Capitulo XX
Capela olhou para trás para ver se o elfo o
seguia e o encontrou tropeçando nas raízes das árvores com o olhar
perdido e o rosto pálido.
— Vamos parar Maleah! – disse o tenente para o outro que nem pareceu escutar.
O
elfo continuou andando mais alguns metros quando parou e de repente
começou a vomitar assustando Capela que correu até ele pegando-o pelo
ombro e levando até o riacho que seguiam.
— Você está bem? – Capela perguntou para o rapaz que depois de lavar a boca havia sentado no chão coberto de hera.
—
São os efeitos secundários de uma visão. O meu povo normalmente não tem
dificuldade com os seus poderes, mas ser vidente requer muito de um
elfo. Sua energia física e mental é drenada.
— Maleah – ele se sentou do lado dele – A visão que você teve, tem certeza que não pode ser mudada?
—
Eu não sei Capela. Todas as vezes que eu tentava mudar alguma coisa eu
só conseguia tornar a coisa mais inevitável ainda. O futuro é algo
complicado.
— Mas será que existe apenas um futuro possível?
—
Os sábios do meu povo dizem que há muitos futuros e que depende de nós
criarmos ele, mas com a experiência que tenho acho que não é bem assim.
— Eu não aceito isso, Maleah! Paul morto e Mathew se tornando um deus da destruição e vingança.
— Eu sei como você se sente e também não vou deixar isso acontecer, mesmo que tenha que brigar com o próprio destino para isso.
— É melhor guardarmos isso para nós por hora. Contar para Paul ou Mathew pode tornar as coisas complicadas.
—
Concordo com você – ele olhou o tenente e deu um sorriso cansado –
Mesmo assim eu não posso dizer que não acho o destino engraçado. Eu sou
amigo de Dylan, o rei de Gaulesh e foi ele quem me pediu para vir para
cá ajudar você com as investigações em Gorlan.
— Você está aqui a mando do rei Dylan!? – ele olhou espantado para o elfo.
— Exatamente e quem me atropela na estrada? O tenente que eu deveria trabalhar e agora eu também sou seu esposo.
— Maleah você me diz que essa situação não pode ser remediada então o que fazemos?
— Seguimos em frente ou você tem uma ideia melhor?
— Você quer dizer vivermos juntos e tudo mais?
— E o que você vai fazer comigo? Me jogar ao lixo?
—
Eu não disse isso! Eu nunca pensei em casar ou constituir família, nem
mesmo uma casa eu tenho! Moro nos alojamentos dos oficiais e pode estar
certo que não quero o meu marido em meio a um monte de homens! Assim que
chegarmos a Vila de Haven vou atrás de uma casa e temos que pensar
muito nesse negócio de você me acompanhar nas missões em Gorlan.
— Ei, ei, ei! – o elfo se levantou contrariado – Agora por acaso se tronou o marido devoto e ciumento?
— Você é meu esposo agora e não vou admitir que fique por ai com outros!
— A vida é minha e eu faço o que me der na telha!
—
Só tente elfo! Não sou tão ignorante como você pensa. Os casamentos
entre elfos garante a aquele quem o pediu em casamento o direito sobre a
vida e morte do companheiro. Ou eu estou errado?
O elfo o olhou
com raiva e voltou a andar. Sim, aquele projeto de militar estava certo!
Ele agora, pelas leis do seu povo, propriedade de Capela por toda a sua
vida.
Kamm olhou para os exércitos que faziam o
treinamento sob as rédeas de seu general mais fiel, Ydrill. Havia cerca
de dois mil soldados elfos que haviam se juntado a ele por dinheiro ou
poder, mas a verdade era que nem um deles podia mais partir. Kamm
tinha-os sob o controle de sua magia.
Ele estava no terraço de
sua fortaleza nas montanhas de Alcerd ao sul de Gorlan. A fortaleza era
feita da mesma pedra cinza que havia por toda parte nas montanhas e se
confundia com ela tornando-se quase invisível a olhos indesejados, não
que alguém quisesse se aventurar por ali.
