se envergonhem de serem negros.
— Gosto da sua filosofia – disse Fabian rindo.
— Não é melhor assim? – ele olhou o relógio – Ai meu Deus! Eu tenho que ir fazer o almoço!
Ele se levantou em um pulo, deu um beijo no rosto de Fabian e saiu correndo.
— Um furacão! – pensou Fabian rindo.
Voltou a olhar o campo e não pode deixar de reparar em Laércio que passava carregando uma tora no ombro com facilidade. Sua calça jeans moldava perfeitamente suas cochas e deixava ver a protuberância de bom tamanho na frente.
Fabian ficou bateu na sua testa se chamando de burro, mas ele não pode deixar de notar que o seu próprio pênis despertara com aquela visão deliciosa e sua imaginação, a qual ele não controlava, ficou mostrando para ele dois corpos nus em cima de uma cama, suados e cheirando a sexo. O pau duro e grande de Laércio em seu buraco e ele murmurando safadezas em seu ouvido e segurando seu pen...
— O que diabos eu tenho na cabeça! – ele agora tinha a sua ereção apertando as suas calças quase a ponto de doer.
Como ele podia estar tão excitado por aquela fazendeiro grosso?
Mas mesmo grosso ele não deixava de ser quente como o inferno e quente era o que ele estava sentindo a ponto de passar mau.
— Tudo bem com você? – Laércio havia chegado sorrateiramente para perto da varanda e agora o olhava encostada em um pilar desta.
Fabian deu um pulo olhando assustado para o outro.
— Você por acaso gosta de assustar os outros? – ele ficou na defensiva.
— Ei vim perguntar por que estava me olhando com tanto interesse.
— E quem disse que eu estava ti olhando?
— Eu – ele estava gostando de atazanar outro principalmente depois de ver a ereção que Fabian estava tentando esconder.
— Você se acha, não é? – o jeito era atacar.
— Eu? Não, mas sei que dou para um caldo.
— Se você não tem nada para fazer me de licença que eu tenho que fazer o almoço!
— Você está fugindo.
— Ora seu... – Fabian ia retrucar mau educado quando um grito atrás das casas chamou a sua atenção.
— Samara! – na mesma hora Laércio saiu correndo como um pouco.
Os gritos pararam, mas havia chamado a atenção de muitas pessoas que como Laércio corria, para a mata.
Fabian ficou preocupado e pedindo a Deus que nada acontecesse com a menina.
Fabian estava deitado em seu quarto olhando a lua pela vidraça da janela. Algo havia feito ele perder sono. Gabriel dormia tranquilamente em seu berço, mas ele havia acordado às duas e até agora nada de sono. Respirou fundo e pensou em ir para a cozinha preparar um chá quando o celular tocou. Ele correu para atender com medo de que Gabriel acordasse e nem viu quem chamava aquela hora.
— Alô?
— Acha mesmo que vai fugir de mim seu filho de uma cadela.
— Pai!
— Você me paga Fabian! Você e essa sua cria – ele desligou.
Fabian ficou ainda longos minutos com o telefone encostado no ouvido e de repente deixou ele cair tremendo incontrolavelmente. Nunca havia imaginado que seu pai podia ligar para ameaça-lo e ao seu filho.
Sabia que não ia conseguir dormir mais depois daquilo e foi para a cozinha fazer um chá de camomila antes que pegasse as suas coisas e seu filho e desaparecesse.
Tinha que pensar com a cabeça e não com o seu medo. Estava sem um centavo e não tinha para onde ir. Seu pai não sabia do endereço de Márcio e não era tão fácil chegar até aquela fazenda.
Tentou preparar a bebida sem fazer barulho, mas derrubou a xícara e logo Márcio estava na porta da cozinha olhando preocupado o irmão.
— Tudo bem Fabian?
— Desculpa Márcio – disse o outro do chão pegando os cacos – Eu não conseguia dormir e vim fazer um chá, mas eu sou um desastre.
— Você está tremendo – Márcio segurou seu braço e o fez levantar e na mesma hora Fabian se jogou nos braços do irmão chorando – Fabian?
— Márcio ele me ligou. Disse que ia me matar e ao Gabriel! O que eu faço?
— Calma! – ele sentou o irmão em uma das cadeiras e se ajoelhou na frente dele – Agora me conta certinho o que aconteceu.
Tentando controlar seu choro e tremor ele contou sobre a ligação do pai para o outro que ouvia atentamente com o rosto contorcido de desgosto.
— O que mais me assustou Márcio era que ele não parecia bêbado ou drogado.
— Sei que está com medo, mas fique calmo. O pai não sabe o meu endereço e mesmo que descubra é muito difícil ele chegar aqui. A fazenda tem segurança e na cidade sempre sabemos se algum estranho chega. Ele está apenas querendo ti assustar.
— Desculpa despejar tudo isso em cima de você.
— Larga de ser bobo – Márcio levantou bagunçando os cabelos do irmão – Eu estou adorando ter vida nessa casa e ter um sobrinho – segurou a mão de Fabian – Vamos dormir e você vai se sentir melhor.
— Obrigado mano.
Mesmo que Márcio tenha acalmado um pouco o seu coração havia algo um leva mau estar que Fabian não conseguia tirar de sua mente.
Regina havia tomado café a ido andar a cavalo com Isabella, filha de Alberto e Lucas.
Isabella era uma moça de quinze anos, com longos cabelos negros e encaracolados, olhos de um lindo dourado e pele cor de chocolate. Era uma moça de sangue quente e orgulhosa. Ela e Regina eram as melhores amigas desde que a moça negra havia chegado a casa dos pais adotivos.
— Você viu o irmão do Márcio? – perguntou Isabella emparelhando a sua égua malhada com a branca de Regina.
— Ele jantou lá em casa no dia que chegou, mas depois eu não vi mais ele. estive maquinando o que fazer com a próxima babá que meu pai arranjar.
— Você ainda se pergunta o por que de seu pai querer uma babá – a moça balançou a cabeça contrariada – Você e seus irmão só aprontam!
— Ele não entende que não quero uma babá idiota! Sou grandinha para escolher a minha vida.
— Tá bom Regina – Isa lançou um olhar contrariado para ela – Meu pai Lucas sempre me fala para não ter pressa em crescer, que a vida é curta para ser apressado.
— Eu não to com pressa de crescer Isa! É só que estou cheia das pessoas mandando em mim.
— Os burros falam e os inteligentes obedecem.
— Esse é mais um dos ditados loucos do Lucas?
— Do meu pai Alberto – ela riu – Ele fala isso quando pai Lucas fala demais.
— Imagino o que acontece – riu Regina lembrando do quando Lucas era esquentado.
— Na cama. Pai Alberto arrasta pai Lucas para o quarto quando ele começa e berrar.
As duas riram.
Elas estavam andando pelos campos perto dos pastos da fazenda vizinha, a fazenda Santa Catarina.
Mesmo estando tudo seco, haviam pequenas flores nascendo perto das cercas e ao longe podia-se ver serras e vales imersos em uma fina neblina matutina.
Um carro vermelho andando pela estrada próxima a cerca chamou a atenção delas. Era uma Mercedes conversível e o filho caçula dos donos da Santa Catarina dirigia.
Breno Murilo Carli tinha dezesseis anos, mas adora se mostrar dirigindo a Mercedes que ganhara de aniversário do pai. Era um rapaz soberbo, de rosto marcado por espinhas e olhos castanhos. Regina o achava um idiota pomposo, mas ele vivia cheio de admiradoras atrás do seu dinheiro.
— Bom dia Regina – disse ele ignorando Isa – Que tal dar uma volta comigo?
— Que tal você se enxergar Breno? – a moça revirou os olhos – Vamos Isa, acho que tem algo morto por aqui, ta fedendo.
— Você é uma sapata orgulhosa, isso sim! – gritou Breno mordido em seu orgulho.
— Se eu sou gay ou não só diz respeito para mim Breno – respondeu Regina – Mas eu não sei o por que de estar me atormentando! Eu sei que você arrasta um bonde pelo Paulo Bomba!
Breno ficou vermelho como um pimentão e voltou para o seu carro batendo a porta e saído levantando uma nuvem de poeira.
— Você sabe que andar comigo só vai dar pano para eles dizerem isso – disse Isa triste.
— Ai Isabella! Acha mesmo que estou preocupada com isso? Eu não sou gay, mas se fosse eu ia namorar você.
— Regina!
— To falando sério oras! Você é bonita e inteligente, mas eu gosto dos pênis assim como você.
— Se o seu pai ouve você com essa boca suja...
— Eu não falo isso perto do meu pai. Ele lava a minha boca com sabão.
— Eu queria que as pessoas fossem menos idiotas.
— Elas são idiotas e isso é um fato!
As duas acabaram caindo na risada dando a volta para voltar a fazenda quando viram um rapaz andando com um saco nas costas. Era Mário, um rapaz de quinze anos que vivia com o pai na fazenda Santa Catarina.
Mário era belamente bronzeado e de olhos azuis celestes. Seu cabelo loiro era curto e seu rosto bonito tinha sempre uma expressão triste. Todos sabiam que o pai autoritário costumava bater no menino e que ele fora obrigado a largar a escola. Ele cultivava cogumelos champignon em um galpão nos fundos de sua casa e vendia para Laércio sem que o pai soubesse, pois ele era um grande homofóbico.
— Oi Mário! – Isa chamou ele que olhou para ela sorrindo e quando viu Regina ficou vermelho e baixou a cabeça.
Regina sempre havia visto o rapaz de longe, mas não podia imaginar que ele era aquela coisa fofa e que ainda ficava corado! Ela queria ele!
— Você está indo para o Paraiso? – perguntou ela sorrindo.
— Si... sim senhora – gaguejou ele.
— Meu nome é Regina – ela estendeu a mão para ele – Vamos que eu ti levo.
— Não, ta tudo bem! – ele ficou ainda mais vermelho e Isa escondeu um sorriso ao ver o olhar predador de Regina.
Sim o menino era adorável, mas ela gostava dos homens mais dominadores ao contrario de Regina que sempre gostava de dominar todo mundo.
— Anda logo! – o garoto não teve outra alternativa que não subir na garupa de Regina – Se segura bem! – disse puxando as mãos do rapaz para a sua cintura.
Isabella teve que instigar o cavalo ou ia acabar rindo dos dois. Mário muito vermelho e embaraçado e Regina com um sorriso safado.
Kauan olhava contrariado para Samara enquanto desciam para a mata que ficava atrás da cede da fazenda.
— Mara o pai disse para não virmos aqui!
— Larga de ser medroso! Eu sei que tem algo nessa mata. Eu posso ver luzes à noite vindas daqui. Noite passada eu subi lá no pé de jatobá e fiquei olhando.
— O pai já falou para você não subir lá!
— Fecha a matraca Kauan! O pai disse isso, o pai disse aquilo! Que saco!
— Mara você é muito chata! – o menino fez um bico, mas a menina não respondeu.
Samara observava curiosa as árvores com seus cipós, o chão coberto de folhas e pequenas plantas, o grasnado dos pássaros no alto e o cheiro de mato e lama que tinha por toda parte. Ali havia um córrego que ia descendo por entre as matas.
Kauan tropeçou e se perguntou se não devia ter ficado em casa com Quico.
— Mara o que qui você acha que vai achar aqui?
— ETs ora!
— ET? Cê ta boa da cabeça?
— Boa até demais moleque! Você não vê sempre os OVNIs voando pelo céu?
— Eu vejo um punhado de luzes apagadas e umas sombras. Se aquilo é OVNI é muito chato!
— Eu sei que vou achar um ET e vou mostrar pro mundo que eles existem!
— Pra que?
— Como pra que?
— Pra que que o mundo tem que saber que os ETs existem? Se isso que a gente vê é OVNI de outro mundo todo mundo ta vendo e se não vêem os ETs é por que não querem ver. Se você mostrar um ET eles vão ver o que eles querem, vão ver qualquer coisa menos o seu ET.
Samara parou olhando o irmão.
— Cê anda conversando muito com o Jon, não é? Deu pra filosofar agora?
— Não, é que eu acho que é assim – ele balançou os ombros – O pai sempre diz que as pessoas vêem aquilo que querem ver.
— Tá certo – resmungou a irmã – Mas será que as pessoas vão ver outra coisa se eu apresentar um ET ao vivo? Eu acho que não.
— Eu acho que você tem que parar de ler terias da conspiração. Não tão fazendo bem pra sua cabeça.
A menina deu um suspiro contrariado e continuou a andar pela mata.
Jonathan estava arrumando as rosas no jardim que a sua mãe ajudara a fazer. Ele se lembrava dela ali, em meio às flores que ela amava. Seu jardim secreto, como ela gostava de chamar, era um terreno cercado por uma cerca viva de pingos de ouro que deveriam ter uns dois metros de altura. O jardim crescera em torno de uma fonte onde a estatua de um anjo despejava água através de um jarro que se derramava em um pequeno lago onde haviam carpas.
Em toda a volta haviam canteiros de rosas de todas as cores. Algumas eram trepadeiras e subiam por treliças, outras pareciam imensos arbustos e ainda havia aquelas com longas hastes.
Também haviam canteiros de margaridas brancas e amarelas, moitas de boca-de-leão, arbustos de hibiscos, manacás, brinco-de-princesa, alfazema e alecrim, moitas de erva-cidreira, lírios, amaralilis, dama da noite, iris de pedra e begônias. Os jasmins se entrelaçavam nos jacarandás e nos ipês-de-jardim deixando o ar perfumado. Haviam também um cheiro de menta vindo dos canteiros e que ele mesmo havia plantado perto da lima da pércia. Todavia seu maior xodó eram os canteiros de amor-perfeito que coloriam por todo o lado.
Ele podia passar horas ali com as suas plantas e de algum modo ele sentia que a sua mãe estava ali com ele.
Sabia o quanto os seus irmãos sofreram com a morte dela e tentava se mostrar forte, mas tinha dia que o que ele mais queria era um abraço dela dizendo que tudo ia ficar bem.
— Eu entendo por que você não sai daqui.
Jon deu um pulo olhando para Luis Ricardo, filho de Lucas e Alberto.
Luis era um rapaz de dezesseis anos, alto e forte. Os cabelos eram muito negros e encaracolados como o da irmã Isa, mas ele tinha os olhos muito negros e brilhantes. Seu corpo definido e sua beleza chamava a atenção por onde passava e sua graça felina encantava a todos.
— Oi Luis – Jon tentou não ficar corado como um bobo apaixonado – Está precisando de algo?
— Será que eu tenho que precisar de algo para ver meu amigo? – Luis sorriu ao ver o rosto vermelho de Jon.
— Cê sabe que não – resmungou o outro se ajoelhando e retirando as ervas daninhas de seus amores-perfeitos.
— Jon você ainda fica vermelho! Que gracinha!
— E você continua um bobo! – ele olhou para cima contrariado.
— Mesmo? Acho que estamos progredindo. Normalmente você me chama de imbecil.
— Luis deixa o menino em paz! – Isa entrou no jardim empacando a brincadeira dele.
— Você não tinha saído a cavalo Isabella?
— Você disse o tempo verbal certo irmãozinho, eu sai e já voltei e vim salvar o Jon de você!
— Ele não precisa ser salvo de mim!
— Pela cara dele, precisa.
Luis passou perto da irmã e resmungou:
— Eu ti pego em casa!
A moça deu um sorriso de desdém. Sabia que o irmão estava atrás de Jon, mas o menino ainda era muito jovem para as investidas de Luis. Ele era seu irmão e o amava, mas ele comeria Jon no café da manhã, no mau sentido é claro.
— E ai Jon?
— Seu irmão não estava fazendo nada Isa.
— Não né? Jon o cara só faltava te comer com os olhos e você nem percebe?
— Você é que vê maldade em tudo – ele se levantou – Luis não é gay.
— Você é?
— Eu?! – ele parecia surpreendido pela pergunta – Eu não sei. Nunca pensei nisso.
— Então é melhor ficar de olho no meu irmão. Boa pessoa, mas não pode ver uma bunda bonita e sem querer ofender a sua é uma gracinha.
— Isabella!
Fabian estava sentado na varanda com Gabriel em seu carregador, dormindo. Ele via as pessoas indo e vindo, as crianças correndo e belos homens passando com seus jeans apertados.
— Você está tendo uma visão e tanto! – uma voz chamou a sua atenção e ele viu um pequeno homem de cabelos negros e olhos castanhos parado perto da varanda – Ola meu nome é Lucas.
— Oi. Eu sou Fabian – o rapaz lembrou que um dos homens do casal gay que vivia na fazenda se chamava Lucas – Quer entrar?
Lucas sorriu para ele e sentou em uma das cadeiras olhando para o menino que dormia.
— Eles são a coisa mais linda nessa idade, mas assim que começar a engatinhar Deus nos ajude.
— Você tem filhos?
— Eu e meu companheiro temos cinco.
— Uau!
— É exatamente isso que penso quando lembro de quando os adotamos. Eram cinco irmão assustados, sendo que um deles era ainda um bebê de nove meses.
— Deve ter sido complicado conseguir a guarda.
— Um pouco – ele olhou Fabian – Mas não mais do que seria se eles fossem crianças brancas. Negros e, sendo em cinco, quando a fizemos o processo eles estavam felizes por conseguir um lar para eles.
— O preconceito idiota!
— Acho que nós dois entendemos de preconceito, não é?
— Eu não entendi.
— Por sermos gays.
— É – aquele homem era tão aberto que Fabian não sabia o que fazer.
— Eu acho que o mundo já é complicado demais para meias palavras Fabian. Eu sou gay e não me envergonho disso assim como eu espero que os meus filhos não se envergonhem de serem negros.
— Gosto da sua filosofia – disse Fabian rindo.
— Não é melhor assim? – ele olhou o relógio – Ai meu Deus! Eu tenho que ir fazer o almoço!
Ele se levantou em um pulo, deu um beijo no rosto de Fabian e saiu correndo.
— Um furacão! – pensou Fabian rindo.
Voltou a olhar o campo e não pode deixar de reparar em Laércio que passava carregando uma tora no ombro com facilidade. Sua calça jeans moldava perfeitamente suas cochas e deixava ver a protuberância de bom tamanho na frente.
Fabian ficou bateu na sua testa se chamando de burro, mas ele não pode deixar de notar que o seu próprio pênis despertara com aquela visão deliciosa e sua imaginação, a qual ele não controlava, ficou mostrando para ele dois corpos nus em cima de uma cama, suados e cheirando a sexo. O pau duro e grande de Laércio em seu buraco e ele murmurando safadezas em seu ouvido e segurando seu pen...
— O que diabos eu tenho na cabeça! – ele agora tinha a sua ereção apertando as suas calças quase a ponto de doer.
Como ele podia estar tão excitado por aquela fazendeiro grosso?
Mas mesmo grosso ele não deixava de ser quente como o inferno e quente era o que ele estava sentindo a ponto de passar mau.
— Tudo bem com você? – Laércio havia chegado sorrateiramente para perto da varanda e agora o olhava encostada em um pilar desta.
Fabian deu um pulo olhando assustado para o outro.
— Você por acaso gosta de assustar os outros? – ele ficou na defensiva.
— Ei vim perguntar por que estava me olhando com tanto interesse.
— E quem disse que eu estava ti olhando?
— Eu – ele estava gostando de atazanar outro principalmente depois de ver a ereção que Fabian estava tentando esconder.
— Você se acha, não é? – o jeito era atacar.
— Eu? Não, mas sei que dou para um caldo.
— Se você não tem nada para fazer me de licença que eu tenho que fazer o almoço!
— Você está fugindo.
— Ora seu... – Fabian ia retrucar mau educado quando um grito atrás das casas chamou a sua atenção.
— Samara! – na mesma hora Laércio saiu correndo como um pouco.
Os gritos pararam, mas havia chamado a atenção de muitas pessoas que como Laércio corria, para a mata.
Fabian ficou preocupado e pedindo a Deus que nada acontecesse com a menina.