As minas ficavam depois
de um grande deserto e quem aparecesse ali era rapidamente pego e
colocado como escravo para escavar minas e no final morrer de exaustão.
— Você tem visita – ronronou Naara chegando perto dele e o abraçando por trás.
—
Deixa ver se adivinho – ele nem se moveu ao ter corpo acariciado pela
moça – Um idiota gordo e fedorento que acha que é o rei de Gorlan.
—
Certo com sempre meu lindo – disse ela apertando o pênis do elfo sob a
calça, mas nem isso causou alguma reação dele – Saco! – ela baixou os
braços – Como você é frio!
— Meu povo não é dado a sentimentos Naara e você sabe disso. Vou conversar com o bendito rei.
A moça ficou frustrada para trás e olhou para o pátio lambendo os lábios. Ia achar algum ali para se divertir.
Kamm
entrou em sua sala de estar particular que não passava de um escritório
espartano, com duas poltronas, uma mesa, um arquivo e a lareira de
pedra.
O rei de Gorlan estava sentado atrás da sua mesa de
trabalho lambuzando todo o tampo com um pedaço de carne que ele
mastigava ruidosamente deixando pedaços na barba negra e emaranhada.
Os gorlanianos homens acreditavam que a barba era um símbolo de virilidade e quanto maior mais potente era um homem.
Kamm achava aquele costume insuportável! Seu povo gostava de corpos limpos e sem pelos.
O
rei de Gorlan, cujo nome era Tenosis Fasten, era um homem de dois
metros de altura, muito gordo, com cabelos e barba longos e gordurosos
na cor negra e olhos castanhos pequenos, mas inteligentes.
O elfo
sabia que o gordo rei podia ser tudo menos bobo em relação a ele. Sabia
que Kamm representava um grande perigo, mas se não cooperasse o perigo
era maior ainda e só estava esperando o momento para dar o bote e ficar
com as esferas do poder e os exércitos treinados de Kamm.
O elfo
podia ver a cobiça nos olhos do rei e soube que era a hora de se livrar
daquele homem e colocar no poder o filho de Tenosis, Kalgran, leal a
ele. Kalgran via mais longe que o pai, e Kamm tinha a vantagem do
príncipe ter se apaixonado por ele.
— Bom dia jovem Kamm – disse o
outro sorrindo e arrotando – Seu cozinheiro me serviu um belo assado,
espero que não seja um incomodo.
— Em hipótese nem uma majestade. Minha é sua casa.
— Claro que ela é minha – outro arroto – Está no meu país!
Kamm ferveu de raiva, mas preferiu se calar agora. Aquele maldito monte de banha ia pagar caro por sua ofensa.
—
Bem Kamm vamos aos negócios – rei deixou a carne no preto e juntou às
mãos engorduradas – Você me disse que eu poderia invadir aquele
principado de Haven, mas até agora suas palavras foram apenas palavras
vazias.
— Peço desculpas pela demora, meu rei, mas é necessário
um bom treinamento para os meus soldados para que a guerra seja ganha.
Felizmente o reino de Gaulesh não vai dar ajuda ao principado depois da
tentativa de homicídio praticada pelo príncipe Phillip.
— Eu já
esperei demais Kamm. Dentro de três dias vamos à guerra estando você
pronto ou não – ele se levantou – Vou até o meu quarto. Mande aquela
elfo vermelho para me divertir.
O rei saiu petulante e não viu o sorriso do elfo.
Sem que ele precisasse em poucos minutos Naara estava na porta com cara satisfeita.
— Mate-o Naara. Ele se tornou um empecilho aos nossos planos.
— Ele é todo meu?
—
Faça o que quiser desde que se livre dele. Mandarei uma mensagem para
Kalgran dando as minhas condolência pelo seu pai e pedindo que ele venha
até aqui buscar o corpo do pai.
A elfo lambeu os lábios e nesse momento podia-se ver seus caninos alongando e seus olhos ficando cada vez mais vermelhos.