Capitulo XX
Capela olhou para trás para ver se o elfo o seguia e o encontrou tropeçando nas raízes das árvores com o olhar perdido e o rosto pálido.
— Vamos parar Maleah! – disse o tenente para o outro que nem pareceu escutar.
O elfo continuou andando mais alguns metros quando parou e de repente começou a vomitar assustando Capela que correu até ele pegando-o pelo ombro e levando até o riacho que seguiam.
— Você está bem? – Capela perguntou para o rapaz que depois de lavar a boca havia sentado no chão coberto de hera.
— São os efeitos secundários de uma visão. O meu povo normalmente não tem dificuldade com os seus poderes, mas ser vidente requer muito de um elfo. Sua energia física e mental é drenada.
— Maleah – ele se sentou do lado dele – A visão que você teve, tem certeza que não pode ser mudada?
— Eu não sei Capela. Todas as vezes que eu tentava mudar alguma coisa eu só conseguia tornar a coisa mais inevitável ainda. O futuro é algo complicado.
— Mas será que existe apenas um futuro possível?
— Os sábios do meu povo dizem que há muitos futuros e que depende de nós criarmos ele, mas com a experiência que tenho acho que não é bem assim.
— Eu não aceito isso, Maleah! Paul morto e Mathew se tornando um deus da destruição e vingança.
— Eu sei como você se sente e também não vou deixar isso acontecer, mesmo que tenha que brigar com o próprio destino para isso.
— É melhor guardarmos isso para nós por hora. Contar para Paul ou Mathew pode tornar as coisas complicadas.
— Concordo com você – ele olhou o tenente e deu um sorriso cansado – Mesmo assim eu não posso dizer que não acho o destino engraçado. Eu sou amigo de Dylan, o rei de Gaulesh e foi ele quem me pediu para vir para cá ajudar você com as investigações em Gorlan.
— Você está aqui a mando do rei Dylan!? – ele olhou espantado para o elfo.
— Exatamente e quem me atropela na estrada? O tenente que eu deveria trabalhar e agora eu também sou seu esposo.
— Maleah você me diz que essa situação não pode ser remediada então o que fazemos?
— Seguimos em frente ou você tem uma ideia melhor?
— Você quer dizer vivermos juntos e tudo mais?
— E o que você vai fazer comigo? Me jogar ao lixo?
— Eu não disse isso! Eu nunca pensei em casar ou constituir família, nem mesmo uma casa eu tenho! Moro nos alojamentos dos oficiais e pode estar certo que não quero o meu marido em meio a um monte de homens! Assim que chegarmos a Vila de Haven vou atrás de uma casa e temos que pensar muito nesse negócio de você me acompanhar nas missões em Gorlan.
— Ei, ei, ei! – o elfo se levantou contrariado – Agora por acaso se tronou o marido devoto e ciumento?
— Você é meu esposo agora e não vou admitir que fique por ai com outros!
— A vida é minha e eu faço o que me der na telha!
— Só tente elfo! Não sou tão ignorante como você pensa. Os casamentos entre elfos garante a aquele quem o pediu em casamento o direito sobre a vida e morte do companheiro. Ou eu estou errado?
O elfo o olhou com raiva e voltou a andar. Sim, aquele projeto de militar estava certo! Ele agora, pelas leis do seu povo, propriedade de Capela por toda a sua vida.
Kamm olhou para os exércitos que faziam o treinamento sob as rédeas de seu general mais fiel, Ydrill. Havia cerca de dois mil soldados elfos que haviam se juntado a ele por dinheiro ou poder, mas a verdade era que nem um deles podia mais partir. Kamm tinha-os sob o controle de sua magia.
Ele estava no terraço de sua fortaleza nas montanhas de Alcerd ao sul de Gorlan. A fortaleza era feita da mesma pedra cinza que havia por toda parte nas montanhas e se confundia com ela tornando-se quase invisível a olhos indesejados, não que alguém quisesse se aventurar por ali.
As minas ficavam depois de um grande deserto e quem aparecesse ali era rapidamente pego e colocado como escravo para escavar minas e no final morrer de exaustão.
— Você tem visita – ronronou Naara chegando perto dele e o abraçando por trás.
— Deixa ver se adivinho – ele nem se moveu ao ter corpo acariciado pela moça – Um idiota gordo e fedorento que acha que é o rei de Gorlan.
— Certo com sempre meu lindo – disse ela apertando o pênis do elfo sob a calça, mas nem isso causou alguma reação dele – Saco! – ela baixou os braços – Como você é frio!
— Meu povo não é dado a sentimentos Naara e você sabe disso. Vou conversar com o bendito rei.
A moça ficou frustrada para trás e olhou para o pátio lambendo os lábios. Ia achar algum ali para se divertir.
Kamm entrou em sua sala de estar particular que não passava de um escritório espartano, com duas poltronas, uma mesa, um arquivo e a lareira de pedra.
O rei de Gorlan estava sentado atrás da sua mesa de trabalho lambuzando todo o tampo com um pedaço de carne que ele mastigava ruidosamente deixando pedaços na barba negra e emaranhada.
Os gorlanianos homens acreditavam que a barba era um símbolo de virilidade e quanto maior mais potente era um homem.
Kamm achava aquele costume insuportável! Seu povo gostava de corpos limpos e sem pelos.
O rei de Gorlan, cujo nome era Tenosis Fasten, era um homem de dois metros de altura, muito gordo, com cabelos e barba longos e gordurosos na cor negra e olhos castanhos pequenos, mas inteligentes.
O elfo sabia que o gordo rei podia ser tudo menos bobo em relação a ele. Sabia que Kamm representava um grande perigo, mas se não cooperasse o perigo era maior ainda e só estava esperando o momento para dar o bote e ficar com as esferas do poder e os exércitos treinados de Kamm.
O elfo podia ver a cobiça nos olhos do rei e soube que era a hora de se livrar daquele homem e colocar no poder o filho de Tenosis, Kalgran, leal a ele. Kalgran via mais longe que o pai, e Kamm tinha a vantagem do príncipe ter se apaixonado por ele.
— Bom dia jovem Kamm – disse o outro sorrindo e arrotando – Seu cozinheiro me serviu um belo assado, espero que não seja um incomodo.
— Em hipótese nem uma majestade. Minha é sua casa.
— Claro que ela é minha – outro arroto – Está no meu país!
Kamm ferveu de raiva, mas preferiu se calar agora. Aquele maldito monte de banha ia pagar caro por sua ofensa.
— Bem Kamm vamos aos negócios – rei deixou a carne no preto e juntou às mãos engorduradas – Você me disse que eu poderia invadir aquele principado de Haven, mas até agora suas palavras foram apenas palavras vazias.
— Peço desculpas pela demora, meu rei, mas é necessário um bom treinamento para os meus soldados para que a guerra seja ganha. Felizmente o reino de Gaulesh não vai dar ajuda ao principado depois da tentativa de homicídio praticada pelo príncipe Phillip.
— Eu já esperei demais Kamm. Dentro de três dias vamos à guerra estando você pronto ou não – ele se levantou – Vou até o meu quarto. Mande aquela elfo vermelho para me divertir.
O rei saiu petulante e não viu o sorriso do elfo.
Sem que ele precisasse em poucos minutos Naara estava na porta com cara satisfeita.
— Mate-o Naara. Ele se tornou um empecilho aos nossos planos.
— Ele é todo meu?
— Faça o que quiser desde que se livre dele. Mandarei uma mensagem para Kalgran dando as minhas condolência pelo seu pai e pedindo que ele venha até aqui buscar o corpo do pai.
A elfo lambeu os lábios e nesse momento podia-se ver seus caninos alongando e seus olhos ficando cada vez mais vermelhos.
Gabe estava sentado em cima de uma das torres do castelo. Ele não queria falar com ninguém. Seu maior medo estava se realizando. Paul ia se casar e talvez ele não mais quisesse um bando de filhos que nem eram do seu sangue incomodando ele. Será que ele teria que ir embora?
Isso não o assustava, mas a solidão sim. Ele odiava ficar sozinho, perdido como se não tivesse um norte.
— Gabe? – Mat estivera procurando o menino depois que Sara havia conversado que ele e Paul sobre a atitude negativa do menino.
O garoto não respondeu, continuando sentado no chão de pedra da torre olhando a cidade ao longe.
O príncipe sentou do lado dele o olhando.
— O que está acontecendo?
Gabe não queria falar com ele, mas Mat havia salvado a vida de seu pai.
— Estou com medo – olhou Mat – Você vai se casar com ele não é?
— Vou Gabe, mas não é só com Paul que vou me casar, mas com todos vocês – segurou o queixo do menino fazendo-o olhar para ele – Eu amo vocês como meus filhos Gabe, cada um de vocês. Gostaria de ser o meu filho?
Os lábios do menino tremeram.
— Você quer ser o meu pai? De mim?
— De você Gabe. De um menino inteligente, responsável, forte. Eu ia me sentir honrado se você me quisesse.
— Mat...
O menino desabou nos braços do príncipe que o apertou nos braços sentindo seu calor e seu cheiro. Seu filho...
Mirian estava sentada na poltrona do seu quarto com cara de poucos amigos. Na sua mão havia um vaso de vidro trabalho que Dylan havia dado a ela em seu aniversário.
Quando a porta do quarto se abriu o rei só teve tempo de se abaixar para não receber o vaso bem no rosto. Este espatifou na parede voando cacos por todo o lado.
— Está louca mulher?
— Eu estava louca Dylan, quando me casei com você! Estou agora recuperando a minha sanidade.
— Tentando me matar com um vaso?
— As víboras que eu encomendei ainda não chegaram.
— Mirian por favor...
— Você deu ordens para que eu fosse impedida de sair do castelo?
— Mirian... – outro vaso voou em sua direção e ele se esquivou.
— Eu não quero desculpas! Se você não quer que eu enfie uma espada nos seus intestinos você vai revogar essa ordem!
— É para o seu próprio bem.
— Mas não vai ser para o seu Dylan! Ou você não me conhece o suficiente?
— Mirian houve uma tentativa de assassinato contra a minha vida e eu temo que algo aconteça com você!
— Eu não vou repetir Dylan McGives. RETIRE A ORDEM!
— Você está alterada.
— Você ainda não me viu alterada meu bem. Eu vou até a casa de Katrina falar das suas suspeitas infelizes contra Phil e você não vai me impedir!
— Eu sou o rei aqui Mirian!
— Continue falando e quem sabe você se convence.
— Cale a boca e me ouça – Dylan estava com ganas de matar a mulher – Eu não suspeito de Phil! Eu só preciso fazer isso para que o mandante ache que estou contra Phillip! E antes que você comece a gritar Phil já sabe.
— Que plano idiota.
— Mirian...
— Pare de gastar o meu nome e eu ainda estou com raiva de você. Por que não me contou?
— Você não me deu tempo para fazer isso.
— Eu estou de greve desse momento em diante – ela cruzou os braços com cara de desafio fazendo Dylan revirar os olhos.
— Que tipo de greve Mirian?
— Eu não vou fazer sexo com você durante um mês e fim de papo!
— Que??
— Você está ficando velho e surdo velho marido – ela olhos as unhas – Um mês e você vai ter que se contentar com a sua mão.
— Isso é maldade Mirian e sabe disso.
— Você não casou comigo pela minha bondade, não é querido? Afinal eu tentei ti matar.
Dylan andou a passos decididos até a esposa e a levantou da poltrona e beijando-a de forma intensa e brutal, mas ele revidou mordendo seus lábios.
— Maldição Mirian! Precisava me morder?
— Precisava me beijar? – ele foi em direção a porta – Daqui a um mês eu penso no seu caso.
Ela saiu deixando um rei furioso para trás.
Phillip não teve outro jeito que aceitar o casamento de Mat e Paul. Ele tinha medo que o irmão acabasse por machucar o duo, mas ao ver o amor entre os dois ele percebeu que não Mat estava falando sério. Ele abraçou o irmão e Paul desejando felicidades a ambos e desceu para o salão do castelo onde Capela havia finalmente aparecido e carregando Maleah de Gad, amigo de Dylan.
Ambos estavam cobertos de lama e folhas de arvores. Capela apresentou seu relato se desculpando por não ter se apresentado ao serviço na hora de vida e o príncipe começou a rir.
— Vocês se casaram?!
— Isso não é engraçado Phillip – disse o elfo azedo.
— Desculpa, mas o rei Raguel vai ficar doido.
— O rei dos elfos? – Capela não entendia o que ele tinha a ver com Maleah.
— Raguel de Jaire é o pai de Maleah. Seu esposo é o príncipe herdeiro dos elfos da Floresta Velha.
— Você é um príncipe? – Capela se virou com os olhos brilhando furiosos para o elfo – E você se esqueceu de contar isso, não é?
— Eu tentei te contar! Você não me escuta!
— Meu dia acaba de ficar perfeito – disse Capela com cara de quem chupou limão e dos mais azedos.
— Pra mim não está sendo exatamente um mar de rosas humano!
— Eu devo ter jogado pedra na cruz!
— É melhor os dois tomarem um banho e esfriarem a cabeça – disse Phil em tom sério – Capela volte para o alojamento e Maleah vai ficar aqui no castelo até que vocês possam discutir as coisas sem estarem com vontade de se matarem.
— Ele é meu marido agora! – Maleah olhou para o tenente que estava parado ao lado dele de braços cruzados – Tenho que ir com ele.
— Vocês vão fazer o que estou mandando. Aqui não é o reino élfico e eu vou considerar que vocês estão casados quando forem à frente de um padre e assinarem seu contrato, antes disso eu me recuso a deixar que o melhor amigo do meu irmão viva em pecado. Eu fui claro?
— Sim senhor – disseram os dois juntos.
Paul estava cansado de ficar deitado. Acabou se levantando e indo até a janela olhar os jardins ao sol do meio dia. Maleah tinha passado por seu quarto contando a sua aventura da noite e ele não pode deixar de surpreender que ele havia se casado com Capela.
Fora a poucos dias que ele conhecera um príncipe atrevido na feira e agora estava a ponto de se casar com ele. Era como se anos tivessem se passado naqueles poucos dias.
— Você deveria estar na cama – Mat entrou com uma bandeja com seu almoço.
— Ficar parado me deixa louco. Você viu as crianças?
— Gwen os levou para conhecer o castelo.
— Espero que o eles estejam se comportando.
— Eles estão – Mat foi até Paul e lhe deu um beijo delicado olhando em seu olhos dourados – Não vejo a hora de nos casarmos e ir para a casa da floresta.
— Eu também – ele acariciou o rosto de Mat – O castelo do seu irmão é lindo, mas eu sinto saudade da minha casa.
— Tenha paciência por mais alguns dias e podemos ir lá juntos.
— Mat – ele segurou as mãos do noivo – Se um dia eu faltar você me promete que vai cuidar das crianças?
— Paul que conversa é essa? – ele olhou estranho para o rapaz.
— As certezas nessa vida não existem Mat. Me prometa.
— Sabe que eu cuidaria deles sempre Paul, mas nada vai ti acontecer entendeu? Eu vou cuidar de você, nada vai ti acontecer ou as crianças.
Ele abraçou o outro de forma apertada querendo esquecer as palavras de Paul, mas o duo não esquecia. Um estranho mal estar dentro dele não desaparecia e ele estava ficando angustiado. O que seu coração estava pressentindo?
Capela olhou para trás para ver se o elfo o seguia e o encontrou tropeçando nas raízes das árvores com o olhar perdido e o rosto pálido.
— Vamos parar Maleah! – disse o tenente para o outro que nem pareceu escutar.
O elfo continuou andando mais alguns metros quando parou e de repente começou a vomitar assustando Capela que correu até ele pegando-o pelo ombro e levando até o riacho que seguiam.
— Você está bem? – Capela perguntou para o rapaz que depois de lavar a boca havia sentado no chão coberto de hera.
— São os efeitos secundários de uma visão. O meu povo normalmente não tem dificuldade com os seus poderes, mas ser vidente requer muito de um elfo. Sua energia física e mental é drenada.
— Maleah – ele se sentou do lado dele – A visão que você teve, tem certeza que não pode ser mudada?
— Eu não sei Capela. Todas as vezes que eu tentava mudar alguma coisa eu só conseguia tornar a coisa mais inevitável ainda. O futuro é algo complicado.
— Mas será que existe apenas um futuro possível?
— Os sábios do meu povo dizem que há muitos futuros e que depende de nós criarmos ele, mas com a experiência que tenho acho que não é bem assim.
— Eu não aceito isso, Maleah! Paul morto e Mathew se tornando um deus da destruição e vingança.
— Eu sei como você se sente e também não vou deixar isso acontecer, mesmo que tenha que brigar com o próprio destino para isso.
— É melhor guardarmos isso para nós por hora. Contar para Paul ou Mathew pode tornar as coisas complicadas.
— Concordo com você – ele olhou o tenente e deu um sorriso cansado – Mesmo assim eu não posso dizer que não acho o destino engraçado. Eu sou amigo de Dylan, o rei de Gaulesh e foi ele quem me pediu para vir para cá ajudar você com as investigações em Gorlan.
— Você está aqui a mando do rei Dylan!? – ele olhou espantado para o elfo.
— Exatamente e quem me atropela na estrada? O tenente que eu deveria trabalhar e agora eu também sou seu esposo.
— Maleah você me diz que essa situação não pode ser remediada então o que fazemos?
— Seguimos em frente ou você tem uma ideia melhor?
— Você quer dizer vivermos juntos e tudo mais?
— E o que você vai fazer comigo? Me jogar ao lixo?
— Eu não disse isso! Eu nunca pensei em casar ou constituir família, nem mesmo uma casa eu tenho! Moro nos alojamentos dos oficiais e pode estar certo que não quero o meu marido em meio a um monte de homens! Assim que chegarmos a Vila de Haven vou atrás de uma casa e temos que pensar muito nesse negócio de você me acompanhar nas missões em Gorlan.
— Ei, ei, ei! – o elfo se levantou contrariado – Agora por acaso se tronou o marido devoto e ciumento?
— Você é meu esposo agora e não vou admitir que fique por ai com outros!
— A vida é minha e eu faço o que me der na telha!
— Só tente elfo! Não sou tão ignorante como você pensa. Os casamentos entre elfos garante a aquele quem o pediu em casamento o direito sobre a vida e morte do companheiro. Ou eu estou errado?
O elfo o olhou com raiva e voltou a andar. Sim, aquele projeto de militar estava certo! Ele agora, pelas leis do seu povo, propriedade de Capela por toda a sua vida.
Kamm olhou para os exércitos que faziam o treinamento sob as rédeas de seu general mais fiel, Ydrill. Havia cerca de dois mil soldados elfos que haviam se juntado a ele por dinheiro ou poder, mas a verdade era que nem um deles podia mais partir. Kamm tinha-os sob o controle de sua magia.
Ele estava no terraço de sua fortaleza nas montanhas de Alcerd ao sul de Gorlan. A fortaleza era feita da mesma pedra cinza que havia por toda parte nas montanhas e se confundia com ela tornando-se quase invisível a olhos indesejados, não que alguém quisesse se aventurar por ali.
As minas ficavam depois de um grande deserto e quem aparecesse ali era rapidamente pego e colocado como escravo para escavar minas e no final morrer de exaustão.
— Você tem visita – ronronou Naara chegando perto dele e o abraçando por trás.
— Deixa ver se adivinho – ele nem se moveu ao ter corpo acariciado pela moça – Um idiota gordo e fedorento que acha que é o rei de Gorlan.
— Certo com sempre meu lindo – disse ela apertando o pênis do elfo sob a calça, mas nem isso causou alguma reação dele – Saco! – ela baixou os braços – Como você é frio!
— Meu povo não é dado a sentimentos Naara e você sabe disso. Vou conversar com o bendito rei.
A moça ficou frustrada para trás e olhou para o pátio lambendo os lábios. Ia achar algum ali para se divertir.
Kamm entrou em sua sala de estar particular que não passava de um escritório espartano, com duas poltronas, uma mesa, um arquivo e a lareira de pedra.
O rei de Gorlan estava sentado atrás da sua mesa de trabalho lambuzando todo o tampo com um pedaço de carne que ele mastigava ruidosamente deixando pedaços na barba negra e emaranhada.
Os gorlanianos homens acreditavam que a barba era um símbolo de virilidade e quanto maior mais potente era um homem.
Kamm achava aquele costume insuportável! Seu povo gostava de corpos limpos e sem pelos.
O rei de Gorlan, cujo nome era Tenosis Fasten, era um homem de dois metros de altura, muito gordo, com cabelos e barba longos e gordurosos na cor negra e olhos castanhos pequenos, mas inteligentes.
O elfo sabia que o gordo rei podia ser tudo menos bobo em relação a ele. Sabia que Kamm representava um grande perigo, mas se não cooperasse o perigo era maior ainda e só estava esperando o momento para dar o bote e ficar com as esferas do poder e os exércitos treinados de Kamm.
O elfo podia ver a cobiça nos olhos do rei e soube que era a hora de se livrar daquele homem e colocar no poder o filho de Tenosis, Kalgran, leal a ele. Kalgran via mais longe que o pai, e Kamm tinha a vantagem do príncipe ter se apaixonado por ele.
— Bom dia jovem Kamm – disse o outro sorrindo e arrotando – Seu cozinheiro me serviu um belo assado, espero que não seja um incomodo.
— Em hipótese nem uma majestade. Minha é sua casa.
— Claro que ela é minha – outro arroto – Está no meu país!
Kamm ferveu de raiva, mas preferiu se calar agora. Aquele maldito monte de banha ia pagar caro por sua ofensa.
— Bem Kamm vamos aos negócios – rei deixou a carne no preto e juntou às mãos engorduradas – Você me disse que eu poderia invadir aquele principado de Haven, mas até agora suas palavras foram apenas palavras vazias.
— Peço desculpas pela demora, meu rei, mas é necessário um bom treinamento para os meus soldados para que a guerra seja ganha. Felizmente o reino de Gaulesh não vai dar ajuda ao principado depois da tentativa de homicídio praticada pelo príncipe Phillip.
— Eu já esperei demais Kamm. Dentro de três dias vamos à guerra estando você pronto ou não – ele se levantou – Vou até o meu quarto. Mande aquela elfo vermelho para me divertir.
O rei saiu petulante e não viu o sorriso do elfo.
Sem que ele precisasse em poucos minutos Naara estava na porta com cara satisfeita.
— Mate-o Naara. Ele se tornou um empecilho aos nossos planos.
— Ele é todo meu?
— Faça o que quiser desde que se livre dele. Mandarei uma mensagem para Kalgran dando as minhas condolência pelo seu pai e pedindo que ele venha até aqui buscar o corpo do pai.
A elfo lambeu os lábios e nesse momento podia-se ver seus caninos alongando e seus olhos ficando cada vez mais vermelhos.
Gabe estava sentado em cima de uma das torres do castelo. Ele não queria falar com ninguém. Seu maior medo estava se realizando. Paul ia se casar e talvez ele não mais quisesse um bando de filhos que nem eram do seu sangue incomodando ele. Será que ele teria que ir embora?
Isso não o assustava, mas a solidão sim. Ele odiava ficar sozinho, perdido como se não tivesse um norte.
— Gabe? – Mat estivera procurando o menino depois que Sara havia conversado que ele e Paul sobre a atitude negativa do menino.
O garoto não respondeu, continuando sentado no chão de pedra da torre olhando a cidade ao longe.
O príncipe sentou do lado dele o olhando.
— O que está acontecendo?
Gabe não queria falar com ele, mas Mat havia salvado a vida de seu pai.
— Estou com medo – olhou Mat – Você vai se casar com ele não é?
— Vou Gabe, mas não é só com Paul que vou me casar, mas com todos vocês – segurou o queixo do menino fazendo-o olhar para ele – Eu amo vocês como meus filhos Gabe, cada um de vocês. Gostaria de ser o meu filho?
Os lábios do menino tremeram.
— Você quer ser o meu pai? De mim?
— De você Gabe. De um menino inteligente, responsável, forte. Eu ia me sentir honrado se você me quisesse.
— Mat...
O menino desabou nos braços do príncipe que o apertou nos braços sentindo seu calor e seu cheiro. Seu filho...
Mirian estava sentada na poltrona do seu quarto com cara de poucos amigos. Na sua mão havia um vaso de vidro trabalho que Dylan havia dado a ela em seu aniversário.
Quando a porta do quarto se abriu o rei só teve tempo de se abaixar para não receber o vaso bem no rosto. Este espatifou na parede voando cacos por todo o lado.
— Está louca mulher?
— Eu estava louca Dylan, quando me casei com você! Estou agora recuperando a minha sanidade.
— Tentando me matar com um vaso?
— As víboras que eu encomendei ainda não chegaram.
— Mirian por favor...
— Você deu ordens para que eu fosse impedida de sair do castelo?
— Mirian... – outro vaso voou em sua direção e ele se esquivou.
— Eu não quero desculpas! Se você não quer que eu enfie uma espada nos seus intestinos você vai revogar essa ordem!
— É para o seu próprio bem.
— Mas não vai ser para o seu Dylan! Ou você não me conhece o suficiente?
— Mirian houve uma tentativa de assassinato contra a minha vida e eu temo que algo aconteça com você!
— Eu não vou repetir Dylan McGives. RETIRE A ORDEM!
— Você está alterada.
— Você ainda não me viu alterada meu bem. Eu vou até a casa de Katrina falar das suas suspeitas infelizes contra Phil e você não vai me impedir!
— Eu sou o rei aqui Mirian!
— Continue falando e quem sabe você se convence.
— Cale a boca e me ouça – Dylan estava com ganas de matar a mulher – Eu não suspeito de Phil! Eu só preciso fazer isso para que o mandante ache que estou contra Phillip! E antes que você comece a gritar Phil já sabe.
— Que plano idiota.
— Mirian...
— Pare de gastar o meu nome e eu ainda estou com raiva de você. Por que não me contou?
— Você não me deu tempo para fazer isso.
— Eu estou de greve desse momento em diante – ela cruzou os braços com cara de desafio fazendo Dylan revirar os olhos.
— Que tipo de greve Mirian?
— Eu não vou fazer sexo com você durante um mês e fim de papo!
— Que??
— Você está ficando velho e surdo velho marido – ela olhos as unhas – Um mês e você vai ter que se contentar com a sua mão.
— Isso é maldade Mirian e sabe disso.
— Você não casou comigo pela minha bondade, não é querido? Afinal eu tentei ti matar.
Dylan andou a passos decididos até a esposa e a levantou da poltrona e beijando-a de forma intensa e brutal, mas ele revidou mordendo seus lábios.
— Maldição Mirian! Precisava me morder?
— Precisava me beijar? – ele foi em direção a porta – Daqui a um mês eu penso no seu caso.
Ela saiu deixando um rei furioso para trás.
Phillip não teve outro jeito que aceitar o casamento de Mat e Paul. Ele tinha medo que o irmão acabasse por machucar o duo, mas ao ver o amor entre os dois ele percebeu que não Mat estava falando sério. Ele abraçou o irmão e Paul desejando felicidades a ambos e desceu para o salão do castelo onde Capela havia finalmente aparecido e carregando Maleah de Gad, amigo de Dylan.
Ambos estavam cobertos de lama e folhas de arvores. Capela apresentou seu relato se desculpando por não ter se apresentado ao serviço na hora de vida e o príncipe começou a rir.
— Vocês se casaram?!
— Isso não é engraçado Phillip – disse o elfo azedo.
— Desculpa, mas o rei Raguel vai ficar doido.
— O rei dos elfos? – Capela não entendia o que ele tinha a ver com Maleah.
— Raguel de Jaire é o pai de Maleah. Seu esposo é o príncipe herdeiro dos elfos da Floresta Velha.
— Você é um príncipe? – Capela se virou com os olhos brilhando furiosos para o elfo – E você se esqueceu de contar isso, não é?
— Eu tentei te contar! Você não me escuta!
— Meu dia acaba de ficar perfeito – disse Capela com cara de quem chupou limão e dos mais azedos.
— Pra mim não está sendo exatamente um mar de rosas humano!
— Eu devo ter jogado pedra na cruz!
— É melhor os dois tomarem um banho e esfriarem a cabeça – disse Phil em tom sério – Capela volte para o alojamento e Maleah vai ficar aqui no castelo até que vocês possam discutir as coisas sem estarem com vontade de se matarem.
— Ele é meu marido agora! – Maleah olhou para o tenente que estava parado ao lado dele de braços cruzados – Tenho que ir com ele.
— Vocês vão fazer o que estou mandando. Aqui não é o reino élfico e eu vou considerar que vocês estão casados quando forem à frente de um padre e assinarem seu contrato, antes disso eu me recuso a deixar que o melhor amigo do meu irmão viva em pecado. Eu fui claro?
— Sim senhor – disseram os dois juntos.
Paul estava cansado de ficar deitado. Acabou se levantando e indo até a janela olhar os jardins ao sol do meio dia. Maleah tinha passado por seu quarto contando a sua aventura da noite e ele não pode deixar de surpreender que ele havia se casado com Capela.
Fora a poucos dias que ele conhecera um príncipe atrevido na feira e agora estava a ponto de se casar com ele. Era como se anos tivessem se passado naqueles poucos dias.
— Você deveria estar na cama – Mat entrou com uma bandeja com seu almoço.
— Ficar parado me deixa louco. Você viu as crianças?
— Gwen os levou para conhecer o castelo.
— Espero que o eles estejam se comportando.
— Eles estão – Mat foi até Paul e lhe deu um beijo delicado olhando em seu olhos dourados – Não vejo a hora de nos casarmos e ir para a casa da floresta.
— Eu também – ele acariciou o rosto de Mat – O castelo do seu irmão é lindo, mas eu sinto saudade da minha casa.
— Tenha paciência por mais alguns dias e podemos ir lá juntos.
— Mat – ele segurou as mãos do noivo – Se um dia eu faltar você me promete que vai cuidar das crianças?
— Paul que conversa é essa? – ele olhou estranho para o rapaz.
— As certezas nessa vida não existem Mat. Me prometa.
— Sabe que eu cuidaria deles sempre Paul, mas nada vai ti acontecer entendeu? Eu vou cuidar de você, nada vai ti acontecer ou as crianças.
Ele abraçou o outro de forma apertada querendo esquecer as palavras de Paul, mas o duo não esquecia. Um estranho mal estar dentro dele não desaparecia e ele estava ficando angustiado. O que seu coração estava pressentindo?
quinta-feira, 26 de abril de 2012
Caminhos do Destino - Capitulo XIX
Capitulo XIX
Maleah estava sentado nos fundos da caverna ouvindo Capela conversar com as fadas. Sabia que havia sido um idiota sem coração ao gritar com o tenente, mas a verdade é que ele nunca se imaginou casado. Gostava de ser livre e viver andando pelo mundo. Achava que quando o momento chegasse ele acharia uma elfo que tivesse influencia e se casaria, mas acabara ligado a um tenente humano. Seu pai ia matá-lo por isso, na verdade ele ia é deserdá-lo por ter se ligado a um ser inferior como um humano. Quanto a isso ele não se preocupava, estava louco para se livrar do trono, mas nunca mais poderia voltar ao seu reino, ele seria um degredado.
— Você está bem? – Capela aproximou-se dele o olhando preocupado.
— Estou vivo e não agradeci por ter me salvado, obrigado.
— Agora que se acalmou será que pode me dizer o que é esse negócio de casamento?
— Não tenho nada para dizer! Nós casamos e fim de papo.
— Olha aqui elfo eu não posso estar casado com você! Para mim casamento é algo que se celebra com um padre e não depois de ter usado uma magia de cura! Eu já vi magos usarem esses poderes e não ficarem presos aos seus pacientes!
— Algum era elfo por acaso? – Maleah se levantou encarando o tenente – Nós elfos não somos católicos! Não nos casamos como vocês! Um casamento elfo acontece quando duas almas se juntam a ponte se não sabermos onde termina uma e começa a outra!
— E você acha que foi isso que eu fiz?
— Eu não acho – o elfo fechou a boca e de repente Capela ouviu uma voz em sua cabeça – “Eu sei!”
Capela deu um pulo se encostando na parede da gruta se dando conta que o elfo havia falado em sua mente. Agora ele podia sentir bem lá no fundo de sua alma uma estranha energia e perceber que ela vinha de Maleah. Ao tocar a energia com sua mente ele percebeu que era ali que sua alma estava ligada ao outro e que através dessa ligação ele podia sentir parte das emoções do elfo.
Com desespero percebeu que as lembranças de Maleah estavam ali também.
— Será que percebeu agora seu humano idiota!
— Deve ter um jeito de romper isso!
— Tem sim – olhou Capela nos olhos – quando um de nós morrer!
Paul tinha que ficar de repouso por uma semana e ele protestou bastante ao ouvir isso.
— Podia ser pior Paul! – retrucou Mat contrariado olhando para o rapaz deitado e de braços cruzados.
— Minha fazenda não pode ficar à toa Mat! Eu tenho coisas demais para fazer do que ficar deitado aqui.
— Eu vou na fazenda dar uma olhada em tudo com Gabe todos os dias, mas você não vai desobedecer as ordens do curandeiro.
— Esqueceu que eu sou um curandeiro? Pois eu digo que esse negócio de ficar de repouso é bobagem.
— Por que você é curandeiro é que deveria ter mais juízo!
— Você está me dizendo que eu não tenho juízo, Mathew MacGives? – Paul estreitou os olhos.
— Não foi isso que eu disse Paul!
— Mas foi isso que eu entendi afinal de contas!
— Não coloque palavras na minha boca!
— Não to colocando nada que você não tenha dito!
— É só ti contrariar um pouquinho que você fica desse jeito.
— Que jeito?!
— Parecendo um porco espinho... – na hora Mat percebeu que tinha falado a coisa errada.
— Porco espinho é você seu moleque com complexo de lord! Eu vou para a casa e fim de papo!
— Você fica aqui e fim de papo Paul!
— Eu sou livre até onde eu sei!
— Você quer que eu ti tranque no quarto?
— Tenta fazer isso para ver o que ti acontece!
— Eu não vou mais discutir com você nesse estado alterado. E não se atreva a sair dessa cama ou vou mandar um guarda ficar de prontidão dentro do quarto! – Mat saiu do quarto ouvindo alguns “elogios” de Paul em relação a sua pessoa.
— Você é um poço de sensibilidade Mathew – Gwen estava no corredor com Killian nos braços – Dava para ouvir a briga de você do outro lado do castelo.
— O que você queria que eu fizesse com esse teimoso? Deixasse ele ir para casa?
— Mat, Paul viveu muito tempo dependendo só dele mesmo. Ninguém estava lá quando ele precisava cuidar das crianças e da fazenda. É natural que ele esteja com medo de perder sua autonomia que ele lutou tanto para construir.
— E o que faço, Gwen? – ele abriu os braços em desespero – Deixo ele ir para aquele lugar afastado e sozinho?
— Não. Mas acho que passou da hora de você levar seu esposo para casa.
— Esposo?
— Peça ele em casamento de uma vez por todas Mathew! – ela retirou do bolso uma caixinha e entregou a ele – Vá lá e faça certo!
Mat abriu a caixa de madeira revelando um colar de anéis de prata onde pendia uma aliança de ouro branco. A corrente com a aliança era um símbolo dado a pessoa no dia do noivado. Ao se casar a aliança era retirada da corrente e posta no dedo da mão direita simbolizando assim sua união.
— Eu falei com padre Timótio – a princesa deu um sorriso safado – Ele odiou a ideia de casar um duo, mas a minha ameaça de retirar as minhas doações da igreja foi o suficiente. Dentro de uma semana celebraremos o seu casamento
Mat olhava do colar para a cunhada e vice-versa até que seu conta do que ela havia falado. Rindo ele beijou Gwen e correu de volta ao quarto.
Ao entrar no quarto ainda encontrou Paul emburrado e com os lábios torcidos em um bico que Mat ia adorar beijar.
— Pra que voltou agora? Não trouxe um soldado com você? Pois se quer saber... – fosse lá o que fosse que Paul ia dizer se perdeu.
Mat sentou na cama e puxou Paul para um beijo quente e exigente, só parando quando faltou ar para os dois.
— Paul – ele abriu a caixa mostrando a corrente – Você que ser casar comigo?
Paul olhava incrédulo para o símbolo de noivado na mão do príncipe. Era mesmo verdade? Aquele homem lindo e poderoso, um príncipe do reino de Gaulesh queria casar com ele?
— Mat... Eu não sei o que dizer...
— Sim?
— Mathew – ele segurou a mão do outro onde ele mantinha a corrente estendida para ele – Você pensou bem no que está fazendo? Você não estará se casando só comigo, mas eu tenho cinco filhos. Você já se imaginou dia a dia tendo que trabalhar em uma fazenda e cuidar de cinco crianças? Eu não ia conseguir viver em seu mundo, Mat. Ele não é gentil com pessoas como eu e nem com as minhas crianças.
— Paul quando eu ti pedi em casamento eu não fiz isso sem considerar as coisas. Eu amo você e amo cada um de seus filhos como se fossem meus. Eu quero ir para a casa da floresta com você, quero acordar ao seu lado, trabalhar com você, estar lá quando as crianças brigarem ou quando as coisas não forem fáceis – ele voltou a erguer a corrente – Meu amor eu não quero pensar em mais nada, agora eu quero você para sempre ao meu lado, basta que você diga uma simples palavra.
— É uma palavra simples, mas que vai mudar a nossa vida e a de muita gente – ele segurou a corrente e deu um beijo no anel e olhou para os violetas de Mathew – Mathew McGives eu amo você e quero me casar.
Feliz demais para dizer em palavras, Mat deu um pulo e deu um beijo nos lábios e Paul encostando a sua testa na dele.
— Gwen já falou com o padre.
— Mesmo?! – Paul caiu na risada – Imagino o que o padre disse. Eu nunca pude entrar na Igreja.
— Então imagine o que a minha cunhada disse. Em uma semana estaremos casados e finalmente indo para a casa.
— Casa – Paul passou os braços pelo pescoço de Mat – Sera que existe palavra mais doce?
— Amor – murmurou ele beijando os lábios do rapaz de uma forma tão doce que vieram lágrimas aos olhos de Paul.
— Você não vai chorar, não é? – Mat começou a enxugar as lágrimas que escorriam dos olhos do outro – Esse é para ser um momento feliz.
— Eu estou feliz seu bobo – ele riu em meio as lágrimas e voltaram a se beijar não percebendo que o quarto de Sara não era muito longe do deles.
A menina começou a rir de forma descontrolada assustando os Shon e Gabe que estavam lá, este ultimo ainda com raiva da moça loira.
— O que há com você, heim? – perguntou ele contrariado.
— Eu sou demais!
— Demais chata, você quer dizer.
— Cale a boca Gabe! Eu não mando você ter o ouvido entupido de cera!
— Você é que ouve demais, é enxerida demais!
— Você fala assim por que os seus sentidos são uma porcaria. Uma manada de cavalos ia passar no corredor e você não ia ouvir!
— Vocês querem parar! – Shon havia tapado os ouvidos – Fala o que você ouviu de uma vez por todas Sara!
— Teremos um casamento para ir.
— É alguém que conhecemos? Não conhecemos ninguém nesse lugar, não é mesmo? – Shon mordeu a parte interna da bochecha pensando.
— Pode apostar que nós conhecemos e bem.
Gabe revirou os olhos com vontade de esganar a irmã. Ela tinha por esporte torturar a todos eles por causa da curiosidade.
— Fala logo sua chata!
— Agora eu não falo mais! – ela cruzou os braços contrariada.