Gabe
estava sentado em cima de uma das torres do castelo. Ele não queria
falar com ninguém. Seu maior medo estava se realizando. Paul ia se casar
e talvez ele não mais quisesse um bando de filhos que nem eram do seu
sangue incomodando ele. Será que ele teria que ir embora?
Isso não o assustava, mas a solidão sim. Ele odiava ficar sozinho, perdido como se não tivesse um norte.
— Gabe? – Mat estivera procurando o menino depois que Sara havia conversado que ele e Paul sobre a atitude negativa do menino.
O garoto não respondeu, continuando sentado no chão de pedra da torre olhando a cidade ao longe.
O príncipe sentou do lado dele o olhando.
— O que está acontecendo?
Gabe não queria falar com ele, mas Mat havia salvado a vida de seu pai.
— Estou com medo – olhou Mat – Você vai se casar com ele não é?
—
Vou Gabe, mas não é só com Paul que vou me casar, mas com todos vocês –
segurou o queixo do menino fazendo-o olhar para ele – Eu amo vocês como
meus filhos Gabe, cada um de vocês. Gostaria de ser o meu filho?
Os lábios do menino tremeram.
— Você quer ser o meu pai? De mim?
— De você Gabe. De um menino inteligente, responsável, forte. Eu ia me sentir honrado se você me quisesse.
— Mat...
O menino desabou nos braços do príncipe que o apertou nos braços sentindo seu calor e seu cheiro. Seu filho...
Mirian
estava sentada na poltrona do seu quarto com cara de poucos amigos. Na
sua mão havia um vaso de vidro trabalho que Dylan havia dado a ela em
seu aniversário.
Quando a porta do quarto se abriu o rei só teve
tempo de se abaixar para não receber o vaso bem no rosto. Este espatifou
na parede voando cacos por todo o lado.
— Está louca mulher?
— Eu estava louca Dylan, quando me casei com você! Estou agora recuperando a minha sanidade.
— Tentando me matar com um vaso?
— As víboras que eu encomendei ainda não chegaram.
— Mirian por favor...
— Você deu ordens para que eu fosse impedida de sair do castelo?
— Mirian... – outro vaso voou em sua direção e ele se esquivou.
— Eu não quero desculpas! Se você não quer que eu enfie uma espada nos seus intestinos você vai revogar essa ordem!
— É para o seu próprio bem.
— Mas não vai ser para o seu Dylan! Ou você não me conhece o suficiente?
— Mirian houve uma tentativa de assassinato contra a minha vida e eu temo que algo aconteça com você!
— Eu não vou repetir Dylan McGives. RETIRE A ORDEM!
— Você está alterada.
—
Você ainda não me viu alterada meu bem. Eu vou até a casa de Katrina
falar das suas suspeitas infelizes contra Phil e você não vai me
impedir!
— Eu sou o rei aqui Mirian!
— Continue falando e quem sabe você se convence.
—
Cale a boca e me ouça – Dylan estava com ganas de matar a mulher – Eu
não suspeito de Phil! Eu só preciso fazer isso para que o mandante ache
que estou contra Phillip! E antes que você comece a gritar Phil já sabe.
— Que plano idiota.
— Mirian...
— Pare de gastar o meu nome e eu ainda estou com raiva de você. Por que não me contou?
— Você não me deu tempo para fazer isso.
— Eu estou de greve desse momento em diante – ela cruzou os braços com cara de desafio fazendo Dylan revirar os olhos.
— Que tipo de greve Mirian?
— Eu não vou fazer sexo com você durante um mês e fim de papo!
— Que??
— Você está ficando velho e surdo velho marido – ela olhos as unhas – Um mês e você vai ter que se contentar com a sua mão.
— Isso é maldade Mirian e sabe disso.
— Você não casou comigo pela minha bondade, não é querido? Afinal eu tentei ti matar.
Dylan
andou a passos decididos até a esposa e a levantou da poltrona e
beijando-a de forma intensa e brutal, mas ele revidou mordendo seus
lábios.
— Maldição Mirian! Precisava me morder?