— Eu prefiro ficar olhando os cavalos no pátio do que ficar com vocês dois! – Shon levantou contrariado – Vocês são piores que Jared e Jason!
— Tá bom! – a menina projetou o lábio inferior em um bico contrariado, mas logo seus olhos brilharam com o que ia contar – O Mat pediu a mãe em casamento!
— O Mat vai ser o nosso pai?! – cheio de alegria Shon pulou da cama.
— Pelo visto sim – ela olhou para Gabe que estava silencioso – O que há com você Gabe? Até parece que não gostou disso?
— O que um nobre ia querer com a gente Sara? Ele vai casar com o pai e a gente?
— Ele vai casar com todos nós Gabriel – nesse momento Sara se parecia com Paul, com um ar decidido e sério – Ele nos ama, eu ouvi e mesmo se ele não tivesse falado eu sei que ele nos ama a todos nós. Você está com medo.
— Claro que estou! Eu quero, mas não consigo acreditar nas pessoas.
— Então acredite em Paul, Gabe. Ele nunca faria nada para nos machucar.
O menino não respondeu. Ele foi até a janela olhando para o jardim que brilhava na luz da manhã que já ia alta. Um dia, há muito tempo atrás, ele havia jurado que nunca mais ia confiar em ninguém e não estava disposto a por o seu coração a perder novamente.
Capela abaixou-se para beber água do riacho que corria calmamente por entras pedras cheias de limo. Nas margens haviam pequenos arbustos de uma planta verde, de caule suculento que era usado para fazer sopas. Ele quebrou dois e se pôs a mastigar um levando o outro para o elfo que havia sentado debaixo de uma árvore.
— Coma, não tem gosto ruim.
— Eu não quero. Estou enjoado demais para pensar em comer – ele se levantou – Vamos logo embora! Eu preciso avisar o meu pai do que aconteceu, odeio protelar as coisas.
— Ia ajudar se eu me declarasse responsável?
— Não!
— Maleah eu estou tentando ajudar!
— Você já me ajudou bastante! – ele se voltou para o humano aos gritos – Você se ligou a mim pela eternidade, por sua causa eu nunca mais poderei entrar nas terras da minha raça!
— Se a sua raça não é capaz de compreender um erro, então você não deve ter muito orgulho dela!
— Cale a boca! – o elfo deu um empurrão no outro jogando-o dentro do córrego – Não fale da minha raça, você não tem esse direito!
— Seu elfo idiota! – Capela se levantou bufando de raiva e voou para cima do outro dando-lhe um soco.
Os elfos eram por natureza seres extremamente fortes, mas aquele humano tinha uma grande força. Maleah enxugou o sangue que escorria do seu lábio partido e foi para cima do tenente.
Os dois rolaram na terra e na lama deixada pela chuva. Cada um aplicava socos potentes e também recebia até que depois de uma hora pararam ofegantes e contundidos.
— Você já não é mais um humano normal – resmungou o elfo sentando no chão.
— Eu já notei isso – resmungou o outro tocando em um olho roxo – Agora eu estou de igual para igual com você.
— Não se orgulhe disso.
— Mas eu posso dizer que fazia tempo que eu não tinha uma boa luta – ele tentou rir com a boca machucada e acabou gemendo.
— Você gostou disso? Alem de louco você é sádico?
— Só um pouquinho elfo – seu sorriso era engraçado com o lábio e inchado – Maleah eu queria poder concertar as coisas, mas eu na me arrependo por ter salvo a sua vida. Eu faria tudo de novo.
Ao ouvir isso o elfo ficou constrangido e abriu a boca para se desculpar quando o mundo a sua frente sumiu e ele de repente se viu em um campo de batalha.
Olhou em volta assustado ao ver pilhas de cadáveres cobertos de sangue, com os membros mutilados. Olhando em volta percebeu que estava no verão, as folhas das árvores eram verdes e havia uma névoa úmida de onde vinham gritos, gemidos e tinir de metal.
Tentou reconhecer o local onde estava, mas era desconhecido para ele. Ouviu um trote de cavalo e a sua frente apareceu um guerreiro de armadura com o elmo fechado cobrindo o seu rosto. Sua capa voava atrás de si e no seu peitoral havia o emblema de um dragão vermelho. Sua espada era longa e feita de um metal brilhante.
Ele nunca havia visto tanta fúria nos olhos de alguém e ao olhar para o lado percebeu o porquê...
Maleah acordou com um grito.
— Meu Deus elfo assim você me mata de susto – disse Capela segurando seus ombros.
— Eu vi – elfo tremia de forma descontrolada – Guerra, raiva...
— Eu não to entendendo nada Maleah!
— Ei tive uma visão, eu vi a guerra que está para vir. Meu Deus – ele começou a chorar – Meu Deus...
— Calma – Capela o abraçou tentando parar os seus tremores – Me conte que tipo de visão.
— O futuro daqui há alguns meses. Haverá guerra e a morte de uma pessoa vai levar outra a um genocídio.
— Quem vai morrer Maleah, me diga!
O elfo olhou nos olhos do tenente com absoluto terror.
— Paul.
Maleah estava sentado nos fundos da caverna ouvindo Capela conversar com as fadas. Sabia que havia sido um idiota sem coração ao gritar com o tenente, mas a verdade é que ele nunca se imaginou casado. Gostava de ser livre e viver andando pelo mundo. Achava que quando o momento chegasse ele acharia uma elfo que tivesse influencia e se casaria, mas acabara ligado a um tenente humano. Seu pai ia matá-lo por isso, na verdade ele ia é deserdá-lo por ter se ligado a um ser inferior como um humano. Quanto a isso ele não se preocupava, estava louco para se livrar do trono, mas nunca mais poderia voltar ao seu reino, ele seria um degredado.
— Você está bem? – Capela aproximou-se dele o olhando preocupado.
— Estou vivo e não agradeci por ter me salvado, obrigado.
— Agora que se acalmou será que pode me dizer o que é esse negócio de casamento?
— Não tenho nada para dizer! Nós casamos e fim de papo.
— Olha aqui elfo eu não posso estar casado com você! Para mim casamento é algo que se celebra com um padre e não depois de ter usado uma magia de cura! Eu já vi magos usarem esses poderes e não ficarem presos aos seus pacientes!
— Algum era elfo por acaso? – Maleah se levantou encarando o tenente – Nós elfos não somos católicos! Não nos casamos como vocês! Um casamento elfo acontece quando duas almas se juntam a ponte se não sabermos onde termina uma e começa a outra!
— E você acha que foi isso que eu fiz?
— Eu não acho – o elfo fechou a boca e de repente Capela ouviu uma voz em sua cabeça – “Eu sei!”
Capela deu um pulo se encostando na parede da gruta se dando conta que o elfo havia falado em sua mente. Agora ele podia sentir bem lá no fundo de sua alma uma estranha energia e perceber que ela vinha de Maleah. Ao tocar a energia com sua mente ele percebeu que era ali que sua alma estava ligada ao outro e que através dessa ligação ele podia sentir parte das emoções do elfo.
Com desespero percebeu que as lembranças de Maleah estavam ali também.
— Será que percebeu agora seu humano idiota!
— Deve ter um jeito de romper isso!
— Tem sim – olhou Capela nos olhos – quando um de nós morrer!
Paul tinha que ficar de repouso por uma semana e ele protestou bastante ao ouvir isso.
— Podia ser pior Paul! – retrucou Mat contrariado olhando para o rapaz deitado e de braços cruzados.
— Minha fazenda não pode ficar à toa Mat! Eu tenho coisas demais para fazer do que ficar deitado aqui.
— Eu vou na fazenda dar uma olhada em tudo com Gabe todos os dias, mas você não vai desobedecer as ordens do curandeiro.
— Esqueceu que eu sou um curandeiro? Pois eu digo que esse negócio de ficar de repouso é bobagem.
— Por que você é curandeiro é que deveria ter mais juízo!
— Você está me dizendo que eu não tenho juízo, Mathew MacGives? – Paul estreitou os olhos.
— Não foi isso que eu disse Paul!
— Mas foi isso que eu entendi afinal de contas!
— Não coloque palavras na minha boca!
— Não to colocando nada que você não tenha dito!
— É só ti contrariar um pouquinho que você fica desse jeito.
— Que jeito?!
— Parecendo um porco espinho... – na hora Mat percebeu que tinha falado a coisa errada.
— Porco espinho é você seu moleque com complexo de lord! Eu vou para a casa e fim de papo!
— Você fica aqui e fim de papo Paul!
— Eu sou livre até onde eu sei!
— Você quer que eu ti tranque no quarto?
— Tenta fazer isso para ver o que ti acontece!
— Eu não vou mais discutir com você nesse estado alterado. E não se atreva a sair dessa cama ou vou mandar um guarda ficar de prontidão dentro do quarto! – Mat saiu do quarto ouvindo alguns “elogios” de Paul em relação a sua pessoa.
— Você é um poço de sensibilidade Mathew – Gwen estava no corredor com Killian nos braços – Dava para ouvir a briga de você do outro lado do castelo.
— O que você queria que eu fizesse com esse teimoso? Deixasse ele ir para casa?
— Mat, Paul viveu muito tempo dependendo só dele mesmo. Ninguém estava lá quando ele precisava cuidar das crianças e da fazenda. É natural que ele esteja com medo de perder sua autonomia que ele lutou tanto para construir.
— E o que faço, Gwen? – ele abriu os braços em desespero – Deixo ele ir para aquele lugar afastado e sozinho?
— Não. Mas acho que passou da hora de você levar seu esposo para casa.
— Esposo?
— Peça ele em casamento de uma vez por todas Mathew! – ela retirou do bolso uma caixinha e entregou a ele – Vá lá e faça certo!
Mat abriu a caixa de madeira revelando um colar de anéis de prata onde pendia uma aliança de ouro branco. A corrente com a aliança era um símbolo dado a pessoa no dia do noivado. Ao se casar a aliança era retirada da corrente e posta no dedo da mão direita simbolizando assim sua união.
— Eu falei com padre Timótio – a princesa deu um sorriso safado – Ele odiou a ideia de casar um duo, mas a minha ameaça de retirar as minhas doações da igreja foi o suficiente. Dentro de uma semana celebraremos o seu casamento
Mat olhava do colar para a cunhada e vice-versa até que seu conta do que ela havia falado. Rindo ele beijou Gwen e correu de volta ao quarto.
Ao entrar no quarto ainda encontrou Paul emburrado e com os lábios torcidos em um bico que Mat ia adorar beijar.
— Pra que voltou agora? Não trouxe um soldado com você? Pois se quer saber... – fosse lá o que fosse que Paul ia dizer se perdeu.
Mat sentou na cama e puxou Paul para um beijo quente e exigente, só parando quando faltou ar para os dois.
— Paul – ele abriu a caixa mostrando a corrente – Você que ser casar comigo?
Paul olhava incrédulo para o símbolo de noivado na mão do príncipe. Era mesmo verdade? Aquele homem lindo e poderoso, um príncipe do reino de Gaulesh queria casar com ele?
— Mat... Eu não sei o que dizer...
— Sim?
— Mathew – ele segurou a mão do outro onde ele mantinha a corrente estendida para ele – Você pensou bem no que está fazendo? Você não estará se casando só comigo, mas eu tenho cinco filhos. Você já se imaginou dia a dia tendo que trabalhar em uma fazenda e cuidar de cinco crianças? Eu não ia conseguir viver em seu mundo, Mat. Ele não é gentil com pessoas como eu e nem com as minhas crianças.
— Paul quando eu ti pedi em casamento eu não fiz isso sem considerar as coisas. Eu amo você e amo cada um de seus filhos como se fossem meus. Eu quero ir para a casa da floresta com você, quero acordar ao seu lado, trabalhar com você, estar lá quando as crianças brigarem ou quando as coisas não forem fáceis – ele voltou a erguer a corrente – Meu amor eu não quero pensar em mais nada, agora eu quero você para sempre ao meu lado, basta que você diga uma simples palavra.
— É uma palavra simples, mas que vai mudar a nossa vida e a de muita gente – ele segurou a corrente e deu um beijo no anel e olhou para os violetas de Mathew – Mathew McGives eu amo você e quero me casar.
Feliz demais para dizer em palavras, Mat deu um pulo e deu um beijo nos lábios e Paul encostando a sua testa na dele.
— Gwen já falou com o padre.
— Mesmo?! – Paul caiu na risada – Imagino o que o padre disse. Eu nunca pude entrar na Igreja.
— Então imagine o que a minha cunhada disse. Em uma semana estaremos casados e finalmente indo para a casa.
— Casa – Paul passou os braços pelo pescoço de Mat – Sera que existe palavra mais doce?
— Amor – murmurou ele beijando os lábios do rapaz de uma forma tão doce que vieram lágrimas aos olhos de Paul.
— Você não vai chorar, não é? – Mat começou a enxugar as lágrimas que escorriam dos olhos do outro – Esse é para ser um momento feliz.
— Eu estou feliz seu bobo – ele riu em meio as lágrimas e voltaram a se beijar não percebendo que o quarto de Sara não era muito longe do deles.
A menina começou a rir de forma descontrolada assustando os Shon e Gabe que estavam lá, este ultimo ainda com raiva da moça loira.
— O que há com você, heim? – perguntou ele contrariado.
— Eu sou demais!
— Demais chata, você quer dizer.
— Cale a boca Gabe! Eu não mando você ter o ouvido entupido de cera!
— Você é que ouve demais, é enxerida demais!
— Você fala assim por que os seus sentidos são uma porcaria. Uma manada de cavalos ia passar no corredor e você não ia ouvir!
— Vocês querem parar! – Shon havia tapado os ouvidos – Fala o que você ouviu de uma vez por todas Sara!
— Teremos um casamento para ir.
— É alguém que conhecemos? Não conhecemos ninguém nesse lugar, não é mesmo? – Shon mordeu a parte interna da bochecha pensando.
— Pode apostar que nós conhecemos e bem.
Gabe revirou os olhos com vontade de esganar a irmã. Ela tinha por esporte torturar a todos eles por causa da curiosidade.
— Fala logo sua chata!
— Agora eu não falo mais! – ela cruzou os braços contrariada.
— Eu prefiro ficar olhando os cavalos no pátio do que ficar com vocês dois! – Shon levantou contrariado – Vocês são piores que Jared e Jason!
— Tá bom! – a menina projetou o lábio inferior em um bico contrariado, mas logo seus olhos brilharam com o que ia contar – O Mat pediu a mãe em casamento!
— O Mat vai ser o nosso pai?! – cheio de alegria Shon pulou da cama.
— Pelo visto sim – ela olhou para Gabe que estava silencioso – O que há com você Gabe? Até parece que não gostou disso?
— O que um nobre ia querer com a gente Sara? Ele vai casar com o pai e a gente?
— Ele vai casar com todos nós Gabriel – nesse momento Sara se parecia com Paul, com um ar decidido e sério – Ele nos ama, eu ouvi e mesmo se ele não tivesse falado eu sei que ele nos ama a todos nós. Você está com medo.
— Claro que estou! Eu quero, mas não consigo acreditar nas pessoas.
— Então acredite em Paul, Gabe. Ele nunca faria nada para nos machucar.
O menino não respondeu. Ele foi até a janela olhando para o jardim que brilhava na luz da manhã que já ia alta. Um dia, há muito tempo atrás, ele havia jurado que nunca mais ia confiar em ninguém e não estava disposto a por o seu coração a perder novamente.
Capela abaixou-se para beber água do riacho que corria calmamente por entras pedras cheias de limo. Nas margens haviam pequenos arbustos de uma planta verde, de caule suculento que era usado para fazer sopas. Ele quebrou dois e se pôs a mastigar um levando o outro para o elfo que havia sentado debaixo de uma árvore.
— Coma, não tem gosto ruim.
— Eu não quero. Estou enjoado demais para pensar em comer – ele se levantou – Vamos logo embora! Eu preciso avisar o meu pai do que aconteceu, odeio protelar as coisas.
— Ia ajudar se eu me declarasse responsável?
— Não!
— Maleah eu estou tentando ajudar!
— Você já me ajudou bastante! – ele se voltou para o humano aos gritos – Você se ligou a mim pela eternidade, por sua causa eu nunca mais poderei entrar nas terras da minha raça!
— Se a sua raça não é capaz de compreender um erro, então você não deve ter muito orgulho dela!
— Cale a boca! – o elfo deu um empurrão no outro jogando-o dentro do córrego – Não fale da minha raça, você não tem esse direito!
— Seu elfo idiota! – Capela se levantou bufando de raiva e voou para cima do outro dando-lhe um soco.
Os elfos eram por natureza seres extremamente fortes, mas aquele humano tinha uma grande força. Maleah enxugou o sangue que escorria do seu lábio partido e foi para cima do tenente.
Os dois rolaram na terra e na lama deixada pela chuva. Cada um aplicava socos potentes e também recebia até que depois de uma hora pararam ofegantes e contundidos.
— Você já não é mais um humano normal – resmungou o elfo sentando no chão.
— Eu já notei isso – resmungou o outro tocando em um olho roxo – Agora eu estou de igual para igual com você.
— Não se orgulhe disso.
— Mas eu posso dizer que fazia tempo que eu não tinha uma boa luta – ele tentou rir com a boca machucada e acabou gemendo.
— Você gostou disso? Alem de louco você é sádico?
— Só um pouquinho elfo – seu sorriso era engraçado com o lábio e inchado – Maleah eu queria poder concertar as coisas, mas eu na me arrependo por ter salvo a sua vida. Eu faria tudo de novo.
Ao ouvir isso o elfo ficou constrangido e abriu a boca para se desculpar quando o mundo a sua frente sumiu e ele de repente se viu em um campo de batalha.
Olhou em volta assustado ao ver pilhas de cadáveres cobertos de sangue, com os membros mutilados. Olhando em volta percebeu que estava no verão, as folhas das árvores eram verdes e havia uma névoa úmida de onde vinham gritos, gemidos e tinir de metal.
Tentou reconhecer o local onde estava, mas era desconhecido para ele. Ouviu um trote de cavalo e a sua frente apareceu um guerreiro de armadura com o elmo fechado cobrindo o seu rosto. Sua capa voava atrás de si e no seu peitoral havia o emblema de um dragão vermelho. Sua espada era longa e feita de um metal brilhante.
Ele nunca havia visto tanta fúria nos olhos de alguém e ao olhar para o lado percebeu o porquê...
Maleah acordou com um grito.
— Meu Deus elfo assim você me mata de susto – disse Capela segurando seus ombros.
— Eu vi – elfo tremia de forma descontrolada – Guerra, raiva...
— Eu não to entendendo nada Maleah!
— Ei tive uma visão, eu vi a guerra que está para vir. Meu Deus – ele começou a chorar – Meu Deus...
— Calma – Capela o abraçou tentando parar os seus tremores – Me conte que tipo de visão.
— O futuro daqui há alguns meses. Haverá guerra e a morte de uma pessoa vai levar outra a um genocídio.
— Quem vai morrer Maleah, me diga!
O elfo olhou nos olhos do tenente com absoluto terror.
— Paul.
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Caminhos do Destino - Capitulo XVIII
Capitulo XVIII
Assim que o curandeiro saiu Phil entrou no quarto onde sua esposa estava junto com algumas servas arrumando as cobertas em volta do corpo de Paul e ascendendo a lareira.
— Como ele está? – perguntou para Gwen que olhava de forma preocupada para o rapaz.
— Podia ter sido pior. Ele conseguiu um pulso torcido e várias contusões, além de dois galos na cabeça. O curandeiro acha que ele pode acordar logo com uma baita dor de cabeça.
— Eu não sei o que aconteceu. Mathew saiu correndo por causa das crianças e eu pedi para trazê-las para o castelo.
— Ele parece que caiu de algum precipício, mas teremos que esperar Mat para saber – olhou o marido – Ouvi que algo aconteceu no sul?
O príncipe olhou as servas e Gwen entendeu. Agradeceu a elas e disse que ela cuidaria do rapaz de agora em diante. Quando a porta se fechou ele levou a esposa até um canto do quarto onde havia um sofá confortável perto de um vaso com um buque de flores do campo enchendo o ambiente com seu perfume.
— O que está acontecendo Phil? – perguntou ela ao se sentarem.
— Quando Mat chegou eu já sabia do ocorrido por um relatório de Capela, mas com a sala cheia de servos eu não queria que ninguém ouvisse, ma parece que isso não impediu as fofocas de se espalharem. Parece que a amazona passou pela vila de Theas ao sul e encontrou a população da vila dizimada. Todos assassinados.
Gwendelyn empalideceu ao ouvir isso. Haven era um reino pacifico que nunca havia lutado uma guerra. Seu exército era o suficiente apenas para manter a segurança interna, a proteção de Gaulesh bastava para afastar qualquer um que tivesse más intenções.
— Eu mandei um pequeno grupo de homens investigar e ver o que podia me trazer antes de me comunicar com Dylan – ele segurou a mão da esposa – Não podemos nos dar o luxo de termos um país em pânico.
— Mas é apenas uma questão de tempo antes que isso se espalhe por todo o lado.
— Eu não consigo entender o que alguém ganharia matando as pessoas de uma vila rural. Matar apenas por matar? Isso me dá mais medo ainda, medo de estarmos enfrentando um louco com prazer de morte.
Gwen abraçou o marido fazendo um carinho nos cabelos dele tentando diminuir sua dor pela perda daquelas pessoas. Habitantes de Haven que os dois juraram proteger quando subiram ao trono.
Mat freou seu cavalo perto da varanda da casa da floresta junto com sua comitiva. Na varanda estavam Gabe e Sara, com Jared e Jason olhando para fora por trás de suas pernas. As crianças pareciam assustadas e isso apertou o coração do príncipe. A chuva havia parado totalmente, deixando uma noite estrelada e gelada.
Pulou do cavalo indo para junto das crianças.
— Mat o que está acontecendo? – Sara segurava a mão de Gabe que o olhava com os olhos verdes arregalados – A mãe saiu faz tempo e não voltou!
— Crianças – ele se ajoelhou diante dos meninos – Eu encontrei o Paul, ele está lá no castelo e o meu irmão pediu para que vocês fossem até lá. Ele mandou a sua carruagem para isso.
— Aconteceu alguma coisa com ele? – Gabe tremia.
— Ele sofreu um pequeno acidente, mas vai ficar bem. Ele só não pode viajar agora. Peguem algumas roupas para passar a noite e vamos ver o Paul logo, logo – olhou em volta – Onde está o Shon?
— Lá em cima chorando – respondeu Jared de detrás das pernas de Gabe – Ele fica falando que a culpa é dele.
Os dois menores sempre tão inquietos estavam tristes e abatidos.
— Garotos eu não sei o que aconteceu, mas conversaremos no castelo.
— Mat o Maleah saiu dizendo que ia procurar meu pai – disse Gabe – Ele não voltou. Não podemos deixá-lo perdido!
— Vamos fazer assim, eu peço para dois soldados procurarem por ele, certo?
Eles assentiram e entraram na casa. Mat conversou com dois soldados dando a missão de procurar o elfo, apesar dele não estar muito preocupado. Poucas coisas podiam acontecer de mal a um elfo. Eram seres mágicos poderosos e fortes.
Ele entrou na casa também indo até o segundo andar e ao quarto que Shon dividia com Gabe. Mesmo do corredor ele podia ouvir o choro do menino.
— Shon vai ficar tudo bem – Gabe estava do lado da cama do menino tentando algo para confortá-lo, mas não estava sendo bem sucedido.
Mathew sentou na borda da cama onde o menino estava de bruços soluçando e colocou a mão na cabeça do menino.
— Oi companheiro! – disse ele de forma carinhosa.
Shon se virou abruptamente olhando para o amigo que ele achava que nunca mais ia ver. Ao se dar conta do quanto tinha sido criança ao pensar assim, o menino se jogou nos braços de Mat soluçando.
— Mat! Mat! Cadê a minha mãe? – ele abraçava apertado o outro apertado.
Mathew também abraçou forte o menino e começou a falar de forma calma e carinhosa.
— Vai ficar tudo bem, calma. O Paul está lá no castelo e vim buscar vocês.
— É minha culpa! Eu achei que você ia embora pra sempre, que não ia mais voltar. Eu fiquei tão triste e com tanta raiva que não queria ver ninguém. Ai eu fui para o lago e dormi, na vi a chuva. O Gabe foi me buscar e demoramos e ai a mãe saiu e não voltou e eu sou o culpado.
Mat começava a entender um pouco de toda aquela história. Sabia que era uma travessura do garoto, que sua atenção deveria ser chamada, mas ele não conseguia ficar bravo com o garoto naquela situação. Ele parecia uma folha em meio à tempestade, tremendo e soluçando. Nada par o seu pranto sentido.
— Vai ficar tudo bem Shon, você não teve culpa. Nós agora vamos ver a sua mãe.
— Arrumei algumas coisas nossas – Gabe apontou para a pequena trouxa em sua cama.
Mat balançou a cabeça e pediu um agasalho de Shon. Gabe entregou uma blusa puída de tricô, mas limpa e perfumada com um perfume que lembrava muito a Paul.
Com Shon no colo ele desceu para a sala onde as outras crianças esperavam. Apagaram as lanternas e trancaram a casa e foram para a luxuosa carruagem real. Os meninos não pareciam ligar para o veiculo. Gabe segurava a mão de Sara com medo de ela tropeçar já que ela estava em um terreno desconhecido, Jared e Jason estavam encostados um no outro cochilando e Shon estava ainda em seu colo não parando de chorar agora baixinho.
Eles rodaram por uma hora até a vila e depois ao castelo ainda com as janelas iluminadas. Gwen estava na porta com Phil e sorriu ao ver as crianças.
— Bem vindo meninos – disse Gwen quando desceram da carruagem.
— Tá tudo bem com a nossa mãe? – perguntou Sara que pela primeira vez desde que Mat a conhecera parecia perdida e com medo, ela não largava a mão de Gabe.
— Ele está dormindo agora. Vou deixar vocês verem ele se me prometerem fazer silencio.
As crianças fizeram um gesto afirmativo e entraram no castelo com os príncipes olhando a enormidade da sala de visitas e a escadaria de mármore que ia para os andares superiores.
Subiram até um quarto no fundo do corredor entrando e vendo Paul deitado em uma grande cama de colunas com dosséis. Eles se aproximaram parecendo perdidos e muito tristes.
Paul era tudo que aquelas crianças tinham, era seu pilar de sustentação.
Gabe colocou sua mão sobre a dele tocando levemente como se estivesse com medo dele quebrar. Mat havia descido Shon do seu colo e o garoto relutava em se aproximar da mãe, agora sentindo-se mais culpado que nunca.
Parecia que Paul estava apenas esperando para sentir sua família perto dele, suas pestanas estremeceram e ele abriu os olhos dourados.
— Mãe!
— Pai!
As crianças gritaram felizes. Mathew chegou perto dele sentando do lado da cama colocando a mão em seu rosto respirando aliviado quando ele sorriu.
— Ola – sua voz estava rouca, mas era o suficiente para deixar todos aliviados.
— Não faça mais isso Paul – gemeu Mat acariciando os seus cabelos – Meu coração não vão agüentar.
— Bobo – disse ele e depois se voltou para os filhos percebendo o alivio no rosto deles – Vocês estão bem?
— Mãe estávamos preocupados – disse Sara querendo se jogar nos braços dele, mas com medo de machucá-lo de algum modo.
— Desculpe crianças – disse ele – Shon? – seu olhar foi para o menino que estava cabisbaixo afastado dele – Tudo bem, meu filho?
— Desculpe mãe – murmurou ele torcendo os dedos – É culpa minha.
— Não, não – ele sentou com a ajuda de Mat – Ninguém teve culpa, foi um acidente.
— E se você não voltasse mais? – Shon tinha os olhos vermelhos e cansados.
— Sem vocês? Eu nunca iria embora Shon sem a minha família. Eu prometo que sempre vou voltar – ele estendeu o braço – Venha cá.
O menino mesmo relutante foi se abraçar com a mãe e essa foi à deixa para todos os outros também subirem na cama. Mat se afastou deixando eles com seu momento em família.
Phil e Gwen resolveram se aproximar naquele momento.
— Você está melhor Paul? – perguntou o príncipe junto de sua esposa.
— Estou sim. Obrigado pela ajuda alteza – olhou Gwen – Princesa.
— Não precisa agradecer – ela deu um beijo no rosto dele – Agora que tal irmos dormir para que a mãe de vocês possa descansar? Tenho alguns quartos arrumados aqui do lado e vou levar vocês.
Os meninos queriam protestar, mas Paul pediu para que eles fossem com os príncipes e os obedecessem.
Quando finalmente ficaram sozinhos, Mat deitou do lado de Paul na cama olhando em seus olhos dourados.
— Acho que entendi o que aconteceu pelo que ouvi das crianças, mas Paul foi uma loucura sair em meio a uma tempestade. Podia ter acontecido algo pior.
— Mat eu faço qualquer coisa pelos meus filhos, qualquer. Eu não me importo se estiver tendo um furacão lá fora, se eu acho que um deles pode estar em perigo eu enfrento tudo.
— Esse amor que você tem nesse coração – colocou a mão no peito do outro – é uma das coisas que fez com que eu me apaixonasse por você. Foi esse amor que me guiou até você. Eu podia ouvi-lo, podia sentir que estava em perigo – sua mão foi para o rosto do rapaz – Nosso amor nos conectou. Separados éramos apenas partes de um todo, agora juntos somos inteiros novamente.
Ele beijou os lábios do outro de modo terno, era quase que como um leve roçar de lábios.
— Quando aquele galho caiu, eu só pensava em meus filhos e você, e foi a você que minha alma gritava de desespero. Algo dentro de mim me dizia que você me escutaria e viria por mim.
Eles se abraçaram sentindo o cheiro um do outro e agradecendo a Deus por estarem juntos e a salvo.
Ao norte da Vila de Haven, em uma escarpa que dava para um lago, havia uma figura sombria olhando para o horizonte onde as nuvens partiam como que empurradas por um vento forte. Sua mão estendida para o céu como se só com isso ele pudesse mover a tempestade para longe.
— Você não deveria estar se expondo assim – disse uma voz perto dele.
Vinha de um homem alto, de pele bronzeada e marcada por cicatrizes de batalhas. Os olhos castanhos claros brilhavam em um rosto rígido. Os cabelos negros e lisos voavam ao vento que parou repentinamente quando a figura vestida de negro baixou a mão.
Ele abaixou o capuz expondo um rosto delicado e fino. Os olhos negros brilhavam de um modo que as pessoas achavam estranhamente surreal, era quase como se houvessem estrelas, universos inteiros girando na íris escura. Seu cabelo negro e crespo voava ao vento como o de seu companheiro.
As nuvens haviam parado de ir embora e voltavam como se desafiasse ele a continuar. Por mais que se queira a natureza sempre retomava o seu curso, era senhora de sua vontade.
— E quem vai saber? Tudo a nossa volta é um grande ermo – ele parecia cansado – Eu precisava saber se os sinais eram reais.
— Agora que confirmou o que vai fazer?
— Nada. Você sabe o que eu sou para os povos dos reinos do norte?
— Eu sei – o outro endureceu mais ainda sua face – Essa gente não sabe da verdade, só o que aquela maldita mulher contou a eles.
— Ela agora acha que eu vou ajudá-la! – ele ergueu os ombros.
— Você está jogando um jogo perigoso Waldrich – resmungou o outro cruzando os braços – Jogando com Alberta McGives e Kamm, aquele elfo megalomaníaco.
— É só o que me resta – olhou o horizonte – Ela tirou tudo de mim, só deixou o meu ódio!
— O que eu não entendo é como ela acha que você vai cooperar com ela depois de ter sido prisioneiro daquela maluca por doze anos!
— Alberta acha que eu não lembro de nada, acha que o poder que ela tem sobre mim é grande o suficiente para suprimir as minhas memórias. Eu nunca manifestei que a conhecia e muito menos que sabia o que ela tinha feito comigo. Para ela eu não passo de um mago ganancioso que só quer poder – ele deu uma risada sem alegria – A maioria acha que eu quero o reino de Gaulesh. Punhado de imbecis! Já tenho problemas suficientes com o reino que tenho para querer mais terras. O que eu quero é o que aquela mulher tirou de mim, cada um deles e no fim eu vou matar aquela cadela e aquele Máder – ele cuspiu a palavra.
— Se eu tivesse cuidado melhor de você naquela época – o outro balançou a cabeça.
— Já pedi para esquecer isso Ekbert – Waldrich apertou o braço musculoso do guerreiro – A culpa é apenas minha, você só cumpria ordens. Em nada vai adiantar você ficar assim – voltou se para o céu que já se nublava novamente – A roda do destino começou a girar. Não posso e nem vou voltar atrás. Meu sonho é fazer Alberta pagar e se para isso tenho que me aliar com tipos como Kamm eu o farei!
— Cada um deles quer destruir você por um motivo. Não sei como vamos terminar.
— Eu nunca esperei um final feliz em minha vida Ekbert. A única coisa que esperei por anos e anos foi à vingança.
O coração de Ekbert doeu. Amava com todas as forças o mago, mas sabia que Waldrich jamais ia amá-lo depois do que acontecera depois de ter vivido anos em uma prisão sob o sadismo da rainha Alberta. Se a vingança era a única coisa que restava ao seu amado ele o ajudaria, daria mesmo a sua vida se com isso o coração do rei de seu país tivesse um pouco de alivio.
— Se fossem em outros tempos, em outra vida, talvez... – Waldrich olhou para ele sorrindo com uma tristeza tão profunda que doeu até mesmo nos recantos mais profundos da alma dele.
— Meu rei – Ekbert ajoelhou-se pegando a mão do mago e colocando em sua testa – Sua vingança também é a minha vingança. Juro por minha honra que o ajudarei a destruir aqueles que tanto lhe fizeram mal e restituir aquilo que lhe foi tirado tão brutalmente. Por minha honra meu rei.
— Meu bravo Ekbert – Waldrich levantou o rosto do guerreiro olhando nos olhos castanhos onde lágrimas não caídas brilhavam – Eu não ia querer mais nem outro ao meu lado.
Os dois ficaram assim se olhando por muito tempo, cada um querendo que o tempo congelasse naquele segundo e eles pudessem ficar se olhando por toda a eternidade, mas o senhor tempo é indomável como um cavalo selvagem.
Ekbert se levantou e segurou a mão de Waldrich e assim juntos começaram a descer o morro.
Capela colocou a mão na testa de Maleah cada vez mais preocupado, sua temperatura subia a olhos vistos e não havia nada que ele pudesse fazer. Olhou para a noite escura. Por algum tempo a chuva havia parado, mas voltara com força total.
O elfo gemeu e abriu os olhos.
— Maleah como você se sente?
— Dói! – ele gemeu em uma estrangulada apertando fracamente a lateral do corpo.
Era o lado onde ele havia quebrado as duas costelas. O elfo estava pálido e suava tremendo.
— Calma – não sabendo o que fazer ele segurou a cabeça dele e com delicadeza colocou em seu colo – Desculpe por isso, eu não sei o que fazer.
— Paul... – ele engoliu sentindo a garganta seca – ele... esta bem. Ele foi... resgatado.
— Agora parece que nós é que precisamos de resgate! – Capela tentou dar um tom de humor a voz passando a mão por entre os cabelos do elfo.
— Um elfo precisando de... resgate – havia amargura na voz do outro – Meu pai... ia adorar saber disso.
Ele tentou rir, mas foi substituído por uma tosse forte que estremeceu todo o seu corpo e no final seus lábios estavam sujos de sangue.
Capela limpou com um lenço ainda úmido não falando nada para o elfo, mas com a queda do cavalo a costela deveria ter perfurado o pulmão do elfo.
— Isso doeu mais do que quando fui mordido por uma víbora – gemeu ele respirando com dificuldade.
“Deus, por favor, nos ajude!” Capela não era um homem religioso, normalmente ele debochava das pessoas presas a deuses, mas naquele momento era só o que lhe restava.
A fadinha que ainda estava na reentrância da rocha levantou vôo e sumiu na escuridão da caverna. Capela ficou ali acariciando os cabelos de Maleah e vendo ficar cada vez mais cansado e com a respiração com um estranho chiado.
De repente a caverna começou a se iluminar e quando o tenente levantou a cabeça percebeu que milhares de fadas estavam em volta dele como um enxame de vaga-lumes.
— Capela amigo de Paul – uma fada um pouco maior que as outras e vestindo um vestido feito de fibras douradas pousou perto dele – Yeri nos avisou que vocês precisavam de ajuda. Seu companheiro está morrendo.
Morrendo? Seria assim tão grave?
— Queremos ajudar, mas os nossos poderes de cura são pequenos para um elfo. Eles são resistentes por natureza á qualquer magia, mas a magia humana pode penetrar em sua couraça protetora.
— Você está me dizendo que um mago humano poderia salvá-lo?
— Sim.
— Infelizmente não há magos aqui em Haven. O principado não tem esse tipo de tradição.
— Mas nós podemos transformá-lo em um.
— O que?!
— Podemos emprestar algo da nossa força a você, mas ela nunca mais vai se perder. Será algo com que terá que conviver, é o seu preço a pagar se quer salvar a vida dele. Na natureza nada se perde tudo se transforma em algo. Essa lei também diz respeito à magia. Ao darmos ela a você ela não será perdida, mas vai se transformar em parte de ti – a fadinha levantou vôo ficando em frente a ele – O que decide Capela amigo de Paul?
Ele olhou para o elfo que respirava de forma trabalhosa e cansada percebendo que ele não tinha que decidir nada, era hora de agir.
— Eu aceito.
A fadinha balançou a cabeça séria e todas as outras fadas levantaram vôo ficando em volta de Capela e Maleah. Seus brilhos aumentava e uma estranha vibração cortava o ar. Os olhos de Capela começaram a pesar e pareceu que ele caia no sono e sonhava em estar imerso em um lago de luz azul quente e cálida, que flutuava ali livre de tudo.
Ele sentia seu corpo como se não pertencesse a ele. Sua mão se movia contra a sua vontade e ele não ligava realmente para isso. Tocou a testa do elfo sentindo que algo passava da sua mão para o corpo de Maleah.
De repente ele foi invadido por lembranças que não eram suas, lembranças que vinham do elfo. Ele tentou bloquear a visão de algo tão pessoal, mas finalmente se deu conta que estava se ligando ao elfo de forma irreversível, que sua alma e a dele fundiam-se naquele oceano de luz.
Quando tudo passou e Capela pode abrir os olhos estava diante do elfo que estava sentado e o olhava com os olhos brilhando de raiva.
— O que você fez?!
— Acho que salvei a sua vida – o tenente ficou contrariado ao ver como era agradecido.
— Você não sabe o que acaba de fazer seu grande imbecil! – o elfo socou o chão – De acordo com as leis do meu povo quando duas almas tem esse tipo de encontro quer dizer que eles estão casados! Estamos juntos por toda a vida!
Capela não conseguiu esconder o horror dessa noticia.
Sara descobriu onde era a janela por causa do calor do sol. Ela deixou as cobertas e andando de forma lenta, mas decidida foi até o calor que podia sentir de longe sabendo que o sol havia acabado de raiar.
Suas mãos acharam o pino da vidraça e ela pode abrir sentindo o ar frio da manhã entrar assim como outros cheiros: rosas, madressilvas, terra, hortelã e grama recém cortada.