— Precisava me beijar? – ele foi em direção a porta – Daqui a um mês eu penso no seu caso.
Ela saiu deixando um rei furioso para trás.
Phillip
não teve outro jeito que aceitar o casamento de Mat e Paul. Ele tinha
medo que o irmão acabasse por machucar o duo, mas ao ver o amor entre os
dois ele percebeu que não Mat estava falando sério. Ele abraçou o irmão
e Paul desejando felicidades a ambos e desceu para o salão do castelo
onde Capela havia finalmente aparecido e carregando Maleah de Gad, amigo
de Dylan.
Ambos estavam cobertos de lama e folhas de arvores.
Capela apresentou seu relato se desculpando por não ter se apresentado
ao serviço na hora de vida e o príncipe começou a rir.
— Vocês se casaram?!
— Isso não é engraçado Phillip – disse o elfo azedo.
— Desculpa, mas o rei Raguel vai ficar doido.
— O rei dos elfos? – Capela não entendia o que ele tinha a ver com Maleah.
— Raguel de Jaire é o pai de Maleah. Seu esposo é o príncipe herdeiro dos elfos da Floresta Velha.
— Você é um príncipe? – Capela se virou com os olhos brilhando furiosos para o elfo – E você se esqueceu de contar isso, não é?
— Eu tentei te contar! Você não me escuta!
— Meu dia acaba de ficar perfeito – disse Capela com cara de quem chupou limão e dos mais azedos.
— Pra mim não está sendo exatamente um mar de rosas humano!
— Eu devo ter jogado pedra na cruz!
—
É melhor os dois tomarem um banho e esfriarem a cabeça – disse Phil em
tom sério – Capela volte para o alojamento e Maleah vai ficar aqui no
castelo até que vocês possam discutir as coisas sem estarem com vontade
de se matarem.
— Ele é meu marido agora! – Maleah olhou para o
tenente que estava parado ao lado dele de braços cruzados – Tenho que ir
com ele.
— Vocês vão fazer o que estou mandando. Aqui não é o
reino élfico e eu vou considerar que vocês estão casados quando forem à
frente de um padre e assinarem seu contrato, antes disso eu me recuso a
deixar que o melhor amigo do meu irmão viva em pecado. Eu fui claro?
— Sim senhor – disseram os dois juntos.
Paul
estava cansado de ficar deitado. Acabou se levantando e indo até a
janela olhar os jardins ao sol do meio dia. Maleah tinha passado por seu
quarto contando a sua aventura da noite e ele não pode deixar de
surpreender que ele havia se casado com Capela.
Fora a poucos
dias que ele conhecera um príncipe atrevido na feira e agora estava a
ponto de se casar com ele. Era como se anos tivessem se passado naqueles
poucos dias.
— Você deveria estar na cama – Mat entrou com uma bandeja com seu almoço.
— Ficar parado me deixa louco. Você viu as crianças?
— Gwen os levou para conhecer o castelo.
— Espero que o eles estejam se comportando.
—
Eles estão – Mat foi até Paul e lhe deu um beijo delicado olhando em
seu olhos dourados – Não vejo a hora de nos casarmos e ir para a casa da
floresta.
— Eu também – ele acariciou o rosto de Mat – O castelo do seu irmão é lindo, mas eu sinto saudade da minha casa.
— Tenha paciência por mais alguns dias e podemos ir lá juntos.
— Mat – ele segurou as mãos do noivo – Se um dia eu faltar você me promete que vai cuidar das crianças?
— Paul que conversa é essa? – ele olhou estranho para o rapaz.
— As certezas nessa vida não existem Mat. Me prometa.
—
Sabe que eu cuidaria deles sempre Paul, mas nada vai ti acontecer
entendeu? Eu vou cuidar de você, nada vai ti acontecer ou as crianças.
Ele
abraçou o outro de forma apertada querendo esquecer as palavras de
Paul, mas o duo não esquecia. Um estranho mal estar dentro dele não
desaparecia e ele estava ficando angustiado. O que seu coração estava
pressentindo?
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