Os sons também a ajudou a compor o quadro em sua mente. Ela ouvia o som do vento batendo em árvores altas e em arbustos. Seus galhos estavam e se contorciam. O barulho de uma enxada e de uma tesoura de poda, cavalos em um pátio a cerca de vinte metros e a sua direita, vozes de pessoas conversando sobre o tempo, fofocando sobre o que acontecia no castelo, alguém gritava ordens para soldados, o barulho da cozinha no térreo.
Com o vento batendo no castelo ela podia fazer um retrato de como ele seria. Voltou-se para seu quarto lembrando de como Gwen o havia descrito. À direita da porta havia um armário e a esquerda a lareira. A cama de casal e de colunas estava no meio do quarto e a cada lado tinha uma mesinha de cabeceira. Perto da janela haviam duas poltronas e no meio delas uma mesa de chás.
Andou com cuidado conferindo cada detalhe, guardando na cabeça todo o espaço, fazendo um mapa de cada detalhe e em pouco tempo ela podia “ver” o quarto na sua mente e se sentia mais segura dentro dele.
Alguém bateu na porta e ela deu um suspiro contrariado já sabendo quem era. Foi até a porta abrindo para Gabe que a olhava preocupado.
— Tá tudo bem?
— Não! Eu tropecei e cai no jardim que fica logo debaixo da minha janela, na verdade eu acho que ia me espinhar nas roseiras amarelas que estão à volta dos alguns arbustos de madressilvas.
— Você gosta de se mostrar, não é? Não sei por que eu ainda me preocupo com você.
— Ai que bonitinho – ela apertou as bochechas de Gabe sabendo o quanto isso irritava o irmão – ele ficou nervosinho.
— Para! – ele bateu na mão dela contrariado.
— Bom dia crianças – disse uma senhora com uma bandeja – A princesa pediu para trazer o seu café senhorita Sara.
— Senhorita?! – Gabe fez cara de horror o que deve ter transparecido na sua voz, pois a irmã deu-lhe um chute.
— Obrigada – a menina se afastou para que a serva entrasse com o café e deixasse em cima da mesinha.
— Eu deixei em cima da mesa perto das poltronas. Seu irmão pode ajudá-la, não? – ela deu um sorriso indo embora.
— Eu posso muito bem comer por mim mesma – resmungou ela andando pelo quarto com desenvoltura.
— O que o pai diz Sara? As pessoas não ti conhecem, elas apenas imaginam o que você pode fazer sendo cega.
— Eu não sei por que tanto alarde por isso – ela sentou em uma das poltronas – Eu nunca vi na minha vida e não sei o que é isso. Eu sinto o mundo e para mim é o suficiente.
— Todos precisamos de ajuda de vez em quando Sara – disse gabe contrariado com a irmã.
— Gabe você não sabe como é quando as pessoas olham para você e não ti vêem realmente, mas o que elas enxergam é apenas a sua deficiência.
— Sara as pessoas não olham realmente para mim, mas através de mim. Eles sabem que sou um rejeitado de Gorlan.
— Todos nós somos Gabe!
O menino voltou-se para a porta e respondeu para a irmã de costas.
— Sim, mas muitas pessoas da cidade sabem por que eu fui rejeitado – de cabeça baixa ele saiu do quarto.
— Droga! – resmungou Sara – Como é que terminamos assim? Sei o quanto ele odeia lembrar do passado e não queria que ele ficasse assim. No final gabe é um tonto, não há pessoa mais pura que ele.
Mathew já havia acordada há algum tempo. Sentara na cama e seu olhar vagou pelo rosto de Paul como se assim pudesse gravar em sua mente cada detalhe, cada pequena sarda que aparecia no nariz pequeno e atrevido, nas linhas de expressão na testa que ele enrugava quando ficava nervoso ou era contrariado, na pequena cicatriz perto do queixo que ele tinha o costume de coçar quando estava preocupado, os lábios cheios e convidativos que ele adorava beijar.
Era estranho como em tão pouco tempo ele havia gravado cada detalhe e como ele amava cada parte do corpo do outro.
Toda a sua vida ele simplesmente nunca se preocupara com o amor, achava que não era coisa para ele, que vivia de um lado para o outro tentando fugir das lembranças da humilhação que a sua mãe lhe infligira.
Brincou com uma mecha do cabelo do outro e deu um sorriso triste. No final das contas a raiva que tinha da mãe estava se transformando em outra coisa, em uma grande pena da mulher que nunca ia saber o que era amor de verdade. Pena da vida vazia que ela se condenava no final.
Agora ele tinha a quem dar todo o amor que ele nunca dera a ninguém. Aquele amor que o deixava bobo olhando para a pessoa amada e pedia para que o tempo se transformasse em pingos de eternidade a se despejar no oceano do infinito para que pudesse ficar assim para sempre. Amor que deixa a gente em êxtase ao ver o sorriso da pessoa amada ou sente que seu coração vai explodir com a sua risada doce. Amor que dava vontade de sai pelos apanhando flores ao amanhecer para entregar ainda com o orvalho para ele. Amor tão profundo que podia tocar as estrelas e se perder pelo mar de estrelas do universo, amor mais forte que a própria morte.
Lentamente baixou o rosto para beijar os lábios de Paul e ao levantar viu que este abria vagarosamente os olhos e o olhava com aqueles olhos dourados tão doces e lindos.
— Estive aqui pensando em tantas palavras para ti dizer e agora desapareceu tudo da minha cabeça – ele riu.
— Você já me disse tudo que eu precisava ouvir Mat – fez um carinho no rosto do outro – Disse que me amava e para mim isso diz todo que um discurso de mil palavras não falaria – tocou os lábios dele e Mat aproveitou para beijar a sua mão – Amo você Mathew McGives.
Mat sorriu para ele com seus olhos violetas brilhando como nunca mergulhando nos dourados de Paul e aquele segundo foi do tamanho de toda a eternidade.
Assim que o curandeiro saiu Phil entrou no quarto onde sua esposa estava junto com algumas servas arrumando as cobertas em volta do corpo de Paul e ascendendo a lareira.
— Como ele está? – perguntou para Gwen que olhava de forma preocupada para o rapaz.
— Podia ter sido pior. Ele conseguiu um pulso torcido e várias contusões, além de dois galos na cabeça. O curandeiro acha que ele pode acordar logo com uma baita dor de cabeça.
— Eu não sei o que aconteceu. Mathew saiu correndo por causa das crianças e eu pedi para trazê-las para o castelo.
— Ele parece que caiu de algum precipício, mas teremos que esperar Mat para saber – olhou o marido – Ouvi que algo aconteceu no sul?
O príncipe olhou as servas e Gwen entendeu. Agradeceu a elas e disse que ela cuidaria do rapaz de agora em diante. Quando a porta se fechou ele levou a esposa até um canto do quarto onde havia um sofá confortável perto de um vaso com um buque de flores do campo enchendo o ambiente com seu perfume.
— O que está acontecendo Phil? – perguntou ela ao se sentarem.
— Quando Mat chegou eu já sabia do ocorrido por um relatório de Capela, mas com a sala cheia de servos eu não queria que ninguém ouvisse, ma parece que isso não impediu as fofocas de se espalharem. Parece que a amazona passou pela vila de Theas ao sul e encontrou a população da vila dizimada. Todos assassinados.
Gwendelyn empalideceu ao ouvir isso. Haven era um reino pacifico que nunca havia lutado uma guerra. Seu exército era o suficiente apenas para manter a segurança interna, a proteção de Gaulesh bastava para afastar qualquer um que tivesse más intenções.
— Eu mandei um pequeno grupo de homens investigar e ver o que podia me trazer antes de me comunicar com Dylan – ele segurou a mão da esposa – Não podemos nos dar o luxo de termos um país em pânico.
— Mas é apenas uma questão de tempo antes que isso se espalhe por todo o lado.
— Eu não consigo entender o que alguém ganharia matando as pessoas de uma vila rural. Matar apenas por matar? Isso me dá mais medo ainda, medo de estarmos enfrentando um louco com prazer de morte.
Gwen abraçou o marido fazendo um carinho nos cabelos dele tentando diminuir sua dor pela perda daquelas pessoas. Habitantes de Haven que os dois juraram proteger quando subiram ao trono.
Mat freou seu cavalo perto da varanda da casa da floresta junto com sua comitiva. Na varanda estavam Gabe e Sara, com Jared e Jason olhando para fora por trás de suas pernas. As crianças pareciam assustadas e isso apertou o coração do príncipe. A chuva havia parado totalmente, deixando uma noite estrelada e gelada.
Pulou do cavalo indo para junto das crianças.
— Mat o que está acontecendo? – Sara segurava a mão de Gabe que o olhava com os olhos verdes arregalados – A mãe saiu faz tempo e não voltou!
— Crianças – ele se ajoelhou diante dos meninos – Eu encontrei o Paul, ele está lá no castelo e o meu irmão pediu para que vocês fossem até lá. Ele mandou a sua carruagem para isso.
— Aconteceu alguma coisa com ele? – Gabe tremia.
— Ele sofreu um pequeno acidente, mas vai ficar bem. Ele só não pode viajar agora. Peguem algumas roupas para passar a noite e vamos ver o Paul logo, logo – olhou em volta – Onde está o Shon?
— Lá em cima chorando – respondeu Jared de detrás das pernas de Gabe – Ele fica falando que a culpa é dele.
Os dois menores sempre tão inquietos estavam tristes e abatidos.
— Garotos eu não sei o que aconteceu, mas conversaremos no castelo.
— Mat o Maleah saiu dizendo que ia procurar meu pai – disse Gabe – Ele não voltou. Não podemos deixá-lo perdido!
— Vamos fazer assim, eu peço para dois soldados procurarem por ele, certo?
Eles assentiram e entraram na casa. Mat conversou com dois soldados dando a missão de procurar o elfo, apesar dele não estar muito preocupado. Poucas coisas podiam acontecer de mal a um elfo. Eram seres mágicos poderosos e fortes.
Ele entrou na casa também indo até o segundo andar e ao quarto que Shon dividia com Gabe. Mesmo do corredor ele podia ouvir o choro do menino.
— Shon vai ficar tudo bem – Gabe estava do lado da cama do menino tentando algo para confortá-lo, mas não estava sendo bem sucedido.
Mathew sentou na borda da cama onde o menino estava de bruços soluçando e colocou a mão na cabeça do menino.
— Oi companheiro! – disse ele de forma carinhosa.
Shon se virou abruptamente olhando para o amigo que ele achava que nunca mais ia ver. Ao se dar conta do quanto tinha sido criança ao pensar assim, o menino se jogou nos braços de Mat soluçando.
— Mat! Mat! Cadê a minha mãe? – ele abraçava apertado o outro apertado.
Mathew também abraçou forte o menino e começou a falar de forma calma e carinhosa.
— Vai ficar tudo bem, calma. O Paul está lá no castelo e vim buscar vocês.
— É minha culpa! Eu achei que você ia embora pra sempre, que não ia mais voltar. Eu fiquei tão triste e com tanta raiva que não queria ver ninguém. Ai eu fui para o lago e dormi, na vi a chuva. O Gabe foi me buscar e demoramos e ai a mãe saiu e não voltou e eu sou o culpado.
Mat começava a entender um pouco de toda aquela história. Sabia que era uma travessura do garoto, que sua atenção deveria ser chamada, mas ele não conseguia ficar bravo com o garoto naquela situação. Ele parecia uma folha em meio à tempestade, tremendo e soluçando. Nada par o seu pranto sentido.
— Vai ficar tudo bem Shon, você não teve culpa. Nós agora vamos ver a sua mãe.
— Arrumei algumas coisas nossas – Gabe apontou para a pequena trouxa em sua cama.
Mat balançou a cabeça e pediu um agasalho de Shon. Gabe entregou uma blusa puída de tricô, mas limpa e perfumada com um perfume que lembrava muito a Paul.
Com Shon no colo ele desceu para a sala onde as outras crianças esperavam. Apagaram as lanternas e trancaram a casa e foram para a luxuosa carruagem real. Os meninos não pareciam ligar para o veiculo. Gabe segurava a mão de Sara com medo de ela tropeçar já que ela estava em um terreno desconhecido, Jared e Jason estavam encostados um no outro cochilando e Shon estava ainda em seu colo não parando de chorar agora baixinho.
Eles rodaram por uma hora até a vila e depois ao castelo ainda com as janelas iluminadas. Gwen estava na porta com Phil e sorriu ao ver as crianças.
— Bem vindo meninos – disse Gwen quando desceram da carruagem.
— Tá tudo bem com a nossa mãe? – perguntou Sara que pela primeira vez desde que Mat a conhecera parecia perdida e com medo, ela não largava a mão de Gabe.
— Ele está dormindo agora. Vou deixar vocês verem ele se me prometerem fazer silencio.
As crianças fizeram um gesto afirmativo e entraram no castelo com os príncipes olhando a enormidade da sala de visitas e a escadaria de mármore que ia para os andares superiores.
Subiram até um quarto no fundo do corredor entrando e vendo Paul deitado em uma grande cama de colunas com dosséis. Eles se aproximaram parecendo perdidos e muito tristes.
Paul era tudo que aquelas crianças tinham, era seu pilar de sustentação.
Gabe colocou sua mão sobre a dele tocando levemente como se estivesse com medo dele quebrar. Mat havia descido Shon do seu colo e o garoto relutava em se aproximar da mãe, agora sentindo-se mais culpado que nunca.
Parecia que Paul estava apenas esperando para sentir sua família perto dele, suas pestanas estremeceram e ele abriu os olhos dourados.
— Mãe!
— Pai!
As crianças gritaram felizes. Mathew chegou perto dele sentando do lado da cama colocando a mão em seu rosto respirando aliviado quando ele sorriu.
— Ola – sua voz estava rouca, mas era o suficiente para deixar todos aliviados.
— Não faça mais isso Paul – gemeu Mat acariciando os seus cabelos – Meu coração não vão agüentar.
— Bobo – disse ele e depois se voltou para os filhos percebendo o alivio no rosto deles – Vocês estão bem?
— Mãe estávamos preocupados – disse Sara querendo se jogar nos braços dele, mas com medo de machucá-lo de algum modo.
— Desculpe crianças – disse ele – Shon? – seu olhar foi para o menino que estava cabisbaixo afastado dele – Tudo bem, meu filho?
— Desculpe mãe – murmurou ele torcendo os dedos – É culpa minha.
— Não, não – ele sentou com a ajuda de Mat – Ninguém teve culpa, foi um acidente.
— E se você não voltasse mais? – Shon tinha os olhos vermelhos e cansados.
— Sem vocês? Eu nunca iria embora Shon sem a minha família. Eu prometo que sempre vou voltar – ele estendeu o braço – Venha cá.
O menino mesmo relutante foi se abraçar com a mãe e essa foi à deixa para todos os outros também subirem na cama. Mat se afastou deixando eles com seu momento em família.
Phil e Gwen resolveram se aproximar naquele momento.
— Você está melhor Paul? – perguntou o príncipe junto de sua esposa.
— Estou sim. Obrigado pela ajuda alteza – olhou Gwen – Princesa.
— Não precisa agradecer – ela deu um beijo no rosto dele – Agora que tal irmos dormir para que a mãe de vocês possa descansar? Tenho alguns quartos arrumados aqui do lado e vou levar vocês.
Os meninos queriam protestar, mas Paul pediu para que eles fossem com os príncipes e os obedecessem.
Quando finalmente ficaram sozinhos, Mat deitou do lado de Paul na cama olhando em seus olhos dourados.
— Acho que entendi o que aconteceu pelo que ouvi das crianças, mas Paul foi uma loucura sair em meio a uma tempestade. Podia ter acontecido algo pior.
— Mat eu faço qualquer coisa pelos meus filhos, qualquer. Eu não me importo se estiver tendo um furacão lá fora, se eu acho que um deles pode estar em perigo eu enfrento tudo.
— Esse amor que você tem nesse coração – colocou a mão no peito do outro – é uma das coisas que fez com que eu me apaixonasse por você. Foi esse amor que me guiou até você. Eu podia ouvi-lo, podia sentir que estava em perigo – sua mão foi para o rosto do rapaz – Nosso amor nos conectou. Separados éramos apenas partes de um todo, agora juntos somos inteiros novamente.
Ele beijou os lábios do outro de modo terno, era quase que como um leve roçar de lábios.
— Quando aquele galho caiu, eu só pensava em meus filhos e você, e foi a você que minha alma gritava de desespero. Algo dentro de mim me dizia que você me escutaria e viria por mim.
Eles se abraçaram sentindo o cheiro um do outro e agradecendo a Deus por estarem juntos e a salvo.
Ao norte da Vila de Haven, em uma escarpa que dava para um lago, havia uma figura sombria olhando para o horizonte onde as nuvens partiam como que empurradas por um vento forte. Sua mão estendida para o céu como se só com isso ele pudesse mover a tempestade para longe.
— Você não deveria estar se expondo assim – disse uma voz perto dele.
Vinha de um homem alto, de pele bronzeada e marcada por cicatrizes de batalhas. Os olhos castanhos claros brilhavam em um rosto rígido. Os cabelos negros e lisos voavam ao vento que parou repentinamente quando a figura vestida de negro baixou a mão.
Ele abaixou o capuz expondo um rosto delicado e fino. Os olhos negros brilhavam de um modo que as pessoas achavam estranhamente surreal, era quase como se houvessem estrelas, universos inteiros girando na íris escura. Seu cabelo negro e crespo voava ao vento como o de seu companheiro.
As nuvens haviam parado de ir embora e voltavam como se desafiasse ele a continuar. Por mais que se queira a natureza sempre retomava o seu curso, era senhora de sua vontade.
— E quem vai saber? Tudo a nossa volta é um grande ermo – ele parecia cansado – Eu precisava saber se os sinais eram reais.
— Agora que confirmou o que vai fazer?
— Nada. Você sabe o que eu sou para os povos dos reinos do norte?
— Eu sei – o outro endureceu mais ainda sua face – Essa gente não sabe da verdade, só o que aquela maldita mulher contou a eles.
— Ela agora acha que eu vou ajudá-la! – ele ergueu os ombros.
— Você está jogando um jogo perigoso Waldrich – resmungou o outro cruzando os braços – Jogando com Alberta McGives e Kamm, aquele elfo megalomaníaco.
— É só o que me resta – olhou o horizonte – Ela tirou tudo de mim, só deixou o meu ódio!
— O que eu não entendo é como ela acha que você vai cooperar com ela depois de ter sido prisioneiro daquela maluca por doze anos!
— Alberta acha que eu não lembro de nada, acha que o poder que ela tem sobre mim é grande o suficiente para suprimir as minhas memórias. Eu nunca manifestei que a conhecia e muito menos que sabia o que ela tinha feito comigo. Para ela eu não passo de um mago ganancioso que só quer poder – ele deu uma risada sem alegria – A maioria acha que eu quero o reino de Gaulesh. Punhado de imbecis! Já tenho problemas suficientes com o reino que tenho para querer mais terras. O que eu quero é o que aquela mulher tirou de mim, cada um deles e no fim eu vou matar aquela cadela e aquele Máder – ele cuspiu a palavra.
— Se eu tivesse cuidado melhor de você naquela época – o outro balançou a cabeça.
— Já pedi para esquecer isso Ekbert – Waldrich apertou o braço musculoso do guerreiro – A culpa é apenas minha, você só cumpria ordens. Em nada vai adiantar você ficar assim – voltou se para o céu que já se nublava novamente – A roda do destino começou a girar. Não posso e nem vou voltar atrás. Meu sonho é fazer Alberta pagar e se para isso tenho que me aliar com tipos como Kamm eu o farei!
— Cada um deles quer destruir você por um motivo. Não sei como vamos terminar.
— Eu nunca esperei um final feliz em minha vida Ekbert. A única coisa que esperei por anos e anos foi à vingança.
O coração de Ekbert doeu. Amava com todas as forças o mago, mas sabia que Waldrich jamais ia amá-lo depois do que acontecera depois de ter vivido anos em uma prisão sob o sadismo da rainha Alberta. Se a vingança era a única coisa que restava ao seu amado ele o ajudaria, daria mesmo a sua vida se com isso o coração do rei de seu país tivesse um pouco de alivio.
— Se fossem em outros tempos, em outra vida, talvez... – Waldrich olhou para ele sorrindo com uma tristeza tão profunda que doeu até mesmo nos recantos mais profundos da alma dele.
— Meu rei – Ekbert ajoelhou-se pegando a mão do mago e colocando em sua testa – Sua vingança também é a minha vingança. Juro por minha honra que o ajudarei a destruir aqueles que tanto lhe fizeram mal e restituir aquilo que lhe foi tirado tão brutalmente. Por minha honra meu rei.
— Meu bravo Ekbert – Waldrich levantou o rosto do guerreiro olhando nos olhos castanhos onde lágrimas não caídas brilhavam – Eu não ia querer mais nem outro ao meu lado.
Os dois ficaram assim se olhando por muito tempo, cada um querendo que o tempo congelasse naquele segundo e eles pudessem ficar se olhando por toda a eternidade, mas o senhor tempo é indomável como um cavalo selvagem.
Ekbert se levantou e segurou a mão de Waldrich e assim juntos começaram a descer o morro.
Capela colocou a mão na testa de Maleah cada vez mais preocupado, sua temperatura subia a olhos vistos e não havia nada que ele pudesse fazer. Olhou para a noite escura. Por algum tempo a chuva havia parado, mas voltara com força total.
O elfo gemeu e abriu os olhos.
— Maleah como você se sente?
— Dói! – ele gemeu em uma estrangulada apertando fracamente a lateral do corpo.
Era o lado onde ele havia quebrado as duas costelas. O elfo estava pálido e suava tremendo.
— Calma – não sabendo o que fazer ele segurou a cabeça dele e com delicadeza colocou em seu colo – Desculpe por isso, eu não sei o que fazer.
— Paul... – ele engoliu sentindo a garganta seca – ele... esta bem. Ele foi... resgatado.
— Agora parece que nós é que precisamos de resgate! – Capela tentou dar um tom de humor a voz passando a mão por entre os cabelos do elfo.
— Um elfo precisando de... resgate – havia amargura na voz do outro – Meu pai... ia adorar saber disso.
Ele tentou rir, mas foi substituído por uma tosse forte que estremeceu todo o seu corpo e no final seus lábios estavam sujos de sangue.
Capela limpou com um lenço ainda úmido não falando nada para o elfo, mas com a queda do cavalo a costela deveria ter perfurado o pulmão do elfo.
— Isso doeu mais do que quando fui mordido por uma víbora – gemeu ele respirando com dificuldade.
“Deus, por favor, nos ajude!” Capela não era um homem religioso, normalmente ele debochava das pessoas presas a deuses, mas naquele momento era só o que lhe restava.
A fadinha que ainda estava na reentrância da rocha levantou vôo e sumiu na escuridão da caverna. Capela ficou ali acariciando os cabelos de Maleah e vendo ficar cada vez mais cansado e com a respiração com um estranho chiado.
De repente a caverna começou a se iluminar e quando o tenente levantou a cabeça percebeu que milhares de fadas estavam em volta dele como um enxame de vaga-lumes.
— Capela amigo de Paul – uma fada um pouco maior que as outras e vestindo um vestido feito de fibras douradas pousou perto dele – Yeri nos avisou que vocês precisavam de ajuda. Seu companheiro está morrendo.
Morrendo? Seria assim tão grave?
— Queremos ajudar, mas os nossos poderes de cura são pequenos para um elfo. Eles são resistentes por natureza á qualquer magia, mas a magia humana pode penetrar em sua couraça protetora.
— Você está me dizendo que um mago humano poderia salvá-lo?
— Sim.
— Infelizmente não há magos aqui em Haven. O principado não tem esse tipo de tradição.
— Mas nós podemos transformá-lo em um.
— O que?!
— Podemos emprestar algo da nossa força a você, mas ela nunca mais vai se perder. Será algo com que terá que conviver, é o seu preço a pagar se quer salvar a vida dele. Na natureza nada se perde tudo se transforma em algo. Essa lei também diz respeito à magia. Ao darmos ela a você ela não será perdida, mas vai se transformar em parte de ti – a fadinha levantou vôo ficando em frente a ele – O que decide Capela amigo de Paul?
Ele olhou para o elfo que respirava de forma trabalhosa e cansada percebendo que ele não tinha que decidir nada, era hora de agir.
— Eu aceito.
A fadinha balançou a cabeça séria e todas as outras fadas levantaram vôo ficando em volta de Capela e Maleah. Seus brilhos aumentava e uma estranha vibração cortava o ar. Os olhos de Capela começaram a pesar e pareceu que ele caia no sono e sonhava em estar imerso em um lago de luz azul quente e cálida, que flutuava ali livre de tudo.
Ele sentia seu corpo como se não pertencesse a ele. Sua mão se movia contra a sua vontade e ele não ligava realmente para isso. Tocou a testa do elfo sentindo que algo passava da sua mão para o corpo de Maleah.
De repente ele foi invadido por lembranças que não eram suas, lembranças que vinham do elfo. Ele tentou bloquear a visão de algo tão pessoal, mas finalmente se deu conta que estava se ligando ao elfo de forma irreversível, que sua alma e a dele fundiam-se naquele oceano de luz.
Quando tudo passou e Capela pode abrir os olhos estava diante do elfo que estava sentado e o olhava com os olhos brilhando de raiva.
— O que você fez?!
— Acho que salvei a sua vida – o tenente ficou contrariado ao ver como era agradecido.
— Você não sabe o que acaba de fazer seu grande imbecil! – o elfo socou o chão – De acordo com as leis do meu povo quando duas almas tem esse tipo de encontro quer dizer que eles estão casados! Estamos juntos por toda a vida!
Capela não conseguiu esconder o horror dessa noticia.
Sara descobriu onde era a janela por causa do calor do sol. Ela deixou as cobertas e andando de forma lenta, mas decidida foi até o calor que podia sentir de longe sabendo que o sol havia acabado de raiar.
Suas mãos acharam o pino da vidraça e ela pode abrir sentindo o ar frio da manhã entrar assim como outros cheiros: rosas, madressilvas, terra, hortelã e grama recém cortada.
Os sons também a ajudou a compor o quadro em sua mente. Ela ouvia o som do vento batendo em árvores altas e em arbustos. Seus galhos estavam e se contorciam. O barulho de uma enxada e de uma tesoura de poda, cavalos em um pátio a cerca de vinte metros e a sua direita, vozes de pessoas conversando sobre o tempo, fofocando sobre o que acontecia no castelo, alguém gritava ordens para soldados, o barulho da cozinha no térreo.
Com o vento batendo no castelo ela podia fazer um retrato de como ele seria. Voltou-se para seu quarto lembrando de como Gwen o havia descrito. À direita da porta havia um armário e a esquerda a lareira. A cama de casal e de colunas estava no meio do quarto e a cada lado tinha uma mesinha de cabeceira. Perto da janela haviam duas poltronas e no meio delas uma mesa de chás.
Andou com cuidado conferindo cada detalhe, guardando na cabeça todo o espaço, fazendo um mapa de cada detalhe e em pouco tempo ela podia “ver” o quarto na sua mente e se sentia mais segura dentro dele.
Alguém bateu na porta e ela deu um suspiro contrariado já sabendo quem era. Foi até a porta abrindo para Gabe que a olhava preocupado.
— Tá tudo bem?
— Não! Eu tropecei e cai no jardim que fica logo debaixo da minha janela, na verdade eu acho que ia me espinhar nas roseiras amarelas que estão à volta dos alguns arbustos de madressilvas.
— Você gosta de se mostrar, não é? Não sei por que eu ainda me preocupo com você.
— Ai que bonitinho – ela apertou as bochechas de Gabe sabendo o quanto isso irritava o irmão – ele ficou nervosinho.
— Para! – ele bateu na mão dela contrariado.
— Bom dia crianças – disse uma senhora com uma bandeja – A princesa pediu para trazer o seu café senhorita Sara.
— Senhorita?! – Gabe fez cara de horror o que deve ter transparecido na sua voz, pois a irmã deu-lhe um chute.
— Obrigada – a menina se afastou para que a serva entrasse com o café e deixasse em cima da mesinha.
— Eu deixei em cima da mesa perto das poltronas. Seu irmão pode ajudá-la, não? – ela deu um sorriso indo embora.
— Eu posso muito bem comer por mim mesma – resmungou ela andando pelo quarto com desenvoltura.
— O que o pai diz Sara? As pessoas não ti conhecem, elas apenas imaginam o que você pode fazer sendo cega.
— Eu não sei por que tanto alarde por isso – ela sentou em uma das poltronas – Eu nunca vi na minha vida e não sei o que é isso. Eu sinto o mundo e para mim é o suficiente.
— Todos precisamos de ajuda de vez em quando Sara – disse gabe contrariado com a irmã.
— Gabe você não sabe como é quando as pessoas olham para você e não ti vêem realmente, mas o que elas enxergam é apenas a sua deficiência.
— Sara as pessoas não olham realmente para mim, mas através de mim. Eles sabem que sou um rejeitado de Gorlan.
— Todos nós somos Gabe!
O menino voltou-se para a porta e respondeu para a irmã de costas.
— Sim, mas muitas pessoas da cidade sabem por que eu fui rejeitado – de cabeça baixa ele saiu do quarto.
— Droga! – resmungou Sara – Como é que terminamos assim? Sei o quanto ele odeia lembrar do passado e não queria que ele ficasse assim. No final gabe é um tonto, não há pessoa mais pura que ele.
Mathew já havia acordada há algum tempo. Sentara na cama e seu olhar vagou pelo rosto de Paul como se assim pudesse gravar em sua mente cada detalhe, cada pequena sarda que aparecia no nariz pequeno e atrevido, nas linhas de expressão na testa que ele enrugava quando ficava nervoso ou era contrariado, na pequena cicatriz perto do queixo que ele tinha o costume de coçar quando estava preocupado, os lábios cheios e convidativos que ele adorava beijar.
Era estranho como em tão pouco tempo ele havia gravado cada detalhe e como ele amava cada parte do corpo do outro.
Toda a sua vida ele simplesmente nunca se preocupara com o amor, achava que não era coisa para ele, que vivia de um lado para o outro tentando fugir das lembranças da humilhação que a sua mãe lhe infligira.
Brincou com uma mecha do cabelo do outro e deu um sorriso triste. No final das contas a raiva que tinha da mãe estava se transformando em outra coisa, em uma grande pena da mulher que nunca ia saber o que era amor de verdade. Pena da vida vazia que ela se condenava no final.
Agora ele tinha a quem dar todo o amor que ele nunca dera a ninguém. Aquele amor que o deixava bobo olhando para a pessoa amada e pedia para que o tempo se transformasse em pingos de eternidade a se despejar no oceano do infinito para que pudesse ficar assim para sempre. Amor que deixa a gente em êxtase ao ver o sorriso da pessoa amada ou sente que seu coração vai explodir com a sua risada doce. Amor que dava vontade de sai pelos apanhando flores ao amanhecer para entregar ainda com o orvalho para ele. Amor tão profundo que podia tocar as estrelas e se perder pelo mar de estrelas do universo, amor mais forte que a própria morte.
Lentamente baixou o rosto para beijar os lábios de Paul e ao levantar viu que este abria vagarosamente os olhos e o olhava com aqueles olhos dourados tão doces e lindos.
— Estive aqui pensando em tantas palavras para ti dizer e agora desapareceu tudo da minha cabeça – ele riu.
— Você já me disse tudo que eu precisava ouvir Mat – fez um carinho no rosto do outro – Disse que me amava e para mim isso diz todo que um discurso de mil palavras não falaria – tocou os lábios dele e Mat aproveitou para beijar a sua mão – Amo você Mathew McGives.
Mat sorriu para ele com seus olhos violetas brilhando como nunca mergulhando nos dourados de Paul e aquele segundo foi do tamanho de toda a eternidade.
sexta-feira, 20 de abril de 2012
Caminhos do Destino - Capitulo XVII
Capitulo XVII
Maleah acordou sobressaltado de um cochilo ao perceber que não era um sonho o que tinha visto. Seu novo amigo Paul estava com sérios problemas.
Sentou no sofá apertando a lateral do corpo ao perceber que Sara conversava raivosa com alguém na cozinha. Lentamente ele foi até lá para ver ela gritar com dois meninos muito molhados fazendo uma poça em meio ao chão de pedra da cozinha.
— Seus dois irresponsáveis! A mãe saiu desesperado atrás de vocês e agora me aparecem aqui sem ele!
— Eu não achava o Shon – respondeu Gabe olhando raivoso para um menino pequeno que tremia – Ele foi se esconder perto do lago do outro lado da mata.
— Cala crianças – disse Maleah sorrindo calmo para eles – Paul deve ter sido pego pela tempestade e procurado abrigo.
— Você não conhece ele – resmungou a menina – Deve ainda estar procurando essas duas pestes mesmo debaixo de chuva e no escuro.
— Olha que tal se vocês dois forem tomar um banho? Eu vou sair e procurar o Paul – ele aprumou o corpo vendo estrelas com aquele movimento – Eu sou um elfo e posso achar ele fácil.
— Eu vou com você! – Gabe estava se sentindo muito angustiado e culpado por seu pai ter saído na chuva.
— Gabe fique e tome conta dos seus irmãos para mim. Acho que Paul não ia querer que eles ficassem sozinhos. Eu prometo voltar logo.
Shon batia o queixo de frio e estava a ponto de chorar. Ele havia feito toda aquela confusão ao fugir quando Mat fora se despedir.
— Desculpe – murmurou ele tremulo.
Gabe queria chamar a atenção do irmão, mas cortava o seu coração ver o seu estado.
— Tá tudo bem baixinho, o Maleah vai achar o pai.
— É isso mesmo – elfo sorriu a abriu a porta sendo colido por uma lufada de vento e chuva – Se cuidem eu já volto.
Ele saiu para uma escuridão cinzenta percebendo que sozinho ele não podia fazer nada, mesmo que ele não conhecia a floresta.
Foi andando pela mata e deixando sua mente vagar para o mundo ao seu redor em busca de algo, de uma ajuda e foi surpreendido por encontrar a mente de certa pessoa.
Capela estava em seu quarto nos alojamentos dos oficiais olhando para a chuva e pensando em dois seres que conhecera naquele dia. Um elfo mal humorado e uma amazona altiva. Cada um diferente do outro como o dia e a noite, mas os quais ele não conseguia tirar da cabeça.
— Tinha que ser você?!
Ao ouvir isso o tenente se virou abruptamente dando de cara com uma imagem esmaecida e Maleah. Era uma estranha projeção onde o elfo aparecia em um lugar escuro e encharcado. Seu cabelo pingava e água escorria do seu rosto.
— De onde diabos você veio? – Capela deu um pulo assustado ao ver aquilo.
— Do alem – respondeu o elfo com azedume – o que você esta vendo é apenas uma projeção seu tenente tonto!
— E você esta se projetando no meu quarto para me atormentar?
— Você acha que é muito importante, não é? A verdade é que preciso de sua ajuda, na verdade o Paul está precisando da ajuda de nós dois.
— Paul? – Capela deu um pulo da cama – O que está acontecendo elfo?
— Tô tentando dizer, não estou? Ele saiu debaixo desse temporal atrás dos filhos que haviam sumido e desapareceu há algumas horas. Os meninos voltaram, mas ele sofreu um acidente eu vi.
— Não me importa como você viu – ele já estava juntando suas coisas – Você sabe onde ele está?
— Eu não conheço nada daqui. Só sei que é perto de uma estrada, perto de um córrego.
— Isso não ajuda muito, mas me espere na estrada que dá para a mata. Eu estou indo ai o mais rápido possível.
O elfo assentiu a sua imagem sumiu.
Capela pegou sua espada e capa e saiu correndo com o coração aos pulos preocupado com o que podia acontecer com o rapaz.
Mat estava entrando no castelo depois de sua conversa com a amazona e prometer a ela que ia conversar com Phillip sobre uma audiência com ele.
Molhado ele tentou tirar um pouco da água dos cabelos antes de inundar a sala do seu irmão, quando pensou ter ouvido algo. Olhou em volta retirando a água que escorria do rosto, mas estava só no hall de entrada. Por um segundo ele pensou ter ouvido a voz de Paul o chamandoele de forma angustiada.
Balançou a cabeça, contrariado. Paul deveria estar em casa com as crianças jantando, ele até podia ouvir as brigas de Sara com Gabe. Deu um leve sorriso e entrou na sala onde Phil e Gwen estavam com o pequeno Killian que ria do pai fazendo caretas para ele.
— Mathew! – a moça arregalou os olhos ao vê-lo – Até parece que você caiu dentro de um rio!
— Eu estava em uma taverna quando a chuva me pegou.
— Vá lá para cima! Eu vou pedir para esquentarem água para o seu banho antes que você pegue um resfriado.
— Vou adorar isso – ele riu – Depois gostaria de falar com você Phil. Achei uma amazona na cidade que gostaria de ter acesso à biblioteca do castelo.
— Uma amazona aqui em Haven?! Eu nunca as vi fora dos territórios do sul!
— Vou me lavar e conversamos.
Mat subiu para o seu quarto e pegou uma toalha para enxugar a água que escorria em seu rosto e novamente a sensação de escutar a voz de Paul o acertou, mas dessa vez com uma intensidade que lhe deu náuseas.
Caiu sentado na poltrona com um estranho frio percorrendo seus membros e o grito de dor e medo parecia ecoar em seus ouvidos. Algo estava acontecendo e ele não podia ignorar, seu coração lhe dizia que Paul estava em perigo.
Desceu correndo as escadas não parando nem para responder as perguntas de Phil e Gwen. Correu para as estrebarias onde encilhou seu cavalo sob o olhar espantado do cavalariço.
Saiu trotando para a noite escura e chuvosa.
Capela chegou em tempo recorde até o elfo que tremia à beira da estrada. Mesmo na escuridão podia ver a palidez do elfo.
— Você consegue montar?
— Eu não sou de porcelana soldado – resmungou ele aceitando a mãos do tenente que balançava a cabeça em desaprovação.
Ele colocou o elfo sentado a sua frente e o embrulhou na capa.
— O que você pensa que está fazendo? – Maleah estremeceu ao sentir o calor do corpo do outro.
— Ti salvando de uma pneumonia elfo! Agora deixe de frescura e vamos tentar achar o Paul.
Maleah ficou quieto sabendo que a situação era preocupante, mas sentir novamente o corpo de Capela contra ela trazia sensações que ele não estava disposto a sentir.
Mesmo contra a sua vontade ele contou para o outro sobre o seu poder e como ele funcionava.
— Você disse que é um vidente – disse Capela tentando ser ouvido sob o barulho do vento – Mas o que você viu foi o futuro ou o presente?
— Isso é o que mais está me deixando preocupado. O que vi estava acontecendo naquele exato segundo, eu não vi o futuro. Isso nunca aconteceu comigo, só posso dizer que Paul é um ser muito especial para ter mexido assim com o meu poder.
— Sim, Paul é muito especial.
Maleah sentiu uma pontadinha de ciúmes ao ouvir isso do soldado, mas logo depois se estapeou mentalmente se chamando de idiota.
— Vai ser impossível achá-lo nesta escuridão – resmungou Capela.
Haviam entrado na mata tentando achar o ponto onde Paul tinha caído, mas a noite havia caído completamente deixando-os em uma escuridão apenas iluminada pelos raios.
— Eu posso ajudar nisso, mas vai ser por apenas pouco tempo. Não é uma magia que estou acostumado.
— Magia?!
— Eu vou mostrar as auras da floresta para você. Isso vai iluminar o caminho.
Capela não entendeu nada, mas de repente Maleah começou a cantar em uma língua desconhecida para ele e tudo pareceu desaparecer de sua mente. Era um som doce que o aquecia e lhe dava esperanças. Era como se o mundo fosse um lugar maravilhoso que ele podia correr e se divertir. Tudo ia dar certo, a música parecia dizer.
Uma luz envolveu Maleah e ele brilhava em seus braços com um lindo brilho branco e logo ele percebeu que tudo ao seu redor brilhava! As arvores, os arbustos, as flores, a própria chuva resplandecia a cada gota que caiam das folhas das arvores. A maioria brilhava em uma aura esbranquiçada, mas havia luzes verdes e vermelhas por todo o lado. Até mesmo seu cavalo de batalha tinha um forte brilho roxo.
— Isso é inacreditável!
— Tudo tem sua aura – murmurou o elfo que parecia cansado – É a luz das almas das coisas.
— Por que eu não brilho? Não tenho alma?
— Vocês humanos – ele deu uma risadinha – Suas almas se escondem, poucos seres humanos a deixam visíveis. Eu posso ver a de Paul e de alguns poucos.
Eles se embrenharam cada vez mais na mata, mas tudo parecia igual para eles. Nem um dos dois conhecia a floresta e mesmo ela brilhando daquela forma nada ajudava.
Depois de meia hora a magia de Maleah acabou a tudo voltou à escuridão. O elfo parecia ter usado as suas ultimas reservas de energia, ele tremia nos braços de Capela com se estivesse acometido de uma febre forte.
De repente houve um estalo e um raio caiu perto deles, assustando o cavalo que os jogou no chão. O barulho do trovão pareceu estremecer até a terra e a arvore onde ele havia caído começou a pegar fogo.
— Maleah! – Capela se levantou e correu até o elfo desacordado e jogado em meio à lama.
Ele afastou os cabelos do rosto do rapaz e percebeu que ele estava apenas desacordado. Atordoado olhou em volta e vendo à luz do fogo uma caverna ali perto. Pegou o elfo nos braços e entrou lá colocando ele na areia fina que cobria o chão.
Tentou ver se ele tinha quebrado mais alguma coisa, mas não percebeu nada. O elfo começou a gemer e tremer. Ele retirou a capa das costas jogando em cima dele, mesmo sabendo que ela estava tão molhada quanto eles.
Uma pequena luz parou diante de seu rosto e Capela caiu sentado no chão reconhecendo uma das fadinhas amigas de Paul.
— Capela amigo de Paul – disse ela com a voz fininha – O que faz aqui? Este lugar é a nossa casa, não gostamos de estranhos aqui.
— Me desculpe, mas meu cavalo se assustou com o raio e nos derrubou. Meu amigo elfo esta doente.
— Elfo? – a fadinha voou até Maleah e o olhou curiosa – Sua energia esta baixa. Se ele descansar vai melhorar – voltou para Capela – Capela amigo de Paul e o elfo amigo de Capela podem ficar.
Ela voou para um canto na parede e sentou observando eles.
Ele deveria estar louco! Mat queria parar com aquela corrida ensandecida por lugares que ele nunca havia visto, mas a sensação de que Paul estava com problemas não desaparecia, ao contrario, aumentava a cada segundo.
A estrada fez uma curva e ele parou olhando em volta e vendo absolutamente nada naquela escuridão, mas nesse momento a chuva parou e uma nesga de luz da lua apareceu iluminando o galho caído de uma arvore e debaixo dele um pedaço de tecido escuro.
Foi apenas por um segundo, logo depois as nuvens voltaram e se cerrar e a chuva cair.
Mathew pulou do cavalo correndo para o galho percebendo ao chegar perto que estava olhando para um corpo pequeno. Ergueu o galho com força tirada do desespero e virou o corpo com delicadeza vendo diante de si o rosto ensanguentado e sujo de Paul.
— Meu deus Paul! – sua mão tremia de forma descontrolada ao colocá-la na base do pescoço do rapaz sentindo a leve pulsação do sangue. Graças a Deus ele estava vivo.
Ele abraçou o corpo gelado chorando de alivio, agradecendo a estranha força que havia guiado até ali.
Pegou o rapaz nos braços e correu para o cavalo percebendo que estava mais perto da cidade que da casa da floresta. Iniciou uma corrida frenética até a vila preocupado com seu amado em seus braços e com as crianças sozinhas em casa.
Seu cavalo bufava quando ele chegou até o castelo e desceu com um só pulo deixando o cavalo aos cuidados do cavalariço novamente pasmo e correu para a sala onde Phil conversava com o chefe da guarda que relatava não ter achado Mat na vila e não achar o tenente Capela.
— Mathew assim você vai me matar do coração! – gritou Phil só então vendo Paul nos braços ele – Meu Deus o que aconteceu?
— Phillip me consiga um curandeiro! Eu vou levar ele para o meu quarto.
O príncipe pediu imediatamente para o chefe chamar o curandeiro real e correu atrás do irmão, não sem antes chamar a esposa.
— Paul! – Gwen correu até a cama onde Mat tinha colocado o rapaz percebendo o seu estado – Phil peça para o soldado do corredor chamar as minhas criadas imediatamente. Precisamos limpá-lo dessa lama para ver o que pode ter acontecido – ela arregaçou as mangas do vestido – Por favor, os dois para fora!
Mat não queria sair de perto de Paul, mas a princesa não lhe deixou o opção alem de haver outra coisa que ele tinha que fazer, não podia deixar os filhos de Paul sozinhos, ele nunca ia perdoá-lo por isso.
— Phil eu preciso ver as crianças.
— Dessa vez faça a coisa direito Mathew! Vá com alguns batedores e leve a carruagem fechada e traga elas para o castelo. Tenho certeza que ao descobrir o que aconteceu com Paul elas vão ficar preocupadas.
Olhando para a porta fechada do seu quarto ele assentiu e correu pelo corredor com seu coração apertado. Esperava que nada muito grava tivesse acontecido a Paul ou ele não ia se perdoar nunca. Deveria ter ficado lá, ter ido contra tudo e todos e não obedecido feito um idiota!
Mas ele estava mais decidido que nunca agora. Ele ia se casar com Paul mesmo que isso levantasse a sociedade toda contra ele. Estava pronto para mostrar que o amor podia vencer qualquer barreira.
Maleah acordou sobressaltado de um cochilo ao perceber que não era um sonho o que tinha visto. Seu novo amigo Paul estava com sérios problemas.
Sentou no sofá apertando a lateral do corpo ao perceber que Sara conversava raivosa com alguém na cozinha. Lentamente ele foi até lá para ver ela gritar com dois meninos muito molhados fazendo uma poça em meio ao chão de pedra da cozinha.
— Seus dois irresponsáveis! A mãe saiu desesperado atrás de vocês e agora me aparecem aqui sem ele!
— Eu não achava o Shon – respondeu Gabe olhando raivoso para um menino pequeno que tremia – Ele foi se esconder perto do lago do outro lado da mata.
— Cala crianças – disse Maleah sorrindo calmo para eles – Paul deve ter sido pego pela tempestade e procurado abrigo.
— Você não conhece ele – resmungou a menina – Deve ainda estar procurando essas duas pestes mesmo debaixo de chuva e no escuro.
— Olha que tal se vocês dois forem tomar um banho? Eu vou sair e procurar o Paul – ele aprumou o corpo vendo estrelas com aquele movimento – Eu sou um elfo e posso achar ele fácil.
— Eu vou com você! – Gabe estava se sentindo muito angustiado e culpado por seu pai ter saído na chuva.
— Gabe fique e tome conta dos seus irmãos para mim. Acho que Paul não ia querer que eles ficassem sozinhos. Eu prometo voltar logo.
Shon batia o queixo de frio e estava a ponto de chorar. Ele havia feito toda aquela confusão ao fugir quando Mat fora se despedir.
— Desculpe – murmurou ele tremulo.
Gabe queria chamar a atenção do irmão, mas cortava o seu coração ver o seu estado.
— Tá tudo bem baixinho, o Maleah vai achar o pai.
— É isso mesmo – elfo sorriu a abriu a porta sendo colido por uma lufada de vento e chuva – Se cuidem eu já volto.
Ele saiu para uma escuridão cinzenta percebendo que sozinho ele não podia fazer nada, mesmo que ele não conhecia a floresta.
Foi andando pela mata e deixando sua mente vagar para o mundo ao seu redor em busca de algo, de uma ajuda e foi surpreendido por encontrar a mente de certa pessoa.
Capela estava em seu quarto nos alojamentos dos oficiais olhando para a chuva e pensando em dois seres que conhecera naquele dia. Um elfo mal humorado e uma amazona altiva. Cada um diferente do outro como o dia e a noite, mas os quais ele não conseguia tirar da cabeça.
— Tinha que ser você?!
Ao ouvir isso o tenente se virou abruptamente dando de cara com uma imagem esmaecida e Maleah. Era uma estranha projeção onde o elfo aparecia em um lugar escuro e encharcado. Seu cabelo pingava e água escorria do seu rosto.
— De onde diabos você veio? – Capela deu um pulo assustado ao ver aquilo.
— Do alem – respondeu o elfo com azedume – o que você esta vendo é apenas uma projeção seu tenente tonto!
— E você esta se projetando no meu quarto para me atormentar?
— Você acha que é muito importante, não é? A verdade é que preciso de sua ajuda, na verdade o Paul está precisando da ajuda de nós dois.
— Paul? – Capela deu um pulo da cama – O que está acontecendo elfo?
— Tô tentando dizer, não estou? Ele saiu debaixo desse temporal atrás dos filhos que haviam sumido e desapareceu há algumas horas. Os meninos voltaram, mas ele sofreu um acidente eu vi.
— Não me importa como você viu – ele já estava juntando suas coisas – Você sabe onde ele está?
— Eu não conheço nada daqui. Só sei que é perto de uma estrada, perto de um córrego.
— Isso não ajuda muito, mas me espere na estrada que dá para a mata. Eu estou indo ai o mais rápido possível.
O elfo assentiu a sua imagem sumiu.
Capela pegou sua espada e capa e saiu correndo com o coração aos pulos preocupado com o que podia acontecer com o rapaz.
Mat estava entrando no castelo depois de sua conversa com a amazona e prometer a ela que ia conversar com Phillip sobre uma audiência com ele.
Molhado ele tentou tirar um pouco da água dos cabelos antes de inundar a sala do seu irmão, quando pensou ter ouvido algo. Olhou em volta retirando a água que escorria do rosto, mas estava só no hall de entrada. Por um segundo ele pensou ter ouvido a voz de Paul o chamandoele de forma angustiada.
Balançou a cabeça, contrariado. Paul deveria estar em casa com as crianças jantando, ele até podia ouvir as brigas de Sara com Gabe. Deu um leve sorriso e entrou na sala onde Phil e Gwen estavam com o pequeno Killian que ria do pai fazendo caretas para ele.
— Mathew! – a moça arregalou os olhos ao vê-lo – Até parece que você caiu dentro de um rio!
— Eu estava em uma taverna quando a chuva me pegou.
— Vá lá para cima! Eu vou pedir para esquentarem água para o seu banho antes que você pegue um resfriado.
— Vou adorar isso – ele riu – Depois gostaria de falar com você Phil. Achei uma amazona na cidade que gostaria de ter acesso à biblioteca do castelo.
— Uma amazona aqui em Haven?! Eu nunca as vi fora dos territórios do sul!
— Vou me lavar e conversamos.
Mat subiu para o seu quarto e pegou uma toalha para enxugar a água que escorria em seu rosto e novamente a sensação de escutar a voz de Paul o acertou, mas dessa vez com uma intensidade que lhe deu náuseas.
Caiu sentado na poltrona com um estranho frio percorrendo seus membros e o grito de dor e medo parecia ecoar em seus ouvidos. Algo estava acontecendo e ele não podia ignorar, seu coração lhe dizia que Paul estava em perigo.
Desceu correndo as escadas não parando nem para responder as perguntas de Phil e Gwen. Correu para as estrebarias onde encilhou seu cavalo sob o olhar espantado do cavalariço.
Saiu trotando para a noite escura e chuvosa.
Capela chegou em tempo recorde até o elfo que tremia à beira da estrada. Mesmo na escuridão podia ver a palidez do elfo.
— Você consegue montar?
— Eu não sou de porcelana soldado – resmungou ele aceitando a mãos do tenente que balançava a cabeça em desaprovação.
Ele colocou o elfo sentado a sua frente e o embrulhou na capa.
— O que você pensa que está fazendo? – Maleah estremeceu ao sentir o calor do corpo do outro.
— Ti salvando de uma pneumonia elfo! Agora deixe de frescura e vamos tentar achar o Paul.
Maleah ficou quieto sabendo que a situação era preocupante, mas sentir novamente o corpo de Capela contra ela trazia sensações que ele não estava disposto a sentir.
Mesmo contra a sua vontade ele contou para o outro sobre o seu poder e como ele funcionava.
— Você disse que é um vidente – disse Capela tentando ser ouvido sob o barulho do vento – Mas o que você viu foi o futuro ou o presente?
— Isso é o que mais está me deixando preocupado. O que vi estava acontecendo naquele exato segundo, eu não vi o futuro. Isso nunca aconteceu comigo, só posso dizer que Paul é um ser muito especial para ter mexido assim com o meu poder.
— Sim, Paul é muito especial.
Maleah sentiu uma pontadinha de ciúmes ao ouvir isso do soldado, mas logo depois se estapeou mentalmente se chamando de idiota.
— Vai ser impossível achá-lo nesta escuridão – resmungou Capela.
Haviam entrado na mata tentando achar o ponto onde Paul tinha caído, mas a noite havia caído completamente deixando-os em uma escuridão apenas iluminada pelos raios.
— Eu posso ajudar nisso, mas vai ser por apenas pouco tempo. Não é uma magia que estou acostumado.
— Magia?!
— Eu vou mostrar as auras da floresta para você. Isso vai iluminar o caminho.
Capela não entendeu nada, mas de repente Maleah começou a cantar em uma língua desconhecida para ele e tudo pareceu desaparecer de sua mente. Era um som doce que o aquecia e lhe dava esperanças. Era como se o mundo fosse um lugar maravilhoso que ele podia correr e se divertir. Tudo ia dar certo, a música parecia dizer.
Uma luz envolveu Maleah e ele brilhava em seus braços com um lindo brilho branco e logo ele percebeu que tudo ao seu redor brilhava! As arvores, os arbustos, as flores, a própria chuva resplandecia a cada gota que caiam das folhas das arvores. A maioria brilhava em uma aura esbranquiçada, mas havia luzes verdes e vermelhas por todo o lado. Até mesmo seu cavalo de batalha tinha um forte brilho roxo.
— Isso é inacreditável!
— Tudo tem sua aura – murmurou o elfo que parecia cansado – É a luz das almas das coisas.
— Por que eu não brilho? Não tenho alma?
— Vocês humanos – ele deu uma risadinha – Suas almas se escondem, poucos seres humanos a deixam visíveis. Eu posso ver a de Paul e de alguns poucos.
Eles se embrenharam cada vez mais na mata, mas tudo parecia igual para eles. Nem um dos dois conhecia a floresta e mesmo ela brilhando daquela forma nada ajudava.
Depois de meia hora a magia de Maleah acabou a tudo voltou à escuridão. O elfo parecia ter usado as suas ultimas reservas de energia, ele tremia nos braços de Capela com se estivesse acometido de uma febre forte.
De repente houve um estalo e um raio caiu perto deles, assustando o cavalo que os jogou no chão. O barulho do trovão pareceu estremecer até a terra e a arvore onde ele havia caído começou a pegar fogo.
— Maleah! – Capela se levantou e correu até o elfo desacordado e jogado em meio à lama.
Ele afastou os cabelos do rosto do rapaz e percebeu que ele estava apenas desacordado. Atordoado olhou em volta e vendo à luz do fogo uma caverna ali perto. Pegou o elfo nos braços e entrou lá colocando ele na areia fina que cobria o chão.
Tentou ver se ele tinha quebrado mais alguma coisa, mas não percebeu nada. O elfo começou a gemer e tremer. Ele retirou a capa das costas jogando em cima dele, mesmo sabendo que ela estava tão molhada quanto eles.
Uma pequena luz parou diante de seu rosto e Capela caiu sentado no chão reconhecendo uma das fadinhas amigas de Paul.
— Capela amigo de Paul – disse ela com a voz fininha – O que faz aqui? Este lugar é a nossa casa, não gostamos de estranhos aqui.
— Me desculpe, mas meu cavalo se assustou com o raio e nos derrubou. Meu amigo elfo esta doente.
— Elfo? – a fadinha voou até Maleah e o olhou curiosa – Sua energia esta baixa. Se ele descansar vai melhorar – voltou para Capela – Capela amigo de Paul e o elfo amigo de Capela podem ficar.
Ela voou para um canto na parede e sentou observando eles.
Ele deveria estar louco! Mat queria parar com aquela corrida ensandecida por lugares que ele nunca havia visto, mas a sensação de que Paul estava com problemas não desaparecia, ao contrario, aumentava a cada segundo.
A estrada fez uma curva e ele parou olhando em volta e vendo absolutamente nada naquela escuridão, mas nesse momento a chuva parou e uma nesga de luz da lua apareceu iluminando o galho caído de uma arvore e debaixo dele um pedaço de tecido escuro.
Foi apenas por um segundo, logo depois as nuvens voltaram e se cerrar e a chuva cair.
Mathew pulou do cavalo correndo para o galho percebendo ao chegar perto que estava olhando para um corpo pequeno. Ergueu o galho com força tirada do desespero e virou o corpo com delicadeza vendo diante de si o rosto ensanguentado e sujo de Paul.
— Meu deus Paul! – sua mão tremia de forma descontrolada ao colocá-la na base do pescoço do rapaz sentindo a leve pulsação do sangue. Graças a Deus ele estava vivo.
Ele abraçou o corpo gelado chorando de alivio, agradecendo a estranha força que havia guiado até ali.
Pegou o rapaz nos braços e correu para o cavalo percebendo que estava mais perto da cidade que da casa da floresta. Iniciou uma corrida frenética até a vila preocupado com seu amado em seus braços e com as crianças sozinhas em casa.
Seu cavalo bufava quando ele chegou até o castelo e desceu com um só pulo deixando o cavalo aos cuidados do cavalariço novamente pasmo e correu para a sala onde Phil conversava com o chefe da guarda que relatava não ter achado Mat na vila e não achar o tenente Capela.
— Mathew assim você vai me matar do coração! – gritou Phil só então vendo Paul nos braços ele – Meu Deus o que aconteceu?
— Phillip me consiga um curandeiro! Eu vou levar ele para o meu quarto.
O príncipe pediu imediatamente para o chefe chamar o curandeiro real e correu atrás do irmão, não sem antes chamar a esposa.
— Paul! – Gwen correu até a cama onde Mat tinha colocado o rapaz percebendo o seu estado – Phil peça para o soldado do corredor chamar as minhas criadas imediatamente. Precisamos limpá-lo dessa lama para ver o que pode ter acontecido – ela arregaçou as mangas do vestido – Por favor, os dois para fora!
Mat não queria sair de perto de Paul, mas a princesa não lhe deixou o opção alem de haver outra coisa que ele tinha que fazer, não podia deixar os filhos de Paul sozinhos, ele nunca ia perdoá-lo por isso.
— Phil eu preciso ver as crianças.
— Dessa vez faça a coisa direito Mathew! Vá com alguns batedores e leve a carruagem fechada e traga elas para o castelo. Tenho certeza que ao descobrir o que aconteceu com Paul elas vão ficar preocupadas.
Olhando para a porta fechada do seu quarto ele assentiu e correu pelo corredor com seu coração apertado. Esperava que nada muito grava tivesse acontecido a Paul ou ele não ia se perdoar nunca. Deveria ter ficado lá, ter ido contra tudo e todos e não obedecido feito um idiota!
Mas ele estava mais decidido que nunca agora. Ele ia se casar com Paul mesmo que isso levantasse a sociedade toda contra ele. Estava pronto para mostrar que o amor podia vencer qualquer barreira.
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